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ASPECTOS ANTROPOLÓGICOS

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 ASPECTOS ANTROPOLÓGICOS 
NO ESTUDO DAS RELIGIÕES 
 
Marcelo Alves da Silva 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Marcelo Alves da Silva 
 
Mestre em Teologia (FABAPAR-PR); Pós-graduado em Direitos Humanos e Questões Étnico-
Sociais (FUTURA); Pós-graduado em Ensino de História (SOED); Pós-graduado em História 
Brasileira (SOED); Especialista em Ensino Religioso (SOED); Especialista em Antropologia 
(FAD); Especialização em Tutoria em Educação a Distância e EJA (UNIFAVENI); Especialista 
em Psicopedagogia Institucional, Clínica e Educação Especial (DOM ALBERTO); 
Especialização em Docência do Ensino Superior. (UNIASSELVI); Licenciado em Filosofia 
(UNIFAVENI); Licenciado em Pedagogia (FAEL); Licenciado em História (UNISA); Licenciado 
em Letras: Português-Inglês (UNIFAVENI); Bacharel em Psicologia (UNINORTE); Bacharel em 
Teologia (FAEPI); Professor Universitário e do Ensino Fundamental (SEMED-Manaus). 
ASPECTOS ANTROPOLÓGICOS NO ESTUDO 
DAS RELIGIÕES 
1ª edição 
Ipatinga – MG 
2023 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 
 
 
FACULDADE ÚNICA EDITORIAL 
 
Diretor Geral: Valdir Henrique Valério 
Diretor Executivo: William José Ferreira 
Ger. do Núcleo de Educação a Distância: Cristiane Lelis dos Santos 
Coord. Pedag. da Equipe Multidisciplinar: Gilvânia Barcelos Dias Teixeira 
Revisão Gramatical e Ortográfica: Izabel Cristina da Costa 
Revisão/Diagramação/Estruturação: Bruna Luiza Mendes Leite 
 Fernanda Cristine Barbosa 
 Guilherme Prado Salles 
 Lívia Batista Rodrigues 
Design: Bárbara Carla Amorim O. Silva 
 Élen Cristina Teixeira Oliveira 
 Maria Eliza Perboyre Campos 
 
 
 
 
 
 
© 2021, Faculdade Única. 
 
Este livro ou parte dele não podem ser reproduzidos por qualquer meio sem Autorização 
escrita do Editor. 
 
 
 
Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária Melina Lacerda Vaz CRB – 6/2920. 
 
 
 
 
 
NEaD – Núcleo de Educação a Distância FACULDADE ÚNICA 
Rua Salermo, 299 
Anexo 03 – Bairro Bethânia – CEP: 35164-779 – Ipatinga/MG 
Tel (31) 2109 -2300 – 0800 724 2300 
www.faculdadeunica.com.br
http://www.faculdadeunica.com.br/
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Este espaço é destinado para a reflexão sobre 
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suas ações, seja no ambiente profissional ou em seu 
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5 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
DIÁLOGO ENTRE RELIGIÃO E ANTROPOLOGIA ........................................... 8 
1.1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 8 
1.2 CONCEITO DE ANTROPOLOGIA RELIGIOSA ............................................................ 9 
1.3 MAS O QUE É MESMO RELIGIÃO? ........................................................................... 14 
1.4 O MÉTODO ETNOGRÁFICO NO ENTENDIMENTO DAS RELIGIÕES NATURAIS ..... 17 
1.5 O ETNOCENTRISMO RELIGIOSO ............................................................................... 18 
FIXANDO O CONTEÚDO ..................................................................................... 22 
ALTERIDADE RELIGIOSA NO CENÁRIO DE ANÁLISE ANTROPOLÓGICA 27 
2.1 A COMPREENSÃO ETNOCÊNTRICA DO FENÔMENO RELIGIOSO ...................... 27 
2.2 RESPEITO E TOLERÂNCIA AO DIFERENTE .............................................................. 29 
2.3 A RELEVÂNCIA DA DIVERSIDADE CULTURAL ....................................................... 31 
2.3.1 A Ciência da Alteridade ..................................................................................32 
2.4 O PLURALISMO ÉTNICO E O MULTICULTURALISMO RELIGIOSO ......................... 33 
FIXANDO O CONTEÚDO ...................................................................................... 36 
APONTAMENTOS SOBRE AS PRINCIPAIS CORRENTES E ESCOLAS DA 
ANTROPOLOGIA FRENTE AO FENÔMENO RELIGIOSO .......................... 42 
3.1 O EVOLUCIONISMO DE DARWIN E O CRIACIONISMO ...................................... 43 
3.2 ANTROPOLOGIA FUNCIONALISTA E ESTRUTURAL ............................................... 46 
3.3 ANTROPOLOGIA INTERPRETATIVA E SIMBÓLICA ................................................ 49 
FIXANDO O CONTEÚDO ...................................................................................... 52 
ANTROPOLÓGICA DA RELIGIÃO EM SEUS ASPECTOS CULTURAL, 
SIMBÓLICO E RITUALÍSTICO .................................................................... 56 
4.1 INTRODUÇÃO........................................................................................................ 56 
4.2 SINCRETISMO RELIGIOSO E SUAS CONGRUÊNCIAS CULTURAIS ........................ 58 
4.3 A IMPORTÂNCIA DA EXPRESSÃO SIMBÓLICA NAS RELIGIÕES .......................... 60 
4.4 OS RITUAIS DE PASSAGEM ................................................................................... 63 
FIXANDO O CONTEÚDO ...................................................................................... 67 
IMANÊNCIA E TRANSCENDÊNCIA PRESENTES NAS TRADIÇÕES 
RELIGIOSAS ............................................................................................. 71 
5.1 CONCEITOS E CONGRUÊNCIAS NAS TRADIÇÕES RELIGIOSAS ......................... 72 
5.2 DIFERENÇAS ENTRE IMANÊNCIA E TRANSCENDÊNCIA APONTADAS A PARTIR DE 
PLATÃO .................................................................................................................. 73 
5.3 MAGIA, TABU, TOTEMISMO E MITO: PERSPECTIVAS ANTROPOLÓGICAS .......... 73 
5.3.1 Conceito de Magia ...................................................................................... 73 
5.3.2 Xamanismo e Magia .................................................................................... 74 
5.3.3 Conceito de Tabu ......................................................................................... 76 
5.3.4 Totem ............................................................................................................... 77 
5.3.5 Conceituando Mito ...................................................................................... 79 
FIXANDO O CONTEÚDO ...................................................................................... 82 
 
 
 
 
UNIDADE 
01 
UNIDADE 
02 
UNIDADE 
03 
UNIDADE 
04 
UNIDADE 
05 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6 
 
 
 O FENÔMENO RELIGIOSO NO BRASIL COMO SISTEMA DE 
REPRESENTAÇÃO CULTURAL NO PRISMA ANTROPOLÓGICO ....... 86 
6.1 SENSIBILIDADE E DEBATES ATUAIS SOBRE OS FENÔMENOS RELIGIOSOS NO 
BRASIL .................................................................................................................... 87 
6.2 MATRIZ RELIGIOSA BRASILEIRA E SUAS CONFLUÊNCIAS .................................... 88 
6.3 O FENÔMENO RELIGIOSO E SEUS PONTOS DE CONTATO: FLUIDEZ IDENTITÁRIA E 
CULTURAL .............................................................................................................. 91 
6.4 CARACTERÍSTICAS ATUAIS DA
RELIGIOSIDADE BRASILEIRA .............................. 94 
FIXANDO O CONTEÚDO ...................................................................................... 97 
RESPOSTAS DO FIXANDO O CONTEÚDO ............................................. 104 
REFERÊNCIAS ......................................................................................... 105 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
UNIDADE 
06 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
7 
 
 
CONFIRA NO LIVRO 
 
A Unidade I conceitua antropologia geral e considera os aspectos 
antropológicos no estudo das religiões, além do conceito de 
antropologia religiosa destacando a relevância dos fenômenos 
religiosos. 
A Unidade II reflete sobre a necessidade de haver alteridade 
religiosa num mundo globalizado onde as religiões também são 
afetadas pelas dinâmicas globalizantes, com consequências 
positivas e negativas. 
 
 
A Unidade III busca uma reflexão sobre as diferentes correntes de 
pensamento antropológico predominantes na comunidade 
científica, com suas particularidades e especificidades. 
A Unidade IV faz uma analogia sobre a relevância do sincretismo 
religioso na desconstrução de paradigmas cristalizados ao longo da 
história da humanidade. 
 
 
 
 
 
A Unidade V busca esclarecer os conceitos de imanência e 
transcendência no contexto religioso em suas tradições, além de 
fazer uma abordagem sobre magia, tabu, totemismo, entre outros 
temas relevantes. 
 
