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DISSERTAAÔÇíAãÆO-LUANA

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS 
FACULDADE DE FARMÁCIA 
 
 
 
 
 
 
 
LUANA ANDRADE SIMOES 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FATORES ASSOCIADOS À PREVALÊNCIA DA COINFECÇÃO HIV/SÍFILIS EM 
PESSOAS NO INÍCIO DA TERAPIA ANTIRRETROVIRAL 
EM BELO HORIZONTE - MG 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Belo Horizonte 
2021 
 
 
LUANA ANDRADE SIMOES 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FATORES ASSOCIADOS À PREVALÊNCIA DA COINFECÇÃO HIV/SÍFILIS EM 
PESSOAS NO INÍCIO DA TERAPIA ANTIRRETROVIRAL 
EM BELO HORIZONTE - MG 
 
 
 
 
 
 
Dissertação apresentada ao Programa de 
Pós-Graduação em Medicamentos e As-
sistência Farmacêutica da Faculdade de 
Farmácia da Universidade Federal de Mi-
nas Gerais, como requisito parcial à obten-
ção do Grau de Mestra em Medicamentos 
e Assistência Farmacêutica. 
 
Área de concentração: Medicamentos e 
Assistência Farmacêutica. 
 
Orientadora: Profa. Dra. Maria das Graças 
Braga Ceccato. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Belo Horizonte 
2021 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FOLHA DE APROVAÇÃO 
 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 
Agradeço em especial a Deus, por cuidar de mim em todos os momentos difíceis du-
rante a caminhada nesse projeto de vida. Também agradeço à minha família e ami-
gos. 
 
Ao meu pai que não se encontra mais em nosso meio: Jurandi Raposo Simões, sau-
dades. À minha mãe, Maria Helena Andrade Simões, mulher batalhadora e exemplo 
de vida. Amo vocês. 
 
Ao meu companheiro Anderson Luiz que sempre me incentivou a encarar mais esse 
desafio. 
 
À minha linda e amável filha Valentina, que chegou para abrilhantar ainda mais a mi-
nha vida. Na reta final do mestrado ela trouxe ainda mais luz e alegria; 
 
À prof. e orientadora Dra. Maria das Graças Braga Ceccato, que me aceitou com tanto 
afeto e carinho no Projeto ECOART e esteve disponível a todo momento durante essa 
jornada; 
 
À colega, doutoranda, Jullye Campos Mendes, que sempre se disponibilizou em aju-
dar nesse projeto com todo carinho e dedicação; 
 
Aos professores e toda equipe da secretaria da Pós-graduação; especialmente ao 
servidor Silas, que sempre se mostrou disponível a nos dar suporte; 
 
Ao grupo de pesquisa ECOART por dividir os conhecimentos e contribuir para meu 
crescimento acadêmico; 
 
Aos pacientes atendidos nos serviços de referência em HIV por proporcionar o cum-
primento deste trabalho; 
 
 
 
 
RESUMO 
 
 
As infecções sexualmente transmissíveis (IST) são consideradas um dos maiores pro-
blemas de saúde pública mundial. Dentre elas destacam-se a sífilis e o vírus da imu-
nodeficiênica humana (HIV) que possuem via de transmissão, diagnóstico, faixa etária 
e grupos de população semelhantes. A infecção pelo Treponema pallidum pode alterar 
a carga viral e o número de linfócitos TCD4+, resultando em uma maior condição de 
morbidade e mortalidade nas pessoas com HIV. O HIV e a sífilis são de interesse 
especial para gestores e profissionais da saúde pública, possuem boletins específicos 
para vigilância epidemiológica e são de notificação compulsória. O objetivo ao realizar 
o estudo foi avaliar os fatores associados à prevalência da coinfecção HIV/sífilis em 
pessoas no início da terapia antirretroviral no município de Belo Horizonte, Minas Ge-
rais. Este é um estudo de corte seccional, parte de uma coorte intitulado Projeto ECO-
ART, conduzido em três serviços públicos de referência na assistência especializada 
ao HIV/AIDS em Belo Horizonte. Os critérios de elegibilidade foram: indivíduos no iní-
cio de terapia antirretroviral (TARV); idade ≥ 16 anos; em acompanhamento em um 
dos três serviços de referência e que concordaram e assinaram o Termo de Consen-
timento Livre Esclarecido e de Assentimento. Dados sociodemográficos, comporta-
mentais, clínicos, relacionadas ao tratamento farmacológico e ao serviço foram obti-
dos de entrevista basal, prontuário e Sistema de Controle de Medicamentos e Exa-
mes. A coinfecção HIV/sífilis esteve presente em 10,6% dos indivíduos e dentre as 
IST registradas, a sífilis foi predominante. Observou-se que 81,5% dos indivíduos 
eram do sexo masculino, média de idade de 34,7 anos (DP=10,9); predominância de 
faixa etária de 20 a 34 anos (53,4%); 79,7% eram solteiros(as), divorciado(as) ou vi-
úvo(as); 48,9% se autodeclaram pardos e 38,9% possuíam de 10 a 12 anos de esco-
laridade. Na análise de regressão logística multivariada os fatores associados a pre-
valência da coinfecção HIV/sífilis foram, o uso de álcool; o diagnóstico de outras IST; 
o tratamento com a TARV em dias e o esquema antirretroviral contendo Dolutegravir. 
O conhecimento sobre os fatores associados à prevalência da coinfecção HIV/sífilis 
pode subsidiar a tomada de decisões dos profissionais inseridos no cuidado, direcio-
nando às práticas sexuais seguras para prevenção da sífilis na pessoa com HIV. 
Palavras-chave: HIV. Coinfecção. Infecções sexualmente transmissíveis. Sífilis. 
 
 
ABSTRACT 
Sexually transmitted infections (STIs) are considered to be one of the biggest public 
health problems worldwide. Among them, syphilis and HIV, which have a transmission 
route, diagnosis, age group and similar population groups, stand out. Infection with 
Treponema pallidum can alter the viral load and the number of TCD4 + lymphocytes, 
resulting in a greater condition of morbidity and mortality in people with HIV. HIV and 
syphilis are of special interest to managers and public health professionals, have spe-
cific bulletins for epidemiological surveillance and are mandatory to report. The objec-
tive in conducting the study was to evaluate the factors associated with the prevalence 
of HIV / syphilis coinfection in people at the beginning of antiretroviral therapy in the 
city of Belo Horizonte, Minas Gerais. This is a cross-sectional study, part of a cohort 
entitled Project ECOART, conducted in three public services of reference in special-
ized care for HIV / AIDS in Belo Horizonte. The eligibility criteria were: individuals start-
ing antiretroviral therapy (ART); age ≥ 16 years; being followed up in one of the three 
reference services and who agreed and signed the Informed Consent and Assent 
Form. Sociodemographic, behavioral, clinical data related to pharmacological treat-
ment and the service were obtained from baseline interviews, medical records and the 
Drug and Examination Control System. HIV / syphilis coinfection was present in 10.6% 
of the individuals and among the registered STIs, syphilis was predominant. It was 
observed that 81.5% of the individuals were male, with a mean age of 34.7 years (SD 
= 10.9); predominance of the 20- to 34-year-old age group (53.4%); 79.7% were single, 
divorced or widowed; 48.9% declared themselves brown and 38.9% had 10 to 12 years 
of schooling. In the multivariate logistic regression analysis, the factors associated with 
the prevalence of HIV / syphilis co-infection were, the use of alcohol; the diagnosis of 
other STIs; treatment with ART in days and antiretroviral regimen containing Dolute-
gravir. Knowledge about the factors associated with the prevalence of HIV / syphilis 
co-infection can support decision-making by professionals involved in care, leading to 
safe sexual practices for the prevention of syphilis in people with HIV. 
Keywords: HIV. Coinfection. Sexually transmitted infections. Syphilis. 
 
 
LISTA DE ILUSTRAÇÕES 
 
 
Figura 1 - Distribuição de novas infecções por HIV na população global, 2018. . 16 
Figura 2 - Tendência dos casos de HIV e Aids (2014 a 2018), em Minas 
Gerais. .................................................................................................................. 18 
Figura 3 - Mapa de casos notificados de HIV/aids em Minas Gerais, 2019. ....... 18 
Figura 4 - Mandala da prevenção combinada ..................................................... 21 
Figura 5 - Taxa de detecção de sífilis adquirida. ...............................................245 
Figura 6 - Diagrama dos indivíduos incluídos no estudo ..................................... 45 
 
 
Quadro 1 - Manifestações clínicas de sífilis adquirida, de acordo com o tempo de 
infecção, evolução e estágios da doença. ............................................................ 26 
Quadro 2 - Métodos diagnósticos de sífilis: exames diretos ................................ 27 
Quadro 3 - Provas sorológicas – Testes Treponêmicos ...................................... 28 
Quadro 4 - Provas sorológicas - Testes não Treponêmicos ............................... 29 
Quadro 5 - Estudos comparativos da prevalência e fatores associados à 
coinfecção HIV/sífilis. ........................................................................................... 35 
 
 
 
 
LISTA DE TABELAS 
 
 
Tabela 1 - Características sociodemográficas, clínicas, comportamentais e hábitos 
de vida, relacionadas ao tratamento e aos serviços de acompanhamento da PVHIV 
atendidas nos três SAEs, Belo Horizonte, Minas Gerais, 2015-2018 (n=459) ..... 47 
Tabela 2 - Características clínicas relacionadas à coinfecção HIV/sífilis nas PVHIV 
atendidas em Serviços de Assistência Especializada, Belo Horizonte, Minas 
Gerais, 2015-2018 (n=49) .................................................................................... 53 
Tabela 3 - Análise univariada dos fatores associados à coinfecção HIV/sífilis na 
PVHIV atendidas nos três SAEs, Belo Horizonte, Minas Gerais, 2015-2018 
(n=459). ................................................................................................................ 54 
Tabela 4 - Análise multivariada dos fatores associados à coinfecção HIV/sífilis na 
PVHIV atendidas nos três SAEs, Belo Horizonte, Minas Gerais, 2015-2018 
(n=459). ................................................................................................................ 58 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 
 
Aids Síndrome da Imunodeficiência Adquirida 
ARV Antirretroviral 
CDC Centro de Controle e Prevenção de Doenças 
HIV Vírus da Imunodeficiência Humana 
HPV Papiloma Vírus Humano 
HSH Homens que fazem sexo com homens 
IST Infecções Sexualmente Transmissíveis 
TCD4+ Linfócitos do tipo TCD4 
MG Minas Gerais 
OMS Organização Mundial da Saúde 
PCDT Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas 
PVHIV Pessoa vivendo com vírus da imunodeficiência humana 
 
