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Caderno de Resumos. VII Seminário de Teses e Dissertações – ―Para além dos muros da universidade: ciência sociedade cidadania‖. Belo Horizonte: UFMG, 2016. 143 p. Belo Horizonte 2016 3 Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG Prof. Dr. Jaime Arturo Ramírez Faculdade de Letras Profa. Graciela Ines Ravetti de Gómez (Diretora) Programa de Pós-Graduação em Estudos Linguísticos Profª. Drª. Emília Mendes Lopes Comissão Organizadora Bruna Toso Tavares Eva dos Reis Júlia Ferreira Veado Luanna de Souza Priscila Tulipa Tâmara Milhomem Thiago Nascimento 4 SUMÁRIO 1 RESUMOS MESAS TEMÁTICAS ................................................................... 5 1.1 Área 1 –Linguística Teórica e Descritiva .................................................... 5 1.2 Área 2 – Linguística do Texto e do Discurso ............................................... 43 1.3. Área 3 – Linguística Aplicada ..................................................................... 81 2 RESUMOS MINI-CURSOS ............................................................................... 129 5 1.1 Área 1 – Linguística Teórica e Descritiva CORRELATOS ACÚSTICOS DE UMA SEGMENTAÇÃO PERCEPTUAL Bárbara Helohá Falcão Teixeira (UFMG) Linha de pesquisa: Estudos Linguísticos baseados em corpora Orientador: Tommaso Raso E-mail: barbaraheloha@gmail.com Há várias formas de segmentar a fala, como por exemplo, fones, sílabas, palavras, sintagmas etc. Durante a comunicação oral entre falantes, a fala é segmentada em uma unidade de referência superior ao nível lexical da palavra. A segmentação superior ao nível lexical da palavra é importante para viabilizar a comunicação oral entre falantes, pois a unidade de referência é a unidade mínima de sentido completo que é vista como domínio das principais relações linguísticas. O conceito da unidade de referência da fala varia conforme seja a visão teórica adotada, entretanto, existe uma concordância quanto a sua importância para os estudos. De fato, é bastante consensual que a fala não pode ser segmentada com os mesmos critérios da escrita. A literatura da área apresenta como unidade de referência: i) a sentença falada; ii) o turno; iii) a pausa; iv) o enunciado. O C-Oral Brasil adota como unidade de referência o enunciado, que pode ser entendido como a menor unidade pragmaticamente e prosodicamente autônoma e interpretável da fala. O enunciado é delimitado graças às variações prosódicas perceptivelmente relevantes no fluxo da fala. Essas variações são chamadas de quebras prosódicas. As quebras prosódicas percebidas como terminais atribuem um valor conclusivo e segmentam naturalmente o fluxo da fala. Já as quebras prosódicas percebidas como não-terminais possuem um valor não conclusivo e segmentam internamente o 6 enunciado. Assim, a segmentação em enunciados é uma tarefa baseada na percepção de fenômenos de natureza prosódica. É demonstrado que a percepção dessas fronteiras é muito saliente e que os falantes possuem um alto acordo quanto a elas. Este trabalho tem como objetivo contribuir na verificação da correspondência entre a segmentação de base perceptual de um grupo treinado e os parâmetros acústicos associados à segmentação desse grupo. A correspondência é obtida através da adaptação do script para Praat ProsodyDescriptor (Barbosa, 2013). O script utiliza cinco camadas de anotações: a) unidades VV; b) quebras não-terminais; c) quebras terminais; d) pausa; e) transcrição dos enunciados. O script calcula uma série de medidas numa janela de 10 unidades VV a esquerda e a direita de cada quebra marcada perceptualmente pelas pessoas do grupo. Algumas medidas extraídas são velocidade de fala e ritmo, duração normalizada, medidas de F0, normalização de F0 e medida de intensidade em dB. O script também calcula: o acordo entre os segmentadores na segmentação de base perceptual; uma regressão na janela estabelecida para obter quais parâmetros acústicos foram essenciais na segmentação de base perceptual do grupo. Os resultados mostram que pausa silenciosa e alongamento em sílaba pré-fronteiriça são relevantes para a segmentação perceptual, mas não são os únicos parâmetros importantes. Mais especificamente, o trabalho que será realizado na dissertação constitui na análise dos resultados obtidos pelo script em comparação com os resultados mostrados pela segmentação perceptual. Palavras-chave: fala; segmentação; unidade de referência; C-Oral Brasil 7 A ZOOTOPONÍMIA MINEIRA Cassiane Josefina de Freitas (Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Estudos Linguísticos da UFMG) Linha de pesquisa: (1A) Estudo da Variação e Mudança Linguística Orientador: Profª Drª Maria Cândida Trindade Costa de Seabra E-mail: cassianej@yahoo.com.br A Onomástica, ciência que se dedica ao estudo dos nomes próprios, se divide em duas vertentes: a Antroponímia e a Toponímia. A primeira se dedica ao estudo dos nomes próprios de pessoas, enquanto a segunda, aos nomes próprios de lugares. A pesquisa de doutorado em questão trata do estudo descritivo – linguístico e cultural – dos topônimos (nomes próprios de lugar) de índole animal, os denominados zootopônimos, presentes no estado de Minas Gerais. A exuberância da fauna brasileira, assim como seu papel fundamental à sobrevivência dos primeiros indivíduos, são revelados no expressivo número de topônimos de origem animal. Com a intenção de verificar a preferência regional pelo emprego sistemático dessas denominações em território mineiro que surgiu a ideia de desenvolver o presente trabalho. Vinculada ao Projeto Atlas Toponímico de Minas Gerais – ATEMIG –, que vem sendo desenvolvido, desde 2005, na Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais, sob a coordenação da Prof.ª Dr.ª Maria Cândida Trindade Costa de Seabra, esta pesquisa constitui-se, dessa forma, de uma investigação toponímica que se norteia pela perspectiva de que língua e cultura são elementos indissociáveis. Entende-se cultura como um conjunto de ideias, tradições, conhecimentos e práticas individuais e sociais, que podem ser projetados na língua de um povo. (DURANTI, 2000). O léxico o subsistema da língua que mais se reporta a um ―mundo referencial, físico, cultural, social e psicológico em que atua o homem‖ (Ferraz, 2006, p.220), representando, assim, de maneira clara, o ambiente tanto físico como social dos falantes. Os topônimos refletem circunstâncias de natureza histórica, social, físico-ambiental e cultural que possam ter influenciado o(s) 8 enunciador(es) no ato do batismo dos acidentes físicos e humanos de uma determinada localidade, região. Segundo Dick (1990,p.22), a maior pesquisadora da área, os topônimos são verdadeiros testemunhos históricos de fatos e ocorrências registrados nos mais diversos momentos da vida de uma população encerram em si, um valor que transcende ao próprio ato de nomeação: se a Toponímia situa-se como a crônica de um povo, gravando o presente para o conhecimento das gerações futuras, o topônimo é o instrumento dessa projeção temporal. Dentre os objetivos do trabalho, podemos destacar a realização do estudo zootoponímico no território mineiro; a identificação da origem dos zootopônimos; a investigação dos casos de variação, mudança e retenção linguísticas; a Xdos zootopônimos; a investigação dos casos de variação, mudança e retenção linguísticas; a elaboração de um glossário com os vocábulos de índole animal encontrados o universo toponímico de Minas Gerais; a contribuição com as pesquisas do Projeto ATEMIG, na ampliação e aperfeiçoamento de seu banco de dados. Palavras-chave: léxico; cultura; toponímia; zootoponímia. 9#HASHTAGS: UM ESTUDO SOB O VIÉS DA SEMÂNTICA DA ENUNCIAÇÃO Claudiene Diniz da Silva (UFMG) Linha de pesquisa: Semântica da Enunciação Área: Linguística Teórica e Descritiva Orientador: Luiz Francisco Dias E-mail: diennedinniz@hotmail.com Resumo: Nosso estudo tem a pretensão de analisar as hashtags, isto é, aquelas palavras ou expressões precedidas pelo símbolo (#) muito recorrentes na internet, mais especificamente nas redes sociais virtuais. Dentre algumas das definições atribuídas às hashtags, temos a visão segundo a qual elas são ―cadeias de caracteres (apenas letras, números e traços inferiores/underscores) criadas livremente pelos membros da rede a fim de adicionar contexto e metadados às postagens, funcionando muitas vezes como palavras-chaves‖ (CUNHA, 2012, p.4). Quanto às funções básicas das hashtag, elencamos aqui: fornecer e agregar informações comuns, agrupar mensagens e pessoas que tratam de assuntos comuns; fazer propaganda e promover marcas, campanhas, eventos além de serem usadas para fins lúdicos, como jogos, brincadeiras e humor. Para realizar um estudo sobre essa forma linguística que permeia o mundo digital e o mundo ―real‖, adotamos como referencial teórico a Semântica da Enunciação desenvolvida por Guimarães (1996, 2002) e Dias (2009, 2013, 2015), inspirados por alguns conceitos dos linguistas franceses Emile Benveniste e de Oswald Ducrot. Tendo em vista a fundamentação adotada, propomos um estudo das hashtags com o objetivo de compreender o funcionamento enunciativo das hashtags, em especial as razões enunciativas de agregação dos termos que compõem essas formas linguísticas, através dos referenciais que sustentam as formações articulatórias. Mais especificamente, 10 nossos objetivos são: conceituar, caracterizar e sistematizar as hashtags do ponto de vista da Semântica da Enunciação; descrever as condições de acontecimento das hashtags, e mostrar a importância do referencial no processo enunciativo e discutir sobre o conceito de forma linguística do ponto de vista da Semântica da Enunciação, com base na análise das hashtags. Uma vez que a hashtag é uma forma linguística nova, que surgiu na década de 1990, mas foi retomada em 2007 pela rede social digital Twitter, quando se popularizou, nosso estudo tem a pretensão de apresentar uma descrição detalhada das funcionalidades da hashtag, como também seus tipos e formatos. Após essa descrição, dedicamo-nos ao estudo semântico, no qual analisamos os processos de significação das hashtags, baseados no referencial adotado. Palavras-chave: hashtag, semântica da enunciação, significação. 