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CIENCIAS DA RELIGIÃO-AULAS 7

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(
Aula
 
7:
 
Ciências
 
da
 
religião:
 
escolas
 
antropológicas
Disciplina:
 
Ciências
 
da
 
Religião
)
Introdução
Cultura e sociedade são, entre os seres humanos, um par indissociável. Os grandes temas do olhar antropológico sobre a religião, foram, desde o início, o mito, o rito e a magia.
E por quê? Porque o rito remete aos gestos, às cerimônias, às liturgias, enfim, à ação simbólica coletiva que consagra tempo/espaço, confirma valores e marca passagens de estado individual/grupal.
O mito remente a sistemas de valores, narrativas e explicações poético-literárias, orais ou escritas, sobre a vida, a humanidade e o cosmo que qualquer sociedade produz.
A magia remete às formas primitivas, coletivas e individuais ao mesmo tempo, de contato com o sagrado ou o supranatural.
Você deve estar curioso para saber como é o olhar antropológico sobre religião. Como se fosse um toque inicial, pense ou imagine um rito religioso, uma narrativa ou história religiosa que seja muito diferente daqueles ritos e narrativas aos quais você está acostumado.
Objetivos
Compreender as origens das escolas antropológicas nas Ciências da Religião. Analisar conceitos e autores das escolas antropológicas nas Ciências da Religião. Identificar fatos básicos das escolas antropológicas nas Ciências da Religião.
Introdução
Entre 1884 e 1885 aconteceram grandes movimentos como expansão marítima, o colonialismo e o neocolonialismo.
(Fonte: Schaeffler / Pixabay)
Entre 1415 e 1884-1885, mais ou menos, você notará grandes movimentos que as nações europeias fizeram: expansão marítima, colonialismo e neocolonialismo. As duas datas, observe bem, correspondem à Conquista de Ceuta, na ponta da África, por parte do Reino de Portugal (próximo ao Estreito de Gibraltar, atualmente é uma cidade autônoma da Espanha) e à Conferência de Berlim, proposta por Portugal, mas levada a efeito pela Prússia, antigo país.
1412
No movimento da reconquista católica, o Reino de Portugal toma Ceuta e estabelece as bases para as grandes navegações.
1884 - 1885
A partilha da África foi sacramentada pelas potências europeias e os seus recursos e as suas riquezas foram apossados e divisões territoriais.
 (
Os dois acontecimentos, note, estão no rol de um longo processo
 
contraditório: por um lado universalizou algumas instituições
 
culturais,
 
políticas
 
e
 
econômicas,
 
por
 
outro,
 
trouxe
 
danos
 
aos
 
povos
 
originários
 
que
 
habitavam
 
e
 
habitam
 
essas
 
terras
 
e
 
regiões.
)
Brasil, América Latina e América do Norte nasceram nesse caudal expansivo da cultura1 e materialidade ocidentais que, apesar da diversidade interna (por exemplo, os modos de ser- no-mundo e ver-o-mundo luso-ibérica e anglo-saxã), representou um evento com grandes consequências, positivas e negativas (massacres, campos de concentração/extermínio em massa de seres humanos, pobreza etc.).
Cultura1
Conceito antropológico complexo, elaborada pela Antropologia, está ligado ao processo humano de criação, coletiva e individual, de sentido, símbolo, significado, linguagem e instituições.
 (
Mulheres
 
indígenas.
 
(Fonte:
 
Filipe
 
Frazao
 
/
 
Shutterstock)
)
Procure imaginar-se no meio de povos e costumes diferentes, ou melhor, diante de religiões diferentes, com danças, ritos, orações, gestos, imagens e escritos muito diversos? Imagine o incômodo, a curiosidade, o estranhamento, o desconcerto: por que eles dançam, rezam, cantam, oram e comemoram desse jeito? Por que seus costumes são assim e não de outro modo? Essas perguntas abrem os caminhos da reflexão antropológica.
A Antropologia se constituiu como um conhecimento sobre os povos que foram submetidos ao violento processo de colonização. Algumas análises apontarão os problemas decorrentes da articulação entre poder colonial e as ciências da cultura.
A antropologia desempenhou um papel ambíguo: auxiliou o projeto colonial, é inegável que “humanizou” os povos “descobertos” (com rituais, costumes e expressões religiosos muito diferentes), ou seja, saiu do incômodo inicial e os percebeu como parte da imensa e diversa família humana.
 (
Processo
 
de
 
colonização.
 
(Fonte:
 
link
)
<https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/historia- america/colonizacao-espanhola.htm> )
 (
Comentário
)
 (
Os
 
próprios
 
sistemas
 
míticos
 
e
 
rituais
 
desses
 
povos,
 
a
 
religião,
 
passou
 
a
 
ser
 
vista
 
com
 
outros
 
olhos.
)
Os estranhamentos: a Europa diante do diferente
As grandes navegações fizeram com que a Europa tomasse contato com estruturas sociais e culturais diversas, por exemplo,
Desde...
Estruturas com poder político descentralizado (povos da Amazônia).
A...
Formas com poder central (Impérios Inca, Maia e Asteca).
 (
Os
 
contatos
 
entre
 
os
 
povos
 
originários
 
da
 
América
 
e
 
os
 
europeus,
 
muito
 
influenciaram
 
as
 
reflexões
 
filosóficas.
 