A Unidade VI traz uma discussão sobre o fenômeno religioso e sua 
influência sobre as pessoas de um modo geral, além de apresentar 
considerações relevantes sobre as confluências na matriz religiosa 
brasileira. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8 
 
 
DIÁLOGO ENTRE RELIGIÃO E 
ANTROPOLOGIA 
 
 
 
1.1 INTRODUÇÃO 
No que diz respeito à história das religiões, a antropologia e a sociologia 
asseguram que em todas as sociedades, épocas e culturas, os seres humanos são 
pessoas religiosas. No entanto, outros sustentam que estamos vivendo, atualmente, 
uma crise no fenômeno religioso de natureza profunda. Nesse diálogo entre religião 
e antropologia, devemos destacar que a antropologia é uma ciência – um estudo 
sistemático que visa, através da experiência, observação e dedução, produzir 
explicações contáveis de fenômenos, com referência ao mundo material e físico 
(WEBSTER’S NEW WORLD ENCYCLOPEDIA, 1993, p. 937). 
A pré-história da antropologia tem origem nos séculos XV e XVI. Nessa época, 
as informações, com respeito a outros povos mais distanciados, eram compartilhadas 
por viajantes. Nesse tempo, duas ideologias se contrapunham. A primeira defendia 
a ideia de que os povos primitivos eram selvagens e, portanto, não tinham história, 
nem costumes culturais. Já na segunda ideia, os aspectos desses povos em relação 
ao que conseguiram desenvolver e organizar, como os sistemas políticos e 
econômicos, se apresentavam em melhores condições, em harmonia com a 
natureza que os outros não conseguiram. 
Destarte, a antropologia ocupa-se em estudar a sociedade humana, 
instituições sociais e culturais, em sua forma mais elementar. Além de ser útil para a 
compreensão das sociedades humanas atuais, contribui no conhecimento da 
história humana e natureza das instituições sociais. Portanto, a Antropologia Social 
está intimamente relacionada com a História e a Arqueologia (NEENA, 2011). 
De acordo com Eller (2018, p. 30), três aspectos relevantes devem ser 
destacados com relação à antropologia: 
 
Em primeiro lugar a Antropologia procede através da descrição 
comparativa ou intelectual. A antropologia não considera apenas a 
sua própria sociedade e cultura ou outras semelhantes a ela. Ela 
começa a partir de uma premissa da diversidade [...]. Em segundo 
lugar, a Antropologia adota uma posição de holismo. Partimos do 
UNIDADE 
01 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 
 
pressuposto que qualquer cultura é um todo, mais ou menos 
integrado, com partes que operam de maneiras especificas uma em 
relação a outra e que contribuem para a operação do todo [...]. Em 
terceiro lugar a Antropologia defende o principio do relativismo 
cultural. O relativismo cultural entende que cada cultura tem os seus 
próprios padrões de compreensão e julgamento. (ELLER, 2018, p.30) 
 
Dessa forma, os três aspectos destacados por Eller buscam entender e aplicar 
o relativismo cultural, de modo a promover uma reorientação no entendimento sobre 
a antropologia em si. 
 
BUSQUE POR MAIS: Antropologia Prática Teórica na cultura e na sociedade. Disponível 
em: https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/49066/pdf/0 
 
 
1.2 CONCEITO DE ANTROPOLOGIA RELIGIOSA 
Pode-se dizer que Antropologia da Religião é uma área que aborda e junta 
aspectos da Antropologia geral, que é o estudo centrado no conhecimento do ser 
humano em sua totalidade (do grego anthropos = homem e logos = estudo), ou seja, 
busca compreender a relação das culturas. 
Acerca da “Antropologia”, no zelo enciclopédico do século das luzes, Diderot 
deu conta de alguns significados do conceito, segundo os quais: forma de se 
expressar dos escritores sagrados que atribuíam a Deus as partes, ações ou condições 
exclusivas dos homens. O que significa dizer que a Antropologia procura entender a 
relação entre os seres humanos e diversidades culturais, considerando suas histórias, 
linguagens, valores, crenças etc. 
Na economia animal de Techmeyer e Drake (1739), Antropologia é definida 
como o estudo do homem (DIDEROT, 1785, p. 740). Os antecedentes do pensamento 
antropológico manifestam-se no acompanhamento do processo de colonização 
generalizada do mundo pelos europeus a partir de 1492. 
Primeiro, foi a perplexidade ante o chamado “novo mundo”, após a conquista 
dos povos nativos e da colonização, compreendida como a imposição material, 
social e simbólica da Europa sobre os grupos indígenas. 
Buffon e Saint-Hilaire representam dois pensadores indiscutíveis do surgimento 
da Antropologia. O primeiro pode ser considerado o pioneiro do domínio da 
disciplina. Saint-Hilaire fez uma contribuição fundamental para o estudo dos 
elementos autoformativos da espécie humana. Pode-se considerar pioneiro o 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
10 
 
 
trabalho de Buffon: História natural, general e particular (BUFFON, 17904, p. 97). 
Em sua gênese, a Antropologia da Religião preocupou-se com o estudo dos 
mitos dos “povos primitivos ou bárbaros”. O ponto de partida deu-se por meio do 
ponto de vista do homem considerado “civilizado”, que entendia a si mesmo como 
integrante de uma cultura mais evoluída — considerando os demais povos e culturas 
atrasados e obsoletos, tanto culturalmente quanto espiritualmente. 
O termo “primitivo” parte do prisma depreciativo e discriminatório. Entretanto, 
com o passar do tempo, todos os povos e religiões passaram a ser analisados e 
comparados pelos antropólogos. Para os antropólogos modernos, esvaziou-se do 
sentido de “crenças dos povos atrasados”, assumindo um sentido de que todas as 
religiões, em certa medida, possuem elementos mitológicos. 
Para Aranha e Martins (2002, p. 54), o mito é, portanto, uma instituição 
compreensiva da realidade, uma forma espontânea de o homem se situar no mundo. 
A autora assevera ainda que as raízes do mito não se encontram nas explicações 
racionais, mas na experiência vivida, sendo uma pré-reflexão, baseada em emoções 
e sentimentos. 
É uma estória tradicional, especialmente relacionada à história de um povo ou 
que explica algum fenômeno natural ou social, tipicamente envolvendo seres ou 
eventos sobrenaturais. Heróis, deuses e simbologia são frequentemente usados na 
criação de mitos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
11 
 
 
Figura 1: Religião e cultura no mundo antigo 
 
Fonte: Disponível em https://bit.ly/3J0CLkT. Acesso em: 20 jan. 2023. 
 
Conta-se uma estória sobre a mitologia quando comparada com a crença
pessoal: “mitologia é a religião dos outros, porque a minha religião é a verdadeira”. 
A Antropologia da Religião, com o passar do tempo, preocupou-se em desconstruir 
esse tipo de interpretação preconceituosa, pois distorcia a realidade dos povos 
estudados. Apesar disso, o fenômeno religioso, por ser universal, não deve ser 
entendido como superficial ou mera superstição de povos atrasados ou menos 
desenvolvidos, manifestada por todos do mundo, ajudando inclusive na organização 
de comunidades desde o surgimento do homem no planeta. 
 
https://bit.ly/3J0CLkT
 
 
 
 
 
 
 
 
 
12 
 
 
Figura 2: Jesus “o Cristo” – Fundador do Cristianismo 
 
Fonte: Disponível em https://bit.ly/3J4lFCG. Acesso em: 20 jan. 2023. 
 
 
 
1. 2. OS FENÔMENOS RELIGIOSOS E SUA RELEVÂNCIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O mito é uma intuição compreensiva da realidade, uma forma espontânea de o homem 
situar-se no mundo. As raízes do mito não se acham nas explicações racionais, mas na 
realidade vivida, portanto, pré-reflexiva, das emoções e da afetividade. […] A função do 
mito não é, primordialmente, explicar a realidade, mas acomodar e tranquilizar o homem 
em um mundo assustador (ARANHA; MARTINS, 2002, p. 54). 
 Para mais informações sobre: Mito e Religião: https://youtu.be/eoWZe4tUuBE. Acesso 
em: 20 jan. 2023. 
 
 
 
Fonte: https://aquivivecristo.com/c-cristianismo/fenomeno-religioso/#El_fenomeno_religioso 
https://bit.ly/3J4lFCG
https://youtu.be/eoWZe4tUuBE
 
 
 
 
 
 
 
 
 
13 
 
 
 
O surgimento espontâneo das religiões em absolutamente todos os povos ao 
redor do mundo ao longo da história da humanidade indica, para muitos 
antropologistas, uma necessidade de dar sentido ao mundo, à comunidade, à 
realidade aterradora e à realidade da própria morte. 
Em qualquer sociedade, a religião define um modo de ser no mundo em que 
transparece a busca de um sentido para a existência. Nos momentos em que a vida 
mais parece ameaçada, o apelo religioso se torna mais forte (MACEDO, 1989, p. 15). 
Sobre mito, Maria Lucia Aranha destaca o seguinte: 
 
O mito é uma instituição compreensiva da realidade, uma forma 
espontânea de o homem situar-se no mundo. As raízes do mito não se 
acham nas explicações racionais, mas na realidade vivida, portanto, 
pré-reflexiva, das emoções e da afetividade. [...] A função do mito 
não é, primordialmente, explicar a realidade, mas acomodar e 
tranquilizar o homem em um mundo assustador. (ARANHA; MARTINS, 
2002, p. 54) 
 
O fenômeno religioso e o desenvolvimento da cultura estão intrinsecamente 
ligados, à medida que o homem se acomoda a novas tradições, sua crença também 
se reestrutura, evolui, ganha novos contornos. 
Deve-se considerar que a reestruturação da crença não significa transformar 
sua essência ou acomodá-la a uma conveniência, mas sim numa atualização do rito 
elaborado a partir de suas experiências anteriores, fazendo com que desperte o 
sentido de outros indivíduos que mesmo não pertencendo ao meio específico 
podem conhecê-lo. 
Levando em consideração que todos os campos do conhecimento se 
interessam pelo homem, foram surgindo, ao longo da história da humanidade, uma 
série de subdivisões que se propuseram a investigar a sua história. Na Antropologia, 
isso gerou muitas vertentes, das quais encontra-se a Antropologia da Religião. Dos 
diversos tipos de estudos antropológicos vale destacar: 
 
Quadro 1: Diversidade do campo Antropológico 
Antropologia 
Filosófica 
É considerada uma disciplina filosófica autônoma e sistemática 
que busca compreender o fenômeno humano de maneira 
totalizante, considerando todas as suas dimensões. Acerca 
disso, Mondin ressalta que é justamente pelo fato da 
investigação partir de um filósofo que este: “[...] se empenha 
em buscar resposta total, completa, exaustiva, última, resposta 
em condições de esclarecer plenamente o que seja o homem 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
14 
 
 
tomado globalmente, em seu todo, o que ele seja efetivamente 
além e sob as aparências [...]” (MONDIN, 2005, p.14). 
Antropologia 
Teológica 
É uma disciplina recente. Fundamenta-se nas Escrituras Sagradas 
e na teologia cristã, e propõe pensar o ser humano a partir dessas 
fontes, permitindo formar uma cosmovisão e integrando o 
conhecimento da filosofia e da teologia cristã. (LADARIA, 2007, 
p.11-16). 
Na crença do cristianismo, o homem foi formado pelo ser Divino, 
que apesar de transcendente interage e se relaciona com a 
sua criação (imanente). O homem é o centro da criação. Os 
cristãos afirmam ainda que Jesus é o Filho de Deus e é o único 
meio de salvação. Uma vez “salvo” por Jesus, o homem deve 
evidenciar tal ato com o seu comportamento moldado aos 
ensinamentos da fé cristã na esperança da plenitude futura. 
 