SAE Serviço de Assistência Especializada 
SICLOM Sistema de Controle Logístico de Medicamentos 
SINAN Sistema Nacional de Agravos de Notificação 
SISCEL Sistema de Controle de Exames Laboratoriais 
SRA Síndrome Retroviral Aguda 
SUS Sistema Único de Saúde 
TARV Terapia Antirretroviral 
UNAIDS Programa Conjunto das Nações Unidas em HIV/AIDS 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................12 
2 REVISÃO DA LITERATURA ............................................................................................................. 15 
2.1 ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS DO HIV – BREVE HISTÓRICO .............................................. 15 
2.2 História natural da infecção e aspectos clínicos do HIV ................................................................. 19 
2.3 A Terapia antirretroviral para o tratamento da infecção pelo HIV ................................................... 20 
3 ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS DA SÍFILIS – BREVE HISTÓRICO ........................................... 23 
3.1 Agente etiológico e via de transmissão da sífilis............................................................................. 25 
3.2 Manifestações clínicas, diagnóstico e tratamento da sífilis. ........................................................... 25 
3.3 Métodos diagnósticos da sífilis ....................................................................................................... 27 
3.3.4 Exame direto ................................................................................................................................ 27 
3.3.5 Provas Sorológicas ...................................................................................................................... 28 
3.4 Tratamento da sífilis ........................................................................................................................ 30 
4 PREVALÊNCIA E FATORES ASSOCIADOS À COINFECÇÃO HIV/ SÍFILIS NO CONTEXTO 
NACIONAL E INTERNACIONAL. ........................................................................................................ 32 
4 OBJETIVOS ....................................................................................................................................... 37 
4.1 Objetivo geral .................................................................................................................................. 37 
4.2 Objetivos específicos ...................................................................................................................... 37 
5.1 Delineamento e local do estudo ...................................................................................................... 38 
5.2 População do estudo ....................................................................................................................... 38 
5.2.1 Coleta dos dados ......................................................................................................................... 38 
5.2.2 Critérios de inclusão ..................................................................................................................... 39 
5.2.3 Seleção da amostra ..................................................................................................................... 39 
5.3 Procedimentos éticos ...................................................................................................................... 40 
5.4 Variáveis .......................................................................................................................................... 40 
5.4.1 Variável dependente .................................................................................................................... 40 
5.4.2 Variáveis independentes .............................................................................................................. 40 
6 ANÁLISE ESTATÍSTICA ................................................................................................................... 43 
7 RESULTADOS ................................................................................................................................... 45 
7.1 Participantes .................................................................................................................................... 45 
7.2 Características sociodemográficas, clínicas, comportamentais e hábitos de vida, de tratamento e 
serviços de acompanhamento da PVHIV. ............................................................................................ 46 
7.3 Características clínicas relacionadas à sífilis nas PVHIV (n=49) ................................................... 52 
7.4 Fatores associados à coinfecção HIV/sífilis .................................................................................... 54 
8 DISCUSSÃO ...................................................................................................................................... 60 
9 LIMITAÇÕES DO ESTUDO ............................................................................................................... 64 
10 CONCLUSÃO .................................................................................................................................. 65 
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................................... 66 
APÊNDICES ..........................................................................................................................................74 
 
12 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
As infecções sexualmente transmissíveis (IST) são consideradas um dos maiores pro-
blemas de saúde pública no Brasil e no mundo e representam 17% das despesas 
econômicas mundiais devido aos custos do tratamento (OMS, 2018). 
A prevenção e o controle das IST têm benefícios individuais e públicos, dentre eles a 
diminuição dos riscos da transmissão do Vírus da Imunodeficiência Humana Adquirida 
(HIV) e complicações como doenças pélvicas inflamatórias, infertilidade, gravidez ec-
tópica e infecções congênitas (OMS, 2018). 
As IST atingem um alto índice entre as pessoas sexualmente ativas e na maioria das 
vezes ocorrem de forma silenciosa, o que contribui para a sua disseminação. Dentre 
as IST, a sífilis, causada pelo Treponema Pallidum e o HIV/aids são de interesse es-
pecial para gestores e profissionais da saúde pública e são infecções relatadas em 
boletins específicos com intuito de realizar a vigilância epidemiológica desses agra-
vos. Além disso, são doenças de notificação compulsória, sendo que a aids é de no-
tificação compulsória desde 1986, a infecção pelo HIV desde 2014 e a sífilis adquirida 
desde 2010 (BRASIL, 2020). 
A sífilis e o HIV/aids possuem via de transmissão, diagnóstico, imunidade, faixa etária 
e população (populações chave) semelhantes. A infecção pelo T. pallidum pode au-
mentar a carga viral e diminuir o número de linfócitos TCD4+, resultando em uma 
condição maior de morbidade e mortalidade na pessoa que vive com HIV. Além disso, 
a presença do HIV pode afetar a transmissão da sífilis, seu curso clínico, resposta ao 
tratamento e alterar seu diagnóstico sorológico (SÖNMEZ et al., 2018; MORA et al., 
2019). 
O Brasil possui políticas de enfrentamento às infecções por HIV e T. pallidum. No 
tocante ao tratamento de ambos os agravos, o Sistema Único de Saúde (SUS) dispo-
nibiliza a benzilpenicilina benzatina para tratamento da sífilis, que passou a ser com-
ponente estratégico na Relação Nacional de Medicamentos Essenciais em 2017. Por 
sua vez, é recomendado o uso dos antirretrovirais (ARV) para todas as pessoas vi-
vendo com HIV/aids, independentemente do seu estágio clínico ou imunológico (BRA-
SIL, 2018). 
13 
 
 
Reconhecendo que as IST possuem modo de transmissão e determinantes sociais 
comuns, ficou definido na 69ª Assembleia Mundial da Saúde, estratégias e ações de 
saúde até 2030, dentre elas, a redução para menos de 50 casos de sífilis congênita 
por 100 mil nascidos vivos em 80% dos países; redução de 90% na incidência global 
do Treponema pallidum; redução de 90% para a Neisseria gonorrhoeae e 90% de 
cobertura vacinal do Papiloma Vírus Humano (HPV) em pelo mais de 80% dos países 
(OMS, 2018) 
Em relatório no ano de 2018, a Organização Mundial de Saúde (OMS) destacou que 
as IST, mundialmente não estariam diminuindo, entretanto, ocorrendo uma lenta dimi-
nuição da sífilis congênita. Além disso, a infecção pelo HIV, hepatite viral e outras IST 
causam 2,7 milhões de mortes por ano (OMS, 2018). 
Resultados de um estudo brasileiro com pessoas que usam crack mostraram preva-
lência da HIV de 6,9% e sífilis de 29,8%. A prevalência do HIV foi 17 vezes maior do 
que a presumida para a população brasileira (0,4%). A maioria dos usuários compar-
tilhavam cachimbos e canudos, tinha tatuagens e piercings e trocavam sexo para con-
seguir o crack, o que torna maior a vulnerabilidade para a infecção pelo HIV e sífilis 
(BRASIL, 2018). 
Outro estudo nacional com população em situação de rua atendidos no albergue pú-
blico de Goiânia mostrou que as prevalências para HIV e sífilis, foram de 3,9% e 
22,0%, respectivamente. O consumo de álcool diário e sexo com homens que fazem 
sexo com homens (HSH) foram variáveis associadas a infecção pelo HIV e ter um 
passado de IST; testagem prévia para sífilis e sexo com pessoas que usam drogas 
tiveram associação com sífilis (BRASIL, 2018). 
Em estudos brasileiros, os fatores associados à coinfecção HIV/sífilis foram idade, 
estado civil, sexo masculino, baixa escolaridade, multiplicidade de parceiros, presença 
de IST, uso irregular de preservativos, HSH, uso de álcool o círculo vicioso de drogas 
e sexo e a troca de sexo por drogas, dentre outros (AMORIM et al., 2019; FERREIRA-
JÚNIOR et al., 2018; LUPPI et al., 2018; SANTOS et al., 2017; SILVA et al., 2020). 
Em estudos internacionais, foram descritos como fatores associados à coinfecção 
HIV/sífilis, homens, migrantes, baixa escolaridade, renda, idade, múltiplos parceiros, 
uso irregular de preservativos, HSH, uso ilícito de drogas e presença de IST, dentre 
https://pesquisa.bvsalud.org/portal/?lang=pt&q=au:%22Amorim,%20Lilian%20Tânia%22
14 
 
 
outros (LIU Y et al., 2017; MORA et al., 2019; MUTAGOMA et al., 2017; WENG et al., 
2019). 
Diante do contexto apresentado, nesse estudo buscou-se avaliar os fatores associa-
dos à prevalência da coinfecção HIV/sífilis no sentido de identificar os aspectos da 
vulnerabilidade das pessoas que vivem com HIV. Poderá também nortear a tomada 
de decisão dos profissionais de saúde para prevenção de IST baseada em evidências. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
15 
 
 
2 REVISÃO DA LITERATURA 
2.1 ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS DO HIV – BREVE HISTÓRICO 
A infecção pelo HIV ainda continua sendo uma epidemia mundial e um importante 
problema de saúde pública. No Brasil, a epidemia é complexa quanto à distribuição e 
prevalência dos diferentes subtipos de HIV-1. A classificação atual do vírus é orde-
nada por tipos, grupos, subtipos, sub-subtipos e formas recombinantes. Os tipos dife-
rentes de vírus são o HIV-1 e o HIV-2. O subtipo B do HIV-1 tem sido descrito como 
o mais prevalente no Brasil. Diferenças genéticas e antigênicas foram descritas na 
família do subtipo B circulantes no Brasil, com a identificação de uma variante deno-
minada “B’’. Em algumas áreas do Brasil, a variante “B’’ mostrou-se muito prevalente 
com (57%) dos subtipos B detectados (BRASIL, 2018). 
Desde o início da epidemia, 32 milhões de pessoas morreram por causas relacionadas 
à aids. Pode-se afirmar que toda semana cerca de 6.000 mulheres jovens entre 15 e 
24 anos são infectadas pelo HIV. Na África Subsaariana, entre as meninas com idade 
entre 15 a 19 anos, três a cada quatro são novas infecções e as mulheres jovens de 
15 e 24 anos têm duas vezes mais chance de estarem vivendo com HIV do que ho-
mens (UNAIDS, 2020). 
A epidemia do HIV continua a impactar de forma desigual as populações-chave (trans-
gêneros, profissionais do sexo, pessoas que usam drogas injetáveis, HSH e prisionei-
ros – e seus parceiros) (UNAIDS, 2020). As populações-chave e seus parceiros 
sexuais foram responsáveis por 62% das novas infecções por HIV em adultos em todo 
o mundo em 2019. A distribuição da população global por novas infecções do HIV por 
subpopulações podem ser observadas na Figura 1 (UNAIDS, 2020). 
A prevalência de novas infecções do HIV entre gays e HSH é de 23% e o risco de 
infecção é 26 vezes maior do que em heterossexuais. Entre pessoas que usam drogas 
injetáveis a prevalência de novas infecções globais do HIV está em torno de 10% e 
risco de 29 vezes maior do que pessoas que não usam drogas. As trabalhadoras do 
sexo representam 6% das novas infecções globais e risco de 30 vezes maior de 
contrair HIV do que adultos entre 15 e 49 anos na população total. As pessoas trans-
gêneros representam 2% das novas infecções globais e risco de 13 vezes maior para 
pessoas transexuais do que para adultos entre 15 e 49 anos (UNAIDS, 2020). 
16 
 