11 A CAPA DE REVISTA E A REPORTAGEM PRINCIPAL: estudo do diálogo entre esses dois gêneros à luz da articulação entre a RST e a Multimodalidade Danúbia Aline Silva Sampaio (UFMG) Linha de pesquisa: Estudos da Língua em Uso Orientadora: Profa. Dra. Maria Beatriz Nascimento Decat E-mail: danubiaalinesilva@yahoo.com.br A Teoria da Estrutura Retórica (RST) é uma teoria linguística que apresenta como objeto de estudo a organização dos textos, identificando e caracterizando as relações que emergem entre suas partes, conforme Mann e Thompson, 1988; Matthiessen e Thompson, 1988; Mann et al., 1992. Além do conteúdo proposicional explícito veiculado pelas orações de um texto, há proposições implícitas, denominadas proposições relacionais, que surgem das relações que se estabelecem a partir da combinação entre as porções do texto. Cada unidade linguística componente de um texto – tanto na perspectiva de sua macroestrutura quanto na perspectiva de sua microestrutura - está ligada ao restante desse texto por meio do entrelaçamento de relações retóricas – ou relações semânticas -, as quais são essenciais para o funcionamento do mesmo. Por meio da atuação das relações semânticas, os produtores de textos podem efetivar seus propósitos e garantir que suas intenções comunicativas sejam alcançadas. De acordo com a Multimodalidade (KRESS, 1995, 1997, 2003, 2008, 2010; KRESS e VAN LEEUWEN, 2001, 2002, 2006), quando se unem diferentes linguagens ou modos semióticos - formas culturais utilizadas para gerar e materializar significados, como imagem, escrita, cor, som ou gesto -, considerando que cada um desses modos exerce uma determinada função no processo de construção de sentidos, alcança-se a melhor forma de comunicar aquilo que se deseja. Diferentes modos semióticos são, simultaneamente e intensamente, explorados nos vários gêneros de 12 texto. Ao se pesquisar formas de comunicação utilizadas, se determinada análise se prender a apenas um modo semiótico, como à escrita ou à fala, por exemplo, chega-se a um significado parcial, incompleto. Isso porque cada modo, com suas peculiaridades e recursos, gera um significado diferente que, associado aos outros, constrói e amplia a rede de sentidos dos diferentes textos multimodais. Destarte, o trabalho com as imagens, associadas a outros modos semióticos, tem papel fundamental, uma vez que, segundo Kress (1997), o visual é um poderoso meio de comunicação. Assim, à luz da articulação entre RST e Gramática do Design Visual (GDV), de Kress e van Leeuwen (2006), o presente trabalho apresenta a análise inicial das relações retóricas que emergem, considerando texto e imagem, a partir do diálogo entre dois gêneros textuais intrinsecamente relacionados em revistas: a capa de revista e a reportagem principal. Para análise desses gêneros foram selecionados dois (2) exemplares da revista Veja, dois (2) da Isto É, dois (2) da Época e dois (2) exemplares da Carta Capital. Parte-se da hipótese de que, diante da intrínseca ligação entre esses dois gêneros em um mesmo suporte, a atuação e funcionamento das diferentes relações retóricas é um dos principais fatores que garante o diálogo entre a capa de revista e a reportagem principal. Acredita- se também que o estudo das relações semânticas por meio do diálogo entre esses dois gêneros, considerando os modos texto e imagem, pode ser feito a partir de três dimensões: relações semânticas entre os textos verbais, relações semânticas entre imagens e, por último, relações semânticas entre textos e imagens. Palavras-chave: RST; Multimodalidade; Capa de Revista; Reportagem de Capa. 13 AS UNIDADES INFORMACIONAIS TEXTUAIS NÃO ILOCUCIONÁRIAS NO INGLÊS AMERICANO: UM ESTUDO BASEADO EM CORPUS Frederico Amorim Cavalcante (UFMG) Linha de pesquisa: Estudos Linguísticos baseados em Corpora Orientador: Tommaso Raso E-mail: fredericoa4@gmail.com O trabalho tem como objeto as unidades informacionais textuais e não-ilocucionárias no inglês americano falado espontâneo. O estudo será realizado segundo os princípios teóricos e metodológicos da Language into Act Theory (Cresti 2000), uma abordagem pragmática para o estudo da fala espontânea desenvolvida a partir da observação sistemática de dados de fala coletados em corpora. De acordo com essa abordagem, a fala é organizada em enunciados, definidos como as menores unidades linguísticas detectáveis no fluxo da fala e que apresentam autonomia prosódico-pragmática. Um enunciado pode ser simples ou complexo, conforme apresente apenas uma unidade tonal/informacional ou mais do que uma dessas unidades. O núcleo do enunciado é realizado por pelo menos uma unidade ilocucionária, a qual veicula a função pragmática (ato de fala) do mesmo. As unidades tonais são delimitadas por quebras prosódicas, que podem ser terminais, que sinalizam a fronteira do enunciado, e não terminais, que segmentam o enunciado complexo em unidades subordinadas a um mesmo programa melódico. As unidades tonais correspondem a unidades do padrão informacional, definidas conforme (i) a posição em que apareçam, (ii) a função que desempenhem e (iii) as características prosódicascom que sejam realizadas. A primeira distinção que se pode fazer no domínio das unidades informacionais relaciona-se à função que elas desempenham, ora como componentes do conteúdo sintático-semântico do enunciado, ora como mecanismo de regulação interacional. As do primeiro tipo são chamadas 14 unidades textuais; as do segundo, dialógicas. As unidades textuais ilocucionárias (comentário, comentários múltiplos e comentários ligados) veiculam o valor comunicativo do enunciado, o qual pode ser rotulado como asserção, pergunta total, pergunta polar e ordem, dentre vários outros (Moneglia 2011). O valor comunicativo dos enunciados é crucialmente mediado pela prosódia, não havendo conteúdos sintático semânticos que possam ser aprioristicamente identificados com determinada função. As demais unidades textuais desempenham funções não ilocucionárias, e apresentam correlatos prosódicos e também distribucionais que permitem a sua identificação (Raso 2012). Até o presente momento, apenas a unidade de tópico foi estudada sistematicamente em uma língua não-românica, em um trabalho que propiciou um avanço no que diz respeito ao entendimento da realização prosódica da unidade (Cavalcante 2016). As demais unidades informacionais — parentético, introdutor locutivo e os apêndices (cf. Moneglia & Raso 2014), ainda não foram estudadas de modo sistemático em uma língua não românica. Os dados para a realização deste trabalho serão obtidos a partir do AE minicorpus (Cavalcante & Ramos, no prelo). Trata-se de um minicorpus de fala espontânea, criado a partir do Santa Barbara Corpus of Spoken American English (Du Bois et al. 2000-2005), que apresenta a mesma arquitetura dos minicorpora da família C-ORAL para o italiano e o português brasileiro (Cresti & Raso 2012). Assim, a comparabilidade entre resultados obtidos neste trabalho e os já obtidos em outras pesquisas no mesmo paradigma teórico será assegurada. Espera-se contribuir para uma descrição mais ampla da organização informacional do inglês americano e para a difusão de um paradigma teórico que, embora muito profícuo, como atesta a extensa bibliografia, esteve até há pouco restrito ao domínio das línguas românicas. Palavras-chave: fala espontânea; pragmática; estrutura informacional; unidades textuais. 15 PERFIS LINGUÍSTICOS DE SURDOS BILÍNGUES DO PAR LIBRAS- PORTUGUÊS: UMA ANÁLISE EXPLORATÓRIA Giselli Mara da Silva (UFMG) Linha de pesquisa: Processamento da Linguagem Orientador: Ricardo Augusto de Souza E-mail: gisellims@yahoo.com.br A despeito do uso das línguas de sinais pelas comunidades surdas ao longo da história, a situação de bilinguismo vivida pelos surdos foi reconhecida somente recentemente, como consequência do reconhecimento das línguas de sinais pela Linguística (ANN, 2001). Com isso, temos alcançado muitos avanços em termos do reconhecimento de direitos linguísticos dos surdos no Brasil e da descrição da Libras (QUADROS, 2013), mas a situação de bilinguismo vivida pelos surdos brasileiros permanece ainda pouco descrita. Assim, neste trabalho, a partir de uma visão de bilinguismo focada no uso (GROSJEAN, 1998, 2008), pretende-se abordar o bilinguismo intermodal, vivido por surdos usuários do par linguístico Libras-português, apresentando-se um estudo exploratório conduzido com participantes surdos de diferentes cidades do Brasil. Na perspectiva do Princípio da Complementaridade (GROSJEAN, 2008, 2013), bilíngues utilizam suas línguas no cotidiano com diferentes propósitos, com diferentes pessoas e em diferentes domínios. Considerando tais questões, o objetivo deste trabalho foi descrever os perfis linguísticos de surdos bilíngues, bem como identificar os domínios de uso da Libras e do português no cotidiano (família, trabalho, etc.). Para tanto, foram conduzidas entrevistas semi-estruturadas com 15 surdos. Os resultados parciais indicam grande diversidade dos perfis linguísticos, especialmente