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Unidade 1 Financiamento da Seguridade Social no Brasil Disciplina Seguridade Social Profa. Verônica Ferreira Setembro 2022 Constituição Federal de 1988 - Ampliação das bases de financiamento para além da folha de pagamento Impostos pagos pela sociedade + Contribuições sociais vinculadas Orçamento da Seguridade Social Impacto da Política Econômica Fontes de Financiamento da Seguridade Social: Caráter Progressivo ou Regressivo Diversidade ou concentração Brasil Pós-1994 Importância do OSS para a política econômica e social Contribuições retidas pelo Orçamento Fiscal da União Canalização para o superávit primário. Superávit Primário Resultado primário é a diferença entre as receitas não-financeiras arrecadadas e as despesas não-financeiras arrecadadas no exercício fiscal: Receitas não financeiras: os tributos, as contribuições sociais e econômicas, as receitas diretamente arrecadadas por órgãos e entidades da administração indireta, as receitas patrimoniais, etc. Despesas não financeiras: conjunto de gastos com pessoal, previdência, políticas sociais, manutenção da máquina administrativa e investimentos. Diferença positiva: superávit primário; Negativa: déficit primário. Importante: Lado das receitas estão excluídas as receitas de juros Lado das despesas não são computados os encargos da dívida pública. Elementos Estruturantes da Seguridade Social no Brasil Relação com mercado de trabalho assalariado Início do século XX – modelo de seguros/biscarckiano Caixas de Aposentadoria e Pensão Proteção para segurados e seus dependentes Objetivo: garantir maior segurança ao trabalhador assalariado e à sua família em situações de perda da capacidade laborativa. Modelos de Seguridade Social nos Países Capitalistas Bismarckiano (Alemanha, séc. XIX): Objetivo: assegurar renda aos trabalhadores em momentos de riscos sociais decorrentes da ausência de trabalho; Seguros sociais: benefícios garantidos mediante contribuição direta anterior - montante das prestações é proporcional à contribuição efetuada. Modo de financiamento: folha de salários, contribuições de empregados e empregadores. Beveridgiano (Inglaterra, pós-Segunda Guerra, séc. XX): Objetivo: o combate à pobreza; Instituição de direitos universais a todos os cidadãos incondicionalmente ou condicionados a recursos; Mínimos a todos os cidadãos que necessitam. Modo de financiamento: tributos (orçamento fiscal) e a gestão é pública/estatal. Modelo baseado na unificação institucional e na uniformização dos benefícios. Modelo de Seguridade Social no Brasil Segue tendências internacionais dos países capitalistas Centralidade do trabalho na definição do sistema de proteção social/seguridade social; Matriz original dos direitos relativos à seguridade social no Brasil são as Políticas sociais derivadas da inserção das pessoas no mercado de trabalho assalariado. Modelo híbrido Modelo Bismarckino – Seguros Sociais Modelo Beveridgiano Previdência Social Saúde e Assistência Social Confronto de classes e Seguridade Social Pressão movimentos de trabalhadores(as) anos 1980 = Adoção na CF 1988 Conceito de Seguridade Social Sistema de proteção - políticas de saúde, previdência e assistência social Pressão iniciada no fim do Estado Novo (1945): Repercussão do Plano Beveridge (1942) sobre trabalhadores brasileiros. Reivindicação de redução das contribuições, valorização dos benefícios e melhoria dos serviços da previdência social. Caráter inédito da Seguridade Social Uso do termo Seguridade Social: EUA (1935), Inglaterra (1940, Europa), Brasil (1988) Definição constitucional: “conjunto integrado de ações do Estado e da sociedade voltadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social, incluindo também a proteção ao trabalhador desempregado, via seguro-desemprego”. Diretrizes da Seguridade Social (Art. 194) universalidade da cobertura e do atendimento; uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais; seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços; irredutibilidade do valor dos benefícios; eqüidade na forma de participação no custeio; diversidade da base de financiamento; caráter democrático e descentralizado da