Baixe o app para aproveitar ainda mais
Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original
1 ASPECTOS ANTROPOLÓGICOS NO ESTUDO DAS RELIGIÕES Marcelo Alves da Silva 2 Marcelo Alves da Silva Mestre em Teologia (FABAPAR-PR); Pós-graduado em Direitos Humanos e Questões Étnico- Sociais (FUTURA); Pós-graduado em Ensino de História (SOED); Pós-graduado em História Brasileira (SOED); Especialista em Ensino Religioso (SOED); Especialista em Antropologia (FAD); Especialização em Tutoria em Educação a Distância e EJA (UNIFAVENI); Especialista em Psicopedagogia Institucional, Clínica e Educação Especial (DOM ALBERTO); Especialização em Docência do Ensino Superior. (UNIASSELVI); Licenciado em Filosofia (UNIFAVENI); Licenciado em Pedagogia (FAEL); Licenciado em História (UNISA); Licenciado em Letras: Português-Inglês (UNIFAVENI); Bacharel em Psicologia (UNINORTE); Bacharel em Teologia (FAEPI); Professor Universitário e do Ensino Fundamental (SEMED-Manaus). ASPECTOS ANTROPOLÓGICOS NO ESTUDO DAS RELIGIÕES 1ª edição Ipatinga – MG 2023 3 FACULDADE ÚNICA EDITORIAL Diretor Geral: Valdir Henrique Valério Diretor Executivo: William José Ferreira Ger. do Núcleo de Educação a Distância: Cristiane Lelis dos Santos Coord. Pedag. da Equipe Multidisciplinar: Gilvânia Barcelos Dias Teixeira Revisão Gramatical e Ortográfica: Izabel Cristina da Costa Revisão/Diagramação/Estruturação: Bruna Luiza Mendes Leite Fernanda Cristine Barbosa Guilherme Prado Salles Lívia Batista Rodrigues Design: Bárbara Carla Amorim O. Silva Élen Cristina Teixeira Oliveira Maria Eliza Perboyre Campos © 2021, Faculdade Única. Este livro ou parte dele não podem ser reproduzidos por qualquer meio sem Autorização escrita do Editor. Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária Melina Lacerda Vaz CRB – 6/2920. NEaD – Núcleo de Educação a Distância FACULDADE ÚNICA Rua Salermo, 299 Anexo 03 – Bairro Bethânia – CEP: 35164-779 – Ipatinga/MG Tel (31) 2109 -2300 – 0800 724 2300 www.faculdadeunica.com.br http://www.faculdadeunica.com.br/ 4 Menu de Ícones Com o intuito de facilitar o seu estudo e uma melhor compreensão do conteúdo aplicado ao longo do livro didático, você irá encontrar ícones ao lado dos textos. Eles são para chamar a sua atenção para determinado trecho do conteúdo, cada um com uma função específica, mostradas a seguir: São sugestões de links para vídeos, documentos científicos (artigos, monografias, dissertações e teses), sites ou links das Bibliotecas Virtuais (Minha Biblioteca e Biblioteca Pearson) relacionados com o conteúdo abordado. Trata-se dos conceitos, definições ou afirmações importantes nas quais você deve ter um maior grau de atenção! São exercícios de fixação do conteúdo abordado em cada unidade do livro. São para o esclarecimento do significado de determinados termos/palavras mostradas ao longo do livro. Este espaço é destinado para a reflexão sobre questões citadas em cada unidade, associando-o a suas ações, seja no ambiente profissional ou em seu cotidiano. 5 SUMÁRIO DIÁLOGO ENTRE RELIGIÃO E ANTROPOLOGIA ........................................... 8 1.1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 8 1.2 CONCEITO DE ANTROPOLOGIA RELIGIOSA ............................................................ 9 1.3 MAS O QUE É MESMO RELIGIÃO? ........................................................................... 14 1.4 O MÉTODO ETNOGRÁFICO NO ENTENDIMENTO DAS RELIGIÕES NATURAIS ..... 17 1.5 O ETNOCENTRISMO RELIGIOSO ............................................................................... 18 FIXANDO O CONTEÚDO ..................................................................................... 22 ALTERIDADE RELIGIOSA NO CENÁRIO DE ANÁLISE ANTROPOLÓGICA 27 2.1 A COMPREENSÃO ETNOCÊNTRICA DO FENÔMENO RELIGIOSO ...................... 27 2.2 RESPEITO E TOLERÂNCIA AO DIFERENTE .............................................................. 29 2.3 A RELEVÂNCIA DA DIVERSIDADE CULTURAL ....................................................... 31 2.3.1 A Ciência da Alteridade ..................................................................................32 2.4 O PLURALISMO ÉTNICO E O MULTICULTURALISMO RELIGIOSO ......................... 33 FIXANDO O CONTEÚDO ...................................................................................... 36 APONTAMENTOS SOBRE AS PRINCIPAIS CORRENTES E ESCOLAS DA ANTROPOLOGIA FRENTE AO FENÔMENO RELIGIOSO .......................... 42 3.1 O EVOLUCIONISMO DE DARWIN E O CRIACIONISMO ...................................... 43 3.2 ANTROPOLOGIA FUNCIONALISTA E ESTRUTURAL ............................................... 46 3.3 ANTROPOLOGIA INTERPRETATIVA E SIMBÓLICA ................................................ 49 FIXANDO O CONTEÚDO ...................................................................................... 52 ANTROPOLÓGICA DA RELIGIÃO EM SEUS ASPECTOS CULTURAL, SIMBÓLICO E RITUALÍSTICO .................................................................... 56 4.1 INTRODUÇÃO........................................................................................................ 56 4.2 SINCRETISMO RELIGIOSO E SUAS CONGRUÊNCIAS CULTURAIS ........................ 58 4.3 A IMPORTÂNCIA DA EXPRESSÃO SIMBÓLICA NAS RELIGIÕES .......................... 60 4.4 OS RITUAIS DE PASSAGEM ................................................................................... 63 FIXANDO O CONTEÚDO ...................................................................................... 67 IMANÊNCIA E TRANSCENDÊNCIA PRESENTES NAS TRADIÇÕES RELIGIOSAS ............................................................................................. 71 5.1 CONCEITOS E CONGRUÊNCIAS NAS TRADIÇÕES RELIGIOSAS ......................... 72 5.2 DIFERENÇAS ENTRE IMANÊNCIA E TRANSCENDÊNCIA APONTADAS A PARTIR DE PLATÃO .................................................................................................................. 73 5.3 MAGIA, TABU, TOTEMISMO E MITO: PERSPECTIVAS ANTROPOLÓGICAS .......... 73 5.3.1 Conceito de Magia ...................................................................................... 73 5.3.2 Xamanismo e Magia .................................................................................... 74 5.3.3 Conceito de Tabu ......................................................................................... 76 5.3.4 Totem ............................................................................................................... 77 5.3.5 Conceituando Mito ...................................................................................... 79 FIXANDO O CONTEÚDO ...................................................................................... 82 UNIDADE 01 UNIDADE 02 UNIDADE 03 UNIDADE 04 UNIDADE 05 6 O FENÔMENO RELIGIOSO NO BRASIL COMO SISTEMA DE REPRESENTAÇÃO CULTURAL NO PRISMA ANTROPOLÓGICO ....... 86 6.1 SENSIBILIDADE E DEBATES ATUAIS SOBRE OS FENÔMENOS RELIGIOSOS NO BRASIL .................................................................................................................... 87 6.2 MATRIZ RELIGIOSA BRASILEIRA E SUAS CONFLUÊNCIAS .................................... 88 6.3 O FENÔMENO RELIGIOSO E SEUS PONTOS DE CONTATO: FLUIDEZ IDENTITÁRIA E CULTURAL .............................................................................................................. 91 6.4 CARACTERÍSTICAS ATUAIS DA RELIGIOSIDADE BRASILEIRA .............................. 94 FIXANDO O CONTEÚDO ...................................................................................... 97 RESPOSTAS DO FIXANDO O CONTEÚDO ............................................. 104 REFERÊNCIAS ......................................................................................... 105 UNIDADE 06 7 CONFIRA NO LIVRO A Unidade I conceitua antropologia geral e considera os aspectos antropológicos no estudo das religiões, além do conceito de antropologia religiosa destacando a relevância dos fenômenos religiosos. A Unidade II reflete sobre a necessidade de haver alteridade religiosa num mundo globalizado onde as religiões também são afetadas pelas dinâmicas globalizantes, com consequências positivas e negativas. A Unidade III busca uma reflexão sobre as diferentes correntes de pensamento antropológico predominantes na comunidade científica, com suas particularidades e especificidades. A Unidade IV faz uma analogia sobre a relevância do sincretismo religioso na desconstrução de paradigmas cristalizados ao longo da história da humanidade. A Unidade V busca esclarecer os conceitos de imanência e transcendência no contexto religioso em suas tradições, além de fazer uma abordagem sobre magia, tabu, totemismo, entre outros temas relevantes. A Unidade VI traz uma discussão sobre o fenômeno religioso e sua influência sobre as pessoas de um modo geral, além de apresentar considerações relevantes sobre as confluências na matriz religiosa brasileira. 