no que tange à idade de contato com a Libras e às possibilidades de desenvolvimento da fluência nessa língua e 16 no português (falado e/ ou escrito). Em relação ao uso das línguas em interações face a face, observou-se que: (i) a maioria dos participantes, por serem de famílias ouvintes, tem o português como língua dominante nesse domínio de uso, ainda que não tenham alta proficiência nessa língua; (ii) a língua mais usada no trabalho dependerá da área de atuação dos participantes; (ii) a língua de sinais é a língua escolhida para ser utilizada em momentos de lazer, especialmente com amigos surdos ou ouvintes sinalizadores. Importante destacar que o português escrito ganha um lugar nas interações face a face como um apoio nos momentos de dificuldades de comunicação (por exemplo, em situações vividas em restaurantes, lojas, etc). No que tange ao uso das línguas para comunicação a distância, percebe-se que, com as novas tecnologias, os surdos passam a usar a Libras também nessas situações, além de construir novas práticas de uso do português. Esses participantes relatam o uso do português escrito em redes sociais, bem como de vídeos em Libras para interagir a distância. Ressalta-se aqui que, progressivamente, gêneros textuais típicos da escrita vão sendo utilizados pelos surdos em vídeos em Libras, como é o caso de trabalhos acadêmicos, textos didáticos, convites para eventos, etc. Finalmente destaca-se que, para os bilíngues surdos, além de questões relativas aos propósitos da comunicação, aos domínios de uso e às pessoas envolvidas, há também outras questões importantes que perpassam as possibilidades de escolha das línguas em diferentes situações, a saber: (i) as possibilidades de desenvolvimento da oralidade e da compreensão via leitura labial; (ii) os usos sociais da escrita de sinais, que ainda são restritos; (iii) as atitudes linguísticas da comunidade surda na escolha das línguas para a comunicação. Palavras-chave: bilinguismo dos surdos; bilinguismo intermodal; Libras; português. 17 EXPRESSÕES FIXAS DO PORTUGUÊS FORMADAS A PARTIR DE NOMES GERAIS: UMA ABORDAGEM VARIACIONISTA Luanna de Sousa do Nascimento Oliveira (UFMG) Linha de pesquisa: Estudo da Variação e Mudança Linguística Orientador: Dr. Eduardo Tadeu Roque Amaral E-mail: soluoli@gmail.com Interessa para este trabalho fazer uma análise, em uma perspectiva léxico-varicionista, de expressões fixas que tenham em sua constituição um nome geral. Optou-se por se estudar esse tipo de construção dada a possível potencialidade desse diminuto grupo de reduzido conteúdo semântico em comporem novas estruturas com significados que não remetem à somatória dos seus componentes. Tal estudo lexical será guiado pela corrente teórica da Sociolinguística, subárea da Linguística que estuda ―a língua em uso no seio das comunidades de fala, voltando a atenção para um tipo de investigação que correlaciona aspectos linguísticos e sociais‖ (MOLLICA, 2004, p. 9). Apesar de as Expressões Fixas (EFs) terem por característica principal a cristalização, é preciso sempre ter em mente que elas podem estar em uma escala maior ou menor de fixidez. Nesse contexto, em expressões como não falar coisa com coisa e não dizer coisa com coisa constata-se que, além de conterem o mesmo sentido - ter um ‗discurso desconexo‘, ou seja, ‗dizer disparates‘ -, não há variação, neste caso, quanto ao nome geral, e sim dos demais componentes que o acompanham. Por outro lado, podem ser observadas substituições do próprio nome geral, como em dar uma coisa e dar um trem, em que o sentido, ‗perder os sentidos‘, é mantido apesar da variação lexical. Por sua vez, e não menos importante, os nomes gerais (general nouns) são definidos por Halliday e Hasan (1995 [1976], p. 274) como uma classe de nomes situada entre as classes abertas e fechadas que possui importante funçãocoesiva nos textos por 18 envolverem o mínimo de conteúdo semântico referencial. O comportamento inerente desses itens permite questionamentos quanto a possíveis alternâncias entre membros dessa particular classe no interior das expressões, visto que são elementos esvaziados semanticamente. Ainda no que diz respeito à variação, mas neste caso, diatópica, no território brasileiro, como observa Fulgêncio (2008, p. 369), o uso de algumas expressões fixas pode ser considerado tipicamente regional, pois há variação geográfica. Logo, o trabalho também se presta a assinalar os locais típicos das ocorrências das EFs compostas com um nome geral, caracterizando uma variação diatópica. Devido a seus comportamentos particulares, outra questão a ser explorada pelo trabalho é o motivo dos nomes gerais aparecerem em expressões fixas. Esses itens, a partir do que é apontado em alguns estudos, como em Amaral e Ramos (2014), Mahlberg (2003), podem apresentar diversas propriedades estruturais, discursivas, entre outras, que permitiriam ampla gama de uso, consequentemente, participação em novas estruturas. Por se tratar de um conjunto com um restrito número de elementos, como será apresentado posteriormente, é necessária a seleção dos nomes gerais para melhor delimitação e critério de investigação das Efs. A partir dos trabalhos de Mahlberg (2003), sob a perspectiva da Linguística de Corpus, e Halliday e Hasan (1995 [1976]), sob a ótica coesiva e referencial, as expressões fixas que serão analisadas deverão conter os itens: homem, mulher, coisa, negócio e lugar. Acrescentam-se cara, pessoa e trem por se encaixarem nos critérios de seleção que serão expostos mais adiante. Destarte, a partir da peculiaridade dessa classe de nomes, para além de se voltar à verificação da possibilidade de troca do nome geral, como em coisa à toa e negócio à toa, sem alteração do seu sentido, interessa ao trabalho também o estudo sobre a variedade diatópica das expressões. Palavras-chave: expressões fixs; nomes gerais; variação lexical; variação diatópica. 19 A PRESENÇA DOS NOMES DE ANIMAIS NOS IDIOMATISMOS INTERFACE PORTUGUÊS-ESPANHOL-ITALIANO Luciana Massai do Carmo (FALE-UFMG) Linha de pesquisa: Variação e mudança linguística Orientador: Eduardo Tadeu Roque Amaral E-mail: massai.luciana@gmail.com A comparação é uma tendência universal dos homens na construção do conhecimento. É prazeroso comparar certos fenômenos com outros e isso enriquece uma pesquisa ou observação científica, além de ajudar a esclarecer certos fenômenos. A partir daí, e tendo como base a importância e o conceito de idiomatismo ou expressão idiomática, ambas no âmbito da Lexicologia, esta pesquisa de mestrado visa à análise de idiomatismos do espanhol estándar e do italiano que possuam nomes de animais em suas construções lexicais a fim de estabelecer as diferenças e/ou semelhanças quanto à sua equivalência para o português brasileiro. Mas por que comparar essas três línguas? É notória a semelhança existente entre as línguas portuguesa, italiana e espanhola. Faz- se saber se essa semelhança persiste nos idiomatismos, uma vez que neles há também uma questão cultural que irá interferir na sua construção e que também deve ser levada em conta. Esta pesquisa analisa expressões idiomáticas (EIDs) com nomes de animais, tema selecionado por ser muito frequente no discurso e por ser de extrema relevância a comparação entre línguas românicas. Com isso, faz-se saber a enorme diversidade cultural e lexical que os idiomatismos são representados em uma língua e em outra. A partir da coleta de EIDs com nome de animais como palavra-chave a ser analisada, ou seja, buscar-se-á os equivalentes idiomáticos em espanhol e italiano de algumas EIDs que, em português, contivessem alguma palavra-chave dentro do campo ―animais‖. Esta pesquisa de mestrado visa dar uma contribuição lexicológica dentro do vocabulário de mailto:massai.luciana@gmail.com 20 animais das EIDs que serão analisadas. Assim, observando a simbologia dos animais constantes das EIDs em espanhol, italiano e em português, intenciona-se compreender a representatividade que tem cada animal nesses três idiomas. Com isso, faz-se saber a enorme diversidade cultural e lexical pelo qual os idiomatismos são representados em uma língua e em outra. Ao estudar as línguas portuguesa, espanhola e italiana pode-se constatar sua semelhança. De acordo com Brito et al (2010), no que tange ao léxico o português, o espanhol e o italiano são línguas muito semelhantes. Os autores afirmam que a língua portuguesa e a língua espanhola ainda formam um conjunto à parte devido a sua semelhança no léxico. Ainda no caso do espanhol e do português, Camorlinga (1997) afirma que a semelhança no léxico dessas duas línguas é bastante significativa. Assim como acontece entre o português e o espanhol, a semelhança entre o italiano e o espanhol (Calvi, 2004) também é muito próxima, podendo ser comprovado pelos seus próprios falantes nativos. A facilidade de compreensão oral e a similaridade entre os sistemas vocálicos do italiano e do espanhol permitem que muitas palavras e expressões sejam identificadas já nos primeiros contatos entre os falantes. Dessa forma, espera-se uma significativa correspondência nas três línguas, mesmo dentro do ramo da Lexicologia, onde há uma interferência sociocultural, uma vez que as três línguas além de terem a mesma origem, possuem um léxico bastante semelhante. Palavras-chave: idiomatismos; Lexicologia; animais. 