Por
 
exemplo,
 
em
 
1562,
 
o
 
filósofo
 
Michel
 
de
 
Montaigne
 
(1533-1592)
 
conheceu
 
os
 
índios
 
tu
p
inambás
2
 
trazidos
 
para
 
Europa
 
para
 
serem
 
exibidos
 
ao
 
rei
 
da
 
França,
 
Carlos
 
IX,
 
e
 
a
 
sua
 
corte.
Saiba
 
mais
)
Tupinambás2
Nome genérico dado a um grande grupo de sociedades índias que viviam na região litorânea do Brasil, entre o Rio Grande do Norte e Paraná, caracterizado, entre outras coisas, pela prática da antropofagia ritual. Durantes as guerras internas, os guerreiros valentes eram aprisionados, bem-cuidados e preparados para um ritual festivo no qual o grupo o mataria e comeria sua carne.
Era o resultado da tentativa de calvinistas franceses (huguenotes) colonizarem o Brasil (1555), a “França Antártica”. Montaigne escreveu sobre esse encontro, em um famoso texto intitulado, Dos canibais. Comparando costumes de muitos povos na história, Montaigne redimensionou o canibalismo tupinambá. O ritual consistia em aprisionar os índios mais bravos das guerras intermitentes entre as tribos até a execução do rito antropofágico em uma grande festa.
No século XX, a Antropologia cunhou a expressão “dialética do estranho-familiar” ou dialética do relativo (em termos metodológicos/epistemológicos). Daí nascem termos como Etnocentrismo3. Em suma:
Etnocentrismo3
Termo cunhado pela reflexão antropológica para definir a atitude ou o comportamento de qualquer sociedade ou grupo que considera seus valores, costumes, suas ideias, as mais importantes e verdadeiras do que todos os outros grupos e sociedades.
1
Culturas, mitos, ritos, religiões são relativos aos povos e às sociedades, não são absolutos, são relativos a tempos e espaços singulares.
2
O esforço de compreender e conviver com culturas diferentes relativiza ou estranha nossos próprios costumes e valores e, por outro lado, nos aproxima/familiariza com os costumes e valores de outros grupos, povos e religiões. Há, um duplo ganho, você aumenta a compreensão sobre sua própria cultura e consegue enxergar outras culturas com mais profundidade.
A alteridade e a diferença modificaram as percepções, criaram boas e más ideias.
(Fonte: Link
<https://sites.google.com/site/projetoinformaticaeducativa11/2o- ano-do-ensino-medio/alteridade-tolerancia-e-
convivencia> )
O estupor e o fascínio exercido pelo outro (alteridade, diferença) modificaram percepções, criaram boas ideias, mas também más ideias, como o racismo científico do século XIX que tanto mal causaram, por exemplo, a Ku-Klux-Klan, nos EUA, do século XIX e o nazismo de
Hitler, na Alemanha-Europa entre 1933-1945, que mataram e assassinaram homens e mulheres por serem negros, judeus, ciganos, Testemunhas de Jeová etc.
Atividade
1. Sobre os precursores da Antropologia, sabe-se que muitas reflexões sobre os costumes e a história de outros povos foram empreendidas. Com as grandes navegações, num primeiro momento, e o colonialismo, num segundo, o choque entre culturas trouxe diversas consequências. Michel de Montaigne (1533-1592) escreveu um texto intitulado Dos canibais, discorrendo sobre a presença dos tupinambás na corte francesa de Carlos IX.
Tendo em vistaas consequências do colonialismo, assinale da alternativa correta:
a) O encontro colonial com outros povos provocou muita destruição, mas não mudou a mentalidade europeia sobre a diferença cultural.
b) O encontro colonial com outros povos provocou destruição e mudou pouco a mentalidade europeia sobre a diferença cultural.
c) O encontro colonial com outros povos provocou pouca destruição, mas não mudou a mentalidade europeia sobre a diferença cultural.
d) O encontro colonial com outros povos provocou pouca destruição e pouco mudou a mentalidade europeia sobre a diferença cultural.
e) O encontro colonial com outros povos provocou destruição, mas também impactou a mentalidade europeia sobre a diferença cultural.
No final do século XIX, a partir da herança reflexiva, surgiu um novo conceito de cultura. (Fonte: FotografieLink /
Pixabay)
No final do século XIX, pense um pouco, um novo conceito de cultura nasce a partir dessa herança reflexiva acoplada ao grande volume de dados e informações que chegavam de povos, etnias e culturas bem como da tradução de textos sagrado de antigas civilizações e
religiões e descobertas arqueológicas nos mais variados campos, inclusive dos povos semitas (hebreus).
Por essa época, vingou o paradigma evolucionista, e influenciou boa parte da mentalidade acadêmica, cultural e social. Houve uma indevida transposição das ideias de Charles Darwin (1809-1882). Nesse período, três nomes se destacam como iniciadores da Antropologia como ciência, dois ingleses e um americano:
Edward B. Tylor (1832-1917)
Veja a primeira definição de cultura, em 1881, feita por Tylor no livro Primitive culture
(Cultura primitiva):
“A Cultura, ou civilização, entendida em seu amplo sentido etnográfico, é aquele conjunto complexo que inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, os direitos, os costumes e qualquer outra capacidade e hábito adquirido pelo homem como membro de uma sociedade”.
A primeira tentativa de definir a religião primitiva veio com Tylor e a ideia de animismo, que evidenciaria a importância, para o homem primitivo, da experiência do sonho e da morte.
Nessa experiência, ocorreria a sensação da alma como independente e peregrina, derivando a ideia de que o mundo (homens, animais, plantas, objetos etc.) está povoado de espíritos que podem ser “bons” e “maus”. Haveria evolução para o politeísmo e depois, pela unificação dos atributos dos espíritos, para o monoteísmo. Essa ideia será contestada: não se pode atribuir às sociedades étnicas antiquíssimas categorias estranhas a sua cultura como alma/espírito.
 (
Frazer
 