Antropologia Física 
A antropologia física é uma ordem científica cujo campo de 
abordagem é o existir humano, considerando suas origens, 
desenvolvimento das espécies, a sua acomodação a diferentes 
ambientes ou variabilidade. Conquanto, desde os tempos 
antigos, o existir humano fosse de interesse em pesquisas, este 
ramo antropológico é relativamente recente. 
Antropologia 
Ecológica ou 
ambiental 
Esta ordem científica da antropologia surge como uma ciência 
social ativa para compreender e facilitar as relações 
contraditórias entre a sociedade e o meio ambiente, quando se 
intensificam cada vez mais no espaço econômico e político. 
Antropologia 
Médica ou da 
saúde 
Pode ser entendida como a aplicação da antropologia ao 
estudo das práticas de cuidado e recuperação em diferentes 
culturas ou etnias. Há praticamente um consenso entre os 
cientistas da área de que o fenômeno saúde/doença não deve 
ser entendido de forma reducionista. 
Antropologia da 
alimentação 
É o ramo da antropologia que se ocupa em estudar e 
compreender os hábitos alimentares e seus reflexos na questão 
da nutrição da sociedade. 
Fonte: (BARFIELD, 2000). 
 
1.3 MAS O QUE É MESMO RELIGIÃO? 
Religião tem origem do latim re-ligare: unir ou re-unir. É um conjunto de sistemas 
culturais e de crenças, além de visões de mundo, que estabelece os símbolos que 
relacionam a humanidade com a espiritualidade e seus próprios valores morais, que 
pode ser praticada por uma comunidade de adeptos unidos por uma fé, uma 
prática ou forma de culto. Essa comunidade se mantém unida pelo mesmo objetivo, 
a busca do ser divino. Também pode ser caracterizada pela sua maneira de 
enfrentar os problemas da vida humana. Portanto, na história das religiões, há grande 
destaque sobre a experiência e contato pessoal com o sagrado. 
Geertz (1989, p. 67) assevera que Religião é: 
 
Um sistema de símbolos que atua para estabelecer poderosas, 
penetrantes e duradouras disposições e motivações nos homens 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
15 
 
 
através da formulação de conceitos de uma ordem de existência 
geral e vestindo essa concepção com tal aura de fatualidade que as 
disposições e motivações parecem singularmente realistas. 
 
 
 
 
 
Figura 3: Símbolos religiosos 
 
Fonte: Disponível em https://bit.ly/3yndmNr. Acesso em: 20 jan. 2023. 
 
Vale ressaltar o que Tylor (1832-1917) chamou de animismo com relação a essa 
fé ou crença. Tylor bebeu da fonte da teoria da evolução de Charles Darwin. 
Segundo ele, o desenvolvimento religioso andou de mãos dadas com o progresso 
cultural e tecnológico geral da humanidade, primeiro para o politeísmo (crença em 
muitos deuses) e depois para o monoteísmo (crença em um deus). Tylor concluiu que 
os povos tribais não haviam passado do estágio da Idade da Pedra e, portanto, 
praticavam uma forma semelhante de animismo. Hoje, essa teoria evolutiva é 
Basicamente, todas as grandes civilizações são construídas em torno de elementos 
religiosos avançados. Por exemplo, toda a vida social, econômica, cultural e 
arquitetônica da civilização egípcia foi moldada pela religião. Pode-se dizer que a
tecnologia e a arquitetura egípcias antigas se desenvolveram como resultado da religião, 
que se torna um elemento unificador e consolidador da sociedade. O desenvolvimento 
local é um processo que abrange as mais diversas dimensões do homem e da sociedade 
em que se insere. 
 
https://bit.ly/3yndmNr
 
 
 
 
 
 
 
 
 
16 
 
 
abandonada e é geralmente aceito que o animismo não é uma caracterização 
adequada da religião dos povos tribais. 
Assim, a religião pode ser vista como um conceito mediado apenas por 
discussões racionais. No entanto, uma apreciação da religião não garante uma 
experiência religiosa. 
Experimentar a transcendência, viver o considerado sagrado, não é 
racionalmente possível, pois é preciso entregar-se ao puro afeto, ao puro desejo, à 
irracionalidade no conceito freudiano, ou aderir ao conceito antropológico de 
"tremendum". Apontou Otto, que se baseia em uma metodologia fenomenológica, 
que o fenômeno religioso é imutável a qualquer categoria epistemológica, nesse 
caso, não pode ser considerado tão somente como uma manifestação social ou 
psicológica. 
Um conceito diferenciado da dignidade do indivíduo, o conhecimento e 
reconhecimento de algo considerado ou chamado de sagrado não são exclusivos 
do cristianismo, mas alcançam também todas as religiões. Isso foi reconhecido pelo 
próprio Concílio Vaticano II no seu documento Dignitatis Humanae respeitante à fé e 
pureza religiosas. 
Aparentemente, a religião é o esforço natural da mente humana para 
entender o "infinito"; o desejo e a aspiração de estar em relação a esse desejo 
insaciável de infinito. A religião é, portanto, uma necessidade absoluta, nada menos 
que uma parte da existência humana que o indivíduo sente para "comunicar-se com 
o infinito; é a fonte daquilo que sustenta o homem e da qual o homem depende de 
muitas maneiras. Uma prova clara disso" é uma análise antropológica em que as 
diferentes crenças religiosas ou a ausência delas é um fator decisivo para os 
pesquisadores na compreensão das normas de comportamento social e individual 
das sociedades. 
 
 
 
 
 O livro de Oliva (2020) Antropologia e sociologia da Religião, Intersaberes disponível no 
link: https://bit.ly/3ZuXUdX. Acesso em: 20 jan. 2023. 
 Assista ao vídeo “A influência da Religião na Sociedade” disponível no link 
https://bit.ly/3kVBHXt. Acesso em: 20 jan. 2023. 
 
https://bit.ly/3ZuXUdX
https://bit.ly/3kVBHXt
 
 
 
 
 
 
 
 
 
17 
 
 
1.4 O MÉTODO ETNOGRÁFICO NO ENTENDIMENTO DAS RELIGIÕES NATURAIS 
Tendo como objeto principal o ser humano imerso em sua cultura, a 
abordagem antropológica de base provém da ideia de uma “observação direta dos 
comportamentos sociais a partir de uma relação humana” (LAPLANTINE, 1988, p. 25). 
A etnografia é literalmente a descrição de um povo, lidando com o coletivo e 
examinando os comportamentos interpessoais, as produções e as crenças do grupo. 
O etnógrafo se ocupa basicamente do cotidiano do nativo em estudo. Nas palavras 
de Laplantine: “o etnógrafo é aquele que deve ser capaz de viver nele mesmo a 
tendência principal da cultura que estuda.” (1988, p.27). Para tal, é preciso algumas 
técnicas de coletas de dados. 
Antropólogos começaram a usar o método etnográfico no final do século XIX 
e início do século XX, baseados na ideia de que o conhecimento efetivo só pode ser 
adquirido estando em contato com a dinâmica do ambiente original. 
Em suma, o método etnográfico é baseado na pesquisa de campo, o que 
significa adequar o método de acordo com o objeto de pesquisa; é indutivo, 
enquanto o é colecionável; é dialógico porque o nativo tomado como objeto pode 
discutir as interpretações do pesquisador; e, finalmente, abrangente, porque o 
objetivo é apresentar o relatório mais abrangente da investigação. 
De acordo com Michael Angrosino: 
 
Os pioneiros da pesquisa de campo acreditavam que estavam 
aderindo a um método consoante com o das ciências naturais, mas o 
fato de estarem vivendo nas próprias comunidades por eles 
analisadas, introduziu um grau de subjetividade nas suas análises que 
estava em dissonância com o senso comum do método científico. 
(ANGROSINO, 2000, p. 17) 
 
Assim afirma François Laplatine (1988), “[...] a etnografia propriamente dita só 
começa a existir a partir do momento no qual se percebe que o pesquisador deve 
ele mesmo efetuar no campo sua própria pesquisa, e que esse trabalho de 
observação direta é parte integrante da pesquisa”. 
De acordo com Baztán (1995, p. 6), por método etnográfico entende-se como 
um processo que corresponde ao trabalho de campo (pesquisa de terreno) realizado 
mediante a observação participante e comporta os seguintes passos – delimitação 
do objeto de estudo: 
 Eleição de uma comunidade limitada e observável; 
 Redação de um projeto com o objeto, o lugar, o tempo etc; 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
18 
 
 
 Preparação e documentação: documentação bibliográfica e de arquivo; 
fontes orais; preparação física e mental; 
 Investigação: chegada; informantes; registro de dados; observação 
participante; 
 Conclusão: elaboração da ruptura; abandono do campo. 
Assim, o método etnográfico surge a partir da Antropologia e é comumente 
usado nas ciências sociais em geral. Pode caracterizar-se, segundo Caria (2002), por 
“uma análise holística [...] centrada na construção social do quotidiano, partilhado 
em rotinas de ação e negociado em consensos e conflitos sobre regras de 
significação e de uso legítimo de recursos e não em qualquer versão essencialista 
e/ou exótica da cultura local” (BAZTÁN, p.14). 
Complementando, de acordo com Burawoy (1991), o método etnográfico 
permite revelar o conhecimento (do observado) que não foi proferido, mecanismo 
que torna toda a ação social possível. 
Em resumo, Caria (2002) assevera que “a etnografia supõe um período 
prolongado de permanência no terreno, cuja vivência é materializada no diário de 
campo, e em que o instrumento principal de recolha de dados é a própria pessoa 
do investigador, através de um procedimento geralmente designado por 
observação participante” (CARIA, 2002, p. 12). 
 
1.5 O ETNOCENTRISMO RELIGIOSO 
O etnocentrismo é conhecido como a relação entre diferentes grupos sociais. 
Essa relação é caracterizada por julgar os estilos de vida de outros grupos, religião, 
costumes, vestimentas, rituais etc. 
 