21 VERBOS DE COMUNICAÇÃO OU CONSTRUÇÕES DE COMUNICAÇÃO? UMA ANÁLISE ATRAVÉS DA NOÇÃO DE VALÊNCIA VERBAL. Marcella Monteiro Lemos Couto (UFMG) Linha de pesquisa: Interface sintaxe-semântica lexical Orientador: Mário A. Perini mar.mlcouto@gmail.com Nesta pesquisa é feito o levantamento e análise sistemáticos, de forma descritiva, da valência verbal de verbos classificados na literatura como verbos de comunicação, de dizer ou dicendi. Pretendo fazer o levantamento das construções (denominadas diáteses), de cada verbo de comunicação encontrado para ilustrar como eles podem ocorrer na língua em uso do Português Brasileiro. O objetivo desta investigação é explicitar o que é adequado: classificar o verbo ou a construção como de comunicação. Parte-se da perspectiva de que os verbos determinam as estruturas das orações e que o conjunto das possíveis construções de um verbo revela sua valência verbal. Na descrição da valência verbal são apresentadas as características sintáticas e semânticas dos complementos oracionais em construções possíveis do verbo. Como o conceito de verbo dicendi é mal delimitado na literatura, e percebemos que esses verbos podem ocorrer em construções que nada têm a ver com comunicação, então se faz necessário delimitá-lo e conceituá-lo. Para efeitos do trabalho não existem verbos dicendi e sim diáteses de comunicação ou diáteses dicendi. Essas requerem a presença de um conteúdo de mensagem explícito na sentença.Um levantamento prévio de 78 verbos (sugerido pela lista da Levin, 1993 p. 202 - 212) sugere que o sujeito das sentenças possivelmente é sempre o Agente, o que já constitui uma hipótese da qual partir no estudo dos verbos portugueses correspondentes. Outro objetivo é listar os papéis semânticos elaborados (―emissor‖, ―receptor‖ e ―conteúdo da mensagem‖ – chamados 22 de relações semânticas cognitivas, ou RSC’s, por Perini (2015), e os papéis semânticos esquemáticos (Agente, Mensagem, Meta) a fim de localizar algumas relações, buscar regularidades e irregularidades nessas relações. Uma pergunta a ser respondida é se os papéis elaborados (como ―emissor‖) podem ser derivados dos esquemáticos (Agente) levando-se em conta traços de significado dos verbos em questão – o que nos liberaria da necessidadede definir esses papéis exclusivos dos verbos de comunicação.Este trabalho se insere no Projeto de Valências Verbais do Português Brasileiro. O projeto tem como finalidade a elaboração de um dicionário de valências verbais do PB e é coordenado por Mário A. Perini na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).Este estudo tem como referencial teórico básico os trabalhos de Jackendoff (1972,1990); Levin (1993); Borba (1996); e Perini (2008, 2010, 2015). Palavras–chave: valências verbais; verbos dicendi; verbos de comunicação; verbos de dizer. 23 AS MARCAS DE USO REGIONAIS EM DICIONÁRIOS BILÍNGUES ESCOLARES PORTUGUÊS/ESPANHOL Mônica Emmanuelle Ferreira de Carvalho Nogueira monicaemmanuelle@gmail.com Orientadora: Maria Cândida Trindade Costa de Seabra Área de concentração: Linguística Teórica e Descritiva Linha de pesquisa: (1a) Estudo da variação e mudança linguística As marcas de uso diatópicas indicam restrições do tipo geográfico para o uso de uma determinada unidade lexical. No caso específico da língua espanhola, a confecção de dicionários bilíngues parece não dar real relevância à variação linguística. Considerando a falta de reflexão mais profunda sobre a diversidade linguística do espanhol, no âmbito da lexicografia, este trabalho discute a necessidade de normalização de marcas de uso dialetais em dicionário bilíngues e descreve como tais marcas estão inseridas em dicionários bilíngues de espanhol do tipo escolar. Dentro do nível lexical, pretendemos analisar a presença/ausência de diferentes itens e a discussão que os autores trazem em suas obras. O corpus que oferece a base empírica ao presente estudo é constituído por 268 lexias e suas variantes extraídas dos dicionários MICHAELIS Dicionário escolar ESPANHOL espanhol / português português / espanhol e Dicionário Santillana para estudantes espanhol / português português / espanhol. A análise, ainda em andamento, seguiu com a verificação do conteúdo disposto nesses dicionários bilíngues por meio dos corpora de referência de espanhol disponíveis hoje para consulta em rede – Corpus del español; Corpus de Referencia del Español Actual (CREA); Corpus del español del siglo XXI (CORPUS XXI), de dicionários de americanismos consultados e do projeto dialetal que aborda a variação linguística no idioma espanhol, VARILEX: Variación léxica del español en el mundo, além da busca em sites específicos de cada país. Os 24 resultados preliminares apontam que, embora os dicionários analisados contemplem um repertório lexical hispano-americano, observamos a inexistência de um padrão nos verbetes para a apresentação das marcas regionais, nas duas direções: português- espanhol e espanhol-português. As principais incoerências referiam-se à generalização de determinadas extensões geográficas, à falta de uma determinada região ou país, e classificação equivocada como americanismo. Concluímos, portanto, que essa imprecisão dos dados se deu, em parte, devido à falta de uma explicitação de proposta lexicográfica quanto ao tratamento da variação linguística no espanhol nos verbetes das obras consultadas. Palavras-chave: Americanismos léxicos. Dicionários escolares. Lexicografia bilíngue. 25 CCV>CV: REDUÇÃO EM SÍLABAS COMPLEXAS Nívia Aniele Oliveira (UFMG) Linha de pesquisa: Fonologia Orientador: Thaïs Cristófaro Alves da Silva E-mail: nivianiele@gmail.com Este estudo tem por objetivo avaliar variação de encontros consonantais formados por (obstruinte + tepe) no português brasileiro (PB). A variação em encontros consonantais é um caso em que o tepe pode ou não ocorrer, como, por exemplo, em [pɾ]ocura > [p]ocura. Neste trabalho, pretende-se discutir a lenição de encontros consonantais em relação aos seguintes aspectos da variação: 1) tonicidade, 2) região, 3) tipo de consoante, 4) vozeamento 5) número de sílabas, 6) item lexical e 7) indivíduo. A perspectiva teórica é da Teoria dos Exemplares (JOHNSON 1997, BYBEE 2001, PIERREHUMBERT 2001, ERNESTUS; BAAYEN 2011). A motivação para este estudo é a de compreender se a variação de encontros consonantais formados por (obstruinte + tepe) é um fenômeno em curso no PB em geral. Estudos com a população infantil e adulta de Belo Horizonte (MG), mostraram que sílabas formadas por (obstruinte + tepe) podem se realizar apenas com a consoante obstruinte (FREITAS 2001, MIRANDA 2007, (CRISTÓFARO-SILVA; MIRANDA, 2011). Portanto, faz-se pertinente avaliar se o fenômeno é recorrente apenas no PB de Minas Gerais ou se ocorre em outras regiões do país. Outra questão relevante diz respeito à implementação do fenômeno da lenição. A Teoria de Exemplares sugere que as mudanças foneticamente motivadas afetam inicialmente as palavras mais frequentes e que as mudanças analógicas afetam inicialmente as palavras menos frequentes (BYBEE 2001, PHILLIPS 1984, 2011). O corpus para análise foi compilado a partir de gravações obtidas em www.fonologia.org. Este corpus é constituído de gravações do texto 26 intitulado ―O Brasil em 2012‖ que foi lido por 4 falantes de cada uma das capitais do país (um homem e uma mulher com idade superior ou igual a 45 anos, e um homem e uma mulher com até 25 anos). Todos os falantes possuíam nível superior completo ou incompleto. A gravação da leitura do texto para cada falante durou entre 4 e 5 minutos. Um total de 62 itens lexicais foram examinados. Cada uma das palavras foi examinada acusticamente através do programa Praat. Os resultados preliminares indicaram que o cancelamento do tepe em encontros consonantais formados por (obstruinte + tepe) ocorre em três regiões do país: Sul, Sudeste e Nordeste. Os resultados preliminares indicam que o tepe é cancelado em 68,34% das ocorrências analisadas. O índice de cancelamento do tepe é semelhante nas regiões estudadas, sendo 70,89% no Nordeste, 69,1% no Sudeste e 64,61% no Sul. Pode-se sugerir que o cancelamento do tepe está presente em todos os Estados analisados. Podemos sugerir até o momento que a variação do tepe em sílabas CCV>CV é impactada por diversos fatores como: tonicidade, primeira consoante CCV desvozeada, número de sílabas, item lexical e indivíduo. Analisaremos também a frequência lexical e a gradiência fonética. Os dados para os demais estados do país estão em fase final de etiquetagem para que a análise seja concluída. Palavras chave: encontro consonantal, variação, Teoria de Exemplares. 