administração, mediante gestão quadripartite, com participação dos trabalhadores, dos empregadores, dos aposentados e do Governo nos órgãos colegiados. Financiamento (Art. 195 – CF) Seguridade Social deve ser financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios + Contribuições Sociais: do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada incidentes sobre a folha de salários, o lucro, a receita ou o faturamento; do trabalhador e dos demais segurados da previdência social; sobre a receita de concursos de prognósticos; do importador de bens ou serviços do exterior. Financiamento (Art. 195 – CF) Fonte de recursos da previdência: - as receitas dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, constantes nos respectivos orçamentos; - contribuição de segurados individuais, dos clubes de futebol profissional, do empregador doméstico, do produtor rural, - parte da arrecadação do Sistema Integrado de Pagamento de Impostos e Contribuições (Simples) e - Contribuição Provisória sobre Movimentação ou Transmissão de Valores e de Créditos e Direitos de Natureza Financeira (CPMF). Orçamento da Previdência integra o Orçamento da Seguridade Social – ORÇAMENTO ÚNICO. Orçamento (não) implementado da Seguridade Social A finalidade principal do orçamento da seguridade social - espaço próprio e integrador das ações de previdência, saúde e assistência social Apropriação dos recursos do orçamento fiscal. Anos 1990: Desconstrução da ideia de seguridade social e do seu orçamento; Legislação que regulamentou a seguridade = separação das três políticas, com leis específicas para a saúde, previdência e assistência social. Do ponto de vista do financiamento – discriminação gradativa das três políticas. Orçamento da Seguridade Social Um possível Orçamento da Seguridade Social pode ser extraído do Orçamento Fiscal e da Seguridade Social da União. ANFIP e IPEA fazem monitoramento do possível Orçamento da Seguridade Social desde anos 1990. Resultados do orçamento da seguridade social são superavitários. OSS capaz de cobrir as despesas com os direitos já previstos e sua ampliação. Por que isto não ocorre? “Por que o orçamento da seguridade social é parte da âncora de sustentação da política econômica, que suga recursos sociais para pagamento e amortização dos juros da dívida pública”. Análises do Orçamento da Seguridade Social Análise da ANFIP: Receitas: todas as receitas da seguridade social criadas pela Constituição e instituídas posteriormente para seu financiamento (Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social - COFINS, Contribuição Social sobre o Lucro Líquido da Pessoa Jurídica - CSLL e a CPMF), mais a receita previdenciária líquida(contribuições de empregados e empregadores sobre a folha de salários e mais o Simples). Despesas: pagamento dos benefícios previdenciários urbanos e rurais, os benefícios assistenciais e as ações de saúde do Sistema Único de Saúde (SUS), saneamento e custeio do Ministério da Saúde. IPEA: Receitas além daquelas destacadas pela ANFIP adicionam-se a parte da Contribuição para o Programa de Integração Social (PIS) que financiam o seguro-desemprego, a contribuição sobre a produção rural e a Contribuição para Seguridade do Servidor Público (CSSP). Despesas: gastos nas áreas da Previdência Social, da Saúde, da Assistência Social, do Trabalho (seguro-desemprego) e a previdência de inativos e pensionistas da União. Batalha dos dados (ANFIP) “A Análise da Seguridade Social apresenta números diferentes, adota o modelo constitucional do Orçamento da Seguridade Social”. “Desmistificar as contas é muito importante para a defesa dos direitos sociais, principalmentedos direitos previdenciários dos trabalhadores. Mas, é também fundamental para preservar o sentido do sistema de Seguridade Social”. “A Constituição define o Orçamento da Seguridade Social e ainda determina que os órgãos responsáveis pela saúde, previdência e assistência social sejam os elaboradores da proposta de Orçamento da Seguridade Social. Isto nunca foi obedecido” Mito do Déficit da Seguridade Social “Os governos utilizam metodologias, distintas do estabelecido na Constituição Federal, que fabricam o déficit da Seguridade Social para questionar o