 
Figura 1 - Distribuição de novas infecções por HIV na população global, 2019 
 
Fonte: Brasil (2019, p. 29); UNAIDS (2020) 
A mortalidade global por doenças relacionada à aids diminuiu em 39% desde 2010. O 
número anual de mortes de todas as faixas etárias caiu de 1,7 milhões em 2004 para 
690.000 mil em 2019. A TARV é apontada como o principal fator a favor da redução 
dessas mortes(UNAIDS, 2020). 
No Brasil, observou-se 43.941 novos casos de HIV e 37.161 casos de aids. No período 
de seis anos houve um declínio na taxa de detecção de aids, de 21,5/100 mil habitan-
tes, em 2012, para 17,8/100 mil habitantes, em 2019, levando uma diminuição de 
18,7%. O declínio nas referidas taxas se deve à estratégia do tratamento disponível 
para todos, implantada em todo o território nacional em 2013 (BRASIL, 2020). 
No que se refere a faixa etária, no período de 2007 a junho de 2020, observou-se a 
predominância para infecção pelo HIV na faixa entre 20 a 34 anos, porém entre os 
anos de 2014 e 2018 houve predominância da faixa etária entre 20 e 24 anos. Em 
relação a escolaridade, observou-se que a maioria dos infectados possuía o ensino 
médio completo (21,1%), apesar do alto percentual de casos ignorados (25,2%). So-
bre a cor/etnia auto referida para o sexo masculino detectou-se que 41,7% dos casos 
aconteceram entre brancos e 49,2% entre negros. Para o sexo feminino, 36,6% dos 
casos ocorreram entre brancas e 54,3% entre negras (BRASIL, 2020). 
Profissional do 
sexo;
8%
Pessoas que 
injetam drogas;
10%
Gays e HSH;
23%
Pessoas 
transgêneros;
2%
Clientes de 
profissionais do 
sexo e 
parceiros 
sexuais de 
outra 
população 
chave;
19%
Restante da 
população;
38%
17 
 
 
Quanto ao tipo de exposição ao HIV em indivíduos maiores de 13 anos no período de 
2007 a junho de 2020, entre os homens, verificou-se que 51,6% dos casos foram de-
correntes de exposição homossexual ou bissexual e 31,3% heterossexual, e 2,0% 
entre pessoas que usam drogas injetáveis. Entre as mulheres, para mesma faixa etá-
ria, nota-se que 86,5% dos casos se colocam na categoria de exposição heterosse-
xual e 1,9% na de pessoas que usam drogas injetáveis (BRASIL, 2020). 
Para as gestantes brasileiras no período entre 2000 a junho de 2020 foram notificadas 
134.328 gestantes infectadas pelo HIV. No ano de 2020, foram diagnosticadas 8.312 
gestantes, sendo 37,7% na região Sudeste. A taxa de detecção de gestantes com HIV 
apresentou aumento nos últimos dez anos, ampliando de 2,3 casos/mil nascidos vivos 
em 2009 para 2,8 casos/mil nascidos vivos em 2019. O aumento na taxa poderia ser 
devido a ampliação do diagnóstico no pré-natal e a melhoria da prevenção da trans-
missão vertical do HIV. A região Sul apresentou as maiores taxas de detecção no país, 
no ano de 2019, a taxa observada nessa região foi de 5,6 casos/mil nascidos vivos, 
sendo duas vezes maior que a taxa nacional (BRASIL, 2020). 
Desde a descoberta da infecção pelo HIV/aids nos anos 80, a epidemiologia da do-
ença sofreu grandes transformações no Brasil. De 1980 a junho de 2020, foram iden-
tificados 1.011.617 casos de aids, com uma concentração nas regiões Sudeste 
(51,0%) e Sul (19,9%), seguidas das regiões Nordeste (16,2%), Norte (6,7%) e Cen-
tro-Oeste (6,2%) (BRASIL, 2020). No período de dez anos (2009 a 2019), a taxa de 
detecção da aids teve queda de 17,2%, passando de 21,5 para 17,8 por 100 mil habi-
tantes. As regiões Sudeste e Sul apresentam maior variação na queda da taxa de 
detecção da aids no período dez anos (BRASIL, 2020). 
O cenário dos casos de HIV no estado de Minas Gerais revela que no período entre 
2014 e 2018 foram diagnosticados 24.808 novos casos. Na Figura 2 está apresentada 
o aumento no número de casos de PVHIV entre 2014 e 2018 e queda de 33,5% no 
número de casos de pessoas vivendo com aids entre 2015 e 2018, com diminuição 
na taxa de detecção de 10,9 para 6,9 por 100.000 habitantes (MINAS GERAIS, 2019). 
A maior concentração dos casos de HIV em Minas Gerais encontra-se entre a popu-
lação jovem, de 20 a 34 anos, sendo a categoria de exposição homossexual/ HSH a 
mais acometida. Desde o início da epidemia (1983 a 2018) foram notificados em Minas 
18 
 
 
Gerais, 68.508 casos de HIV/Aids, dos quais 13.517 evoluíram para óbito (MINAS 
GERAIS, 2019). 
Figura 2 - Tendência dos casos de HIV e Aids (2014 a 2018), em Minas Gerais. 
 
Fonte: Brasil, Boletim epidemiológico de HIV e aids do Estado de Minas Gerais, (2019, p. 23) 
Em 2018, a distribuição de notificação de casos de infecção pelo HIV por Unidade 
Regional de Saúde em MG, revela uma concentração de casos nas unidades mais 
populosas do Estado, tal como é a situação da região de Belo Horizonte (2013 casos), 
Uberlândia (533) e Divinópolis (332) (MINAS GERAIS, 2019). 
Nos casos de HIV por município, a incidência é mais elevada em municípios mais 
populosos e urbanizados, sendo, Belo Horizonte (22,9%), Uberlândia (8,4%), Juiz de 
Fora (4,9%) e Contagem, (3,7%) conforme observado na Figura 3 (MINAS GERAIS, 
2019). 
Figura 3 - Mapa de casos notificados de HIV/aids em Minas Gerais, 2019. 
 
Fonte: Brasil, Boletim epidemiológico de HIV/aids do Estado de Minas Gerais, (2019, p.27) 
Em relação a escolaridade, o estado de MG possui um elevado percentual de 
ignorados/brancos (25,15%) em 2018. A população com ensino médio completo tem 
o maior número de casos (1095), seguido do ensino médio incompleto (586 casos), 
19 
 
 
ensino superior completo (565 casos) e analfabetos (50 casos). Em relação à raça/cor, 
foram autodeclarados em sua maioria a raça/cor parda com um percentual de 43,4%, 
seguido pela branca 37,5% (MINAS GERAIS, 2019). 
2.2 História natural da infecção e aspectos clínicos do HIV 
O HIV surgiu no final do século XX, onde os primeiros casos foram observados nos 
Estados Unidos da América em meados de 1981, provocando a síndrome da imuno-
deficiência adquirida (aids), o que levou a uma epidemia que alcançou vários países 
no mundo. Tornou-se logo um grave problema de saúde pública, devido ao número 
de mortes provocadas pelas infecções oportunistas, cânceres e alterações neurológi-
cas com alto grau de letalidade (NUNES JÚNIOR SS; CIOSAK SI, 2018). 
O HIV é uma porção esférica que mede aproximadamente 120nm de diâmetro. Este 
vírus pertence ao gênero Lentivirus e à família Retroviridae (retrovírus) e evidencia 
em seu núcleo duas cópias de Ácido Ribonucleico de cadeia simples, encapsuladas 
por uma camada proteica, um capsídeo e um envelope externo. A infecção pelo HIV 
ocorre principalmente por meio de relações sexuais, tendo como porta de entrada as 
mucosas genitais e/ou retais. Dentro das primeiras horas de infecção, o vírus infecta 
linfócitos TCD4+, macrófagos e células dendríticas (BRASIL, 2018) 
O tempo entre a infecção pelo HIV e o aparecimento dos sinais e sintomas da infecção 
pessoas sem tratamento, varia em média dez anos. A fase aguda da infecção pelo 
vírus acontece nas primeiras semanas em que uma quantidade extra de Linfócitos 
TCD4+ é atraída para o foco da infecção, sendo dissipado para os linfonodos locais e 
posteriormente a nível sistêmico. Num período de 21 a 28 dias pós-exposição forma-
se um pico de viremia, o que ocasiona um declínio acentuado das células TCD4+. 
Durante a fase de disseminação sistêmica viral, na falta da TARV, o organismo ativa 
uma resposta imunológica celular considerada pouco relevante para extinguir a infec-
ção (TRIGO, 2016). 
A produção de linfócitos TCD8 específicos contra o HIV seguido da produção de anti-
corpos anti-HIV (resposta imune humoral) ocasionam uma queda da carga viral até 
um valor típico que varia em cada indivíduo levando à cronicidade da infecção pelo 
HIV. A resposta imune humoral produz anticorpos que têm um papel relevante na 
redução da disseminação do HIV na fase crônica da infecção (SOARES et al., 2014). 
20 
 
