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Metodologia de Pesquisa Aula 01 - O Conhecimento Científico e Outros Tipos de Conhecimento Alexandre Alves METOLODOGIA DE PESQUISA AULA 01 – CONHECIMENTO CIENTÍFICO E OUTROS TIPOS DE CONHECIMENTO 1 Alexandre Alves CONSIDERAÇÕES INICIAIS Conhecer as coisas, os seres, os objetos, as formas de fazer ou o porquê das mais diversas situações sempre fizeram parte da natureza humana. Os seres humanos sempre buscam conhecimento, seja de forma voluntária, quando se aplicam esforços na obtenção de um determinado saber, ou de forma involuntária, uma vez que simplesmente existindo em um ambiente, observando, escutando, inalando ou sentindo podemos conhecer muitas coisas. Contudo, cabe destacar, existem de forma geral, quatro formas ou tipos de conhecimento. A saber: conhecimento popular, conhecimento científico, conhecimento filosófico e conhecimento religioso. Cada um com suas características próprias que os diferem dos demais. (MARCONI e LAKATOS, 2003, p. 77) Importante ressaltar que, não existe uma hierarquia de conhecimentos, uma vez que eles diferem entre si, são apenas diferentes em suas características, não havendo assim, um conhecimento superior. Perceba que estamos em uma disciplina de “Metodologia Científica”, portanto, aprofundaremos no que diz respeito à ciência e ao conhecimento científico. No entanto, merece destaque que, os demais tipos de conhecimento podem ser complementares ao conhecimento científico. Entenderemos isso melhor ao longo das demais aulas. Nesse ponto, cabe definir o que é “conhecimento científico” e, para fazer isso, é importante conceituá-lo também, diferenciando dos demais, sobretudo do chamado “conhecimento vulgar”, “senso comum” ou “conhecimento popular”. 01 Conhecimento científico e outros tipos de conhecimento METOLODOGIA DE PESQUISA AULA 01 – CONHECIMENTO CIENTÍFICO E OUTROS TIPOS DE CONHECIMENTO 2 Alexandre Alves CONHECIMENTO CIENTÍFICO E SENSO COMUM Para tratar desse tema, é interessante fazer uso de um simples exemplo muito bem descrito por Marconi e Lakatos (2003, p. 75). Desde a antiguidade, um camponês, mesmo que iletrado, sabe o momento certo da semeadura, sabe o momento certo da colheita, sabe que precisa regar os vegetais quando ocorre um período maior de seca. Esse mesmo camponês sabe que precisa fazer um rodízio na área cultivada para evitar o desgaste do solo. Atualmente, no entanto, com o avanço das pesquisas e do saber, existem uma série de adubos que evitam esse desgaste do solo ou, pelo menos, retardam ele por um longo período. Atualmente existem equipamentos que preveem a quantidade de chuvas, uma vez que sua falta ou excesso podem ser danosas às plantações. Sobre esse exemplo, cabe ressaltar o seguinte: “Mesclam-se, neste exemplo, dois tipos de conhecimento: o primeiro, vulgar ou popular, geralmente típico do camponês, transmitido de geração para geração por meio da educação informal e baseado em imitação e experiência pessoal; portanto, empírico e desprovido de conhecimento sobre a composição do solo, das causas do desenvolvimento das plantas, da natureza das pragas, do ciclo reprodutivo dos insetos etc.; o segundo, científico, é transmitido por intermédio de treinamento apropriado, sendo um conhecimento obtido de modo racional, conduzido por meio de procedimentos científicos. Visa explicar "por que" e "como" os fenômenos ocorrem, na tentativa de evidenciar os fatos que estão correlacionados, numa visão mais globalizante do que a relacionada com um simples fato - uma cultura específica, de trigo, por exemplo.” (MARCONI e LAKATOS, 2003, p. 75) Com base no exposto, vale destacar que o conhecimento científico e o conhecimento popular não diferem entre si por o primeiro ser verdadeiro e o segundo ser falso. Percebe-se, no exemplo acima, que ambos tratam de um mesmo assunto de forma verdadeira. A diferenciação entre ambos reside no modo ou nos objetos do conhecer. Portanto, um mesmo objeto ou fenômeno pode ser observado tanto pelo cientista, como pelo ser humano comum e resultar em dois tipos de conhecimento: um científico e outro popular. O conhecimento científico, dessa forma, difere do conhecimento popular em razão do contexto metodológico e não do conteúdo propriamente dito. Isso também ocorre em relação ao conhecimento filosófico e religioso. Uma vez feita uma introdução, cabe agora tratar das