8 DIÁLOGO ENTRE RELIGIÃO E ANTROPOLOGIA 1.1 INTRODUÇÃO No que diz respeito à história das religiões, a antropologia e a sociologia asseguram que em todas as sociedades, épocas e culturas, os seres humanos são pessoas religiosas. No entanto, outros sustentam que estamos vivendo, atualmente, uma crise no fenômeno religioso de natureza profunda. Nesse diálogo entre religião e antropologia, devemos destacar que a antropologia é uma ciência – um estudo sistemático que visa, através da experiência, observação e dedução, produzir explicações contáveis de fenômenos, com referência ao mundo material e físico (WEBSTER’S NEW WORLD ENCYCLOPEDIA, 1993, p. 937). A pré-história da antropologia tem origem nos séculos XV e XVI. Nessa época, as informações, com respeito a outros povos mais distanciados, eram compartilhadas por viajantes. Nesse tempo, duas ideologias se contrapunham. A primeira defendia a ideia de que os povos primitivos eram selvagens e, portanto, não tinham história, nem costumes culturais. Já na segunda ideia, os aspectos desses povos em relação ao que conseguiram desenvolver e organizar, como os sistemas políticos e econômicos, se apresentavam em melhores condições, em harmonia com a natureza que os outros não conseguiram. Destarte, a antropologia ocupa-se em estudar a sociedade humana, instituições sociais e culturais, em sua forma mais elementar. Além de ser útil para a compreensão das sociedades humanas atuais, contribui no conhecimento da história humana e natureza das instituições sociais. Portanto, a Antropologia Social está intimamente relacionada com a História e a Arqueologia (NEENA, 2011). De acordo com Eller (2018, p. 30), três aspectos relevantes devem ser destacados com relação à antropologia: Em primeiro lugar a Antropologia procede através da descrição comparativa ou intelectual. A antropologia não considera apenas a sua própria sociedade e cultura ou outras semelhantes a ela. Ela começa a partir de uma premissa da diversidade [...]. Em segundo lugar, a Antropologia adota uma posição de holismo. Partimos do UNIDADE 01 9 pressuposto que qualquer cultura é um todo, mais ou menos integrado, com partes que operam de maneiras especificas uma em relação a outra e que contribuem para a operação do todo [...]. Em terceiro lugar a Antropologia defende o principio do relativismo cultural. O relativismo cultural entende que cada cultura tem os seus próprios padrões de compreensão e julgamento. (ELLER, 2018, p.30) Dessa forma, os três aspectos destacados por Eller buscam entender e aplicar o relativismo cultural, de modo a promover uma reorientação no entendimento sobre a antropologia em si. BUSQUE POR MAIS: Antropologia Prática Teórica na cultura e na sociedade. Disponível em: https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/49066/pdf/0 1.2 CONCEITO DE ANTROPOLOGIA RELIGIOSA Pode-se dizer que Antropologia da Religião é uma área que aborda e junta aspectos da Antropologia geral, que é o estudo centrado no conhecimento do ser humano em sua totalidade (do grego anthropos = homem e logos = estudo), ou seja, busca compreender a relação das culturas. Acerca da “Antropologia”, no zelo enciclopédico do século das luzes, Diderot deu conta de alguns significados do conceito, segundo os quais: forma de se expressar dos escritores sagrados que atribuíam a Deus as partes, ações ou condições exclusivas dos homens. O que significa dizer que a Antropologia procura entender a relação entre os seres humanos e diversidades culturais, considerando suas histórias, linguagens, valores, crenças etc. Na economia animal de Techmeyer e Drake (1739), Antropologia é definida como o estudo do homem (DIDEROT, 1785, p. 740). Os antecedentes do pensamento antropológico manifestam-se no acompanhamento do processo de colonização generalizada do mundo pelos europeus a partir de 1492. Primeiro, foi a perplexidade ante o chamado “novo mundo”, após a conquista dos povos nativos e da colonização, compreendida como a imposição material, social e simbólica da Europa sobre os grupos indígenas. Buffon e Saint-Hilaire representam dois pensadores indiscutíveis do surgimento da Antropologia. O primeiro pode ser considerado o pioneiro do domínio da disciplina. Saint-Hilaire fez uma contribuição fundamental para o estudo dos elementos autoformativos da espécie humana. Pode-se considerar pioneiro o 10 trabalho de Buffon: História natural, general e particular (BUFFON, 17904, p. 97). Em sua gênese, a Antropologia da Religião preocupou-se com o estudo dos mitos dos “povos primitivos ou bárbaros”. O ponto de partida deu-se por meio do ponto de vista do homem considerado “civilizado”, que entendia a si mesmo como integrante de uma cultura mais evoluída — considerando os demais povos e culturas atrasados e obsoletos, tanto culturalmente quanto espiritualmente. O termo “primitivo” parte do prisma depreciativo e discriminatório. Entretanto, com o passar do tempo, todos os povos e religiões passaram a ser analisados e comparados pelos antropólogos. Para os antropólogos modernos, esvaziou-se do sentido de “crenças dos povos atrasados”, assumindo um sentido de que todas as religiões, em certa medida, possuem elementos mitológicos. Para Aranha e Martins (2002, p. 54), o mito é, portanto, uma instituição compreensiva da realidade, uma forma espontânea de o homem se situar no mundo. A autora assevera ainda que as raízes do mito não se encontram nas explicações racionais, mas na experiência vivida, sendo uma pré-reflexão, baseada em emoções e sentimentos. É uma estória tradicional, especialmente relacionada à história de um povo ou que explica algum fenômeno natural ou social, tipicamente envolvendo seres ou eventos sobrenaturais. Heróis, deuses e simbologia são frequentemente usados na criação de mitos. 11 Figura 1: Religião e cultura no mundo antigo Fonte: Disponível em https://bit.ly/3J0CLkT. Acesso em: 20 jan. 2023. Conta-se uma estória sobre a mitologia quando comparada com a crença pessoal: “mitologia é a religião dos outros, porque a minha religião é a verdadeira”. A Antropologia da Religião, com o passar do tempo, preocupou-se em desconstruir esse tipo de interpretação preconceituosa, pois distorcia a realidade dos povos estudados. Apesar disso, o fenômeno religioso, por ser universal, não deve ser entendido como superficial ou mera superstição de povos atrasados ou menos desenvolvidos, manifestada por todos do mundo, ajudando inclusive na organização de comunidades desde o surgimento do homem no planeta. https://bit.ly/3J0CLkT 12 Figura 2: Jesus “o Cristo” – Fundador do Cristianismo Fonte: Disponível em https://bit.ly/3J4lFCG. Acesso em: 20 jan. 2023. 1. 2. OS FENÔMENOS RELIGIOSOS E SUA RELEVÂNCIA O mito é uma intuição compreensiva da realidade, uma forma espontânea de o homem situar-se no mundo. As raízes do mito não se acham nas explicações racionais, mas na realidade vivida, portanto, pré-reflexiva, das emoções e da afetividade. […] A função do mito não é, primordialmente, explicar a realidade, mas acomodar e tranquilizar o homem em um mundo assustador (ARANHA; MARTINS, 2002, p. 54). Para mais informações sobre: Mito e Religião: https://youtu.be/eoWZe4tUuBE. Acesso em: 20 jan. 2023. Fonte: https://aquivivecristo.com/c-cristianismo/fenomeno-religioso/#El_fenomeno_religioso https://bit.ly/3J4lFCG https://youtu.be/eoWZe4tUuBE 13 O surgimento espontâneo das religiões em absolutamente todos os povos ao redor do mundo ao longo da história da humanidade indica, para muitos antropologistas, uma necessidade de dar sentido ao mundo, à comunidade, à realidade aterradora e à realidade da própria morte. Em qualquer sociedade, a religião define um modo de ser no mundo em que transparece a busca de um sentido para a existência. Nos momentos em que a vida mais parece ameaçada, o apelo religioso se torna mais forte (MACEDO, 1989, p. 15). Sobre mito, Maria Lucia Aranha destaca o seguinte: O mito é uma instituição compreensiva da realidade, uma forma espontânea de o homem situar-se no mundo. As raízes do mito não se acham nas explicações racionais, mas na realidade vivida, portanto, pré-reflexiva, das emoções e da afetividade. [...] A função do mito não é, primordialmente, explicar a realidade, mas acomodar e tranquilizar o homem em um mundo assustador. (ARANHA; MARTINS, 2002, p. 54) O fenômeno religioso e o desenvolvimento da cultura estão intrinsecamente ligados, à medida que o homem se acomoda a novas tradições, sua crença também se reestrutura, evolui, ganha novos contornos. Deve-se considerar que a reestruturação da crença não significa transformar sua essência ou acomodá-la a uma conveniência, mas sim numa atualização do rito elaborado a partir de suas experiências anteriores, fazendo com que desperte o sentido de outros indivíduos que mesmo não pertencendo ao meio específico podem conhecê-lo. Levando em consideração que todos os campos do conhecimento se interessam pelo homem, foram surgindo, ao longo da história da humanidade, uma série de subdivisões que se propuseram a investigar a sua história. Na Antropologia, isso gerou muitas vertentes, das quais encontra-se a Antropologia da Religião. Dos diversos tipos de estudos antropológicos vale destacar: Quadro 1: Diversidade do campo Antropológico Antropologia Filosófica É considerada uma disciplina filosófica autônoma e sistemática que busca compreender o fenômeno humano de maneira totalizante, considerando todas as suas dimensões. Acerca disso, Mondin ressalta que é justamente pelo fato da investigação partir de um filósofo que este: “[...] se empenha em buscar resposta total, completa, exaustiva, última, resposta em condições de esclarecer plenamente o que seja o homem 14 tomado globalmente, em seu todo, o que ele seja efetivamente além e sob as aparências [...]” (MONDIN, 2005, p.14). Antropologia Teológica É uma disciplina recente. Fundamenta-se nas Escrituras Sagradas e na teologia cristã, e propõe