publicou
 
estes
 
livros:
The
 
golden
 
bough:
 
a
 
study
 
in
 
comparative
 
religion
 
(O
 
ramo
 
de
 
ouro:
 
um
 
estudo
 
de
 
religião
 
comparada),
 
de
 
1890,
 
em
 
12
 
volumes;
Totemism
 
and
 
exogamy
 
(Totemismo
 
e
 
exogamia),
 
de
 
1910,
 
e
Folk-lore
 
in
 
the
 
Old
 
Testament
 
(Folclore
 
no
 
Velho
 
Testamento),
 
de
 
1918.
Neles,
 
defendeu
 
a
 
ideia
 
de
 
que
 
a
 
cultura/civilização
 
teria
 
evoluído
 
em
 
três
 
formas
 
sucessivas,
 
magia/religião/ciência,
 
caracterizadas
 
por
 
tipos
 
específicos
 
de
 
pensamento.
 
O
 
pensamento
 
mágico
 
caracteriza-se
 
por
 
ser
 
uma
 
técnica
 
acoplada
 
a
 
uma
 
crença
 
na
 
ação
 
de
 
espíritos
 
e
 
divindades.
A
 
magia
 
representava
 
uma
 
forma
 
primitiva
 
de
 
ciência
 
capaz
 
de
 
explicar
 
e
 
orientar
 
a
 
realidade,
 
apesar
 
da
 
ausência
 
de
 
leis
 
científicas
 
objetivas,
 
pois
 
o
 
mago/feiticeiro
 
executava
 
ações
 
calculadas,
 
racionais,
 
chamadas
 
de
 
gestos
 
rituais,
 
mas
 
atribuía
 
sua
James
 
Frazer
 
(
1854-1941
)
)
 (
eficácia
 
a
 
poderes
 
mágicos.
 
Veja
 
que,
 
pela
 
análise
 
de
 
dados
 
etnográficos
 
colhidos
 
de
 
sociedades
 
étnicas,
 
Frazer
 
chegou
 
à
 
definição
 
de
 
dois
 
tipos
 
gerais
 
de
 
magia:
Na
 
magia
 
imitativa/homeopática
 
(o
 
semelhante
 
afeta
 
o
 
semelhante),
 
o
 
mágico
 
imita
 
os
 
atos
 
que
 
ele
 
deseja
 
que
 
ocorram,
 
por
 
exemplo,
 
para
 
afastar
 
nuvens
 
de
 
chuva,
 
ele
 
a
 
corta
 
no
 
ar
 
com
 
uma
 
faca.
Na
 
magia
 
simpática
 
ou
 
contagiosa
 
acredita-se
 
que
 
tudo
 
que
 
se
 
faça
 
a
 
um
 
determinado
 
objeto
 
afetará
 
também
 
à
 
pessoa
 
a
 
quem
 
ele
 
pertence
 
ou
 
com
 
quem
 
tem
 
ligação
 
(lei
 
da
 
contiguidade),
 
por
 
exemplo,
 
cabelo,
 
sangue,
 
esperma,
 
lágrimas,
 
ossos,
 
unhas,
 
roupas
 
etc.,
 
coisas
 
vistas
 
como
 
perigosas
 
e
 
poderosas
 
por
 
terem
 
tido
 
uma
 
estreita
 
ligação
 
com
 
a
 
pessoa.
)
 (
Pesquisador
 
norte-americano,
 
publicou
 
Ancient
 
society
 
(A
 
sociedade
 
antiga,
 
de
 
1877)
 
e
 
popularizou
 
a
 
teoria
 
evolucionista
 
ao
 
propor
 
a
 
ideia
 
de
 
períodos
 
que
 
marcaram
 
a
 
história
 
humanidade:
selvageria,
 
barbárie
 
e
 
civilização.
Lewis
 
Mor
g
an
 
(
1818-1881
)
)
Culturalistas, funcionalistas e estruturalistas
Observe que a crença integra a experiência humana geral. Por isso, a religião, a magia e todas as formas culturais das crenças não podem ser separadas de sua matriz cultural e ser estudada isoladamente do contexto no qual são expressas, vividas e experimentadas.
As escolas antropológicas fixam-se então, no inseparável binômio significado da religião e religião como significado, ou seja, toda expressão religiosa (rito, canto, dança, prece, oração, evento, mito, devoção etc.) é revestida de múltiplos significados que se ligam à sociedade que os vivencia e muda historicamente, “relativo”, portanto.
 (
Magia.
 
(Fonte:
 
Pixabay)
) (
Mulçumano
 
rezando.
 
(Fonte:
 
Pixabay)
)
 Cerimônia budista. (Fonte: Pixabay)
Mas, ao mesmo tempo, toda expressão religiosa possui um sentido e significado “absoluto” ou último para quem vive dentro de uma religião.
Observe que os evolucionistas foram criticados pelos usos inadequados da ferramenta comparativa e da perspectiva temporal sucessiva (perspectiva sincrônica), sem contextualização. Um dos críticos dessa perspectiva foi o antropólogo alemão-americano Franz Boas (1858-1942) que inaugurou a escola Culturalista com larga influência nos EUA.
A crítica centra-se no erro de comparar os mais variados povos e civilizações, de forma aleatória, tirando dados dos contextos e organizando-os como se fossem uma coleção disposta em uma linha reta e chapada do tempo.
 (
Para
 
Franz
 
Boas,
 
cada
 
cultura
 
deve
 
ser
 
estudada
 
como
 
um
 
sistema
 
que
 
possui
 
lógica
 
e
 
autonomia
 
específicas,
 
levando
 
em
 
consideração
 
a
 
totalidade
 
a
 
partir
 
da
 
análise
 
dos
 
dados
 
biológicos,
 
linguísticos,
 
históricos
 
e
 
culturais.
 