O conceito de Etnocentrismo surgiu no século XX, sendo utilizado pela 
primeira vez pelo antropólogo W. G. Summer, em 1907. De um modo 
geral, o termo se aplica a uma atitude coletiva de repúdio aos modos 
de vida de outras sociedades. Trata-se, fundamentalmente, de uma 
crítica aos costumes dos outros povos, ao mesmo tempo que se 
exaltam como pertinentes e corretos os hábitos e costumes daqueles 
que estão julgando os outros. Enquanto fenômeno, o Etnocentrismo 
parece ter manifestação em todos os povos. Por isso, é comum 
encontrar sociedades que classificam a si mesmas como “os 
verdadeiros” ou “os homens”, deixando para todos os outros, os 
estrangeiros, um status inferior, pois eles serão “os falsos” ou mesmo 
aqueles que não são homens, pertencendo, assim, ao universo da 
natureza e da selvageria e não ao universo da cultura, pois esta é 
somente para “os homens”. A própria palavra que expressa o 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
19 
 
 
conceito define muito bem seu significado. Enquanto “etno” designa 
um grupo social que compartilha o mesmo ambiente cultural, 
“centrismo” remete α ideia de centro, ou seja, de um lugar 
privilegiado. Etnocentrismo, portanto, é o termo empregado para uma 
visão de mundo de quem toma seu próprio grupo de referência, 
sociedade ou mesmo nação como o centro do mundo, sendo 
superior a todos os outros (VALPASSOS, 2011, p. 35). 
 
A visão etnocêntrica na religião causa a intolerância religiosa e o preconceito 
contra as manifestações espirituais diferentes das que o observador etnocêntrico 
segue. Tomemos
como exemplo o Ocidente, que é majoritariamente cristão. 
 
Figura 4: A intolerância religiosa 
 
Fonte: Disponível em https://bit.ly/3mCBTLX. Acesso em: 20 jan. 2023. 
 
Sabidamente, o cristianismo foi amplamente difundido dentro da Europa, e a 
colonização das Américas pelos povos europeus forçou a entrada e disseminação 
dessa religião em nosso continente. 
Os povos nativos daqui tiveram as suas crenças forçadamente profanadas 
pelos colonizadores, que promoveram, inclusive, grandes campanhas de 
catequização dos nativos por meio de grupos religiosos cristãos, os jesuítas, como a 
Companhia de Jesus. 
Para os europeus, o cristianismo era a religião correta, que levaria à salvação 
da alma, enquanto a religião dos povos nativos era inferior, errada, pecadora etc. 
 
https://bit.ly/3mCBTLX
 
 
 
 
 
 
 
 
 
20 
 
 
Figura 5: A Primeira Missa no Brasil 
 
Fonte: Disponível em https://bit.ly/3mzrKzE. Acesso em: 20 jan. 2023. 
 
Ainda hoje existem casos de etnocentrismo religioso, por exemplo, quando as 
religiões de origem africana não são consideradas pelos cristãos como prática 
valorosa, inclusive associando-as ao pecado e considerado-as demoníacas, 
podendo ocorrer também o movimento contrário (que é mais difícil de ocorrer, por 
exemplo, devido à hegemonia da fé cristã no ocidente). Isso, porque o praticante de 
uma determinada religião tende a ver seu grupo religioso como a única 
manifestação dogmaticamente correta. 
Isso não ficou no passado, hoje ainda existem casos de etnocentrismo religioso, 
quando, por exemplo, religiões de matriz africana são desrespeitadas pelas outras, 
especialmente cristas que as associam ao que é considerado demoníaco, podendo 
acontecer também o movimento inverso (que é mais difícil de ocorrer por conta da 
hegemonia cristã ocidental). 
Isso acontece por causa da tendência do praticante de uma determinada 
religião considerar a sua como a única manifestação correta, em detrimento das 
outras. 
Para ilustrar a visão etnocêntrica, vale analisar um fragmento da carta escrita 
por Pero Magalhães Gândavo, historiador português do século XVI, para o Rei de 
Portugal, na visão portugueses sobre os brasileiros: 
 
https://bit.ly/3mzrKzE
 
 
 
 
 
 
 
 
 
21 
 
 
[...] a língua de que usam, toda pela costa, é uma: ainda que em 
certos vocábulos difere em algumas partes; mas não de maneira que 
se deixem de entender. […] Carece de três letras, convém a saber, 
não se acha nela F, nem L, nem R, coisa digna de espanto, porque 
assim não têm Fé, nem Lei, nem Rei, e desta maneira vivem 
desordenadamente (CAMINHA, 1500, p. 02-12) 
 
Na Constituição de 1891, o conceito de religião oficial no Brasil foi oficialmente 
abolido e a liberdade foi concedida a todos os tipos de religião. No entanto, as 
diversas religiões existentes no Brasil, diferentes do catolicismo, sofreram perseguições, 
discriminações e preconceitos tanto no espaço público quanto no âmbito estatal e 
policial. 
No Brasil, as chamadas religiões mediúnicas, que incluem espiritismo, 
umbanda, batuk, candomblé, entre outras, sofreram e ainda sofrem ataques de 
intolerância e preconceito, porque seus costumes e práticas são muito distintos das 
práticas dos demais. 
A Antropologia cultural ajuda a eliminar preconceitos etnocêntricos, promover 
o relativismo cultural e o respeito à diversidade. 
Como já destacado anteriormente, no início do século XX, os cientistas 
passaram a não só receber os relatos dos missionários, eles analisaram e 
interpretaram, passaram a estar no campo, viver e experimentar a cultura dos povos 
observados, o que se caracterizou grande evolução nessa ciência. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
22 
 
 
FIXANDO O CONTEÚDO 
1. No que diz respeito à história das religiões, a antropologia e a sociologia asseguram 
que: 
I. Em todas as sociedades, épocas e culturas, os seres humanos são pessoas 
religiosas. 
II. Outros sustentam que estamos vivendo atualmente uma crise no fenômeno 
religioso de natureza profunda. 
III. Devemos destacar que a Antropologia é uma Ciência – um estudo sistemático que 
visa, através da experiência, observação e dedução, produzir explicações 
contáveis de fenômenos, com referência ao mundo material e físico (WEBSTER’S 
NEW WORLD ENCYCLOPEDIA, 1993, p. 937). 
 
É correto o que se afirma somente em: 
a) I e III. 
b) II. 
c) III. 
d) I e II. 
e) I, II e III. 
 
2. Sobre Antropologia da Religião, é correto afirmar: 
I. É uma área que aborda e junta aspectos da Antropologia geral, que é o estudo 
centrado no conhecimento do ser humano em sua totalidade (do grego 
anthropos = homem e logos = estudo), ou seja, busca compreender a relação das 
culturas. 
II. Acerca da “Antropologia”, no zelo enciclopédico do século de luzes, Diderot deu 
conta de alguns significados do conceito, segundo os quais: forma de se expressar 
dos escritores sagrados que atribuíam a Deus as partes, ações ou condições 
exclusivas dos homens. 
III. O que significa dizer que a Antropologia procura entender a relação entre os seres 
humanos e diversidades culturais, considerando suas histórias, linguagens, valores, 
crenças etc. 
 
É correto o que se afirma somente em: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
23 
 
 
a) I, II e III. 
b) I e III. 
c) II. 
d) III. 
e) I e II. 
 
3. De acordo com o texto estudado, mito é: 
I. É uma instituição compreensiva da realidade, uma forma espontânea de o 
homem situar-se no mundo. As raízes do mito não se acham nas explicações 
racionais, mas na realidade vivida, portanto, pré-reflexiva, das emoções e da 
afetividade. [...] A função do mito não é, primordialmente, explicar a realidade, 
mas acomodar e tranquilizar o homem em um mundo assustador. (ARANHA; 
MARTINS, 2022). 
II. É uma instituição compreensiva da realidade, uma forma espontânea de o 
homem situar-se no mundo. As raízes do mito se acham nas explicações irracionais 
e na realidade vivida, portanto, pré-reflexiva, das emoções e da afetividade. [...] 
A função do mito não é, primordialmente, explicar a realidade, mas acomodar e 
tranquilizar o homem em um mundo assustador. (ARANHA; MARTINS, 2022). 
III. Não é uma instituição compreensiva da realidade, mas uma forma espontânea 
de o homem situar-se no mundo. As raízes do mito não se acham nas explicações 
irracionais, e na realidade vivida, portanto, pré-reflexiva, das emoções e da 
afetividade. [...] A função do mito é, primordialmente, explicar a realidade, mas 
acomodar e tranquilizar o homem em um mundo assustador. (ARANHA; MARTINS, 
2022). 
 
É correto o que se afirma somente em: 
a) I e III. 
b) I e II. 
c) III. 
d) I 
e) I, II e III 
 
4. De acordo com as afirmativas abaixo, é correto afirmar que religião: 
I. Tem origem do latim re-ligare: unir ou re-unir. É um conjunto de sistemas culturais 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
24 
 
 
e de crenças, além de visões de mundo, que não estabelece os símbolos que 
relacionam a humanidade com a espiritualidade e seus próprios valores morais. 
II. É uma comunidade de pessoas unidas por uma fé, uma prática ou forma de 
culto. Essa comunidade deve estar unida por uma busca do ser divino e ser 
definida pela sua maneira de enfrentar os problemas da vida humana. 
III. Sabidamente, é por isso que na história das religiões há grande destaque sobre 
a experiência e contato pessoal com o sagrado. 
 
É correto o que se afirma somente em: 
a) I e III. 
b) II e III. 
c) III. 
d) I 
e) I, II e III. 
 
5. O autor Geertz (1989) define religião como sendo: 
I. Um sistema de símbolos que atua para estabelecer poderosas, penetrantes e 
duradouras disposições e motivações nos homens; 
II. A formulação de conceitos de uma ordem de existência geral; 
III. As concepções com tal aura de fatualidade que as disposições e motivações 
parecem singularmente realistas. 
 
É correto o que se afirma somente em: 
 
a) I e III. 
b) II e III. 
c) III. 
d) I 
e)
I, II e III. 
 
6. De acordo com Caria (2002) e Burawoy (1991), a etnografia surge a partir: 
 
I. Da Antropologia e é comumente usado nas ciências sociais em geral. Pode 
caracterizar-se, por “uma análise holística [...] centrada na construção social do 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
25 
 
 
quotidiano, partilhado em rotinas de ação e negociado em consensos e conflitos 
sobre regras de significação e de uso legítimo de recursos e não em qualquer 
versão essencialista e/ou exótica da cultura local.” 
II. Permite revelar o conhecimento (do observado) que não foi proferido, mecanismo 
que torna toda a ação social possível. 
III. De uma tentativa para justificar outras visões, posições ou alternativas, que tentam 
justificar a essência ou o sentido final. 
 