pensar o ser humano a partir dessas fontes, permitindo formar uma cosmovisão e integrando o conhecimento da filosofia e da teologia cristã. (LADARIA, 2007, p.11-16). Na crença do cristianismo, o homem foi formado pelo ser Divino, que apesar de transcendente interage e se relaciona com a sua criação (imanente). O homem é o centro da criação. Os cristãos afirmam ainda que Jesus é o Filho de Deus e é o único meio de salvação. Uma vez “salvo” por Jesus, o homem deve evidenciar tal ato com o seu comportamento moldado aos ensinamentos da fé cristã na esperança da plenitude futura. Antropologia Física A antropologia física é uma ordem científica cujo campo de abordagem é o existir humano, considerando suas origens, desenvolvimento das espécies, a sua acomodação a diferentes ambientes ou variabilidade. Conquanto, desde os tempos antigos, o existir humano fosse de interesse em pesquisas, este ramo antropológico é relativamente recente. Antropologia Ecológica ou ambiental Esta ordem científica da antropologia surge como uma ciência social ativa para compreender e facilitar as relações contraditórias entre a sociedade e o meio ambiente, quando se intensificam cada vez mais no espaço econômico e político. Antropologia Médica ou da saúde Pode ser entendida como a aplicação da antropologia ao estudo das práticas de cuidado e recuperação em diferentes culturas ou etnias. Há praticamente um consenso entre os cientistas da área de que o fenômeno saúde/doença não deve ser entendido de forma reducionista. Antropologia da alimentação É o ramo da antropologia que se ocupa em estudar e compreender os hábitos alimentares e seus reflexos na questão da nutrição da sociedade. Fonte: (BARFIELD, 2000). 1.3 MAS O QUE É MESMO RELIGIÃO? Religião tem origem do latim re-ligare: unir ou re-unir. É um conjunto de sistemas culturais e de crenças, além de visões de mundo, que estabelece os símbolos que relacionam a humanidade com a espiritualidade e seus próprios valores morais, que pode ser praticada por uma comunidade de adeptos unidos por uma fé, uma prática ou forma de culto. Essa comunidade se mantém unida pelo mesmo objetivo, a busca do ser divino. Também pode ser caracterizada pela sua maneira de enfrentar os problemas da vida humana. Portanto, na história das religiões, há grande destaque sobre a experiência e contato pessoal com o sagrado. Geertz (1989, p. 67) assevera que Religião é: Um sistema de símbolos que atua para estabelecer poderosas, penetrantes e duradouras disposições e motivações nos homens 15 através da formulação de conceitos de uma ordem de existência geral e vestindo essa concepção com tal aura de fatualidade que as disposições e motivações parecem singularmente realistas. Figura 3: Símbolos religiosos Fonte: Disponível em https://bit.ly/3yndmNr. Acesso em: 20 jan. 2023. Vale ressaltar o que Tylor (1832-1917) chamou de animismo com relação a essa fé ou crença. Tylor bebeu da fonte da teoria da evolução de Charles Darwin. Segundo ele, o desenvolvimento religioso andou de mãos dadas com o progresso cultural e tecnológico geral da humanidade, primeiro para o politeísmo (crença em muitos deuses) e depois para o monoteísmo (crença em um deus). Tylor concluiu que os povos tribais não haviam passado do estágio da Idade da Pedra e, portanto, praticavam uma forma semelhante de animismo. Hoje, essa teoria evolutiva é Basicamente, todas as grandes civilizações são construídas em torno de elementos religiosos avançados. Por exemplo, toda a vida social, econômica, cultural e arquitetônica da civilização egípcia foi moldada pela religião. Pode-se dizer que a tecnologia e a arquitetura egípcias antigas se desenvolveram como resultado da religião, que se torna um elemento unificador e consolidador da sociedade. O desenvolvimento local é um processo que abrange as mais diversas dimensões do homem e da sociedade em que se insere. https://bit.ly/3yndmNr 16 abandonada e é geralmente aceito que o animismo não é uma caracterização adequada da religião dos povos tribais. Assim, a religião pode ser vista como um conceito mediado apenas por discussões racionais. No entanto, uma apreciação da religião não garante uma experiência religiosa. Experimentar a transcendência, viver o considerado sagrado, não é racionalmente possível, pois é preciso entregar-se ao puro afeto, ao puro desejo, à irracionalidade no conceito freudiano, ou aderir ao conceito antropológico de "tremendum". Apontou Otto, que se baseia em uma metodologia fenomenológica, que o fenômeno religioso é imutável a qualquer categoria epistemológica, nesse caso, não pode ser considerado tão somente como uma manifestação social ou psicológica. Um conceito diferenciado da dignidade do indivíduo, o conhecimento e reconhecimento de algo considerado ou chamado de sagrado não são exclusivos do cristianismo, mas alcançam também todas as religiões. Isso foi reconhecido pelo próprio Concílio Vaticano II no seu documento Dignitatis Humanae respeitante à fé e pureza religiosas. Aparentemente, a religião é o esforço natural da mente humana para entender o "infinito"; o desejo e a aspiração de estar em relação a esse desejo insaciável de infinito. A religião é, portanto, uma necessidade absoluta, nada menos que uma parte da existência humana que o indivíduo sente para "comunicar-se com o infinito; é a fonte daquilo que sustenta o homem e da qual o homem depende de muitas maneiras. Uma prova clara disso" é uma análise antropológica em que as diferentes crenças religiosas ou a ausência delas é um fator decisivo para os pesquisadores na compreensão das normas de comportamento social e individual das sociedades. O livro de Oliva (2020) Antropologia e sociologia da Religião, Intersaberes disponível no link: https://bit.ly/3ZuXUdX. Acesso em: 20 jan. 2023. Assista ao vídeo “A influência da Religião na Sociedade” disponível no link https://bit.ly/3kVBHXt. Acesso em: 20 jan. 2023. https://bit.ly/3ZuXUdX https://bit.ly/3kVBHXt 17 1.4 O MÉTODO ETNOGRÁFICO NO ENTENDIMENTO DAS RELIGIÕES NATURAIS Tendo como objeto principal o ser humano imerso em sua cultura, a abordagem antropológica de base provém da ideia de uma “observação direta dos comportamentos sociais a partir de uma relação humana” (LAPLANTINE, 1988, p. 25). A etnografia é literalmente a descrição de um povo, lidando com o coletivo e examinando os comportamentos interpessoais, as produções e as crenças do grupo. O etnógrafo se ocupa basicamente do cotidiano do nativo em estudo. Nas palavras de Laplantine: “o etnógrafo é aquele que deve ser capaz de viver nele mesmo a tendência principal da cultura que estuda.” (1988, p.27). Para tal, é preciso algumas técnicas de coletas de dados. Antropólogos começaram a usar o método etnográfico no final do século XIX e início do século XX, baseados na ideia de que o conhecimento efetivo só pode ser adquirido estando em contato com a dinâmica do ambiente original. Em suma, o método etnográfico é baseado na pesquisa de campo, o que significa adequar o método de acordo com o objeto de pesquisa; é indutivo, enquanto o é colecionável; é dialógico porque o nativo tomado como objeto pode discutir as interpretações do pesquisador; e, finalmente, abrangente, porque o objetivo é apresentar o relatório mais abrangente da investigação. De acordo com Michael Angrosino: Os pioneiros da pesquisa de campo acreditavam que estavam aderindo a um método consoante com o das ciências naturais, mas o fato de estarem vivendo nas próprias comunidades por eles analisadas, introduziu um grau de subjetividade nas suas análises que estava em dissonância com o senso comum do método científico. (ANGROSINO, 2000, p. 17) Assim afirma François Laplatine (1988), “[...] a etnografia propriamente dita só começa a existir a partir do momento no qual se percebe que o pesquisador deve ele mesmo efetuar no campo sua própria pesquisa, e que esse trabalho de observação direta é parte integrante da pesquisa”. De acordo com Baztán (1995, p. 6), por método etnográfico entende-se como um processo que corresponde ao trabalho de campo (pesquisa de terreno) realizado mediante a observação participante e comporta os seguintes passos – delimitação do objeto de estudo: Eleição de uma comunidade limitada e observável; Redação de um projeto com o objeto, o lugar, o tempo etc; 18 Preparação e documentação: documentação bibliográfica e de arquivo; fontes orais; preparação física e mental; Investigação: chegada; informantes; registro de dados; observação participante; Conclusão: elaboração da ruptura; abandono do campo. Assim, o método etnográfico surge a partir da Antropologia e é comumente usado nas ciências sociais em geral. Pode caracterizar-se, segundo Caria (2002), por “uma análise holística [...] centrada na construção social do quotidiano, partilhado em rotinas de ação e negociado em consensos e conflitos sobre regras de significação e de uso legítimo de recursos e não em qualquer versão essencialista e/ou exótica da cultura local” (BAZTÁN, p.14). Complementando, de acordo com Burawoy (1991), o método etnográfico permite revelar o conhecimento (do observado) que não foi proferido, mecanismo que torna toda a ação social possível. Em resumo, Caria (2002) assevera que “a etnografia supõe um período prolongado de permanência no terreno, cuja vivência é materializada no diário de campo, e em que o instrumento principal de recolha de dados é a própria pessoa do investigador, através de um procedimento geralmente designado por observação participante” (CARIA, 2002, p. 12). 