 
A infecção pelo HIV apresenta uma série de manifestações clínicas, chamada de Sín-
drome Retroviral Aguda. A maioria dos indivíduos apresenta o quadro de mononu-
cleose-like, com febre, adenopatias, faringite, rash cutâneo, mialgias, artralgias e ce-
faleias. Pode também surgir sintomas do aparelho digestivo, como náuseas, vômitos, 
diarreia, perda de peso e úlceras orais. Os sintomas podem desaparecer em aproxi-
madamente quatro semanas (OLIVEIRA et al., 2016).Após a infecção aguda ocorre a fase de latência com persistência de linfadenopatia. 
São frequentes as infecções respiratórias ou tuberculose, quando as células T CD4+ 
estiverem acima de 350 células/mm3. A candidíase oral é um sinal clínico prévio de 
imunodepressão grave sendo relacionada ao desenvolvimento de pneumonia. Tam-
bém são preditores e definidores da aids, a diarreia crônica, a febre sem origem defi-
nida, as infecções oportunistas e neoplasias respectivamente. As neoplasias mais co-
muns são sarcoma de Kaposi, linfoma não Hodgkin e câncer de colo uterino, em mu-
lheres jovens (LAZZAROTO et al., 2010). 
2.3 A Terapia antirretroviral para o tratamento da infecção pelo HIV 
O protocolo clínico e diretrizes terapêuticas (PCDT) para manejo da infecção pelo HIV 
em adultos, recomenda o início precoce da TARV. O início precoce da TARV traz 
importantes benefícios atrelados à diminuição da morbimortalidade em pessoas vi-
vendo com HIV, além disso, está relacionada à queda da transmissão da infecção e 
na redução da tuberculose, que é a principal causa de óbitos no Brasil e no mundo. A 
TARV está indicada para todas as PVHIV, incluindo as gestantes. Ainda é a opção 
terapêutica mais satisfatória e bem tolerada (BRASIL, 2018). 
O Brasil destacou-se internacionalmente por ser um dos primeiros países em desen-
volvimento a garantir o acesso gratuito e universal aos antirretrovirais. Desde 1996, 
foi regulamentada a distribuição gratuita de ARV, por meio da Lei 9.313 (BRASIL, 
1996). 
A primeira droga disponível para tratamento da infecção pelo HIV foi a zidovudina, em 
1987. Alguns anos mais tarde aprovou-se o uso do saquinavir. Ao longo dos anos 
foram surgindo vários medicamentos para o tratamento do HIV e uma das tendências 
mundiais foi a simplificação dos medicamentos (GRECO; PEDROSO; WESTIN, 
2015). 
21 
 
 
A TARV é constituída por medicamentos cuja principal finalidade é retardar a progres-
são da imunodeficiência e restaurar a resposta imunológica. Atua inibindo a replicação 
viral ou carga viral para menos de 50 cópias/mL de sangue (GRECO; PEDROSO; 
WESTIN, 2015). 
No Brasil, desde 2017, o esquema antirretroviral preferencial para início do tratamento 
recomendado deve ser a associação de lamivudina (3TC), tenofovir (TDF) e dolute-
gravir (DTG), sendo indicada a TARV independente da contagem das células TCD4+. 
O uso regular da TARV pode suprimir a carga viral, abaixo de 1000 cópias/ml, e tam-
bém manter a carga viral a níveis indetectáveis, abaixo de 50 cópias/ml. As pessoas 
vivendo com HIV em terapia antirretroviral e com carga viral indetectável há pelo me-
nos seis meses não transmite o vírus HIV por via sexual (RODGER et al., 2019). 
Atualmente, a política brasileira de enfrentamento ao HIV/aids reconhece outras inter-
venções como formas de prevenção combinada à infecção ao HIV. A prevenção com-
binada, recomenda o uso “combinado” de métodos preventivos, como testagens para 
HIV, uso de preservativos, imunizações, uso de profilaxia de Pré-exposição (PrEP) e 
Profilaxia Pós-Exposição (PEP) ao HIV (BRASIL, 2018). 
A terminologia “Prevenção Combinada” refere-se à união de muitas ações 
de prevenção às IST, HIV e às hepatites, conforme a Figura 4 que representa a man-
dala da prevenção combinada (BRASIL, 2018). 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 4 - Mandala da prevenção combinada 
22 
 
 
 
Fonte: Brasil, protocolo clínico e diretrizes terapêuticas para profilaxia pós-exposição (PEP) de risco à 
infecção pelo HIV, IST e hepatites virais (2018, p. 18) 
A PrEP consiste no uso de antirretrovirais capazes de impedir a invasão do vírus HIV 
nas células linfócitos TCD4+. Passou a ser distribuído em 2017 pelo Ministério da 
Saúde para as consideradas populações-chave (os HSH, pessoas transgênero e tra-
balhadoras(es) do sexo) (CARVALHO; AZEVEDO, 2019). 
O uso da PrEP está indicado para segmentos populacionais prioritários (gays e HSH, 
pessoas transgênero, profissionais do sexo e as parcerias sorodiscordantes para 
HIV). Possui critérios de indicação específicos como, relação sexual anal ou vaginal 
sem preservativo, episódios recorrentes de IST e uso repetido de PEP. A população 
prioritária que receber indicação da PrEP deve testar negativo para HIV, pois a profi-
laxia em indivíduo infectado poderá proporcionar cepas resistentes do vírus (BRASIL, 
2018). 
A efetividade da profilaxia é proporcional ao grau de adesão do indivíduo. O uso da 
medicação deve ser contínuo para conferir a proteção contra a infecção pelo HIV. A 
PrEP não previne outras IST, o que requer o uso sistemático de preservativos (BRA-
SIL, 2018). 
A Profilaxia Pós-Exposição de Risco (PEP), que também faz parte das políticas de 
prevenção do HIV, é um antirretroviral usado para reduzir o risco de infecção após 
exposição ao vírus. Esta estratégia é recomendada em casos de violência sexual, 
relação sexual desprotegida e acidente ocupacional. A medicação deve ser iniciada 
entre duas até 72 horas após a exposição, durante 28 dias (CARVALHO; AZEVEDO, 
2019). 
23 
 
 
Para indicação da PEP é critério que a pessoa exposta teste negativo para o HIV. A 
terapia indicada para a profilaxia é a combinação dos antirretrovirais TDF + 3TC + 
DTG, devido ao menor número de reações adversos e baixa interação medicamen-
tosa, levando a maior adesão ao tratamento (BRASIL, 2018). 
Durante o tratamento, a pessoa exposta deve usar preservativos, não compartilhar 
seringas e agulhas e não fazer doação de sangue e correlatos como formas de pre-
venção à infecção pelo HIV (BRASIL, 2018). 
3 ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS DA SÍFILIS – BREVE HISTÓRICO 
Historicamente, a sífilis passou a ser conhecida no final do século XV na Europa com 
propagação rápida por todo continente, tornando-a uma das principais pragas mundi-
ais. A teoria chamada de colombiana seria uma doença endêmica no Novo Mundo 
introduzida na Europa pelos marinheiros espanhóis que haviam participado da desco-
berta da América. A segunda teoria é que espécies de Treponemas endêmicos do 
continente africano teria sofrido mudanças e adaptações (SANTOS, 2017). 
O vocábulo se deu por meio de um poema escrito em 1530 pelo médico Girolamo 
Fracastoro com título “a sífilis ou mal gálico”, que conta a história de Syphilus, um 
pastor que amaldiçoou o deus Apolo e foi punido com a doença. Porém em 1546, o 
autor levantou a hipótese de que a infecção seria transmitida na relação sexual. Nessa 
época essa ideia não foi levada a sério e, apenas no final do século XIX, com Louis 
Pasteur, passou a ter crédito (SANTOS, 2017). 
No Brasil, a sífilis adquirida passou a ser uma doença de notificação compulsória 
desde 2010. A Assembleia Mundial de Saúde adotou a estratégia 2016–2021 do setor 
global de saúde e tem como uma de suas metas, a redução na incidência da sífilis em 
adultos. A Organização Mundial de Saúde estimou a prevalência da sífilis em 6,3 mi-
lhões de casos entre os anos 2009 a 2016 e prevalência global de 0,5% (BRASIL, 
2020). 
O Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) notificou em 2019 mais 
de 152 mil casos de sífilis adquirida e sua taxa de detecção foi ampliada de 34,1 em 
2015 para 72,8 casos por 100.000 habitantes em 2019. Uma possível explicação para 
24 
 
 
o aumento da taxa de detecção da sífílis nesse período pode ser a redução das sub-
notificações da doença e a ampliação da cobertura de testagem rápida para sífilis. Os 
casos de sífilis congênita somam mais de 24 mil casos com taxa de mortalidade de 
5,9 por 100.000 nascidos vivos (LUPPPI, 2020; BRASIL, 2020). 
No intervalo entre os anos de 2010 a junho de 2020, foram notificados no Sinan 
783.544 casos de sífilis adquirida, sendo a maioria mulheres negras e jovens, totali-
zando 14,3% de todos os casos de sífilis adquirida e em gestantes notificados em 
2019. Na figura 5 está representada a taxa de detecção de sífilis adquirida por região 
do país entre os anos 2010 e 2020 (BRASIL, 2020).Figura 5 - Taxa de detecção de sífilis adquirida. 
 
Fonte: BRASIL, Boletim epidemiológico de sífilis (2020, p.16) 
Em 2019, as notificações dos casos de sífilis adquirida tiveram maior ocorrência em 
indivíduos entre 20 e 29 anos (36,2%); com ensino médio (27,5%) e mulheres (58,9%). 
As notificações de sífilis em gestante registraram 55,7% na faixa etária de 20 a 29 
anos; com o ensino médio completo (23,5%), raça/cor parda (51,2%) e pretas (11,9%), 
o percentual de mulheres pretas e pardas somam 63,1% (BRASIL, 2020). 
Entre os anos de 1998 a junho de 2020 a sífilis congênita em menores de um ano de 
idade somavam 236.355 casos notificados. Em 2019, foram notificados 24.130 casos, 
a maioria (44,6%) na Região Sudeste. Nos últimos dez anos (2009-2018) observou-
se um aumento na taxa de incidência da sífilis congênita que passou de 2,0 para 9,0 
casos por 1.000 nascidos vivos, com redução para 8,2 casos em 2019. Também foram 
25 
 