É correto o que se afirma somente em: 
a) I e II 
b) II e III. 
c) III. 
d) I 
e) I, II e III. 
 
7. O termo etnocentrismo contém os radicais “etno”, derivado de etnia, que significa, 
por sua vez, semelhança de hábitos, costumes e cultura, e “centrismo”, que se 
trata de uma posição que prefere ou coloca algo no centro, como referência 
central a tudo que está a sua volta. 
Das afirmações abaixo, quais se aplicam ao etnocentrismo? 
 
I. Leva em consideração os outros. Portanto, a visão etnocêntrica é aquela que 
não vê o mundo com base em sua própria cultura, considerando as outras 
culturas e valorizando a dos outros de igual modo. 
II. A visão etnocêntrica na religião causa a intolerância religiosa e o preconceito 
contra as manifestações espirituais diferentes das que o observador etnocêntrico 
segue. 
III. Está em desuso. Não existem mais hoje casos de etnocentrismo religioso. 
 
É correto o que se afirma somente em: 
a) I e II 
b) II e III. 
c) II. 
d) I 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
26 
 
 
e) I, II e III. 
 
8. Tomando como base o fragmento da carta de Pero Magalhães Gândavo, 
historiador português do século XVI, para o Rei de Portugal: 
“[...] a língua de que usam, toda pela costa, é uma: ainda que em certos 
vocábulos difere em algumas partes; mas não de maneira que se deixem de 
entender. […] Carece de três letras, convém a saber, não se acha nela F, nem L, 
nem R, coisa digna de espanto, porque assim não têm Fé, nem Lei, nem Rei, e 
desta maneira vivem desordenadamente.” 
 
Os pressupostos etnocêntricos dos portugueses à época sobre os brasileiros: 
 
I. Tinham o intuito de compreender o contexto no qual o outro está inserido. 
II. Buscavam estabelecer contato com as diversas culturas, pois tem como princípio 
básico o respeito ao diferente. 
III. Tinham a visão de um povo atrasado. Essa ideia serviria como norteadora para a 
sua doutrinação e conquista. 
 
É correto o que se afirma somente em: 
a) I e II. 
b) II e III. 
c) III. 
d) I. 
e) I, II e III. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
27 
 
 
ALTERIDADE RELIGIOSA NO 
CENÁRIO DE ANÁLISE 
ANTROPOLÓGICA 
 
 
 
 
Com um mundo globalizado, o que antes era distante se aproximou. Segundo 
essa forma de pensar, as fronteiras são quebradas por redes cibernéticas, acordos de 
livre comércio ou migrantes internacionais. O “imponderável” entrou em nossas 
casas, às vezes, sem ser convidado, tomando de conta. Porém, se o mundo 
globalizado favorece os contatos, não define categorias de interação, ou melhor, 
não garante a interação. 
As religiões não estão isentas dessa nova realidade, pois também são afetadas 
pela dinâmica da globalização, especialmente pelo fortalecimento do pluralismo 
religioso, que é impulsionado por diversos fatores, entre eles o processo de 
secularização. 
Isso levou ao fim dos monopólios religiosos com duas consequências 
importantes: primeiro, a descoberta do caminho do diálogo inter-religioso e do 
ecumenismo; em segundo lugar, o declínio de grupos religiosos fundamentalistas que 
tentam retornar ou repetir o passado retornando à disciplina rígida, reduzindo a 
tolerância e "demonizando" outras crenças. 
Descoberta proporcionada pela distância em relação a nossa sociedade: 
“aquilo que tomávamos por natural em nós mesmo é, de fato, cultural; aquilo que 
era evidente é infinitamente problemático” (Laplantine, 1996. p. 21). 
 
2.1 A COMPREENSÃO ETNOCÊNTRICA DO FENÔMENO RELIGIOSO 
Como já visto anteriormente, o termo etnocentrismo contém os radicais 
“etno”, derivado de etnia, que significa, por sua vez, semelhança de hábitos, 
costumes e cultura, e “centrismo”, que se trata de uma posição que prefere ou 
coloca algo no centro, como referência central a tudo que está a sua volta, não 
levando em consideração os outros. Portanto, a visão etnocêntrica é aquela que vê 
o mundo com base em sua própria cultura, desconsiderando as outras culturas ou 
UNIDADE 
02 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
28 
 
 
supervalorizando a sua como superior às demais. 
 
Figura 6: A prática do preconceito racial e religioso 
 
A Ku Klux Klan tinha como uma de suas pautas a manutenção da supremacia branca e do cristianismo. 
Fonte: Disponível em https://bit.ly/3ZsGC18. Acesso em: 20 jan. 2023. 
 
 
 
A visão etnocêntrica religiosa é geradora de intolerância e preconceito com 
as demais, que tem manifestações espirituais diferentes das que o observador 
etnocêntrico aprova. Exemplo disso é o Ocidente, que é majoritariamente cristão, 
uma vez que foi amplamente difundido dentro e a partir da Europa, chegando as 
Américas pelos seus “conquistadores”. 
Os colonizadores foram responsáveis pela modificação e profanação das 
crenças nativas, infligindo grandes campanhas de catecismo por grupos religiosos 
cristãos, como os jesuítas. Para os europeus, o cristianismo era a religião certa, 
levando à salvação das almas. 
O que caracteriza o Etnocentrismo Religioso e como ele se manifesta em nossas vidas? 
https://bit.ly/3ZsGC18
 
 
 
 
 
 
 
 
 
29 
 
 
Mesmo que a humanidade tenha avançado na tecnologia, especialmente 
no século XXI, no Brasil, ainda hoje, é possível identificar casos etnocêntricos em que 
o homem de pele branca ainda considera o indígena como alguém atrasado 
socialmente. Também abertamente no Brasil é possível encontrar manifestações 
etnocêntricas, especialmente nas redes e mídias sociais, quando brasileiros dos 
estados das Regiões Sul e Sudeste acharem-se mais desenvolvidos cultural ou 
socialmente que os brasileiros das Regiões Norte e Nordeste. As eleições para 
Presidência da República, em 2022, ficaram marcadas por manifestações desse tipo, 
contra, especialmente, os nordestinos e suas preferências eleitorais. 
 
2.2 RESPEITO E TOLERÂNCIA AO DIFERENTE 
Praticar a fé é natural do ser humano. Seja a crença em uma ideia, filosofia, 
dogma ou mesmo a negação de algo, torna-se uma emoção poderosa que está 
naturalmente presente na vida de indivíduos pertencentes a diversos grupos sociais 
e culturais. 
Já nos primórdios da humanidade, as pessoas confiavam na fé para 
compreender vários fenômenos naturais, que mais tarde a ciência estudou e 
explicou. No entanto, a fé não foi excluída ou mesmo minimizada, porque, além disso, 
os rituais religiosos constituem um vasto e complexo sistema cultural. 
É digno de nota que muito antes das religiões hoje conhecidas, o homem 
respeitava o que considerava especial. E, embora não tenhamos dados sobre 
possíveis rituais do passado, sabemos que existe a hipótese de que, na Inglaterra, 
"Stonehenge" era usado não apenas como um relógio de Sol, mas também como 
uma espécie de templo onde eram realizados rituais pagãos associados aos 
principais ciclos e eventos naturais. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
30 
 
 
Figura 7: Ruínas de Stonehenge na Inglaterra 
 
Fonte: Disponível em https://bit.ly/3Zvgp1P. Acesso em: 20 jan. 2023. 
 
No Brasil, o direito à liberdade de religião ou crença é um direito constitucional. 
A legislação permite e garante a livre realização dos serviços religiosos, a proteção 
dos serviços religiosos e suas liturgias. Desde 2007, o Brasil
institui o Dia Nacional de 
Combate à Intolerância Religiosa, celebrado anualmente em 21 de janeiro. 
O direito e a liberdade de praticar a própria fé é algo tão necessário que está 
consagrado no artigo 18 da Declaração Universal dos Direitos do Homem: “Toda a 
pessoa tem direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião; este 
direito inclui a liberdade de mudar de fé ou crença e a liberdade de manifestar a 
própria religião ensinando, praticando ou adorando em público ou em particular” 
(UNICEF, s/d). 
Além do pluralismo religioso, o Brasil exibe um forte sincretismo, que muitas 
vezes promove a fusão de diferentes crenças e disputas. Essa figura nos faz refletir 
sobre a importância de compreender e respeitar as diferentes religiões e crenças, 
inclusive sua ausência e o ateísmo. 
No entanto, o artigo 19 da Constituição Federal do Brasil de 1988 proíbe o 
Estado de estabelecer um culto religioso ou uma igreja que vise respeitar as 
diferenças religiosas com base na proteção e preservação de seu caráter secular. 
 Quanto à cultura brasileira, muitas religiões foram reconhecidas como 
patrimônio cultural, incluindo edificações, pinturas e ornamentos, objetos, 
vestimentas etc. A herança espiritual também inclui hinos e danças. 
Portanto, fica claro o fato de que existem regiões no Brasil que têm forte 
https://bit.ly/3Zvgp1P
 
 
 
 
 
 
 
 
 
31 
 
 
influência de outras religiões, além do caráter ecumênico de alguns locais ou até 
mesmo a ausência de elementos de ligação e envolvimento religioso em muitos 
grupos, revelando, assim, a beleza da liberdade religiosa. 
O fenômeno da intolerância religiosa tem se desdobrado e fica mais evidente 
nas inúmeras maneiras de rejeição à diferença, e o ecumenismo desponta como a 
aceitação. Diante dessa realidade, a sociedade necessita de iniciativas que 
promovam o entendimento e a convivência pacífica e respeitosa entre todos os 
grupos. 
 