1.5 O ETNOCENTRISMO RELIGIOSO O etnocentrismo é conhecido como a relação entre diferentes grupos sociais. Essa relação é caracterizada por julgar os estilos de vida de outros grupos, religião, costumes, vestimentas, rituais etc. O conceito de Etnocentrismo surgiu no século XX, sendo utilizado pela primeira vez pelo antropólogo W. G. Summer, em 1907. De um modo geral, o termo se aplica a uma atitude coletiva de repúdio aos modos de vida de outras sociedades. Trata-se, fundamentalmente, de uma crítica aos costumes dos outros povos, ao mesmo tempo que se exaltam como pertinentes e corretos os hábitos e costumes daqueles que estão julgando os outros. Enquanto fenômeno, o Etnocentrismo parece ter manifestação em todos os povos. Por isso, é comum encontrar sociedades que classificam a si mesmas como “os verdadeiros” ou “os homens”, deixando para todos os outros, os estrangeiros, um status inferior, pois eles serão “os falsos” ou mesmo aqueles que não são homens, pertencendo, assim, ao universo da natureza e da selvageria e não ao universo da cultura, pois esta é somente para “os homens”. A própria palavra que expressa o 19 conceito define muito bem seu significado. Enquanto “etno” designa um grupo social que compartilha o mesmo ambiente cultural, “centrismo” remete α ideia de centro, ou seja, de um lugar privilegiado. Etnocentrismo, portanto, é o termo empregado para uma visão de mundo de quem toma seu próprio grupo de referência, sociedade ou mesmo nação como o centro do mundo, sendo superior a todos os outros (VALPASSOS, 2011, p. 35). A visão etnocêntrica na religião causa a intolerância religiosa e o preconceito contra as manifestações espirituais diferentes das que o observador etnocêntrico segue. Tomemos como exemplo o Ocidente, que é majoritariamente cristão. Figura 4: A intolerância religiosa Fonte: Disponível em https://bit.ly/3mCBTLX. Acesso em: 20 jan. 2023. Sabidamente, o cristianismo foi amplamente difundido dentro da Europa, e a colonização das Américas pelos povos europeus forçou a entrada e disseminação dessa religião em nosso continente. Os povos nativos daqui tiveram as suas crenças forçadamente profanadas pelos colonizadores, que promoveram, inclusive, grandes campanhas de catequização dos nativos por meio de grupos religiosos cristãos, os jesuítas, como a Companhia de Jesus. Para os europeus, o cristianismo era a religião correta, que levaria à salvação da alma, enquanto a religião dos povos nativos era inferior, errada, pecadora etc. https://bit.ly/3mCBTLX 20 Figura 5: A Primeira Missa no Brasil Fonte: Disponível em https://bit.ly/3mzrKzE. Acesso em: 20 jan. 2023. Ainda hoje existem casos de etnocentrismo religioso, por exemplo, quando as religiões de origem africana não são consideradas pelos cristãos como prática valorosa, inclusive associando-as ao pecado e considerado-as demoníacas, podendo ocorrer também o movimento contrário (que é mais difícil de ocorrer, por exemplo, devido à hegemonia da fé cristã no ocidente). Isso, porque o praticante de uma determinada religião tende a ver seu grupo religioso como a única manifestação dogmaticamente correta. Isso não ficou no passado, hoje ainda existem casos de etnocentrismo religioso, quando, por exemplo, religiões de matriz africana são desrespeitadas pelas outras, especialmente cristas que as associam ao que é considerado demoníaco, podendo acontecer também o movimento inverso (que é mais difícil de ocorrer por conta da hegemonia cristã ocidental). Isso acontece por causa da tendência do praticante de uma determinada religião considerar a sua como a única manifestação correta, em detrimento das outras. Para ilustrar a visão etnocêntrica, vale analisar um fragmento da carta escrita por Pero Magalhães Gândavo, historiador português do século XVI, para o Rei de Portugal, na visão portugueses sobre os brasileiros: https://bit.ly/3mzrKzE 21 [...] a língua de que usam, toda pela costa, é uma: ainda que em certos vocábulos difere em algumas partes; mas não de maneira que se deixem de entender. […] Carece de três letras, convém a saber, não se acha nela F, nem L, nem R, coisa digna de espanto, porque assim não têm Fé, nem Lei, nem Rei, e desta maneira vivem desordenadamente (CAMINHA, 1500, p. 02-12) Na Constituição de 1891, o conceito de religião oficial no Brasil foi oficialmente abolido e a liberdade foi concedida a todos os tipos de religião. No entanto, as diversas religiões existentes no Brasil, diferentes do catolicismo, sofreram perseguições, discriminações e preconceitos tanto no espaço público quanto no âmbito estatal e policial. No Brasil, as chamadas religiões mediúnicas, que incluem espiritismo, umbanda, batuk, candomblé, entre outras, sofreram e ainda sofrem ataques de intolerância e preconceito, porque seus costumes e práticas são muito distintos das práticas dos demais. A Antropologia cultural ajuda a eliminar preconceitos etnocêntricos, promover o relativismo cultural e o respeito à diversidade. Como já destacado anteriormente, no início do século XX, os cientistas passaram a não só receber os relatos dos missionários, eles analisaram e interpretaram, passaram a estar no campo, viver e experimentar a cultura dos povos observados, o que se caracterizou grande evolução nessa ciência. 22 FIXANDO O CONTEÚDO 1. No que diz respeito à história das religiões, a antropologia e a sociologia asseguram que: I. Em todas as sociedades, épocas e culturas, os seres humanos são pessoas religiosas. II. Outros sustentam que estamos vivendo atualmente uma crise no fenômeno religioso de natureza profunda. III. Devemos destacar que a Antropologia é uma Ciência – um estudo sistemático que visa, através da experiência, observação e dedução, produzir explicações contáveis de fenômenos, com referência ao mundo material e físico (WEBSTER’S NEW WORLD ENCYCLOPEDIA, 1993, p. 937). É correto o que se afirma somente em: a) I e III. b) II. c) III. d) I e II. e) I, II e III. 2. Sobre Antropologia da Religião, é correto afirmar: I. É uma área que aborda e junta aspectos da Antropologia geral, que é o estudo centrado no conhecimento do ser humano em sua totalidade (do grego anthropos = homem e logos = estudo), ou seja, busca compreender a relação das culturas. II. Acerca da “Antropologia”, no zelo enciclopédico do século de luzes, Diderot deu conta de alguns significados do conceito, segundo os quais: forma de se expressar dos escritores sagrados que atribuíam a Deus as partes, ações ou condições exclusivas dos homens. III. O que significa dizer que a Antropologia procura entender a relação entre os seres humanos e diversidades culturais, considerando suas histórias, linguagens, valores, crenças etc. É correto o que se afirma somente em: 23 a) I, II e III. b) I e III. c) II. d) III. e) I e II. 3. De acordo com o texto estudado, mito é: I. É uma instituição compreensiva da realidade, uma forma espontânea de o homem situar-se no mundo. As raízes do mito não se acham nas explicações racionais, mas na realidade vivida, portanto, pré-reflexiva, das emoções e da afetividade. [...] A função do mito não é, primordialmente, explicar a realidade, mas acomodar e tranquilizar o homem em um mundo assustador. (ARANHA; MARTINS, 2022). II. É uma instituição compreensiva da realidade, uma forma espontânea de o homem situar-se no mundo. As raízes do mito se acham nas explicações irracionais e na realidade vivida, portanto, pré-reflexiva, das emoções e da afetividade. [...] A função do mito não é, primordialmente, explicar a realidade, mas acomodar e tranquilizar o homem em um mundo assustador. (ARANHA; MARTINS, 2022). III. Não é uma instituição compreensiva da realidade, mas uma forma espontânea de o homem situar-se no mundo. As raízes do mito não se acham nas explicações irracionais, e na realidade vivida, portanto, pré-reflexiva, das emoções e da afetividade. [...] A função do mito é, primordialmente, explicar a realidade, mas acomodar e tranquilizar o homem em um mundo assustador. (ARANHA; MARTINS, 2022). É correto o que se afirma somente em: a) I e III. b) I e II. c) III. d) I e) I, II e III 4. De acordo com as afirmativas abaixo, é correto afirmar que religião: I. Tem origem do latim re-ligare: unir ou re-unir. É um conjunto de sistemas culturais 24 e de crenças, além de visões de mundo, que não estabelece os símbolos que relacionam a humanidade com a espiritualidade e seus próprios valores morais. II. É uma comunidade de pessoas unidas por uma fé, uma prática ou forma de culto. Essa comunidade deve estar unida por uma busca do ser divino e ser definida pela sua maneira de enfrentar os problemas da vida humana. III. Sabidamente, é por isso que na história das religiões há grande destaque sobre a experiência e contato pessoal com o sagrado. É correto o que se afirma somente em: a) I e III. b) II e III. c) III. d) I e) I, II e III. 5. O autor Geertz (1989) define religião como sendo: I. Um sistema de símbolos que atua para estabelecer poderosas, penetrantes e duradouras disposições e motivações nos homens; II. A formulação de conceitos de uma ordem de existência geral; III. As concepções com tal aura de fatualidade que as disposições e motivações parecem singularmente realistas. É correto o que se afirma somente em: a) I e III. b) II e III. c) III. d) I e) I, II e III. 6. De acordo com Caria (2002) e Burawoy (1991), a etnografia surge a partir: I. Da Antropologia e é comumente usado nas ciências sociais em geral. Pode caracterizar-se, por “uma análise holística [...] centrada na construção social do 25 quotidiano, partilhado em rotinas de ação e negociado em consensos e conflitos sobre regras de significação e de uso legítimo de recursos e não em qualquer versão essencialista e/ou exótica da cultura local.” II. Permite revelar o conhecimento (do observado) que não foi proferido, mecanismo que torna toda a ação social possível. III. De uma tentativa para justificar outras visões, posições ou alternativas, que tentam justificar a essência ou o sentido final. É correto o que se afirma somente em: a) I e II b) II e III. c) III. d) I e) I, II e III. 7. O termo etnocentrismo contém os radicais “etno”, derivado de etnia, que significa, por sua vez, semelhança de hábitos, costumes e cultura, e “centrismo”, que se trata de uma posição que prefere ou coloca algo no centro, como referência central a tudo que está a sua volta. Das afirmações abaixo, quais se aplicam ao etnocentrismo? I. Leva em consideração os outros. Portanto, a visão etnocêntrica é aquela que não vê o mundo com base em sua própria cultura, considerando as outras culturas e valorizando a dos outros de igual modo. II. A visão etnocêntrica na religião causa a intolerância religiosa e o preconceito contra as manifestações espirituais diferentes das que o observador etnocêntrico segue. III. Está em desuso. Não existem mais hoje casos de etnocentrismo religioso. É correto o que se afirma somente em: a) I e II b) II e III. c) II. d) I 26 e) I, II e III. 8. Tomando como base o fragmento da carta de Pero Magalhães Gândavo, historiador português do século XVI, para o Rei de Portugal: “[...] a língua de que usam, toda pela costa, é uma: ainda que em certos vocábulos difere em algumas partes; mas não de maneira que se deixem de entender. […] Carece de três letras, convém a saber, não se acha nela F, nem L, nem R, coisa digna de espanto, porque assim não têm Fé, nem Lei, nem Rei, e desta maneira vivem desordenadamente.” Os pressupostos etnocêntricos dos portugueses à época sobre os brasileiros: I. Tinham o intuito de compreender o contexto no qual o outro está inserido. II. Buscavam estabelecer contato com as diversas culturas, pois tem como princípio básico o respeito ao diferente. III. Tinham a visão de um povo atrasado. Essa ideia serviria como norteadora para a sua doutrinação e conquista. É correto o que se afirma somente em: a) I e II. b) II e III. c) III. d) I. e) I, II e III. 27 ALTERIDADE RELIGIOSA NO CENÁRIO DE ANÁLISE ANTROPOLÓGICA Com um mundo globalizado, o que antes era distante se aproximou. Segundo essa forma de pensar, as fronteiras são quebradas por redes cibernéticas, acordos de livre comércio ou migrantes internacionais. O “imponderável” entrou em nossas casas, às vezes, sem ser convidado, tomando de conta. Porém, se o mundo globalizado favorece os contatos, não define categorias de interação, ou melhor, não garante a interação. As religiões não estão isentas dessa nova realidade, pois também são afetadas pela dinâmica da globalização, especialmente pelo fortalecimento do pluralismo religioso, que é impulsionado por diversos fatores, entre eles o processo de secularização. Isso levou ao fim dos monopólios religiosos com duas consequências importantes: primeiro, a descoberta do caminho do diálogo inter-religioso e do ecumenismo; em segundo lugar, o declínio de grupos religiosos fundamentalistas que tentam retornar ou repetir o passado retornando à disciplina rígida, reduzindo a tolerância e "demonizando" outras crenças. Descoberta proporcionada pela distância em relação a nossa sociedade: “aquilo que tomávamos por natural em nós mesmo é, de fato, cultural; aquilo que era evidente é infinitamente problemático” (Laplantine, 1996. p. 21). 2.1 A COMPREENSÃO ETNOCÊNTRICA DO FENÔMENO RELIGIOSO Como já visto anteriormente, o termo etnocentrismo contém os radicais “etno”, derivado de etnia, que significa, por sua vez, semelhança de hábitos, costumes e cultura, e “centrismo”, que se trata de uma posição que prefere ou coloca algo no centro, como referência central a tudo que está a sua volta, não levando em consideração os outros. Portanto, a visão etnocêntrica é aquela que vê o mundo com base em sua própria cultura, desconsiderando as outras culturas ou UNIDADE 02 28 supervalorizando a sua como superior às demais. Figura 6: A prática do preconceito racial e religioso A Ku Klux Klan tinha como uma de suas pautas a manutenção da supremacia branca e do cristianismo. Fonte: Disponível em https://bit.ly/3ZsGC18. Acesso em: 20 jan. 2023. A visão etnocêntrica religiosa é geradora de intolerância e preconceito com as demais, que tem manifestações espirituais diferentes das que o observador etnocêntrico aprova. Exemplo disso é o Ocidente, que é majoritariamente cristão, uma vez que foi amplamente difundido dentro e a partir da Europa, chegando as Américas pelos seus “conquistadores”. Os colonizadores foram responsáveis pela modificação e profanação das crenças nativas, infligindo grandes campanhas de catecismo por grupos religiosos cristãos, como os jesuítas. Para os europeus, o cristianismo era a religião certa, levando à salvação das almas. O que caracteriza o Etnocentrismo Religioso e como ele se manifesta em nossas vidas? https://bit.ly/3ZsGC18 29 Mesmo que a humanidade tenha avançado na tecnologia, especialmente no século XXI, no Brasil, ainda hoje, é possível identificar casos etnocêntricos em que o homem de pele branca ainda considera o indígena como alguém atrasado socialmente. Também abertamente no Brasil é possível encontrar manifestações etnocêntricas, especialmente nas redes e mídias sociais, quando brasileiros dos estados das Regiões Sul e Sudeste acharem-se mais desenvolvidos cultural ou socialmente que os brasileiros das Regiões Norte e Nordeste. As eleições para Presidência da República, em 2022, ficaram marcadas por manifestações desse tipo, contra, especialmente, os nordestinos e suas preferências eleitorais. 2.2 RESPEITO E TOLERÂNCIA AO DIFERENTE Praticar a fé é natural do ser humano. Seja a crença em uma ideia, filosofia, dogma ou mesmo a negação de algo, torna-se uma emoção poderosa que está naturalmente presente na vida de indivíduos pertencentes a diversos grupos sociais e culturais. Já nos primórdios da humanidade, as pessoas confiavam na fé para compreender vários fenômenos naturais, que mais tarde a ciência estudou e explicou. No entanto, a fé não foi excluída ou mesmo minimizada, porque, além disso, os rituais religiosos constituem um vasto e complexo sistema cultural. É digno de nota que muito antes das religiões hoje conhecidas, o homem respeitava o que considerava especial. E, embora não tenhamos dados sobre possíveis rituais do passado, sabemos que existe a hipótese de que, na Inglaterra, "Stonehenge" era usado não apenas como um relógio de Sol, mas também como uma espécie de templo onde eram realizados rituais pagãos associados aos principais ciclos e eventos naturais. 30 Figura 7: Ruínas de Stonehenge na Inglaterra Fonte: Disponível em https://bit.ly/3Zvgp1P. Acesso em: 20 jan. 2023. No Brasil, o direito à liberdade de religião ou crença é um direito constitucional. A legislação permite e garante a livre realização dos serviços religiosos, a proteção dos serviços religiosos e suas liturgias. Desde 2007, o Brasil institui o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, celebrado anualmente em 21 de janeiro. O direito e a liberdade de praticar a própria fé é algo tão necessário que está consagrado no artigo 18 da Declaração Universal dos Direitos do Homem: “Toda a pessoa tem direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião; este direito inclui a liberdade de mudar de fé ou crença e a liberdade de manifestar a própria religião ensinando, praticando ou adorando em público ou em particular” (UNICEF, s/d). Além do pluralismo religioso, o Brasil exibe um forte sincretismo, que muitas vezes promove a fusão de diferentes crenças e disputas. Essa figura nos faz refletir sobre a importância de compreender e respeitar as diferentes religiões e crenças, inclusive sua ausência e o ateísmo. No entanto, o artigo 19 da Constituição Federal do Brasil de 1988 proíbe o Estado de estabelecer um culto religioso ou uma igreja que vise respeitar as diferenças religiosas com base na proteção e preservação de seu caráter secular. Quanto à cultura brasileira, muitas religiões foram reconhecidas como patrimônio cultural, incluindo edificações, pinturas e ornamentos, objetos, vestimentas etc. A herança espiritual também inclui hinos e danças. Portanto, fica claro o fato de que existem regiões no Brasil que têm forte https://bit.ly/3Zvgp1P 31 influência de outras religiões, além do caráter ecumênico de alguns locais ou até mesmo a ausência de elementos de ligação e envolvimento religioso em muitos grupos, revelando, assim, a beleza da liberdade religiosa. O fenômeno da intolerância religiosa tem se desdobrado e fica mais evidente nas inúmeras maneiras de rejeição à diferença, e o ecumenismo desponta como a aceitação. Diante dessa realidade, a sociedade necessita de iniciativas que promovam o entendimento e a convivência pacífica e respeitosa entre todos os grupos. 