características dos quatro tipos de conhecimento. OS TIPOS DE CONHECIMENTO Segundo Marconi e Lakatos (2003, p.77 e 78) são quatro tipos de conhecimento: Popular, Científico. Filosófico e Religioso. Cada um com características próprias que os diferem entre si. Vamos entender melhor cada um desses tipos de conhecimentos: METOLODOGIA DE PESQUISA AULA 01 – CONHECIMENTO CIENTÍFICO E OUTROS TIPOS DE CONHECIMENTO 3 Alexandre Alves Conhecimento Popular: Também chamado de “senso comum”, “conhecimento vulgar” ou “conhecimento empírico”, esse tipo de saber possui como principal característica o fato de ser valorativo, uma vez que o sujeito que conhece reflete seus valores pessoais no objeto conhecido. Por tanto, ele não é nunca imparcial, sendo sempre um conhecimento carregado de valores daquele que conhece. É um conhecimento verificável, uma vez que é verificado pelo sujeito em seu dia a dia, residindo aí a observação, método de obtenção de boa parte desse tipo de saber. Também é um conhecimento superficial, sendo impossível a formulação de hipóteses ou leis gerais. É um conhecimento transmitido de geração em geração através da educação informal. É superficial e dificilmente conhece as causas mais específicas do objeto ou fenômeno observado. É falível e inexato, pois se limita a uma observação generalista do objeto/fenômeno. Por fim, é um conhecimento assistemático, pois sua organização é particular daquele que conhece e não há uma sistematização racional das ideias de forma que se possa chegar a formulações gerais que expliquem o objeto/fenômeno. Conhecimento Filosófico: Esse tipo de conhecimento difere do senso comum por ser sistemático e racional. Sistemático no sentido de formular hipóteses e enunciados que visam uma representação coerente da realidade. Permitindo assim, a formulação de hipóteses e leis gerais. É racional pois verifica-se sempre um conjunto de enunciados logicamente correlacionados. Contudo, as hipóteses formuladas baseiam-se na experiência e não na experimentação. (MARCONI e LAKATOS, 2003, p. 78) Nesse ponto observamos assim, uma diferença entre o conhecimento filosófico e o conhecimento científico, cujas hipóteses se baseiam na experimentação. O conhecimento filosófico busca indagar questões da experiência humana através da própria razão humana. Seu objeto são ideias, relações conceptuais, exigências lógicas que não são redutíveis a realidades materiais, diferentemente do conhecimento científico que se assenta em observações da realidade concreta e sua experimentação através de observação sensorial direta ou indireta. Por fim: “é infalível e exato, já que, quer na busca da realidade capaz de abranger todas as outras, quer na definição do instrumento capaz de apreender a realidade, seus postulados, assim como suas hipóteses, não são submetidos ao decisivo teste da observação (experimentação).” (MARCONI e LAKATOS, 2003, p. 79) Conhecimento Religioso: Também chamado de conhecimento teológico, fundamenta-se do chamado “dado revelado”. Portanto, sustenta-se unicamente na fé. Uma vez que todo o conhecimento é tido como revelação divina (inspiracional) e não pode ser questionada, já que são verdades absolutas, nem verificáveis por meio de qualquer experimento. É um conhecimento exato e infalível. É um conhecimento sistemático do mundo como obra de um criador, cujas evidências não podem ser verificadas. O fiel, nesse caso, não procura METOLODOGIA DE PESQUISA AULA 01 – CONHECIMENTO CIENTÍFICO E OUTROS TIPOS DE CONHECIMENTO 4 Alexandre Alvesevidências, não testa, nem verifica ou não questiona, pois a origem de todo o saber se assenta na revelação divina, sempre perfeita. Conhecimento Científico: Finalmente, o conhecimento científico é baseado na experimentação, pois permite observar ou refutar sua veracidade através de experimentos replicáveis. A verificabilidade do conhecimento científico é extrema, uma vez que hipóteses que não possam ter sua veracidade comprovada, deixam de fazer parte do âmbito da ciência. Contudo, vale destacar, que é um conhecimento falível, uma vez que não é eterno nem absoluto. Suas preposições e conclusões podem ser refutadas no futuro, uma vez que com o avanço na pesquisa, os recursos para experimentação passam a ser cada vez mais específicos e melhores. Por fim, é um conhecimento real e factual, pois lida com casos e ocorrências concretas que se manifestam de alguma