Por
 
exemplo,
 
estudar
 
uma
 
dança
 
ou
 
uma
 
crença
 
religiosa
 
por
 
si
 
mesma,
 
sem
 
remetê-la
 
à
 
cultura,
 
sociedade,
 
ao
 
momento
 
histórico
 
e
 
aos
 
contextos,
 
é
 
um
 
sério
 
erro
 
metodológico.
Comentário
)
Bronislaw Malinowski (1884-1942)
Note que os Funcionalistas, liderados pelo anglo-polaco Malinowski, criticaram os evolucionistas e afirmaram que a análise de uma cultura, e dentro dela, dos ritos religiosos ou mágicos, deve considerar duas perspectivas:
Diacrônica
Temporalidade sucessiva da história.
Sincrônica
Transversalidade da cultura no tempo e no espaço.
As principais obras de Malinowski:
 (
1
)
Argonauts of the Western Pacific
Argonautas do Pacífico Ocidental, de 1922, sua obra prima.
 (
2
)
Scientific theory of culture
Uma teoria científica da cultura, de 1944.
 (
3
)
Magic, science and religion and other essays
Magia, ciência e religião e outros ensaios, de 1948, com uma dedicatória a James Frazer
É incompleto, para a perspectiva antropológica, estudar religião ou outro aspecto (parentesco, por exemplo), sem se referir ao elemento cultural, social e histórico. (Fonte: pathdoc / Shutterstock)
O método etnográfico é característico da Antropologia e pode ser aplicado à religião. A etnografia consiste em um estudo de longo prazo a partir da convivência profundacom um grupo, uma tribo, etnia, sociedade, e do qual aprende a língua, os modos, costumes.
O antropólogo registra, em um diário de campo, sua observação, suas conversas, impressões, hipóteses, leituras, seus desenhos esboços etc. e, depois, transforma todo material em um texto coerente e coeso.
É um método poético e difícil, pois depende da interação humana, bons informantes que conheçam a realidade a ser pesquisada etc. Há diversas formas:
Etnografia virtual (na internet) e
Etnografia multissituada, em e com diversos grupos/lugares.
Método etnográfico. (Fonte: Adam Jan Figel / Shutterstock)
 (
Para Malinowski, o problema não é a formação histórica das culturas,
 
mas
 
a
 
interfuncionalidade
 
entre
 
as
 
diversas
 
dimensões
 
das
 
sociedades
 
que permitem ao ser humano viver seu cotidiano. As funções ou
 
modalidades são respostas culturais coletivas que respondem a
 
problemas
 
relativos
 
à
 
vida
 
concreta.
)
No Funcionalismo, pergunta-se pelo papel desempenhado pela dimensão religiosa dentro da cultura entendida como uma totalidade. O sagrado se expressa concretamente por meio do mito e do rito. Nas sociedades étnicas e tribais, quase não existe adolescência, invenção ocidental moderna e urbana, pois os ritos consistem em provas dolorosas por meio das quais a menina e o menino, entre 11 e 14 anos em geral, são admitidos no mundo dos adultos, com direitos e deveres prescritos pelas tradições locais.
 (
Legitimar
 
as
 
instituições
 
e
 
os
 
papéis
 
sociais.
)
 (
Conferir
 
significado
 
às
 
alegrias
 
e
 
aos
 
sofrimentos
 
da
 
condição
 
humana.
)
 (
Regular
 
tensões,
 
medos
 
e
 
euforias
 
coletivas
)
 (
Garantir
 
o
 
equilíbrio
 
dos
 
elementos
 
dos
 
quais
 
depende
 
a
 
sobrevivência
 
física
 
e
 
cultural
 
de
 
uma
 
sociedade.
)
Como seria essa resolução?
Dar-se-ia pela proposição dos conceitos de:
Trabalho religioso
Refere-se ao processo de produção de práticas, discursos e bens simbólicos sagrados que atendem a uma necessidade de expressão de uma classe, grupo ou sociedade.
Campo religioso
Remete a um campo de forças em que agentes e instituições disputam capital simbólico — dando legitimidade, poder, prestígio —, produzindo e consumindo bens religiosos de salvação (rituais, discursos, valores etc.).
Note que Bourdieu pensa em duas polaridades ideais:
1
Todo mundo produz os bens religiosos e todo mundo consome, sem distinção e hierarquia.
2
Um grupo monopoliza radicalmente a produção (especialistas/profissionais do sagrado) e outro grupo, numeroso, consome bens simbólicos (leigos ou não especialistas).
Essas funções explicam a dinâmica de sociedade/grupos pequenos, étnicos, primitivos, locais de pequena ou média escala. Mas, veja com olhar crítico, em sociedades plurais ou de massa, de grande escala, complexas e modernas, as dinâmicas se alteram, a religião perde algumas funções e adquire outras.
O que é mito?
Na análise do mito, Malinowski pensa assim:
O mito é uma narração de um evento inaugural, possui eficácia porque atua na consciência coletiva.
No mito, encontra-se uma explicação poética, um modelo moral-valorativo, que o grupo elabora, internaliza e compartilha.
Nas palavras do antropólogo polaco, o mito é “a expressão, a valorização, a codificação de um credo; defende e reforça a moralidade; garante a eficácia do rito e contém práticas que orientam o homem”, portanto é uma história com poder. (MALINOWSKI, 1976).
Veja bem:
Há um universo consolidado por uma tradição de práticas, pois a ideia e o objetivo são claros e pontuais.
A ideia e o objetivo são mais amplos.
 (
Na
 
obra
 
Magia
,
 
ciência
 
e
 
religião
,
 
o
 
antropólogo
 
anglo-polaco
 
defendeu
 
a
 
ideia,
 
sincrônica,
 
que
 
as
 
sociedades
 
possuem
 
estruturas
 
de
 
pensamento
 
mágico,
 
religioso
 
e
 
científico.
 