2.3 A RELEVÂNCIA DA DIVERSIDADE CULTURAL 
Ao assumir que todas as culturas têm elementos autênticos e interessantes 
passamos a perceber a diversidade como algo salutar e benéfico, mas quando 
reduzidos a uma cultura, tornamo-nos cegos para os outros e míopes para nós 
mesmos. Experimentar o que está fora do nosso julgamento ideal propicia-nos a 
enxergar algo que não se pode nem imaginar, porque é difícil prestar atenção ao 
que não é comum, familiar, cotidiano e autoevidente. 
A multiplicidade dessas diferenças, quando vivenciadas, possibilita aos 
indivíduos um novo olhar, com julgamentos baseados nas novas percepções 
adquiridas, de que o comportamento não é homogêneo ou uniforme, o que causa 
surpresa, uma vez que o conhecimento antropológico de nossa cultura está ligado 
ao conhecimento de tantas outras culturas. 
A Antropologia também é caracterizada pela produção de modos de vida e 
formas de organização sociais amplamente diferentes. As pessoas se unem pela 
capacidade de distinção umas das outras, de desenvolver costumes, línguas, 
saberes, instituições, brincadeiras etc. 
De acordo com essa forma de pensar, o projeto antropológico atua como um 
tipo de “embaixador” da diversidade dos povos, sobretudo, contribuindo 
significativamente com a sua divulgação. A abordagem antropológica traz no seu 
bojo um novo olhar sobre a expressão, o que contribui para um resultado um tanto 
radical que estilhaça a noção de que existe uma única verdade cultural, social e 
religiosa. 
Como numa via de mão dupla, a antropologia elabora um esforço para 
compreender o universo religioso do outro, mas as populações, em geral, também se 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
32 
 
 
utilizam dessa produção intelectual para olharem para si mesmas e se posicionarem 
frente às diferenças, no eterno jogo das alteridades (GUERRIERO, 2013, p. 243). 
 
2.3.1 A Ciência da Alteridade 
A antropologia é conhecida como a ciência da alteridade porque visa 
estudar as pessoas e os fenômenos ao seu redor. Para um campo de pesquisa tão 
extenso e complexo, é necessário ser capaz de estudar as diferenças entre várias 
culturas e grupos étnicos. 
A alteridade estuda a diferença e o outro, ela desempenha um papel 
importante na antropologia. Hoje, depois de décadas criticando, adaptando e 
refinando essas estratégias metodológicas, sabemos que, apesar de sua 
complexidade, não podemos entender a totalidade de outra cultura e que nossa 
compreensão e descrição da variação é sempre limitada e parcial. Segundo Geertz 
(1989, p. 11), isso acontece, entre outras coisas, porque construímos um "olhar de 
segundo ou terceiro lado sobre os ombros dos povos indígenas" e nos textos 
etnográficos inevitavelmente temos uma posição autoral (GEERTZ, 2001; 2017). 
Cada cultura tem sua própria história, seus próprios limites, características, e 
não há classificação que coloque uma acima da outra. Alguns dos temas, conceitos 
e termos do tema do pluralismo cultural dependem essencialmente do 
conhecimento antropológico porque se relacionam diretamente com a organização 
humana, na qual a diversidade está inserida. 
No sentido antropológico da palavra, diz-se que cada indivíduo nasce no 
contexto de uma cultura e ao longo de sua vida contribui para sua criação. Não há 
homem sem cultura, ainda que não saiba ler, escrever ou fazer contas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
33 
 
 
Figura 8: A beleza da diversidade de Raças e Cultura 
 
Fonte: Disponível em https://bit.ly/3mFHq47. Acesso em: 20 jan. 2023. 
 
2.4 O PLURALISMO ÉTNICO E O MULTICULTURALISMO RELIGIOSO 
O reconhecimento do multiculturalismo e do pluralismo religioso pode ser 
compreendido de maneiras diferentes, com consequências um tanto diversas. Se 
compreendido numa perspectiva assimilacionista, acarretará os mesmos erros de 
antes, ou seja, procurará impor uma verdade única sobre os diferentes grupos 
religiosos, que não teriam compreendido a verdadeira mensagem e deveriam 
assimilar a visão então dominante. 
Numa perspectiva diferencialista, parte-se do princípio de que as culturas são 
fixas e que cada uma delas tem direito ao seu reconhecimento, desde que cada 
qual permaneça dentro de seus próprios limites. 
O Brasil é uma nação moderna cujas bases são pluriétnicas e multiculturais e, 
por isso, a ideia de nação não deve excluir a ideia de etnia, entendida aqui como 
produto de atos significativos de outros grupos (exógena). 
A identidade étnica se constrói na relação entre a categorização pelos não 
membros e a identificação assumida por um grupo étnico particular. A etnia nunca 
se define de maneira endógena, ela é sempre e inevitavelmente é um produto de 
atos significativos de outros grupos (exógena). (BARTH, 1969; POUTIGNAT & STREIFF-
FENART, 1995). 
O grupo étnico assume, assim, segundo seus próprios olhos e ante os demais, 
https://bit.ly/3mFHq47
 
 
 
 
 
 
 
 
 
34 
 
 
uma identidade distinta, que pode ser simbolizada em um ou mais traços culturais 
diferentes: a língua, a história, a religião, a terra, entre outros (D’ADESKY, 2001). 
No Brasil, a Constituição de 1988 garante a dignidade, reconhece a liberdade 
e a igualdade dos cidadãos e leva em conta a diversidade étnica, cultural e religiosa. 
Entende-se por cidadão um indivíduo abstratamente definido por um conjunto de 
direitos e deveres, independentemente de suas características particulares 
(SCHNAPPER apud D’ADESKY, 2001), o sentimento de identificação etnorreligiosa, 
etnorracial ou etnolinguística, por exemplo, que caracteriza os grupos étnicos, não 
constitui elemento fundamental para a nação. Porém uma nação que se reconhece 
pluriétnica deve reconhecer as particularidades religiosas, culturais e linguísticas, 
como também deve ser capaz de estabelecer uma política de inclusão ou de 
reconhecimento para gerir a diversidade dos pertencimentos independentemente 
do seu nível de expressão (D’ADESKY, 2001, p. 190-191). 
 
 
 
No caso específico do fenômeno religioso,
percebe-se que em nossas 
sociedades multiculturais fica sempre mais difícil reconhecer e aceitar a centralidade 
de uma religião que se pretenda universal. 
Cada grupo e/ou comunidade exige o respeito de suas crenças e de seus 
símbolos. Dessa forma, o pluralismo étnico e o multiculturalismo favorecem as 
religiões, ampliando o campo de sua influência pública, o reconhecimento e a 
valorização das diferenças culturais e das subjetividades que reivindicam conceitos 
e práticas plurais de reconhecimento. 
Para ilustrar o que acabamos de afirmar sobre a relação entre 
multiculturalismo, religião e etnicidade, vale lembrar o que está ocorrendo na França. 
A liberdade religiosa é garantida pela Constituição Brasileira de 1988 e está descrita no 
artigo 5º, que possui 77 incisos sobre os direitos fundamentais garantidos aos cidadãos. O 
inciso VI diz que “é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado 
o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais 
de culto e a suas liturgias”. Portanto, se configura como um direito extremante relevante 
a todos no país, tanto para aqueles que possuem uma religião e exercem sua crença 
quanto para os que não têm religião (FRISON, 2014). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
35 
 
 
Recentemente, o Ministério de Educação daquele país lançou a Carta da Laicidade 
(MINISTÈRE DE L’ÉDUCATION NATIONALE, 2013), que reza em seus 15 artigos que o 
cidadão francês é livre e que o Estado não tem religião e por isso as escolas públicas 
devem vetar símbolos e objetos que lembrem qualquer crença religiosa. 
 
 
 
“Stonehenge”: mais antigo que as ruínas da Grécia Antiga e tão indecifrável quanto a 
Esfinge do Egito, Stonehenge, na Inglaterra, é uma das obras mais inexplicáveis da 
humanidade, cujas teorias para sua origem variam desde trabalho de alienígenas a 
cenários de ritos funerários pré-históricos (HISTORY CHANNEL BRASIL, 2014). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
36 
 
 
FIXANDO O CONTEÚDO 
1. De acordo com texto, acerca do fenômeno da globalização: 
 I. As religiões não estão isentas dessa nova realidade, sendo afetadas pelas 
dinâmicas globalizantes; 
II. Sobretudo no que se refere ao fortalecimento do pluralismo religioso, movida por 
diferentes fatores, entre os quais o processo de secularização. 
III. Isso tem gerado o fim dos monopólios religiosos. 
 
É correto o que se afirma somente em: 
a) I e III. 
b) II. 
c) III. 
d) I e II. 
e) I, II e III. 
 
2. (IBFC – adaptado) As reflexões sobre o homem ocupam o centro das expressões 
culturais, com um forte anseio de compreender a questão que as orienta: “O que 
é o homem?”. A Antropologia é a ciência que pretende apresentar respostas a 
essa pergunta. Num primeiro momento, ainda no século XIX, essa ciência passou 
a ser estruturada sob dois enfoques: da Antropologia Física ou Biológica e da 
Antropologia Cultural. Posteriormente, no século XX, surgem novas abordagens 
para o estudo antropológico. Sobre os parâmetros dessas novas abordagens da 
antropologia, numere a COLUNA II de acordo com a COLUNA I, fazendo a relação 
entre elas: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
37 
 
 
COLUNA I 
 
1. Parâmetros do 
Evolucionismo 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2. Parâmetros do 
Culturalismo 
 
 
3. Parâmetros do 
Funcionalismo 
 
 
 
4. Parâmetros do 
Estruturalismo 
 
COLUNA II 
 
( ) Os trabalhos de Bronislaw Malinowski representam essa teoria 
antropológica, com nova proposta de abordagem das culturas, 
sendo relevante estudá-las isoladamente, sem tomar nenhuma 
como parâmetro comparativo. Assim, o pesquisador deve 
mergulhar intensamente no convívio, nos hábitos e costumes do 
povo que está sendo estudado. Deve aprender sua língua, sua 
evocação religiosa, seus códigos específicos de trocas e o trato com 
a sexualidade, enfim, deve colher o maior número de informações, 
em vez de enquadrá-las em uma teoria alheia à experiência factual. 
O seu método característico é o da ‘observação participante’. 
( ) O pesquisador mais importante dessa teoria foi Claude Lévi-Strauss e 
um dos focos mais relevantes de sua investigação consiste na 
utilização da noção de estrutura, que subjaz toda relação entre os 
indivíduos e as instituições sociais. 
( ) Essa teoria foi norteada pelo paradigma metodológico das Ciências 
Naturais, sobretudo da Física e da Biologia. Nessa visão teórica os 
organismos, através do mecanismo de adaptação implementam 
formas mais complexas e evoluídas, selecionando aqueles mais 
aptos às experiências do ambiente. 
( ) Tem como principais expoentes os antropólogos Franz Boas e Ruth 
Benedict, e defende que as culturas humanas são caracterizadas 
por processos e constituintes históricos precisos, para cuja 
compreensão concorrem as condições ambientais, os fatores 
psicológicos e os efeitos das relações históricas sobre cada 
comunidade. O seu fundamento metodológico consiste em 
observar detalhadamente as mudanças ocorridas no tempo 
presente em suas relações dinâmicas e como os grupos reagem de 
modo singular na solução de problemas. Busca-se encontrar o 
desenvolvimento de novos hábito e costumes na origem das 
transformações sociais. 
 