forma. Sobre os tipos de conhecimento analisados aqui: Popular, filosófico, religiosos e científico, vale destacar o seguinte: “Apesar da separação "metodológica" entre os tipos de conhecimento popular, filosófico, religioso e científico, no processo de apreensão da realidade do objeto, o sujeito cognoscente pode penetrar nas diversas áreas: ao estudar o homem, por exemplo, pode-se tirar uma série de conclusões sobre sua atuação na sociedade, baseada no senso comum ou na experiência cotidiana; pode-se analisá-lo como um ser biológico, verificando, através de investigação experimental, as relações existentes entre determinados órgãos e suas funções; pode-se questioná-lo quanto à sua origem e destino, assim como quanto à sua liberdade; finalmente, pode-se observá-lo como ser criado pela divindade, à sua imagem e semelhança, e meditar sobre o que dele dizem os textos sagrados.” (MARCONI e LAKATOS, 2003, p. 80) Resumindo o que estudamos até agora sobre os tipos de conhecimento temos a tabela abaixo: Tipos de Conhecimento Características Conhecimento popular (senso comum) Valorativo, parcial, superficial, passado de geração em geração, verificável (no dia a dia), não formula hipóteses ou leis gerais, falível, inexato e assistemático. Conhecimento filosófico Valorativo, racional, sistemático, não verificável, infalível e exato. Indaga questões da experiência humana e analisa- as com base na razão. Conhecimento religioso Dado revelado, inspiracional, necessidade da fé, verdades inquestionáveis, dogmático, inverificável, exato e infalível. METOLODOGIA DE PESQUISA AULA 01 – CONHECIMENTO CIENTÍFICO E OUTROS TIPOS DE CONHECIMENTO 5 Alexandre Alves Conhecimento científico Baseado na experimentação, formula hipóteses e leis gerais, é real, factual, verificável, falível. O CONCEITO DE CIÊNCIA A título introdutório, podemos definir ciência como um conjunto de conhecimento sistemático de fenômenos e objetos observáveis, obtidos através da formulação de hipóteses e comprovação delas através da experimentos replicáveis que reconhecem sua veracidade ou não. Contudo, destaca-se que todo conhecimento científico é falível, podendo ser substituído por outro conhecimento também científico obtido através dos avanços nas observações e experimentações. Contudo, devemos destacar algumas características próprias da ciência para que esse conceito possa ser ampliado. Conforme nos explica Ruiz (2002, p. 128) a ciência possui um conjunto de características próprias que a contrapõe aos demais tipos de conhecimento. Esse conjunto de características é importante para compreender a ciência em sentido mais amplo, uma vez que as definições de ciência ou ressaltam uma dessas característica ou se limitam na definição desse conceito. A ciência pode ser definida como conhecimento pelas causas. Isso se dá pelo fato de o conhecimento científico buscar sempre explicar o fenômeno e/ou objeto através de suas causas determinantes. As conclusões do conhecimento científico são generalistas. A ciência generaliza, pois consegue descobrir a constituição íntima e as causas comuns a todos os fenômenos de uma mesma espécie. Ainda sobre as características da ciência: “A ciência tem por objeto material realidades físicas, sua pesquisa é instrumentada, seu objetivo é manifestar a evidência dos fatos e não das ideias. Procede por via experimental, indutiva, objetiva; suas demonstrações consistem na apresentação das causas físicas determinantes ou constitutivas das realidades experimentalmente controladas. Não se submete a argumentos de autoridades, mas tão- somente à evidência dos fatos. Não tem pátria, não tem dono, não ultrapassa os limites fixados pelo seu próprio método experimental. (RUIZ, 2002, p. 130) A ciência e sua explicação por vezes se confundem pela questão de seu método. Ou seja, por vezes, ciência é explicada unicamente pelo emprego do método científico assentado na experimentação. Toda experimentação, dita científica, passa por um rigoroso controle de toda a situação, o que confere tamanha credibilidade ao conhecimento científico. É através do isolamento e controle das variáveis que se consegue identificar a fonte e a causa real dos fenômenos. METOLODOGIA DE PESQUISA AULA 01 – CONHECIMENTO CIENTÍFICO E OUTROS TIPOS DE CONHECIMENTO 6 Alexandre Alves Por fim, cabe ressaltar ainda uma característica: a exatidão. Todo conhecimento