Nessa
 
obra,
 
ele
 
conclui
 
que
 
sem
 
aplicar
 
o
 
conhecimento
 
adquirido
 
—
 
a
 
tecnologia
 
—
 
a
 
magia
 
é
 
inútil.
Saiba
 
mais
)
Sobre as atividades cotidianas, há mitos que explicam sua presença, sua importância, sua força e servem de valores de inspiração moral. As proposições culturalistas e funcionalistas foram criticadas por outras escolas teóricas.
E quais são as críticas?
1
A imprecisão das fronteiras entre magia e religião. 2
A ênfase nos fatores endógenos em detrimento dos fatores interculturais/exógenos e a historicidade dos fatores internos/externos.
3
O não tratamento das tensões, conflitos, mudanças e rupturas que alteram os sistemas e as funções.
Atividade
2. Para a escola antropológica Funcionalista, o ritual mágico e a técnica “científica” possuem funções específicas, por exemplo, regular as emoções durante uma atividade cotidiana e garantir sua eficácia concreta, podendo conviver em uma mesma situação. Nos estudos etnográficos de Bronislaw Malinowski sobre a magia, religião e a ciência, são descritas situações como os preparativos para pescaria em alto-mar, que sempre traz riscos, afazeres cotidianos.
Em relação ao ritual mágico e a técnica, assinale a alternativa correta:
a) Podem conviver em uma mesma situação porque regulam distintos significados dos problemas cotidianos.
b) Não podem conviver uma mesma situação porque regulam distintos significados dos problemas cotidianos.
c) Podem conviver uma mesma situação porque não regulam distintos significados dos problemas cotidianos.
d) Não podem conviver uma mesma situação porque regulam distintos significados dos problemas cotidianos.
e) Podem conviver uma mesma situação porque desregulam distintos significados dos problemas cotidianos.
 (
Criticando
 
os
 
limites
 
do
 
Funcionalismo,
 
surge
 
o
 
Estruturalismo,
 
que
 
acentuará
 
a
 
questão
 
da
 
estrutura.
)
Os maiores nomes, um inglês e um francês, são eles:
 (
Note
 
que
 
os
 
métodos
 
de
 
pesquisa
 
levados
 
à
 
efeito
 
por
 
Evans-Pritchard
 
estabeleceu
 
a
 
conexão,
 
nas
 
sociedades
 
étnicas,
 
entre
 
fatos
 
culturais
 
e
 
estruturas
 
sociais.
 
A
 
etnografia
 
do
 
antropólogo
 
inglês
 
foi
 
realizada
 
na
 
África
 
Central,
 
junto
 
os
 
povos
 
zande
 
e
 
os
 
nuer
 
explorando
 
temas
 
como
 
poder,
 
controle
 
e
 
estratifica
ç
ão
 
social
 
4
,
 
papéis
 
políticos
 
(comandar, proteger,
 
colaborar).
E.
 
E.
 
Evans-Pritchard
 
(
1902-1973
)
)
 (
1937,
 
publica
 
o
 
livro
 
Witchcraft,
 
oracles
 
and
 
magic
 
among
 
the
 
azande
 
(Bruxaria,
 
oráculos
 
e
 
magia
 
entre
 
os
 
azande.),
 
considerado
 
um
 
modelo
 
de
 
escrita
 
etnográfica
 
assim
 
como
 
Os
 
argonautas
 
do
 
Pacífico
 
Ocidental
,
 
de
 
Malinowski;
1956,
 
lança
 
Nuer
 
religion
 
(Religião
 
Nuer)
 
e
1965,
 
Theories
 
of
 
Primitive
 
Religion
 
(Teorias
 
da
 
Religião
 
Primitiva).
Em
 
sua
 
etnografia
 
sobre
 
os
 
nuer,
 
por
 
exemplo,
 
Evans-Pritchard
 
apresentou
 
uma
 
sociedade
 
que,
 
ao
 
estruturar
 
seu
 
sistema
 
político
 
em
 
linhagens
 
e
 
clãs,
 
não
 
formava
 
um
 
poder
 
centralizador,
 
o
 
Estado.
 
As
 
funções
 
das
 
disputas
 
e
 
dos
 
conflitos
 
eram
 
impedir
 
a
 
centralização
 
do
 
poder
 
e
 
as
 
acusações
 
de
 
feitiçaria
 
e
 
bruxaria
 
eram
 
parte
 
dessa
 
engrenagem.
A
 
ênfase
 
do
 
antropólogo
 
inglês
 
recaiu
 
sobre
 
o
 
rito,
 
como
 
ação,
 
que
 
envolve
 
uma
 
coletividade,
 
confirma
 
seus
 
valores
 
comuns
 
e
 
as
 
passagens
 
de
 
status
 
(da
 
criança
 
para
 
o
 
adulto,
 
casamento,
 
morte
 
etc.)
 
e
 
consagra
 
eventos
 
e
 
realizações
 
da
 
sociedade.
Há
 
uma
 
circularidade
 
entre
 
rito
 
e
 
sociedade
 
perturbado
 
por
 
acontecimentos
 
fora
 
da
 
explicação
 
cotidiana/natural
 
e
 
que
 
causam
 
mal-estar
 
e
 
desarmonia.
 