2.3 A RELEVÂNCIA DA DIVERSIDADE CULTURAL Ao assumir que todas as culturas têm elementos autênticos e interessantes passamos a perceber a diversidade como algo salutar e benéfico, mas quando reduzidos a uma cultura, tornamo-nos cegos para os outros e míopes para nós mesmos. Experimentar o que está fora do nosso julgamento ideal propicia-nos a enxergar algo que não se pode nem imaginar, porque é difícil prestar atenção ao que não é comum, familiar, cotidiano e autoevidente. A multiplicidade dessas diferenças, quando vivenciadas, possibilita aos indivíduos um novo olhar, com julgamentos baseados nas novas percepções adquiridas, de que o comportamento não é homogêneo ou uniforme, o que causa surpresa, uma vez que o conhecimento antropológico de nossa cultura está ligado ao conhecimento de tantas outras culturas. A Antropologia também é caracterizada pela produção de modos de vida e formas de organização sociais amplamente diferentes. As pessoas se unem pela capacidade de distinção umas das outras, de desenvolver costumes, línguas, saberes, instituições, brincadeiras etc. De acordo com essa forma de pensar, o projeto antropológico atua como um tipo de “embaixador” da diversidade dos povos, sobretudo, contribuindo significativamente com a sua divulgação. A abordagem antropológica traz no seu bojo um novo olhar sobre a expressão, o que contribui para um resultado um tanto radical que estilhaça a noção de que existe uma única verdade cultural, social e religiosa. Como numa via de mão dupla, a antropologia elabora um esforço para compreender o universo religioso do outro, mas as populações, em geral, também se 32 utilizam dessa produção intelectual para olharem para si mesmas e se posicionarem frente às diferenças, no eterno jogo das alteridades (GUERRIERO, 2013, p. 243). 2.3.1 A Ciência da Alteridade A antropologia é conhecida como a ciência da alteridade porque visa estudar as pessoas e os fenômenos ao seu redor. Para um campo de pesquisa tão extenso e complexo, é necessário ser capaz de estudar as diferenças entre várias culturas e grupos étnicos. A alteridade estuda a diferença e o outro, ela desempenha um papel importante na antropologia. Hoje, depois de décadas criticando, adaptando e refinando essas estratégias metodológicas, sabemos que, apesar de sua complexidade, não podemos entender a totalidade de outra cultura e que nossa compreensão e descrição da variação é sempre limitada e parcial. Segundo Geertz (1989, p. 11), isso acontece, entre outras coisas, porque construímos um "olhar de segundo ou terceiro lado sobre os ombros dos povos indígenas" e nos textos etnográficos inevitavelmente temos uma posição autoral (GEERTZ, 2001; 2017). Cada cultura tem sua própria história, seus próprios limites, características, e não há classificação que coloque uma acima da outra. Alguns dos temas, conceitos e termos do tema do pluralismo cultural dependem essencialmente do conhecimento antropológico porque se relacionam diretamente com a organização humana, na qual a diversidade está inserida. No sentido antropológico da palavra, diz-se que cada indivíduo nasce no contexto de uma cultura e ao longo de sua vida contribui para sua criação. Não há homem sem cultura, ainda que não saiba ler, escrever ou fazer contas. 33 Figura 8: A beleza da diversidade de Raças e Cultura Fonte: Disponível em https://bit.ly/3mFHq47. Acesso em: 20 jan. 2023. 2.4 O PLURALISMO ÉTNICO E O MULTICULTURALISMO RELIGIOSO O reconhecimento do multiculturalismo e do pluralismo religioso pode ser compreendido de maneiras diferentes, com consequências um tanto diversas. Se compreendido numa perspectiva assimilacionista, acarretará os mesmos erros de antes, ou seja, procurará impor uma verdade única sobre os diferentes grupos religiosos, que não teriam compreendido a verdadeira mensagem e deveriam assimilar a visão então dominante. Numa perspectiva diferencialista, parte-se do princípio de que as culturas são fixas e que cada uma delas tem direito ao seu reconhecimento, desde que cada qual permaneça dentro de seus próprios limites. O Brasil é uma nação moderna cujas bases são pluriétnicas e multiculturais e, por isso, a ideia de nação não deve excluir a ideia de etnia, entendida aqui como produto de atos significativos de outros grupos (exógena). A identidade étnica se constrói na relação entre a categorização pelos não membros e a identificação assumida por um grupo étnico particular. A etnia nunca se define de maneira endógena, ela é sempre e inevitavelmente é um produto de atos significativos de outros grupos (exógena). (BARTH, 1969; POUTIGNAT & STREIFF- FENART, 1995). O grupo étnico assume, assim, segundo seus próprios olhos e ante os demais, https://bit.ly/3mFHq47 34 uma identidade distinta, que pode ser simbolizada em um ou mais traços culturais diferentes: a língua, a história, a religião, a terra, entre outros (D’ADESKY, 2001). No Brasil, a Constituição de 1988 garante a dignidade, reconhece a liberdade e a igualdade dos cidadãos e leva em conta a diversidade étnica, cultural e religiosa. Entende-se por cidadão um indivíduo abstratamente definido por um conjunto de direitos e deveres, independentemente de suas características particulares (SCHNAPPER apud D’ADESKY, 2001), o sentimento de identificação etnorreligiosa, etnorracial ou etnolinguística, por exemplo, que caracteriza os grupos étnicos, não constitui elemento fundamental para a nação. Porém uma nação que se reconhece pluriétnica deve reconhecer as particularidades religiosas, culturais e linguísticas, como também deve ser capaz de estabelecer uma política de inclusão ou de reconhecimento para gerir a diversidade dos pertencimentos independentemente do seu nível de expressão (D’ADESKY, 2001, p. 190-191). No caso específico do fenômeno religioso, percebe-se que em nossas sociedades multiculturais fica sempre mais difícil reconhecer e aceitar a centralidade de uma religião que se pretenda universal. Cada grupo e/ou comunidade exige o respeito de suas crenças e de seus símbolos. Dessa forma, o pluralismo étnico e o multiculturalismo favorecem as religiões, ampliando o campo de sua influência pública, o reconhecimento e a valorização das diferenças culturais e das subjetividades que reivindicam conceitos e práticas plurais de reconhecimento. Para ilustrar o que acabamos de afirmar sobre a relação entre multiculturalismo, religião e etnicidade, vale lembrar o que está ocorrendo na França. A liberdade religiosa é garantida pela Constituição Brasileira de 1988 e está descrita no artigo 5º, que possui 77 incisos sobre os direitos fundamentais garantidos aos cidadãos. O inciso VI diz que “é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias”. Portanto, se configura como um direito extremante relevante a todos no país, tanto para aqueles que possuem uma religião e exercem sua crença quanto para os que não têm religião (FRISON, 2014). 35 Recentemente, o Ministério de Educação daquele país lançou a Carta da Laicidade (MINISTÈRE DE L’ÉDUCATION NATIONALE, 2013), que reza em seus 15 artigos que o cidadão francês é livre e que o Estado não tem religião e por isso as escolas públicas devem vetar símbolos e objetos que lembrem qualquer crença religiosa. “Stonehenge”: mais antigo que as ruínas da Grécia Antiga e tão indecifrável quanto a Esfinge do Egito, Stonehenge, na Inglaterra, é uma das obras mais inexplicáveis da humanidade, cujas teorias para sua origem variam desde trabalho de alienígenas a cenários de ritos funerários pré-históricos (HISTORY CHANNEL BRASIL, 2014). 36 FIXANDO O CONTEÚDO 1. De acordo com texto, acerca do fenômeno da globalização: I. As religiões não estão isentas dessa nova realidade, sendo afetadas pelas dinâmicas globalizantes; II. Sobretudo no que se refere ao fortalecimento do pluralismo religioso, movida por diferentes fatores, entre os quais o processo de secularização. III. Isso tem gerado o fim dos monopólios religiosos. É correto o que se afirma somente em: a) I e III. b) II. c) III. d) I e II. e) I, II e III. 2. (IBFC – adaptado) As reflexões sobre o homem ocupam o centro das expressões culturais, com um forte anseio de compreender a questão que as orienta: “O que é o homem?”. A Antropologia é a ciência que pretende apresentar respostas a essa pergunta. Num primeiro momento, ainda no século XIX, essa ciência passou a ser estruturada sob dois enfoques: da Antropologia Física ou Biológica e da Antropologia Cultural. Posteriormente, no século XX, surgem novas abordagens para o estudo antropológico. Sobre os parâmetros dessas novas abordagens da antropologia, numere a COLUNA II de acordo com a COLUNA I, fazendo a relação entre elas: 37 COLUNA I 1. Parâmetros do Evolucionismo 2. Parâmetros do Culturalismo 3. Parâmetros do Funcionalismo 4. Parâmetros do Estruturalismo COLUNA II ( ) Os trabalhos de Bronislaw Malinowski representam essa teoria antropológica, com nova proposta de abordagem das culturas, sendo relevante estudá-las isoladamente, sem tomar nenhuma como parâmetro comparativo. Assim, o pesquisador deve mergulhar intensamente no convívio, nos hábitos e costumes do povo que está sendo estudado. Deve aprender sua língua, sua evocação religiosa, seus códigos específicos de trocas e o trato com a sexualidade, enfim, deve colher o maior número de informações, em vez de enquadrá-las em uma teoria alheia à experiência factual. O seu método característico é o da ‘observação participante’. ( ) O pesquisador mais importante dessa teoria foi Claude Lévi-Strauss e um dos focos mais relevantes de sua investigação consiste na utilização da noção de estrutura, que subjaz toda relação entre os indivíduos e as instituições sociais. ( ) Essa teoria foi norteada pelo paradigma metodológico das Ciências Naturais, sobretudo da Física e da Biologia. Nessa visão teórica os organismos, através do mecanismo de adaptação implementam formas mais complexas e evoluídas, selecionando aqueles mais aptos às experiências do ambiente. ( ) Tem como principais expoentes os antropólogos Franz Boas e Ruth Benedict, e defende que as culturas humanas são caracterizadas por processos e constituintes históricos precisos, para cuja compreensão concorrem as condições ambientais, os fatores psicológicos e os efeitos das relações históricas sobre cada comunidade. O seu fundamento metodológico consiste em observar detalhadamente as mudanças ocorridas no tempo presente em suas relações dinâmicas e como os grupos reagem de modo singular na solução de problemas. Busca-se encontrar o desenvolvimento de novos hábito e costumes na origem das transformações sociais. Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta de cima para baixo. a) 4, 2, 3, 1. 38 b) 1, 2, 3, 4. c) 3, 2, 1, 4. d) 3, 4, 1, 2. e) 1, 2, 4, 1. 3. O direito de pertencer a qualquer crença no Brasil é assegurado pela nossa Constituição de 1988, conforme artigo 5º e também 18º da Declaração Universal dos Direitos Humanos: “Todo ser humano tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião. esse direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar essa religião ou crença pelo ensino, pela prática, pelo culto em público ou em particular.” (UNICEF, s/d). Com base no texto acima, analise: I. A preservação da liberdade religiosa é algo fundamental não somente para garantia de um direito humano básico, como também por ser uma necessidade para a construção de um ambiente pacífico na sociedade. II. A liberdade de crença é uma garantia em lei, o dever de respeitar as escolhas dos outros é extremamente imprescindível. III. Quando há a intolerância religiosa, o surgimento do desprezo, da violência e das dissensões podem acarretar problemas para a sociedade e atrapalhar a harmonia e o bem-estar das comunidades. É correto o que se afirma em: a) I e III. b) II. c) III. d) I. e) I, II e III. 4. O fenômeno da intolerância religiosa tem se desdobrado em inúmeras formas de rejeição à diferença. Diante dessa realidade, a sociedade necessita de iniciativas que promovam o entendimento e a convivência pacífica e respeitosa entre todos 39 os grupos. Com base no trecho acima, marque qual deve ser o caminho do combate à intolerância: a) Etnocentrismo. b) Radicalismo. c) Ecumenismo. d) Positivismo. e) Romantismo. 5. (FCC – adaptado) O costume de discriminar os que são diferentes, porque pertencem a outro grupo, pode ser encontrado mesmo dentro de uma sociedade. A relação de parentesco consanguíneo afim pode ser tomada como exemplo. Entre os romanos, a maneira de neutralizar os inconvenientes da afinidade consistia em transformar a noiva em consanguínea, incorporando-a no clã do noivo pelo ritual de carregá-la através da soleira da porta (ritual este perpetuado por Hollywood). a) Etnocentrismo. b) Culturalismo. c) Romantismo. d) Xenocentrismo. e) Eurocentrismo. 6. O reconhecimento do multiculturalismo e do pluralismo religioso pode ser compreendido de maneiras diferentes, com consequências um tanto diversas. Com base no enunciado acima, é correto afirmar que: I. O multiculturalismo refere-se a um sistema de crenças e comportamentos que reconhece e respeita a presença de todos os diversos grupos numa organização ou sociedade; II. Reconhece e valoriza as suas diferenças socioculturais e encoraja e possibilita a sua contribuição contínua dentro de um contexto cultural inclusivo que capacita todos dentro da organização ou sociedade. 40 III. Ideologias multiculturais não são criadas através da defesa de crenças culturais de imigrantes de diferentes jurisdições em todo o mundo ou da evolução de pessoas de diferentes etnias. a) I, II e III. b) II. c) III. d) I. e) I e II. 7. (Instituto Consulplan – adaptado) Uma menina indiana de 9 anos casou-se com um cachorro numa cerimônia acompanhada por mais de cem convidados numa vila no Estado de Bengala Ocidental (leste da Índia), a 60 km de Calcutá, como parte de um ritual destinado a evitar maus agouros. Indiana de 9 anos se casa com cão. Folha de S. Paulo, 20 jun, p. A-10. A partir do legado teórico e metodológico da antropologia cultural, tal prática deverá ser analisada a partir da perspectiva do(a): a) Evolucionismo. b) Etnocentrismo. c) Diversidade cultural. d) Relativismo cultural. e) Radicalismo. 8. Sobre a relação entre multiculturalismo, religião e etnicidade, vale lembrar o que está ocorrendo na França. Recentemente, o Ministério de Educação daquele país lançou a Carta da Laicidade (MINISTÈRE DE L’ÉDUCATION NATIONALE, 2013), que reza em seus 15 artigos que o cidadão francês é livre e que o Estado não tem religião e por isso as escolas públicas devem vetar símbolos e objetos que lembrem qualquer crença religiosa. Sobre laicidade, no fragmento do texto, é correto o que se afirma abaixo: I. É a forma institucional que toma nas sociedades democráticas a relação política 41 entre o cidadão e o Estado, e entre os próprios cidadãos. II. A laicidade não permitiu instaurar a separação da sociedade civil e das religiões; III. Não exerce o Estado qualquer poder religioso e as igrejas qualquer poder político. a) I, II e III. b) II. c) III. d) I e II. e) I e III. 42 APONTAMENTOS SOBRE AS PRINCIPAIS CORRENTES E ESCOLAS DA ANTROPOLOGIA FRENTE AO FENÔMENO RELIGIOSO Segundo Eliade (1999), a forma sobrenatural de descrever a realidade é condizente com a forma mágica como o homem funciona no mundo, como os inúmeros rituais de nascimento, casamento e morte desde a infância até a idade adulta. Quando uma criança é recém-nascida, ela tem apenas uma existência física; a família ainda não o reconhece ou a comunidade não o recebeu. Os rituais que ocorrem imediatamente após o nascimento conferem ao recém-nascido o status de "vivo" em sentido estrito; somente por meio desses ritos ele se mistura à comunidade dos vivos. Os mortos são ainda mais complexos porque não é apenas um "fenômeno natural", mas também uma mudança social: os mortos devem enfrentar certos testes post-mortem e serem reconhecidos e aceitos pela comunidade dos mortos. Diante do exposto, as escolas antropológicas são consideradas por suas diferentes abordagens no estudo do ser humano integralmente. Cada uma delas usa um tipo de explicação diferenciada para fenômenos como a religião, a cultura, a linguagem, as sociedades etc. Sobre estas importantes correntes antropológicas que nos auxiliam a entender essa complexidade cultural, destacaremos abaixo algumas das principais correntes. Ao longo da história da antropologia, diferentes correntes de pensamento predominaram na comunidade científica. Assim, cabe dizer que a antropologia trata da dimensão holística do homem, cuja análise inclui sua dimensão cultural e biológica. Nas palavras de Laplantine, O homem nunca parou de interrogar-se sobre si mesmo. Em todas as sociedades existiram homens que observaram homens. [...] A reflexão do homem sobre o homem e sua sociedade, e a elaboração de um saber são, portanto, tão antigos quanto a humanidade, e se deram tanto na Ásia como na África, na América, na Oceania ou na Europa. Mas, o projeto de fundar uma ciência do homem – uma antropologia- é, ao contrário, muito recente. De fato, apenas no final do século XVIII é que começa a se constituir um saber científico (ou pretensamente UNIDADE 03 43 científico) que toma o homem como objeto de conhecimento, e não mais a natureza; apenas nessa época é que o espírito científico pensa, pela primeira vez, em aplicar ao próprio homem os métodos até então utilizados na área física ou da biologia.[...] As sociedades estudadas pelos primeiros antropólogos são sociedades longínquas às quais são atribuídas as seguintes características: sociedades de dimensões restritas; que tiveram poucos contatos com os grupos vizinhos ; cuja 2 tecnologia é pouco desenvolvida em relação à nossa; e nas quais há uma menor especialização das atividades e funções sociais. São também qualificadas de “simples”; em consequencia , elas irão permitir a compreensão ,como numa situação de laboratório , da organização “complexa”de nossas próprias sociedades.(LAPLANTINE 2003, p. 07-08). 3.1 O EVOLUCIONISMO DE DARWIN E O CRIACIONISMO A proposta de Darwin em que as espécies se originam por processos inteiramente naturais e seletivos é considerada por muitos grupos religiosos como contraposição ao que a Bíblia sagrada registra no livro de Gênesis, que é responsável pela teoria religiosa na criação divina ou o chamado Criacionismo. A teoria da evolução de Darwin é frequentemente apresentada na mídia popular como antirreligiosa em natureza e intenção mesmo que o próprio Darwin tenha sido inflexível ao afirmar que não era (MCGRATH, 2020, p.28). As discussões desencadeadas a partir do lançamento do livro “A origem das Os antropólogos costumam afirmar que a experiência religiosa é autônoma e necessariamente não está condicionada pela estrutura única de uma cultura. Porém, também reconhecem que quando a experiência religiosa se transforma em religião institucional, ela só poderia ser explicada a partir do contexto de uma cultura. Daí a afirmação de que a religião tanto pode ser considerada um sistema de representação quanto um sistema cultural, configurando-se como uma rede de símbolos, ritos e crenças, com fronteiras extremamente delimitadas. Assim, quando o pesquisador antropólogo analisa a religião e as particularidades de um povo presentes em determinada cultura, ele por certo está desconstruindo paradigmas cristalizados com relação à experiência humana com o sagrado, uma vez que traz novas perspectivas. Vale a pena destacar que todas essas escolas se preocuparam em produzir conhecimentos sobre os seres humanos, sua evolução, suas práticas religiosas e culturais em seu comportamento. Veremos em sequência algumas de suas ideias. 