27 VALÊNCIAS VERBAIS DO PORTUGUÊS BRASILEIRO: A DIÁTESE DE COLOCAÇÃO COMO CRITÉRIO DE CATEGORIZAÇÃO DE UM CONJUNTO DE VERBOS DO PORTUGUÊS Polyana Prates de Oliveira Plais (UFMG) Linha de pesquisa: Estudos na interface sintaxe e semântica Orientador: Mário A. Perini E-mail: polyana.plais@hotmail.com A tentativa de categorizar os verbos por seu comportamento gramatical não é novidade, e muitos estudiosos do tema vêm trabalhando com o objetivo de executar tal tarefa. Publicações como a de LEVIN (1993), para os verbos do inglês, e a de CANÇADO; GODOY; AMARAL (2013) são exemplos dessa tentativa de organizar em categorias os verbos de uma língua. A leitura de LEVIN (1993) iniciou nossa reflexão acerca dos critérios e metodologias empregados na tarefa de categorização verbal e, da lista de classes de verbos definidas pela autora, elegemos a dos denominados verbs of putting, ou verbos de colocação (tradução nossa), que é o objeto de estudo de nossa pesquisa de mestrado. Já analisamos os correspondentes em português de parte desses verbos, componentes das 10 subclasses daquela categoria. Diferentemente de BORBA (1990), cujo córpus se compõe de registros de português escrito, o presente trabalho descreve estruturas do português falado em uso no Brasil. Grande parte das construções já registradassão elaboradas pelos próprios participantes do projeto. Seguimos nisso a orientação do Projeto VVP, em curso na UFMG (coordenação de Mário A. Perini), que objetiva a construção do Dicionário de valências verbais do Português Brasileiro. O trabalho preliminar já realizado deixa claro que a designação ―verbos de colocação‖ é inexata, porque praticamente todos os verbos da lista podem ocorrer em diversas 28 diáteses, e nem todas elas denotam colocação. Chamamos ―diátese‖ uma construção que não vale para todos os verbos da língua (como a negativa), nem é gramaticalmente condicionada (como a topicalização, que funciona para qualquer verbo que co-ocorra com certos complementos). As diáteses dependem das propriedades do verbo e, portanto, contribuem para sua classificação. Definimos então o grupo a ser estudado como aqueles que ocorrem em uma diátese de colocação. Assim, o verbo colocar é de colocação porque ocorre em uma diátese que colocação. Assim, o verbo colocar é de colocação porque ocorre em uma diátese que inclui Agente, Tema e Meta (a menina colocou a boneca na cama), embora ocorra também em diáteses que não são de colocação (o presidente colocou bem o problema). Nossa pesquisa pretende formular a valência de cada um dos verbos selecionados, num total de 17, até o momento, de uma lista inicial que se compõe de 378 verbos, traduzidos de LEVIN (1993) – na qual a valência é o conjunto de diáteses em que o verbo pode ocorrer. O resultado final será a lista dos verbos levantados, cada qual com sua valência completa. colocação. Assim, o verbo colocar é de colocação porque ocorre em uma diátese que inclui Agente, Tema e Meta (a menina colocou a boneca na cama), embora ocorra também em diáteses que não são de colocação (o presidente colocou bem o problema). Nossa pesquisa pretende formular a valência de cada um dos verbos selecionados, num total de 17, até o momento, de uma lista inicial que se compõe de 378 verbos, traduzidos de LEVIN (1993) – na qual a valência é o conjunto de diáteses em que o verbo pode ocorrer. O resultado final será a lista dos verbos levantados, cada qual com sua valência completa. Palavras-chave: Valências verbais; Construções; Diátese de colocação. 29 OS PHRASAL VERBS E SEU USO NA PRODUÇÃO ESCRITA DE APRENDIZES DA LÍNGUA INGLESA: UMA ANÁLISE BASEADA EM CORPUS DE ESTUDANTES BRASILEIROS Priscilla Tulipa da Costa (UFMG) Linha de pesquisa: Estudos da Língua em Uso Orientador: Adriana Maria Tenuta de Azevedo E-mail: priscillatulipa@gmail.com De grande importância para a proficiência na língua inglesa, os phrasal verbs constituem uma das marcas mais distintivas e criativas do inglês (Gardner & Davis, 2007). Contudo, suas características os tornam difíceis de serem assimilados por estudantes não nativos, especialmente aqueles cuja primeira língua não provém da família germânica (Celce-Murcia & Larsen-Freeman, 1999; Darwin & Gray, 1999). Faria et al. (2007) sugerem que o ensino/aprendizado de phrasal verbs constitui um desafio para estudantes de inglês graças a peculiares aspectos sintáticos e semânticos, como a idiomaticidade, as classificações que os diversos autores conferem a essa categoria gramatical, as interferências e transferências linguísticas e a própria terminologia. Nesse sentido, considerando o papel dos verbos frasais na aquisição da fluência em língua inglesa e as questões que permeiam seu ensino/aprendizagem, este trabalho propõe um estudo descritivo (fundamentado na linguística de corpus) acerca do uso dos phrasal verbs em produções escritas de aprendizes brasileiros da língua inglesa, tendo como objetivo principal a observação e a descrição das semelhanças, diferenças e preferências percebidas na escrita acadêmica de falantes nativos e de não nativos, no que concerne à utilização desse item lexical. A escolha por pesquisar o fenômeno na língua escrita tem fundamento nos estudos de Biber et al. 1999; Fletcher, 2005 e McCarthy & O‘Dell, 30 2004, que demonstram que, apesar de ser um traço mais frequente na língua oral e informal, essa unidade lexical também tem sido bastante usada na língua escrita formal. A metodologia desenvolvida é composta por exames quantitativos e qualitativos dos verbos frasais. O estudo pretende colaborar para situar as classes de verbos formados por mais de uma palavra na escrita acadêmica de aprendizes, além de apontar, por meio dos resultados, a representatividade dos phrasal verbs nos corpora estudados. Além disso, ela busca contribuir para a descrição desse fenômeno linguístico por meio da identificação de padrões e das preferências dos estudantes, auxiliando não só nas questões que envolvem o ensino e a aprendizagem dos verbos frasais do inglês, mas também na conscientização acerca de possíveis adequações e inadequações de uso, bem como no fomento da reflexão sobre processos de aquisição e uso dos phrasal verbs. Palavras-chave: Linguística de corpus. Phrasal verbs. Aprendizes. Ensino e aprendizagem de línguas. 31 ALTERNÂNCIA DE VALÊNCIA EM TENETEHÁRA (TUPÍ-GUARANÍ) Ricardo Campos de Castro (UFMG) Linha de pesquisa: 1G – Gramática de Línguas Indígenas Orientador: Prof. Dr. Fábio Bonfim Duarte E-mail: ricardorrico@uol.com.br A língua Tenetehára é falada no nordeste do Brasil por dois povos indígenas: os Tembé e os Guajajára. De acordo com Rodrigues (1985), essa língua pertence ao Ramo IV da família linguística Tupí-Guaraní, do Tronco Tupí. O objetivo desta tese é apresentar uma análise teórica e descritiva de alguns fenômenos morfossintáticos na língua Tenetehára. Primeiramente, mostrarei que os verbos transitivos, ao receberem o morfema {puru-}, apresentam propriedades gramaticais que são típicas de construções antipassivas. Isto porque passam a apresentar propriedades translinguísticas deste tipo de construção. Adicionalmente, está tese objetiva corroborar e refinar as assunções acerca de incorporação nominal em Tenetehára (Tupí-Guaraní) investigada por Castro (2007), Duarte & Castro (2010) e Castro (2012). As primeiras análises mostram que uma quantidade expressiva de predicados transitivos, em Tenetehára, torna-se intransitiva quando o objeto do verbo transitivo inicial incorpora-se à raiz verbal. Nesse contexto, o resultado será um verbo semanticamente transitivo, mas que c-seleciona apenas um argumento nuclear na função de sujeito. Adicionalmente, Castro (2012) evidencia que, nas construções de alçamento ou ascensão do possuidor, apenas parte do objeto - a saber: o NP possuído - pode se incorporar ao núcleo do vP. Ao final desse processo morfossintático, a estrutura transitiva inicial não é alterada. Ou seja, nas construções de alçamento do possuidor, não existe diminuição de valência, apesar de haver incorporação. Outra finalidade deste trabalho é o aumento de valência por meio do morfema aplicativo {-er(u)}. Esse morfema introduz um objeto aplicativo com a 32 propriedade semântica de comitativo. Baseado na proposta de Pylkkänen (2002) e Vieira (2001, 2010), a hipótese é que este morfema seja a instanciação de um núcleo aplicativo alto. Semanticamente, o núcleo aplicativo alto tem a função de introduzir um objeto aplicativo com funções semânticas diversas, tais como: comitativo, beneficiário, fonte, alvo, locativo, instrumento, dentre outros. Em Tenetehára, o objeto aplicado possui a função de comitativo e se junta a verbos intransitivos. Segundo Pylkkänen (2002), sintaticamente, o aplicativo alto pode afixar-se a verbos inacusativos e inergativos, o que dá sustentabilidade a presente análise do Tenetehára. Por fim, o último assunto desta tese refere-se à descrição de estruturas causativas, recíprocas e anticausativas em Tenetehára. A língua apresenta dois morfemas causativos: {mu-} e {- kar}, e o morfema {-ze},cuja função é instanciar as vozes reflexiva, recíproca e anticausativa. A partir da análise detalhada de cada um desses morfemas, analisarei estruturas morfologicamente complexas, em que há a coocorrência dessas três unidades gramaticais. Essa investigação permitirá entender melhor as diferenças e semelhanças dos fenômenos analisados numa perspectiva interlinguística e poderá fornecer novos subsídios para um conhecimento mais apurado no âmbito da teoria gramatical. Palavras-chave: Família Tupí-Guaraní, Língua Tenetehára, Mudança de Valência. 