Você
 
pode
 
nomear
 
esses
 
eventos/acontecimentos
 
como
 
malignos.
)
Claude Lévi-Strauss (1908-2009)
Após a ênfase no rito, Lévi-Strauss privilegiou o estudo do mito e das estruturas mitológicas em uma perspectiva universalista, parecida com a ideia dos fenomenólogos da religião. A ideia de estruturaé herdada dos estudos da Linguística, ciência que estuda a linguagem, em especial Ferdinand de Saussure (1857-1913).
O pensamento do antropólogo francês formou-se durante sua longa estada no Brasil, vindo para compor uma missão de estudos que redundou na criação da USP (Universidade de São Paulo). Conviveu longamente com sociedades índias no Centro- Oeste e na Amazônia, escreveu uma vasta obra, mas não tratou exclusivamente da religião e do sagrado, exceto como elemento do processo mítico e por alguns textos instigante, como O feiticeiro e sua magia e A eficácia simbólica, escritos na década de 1940-1950, dois ensaios que compõem o livro Antropologia estrutural.
Veja que Lévi-Strauss buscou os elementos lógico-formais que constituem o pensamento mítico e o pensamento selvagem. Haveria um número específico de regras/operações que, no entanto, permitiriam uma infinidade de combinações. A imagem usada para explicar isso, observe que interessante, é a do jogo de xadrez!
A segunda comparação usada é a do inconsciente, que seria um tipo de recipiente e elaborador de um número finito de pares binários de opostos (cru-cozido, macho-fêmea, grupo-fora/grupo-dentro, frio-quente etc.).
estratificação social4
Processo de divisão ou organização de uma sociedade em classes sociais, segmentos ou grupos socioeconômicos, ou castas hereditárias, com poderes, papéis e funções. A estratificação pode agravar muito a desigualdade social.
 (
Leia
 
o
 
texto
 
Princi
p
ais
 
antro
p
ólo
g
os
 
estruturalista
<
g
aleria/aula7/anexo/Princi
p
ais_antro
p
olo
g
os_estruturalistas_PDF.
p
df>
 
.
Saiba
 
mais
)
 (
Atividade
A
 
escola
 
estruturalista
 
enxerga
 
a
 
religião
 
a
 
partir
 
de
 
uma
 
ótica
 
universalista,
 
privilegiando
 
o
 
mito,
 
a
 
racionalidade
 
e
 
a
 
lógica,
 
em
 
detrimento
 
do
 
rito.
 
Lévi-Strauss,
 
no
 
texto
 
O
 
feiticeiro
 
e
 
sua
 
magia
,
 
estudou
 
a
 
eficácia
 
simbólica,
 
analisou
 
casos
 
em
 
que
 
a
 
crença
 
na
 
magia
 
provocou
 
reações
 
concretas,
 
como
 
no
 
xamanismo
 
5
,
 
e
 
comparou
 
isso
 
à
 
técnica
 
psicanalítica
 
como
 
ritual.
Diante
 
disso,
 
é
 
correto
 
dizer
 
que
 
a
 
eficácia
 
mágica
 
ocorre
 
por:
Por
 
intermédio
 
da
 
articulação
 
entre
 
as
 
crenças
 
do
 
xamã
 
em
 
sua
 
técnica
 
e
 
do
 
doente
 
no
 
poder
 
do
 
ritual.
Por
 
intermédio
 
da
 
articulação
 
entre
 
as
 
crenças
 
do
 
xamã
 
em
 
sua
 
técnica
 
e
 
do
 
grupo
 
no
 
poder
 
do
 
ritual.
Por
 
intermédio
 
da
 
articulação
 
entre
 
as
 
crenças
 
do
 
doente
 
no
 
poder
 
do
 
ritual
 
e
 
do
 
grupo
 
no
 
poder
 
do
 
xamã.
Por
 
intermédio
 
da
 
articulação
 
entre
 
as
 
crenças
 
do
 
grupo,
 
do
 
xamã
 
em
 
sua
 
técnica
 
e
 
do
 
doente
 
no
 
poder
 
do
 
ritual.
Por
 
intermédio
 
da
 
articulação
 
entre
 
as
 
crenças
 
do
 
grupo
 
no
 
poder
 
do
 
ritual
 
xamânico
 
e
 
a
 
técnica
 
do
 
xamã.
)
Xamanismo5
Sistema religioso presente em sociedades étnicas (Sibéria, Groelândia etc.). O xamã é alguém dotado com habilidades de comunicação entre o mundo profano e o sagrado, capaz de viajar e ver/sentir como os animais e a natureza veem/sentem. É solicitado para resolver sofrimentos, curar doenças etc. O xamã recebe um chamado, às vezes recusa, mas acaba
passando por um ritual de iniciação no qual desenvolve seus dons e suas habilidades. O termo foi expandido e aplicado ao contexto urbano ou rural, já que é visto como um sistema que possibilita a comunicação entre dois mundos, o de cá (terreno, profano) e o de lá (celestial, transcendente, angelical ou diabólico, cósmico e/ou sagrado), para a resolução de problemas, infortúnios e sofrimentos.
Os interpretativistas (escola ‘simbólica’ ou semiótica) e os pós modernos
 (
Símbolos
 
religiosos
 
(Fonte:
 