 
registrados 173 óbitos por sífilis em crianças menores de um ano, o que corresponde 
a um coeficiente de mortalidade de 5,9 por 100.000 nascidos vivos (BRASIL, 2020). 
O cenário dos casos de sífilis em Minas Gerais revela que em 2019 nos meses de 
janeiro a setembro foram notificados 8.323 mil, destes 5.156 em homens e 3.167 em 
mulheres. Os maiores percentuais de casos estavam na faixa etária entre 20 e 34 
anos (MINAS GERAIS, 2019). 
Dentre as capitais mineiras que apresentam taxa de detecção de sífilis adquirida maior 
que a nacional, o Município de Belo Horizonte encontra-se em sétimo lugar com taxa 
de 129,8 casos por 100 mil habitantes no período de 2010 a 2018. A maior concen-
tração dos casos de sífilis adquirida notificados no Estado de MG 2018, estão nas 
regionais de Belo Horizonte (3161 casos), Divinópolis (3115 casos) e Uberaba (3113) 
(MINAS GERAIS, 2019). 
3.1 Agente etiológico e via de transmissão da sífilis 
A sífilis é uma infecção de caráter sistêmico, de evolução crônica que pode atingir 
quase todos os órgãos e sistemas se não houver tratamento ou se tratamento inade-
quado. A sífilis quando devidamente tratada, pode evitar sequelas irreversíveis a longo 
prazo (BRASIL, 2016) 
O agente etiológico que ocasiona a sífilis é a bactéria Treponema pallidum, sua forma 
de espiral permite movimentos que facilitam a penetração no organismo do hospe-
deiro. Possui ampla habilidade de aderir às células e extrema capacidade de invasão, 
rápida fixação em superfícies celulares e penetração nos tecidos. A infecção pelo Tre-
ponema não confere imunidade humoral, e não existe vacina contra sífilis, portanto o 
indivíduo pode ser reinfectado por várias vezes (COSTA et al., 2017). 
A via sexual, seja vaginal, anal ou oral, é a principal forma de transmissão, seguida 
da transmissão vertical (trasnplacentária) e também por transfusão sanguínea 
(SOUZA et al., 2015). 
3.2 Manifestações clínicas, diagnóstico e tratamento da sífilis. 
A sífilis possui duas classificações para as formas clínicas, sendo elas, o tempo de 
infecção e as manifestações clínicas. Segundo o tempo de evolução é classificada 
26 
 
 
como recente (até um ano) e tardia (mais de um ano). As manifestações clínicas da 
sífilis não tratada são classificadas como sífilis primaria, secundária, latente recente 
(até um ano após evolução) e latente tardia (com mais de um ano de evolução) e sífilis 
terciária. Na sífilis não tratada, aproximadamente 35% das pessoas progridem para 
cura natural, outras 35% continuam em estado de latência por toda vida e as outras 
desenvolvem as formas graves comprometendo comumente os sistemas nervoso e 
cardiovascular (BRASIL, 2019). No Quadro 1 está apresentado as manifestações clí-
nicas de acordo com o tempo, a evolução e os estágio da doença. 
Quadro 1 - Manifestações clínicas de sífilis adquirida, de acordo com o tempo 
de infecção, evolução e estágios da doença. 
Estágios Manifestações clínicas 
 
 
Sífilis 
Primária 
Após o contato sexual infectante, ocorre um período de incubação 
com duração entre (10 a 90 dias). A primeira manifestação é caracte-
rizada por uma erosão ou úlcera no local de entrada da bactéria (pê-
nis, vulva, vagina, colo uterino, ânus, boca, ou outros locais do tegu-
mento). A lesão é denominada “cancro duro”, é geralmente única, in-
dolor, com base endurecida e fundo limpo, rica em treponemas. O 
estágio pode durar entre (duas a seis semanas) e desaparecer de 
forma espontânea (PINTO et al., 2016). 
 
Quadro 1 - Manifestações clínicas de sífilis adquirida, de acordo com o tempo 
de infecção, evolução e estágios da doença (continuação). 
 
 
 
 
 
Sífilis 
Secundária 
Nessa fase os sinais e sintomas surgem entre (6 semanas e seis me-
ses) após a infecção e duram entre (4 e 12 semanas). As lesões se-
cundárias são ricas em treponemas. Podem ocorrer erupções cutâ-
neas em forma de máculas (roséola) e/ou pápulas, principalmente no 
tronco; lesões eritemato-escamosas palmo-plantares; placas erite-
matosas branco-acinzentadas nas mucosas; alopecia em clareira e 
perda da sobrancelha no terço distal, febre, mal-estar e cefaleia 
(DIAS et al., 2018). 
 
 
Sífilis 
Latente 
É uma das fases onde não se observa nenhuma manifestação clínica. 
Pode ser classificada, de acordo com o tempo de infecção: latente 
27 
 
 
recente (até 1 ano) e latente tardia (mais de 1 ano) (TEIXEIRA et al 
2018). 
 
 
 
 
 
Sífilis 
Terciária 
Ocorre em 30% das infecções não tratadas, após um longo período 
de latência, podendo surgir entre 2 a 40 anos depois do início da in-
fecção. Esse estágio manifesta-se na forma de inflamação e destrui-
ção tecidual. É comum o acometimento do sistema nervoso e cardio-
vascular, verifica-se a formação de gomas sifilíticas (tumorações com 
tendência a liquefação) na pele, mucosas, ossos ou qualquer tecido. 
Entre as complicações a neurossífilis é caracterizada por reação in-
flamatória da bainha de mielina no sistema nervoso central (BRASIL, 
2019). 
Fonte: Brasil (2019), Dias (2018), Pinto (2016),Teixeira (2018) 
3.3 Métodos diagnósticos da sífilis 
O diagnóstico é baseado na história clínica, estágio da sífilis e combinação dos resul-
tados dos testes laboratoriais (BRASIL, 2019) 
 3.3.4 Exame direto 
O exame direto é aquele que se realiza a pesquisa ou detecção do T. pallidum direta-
mente das lesões. O campo escuro é considerado o teste mais eficiente para deter-
minar o diagnóstico direto da sífilis e possui baixo custo. A amostra utilizada é o exsu-
dato seroso das lesões ativas pesquisando diretamente o T. pallidum por microscopia 
de campo escuro. Possui sensibilidade entre 74% e 86% e especificidade de 97%. A 
pesquisa direta com material corado é um exame direto que apresenta sensibilidade 
inferior ao exame de campo escuro. A amostra também utiliza exsudato das lesões 
ativas pesquisando diretamente T. Pallidum. Os métodos disponíveis são: Método 
Fontana-Tribondeau, método de Burri, método de coloração por Giemsa e método de 
Lavaduti. As técnicas de microscopia utilizando materiais corados apresentam sensi-
bilidades inferiores à microscopia de campo escuro (BRASIL, 2019). No Quadro 2 es-
tão apresentados os exames diretos, onde se realiza a pesquisa direta ou detecção 
do T. pallidum. 
Quadro 2 - Métodos diagnósticos de sífilis: exames diretos 
28 
 
 
Exame Método Material Características Considerações 
Campo 
escuro 
Coloração 
por 
Giemsa. 
Exsudato se-
roso das lesões 
primárias e ati-
vas 
Se (+): infecção 
ativa. Se (-): o nú-
mero de T. p não foi 
suficiente ou está 
próxima à cura ou 
teve tratamento. 
Não recomen-
dado para le-
sões de cavi-
dade oral. 
Pesquisa 
direta. 
Esfregaço 
em lâmina. 
Exsudato se-
roso das lesões 
primárias e ati-
vas. 
*Igual ao exame de 
campo escuro. 
*Igual ao exame 
de campo es-
curo. 
Fonte: Adaptado de Protocolo clínico e diretrizes terapêuticas para atenção integral às pessoas com 
infecções sexualmente transmissíveis(IST) (BRASIL, 2019). 
3.3.5 Provas Sorológicas 
As provas sorológicas (Quadros 3 e 4) caracterizam-se pelos testes nos quais se re-
aliza a pesquisa de anticorpos anti T. pallidum e são subdividas em duas classes: os 
treponêmicos e os não treponêmicos. Os testes treponêmicos são importantes para a 
confirmação do diagnóstico. Na maioria das vezes, permanecem positivos mesmo 
após o tratamento pelo resto da vida do paciente; por isso, não são indicados para o 
monitoramento da resposta ao tratamento (BRASIL, 2016). 
Os testes não treponêmicos detectam anticorpos IgM e IgG contra o material lipídico 
liberado pelas células danificadas e possivelmente contra a cardiolipina liberada pelos 
treponemas, desenvolvidos pelo organismo do hospedeiro. Os testes não treponêmi-
cos podem ser qualitativos ou quantitativos. O teste qualitativo fornece apenas a in-
formação de que anticorpos foram encontrados ou não na amostra testada. O teste 
quantitativo permite estimar a quantidade de anticorpos presentes mediante a diluição 
da amostra (1:2, 1:4, 1:8, 1:16, 1:32...). Essa informação permite se estabelecer em 
que fase da infecção o diagnóstico está sendo realizado e ainda para o acompanha-
mento da resposta ao tratamento. Em tratamentos adequados os exames quantitati-
vos deverão diminuir (BRASIL, 2016). 
Quadro 3 - Provas sorológicas – Testes Treponêmicos 
Exame Método Características Considerações 
29 
 
 
Teste rápido 
(TR) 
Imunocromato-
grafia de fluxo la-
teral ou de plata-
forma de duplo 
percurso (DDP). 
Práticos e de fácil 
execução, com lei-
tura do resultado em, 
no máximo, 30 minu-
tos. 
Têm a vantagem de 
serem realizados no 
momento da con-
sulta, possibilitando 
tratamento imediato. 
FTAAbs -Teste 
de anticorpos 
treponêmicos 
fluorescentes 
com absorção 
Detectam anticor-
pos IGG e IGM 
específicos con-
tra os antígenos 
do T. pallidum. 
Primeiro teste a apre-
sentar resultado rea-
gente após a infec-
ção pelo T. pallidum. 
Esse teste requer mi-
croscópio de fluores-
cência. 
É considerado um 
teste com boa espe-
cificidade, pois nele 
ocorre a absorção ou 
bloqueio de anticor-
pos não específicos. 
ELISA: Ensaio 
imunoenzimá-
tico ligado à 
enzima. 
Utilizam suportes 
sensibilizados 
com antígenos to-
tais ou compo-
nentes antigêni-
cos sintéticos de 
T. pallidum. 
Possui elevada sen-
sibilidade e capaci-
dade de automação. 
A quantidade de anti-
corpos presentes nas 
amostras é direta-
mente proporcional à 
intensidade de cor na 
reação. 
TPHA: Testes 
de hemagluti-
nação e agluti-
nação.. 
Ligação antíge-
nos – anticorpo. 
Ligação antígenos – 
anticorpo. 
 