33 O DESAPARECIMENTO DO FRANCOPROVENÇAL NA FRANÇA: PERFIL SOCIOLINGUÍSTICO DO FALANTE Simone Fonseca Gomes Duarte Guimarães (FALE-UFMG) Linha de pesquisa: Variação e mudança linguística Orientadora: Maria Antonieta A. M. Cohen E-mail: simonefrancais@gmail.com Esta comunicação apresentará resultados parciais da pesquisa de doutorado intitulada ―Línguas em extinção: estudo do desaparecimento do francoprovençal‖. Nessa pesquisa, proponho o estudo do processo de desaparecimento do francoprovençal, língua românica minoritária falada na França, Itália e Suíça, que se encontra hoje em vias de extinção. É objetivo da pesquisa compreender o que acontece com a estrutura de uma língua em desaparecimento, identificando fenômenos de interferência linguística, de mudança e de retenção linguística. Na França, onde delimito minha pesquisa, o francês vem substituindo as línguas regionais desde o século XVI, processo caracterizado pela luta contra os patois, que ganharam forte estigma social. Na presente comunicação, proponho discutir o perfil sociolinguístico do falante do francoprovençal na região denominada Bresse, no departamento Ain, na França, onde, de setembro de 2015 a maio de 2016 desenvolvi o trabalho de campo e a coleta de dados, que estão em fase de transcrição e análise. No estudo de línguas em desaparecimento, a análise dos fatores sociais, políticos e culturais que caracterizam as comunidades linguísticas em contato, de um lado, e o perfil sociolinguístico do falante, de outro, são de extrema importância para compreender o rumo das mudanças que podem levar à substituição de uma língua pela outra. Essas características nos fornecerão pistas para compreender o processo de abandono da língua e suas consequências na estrutura linguística, assim como os casos de manutenção ou recuperação da língua, que ganharam força nas últimas décadas com 34 as diversas iniciativas de revitalização. A problemática do falante é central no estudo do francoprovençal, visto que nos deparamos frequentemente com uma diversidade de perfis, que variam em relação ao modo de aquisição da língua, à variedade dentro do domínio francoprovençal (o qual engloba diferentes patois), aos contextos e frequência de uso da língua, ao sentimento em relação à língua, à rede social do falante, etc. Para abordar essa questão, nos inspiramos na hipótese desenvolvida por James Milroy e Lesley Milroy, de que a manutenção de variedades linguísticas com baixo prestígio social é favorecida por uma rede social caracterizada por laços fortes – que ligam indivíduos de um mesmo grupo que também se relacionam em outros grupos –, ao contrário do que ocorre com redes onde prevalecem os laços fracos – que ligam indivíduos de grupos diferentes – sendo portanto mais propensos a mudanças, a interferências externas. Os falantes do patois bressan que mais preservaram a língua tiveram trajetórias similares, fortemente ligadas ao mundo rural e/ou à cidadezinha de onde são originários, são pessoas bastante ativas na comunidade e que possuem um sentimento positivo em relação à língua regional. Elas fazem parte de uma comunidade onde todos se conhecem e se relacionam no dia-a-dia, muitos se ligam inclusive por laços familiares. Essas características reforçam a hipótese dos Milroy e serão de suma importância para o desenvolvimento da tese. Palavras-chave: línguas em extinção; francoprovençal; retenção linguística; perfil sociolinguístico do falante; rede social. 35 OPERAÇÕES LINGUÍSTICO-COGNITIVAS E O PROCESSO DE AQUISIÇÃO DA ENUNCIAÇÃO ESCRITA POR CRIANÇAS E ADULTOS SUELEN ÉRICA COSTA DA SILVA (PUC-MG) Linha de pesquisa: Linguística do Texto e do Discurso Orientador: Prof. Dr. Marco Antônio de Oliveira Supervisora Período Sanduíche: Prof. Dra. Maria Bernadete Marques Abaurre (UNICAMP) E-mail: suelenerica@gmail.com A escolha do tema de investigação desta tese – a aquisição da enunciação escrita – é movida pelo interesse tanto pessoal como científico de compreendermos, a partir de um viés crítico bem como científico, os ―erros‖ produzidos pelos falantes em fase de aquisição da enunciação escrita como manifestações de operações linguístico- cognitivas. Essas operações, provenientes das várias dimensões da linguagem, são necessárias para construção do texto, objeto construído no processo das relações interacionais, um evento comunicativo no qual convergem ações linguísticas, cognitivas e sociais de um sujeito de e da linguagem. Embora o número de pesquisas acerca do processo de aquisição da enunciação escrita seja grande e significativo, um breve percurso pela literatura em questão indicou que a maioria dos pesquisadores priorizam o confronto entre sistema fonológico/sistema ortográfico e suas implicações, a fim de esclarecer os problemas no processo de transferência da forma sonora da fala à forma gráfica da escrita. Destarte, a partir das reflexões levantadas reconhecemos que há um número pouco expressivo de pesquisas que façam o exame da produção textual do falante – adulto ou criança – a fim de exceder análises restritas ao nível microtextual e ao quadro teórico da Fonologia. A maior parte dos estudos ficam restritos a análises sobre o processo de transferência da forma sonora da fala para forma gráfica da escrita, 36 ou de forma teórica, das relações entre fonemas/grafemas ou, ainda, buscam identificar o processo de construção do sistema ortográfico pela criança a partir de frases ou palavras isoladas, desconsiderando a dimensão textual. Além disso, são poucas as pesquisas que articulam saberes provenientes das várias áreas da Linguística – Fonologia, Morfossintaxe, Semântica, Linguística Textual, Linguística da Enunciação, Sociolinguística – às teorias do Letramento, da Linguística Cognitiva e da Semiótica Cognitiva, por exemplo, para apreensão das operações linguístico-cognitivas necessárias para produção de texto/sentido. Assim, a partir da articulação de contribuições teóricas advindas da Linguística Textual, da Linguística da Enunciação, da Linguística Cognitiva, da Sociolinguística, e da Semiótica Cognitiva, propomos como objetivo geral desta tese analisar, descrever e interpretar as operações linguístico-cognitivas realizadas pelo falante para representar (na) sua escrita, o sujeito que enuncia, o interlocutor, a finalidade da interação, o tempo bem como o espaço da enunciação. Nossa hipótese central é a de que os chamados ―erros‖ produzidos pelos falantes são manifestações de operações linguísticas provenientes das várias dimensões da linguagem – fônica, morfossintática, semântica, textual e discursiva – que marcam a trajetória do aprendiz em sua inserção na escrita convencional. Tais operações, além de apontar para um entrelaçamento entre a oralidade e a escrita, compreendidas como um continuum, como práticas sociais, evidenciam um modo heterogêneo de enunciação escrito, o trabalho do sujeito aprendiz com e sobre a linguagem para produção da escrita como enunciação. Como resultados parciais podemos dizer que operações linguístico-cognitivas de hipossegmentação, de hipersegmentação, de hipercorreção, de ditongação, de integração conceitual, de consciência e de atenção compartilhada são realizadas pelo falante pararepresentar (na) sua escrita, o sujeito que enuncia, o interlocutor, a finalidade da interação, o tempo bem como o espaço da enunciação. Palavras-chave: Operações linguístico-cognitivas; Aquisição da escrita, Enunciação escrita. 37 AS METÁFORAS DO PENSAMENTO E DO DISCURSO EM TEXTOS DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA SOBRE ALZHEIMER: um olhar comparativo sobre os jornais O Globo e USA Today Suelen Martins (UFMG) Linha de pesquisa: Estudos da língua em uso Orientador: Profa. Dra. Luciane Corrêa Ferreira E-mail: susudaletras@yahoo.com.br A metáfora é considerada um recurso humano construído na mente e constitui ainda importante pretexto para se estudar, por exemplo, a língua que se manifesta em diferentes gêneros textuais. Nota-se que, em um gênero textual específico, as matérias de divulgação científica publicadas em jornais online diários, há vasta opção pelas metáforas como mecanismos para informar descobertas, fenômenos e procedimentos de cunho técnico na área da saúde. Sendo assim, este estudo que tem como tema Metáfora, Pensamento e Discurso objetiva investigar, nos jornais online O Globo e USA Today, publicados em um período de janeiro de 2011 a janeiro de 2017, o funcionamento das metáforas do pensamento e do discurso relativas ao Alzheimer, assim como é também objetivo examinar essas metáforas como estratégias que constituem o gênero textual divulgação científica que versam sobre esse assunto. Os problemas de pesquisa são: a) Quais as metáforas são mais utilizadas na construção de textos de divulgação da ciência veiculados nos jornais O Globo e USA Today? b) Quais se referem à doença de Alzheimer; c) Até que ponto as metáforas utilizadas pelo jornal O Globo e pelo USA Today se diferenciam ou se assemelham no ato de fazer divulgação científica, mesmo os jornais sendo de países e culturas diferentes? As hipóteses, que até o momento se formulam, tendo como referência a empiria gerada pelos dados coletados são de que as metáforas sistemáticas formam uma rede semântica que ajuda o leitor a construir 38 sentido quanto aos assuntos concernentes ao Alzheimer; as metáforas sistemáticas seriam as mesmas em O Globo e no USA Today, apesar das diferenças culturais e contextuais entre Brasil e Estados Unidos e do período distal de coleta de dados (entre 2011 e 2017), já que as experiências corpóreas observadas nesses dois países podem ser comuns e as metáforas, na divulgação científica, seriam uma forma de organizar o conhecimento científico e técnico em um conhecimento cotidiano acessível a um largo número de pessoas. Os resultados esperados para a pesquisa que se pretende fazer são relacionados à constatação de que a metáfora é um recurso linguístico que permeia todo o continuum da divulgação científica praticada pelos jornais O Globo e USA Today de forma a conceptualizar o Alzheimer negativamente. Espera-se que o uso da metáfora, por parte do divulgador, seja mecanismo para o acionamento de domínios mentais importantes para a compreensão, no que concerne às descobertas da ciência por parte da instância pública. Palavras-chave: Alzheimer; divulgação científica; O Globo; USA Today. 