Vladimir
 
Melnik
 
/
 
Shutterstock)
)
Nas décadas de 1950 a 1970, emergiu uma importante escola antropológica que, apontando as insuficiências do Funcionalismo e Estruturalismo, propôs um olhar analítico-metodológico voltado para o símbolo e os seus significados, produzidos e compartilhados, e sua conexão com o contexto histórico-social.
Clifford Geertz (1926-2006)
Antropólogo norte-americano, foi o líder da nova escola. Os seguintes livros, note bem, guardam um estilo ensaístico muito forte. Publicadas no Brasil e reunindo textos sobre método da Antropologia interpretativa, discussões sobre mente e cultural, ideologia, escrita etnográfica, cultura política, psicologia cultural, arte e cultura, vida e obra de antropólogos fundamentais, etc.:
A interpretação das culturas Saber local
Obras e vidas: o antropólogo como autor Nova luz sobre a antropologia
As obras monográficas são, por exemplo:
Negara, o Estado teatro no século XIX e “Observando o Islã.
Note os textos:
Religião como sistema cultural;
O beliscão do destino: a religião como experiência, sentido, identidade e poder (capítulo do livro Nova luz sobre a Antropologia).
 (
Ethos,
 
visão
 
do
 
mundo
 
e
 
a
 
análise
 
de
 
símbolos
 
sagrados
 
são
 
capítolos
 
do
 
livro
 
A
 
inter
p
reta
ç
ão
 
das
 
culturas
 
<htt
p
s://
g
oo.
g
l/F
j
PohK>
 
.
Leitura
)
A hermenêutica, em especial a que se voltará ao rito e mito sagrado ou religioso deixou em segundo plano, a função e a estrutura, bases das escolas anteriores. Mas, antes disso, Max Weber (1864-1920), a quem Geertz cita como inspirador, defendia como objeto central da análise, os significados que os sujeitos, individuais ou coletivos, atribuem à ação social ou à ação que realizam entre si e na sociedade.
Considere que problema do significado é, para o antropólogo interpretativista americano, o cerne da religião.
Leia suas palavras e medite um pouco:
 (
Uma religião é: (1) um sistema de símbolos que atua para (2)
 
estabelecer poderosas, penetrantes e duradouras disposições e
 
motivações
 
nos
 
homens
 
através
 
da
 
(3)
 
formulação
 
de
 
conceitos
 
de
 
uma ordem de existência geral e (4) vestindo essas concepções
 
com tal aura de f atualidade que (5) as disposições e motivações
 
parecem
 
singularmente
 
realistas”
GEERTZ,
 
2008,
 
p.67
)
O rito, o ritual opera a fusão entre o mundo vivido e o imaginário presentes nas narrativas míticas A religião, em Geertz, expressa uma teoria geral da cultura 6.
Cultura6
É um sistema de símbolos que articulam e veiculam uma rede de significados. Um sistema cultural, como o sagrado ou a religião, interpreta uma realidade
 (
A realidade (social, biológica psicológica) é infinda, descontínua,
 
múltipla
 
em
 
suas
 
causas
 
e
 
consequências,
 
e
 
coloca
 
em
 
cheque
 
e
 
entra
 
em choque, permanentemente, com as expectativas, trazendo
 
paradoxos
 
e
 
impasses
 
éticos
 
e
 
morais
 
de
 
modo
 
contínuo.
)
Daí, reflita, a tarefa do antropólogo é fazer uma interpretação de interpretações, ou seja, é interpretar e traduzir para um público mais universal, as interpretações que um gripo ou coletividade realiza em seu devir histórico, mas, de uma forma sistemática, acadêmicos e científicos.
E qual seria uma das realidades mais difíceis de lidar no campo da religião?
O problema do sofrimento, que se conecta ao problema do mal, da injustiça.
 (
Retoma
 
uma
 
vertente
 
mais
 
universalista,
 
abstrata,
 
lógico-formal
 
para
 
explicar
 
a
 
religião.
1.
 
Lévi-Strauss
)
 (
Volta-se
 
para
 
a
 
análise
 
dos
 
significados
 
e,
 
com
 
isso,
 
a
 
vertente
 
relativista
 
é
 
retomada.
 
Para
 
ele,
 
uma
 
adequada
 
teoria
 
da
 
religião
 
se
 
alcança
 
com
 
a
 
integração
 
entre
 
considerações
 
históricas,
 
psicológicas,
 
sociológicas
 
e
 
semânticas.
2.
 
Clifford
 
Geertz
)
Segundo Geertz:
 (
A
 
experiência
 
religiosa
 
final
 
tomada
 
subjetivamente
 
é
 
também
 
a
 
verdade
 
religiosa
 
final
 
tomada
 
objetivamente
GEERTZ,
 
2008,
 
p.
 
152
)
Reflita que Geertz, no texto O beliscão do destino: a religião como experiência, sentido, identidade e poder, pondera sobre as mutações históricas e os reposicionamentos da religião, que assumiu distintas formas de expressão,envolvida na construção de identidades particulares e protagonista em disputas e conflitos políticos.
A crítica antropológica pós-moderna, refere-se ao modo como a Antropologia descreve os grupos observados, como se fossem uma totalidade articulada, esquecendo que a escrita tem uma operação de poder. Aconteceu, veja, o ocultamento da presença colonial (opressora) na pessoa daquele que vai estudar e pretensamente dar voz e vez aos “nativos”.
Atualmente, os contextos em que a religião se expressa são múltiplos e atravessados, por exemplo, por muitas dimensões:
 (
1
)
Escala
Locais, globais, transnacionais.
 (
2
)
Valores
Estético, consumo, político, econômico.
 (
3
)
Comunicacional
Virtual, grupal, individual.
 (
4
)
Político-social
Classes sociais, desigualdades econômicas, distribuição do poder dentro, fora e entre as religiões e grupos religiosos.
 (
Isso exige reformulações no método etnográfico e a integração com
 
outras metodologias, até mesmo quantitativas, para se estudar a
 
religião.
 