Fonte: Adaptado de Protocolo clínico e diretrizes terapêuticas para atenção integral às pessoas com 
infecções sexualmente transmissíveis (IST) (BRASIL, 2019). 
Quadro 4 - Provas sorológicas - Testes não Treponêmicos 
Exame Método Características Considerações 
VDRL (Vene-
real Disease 
Research La-
boratory); 
RPR (Rapid 
Plama Rea-
gin); 
USR (Un-
heated-Serum 
Reagin) 
Metodologia de 
floculação, de-
tectam anticor-
pos anticardioli-
pina não especí-
ficos para os an-
tígenos do T. 
pallidum. 
Permitem a análise 
qualitativa e quantita-
tiva. 
Os testes não treponê-
micos são utilizados 
para o diagnóstico 
(como primeiro teste 
ou teste complemen-
tar) e para o monitora-
mento da resposta ao 
tratamento e controle 
de cura. 
Fonte: Adaptado de Protocolo clínico e diretrizes terapêuticas para atenção integral às pessoas com 
infecções sexualmente transmissíveis (IST) (BRASIL, 2019). 
30 
 
 
Dentre os testes não treponêmicos, o VDRL é comumente mais utilizado. É indicado 
para diagnóstico e seguimento terapêutico por ser qualitativo e quantitativo. Detectam 
anticorpos não específicos anticardiolipina para os antígenos do T. pallidum. Se a in-
fecção for detectada nas fases tardias da doença, são esperados títulos baixos (<1:4), 
que podem persistir por meses ou anos. Nesses casos, sem registro de tratamento e 
sem data de infeção conhecida, a pessoa é considerada infectada com sífilis latente 
tardia, devendo ser tratada (COSTA et al., 2017). 
3.4 Tratamento da sífilis 
O tratamento da sífilis é baseado no estágio da infecção e na existência de evidências 
de comprometimento do sistema nervoso central. O T.pallidum permanece extrema-
mente suscetível à penicilina, um agente antimicrobiano que visa à síntese da parede 
celular bacteriana (CDC, 2015). 
O Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos da América 
recomenda a penicilina G 2,4 milhões como o medicamento de primeira linha para 
tratamento de todas as fases da sífilis (CDC, 2015). 
A Organização Mundial de saúde recomenda o uso de penicilina benzatina parenteral 
intramuscular em adultos, adolescentes e gestantes, incluindo pessoas que vivem 
com HIV, populações chave (profissionais do sexo, homens que fazem sexo com ho-
mens e transexuais) e mulheres grávidas (OMS, 2019). 
Quando a penicilina benzatina ou procaína não puder ser usada (devido à alergia à 
penicilina ou a falta de estoque), como alternativa pode ser utilizado a doxiciclina 100 
mg, Via oral, duas vezes ao dia, por 15 dias (exceto para gestantes) ou a ceftriaxona 
1g, endovenosa ou intramuscular, uma vez ao dia, por (8 a 10) dias, para gestantes e 
não gestantes (BRASIL, 2016). 
Para os casos de neurossífilis deve ser administrado a penicilina cristalina, (18 – 24) 
milhões UI/dia, IV, administrada em doses de (3 - 4) milhões UI, a cada 4 horas ou por 
infusão continua, por 14 dias. Como alternativa pode ser utilizado a ceftriaxona 2 g, 
IV ou IM, uma vez ao dia, por 10 a 14 dias (BRASIL, 2016). 
Para as gestantes comprovadamente alérgicas à penicilina, recomenda-se a dessen-
sibilização, em serviço terciário, de acordo com protocolos existentes. Para aquelas 
31 
 
 
com alergia confirmada à penicilina como não há garantia de que outros medicamen-
tos consigam tratar a gestante e o feto, impõe-se a dessensibilização e o tratamento 
com penicilina benzatina. Na impossibilidade de realizar a dessensibilização durante 
a gestação, a gestante deverá ser tratada com ceftriaxona (CDC, 2015). 
 
32 
 
 
4 PREVALÊNCIA E FATORES ASSOCIADOS À COINFECÇÃO HIV/ SÍFILIS NO 
CONTEXTO NACIONAL E INTERNACIONAL. 
A coinfecção HIV/sífilis representa um importante problema de saúde pública uma re-
levância epidemiológica e clínica devido a sua alta morbimortalidade. A infecção por 
T. pallidum é uma condição comum nos serviços de saúde e sua prevalência é até 
oito vezes maior em PVHIV. As patologias se influenciam reciprocamente modificando 
a história natural da infecção e possuem a mesma forma de transmissibilidade. A sífilis 
pode facilitar transmissão da infecção por HIV, principalmente pela alteração da mu-
cosa produzida pelas úlceras genitais causadas pelo T. pallidum (LEZÁUN et al., 
2015). 
No Brasil, o HIV e a sífilis possuem prevalência maior em populações-chave (transgê-
neros, profissionais do sexo, gays, pessoas que usam drogas injetáveis e homens que 
fazem sexo com homens e prisioneiros e seus parceiros), associado à baixa adesão 
ao uso de preservativo e múltiplos parceiros sexuais (ALMEIDA et al., 2017; UNAIDS, 
2020). 
Alguns estudos nacionais e internacionais que avaliaram a prevalência e os fatores 
associados à coinfecção HIV/sífilis registraram uma variação da prevalência entre 
3,3% a 57% e os fatores associados foram diversos, conforme descrito no Quadro 5. 
As variações nesses estudos dependeram do tipo de população e variáveis pesquisa-
das. 
Os seguintes estudos brasileiros avaliaram-se a prevalência e os fatores associados 
à coinfecção HIV/sífilis. Amorim et al., (2019) avaliaram as características clínicas, 
epidemiologicas, infecções oportunistas e coinfecções de pessoas com HIV. O 
percentual de coinfecção HIV/sífilis foi 4,2%. Salientou-se que a maioria das pessoascom sífilis já haviam sido tratadas e reinfectados. O modo de transmissão do T. 
pallidum mais comum nessas PVHIV foi o heterossexual, sugerindo associação ao 
não conhecimento das medidas de prevenção de infecções, pois mesmo após serem 
infectados, continuavam mantendo relações sexuais sem preservativos. 
No estudo de Silva et al., 2019 registraram que o não uso de preservativos se deve 
principalmente à convicção de que é desnecessário a prática entre casais 
33 
 
 
heterossexuais vivendo com HIV, no qual a negociação do uso do preservativo com o 
parceiro pode ser difícil devido às relações opressoras (SILVA et al., 2019). 
No estudo de Ferreira-Junior et al., (2018) estimou-se a prevalência dos vírus HIV, 
hepatite B, hepatite C, infecção por T. pallidum e coinfecções entre trabalhadoras do 
sexo em 12 cidades brasileiras. A prevalência da coinfecção HIV/sífilis foi de 1,09%. 
O círculo vicioso drogas e sexo resulta, geralmente, na troca de sexo por drogas. É 
necessário incetivar o uso e distribuir preservativos, além de testes regulares de sífilis 
para monitoramento dessa população de risco. 
A prevalência da coinfecção HIV/sífilis no estudo de Luppi et al., (2018) foi 56,5%. Os 
fatores associados à coinfecção foram: sexo masculino, idade acima de 45 anos, es-
colaridade acima de oito anos e classificação clínica da sífilis assintomática. O estudo 
retrata que a elevada frequência da coinfecção encontrada pode ser por falhas na 
adesão às medidas de prevenção e consequente exposições ao agente T. pallidum. 
No estudo de Santos et al., (2017) observou-se 16,2% de coinfecção HIV/sífilis. O uso 
de drogas foi determinante para o contágio por T. pallidum. As coinfecções estiveram 
relacionadas aos indivíduos casados; heterossexuais; idade acima de 35 anos; multi-
plicidade de parceiros sexuais; baixa adesão ao uso do preservativo e a exposição ao 
álcool ou drogas ilícitas. 
Em outros estudos internacionais foram descritos as características clínico-
epidemiológicas, sorológicas e imunológicas da PVHIV coinfectadas com sífilis e 
registraram prevalência de 15,62%, sendo a maioria homens e a forma prevalente de 
transmissão foram os HSH. No que se refere ao uso de preservativos durante as 
relações sexuais, a maioria tiveram uso eventual ou nenhum uso de proteção (MORA 
et al., 2019). 
Em um estudo transversal realizado em Xangai que objetivou entender as taxas de 
prevalência e fatores relacionados a coinfecções HIV/sífilis entre os HSH registraram 
prevalência de 3,3% de coinfecção HIV/sífilis e os riscos foram aqueles pacientes mi-
grantes com ensino médio ou níveis mais baixos de escolaridade e uso de drogas 
ilícitas (LIU et al., 2017). 
34 
 
 
Em outro estudo transversal realizado entre mulheres trabalhadoras do sexo em 
Ruanda registraram prevalência de coinfecção sífilis/HIV de 27,4% e as 
características associadas à coinfecção sífilis/HIV foram idade igual ou superior a 25 
anos, ter tido uma ferida genital nos últimos 12 meses e ter teste HBsAg positivo (MU-
TAGOMA et al., 2017). 
O estudo de Weng et al., (2019) registraram prevalência e fatores associados à 
coinfecção HIV/sífilis entre HSH, com idade menor que 50 anos e maior que 50 anos. 
A prevalência da coinfecção HIV/sífilis foi de 9,24% e os fatores associados foram 
idade maior que 50 anos; ensino inferior ao médio; renda mensal inferior a 436,2 USD; 
mais que dois parceiros sexuais anal e oral nos últimos seis meses e o uso esporádico 
de preservativo no sexo anal nos últimos seis meses. 
Ressalta-se que no final dos anos 90 houve uma queda das infecções por T. Pallidum 
em muitos países desenvolvidos. Nos anos 2000, as infecções ressurgem insistindo, 
atualmente, como um desafio à saúde pública. Nos países desenvolvidos, a sífilis 
atinge desigualmente os HSH, sendo muitos deles coinfectados por HIV. Em países 
de baixa e média renda como Peru, Panamá, Índia, Malawi e Uganda, foram 
encontradas taxas significativas de coinfecção HIV/sífilis entre os HSH, mostrando 
que é um problema global. Os índicios disponíveis apóiam que a epidemia de 
coinfecção por HIV/sífilis está aumentando especialmente entre os HSH (ROBERTS 
CP; KLAUSNER JD, 2016). No Quadro 5 estão apresentados alguns estudos nacio-
nais e internacionais de prevalência e fatores associados à coinfecção HIV/sífilis.
35 
 
 
Quadro 5 - Estudos comparativos da prevalência e fatores associados à coinfecção HIV/sífilis 
 