crescimento dos gastos sociais e sua inviabilidade frente à economia e ao conjunto das receitas públicas. Se, ao contrário, os números demonstrassem os sucessivos superávits da Seguridade, a sociedade entraria em luta permanente para ver esse superávit ser aplicado em mais recursos para a Saúde ou na ampliação dos direitos sociais”. Uma cronologia do desmonte Anos 1990 - Programas de Ajuste Estrutural – Organismos Internacionais Plano Real - “Fundo Social de Emergência (FSE)” - Emenda Constitucional de Revisão 01, de 1994: Desvinculação de 20% dos recursos destinados às políticas da Seguridade Social. Fundo de Estabilização Fiscal (1994 e 1995) - Emendas Constitucionais 10, 17; Emenda Constitucional 27: cria a Desvinculação das Receitas da União (DRU): Desvinculação de 20% da arrecadação de impostos e contribuições sociais até 2004. Governo Lula - Emenda Constitucional nº 42 (reforma tributária): prorrogação da DRU até 2007. Desvinculação das Receitas da União - DRU Sucessivas prorrogações; Perversa alquimia: transforma os recursos destinados ao financiamento da seguridade social em recursos fiscais Fazer superávit primário – pagamento de juros da dívida pública (juros aos credores do Estado); Golpe de 2016 – Governo Temer: amplia para 30% e estende a Estados e Municípios esse percentual; 2019 – Revoga-se DRU sobre Contribuições Sociais em troca da aprovação da Reforma da Previdência. Tese de Behring: desde FHC, vivemos sob Ajuste Fiscal Permanente. Dívida Pública Um dos mecanismos mais importantes na transferência de riqueza para a esfera financeira é “o serviço da dívida pública e as políticas monetárias associadas a este. Trata-se de 20% do orçamento dos principais países e vários pontos dos seus PIBs, que são transferidos anualmente (...). Parte disso assume então a forma de rendimentos financeiros, dos quais vivem camadas sociais de rentistas” (Chesnais, 1996, p. 15). Seguridade Social e Redistribuição de Renda Financiamento da Seguridade Social tem caráter regressivo e não progressivo: Mais participação das contribuições sociais que recursos advindos de impostos Decrescente participação dos impostos federais: o Imposto de Renda (IRPF) e o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) Um tributo é regressivo à medida que tem uma relação inversa com o nível de renda do contribuinte: penaliza mais os contribuintes de menor poder aquisitivo. Imposto progressivo: aumenta a participação do contribuinte à medida que cresce sua renda. Bases de incidência da tributação: Direta – renda e propriedade – progressividade Indireta – produção, circulação e consumo – regressividade. Fundo Público e Seguridade Social Apropriação do Fundo Público da seguridade social para valoração e acumulação do capital vinculado à dívida pública. A arrecadação dos recursos da seguridade social acaba se constituindo em importante fonte de composição do superávit primário. Destinam-se recursos que deveriam ser aplicados em políticas sociais, para o pagamento de juros da dívida pública brasileira, cujos credores são os rentistas do capital financeiro. Estrutura do Fundo Público no Brasil - o financiamento é regressivo – quem sustenta são os trabalhadores e os mais pobres - não faz redistribuição de renda; - a distribuição dos recursos é desigual no âmbito das políticas da Seguridade Social; - transferência de verbas do Orçamento da Seguridade Social para o Orçamento Fiscal; - Estado brasileiro age como um Robin Hood às avessas: retirando recursos dos mais pobres para os mais ricos (classe dos rentistas). - Baixa carga de impostos diretos no Brasil revela que as elites querem ser sócias do fundo público, mas não querem ser tributadas. EC 95/2016 – Teto dos Gastos Impactou Seguridade Social - Iniciativas para reduzir gastos em relação ao PIB: - Buscou a desvinculação, entre 2019 e 2021, do piso de benefícios do salário mínimo: além de acabar com a política de aumentos reais, reajustou o salário mínimo abaixo da inflação em diversos momentos (fere a irredutibilidade); - fez a Reforma da Previdência; - manteve o teto de gastos; - congelou o Bolsa Família e o seu acesso; - represou o estoque de requerimentos de benefícios previdenciários e assistenciais