Mais
 
do
 
que
 
nunca,
 
reflita,
 
é
 
preciso
 
ao
 
cientista
 
da
 
religião
 
e
 
ao teólogo, uma visão integrada, ampla e profunda
 
(simultaneamente), e, por isso, as escolas antropológicas são
 
indispensáveis
 
para
 
uma
 
boa
 
formação
 
acadêmica.
)
Outra frente de reflexão da Antropologia sobre o fenômeno religioso é a que pensa sobre os modos de como se conhece a religião. Reflita sobre um elemento apresentado pela antropóloga Rita Segato, no texto, Um Paradoxo do relativismo: discurso racional da Antropologia frente ao sagrado (publicado em 1992), que fala do paradoxo entre a atividade de relativização do antropólogo e a adesão de forma absoluta do praticante religioso à religião da qual ele faz parte.
 (
A atitude dos antropólogos (relativização), frente ao universo
 
religioso, implica uma atitude reducionista da teoria da interpretação,
 
que
 
tem
 
como
 
implicação
 
fundamental
 
a
 
perda
 
de
 
vista
 
da
 
experiência
 
íntima
 
do
 
transcendente
 
vivenciada
 
pelos
 
religiosos.
)
A saída seria um olhar mais integrado, embora se saiba do impasse entre as duas perspectivas.
Atividade
4. Leia com atenção o que Clifford Geertz escreve sobre o problema do sofrimento como problema religioso, pois se trata de conferir sentido, e não evitar o sofrimento: “[...] os símbolos religiosos oferecem uma garantia cósmica não apenas para sua capacidade de compreender o mundo, mas também para que, compreendendo-o, deem precisão a seu sentimento, uma definição às suas emoções que lhes permita suportá-lo, soturna ou alegremente, implacável ou cavalheirescamente”. (Grifos do autor da aula. GEERTZ, 2008, p. 67)
Tendo em vista a escola Interpretativista, assinale a alternativa correta:
a) Os símbolos religiosos podem ser interpretados como uma simples projeção de necessidades sociais e culturais de um grupo ou sociedade.
b) Os símbolos religiosos atuam para estabelecer poderosas, penetrantes e duradouras disposições e motivações nos homens que vivem coletivamente.
c) Os símbolos religiosos podem ser interpretados como uma complexa teia alienada de significados e necessidades sociais e culturais coletivas.
d) Os símbolos religiosos atuam como uma complexa projeção ideológica de necessidades sociais e culturais de um grupo ou sociedade.
e) Os símbolos religiosos atuam para refrear as necessidades sociais e culturais manifestadas por um grupo ou sociedade.
Atividade
5. Sobre a maneira como a Antropologia estuda a religião, alguns autores como Marcelo Camurça, Rita Segato, Rubem Fernandes e Otávio Velho, discorreram sobre os dilemas da pesquisa antropológica sobre a religião, em especial os desencontros entre o ponto de vista do nativo e o ponto de vista do pesquisador.
Tendo em vista as características de cada ponto de vista sobre os fenômenos religiosos, assinale a alternativa correta:
a) Do ponto de vista nativo, a religião é vista como absoluta e ontológica; do ponto de vista do pesquisador a religião é vista como ideologia e alienação.
b) Do ponto de vista nativo, a religião é vista ideologia e alienação; do ponto de vista do pesquisador a religião é vista como absoluta e ontológica.
c) Do ponto de vista nativo, a religião é vista como absoluta e ontológica; do ponto de vista do pesquisador a religião é vista como relativa e metafórica.
d) Do ponto de vista nativo, a religião é vista como absoluta e ontológica; do ponto de vista do pesquisador a religião é vista como relativa e ontológica.
e) Do ponto de vista nativo, a religião é vista como ideologia e ontológica; do ponto de vista do pesquisador a religião é vista como alienação e absoluta.
Notas
INSERIR TÍTULO AQUI1
INSERIR TEXTO AQUI
Referências
CAMURÇA, Marcelo. Ciências Sociais e Ciências da Religião. Polêmicas e interlocuções. São Paulo: Paulinas, 2008.
EVANS-PRITCHARD, Edward E. Brujeria, magia y oráculos entre los azande. Barcelona: Anagrama, 1976, p. 26.
FIROLAMO, Giovanni; PRANDI, Carlo (orgs.). As Ciências das Religiões. 8. ed. São Paulo: Paulinas, 2016.
GEERTZ, Clifford. A religião como sistema cultural. In:	. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: LTC 2008, p. 67.
LÉVI-STRAUSS, Claude. O feiticeiro e sua magia. In:	. Antropologia estrutural. 5. ed. Rio de janeiro: Tempo Brasileiro, [s./d.], p. 211
MALINOWSKI, Bronislaw. Il mito e il padre nella psicologia primitiva. Roma: Newton Compton, 1976.
TEIXEIRA, Faustino (org.). Sociologia da Religião. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 2007.
Próximos Passos
Principais ideias e os principais autores que analisaram a religião como fenômeno psicológico, ou seja, relativo às crenças e aos comportamentos individuais;
Reflexão sistemática sobre a relação entre a Psicologia e a Religião.
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