 
Autor/ 
Ano/país 
Título Tipo de es-
tudo (n) 
Características (%) Fatores associados 
SANTOS et al., 
2017, 
BRASIL 
Hepatites B, C e sífilis: prevalência 
e características associadas à co-
infecção entre soropositivos 
Estudo 
quantitativo 
e descritivo 
(323) 
Sociodemográficas 
comportmentais e 
sorológicos 
16,2 Idade acima de 35 anos, 
casados; multiplicidade 
de parceiros sexuais, 
baixa adesão ao preser-
vativo, álcool e drogas 
LUPPI et al., 
2018, 
BRASIL 
Fatores associados à coinfecção 
por HIV em casos de sífilis adqui-
rida notificados em um Centro de 
Referência de IST e Aids em São 
Paulo,2014 
Estudo 
transversal 
 (648) 
Sociodemográficas 
e comportamentais 
57 Sexo masculino e HSH 
AMORIM et al.; 
2019 
BRASIL 
HIV / AIDS em pequenas cidades 
do Centro-Oeste de Santa 
Catarina, sul do Brasil: aspectos 
clínicos e epidemiológicos, 
infecções oportunistas. 
Acompanhamento (CTA) de 
Joaçaba/ Santa Catarina 
Estudo 
tansversal 
(143) 
Clínicas, 
epidemiológicas, 
infecções 
oportunistas e 
coinfecções 
4,2 Sexo masculino, branco, 
casado, baixa 
escolaridade e idade 
entre 31 e 50 anos. 
SILVA et al., 
2020 
BRASIL 
Prevalência de co-infecções em 
mulheres vivendo com vírus da 
imunodeficiência humana no 
Nordeste do Brasil 
Estudo 
trasnversal 
 (435) 
Sociodemográficas
econômicas e 
clínicas. 
9,1 Não uso de preservativos 
36 
 
 
 
Quadro 5 - Estudos comparativos da prevalência e fatores associados à coinfecção HIV/sífilis (continuação) 
 
 
Fonte: Amorim et al., 2019; Liu Y et al., 2017; Luppi et al., 2018; Mora et al., 2019; Mutagoma et al., 2017; Santos et al., 2017; Silva et al., 2020; Weng et al., 
2019. 
Autor/ 
Ano/país 
Título Tipo de es-
tudo (n) 
Características (%) Fatores associados 
MUTAGOMA et al., 
2017, 
RUANDA 
Syphilis and HIV prevalence and 
associated factors to their co-infec-
tion, hepatitis B and hepatitis C vi-
ruses prevalence among female 
sex workers in Rwanda 
Estudo 
transversal 
(1978) 
sociodemográficas 
e testes rapidos 
27,4 ≥ 25 anos, ferida genital 
nos últimos 12 meses e 
teste HBsAg positivo 
 
LIU Y et al., 
2017, 
CHINA 
Co-infections of HIV, syphilis and 
HSV-2 among men who have sex 
with men at the voluntary HIV 
counseling and testing clinics in 
Shanghai 
Estudo 
transversal 
(732) 
Sociodemográfi-
case comporta-
mentais 
1,9 Migrantes, níveis de 
escolaridade mais baixos 
e já usaram drogas 
ilícitas 
MORA et al., 
2019 
PANAMÁ 
Coinfección VIH-sífilis en pacien-
tes con diagnóstico reciente de in-
fección por HIV. 
Estudo 
transversal e 
retrospectivo 
(64) 
Clínico-
epidemiológicas, 
sorológicas e 
imunológicas 
15,62 Masculino, HSH, ≥ 3 
parceiros sexuais, 
prostituição e uso 
casional de medidas de 
proteção 
WENG et al., 
2019, 
CHINA 
Compare HIV/syphilis infections 
between age groups and explore 
associated factors of HIV/syphilis 
co-infections among men who 
have sex with men in Shenzhen, 
China, from 2009 to 2017 
Estudo 
transversal 
(5966) 
Demográficas, 
histórico de testes 
de HIV e doação 
de sangue e 
comportamentos 
sexuais 
9,24 > 50 anos; ensino inferior 
ao médio; ≥ 2 parceiros 
sexuais nos últimos 6 
meses; uso esporádico 
de preservativo. 
https://pesquisa.bvsalud.org/portal/?lang=pt&q=au:%22Amorim,%20Lilian%20Tânia%22
37 
 
 
4 OBJETIVOS 
4.1 Objetivo geral 
Avaliar os fatores associados à prevalênciada coinfecção HIV/sífilis em pessoas 
no início da terapia antirretroviral no município de Belo Horizonte, Minas Gerais. 
4.2 Objetivos específicos 
 
 Descrever as características sociodemográficas; comportamentais e há-
bitos de vida; clínicas e laboratoriais e farmacológicas; 
 Determinar a prevalência da sífilis entre o início da TARV até 12 meses; 
 Avaliar os fatores associados à prevalência da coinfecção HIV-sífilis a par-
tir das características selecionadas. 
38 
 
 
5 METODOLOGIA 
5.1 Delineamento e local do estudo 
Trata-se de um estudo de corte seccional baseado na análise das características 
obtidas em entrevistas basais e de prontuários de uma coorte do Projeto ECO-
ART (Efetividade da Terapia Antirretroviral em pessoas vivendo com HIV/tuber-
culose, HIV/hanseníase ou HIV/Leishmaniose Visceral no Brasil). 
O estudo foi realizado em três serviços de assistência especializada (SAE) em 
HIV/aids do Sistema Único de Saúde (SUS), que juntos são responsáveis por 
cerca de 80% da dispensação de medicamentos antirretrovirais para as PVHIV 
na região de saúde do Município Belo Horizonte, Minas Gerais. 
O Serviço I é um ambulatório de Assistência de um Hospital de Referência Es-
tadual para o tratamento de doenças infectocontagiosas e dermatologia sanitá-
ria, que atua também na pesquisa, formação e capacitação profissional. O ser-
viço II é um centro de testagem e aconselhamento (CTA) e SAE vinculado à 
Rede SUS da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte. 
O Serviço III é um SAE referência para o atendimento de doenças infectoconta-
giosas e parasitárias vinculado à rede SUS do Município de Belo Horizonte. 
Os três serviços oferecem testagem para HIV, sífilis e hepatites B e C, orienta-
ção, diagnóstico e prevenção de infecções sexualmente transmissíveis e dispo-
nibilizam tratamento integral as PVHIV e hepatites virais. O tratamento engloba 
a assistência interdisciplinar com médico infectologista, psicólogo, enfermeiro, 
assistente social, nutricionista e farmacêutico e a dispensação de medicamen-
tos. 
5.2 População do estudo 
5.2.1 Coleta dos dados 
Foi realizada a entrevista basal por meio do Formulário A (Apêndice C) que 
contém dados relacionados às características sociodemográficas e econômicas; 
características comportamentais e hábitos de vida; características clínicas e la-
boratoriais; características relacionadas ao tratamento farmacológico; sobre os 
39 
 
 
serviços de saúde e local de residência. Os dados foram complementados com 
consulta aos prontuários clínicos por meio de um formulário de coleta de prontu-
ário (Apêndice D). 
As informações terapêuticas e laboratoriais dos indivíduos foram acrescidas com 
base em coleta de dados do Sistema de Controle de Exames Laboratoriais (SIS-
CEL) e do Sistema de Controle Logístico de Medicamentos (SICLOM) do Minis-
tério da Saúde do Departamento de DST/aids e Hepatites Virais que dispõe, res-
pectivamente, de contagem de linfócitos TCD4+ e a carga viral no início do tra-
tamento; esquema terapêutico e tempo de tratamento. 
Para alcançar confiabilidade no processo de coleta de dados, foram elaborados 
manuais de instruções e treinamento para orientar os pesquisadores responsá-
veis por aplicar as entrevistas. A coleta de dados foi realizada por alunos de 
graduação e pós-graduação, bolsistas e voluntários do projeto ECOART. 
Os dados coletados foram digitados em um banco de dados no programa Epi 
info 5.4, mediante dupla digitação. Foi realizada análise de confiabilidade de 10% 
da amostra total para coleta e digitação. A concordância inter digitador foi avali-
ada pela estatística Kappa (k=0,955), indicando concordância perfeita (LANDIS 
E KOCH, 1977). 
5.2.2 Critérios de inclusão 
Os critérios de elegibilidade adotados, nesse estudo foram: indivíduos de ambos 
os sexos, com diagnóstico de HIV, em início de terapia antirretroviral ou com até 
seis meses de tratamento, com idade igual ou superior a 16 anos, que concor-
daram em participar do estudo e assinaram o Termo de Consentimento Livre 
Esclarecido (TCLE) e Termo de Assentimento Livre Esclarecido (TALE) e que 
estavam em acompanhamento em um dos três serviços de referência na assis-
tência a HIV/aids onde o estudo foi conduzido. 
Para este estudo, foram incluídos os indivíduos que faziam acompanhamento no 
serviço, com prontuário clínico disponível e haviam realizado a entrevista basal. 
5.2.3 Seleção da amostra 
40 
 
 
Foram convidados a participar do estudo os pacientes que apresentaram os cri-
térios de inclusão, logo, a seleção da amostra foi não aleatória, uma vez que 
todos os indivíduos elegíveis puderam participar do estudo. 
5.3 Procedimentos éticos 
O estudo foi conduzido de acordo com as recomendações da Resolução 
466/2012 do Conselho Nacional de Saúde – Ministério da Saúde, que trata dos 
aspectos éticos envolvendo pesquisa com seres humanos. 
Os indivíduos foram esclarecidos a respeito dos objetivos do estudo e responde-
ram as entrevistas após o aceite e assinatura do TCLE (Apêndice A) e do TALE 
(Apêndice B) entregue em duas vias, que consente a participação na pesquisa. 
A cada um dos participantes foi atribuído um número de identificação para cum-
prir o princípio de confidencialidade e garantir o sigilo das informações da pes-
quisa. 
A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética de pesquisa da UFMG (CAAE- 
31192914.3.0000.5149) (Anexo I), pelo Comitê de Ética de Pesquisa do HEM 
(CAAE- 31192914.3.3001.5124) (Anexo II), e pelo Comitê de Ética de Pesquisa 
da Secretaria Municipal de Saúde da Prefeitura de Belo Horizonte (CAA- 
31192914.3.3002.5140) (Anexo III). 
5.4 Variáveis 
5.4.1 Variável dependente 
A variável dependente foi o primeiro episódio de sífilis registrado em prontuário 
a partir da data de início da TARV até 12 meses. 
A variável foi obtida por meio dos diagnósticos feitos por profissional de saúde, 
registrados nos prontuários a partir da data do início da TARV até 12 meses de 
acompanhamento no serviço. A data de início da TARV corresponde a data da 
primeira dispensação de antirretrovirais registrada no Sistema de Controle Lo-
gístico de Medicamentos (SICLOM). 
5.4.2 Variáveis independentes 
41 
 