39 ESTUDO DA VARIÁVEL NJ EM MANAUS: VARIAÇÃO FONOLÓGICA EM PAROXÍTONAS TERMINADAS EM NIA E NIO Tatiana Belmonte dos Santos Rodrigues (UFMG) Linha de pesquisa: Estudo da Variação e Mudança Linguística Orientador: Seung Hwa Lee E-mail: tatibelmonte@yahoo.com.br O estudo da variável (nj) em paroxítonas terminadas em -nia e -nio em Manaus é o tema da tese que está em execução no Programa de Pós-graduação em Estudos Linguísticos da Universidade Federal de Minas Gerais, concentrada na área de Linguística Teórica e Descritiva. Tal estudo visa descrever os processos de variação fonológica que ocorrem no contexto desta variável. A pesquisa traz um recorte de trabalhos que tratam do subfalar amazônico e abordam traços de variação fonológica no Amazonas, destacando aqueles que fazem referência à variável em estudo em Manaus. Em destaque, aponta a pesquisa de Cruz (2004), que registrou as variantes [nʲ] e [ɲ] para a palavra Antônio em Barcelos, Parintins, Tefé e Benjamim Constant, todos municípios do interior do Amazonas. Aponta, também, a pesquisa de Campos (2008), que registrou a variante [ɲ] para a palavra Antônio, em Borba, município no sul do Amazonas. A pesquisa realizada em Manaus é desenvolvida sob a perspectiva de análise linguística proposta por Labov (1972), também conhecida como sociolinguística quantitativa, por operar com números e tratamento estatístico dos dados coletados. Tendo como proposta o estudo da língua em seu contexto social. A coleta de dados foi realizada por meio de entrevistas gravadas, direcionadas para que as respostas dos informantes correspondessem à lista de palavras previamente elaborada com 20 palavras paroxítonas, 10 terminando em –nia e 10 terminando em –nio. No total, 58 informantes foram entrevistados em Manaus, subdivididos de acordo com os seguintes fatores sociais: gênero (grupos de 29 homens e 40 de 29 mulheres), idade (grupos de 10 crianças- 7 a 10 anos; de 16 jovens- 18 a 28 anos; de 16 adultos- 35 a 55 anos; e de 16 idosos- acima de 60 anos) e escolaridade (grupos de 10 informantes de nível Fundamental 1- até o quarto ano; de 24 informantes de baixa escolaridade –até o nono ano do Ensino Fundamental; e de 24 informantes de alta escolaridade – cursando ou com ensino superior concluído). A análise dos dados iniciou com a análise acústica no Praat, por meio de medições de formantes, seguindo os pressupostos de Ladefoged (2001) e Thomas (2011). A análise acústica apontou quatro variantes para a variável (nj): palatalização total, palatalização secundária, síncope e iotização. Foi investigada a influência dos seguintes fatores linguísticos: vogal anterior, categoria do substantivo – próprio ou comum – e vogal final. Por fim, os resultados foram elaborados à luz de três bases teórico-metodológicas: a teoria da variação e mudança linguística, a fonologia gerativa padrão e o modelo de sílaba da fonologia não linear. Palavras-chave: Variável (nj); Variação fonológica; Subfalar amazônico; Fonologia gerativa; Modelo de sílaba. 41 AS FORMAÇÕES ARTICULATÓRIAS E AS SIGNIFICAÇÕES DE RACISMO: UM ESTUDO SEMÂNTICO-ENUNCIATIVO DAS CONSTRUÇÕES NOMINALIZADAS Waldemar Duarte de Alencar Neto (UFMG) Linha de pesquisa: (1C) Estudos da Língua em Uso Orientador: Prof. Dr. Luiz Francisco Dias E-mail: wduarteneto@gmail.com RESUMO: Esta pesquisa propõe uma investigação, no âmbito de uma perspectiva semântico-enunciativa, de como é construída a significação de racismo a partir da análise do funcionamento de construções nominalizadas em textos integrantes dos mais diversos gêneros e que contemplem esse debate. Dois recortes são importantes tendo em vista esse propósito. O primeiro é quanto ao tipo de construção que focalizamos: as construções nominalizadas, as decorrentes do processo de formação de um nome ou expressão nominal a partir de uma base verbal ou adjetival, e o seu impacto na significação de racismo. O segundo recorte diz respeito ao modo como concebemos, enunciativamente, as construções nominais, qual seja, como ―formações‖, por buscarem captar o processo de constituição das construções nucleadas por nomes. Em outras palavras, trata-se de formações articulatórias cujas razões enunciativas não prescindem das regularidades estruturais, segundo Dias (2015g), mas estão centradas numa ordem da materialidade do dizer cujo alcance é mais amplo e denso do que a horizontalidade das relações sintagmáticas. Nesse sentido, as formações nominais abarcam não uma referência, mas um domínio referencial capaz de produzir as condições para os recortes do sentido. Nasformações, os objetos do dizer adquirem pertinência na relação entre a memória e as demandas do presente no acontecimento enunciativo (DIAS, 2013h). As nominalizações são pensadas, portanto, dentro dessa concepção enunciativa das 42 formações articulatórias, considerando que é em função dos referenciais que há os agenciamentos de formas. Uma análise preliminar dos dados mostra que, no acontecimento enunciativo, a nominalização participa da predicação alocando o racismo no lugar do não confronto, da neutralidade. Nesse lugar em que o racismo é posto, outros dizeres ganham pertinência dada a relação entre a atualização e memória, e determinam, desse modo, as significações. Nas formações nominais, a predicação vai agir sobre o lugar sujeito, ocupado ou não por uma nominalização, e vai explorar as potencialidades referenciais desse sujeito, produzindo uma certa intelegibilidade sobre ele. Os referenciais, nesse sentido, vão constituir a significação de racismo. 43 1.2 Área 2 – Linguística do Texto e do Discurso GESTOS DE AUTORIA E MOVIMENTO DOS SENTIDOS NAS GRAMÁTICAS CONTEMPORÂNEAS DO PORTUGUÊS NO BRASIL Agnaldo Almeida de Jesus (UFMG) Linha de pesquisa: Análise do discurso Orientadora: Glaucia Muniz Proença Lara Coorientadora: Eni de Lourdes Puccinelli Orlandi E-mail: agn.al@hotmail.com Neste trabalho buscamos compreender o que significa, no século XX, com o estabelecimento da NGB (1959) e a disciplinarização (1965) e consolidação da Linguística no Brasil, ser autor de uma Gramática? E como essa história continua no início do século XXI? A questão central que norteia nossa investigação é: como os gestos de autoria discursivizados nos elementos paratextuais de gramáticas contemporâneas do português significam a função-autor gramático brasileiro na segunda metade do século XX e, sobretudo, no início do século XXI? Para compreender essa indagação maior, outras se abrem: (i) ao se colocarem na origem do dizer (função- autor), como os gramáticos significam a gramática (e sua forma), a língua, o seu ensino e, significando-os, significam a si mesmos e à sua posição-sujeito?; (ii) se diferentes versões (formulações) de um texto constituem novas materialidades significativas, como se estabelece o percurso enunciativo dos gramáticos nas reedições de sua gramática? Para tanto, nosso objeto de análise são os elementos paratextuais, ou seja, aquilo que margeia (cerca, prolonga) um texto ―principal‖, oferecendo-lhe uma perspectiva de entrada, sendo imputado ao próprio autor ou a terceiros (GENETTE, 2009), de gramáticas contemporâneas do português, publicadas no Brasil, sendo elas de diferentes filiações teóricas e ideológicas e tendo na NGB o seu limiar. Especificamente, exporemos nosso olhar-leitor aos títulos, prefácios, apresentações e introduções desses instrumentos linguísticos. Assim, às questões acima, acrescentamos 44 outra: (iii) no paratexto gramatical, quem enuncia e a partir de que posições-sujeito? O próprio autor ou terceiros, os quais contribuem para construção da imagem de autor, como propõe Maingueneau (2010a, 2010b)? Teórico-metodologicamente, respaldamo- nos em trabalhos voltados para a História das Ideias Linguísticas, perspectiva segundo a qual a história das ideias é produzida em determinadas condições e inclui o político e a questão da ética, afetando o modo de funcionamento dos princípios que regem a vida social; e na Análise de Discurso proposta por Michel Pêcheux, na França, e desenvolvida a partir dos trabalhos de Eni Orlandi, no Brasil. Para esse viés teórico, sujeito e sentidos se constituem na articulação da língua com a história, intervindo aí o imaginário e a ideologia. Acrescentamos a esse referencial as considerações de outros autores, como Foucault e Maingueneau, sobre a noção de autor, que nos é nuclear. Nossa hipótese geral é a de que, com a assunção da autoria, identificando-se com determinadas posições-sujeito, os gramáticos recortariam o interdiscurso (saber discursivo) de diferentes modos, produzindo, por meio de seus gestos de intepretação, diferentes efeitos de sentido no que tange à questão da gramática (e sua forma), da língua, do ensino e de sua própria posição. Ao considerarmos que um mesmo texto é atravessado por diferentes formações discursivas (regiões do interdiscurso) que, por sua vez, são determinadas por formações ideológicas postas em jogo sócio-historicamente, acreditamos que os gestos de autoria de um mesmo gramático identificar-se-iam com uma ou mais de uma posição-sujeito, visto que a identidade de uma formação discursiva é reciprocamente delimitada por outras, podendo significar aquilo mesmo que ela nega. Palavras-chave: autoria gramatical; análise de discurso; gramatização; língua portuguesa; história das ideias linguísticas. 