44 espécies” de Charles Darwin, em 1859, potencializaram velozmente entre o público acadêmico fortes discussões sobre o tema, criando, assim, o primeiro debate científico internacional da história. Todavia, ao contrário da crença popular, as explicações a partir da teoria do Evolucionismo não surgiram com Charles Darwin, mas sem dúvida a obra de sua autoria sobre a “A origem das espécies” foi responsável pela popularização dessa teoria. Mas a ideia da evolução em si já era de autoria de filósofos e cientistas há tempo, bem antes de Charles Darwin. Os conceitos dualistas de que a matéria é má e o espírito é bom, a eternidade da matéria, já eram esboçados numa forma incipiente de filosofia grega. Formas inaugurais de evolução também foram encontradas cerca de 500 anos antes de Cristo nos escritos de pensadores gregos como Anaximander e Empédocles. Sendo que Anaximander defendia a evolução do homem por meio dos peixes. Para Chaui, Anaximander considerava a vida numa perspectiva que, nos séculos próximos de nós, seria chamada de transformismo (CHAUI, 2002, p. 61). Já o segundo, Empédocles, médico e filósofo, defendia que os animais evoluíram de plantas. De acordo com Chaui sobre este filósofo e sua teoria, o homem, sendo parte da natureza, é formado pelos mesmos elementos que ela, seguindo como ela as mesmas leis. E, assim como há coisas diferentes no mundo, há homens diferentes por natureza (CHAUI, 2002, p. 114). De acordo com o filósofo Espicuro (341-270 a.C.), a matéria sempre existiu, mas sua constituição e forma atuais ficaram sujeitas a um tipo de autodesenvolvimento. Com sua concepção materialista da realidade, Epicuro pretende libertar o homem dos dois temores que o impediriam de encontrar a felicidade: o medo dos deuses e o temor da morte (AURÉLIO, 1985). Platão (428-347 a.C.) e Aristóteles (384-322 a.C.) dizem ainda que a matéria é eterna, mas seu arranjo atual bem como sua ordem é obra do ser divino. Na França, o naturalista Lamarck publicou uma obra intitulada “Zoologia Filosófica”, publicada em 1809. Nessa obra, o autor defende que todos os animais, plantas e inclusive o homem se desenvolveram de germes originais simples. O que aparenta com relação ao evolucionismo é que este sempre esteve e permanece em conflito com os fatos, vejamos: Geologia: campo que estuda a composição, estruturação e evolução da terra. Darwin demonstrou que os tipos inferiores e superiores de animais não 45 sequenciam uns aos outros, mas existiram juntos por um longo período (MCGRATH, 2020, p. 78). Paleontologia: sua ocupação é o estudo de vestígios de animais e plantas nos primórdios, mas também não fornece peças conclusivas ou evidencias reais da existência de tipos transicionais entre os vários tipos de seres orgânicos. Ainda que se esforce para encontrar algum humano com características dos símios (macacos), nunca foi encontrada tal evidência. Embriologia: aponta para certas semelhanças entre os vários estágios do desenvolvimento do embrião humano e do embrião de outros animais, contudo, um ser humano nasceu de um animal e vice-versa, tal semelhança é apenas externa. No século IV a.C., o filósofo grego Aristóteles, inclusive, fez descrições e suposições sobre desenvolvimento embrionário humano e de animais, como a galinha. Ao longo do tempo, foi se criando o conceito e o entendimento de que a Embriologia é uma ciência descritiva (NAZARI, 2011). Biologia: de acordo com Reiss (2009, p. 1938), “a Terra tem ao redor de 4600 milhões de anos de idade e todos os organismos compartilham um ancestre comum. De fato, se você retrocede o suficiente, a vida teve sua ascendência com moléculas inorgânicas”. Sabe-se que até o presente momento não há provas de que a vida possa ser gerada por si mesma, a ponto de muitos aceitarem a ideia da existência de uma força ou energia especial. O criacionismo é uma estrutura/modelo conceitual que defende a possibilidade de um criador do ponto de vista do estudo da natureza. De acordo com essa crença, a vida teria sido originalmente criada como complexa, completa e funcional pelo criador que lhe deu o suporte necessário para uma diversificação limitada ao longo do tempo. Existem três ramos principais do criacionismo: religioso, bíblico e científico. De acordo com Engler (2007), muitos artigos e livros abordam o criacionismo exclusivamente a partir da tradição judaico-cristã e, muitas vezes, de uma interpretação estritamente literal da Bíblia. Para muitas religiões nem faria sentido falar em criação, pois há culturas que acreditam que o universo é eterno, sem começo nem fim. Mesmo dentro da tradição cristã, existem muitos “criacionismos” diferentes com semelhanças e diferenças. Várias tipologias já foram desenvolvidas para tentar 46 definir os limites de cada escola de pensamento. Engler (2007) identifica nove tipos de “criacionismo”: Terra recente (TR); científico (IC); Terra Antiga (TA); Intervalo (IN); dia-era (DE); especial (ES); Plano inteligente/design inteligente (IP); antropocêntrico (AN); Evolucionismo teísta (ET). Não nos deteremos a eles, mas faremos destaques para os critérios usados por ele. Quadro 2: Criacionismos Leitura e Interpretação do Livro de Gênesis Literal – Os seis dias com intervalos de 24 horas; Figurativo – Os seis dias podem representar seis eras ou (tempos); Mitológico – Os seis dias representam uma história que transmite verdades importantes através de uma linguagem simbólica que muitas vezes evita uma leitura literal ou estritamente figurativa. Atividade do ser Divino (Único – inicial) – Deus originalmente agiu em um curto espaço de tempo; (Único – antigo) – Atuação de Deus em um único período curto após o início ainda na antiguidade; (Distribuída – antiga) – Distribuída em entre um período na antiguidade; (Distribuída) – Distribuída ao longo da história até ao presente. Modus operandi do ser divino (Catastrófica) - Através de grandes intervenções como o próprio dilúvio (Gn.6); (Parcialmente uniforme) – Forma híbrida entre duas outras classes, em certos casos acredita-se uma ou outra. (Uniforme) – Ocorre pouco a pouco, ao longo de muitos anos, sem grandes quebras. Criação conjunta ou separada da alma humana Universo; Globo; animais; pessoas. Fonte: PUC-Rio - Certificação Digital Nº 1011725/CA Capítulo 4 – Criacionismo(s). 3.2 ANTROPOLOGIA FUNCIONALISTA E ESTRUTURAL A escola funcional considera todas as sociedades como tipos de “organismos vivos”, como nós mesmos. As comparações entre povos chamados de "primitivos e civilizados", feitas por esta escola, passa pela experiência da convivência com eles. Somente assim, inseridos no contexto, suspendendo valores pessoais é que o observador perceberá que as instituições mantêm o sistema funcionando. A saber: casamentos (como união), famílias e religiões seriam algumas dessas instituições. Esse segmento mostrou que os chamados povos "primitivos" realizam e praticam rituais, superstições e costumes que não são tão diferentes dos povos civilizados. A escola aponta ainda que o que realmente existe é uma grande 47 diferença tecnológica, mas há muitas semelhanças nas tradições religiosas. Assim como as antigas sociedades ditas "primitivas", as sociedades atuais e civilizadas são organizadas para a proteção de crenças religiosas, rituais e superstições. Os países do mundo civilizado certamente acreditam que suas crenças e costumes são mais racionais e esclarecidos, mas a antropologia da religião derrubou essa ideia e revelou semelhanças em seus fundamentos e configurações. Vale ressaltar que as sociedades primitivas ou mesmo "isoladas" têm a mesma estrutura, só que de forma mais evidente. Nos grandes centros essa relação entre crenças religiosas e outras instituições é mais distante, mas não menos fundamental. Para a escola funcionalista, baseada na experiência e vivência com povos chamados de “primitivos”, além da suspensão de valores pessoais do observador, todas as sociedades são como um tipo de organismo vivo, tal como nosso próprio corpo, onde instituições mantêm o sistema funcionando. A saber: casamentos (enquanto alianças), famílias e religiões seriam algumas dessas instituições. A escola pontua que, na verdade, o que existe é uma grande diferença tecnológica, porém, no que se refere aos costumes religiosos, as semelhanças são muitas. Assim como as sociedades primitivas, as sociedades civilizadas também se organizam ao redor de crenças religiosas, rituais e superstições. Os países do mundo civilizado acreditam, óbvio, que seus usos e costumes religiosos são mais racionais e esclarecidos. A Antropologia da Religião, contudo, acabou revelando que suas bases são semelhantes. As sociedades chamadas de primitivas
Compartilhar