 
As variáveis independentes foram obtidas por meio de questionário aplicado na 
entrevista basal, consulta ao prontuário, SISCEL e SICLOM. As variáveis inde-
pendentes investigadas foram agrupadas, a saber: 
I. Variáveis relacionadas ao indivíduo 
 Sociodemográficas (sexo, cor ou etnia autodeclarada, faixa etária, filhos, 
escolaridade, situação civil, renda própria, emprego, classe econômica 
(IPEA) e plano de saúde); 
 Comportamentais e hábitos de vida (uso de tabaco, álcool e drogas ilíci-
tas; parceiros fixo e eventual; uso de preservativos no último mês e na 
última relação sexual e fonte de infecção do HIV); 
 Clínicas (classificação clínica basal e final, infecções sexualmente trans-
missíveis prévia e atual, outras IST (exceto sífilis), lesões em mucosas 
(genital e anal) e morbidades; tipo de sífilis, Tempo médio de ocorrência 
do 1º episódio de sífilis (dias), Tempo de ocorrência do 1º episódio de 
sífilis (mediana), 
 Laboratoriais (linfócitos T CD4+ inicial e final, CV inicial e final, teste de 
VDRL) 
II. Variáveis relacionadas ao tratamento farmacológico 
 Tempo de infecção do HIV em meses; 
 Esquema terapêutico antirretroviral; 
 Tempo de uso de terapia antirretroviral em dias; 
 Adesão à terapia antirretroviral; 
 Esquema terapêutico para tratamento da sífilis. 
III. Variáveis relacionadas ao serviço de saúde: 
 Local de atendimento (serviços I, II e III); 
 Município de residência do indivíduo. 
 
A variável “classe econômica” foi avaliada de acordo com critérios brasileiros 
como alta (A/B), intermediária (C), baixa (D/E), onde os indivíduos são classifi-
cados por meio de grupos socioeconômicos por posse de itens de conforto e 
nível de escolaridade do chefe familiar(ABEP, 2016). 
42 
 
 
Para a variável “Fonte de infecção do HIV - categoria de exposição por sexo”, 
caso houvesse mais de uma categoria de exposição relatada, considerou-se 
uma hierarquia de risco, sendo o risco sexual maior. Dentre o risco sexual, con-
siderou-se maior risco: HSH maior que Homem heterossexual e Mulher Heteros-
sexual. E por último considerou-se as outras categorias de exposição (uso droga 
injetável/transfusão/uso compartilhado de seringa/relação sexual com infec-
tado/ocupacional/sexo sem proteção/promiscuidade (BRASIL,2020). 
A classificação clínica do indivíduo foi registrada conforme a classificação para 
doenças HIV/CDC. As classificações são: categoria A (assintomático para aids), 
categoria B (sintomático para aids) e categoria C (condições definidoras de aids). 
Na análise descritiva a variável classificação clínica, foi agrupada em três cate-
gorias (A, B e C). Para realizar as análises univariada e multivariada, a variável 
foi agrupada em categorias A/B (sem aids) e C (com aids) (CDC, 2015). 
A variável adesão foi medida por meio da seguinte pergunta: Nas duas últimas 
semanas houve algum dia em que você não tomou seus remédios para o HIV? 
A variável resultado de exame VDRL foi obtida por meio dos registros disponíveis 
no prontuário e no Sistema Gestão. Considerou-se o primeiro resultado do 
exame mais próximo do registro de diagnóstico da sífilis. 
A variável tratamento para sífilis foi obtida por meio dos registros de prescrição 
no prontuário, considerando a data mais próxima do registro de diagnóstico da 
sífilis. 
Para a variável carga viral, considerou-se carga viral suprimida os valores abaixo 
de 1000 cópias/ml e carga viral indetectável, abaixo de 50 cópias/ml (RODGER 
et al., 2019) 
 
43 
 
 
6 ANÁLISE ESTATÍSTICA 
A análise descritiva foi realizada por meio de distribuição de frequências para as 
variáveis categóricas e por meio de medidas de tendência central e de variabili-
dade para variáveis contínuas. Para avaliar a distribuição normal dos dados, a 
hipótese foi avaliada por meio do teste de Shapiro-Wilk, com 5% de significância. 
Para analisar a associação individual de cada variável categórica com a variável 
dependente (primeiro episódio de sífilis), foi utilizado o teste Qui-quadrado de 
Pearson ou o teste exato de Fischer quando as contagens esperadas forem me-
nores que 5. Para variáveis contínuas foi realizado o Teste T para comparação 
de médias entre os grupos coinfectados e não coinfectados. 
Para analisar a associação individual de cada variável independente com a vari-
ável dependente, foi utilizado o teste Qui-quadrado de Pearson. A associação 
conjunta entre as variáveis independentes e a variável dependente foi analisada 
por meio de um modelo de regressão logística. Para as variáveis parceiro fixo; 
parceiro eventual; fonte de infecção do HIV (categoria de exposição); fonte de 
infecção do HIV (exposição sexual); carga viral no início de TARV; carga Viral 
após 12 meses de TARV; linfócito TCD4 no início de terapia antirretroviral (célu-
las/mm3); linfócito TCD4 após 12 m de terapia antirretroviral (células/mm3) e 
antecedentes de IST, foram acrescentados a categoria dados faltantes, devido 
ao número de indivíduos que não responderam essas variáveis. 
Foram realizados testes de colinearidade para todas as variáveis e para inclusão 
no modelo final considerou-se a relevância epidemiológica e o Referencial teó-
rico. Nos casos em que haviam variáveis com ocorrência e quantidade de ocor-
rência, optou-se pela ocorrência. Foram selecionadas para entrar no modelo final 
as variáveis que apresentaram valor p igual ou inferior a 0,20 na análise univari-
ada. O teste de Hosmer-Lemeshow e a área abaixo da curva Receiver Operating 
Characteristics (ROC) foram utilizados para verificar o ajuste do modelo. O mé-
todo Backward stepwise foi utilizado para obtenção do modelo final, ou seja, as 
variáveis e suas possíveis interações serão incluídas no modelo e retiradas uma 
a uma, conforme o nível de significância, até ser encontrado o modelo final. Os 
resultados da regressão logística foram apresentados por meio de razão de 
chances (Odds Ratio). 
44 
 
 
As análises estatísticas foram realizadas utilizando os softwares Statistical 
Package for the Social Sciences (SPSS) versão 22.0 e o R versão 4.0.2. Todas 
as análises foram realizadas com nível de significância de 5%. 
 
 
45 
 
 
7 RESULTADOS 
7.1 Participantes 
Foram identificados 1017 indivíduos, 459 do serviço I, 317 do serviço II e 241 do 
serviço III (Figura 6). Aqueles que apresentaram critérios de elegibilidade para 
o estudo totalizaram 501 indivíduos. Dentre os elegíveis (n=501), foram excluí-
dos (39), sendo (33) por motivos de recusa e (9) por inexistência de prontuário 
no serviço. A amostra final selecionada para o estudo foram 459 indivíduos. 
Figura 6: Diagrama dos indivíduos incluídos no estudo 
 
 
Fonte: Dados da pesquisa 
 
 
46 
 
 
7.2 Características sociodemográficas, clínicas, comportamentais e hábi-
tos de vida, de tratamento e serviços de acompanhamento da PVHIV. 
Dentre as características sociodemográficas (Tabela 1), observou-se que 81,5% 
dos indivíduos eram do sexo masculino, média de idade de 34,7 anos (DP=10,9); 
mediana de 33 anos e predominância de faixa etária de 20 a 34 anos (53,4%). 
Em relação à situação conjugal (79,7%) eram solteiro (as), divorciado (as) ou 
viúvo(as), 48,9% se autodeclararam pardos e 38,9% possuíam de 10 a 12 anos 
de escolaridade. Verificou-se que 58,6% estavam empregados no momento da 
entrevista, 81,4% possuía renda própria e 73,6% não possuíam plano de saúde 
privado. 
Em relação às características comportamentais auto relatadas, 27,5% fizeram 
uso de tabaco atualmente, 64,5% fizeram uso de álcool na vida e 51,6% usaram 
droga ilícita na vida. Quanto à fonte de infecção do HIV por categoria hierarqui-
zada de acordo com Boletim epidemiológico do HIV 2019, prevaleceram a via 
sexual exclusivamente (92%) e HSH (58,2%). Sobre o uso de preservativos, 
32,1% dos indivíduos relataram não uso de preservativo no último mês e 22,2% 
não usaram na última relação sexual. 
Em relação à presença de comorbidades, 38,1% dos entrevistados relataram ter 
ao menos uma comorbidade, a classificação clínica A foi observada em 64,1% 
na primeira (64,1%) e na última consulta (87,9%). A maioria dos indivíduos apre-
sentaram carga viral inferior ou igual a 100 mil copias/ml, tanto no início da TARV 
(72,8 %) quanto no final de doze meses (99,1%). E ainda 9,7% dos indivíduos 
possuíam a carga viral detectável em doze meses. 
Quanto a contagem de linfócitos TCD4+ observou-se que 28,6% dos indivíduos 
apresentaram abaixo de 200 células/mm3 no início da TARV e 21,1% iniciaram 
o tratamento com condições clínicas definidoras de aids. 
Quanto aos registros de IST, observou-se uma prevalência de 19,5% (n=90) 
sendo mais da metade sífilis (n=49). Foram registrados em prontuários clínicos 
outras IST, exceto sífilis, em 41 indivíduos (8,9%). No que diz respeito à quanti-
dade de outras IST, observou -se um total de (n=47), com variação de zero a 
três (media=0,10; DP=0,35). Dentre as outras IST registradas, observou-se 9,4% 
47 
 
 
(n=20) com registro de condiloma e verrugas genitais (anal, vaginal, perianal); 
5,6% (n=12) com herpes genital; 5,6% (n=12) com hepatite B e C; 1,4% (n=3) 
para outras (Gonorreia/Tricomonas/IST não especificada). Em relação aos ante-
cedentes de IST, ou seja, antes do início da TARV, observou-se que 29,2% dos 
indivíduos acompanhados nos serviços II e III, tiveram registro de ao menos uma 
IST em algum momento da vida e 11,94% destes também tiveram sífilis após 
início da TARV. O serviço I não dispunha da informação sobre antecedentes de 
IST na PVHIV, contabilizando 43,8% de dados faltantes para essa variável. 
Também foi observado na população registro de outras lesões em mucosa anal

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