que, em fevereiro de 2022, chegou a 1,7 milhão. Notas sobre Fundo Público Fundo Público, Estado e Valor no Capitalismo Maduro Materialização do Estado em termos de recursos; Mediação na produção do valor; “Condição de vida ou morte para a produção do valor; Capitalismo concorrencial: fundo público com funções limitadas na reprodução do capital; Fundo Público, Estado e Valor no Capitalismo Maduro Capitalismo monopolista e no contexto do pós-Guerra: novo padrão de financiamento público; Fundo público como condição ex-ante (Chico de Oliveira); Fundo público como condição in flux da reprodução do capital (Behring); Fundo público assume função vital na reprodução do capital: novo padrão do financiamento público Enfrentar tendências de estagnação e crises; Realização do valor: consumo; Reprodução da força de trabalho x reprodução do capital. Formação do Fundo Público Mix de mais-valia (trabalho excedente) e trabalho necessário apropriado pelo capital: Trabalho excedente: tributação sobre o capital (juros, lucros, renda da terra); Trabalho necessário: tributação sobre salários e consumo (tributação indireta) Disputas e conflitos pelo fundo público Formação - Conflito Tributário: Brasil: sistemas de tributação regressivos Classe trabalhadora mais pauperizada é mais tributada Sistema tributário: “Hobin Hood às Avessas” Alocação – conflito distributivo: Disputa fundo público para interesses do capital x reprodução da força de trabalho Políticas Sociais Definindo Fundo Público O fundo público envolve toda a capacidade de mobilização de recursos que o Estado tem para intervir na economia, além do próprio orçamento, as empresas estatais, a política monetária comandada pelo Banco Central para socorrer as instituições financeiras etc (Salvador, 2014); A expressão mais visível do fundo público é o orçamento estatal; Fundo público não se confunde com o orçamento público, embora sua disputa se materialize mais fortemente nele; Fundo público não é o fundo nacional de saúde, fundo da criança e do adolescente etc. São peças do orçamento público e uma expressão da alocação do fundo público. Funções do Fundo Público (Salvador, 2014) 1) Como fonte importante para a realização do investimento capitalista: subsídios, de desonerações tributárias, por incentivos fiscais, por redução da base tributária da renda do capital como base de financiamento integral ou parcial dos meios de produção. 2) Como fonte que viabiliza a reprodução da força de trabalho: salários indiretos, reduzindo o custo do capitalista na sua aquisição; 3) Por meio das funções indiretas do Estado: investimentos em meios de transporte e infraestrutura, nos gastos com investigação e pesquisa, além dos subsídios e renúncias fiscais para as empresas. 4) Financeirização: transferência de recursos sob a forma de juros e amortização da dívida pública para o capital financeiro, em especial para as classes dos rentistas. Dívida Pública: ataque do capital financeiro ao fundo público; Captura do fundo público pelo valor. Financeirização e captura do fundo público Punção do fundo público para o rentismo; Dívida pública: crescimento das despesas financeiras do orçamento público (amortizações, juros etc.); Expropriaçãode direitos e conversão em ativos financeiros (saúde, previdência etc.); Ataque ao orçamento da Seguridade Social e demais políticas sociais; Ajuste fiscal permanente e drenagem do fundo público para o rentismo; Golpe de 2016: teto de gastos, Desvinculação de Recursos da União. Financeirização e Fundo Público Com a financeirização da riqueza, os mercados financeiros passam a disputar cada vez mais recursos do fundo público, pressionando pelo aumento das despesas financeiras do orçamento estatal Aumento das despesas financeiras: remuneração dos títulos públicos emitidos pelas autoridades monetárias e negociados no mercado financeiro - fonte de rendimentos para os investidores institucionais. aumento da transferência de recursos do orçamento público para o pagamento de juros da dívida pública Dívida Pública: filão dos rendimentos dos rentistas. Socorro nas Crises incentivos fiscais e isenção de tributos para o mercado financeiro
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