 
 
Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta de cima para baixo. 
a) 4, 2, 3, 1. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
38 
 
 
b) 1, 2, 3, 4. 
c) 3, 2, 1, 4. 
d) 3, 4, 1, 2. 
e) 1, 2, 4, 1. 
 
3. O direito de pertencer a qualquer crença no Brasil é assegurado pela nossa 
Constituição de 1988, conforme artigo 5º e também 18º da Declaração Universal 
dos Direitos Humanos: “Todo ser humano tem direito à liberdade de pensamento, 
consciência e religião. esse direito inclui a liberdade de mudar de religião ou 
crença e a liberdade de manifestar essa religião ou crença pelo ensino, pela 
prática, pelo culto em público ou em particular.” (UNICEF, s/d). 
 
Com base no texto acima, analise: 
 
I. A preservação da liberdade religiosa é algo fundamental não somente para 
garantia de um direito humano básico, como também por ser uma necessidade 
para a construção de um ambiente pacífico na sociedade. 
II. A liberdade de crença é uma garantia em lei, o dever de respeitar as escolhas dos 
outros é extremamente imprescindível. 
III. Quando há a intolerância religiosa, o surgimento do desprezo, da violência e das 
dissensões podem acarretar problemas para a sociedade e atrapalhar a harmonia 
e o bem-estar das comunidades. 
 
É correto o que se afirma em: 
 
a) I e III. 
b) II. 
c) III. 
d) I. 
e) I, II e III. 
 
4. O fenômeno da intolerância religiosa tem se desdobrado em inúmeras formas de 
rejeição à diferença. Diante dessa realidade, a sociedade necessita de iniciativas 
que promovam o entendimento e a convivência pacífica e respeitosa entre todos 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
39 
 
 
os grupos. 
 
Com base no trecho acima, marque qual deve ser o caminho do combate à 
intolerância: 
a) Etnocentrismo. 
b) Radicalismo. 
c) Ecumenismo. 
d) Positivismo. 
e) Romantismo. 
 
5. (FCC – adaptado) O costume de discriminar os que são diferentes, porque 
pertencem a outro grupo, pode ser encontrado mesmo dentro de uma sociedade. 
A relação de parentesco consanguíneo afim pode ser tomada como exemplo. 
Entre os romanos, a maneira de neutralizar os inconvenientes da afinidade 
consistia em transformar a noiva em consanguínea, incorporando-a no clã do 
noivo pelo ritual de carregá-la através da soleira da porta (ritual este perpetuado 
por Hollywood). 
a) Etnocentrismo. 
b) Culturalismo. 
c) Romantismo. 
d) Xenocentrismo. 
e) Eurocentrismo. 
 
6. O reconhecimento do multiculturalismo e do pluralismo religioso pode ser 
compreendido de maneiras diferentes, com consequências um tanto diversas. 
Com base no enunciado acima, é correto afirmar que: 
I. O multiculturalismo refere-se a um sistema de crenças e comportamentos que 
reconhece e respeita
a presença de todos os diversos grupos numa organização 
ou sociedade; 
II. Reconhece e valoriza as suas diferenças socioculturais e encoraja e possibilita a sua 
contribuição contínua dentro de um contexto cultural inclusivo que capacita 
todos dentro da organização ou sociedade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
40 
 
 
III. Ideologias multiculturais não são criadas através da defesa de crenças culturais de 
imigrantes de diferentes jurisdições em todo o mundo ou da evolução de pessoas 
de diferentes etnias. 
 
a) I, II e III. 
b) II. 
c) III. 
d) I. 
e) I e II. 
 
7. (Instituto Consulplan – adaptado) Uma menina indiana de 9 anos casou-se com 
um cachorro numa cerimônia acompanhada por mais de cem convidados numa 
vila no Estado de Bengala Ocidental (leste da Índia), a 60 km de Calcutá, como 
parte de um ritual destinado a evitar maus agouros. 
Indiana de 9 anos se casa com cão. Folha de S. Paulo, 20 jun, p. A-10. 
 
A partir do legado teórico e metodológico da antropologia cultural, tal prática 
deverá ser analisada a partir da perspectiva do(a): 
 
a) Evolucionismo. 
b) Etnocentrismo. 
c) Diversidade cultural. 
d) Relativismo cultural. 
e) Radicalismo. 
 
8. Sobre a relação entre multiculturalismo, religião e etnicidade, vale lembrar o que 
está ocorrendo na França. Recentemente, o Ministério de Educação daquele país 
lançou a Carta da Laicidade (MINISTÈRE DE L’ÉDUCATION NATIONALE, 2013), que 
reza em seus 15 artigos que o cidadão francês é livre e que o Estado não tem 
religião e por isso as escolas públicas devem vetar símbolos e objetos que lembrem 
qualquer crença religiosa. 
 
Sobre laicidade, no fragmento do texto, é correto o que se afirma abaixo: 
I. É a forma institucional que toma nas sociedades democráticas a relação política 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
41 
 
 
entre o cidadão e o Estado, e entre os próprios cidadãos. 
II. A laicidade não permitiu instaurar a separação da sociedade civil e das religiões; 
III. Não exerce o Estado qualquer poder religioso e as igrejas qualquer poder político. 
 
a) I, II e III. 
b) II. 
c) III. 
d) I e II. 
e) I e III. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
42 
 
 
APONTAMENTOS SOBRE AS 
PRINCIPAIS CORRENTES E ESCOLAS 
DA ANTROPOLOGIA FRENTE AO 
FENÔMENO RELIGIOSO 
 
 
 
Segundo Eliade (1999), a forma sobrenatural de descrever a realidade é 
condizente com a forma mágica como o homem funciona no mundo, como os 
inúmeros rituais de nascimento, casamento e morte desde a infância até a idade 
adulta. Quando uma criança é recém-nascida, ela tem apenas uma existência física; 
a família ainda não o reconhece ou a comunidade não o recebeu. Os rituais que 
ocorrem imediatamente após o nascimento conferem ao recém-nascido o status de 
"vivo" em sentido estrito; somente por meio desses ritos ele se mistura à comunidade 
dos vivos. Os mortos são ainda mais complexos porque não é apenas um "fenômeno 
natural", mas também uma mudança social: os mortos devem enfrentar certos testes 
post-mortem e serem reconhecidos e aceitos pela comunidade dos mortos. 
Diante do exposto, as escolas antropológicas são consideradas por suas 
diferentes abordagens no estudo do ser humano integralmente. Cada uma delas usa 
um tipo de explicação diferenciada para fenômenos como a religião, a cultura, a 
linguagem, as sociedades etc. 
Sobre estas importantes correntes antropológicas que nos auxiliam a entender 
essa complexidade cultural, destacaremos abaixo algumas das principais correntes. 
Ao longo da história da antropologia, diferentes correntes de pensamento 
predominaram na comunidade científica. Assim, cabe dizer que a antropologia trata 
da dimensão holística do homem, cuja análise inclui sua dimensão cultural e 
biológica. Nas palavras de Laplantine, 
 
O homem nunca parou de interrogar-se sobre si mesmo. Em todas as 
sociedades existiram homens que observaram homens. [...] A reflexão 
do homem sobre o homem e sua sociedade, e a elaboração de um 
saber são, portanto, tão antigos quanto a humanidade, e se deram 
tanto na Ásia como na África, na América, na Oceania ou na Europa. 
Mas, o projeto de fundar uma ciência do homem – uma antropologia- 
é, ao contrário, muito recente. De fato, apenas no final do século XVIII 
é que começa a se constituir um saber científico (ou pretensamente 
UNIDADE 
03 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
43 
 
 
científico) que toma o homem como objeto de conhecimento, e não 
mais a natureza; apenas nessa época é que o espírito científico pensa, 
pela primeira vez, em aplicar ao próprio homem os métodos até então 
utilizados na área física ou da biologia.[...] As sociedades estudadas 
pelos primeiros antropólogos são sociedades longínquas às quais são 
atribuídas as seguintes características: sociedades de dimensões 
restritas; que tiveram poucos contatos com os grupos vizinhos ; cuja 2 
tecnologia é pouco desenvolvida em relação à nossa; e nas quais há 
uma menor especialização das atividades e funções sociais. São 
também qualificadas de “simples”; em consequencia , elas irão 
permitir a compreensão ,como numa situação de laboratório , da 
organização “complexa”de nossas próprias sociedades.(LAPLANTINE 
2003, p. 07-08). 
 