45 DISCURSO DA “SANTIDADE” NAS NARRATIVAS DE VIDA DE SÃO FRANCISCO DE ASSIS E DE FRANCISCO XAVIER Aline Torres Sousa Carvalho (UFMG) Linha de pesquisa: Linguística do Texto e do Discurso/Análise do Discurso Orientador: Ida Lucia Machado E-mail: alinetorres_letras@yahoo.com.br Este trabalho tem como tema o discurso da ―santidade‖ nas narrativas de vida de São Francisco de Assis e de Francisco Xavier (Chico Xavier), dois homens de diferentes credos, épocas, culturas e nacionalidades. O objetivo é analisar os procedimentos e as estratégias discursivas da construção de uma imagem de ―santidade‖ atribuída a ambos nas obras Vida de um homem: Francisco de Assis (FRUGONI, 2011) e As vidas de Chico Xavier (MAIOR, 2003). Para tanto, pretende i) estabelecer algumas interfaces entre a Análise do Discurso de vertente Semiolinguística e a Narrativa de Vida; ii) definir o conceito de santidade a ser considerado na pesquisa, tendo em vista nosso referenciais teórico-metodológicos e nosso corpus; iii)Analisar as estratégias discursivas presentes nas referidas obras, tais como, os efeitos de real, de ficção e de gênero e a patemização; vi) Identificar as diferentes imagens atribuídas aos protagonistas nas narrativas de vida, observando em que medida tais imagens corroboram para a construção de uma imagem de ―santidade‖. Nossas hipóteses são as seguintes: i) nas narrativas de vida de São Francisco de Assis e de Francisco Xavier, ocorreria a construção da imagem de ―santidade‖ para ambos, independentemente de suas respectivas religiões ou credos; ii) esta imagem estaria vinculada a ações e valores como renúncia aos bens materiais, caridade e doação; iii) haveria, em ambas as obras, uma organização da estrutura narrativa que valorizaria os dois personagens como heróis da história, os quais agiriam motivados por um bem comum ao seu povo; iv) os imaginários sociodiscursivos, os saberes culturais perceptíveis na construção discursiva 46 das duas narrativas de vida mostrar-nos-iam pontos em comum entre catolicismo e espiritismo, passado (século XII) e presente (século XXI), Brasil e Itália (Europa), de modo que a construção da imagem de santidade esmaeceria, de certo modo, essas dicotomias. Os resultados obtidos até o momento revelam que: i) os discursos de Frugoni (2011) e de Maior (2003) apresentam efeitos discursivos que exploram tanto os dados biográficos dos respectivos protagonistas, quanto a ficcionalização, que culmina na presença de uma literatura não realista, fantástica; ii) dentre as estratégias discursivas pelos autores encontra-se a patemização, sobretudo, o efeito patêmico da dor; iii) é atribuída uma imagem de carisma (CHARAUDEAU, 2012) a São Francisco de Assis e a Francisco Xavier; iv) cada uma das narrativas de vida atribui ao seu protagonista a imagem de homem extremamente generoso e desprendido, que dedicou sua vida ao bem dos outros; que se dedicou com afinco à caridade, à doação,à pobreza, enfim, que abdicou de sua própria vida em função de fazer o bem ao próximo, características que, conforme nossas concepções, definiriam um santo. Palavras-chave: análise do discurso; narrativa de vida; santidade. 47 MOVIMENTOS AUTORAIS DE PROFESSORES DE LÍNGUA PORTUGUESA NAS REDES DE ATIVIDADES FORMATIVAS DO COTIDIANO ESCOLAR Andréia Godinho Moreira (PUC MINAS) Linha de Pesquisa: Enunciação e Processos Discursivos Orientadora: Profa. Dra. Juliana Alves Assis (deiagm2007@gmail.com) RESUMO: Este projeto de pesquisa de doutorado pretende lançar foco sobre a prática pedagógica de professores de língua materna, que lecionam em uma escola pública da Rede Municipal de Ensino de Belo Horizonte (RME/BH), no âmbito do ensino fundamental. A investigação que se propõe ocorrerá por meio da observação de atividades docentes, tais como aulas, reuniões de formação continuada e em serviço, reuniões com os pares, conversas informais com os colegas a respeito do objeto de ensino e aprendizagem - a língua materna -, produções escritas, momentos de planejamento individual e/ou coletivo e outros eventos que ocorrem em âmbito escolar. O objetivo principal desta proposta é tentar compreender de que maneira os professores se constituem como autores de um projeto didático-pedagógico que tende a se materializar em diversos movimentos empreendidos por esses profissionais em sua prática cotidiana. Este estudo opera com a hipótese de que as redes de atividades de formação das quais professores de língua portuguesa fazem parte estão intrinsecamente ligadas à maneira como esses profissionais se constituem como a(u)tores de suas aulas. Assim, por meio desta investigação, pretende-se buscar respostas para os questionamentos que se fazem presentes no momento, a saber: É possível apreender movimentos autorais nas práticas pedagógicas dos professores colaboradores da pesquisa? Esses docentes se reconhecem como autores de tais práticas, como sujeitos que tecem reflexões sobre a língua e auxiliam os estudantes a fazerem o mesmo? Em que medida as redes de atividades formativas das quais esses professores participam influenciam sua prática pedagógica? Há ecos de documentos parametrizadores nas aulas 48 dos colaboradores? Esses professores tentam a trabalhar conforme ditam os documentos parametrizadores ou tendem a desenvolver uma postura crítica, reflexiva, ao levar em conta esses textos, não deixando, porém, de se constituirem como autores de sua aula? Outras perguntas poderão ser feitas adiante e, com certeza, se multiplicarão à medida que mais luzes forem lançadas sobre o objeto de estudo deste projeto de pesquisa. Palavras-chave: Movimentos autorais; redes de formação; ensino de Língua Portuguesa. 49 UM SOPRO DE EMPODERAMENTO NAS OBRAS DE NÍSIA FLORESTA: ENTRE O REAL E A FICÇÃO Bárbara Amaral da Silva (UFMG) Linha de pesquisa: Linguística do texto e do discurso Orientadora: Profa. Dra. Helcira Maria Rodrigues de Lima E-mail: barbara.amaral87@gmail.com Resumo: Nísia Floresta Brasileira Augusta, nome pouco conhecido para a maioria das pessoas e figura pouco reconhecida na história de luta pelos direitos das mulheres. Nísia foi a primeira feminista brasileira, viveu no século XIX e foi peça fundamental para o início do empoderamento feminino, assunto muito discutido atualmente. O tema de nosso trabalho diz respeito, pois, a este primeiro feminismo e a esta primeira feminista. Nesse sentido, propomo-nos a discutir questões como: o que é empoderamento feminino? Como essse empoderamento aparece nas obras de Nísia Floresta e como ele é construído? Quais imagens Floresta constrói para si mesma? Essas imagens de si condizem com aquelas projetadas por sua real vivência? Seria possível considerá-la uma mulher empoderada? Quais imagens Nísia constrói para as mulheres em seus textos? Qual seria o modelo ideal de mulher representado nas obras de Nísia? Com o objetivo de refletir sobre essas e outras questões, sob à luz da Análise do Discurso, retomaremos noções basilares da retórica antiga, como ethos, pathos e logos, a partir da releitura de autores contemporâneos, como Ruth Amossy e Patrick Charaudeau. Isso nos permitirá verificar as imagens de si e do outro nas obras analisadas e observar a construção argumentativa do discurso nisiano, tanto em suas obras didático-pedagógicas quanto em algumas de suas ficções. Veremos, pois, que o dialogismo se fará presente todo o tempo na relação real-ficção estabelecida entre os corpora e a vida de Nísia, os quais serão estudados principalmente, respectivamente, com base em Bakhtin e Constância Lima 50 Duarte. Esta pesquisadora foi a principal responsável por revelar o mérito de Nísia Floresta, na Literatura brasileira. Com esta pesquisa, acreditamos contribuir para a disseminação das obras e do pensamento de Nísia e, também, para os estudos feministas na Análise do discurso que, por vezes, menciona grandes nomes estrangeiros, como Simone de Beauvoir e Judith Butler, mas parece se esquecer da importância de figuras como a de Nísia para o início do feminismo brasileiro. Por fim, ainda discorreremos sobre a relevância do contexto de produção dessas obras para sua eficaz análise, uma vez que, hoje, poderíamos considerar o empoderamento nisiano como insuficiente, entretanto, para aquela época, suas ideias representariam uma transgressão audaciosa. Acreditamos ainda que alguns valores tradicionais cristãos se fariam presentes no discurso de Floresta, contribuindo para inibir um maior avanço de ideias. Palavras-chave: Imagens de si; Imagens do outro; Argumentação; Dialogismo; Nísia Floresta. 51 VOSSA EXCELÊNCIA ME PERMITE UM APARTE? A CONSTRUÇÃO ARGUMENTATIVA DO DISCURSO POLÊMICO NOS DEBATES ORAIS DURANTE JULGAMENTO DO MENSALÃO Daniel Monteiro Neves (UFMG) Linha de pesquisa: Linguística do Texto e do Discurso Orientador: Helcira Lima E-mail: dmneves@gmail.com O trabalho pretende analisar, sob o viés da Análise do Discurso em articulação com teorias linguísticas, retórico-argumentativas e pragmáticas afins, a produção discursiva em debates travados no Supremo Tribunal Federal. O intuito é investigar a utilização de determinados argumentos em momentos e circunstâncias específicas dentro de reuniões colegiadas do STF, com atenção na eventual omissão das temáticas discutidas para além dos debates orais. O corpus é composto por interações verbais durante o julgamento da Ação Penal nº 470, conhecida como o julgamento do ―mensalão‖. Em meio aos votos que compõem o acórdão elaborado pelo colegiado, houve manifestações, às quais podemos chamar de apartes, que geraram, com frequência, debates e produziram enunciados menos controlados, à medida que convocaram, quase sempre, argumentos sonegados nos votos escritos. Além disso, os debates, muitas vezes, foram ocultados das transcrições de voto, deliberadamente. Se, sob o ponto de vista discursivo, tal atitude é questionável, sob o prisma legal ela não só é aceitável, como daria azo a determinadas decisões. Alguns autores dão relevância aos componentes silenciados dentro de um raciocínio entimemático, dizendo que, neles, reside muito da força persuasiva do argumento. Outrossim, todas omissões, silenciamentos, apagamentos no nível do enunciado, são, para a Análise do Discurso, dotados de um sentido que é inerentemente atrelado ao sujeito que cala, que apaga, que silencia – e, fazendo-o, aponta, 52 invariavelmente, para o movimento das significações. Além do necessário resgate histórico da noção de debate e da pretensão de situá-lo, como gênero discursivo, nos estudos discursivos contemporâneos, intentamos compreender os mecanismos
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