científico, suas formulações e seus resultados gozam de exatidão relativa quando comparada aos demais tipos de conhecimento. Essa exatidão decorre do fato de o conhecimento científico ser demonstrados através de experimentos que podem ser replicáveis. Através da experimentação, que pode ser feita nas mesmas condições por diversos cientistas, em diversos locais, podendo assim, obter os mesmos resultados. A ciências e suas formulações possuem importante credibilidade devido as características acima mencionadas. Ruiz (2002, p. 131 e 132) apresenta algumas definições de ciência, deixando claro que elas apresentam, ora uma deficiência em sua conclusão, ora enfatiza um aspecto ou característica em detrimento de tantos outras. A título de reflexão, deixamos as cinco definições correntes de ciência para que o aluno possa refletir sobre as mesmas, buscando entender suas limitações e/ou deficiências. “1 – Conhecimento certo do real pelas suas causas. 2 – Conjunto orgânico de conclusões certas e gerais metodicamente demonstradas e relacionadas com objeto determinado. 3 – Atividade que se propõe demostrar a verdade dos fatos experimentais e suas aplicações práticas. 4 – Conhecimento sistemático dos fenômenos da natureza e das leis que os regem, obtidos através da investigação, pelo raciocínio e pela experimentação intensiva. 5 – Estudo de problemas solúveis, mediante método científico.” (RUIZ, 2002, p. 131 e 132) REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS MARCONI, Marina de Andrade. LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos de Metodologia Cientifica. 5ª Edição. São Paulo: Atlas, 2003. GOLSALVES, Elisa Pereira. Conversas Sobre Iniciação à Pesquisa Científica. 5ª Edição. São Paulo: Alínea, 2011. RUIZ, João Álvaro. Metodologia Científica: Guia para eficiências nos estudos. 5ª Edição. São Paulo: Atlas, 2002. METOLODOGIA DE PESQUISA AULA 01 – CONHECIMENTO CIENTÍFICO E OUTROS TIPOS DE CONHECIMENTO 7 Alexandre Alves QUESTÃO DE FIXAÇÃO O senso comum é uma forma de entender o mundo por meio de saberes da experiência de vida cotidiana, que é transmitido de uns para os outros sem nenhum rigor, indo do hábito à tradição. Refere-se aos saberes práticos que orientam nosso dia a dia, que se norteiam por "mini-teorias" simplificadas que produzem um específico entendimento. Há uma grande diferença entre o saber do senso comum e o saber científico, o saber do senso comum se detém no cotidiano, costuma partir de premissas simples e por alguns poucos fatos ou coincidências, elaborando assim suposições sem uma reflexão aprofundada. Esses entendimentos não são submetidos a testes ou experiências, e quando são, há umagrande falta rigorosidade. A ciência é um saber que vai muito além do senso comum, propondo um certo afastamento da realidade que nos parece clara, óbvia e verdadeira, para tomar esta como um objeto de investigação. Isso possibilita a construção de um conhecimento mais apurado sobre o que temos por realidade ou por verdade. CARRASCO, Bruno. Ciência e Senso Comum. Ex-Isto, 2020. Disponível em: https://www.ex-isto.com/2020/04/ciencia-e-senso-comum.html Acesso em 17 de setembro de 2022. São características do Conhecimento de tipo Científico, o que se lê abaixo, com exceção de: A. Falível, uma vez que pode ser substituído por um novo conhecimento também científico. Não sendo, portanto, um conhecimento eterno. B. Provisório, dado que pode ser substituído por outra hipótese comprovada metodicamente. C. Racional, uma vez que parte de um método lógico. D. Experimentação, uma vez que a base do conhecimento científico são os experimentos replicáveis que atestam a veracidade ou não de uma informação. E. Superficial, uma vez que parte da observação cotidiana e não busca as causas concretas daquele fenômeno. Resposta correta letra “E”. Todas as características apresentadas nas assertivas A, B, C e D são relacionadas ao conhecimento científico. No entanto, superficialidade é uma característica própria do senso comum e não do saber científico. O senso comum é superficial por não se preocupar com as causas íntimas do fenômeno. Portanto, não é capaz de elaborar hipóteses ou formulações reais sobre o fenômeno/objeto. https://www.ex-isto.com/2020/04/ciencia-e-senso-comum.html Aula 01 - O Conhecimento Científico e Outros Tipos de Conhecimento Alexandre Alves
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