 
 
3.1 O EVOLUCIONISMO DE DARWIN E O CRIACIONISMO 
A proposta de Darwin em que as espécies se originam por processos 
inteiramente naturais e seletivos é considerada por muitos grupos religiosos como 
contraposição ao que a Bíblia sagrada registra no livro de Gênesis, que é responsável 
pela teoria religiosa na criação divina ou o chamado Criacionismo. 
A teoria da evolução de Darwin é frequentemente apresentada na mídia 
popular como antirreligiosa em natureza e intenção mesmo que o próprio Darwin 
tenha sido inflexível ao afirmar que não era (MCGRATH, 2020, p.28). 
As discussões desencadeadas a partir do lançamento do livro “A origem das 
Os antropólogos costumam afirmar que a experiência religiosa é autônoma e 
necessariamente não está condicionada pela estrutura única de uma cultura. Porém, 
também reconhecem que quando a experiência religiosa se transforma em religião 
institucional, ela só poderia ser explicada a partir do contexto de uma cultura. Daí a 
afirmação de que a religião tanto pode ser considerada um sistema de representação 
quanto um sistema cultural, configurando-se como uma rede de símbolos, ritos e crenças, 
com fronteiras extremamente delimitadas. 
Assim, quando o pesquisador antropólogo analisa a religião e as particularidades de um 
povo presentes em determinada cultura, ele por certo está desconstruindo paradigmas 
cristalizados com relação à experiência humana com o sagrado, uma vez que traz novas 
perspectivas. 
Vale a pena destacar que todas essas escolas se preocuparam em produzir 
conhecimentos sobre os seres humanos, sua evolução, suas práticas religiosas e culturais 
em seu comportamento. Veremos em sequência algumas de suas ideias. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
44 
 
 
espécies” de Charles Darwin, em 1859, potencializaram velozmente entre o público 
acadêmico fortes discussões sobre o tema, criando, assim, o primeiro debate 
científico internacional da história. 
Todavia, ao contrário da crença popular, as explicações a partir da teoria do 
Evolucionismo não surgiram com Charles Darwin, mas sem dúvida a obra de sua 
autoria sobre a “A origem das espécies” foi responsável pela popularização dessa 
teoria. Mas a ideia da evolução em si já era de autoria de filósofos e cientistas há 
tempo, bem antes de Charles Darwin. Os conceitos dualistas de que a matéria é má 
e o espírito é bom, a eternidade da matéria, já eram esboçados numa forma 
incipiente de filosofia grega. 
Formas inaugurais de evolução também foram encontradas cerca de 500 
anos antes de Cristo nos escritos de pensadores gregos como Anaximander e 
Empédocles. Sendo que Anaximander defendia a evolução do homem por meio dos 
peixes. Para Chaui, Anaximander considerava a vida numa perspectiva que, nos 
séculos
próximos de nós, seria chamada de transformismo (CHAUI, 2002, p. 61). 
Já o segundo, Empédocles, médico e filósofo, defendia que os animais 
evoluíram de plantas. De acordo com Chaui sobre este filósofo e sua teoria, o 
homem, sendo parte da natureza, é formado pelos mesmos elementos que ela, 
seguindo como ela as mesmas leis. E, assim como há coisas diferentes no mundo, há 
homens diferentes por natureza (CHAUI, 2002, p. 114). 
De acordo com o filósofo Espicuro (341-270 a.C.), a matéria sempre existiu, mas 
sua constituição e forma atuais ficaram sujeitas a um tipo de autodesenvolvimento. 
Com sua concepção materialista da realidade, Epicuro pretende libertar o homem 
dos dois temores que o impediriam de encontrar a felicidade: o medo dos deuses e 
o temor da morte (AURÉLIO, 1985). 
Platão (428-347 a.C.) e Aristóteles (384-322 a.C.) dizem ainda que a matéria é 
eterna, mas seu arranjo atual bem como sua ordem é obra do ser divino. 
Na França, o naturalista Lamarck publicou uma obra intitulada “Zoologia 
Filosófica”, publicada em 1809. Nessa obra, o autor defende que todos os animais, 
plantas e inclusive o homem se desenvolveram de germes originais simples. 
O que aparenta com relação ao evolucionismo é que este sempre esteve e 
permanece em conflito com os fatos, vejamos: 
 Geologia: campo que estuda a composição, estruturação e evolução da 
terra. Darwin demonstrou que os tipos inferiores e superiores de animais não 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
45 
 
 
sequenciam uns aos outros, mas existiram juntos por um longo período 
(MCGRATH, 2020, p. 78). 
 Paleontologia: sua ocupação é o estudo de vestígios de animais e plantas nos 
primórdios, mas também não fornece peças conclusivas ou evidencias reais 
da existência de tipos transicionais entre os vários tipos de seres orgânicos. 
Ainda que se esforce para encontrar algum humano com características dos 
símios (macacos), nunca foi encontrada tal evidência. 
 Embriologia: aponta para certas semelhanças entre os vários estágios do 
desenvolvimento do embrião humano e do embrião de outros animais, 
contudo, um ser humano nasceu de um animal e vice-versa, tal semelhança 
é apenas externa. No século IV a.C., o filósofo grego Aristóteles, inclusive, fez 
descrições e suposições sobre desenvolvimento embrionário humano e de 
animais, como a galinha. Ao longo do tempo, foi se criando o conceito e o 
entendimento de que a Embriologia é uma ciência descritiva (NAZARI, 2011). 
 Biologia: de acordo com Reiss (2009, p. 1938), “a Terra tem ao redor de 4600 
milhões de anos de idade e todos os organismos compartilham um ancestre 
comum. De fato, se você retrocede o suficiente, a vida teve sua ascendência 
com moléculas inorgânicas”. Sabe-se que até o presente momento não há 
provas de que a vida possa ser gerada por si mesma, a ponto de muitos 
aceitarem a ideia da existência de uma força ou energia especial. 
 
O criacionismo é uma estrutura/modelo conceitual que defende a 
possibilidade de um criador do ponto de vista do estudo da natureza. De acordo 
com essa crença, a vida teria sido originalmente criada como complexa, completa 
e funcional pelo criador que lhe deu o suporte necessário para uma diversificação 
limitada ao longo do tempo. Existem três ramos principais do criacionismo: religioso, 
bíblico e científico. 
De acordo com Engler (2007), muitos artigos e livros abordam o criacionismo 
exclusivamente a partir da tradição judaico-cristã e, muitas vezes, de uma 
interpretação estritamente literal da Bíblia. Para muitas religiões nem faria sentido 
falar em criação, pois há culturas que acreditam que o universo é eterno, sem 
começo nem fim. 
Mesmo dentro da tradição cristã, existem muitos “criacionismos” diferentes 
com semelhanças e diferenças. Várias tipologias já foram desenvolvidas para tentar 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
46 
 
 
definir os limites de cada escola de pensamento. 
Engler (2007) identifica nove tipos de “criacionismo”: Terra recente (TR); 
científico (IC); Terra Antiga (TA); Intervalo (IN); dia-era (DE); especial (ES); Plano 
inteligente/design inteligente (IP); antropocêntrico (AN); Evolucionismo teísta (ET). 
Não nos deteremos a eles, mas faremos destaques para os critérios usados por ele. 
 
Quadro 2: Criacionismos 
Leitura e 
Interpretação 
do Livro de 
Gênesis 
Literal – Os seis dias com intervalos de 24 horas; 
Figurativo – Os seis dias podem representar seis eras ou (tempos); 
Mitológico – Os seis dias representam uma história que transmite 
verdades importantes através de uma linguagem simbólica que 
muitas vezes evita uma leitura literal ou estritamente figurativa. 
Atividade do 
ser Divino 
(Único – inicial) – Deus originalmente agiu em um curto espaço de 
tempo; 
(Único – antigo) – Atuação de Deus em um único período curto após 
o início ainda na antiguidade; 
(Distribuída – antiga) – Distribuída em entre um período na 
antiguidade; 
(Distribuída) – Distribuída ao longo da história até ao presente. 
 
Modus 
operandi do 
ser divino 
(Catastrófica) - Através de grandes intervenções como o próprio 
dilúvio (Gn.6); 
(Parcialmente uniforme) – Forma híbrida entre duas outras classes, em 
certos casos acredita-se uma ou outra. 
(Uniforme) – Ocorre pouco a pouco, ao longo de muitos anos, sem 
grandes quebras. 
Criação 
conjunta ou 
separada da 
alma humana 
 
Universo; 
Globo; 
animais; 
pessoas. 
Fonte: PUC-Rio - Certificação Digital Nº 1011725/CA Capítulo 4 – Criacionismo(s). 
 
3.2 ANTROPOLOGIA FUNCIONALISTA E ESTRUTURAL 
A escola funcional considera todas as sociedades como tipos de “organismos 
vivos”, como nós mesmos. As comparações entre povos chamados de "primitivos e 
civilizados", feitas por esta escola, passa pela experiência da convivência com eles. 
Somente assim, inseridos no contexto, suspendendo valores pessoais é que o 
observador perceberá que as instituições mantêm o sistema funcionando. A saber: 
casamentos (como união), famílias e religiões seriam algumas dessas instituições. 
Esse segmento mostrou que os chamados povos "primitivos" realizam e 
praticam rituais, superstições e costumes que não são tão diferentes dos povos 
civilizados. A escola aponta ainda que o que realmente existe é uma grande 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
47 
 
 
diferença tecnológica, mas há muitas semelhanças nas tradições religiosas. 
Assim como as antigas sociedades ditas "primitivas", as sociedades atuais e 
civilizadas são organizadas para a proteção de crenças religiosas, rituais e 
superstições. Os países do mundo civilizado certamente acreditam que suas crenças 
e costumes são mais racionais e esclarecidos, mas a antropologia da religião 
derrubou essa ideia e revelou semelhanças em seus fundamentos e configurações. 
Vale ressaltar que as sociedades primitivas ou mesmo "isoladas" têm a mesma 
estrutura, só que de forma mais evidente. Nos grandes centros essa relação entre 
crenças religiosas e outras instituições é mais distante, mas não menos fundamental. 
Para a escola funcionalista, baseada na experiência e vivência com povos 
chamados de “primitivos”, além da suspensão de valores pessoais do observador, 
todas as sociedades são como um tipo de organismo vivo, tal como nosso próprio 
corpo, onde instituições mantêm o sistema funcionando. A saber: casamentos 
(enquanto alianças), famílias e religiões seriam algumas dessas instituições. 
A escola pontua que, na verdade, o que existe é uma grande diferença 
tecnológica, porém, no que se refere aos costumes religiosos, as semelhanças são 
muitas. 
Assim como as sociedades primitivas, as sociedades civilizadas também se 
organizam ao redor de crenças religiosas, rituais e superstições. Os países do mundo 
civilizado acreditam, óbvio, que seus usos e costumes religiosos são mais racionais e 
esclarecidos. A Antropologia da Religião, contudo, acabou revelando que suas 
bases são semelhantes. 
As sociedades chamadas de primitivas

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