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Embora não sejam benignos, a maioria dos episódios convulsivos é apenas uma alteração temporária na função cerebral, caracterizada clinicamente por um início abrupto dos sintomas motores, sensoriais ou psíquicos. O tratamento correto auxilia a assegurar que a morbidade e a mortalidade sejam raras. Somente nos casos em que uma convulsão sucede a outra, dentro de um pequeno intervalo de tempo, ou quando o episódio convulsivo se torna contínuo, é que representam uma emergência médica potencialmente letal. Tipos de Desordens Convulsivas As manifestações clínicas de atividade paroxística excessiva dos neurônios cerebrais (convulsões) cobrem uma vasta faixa de atividades sensoriais e motoras, podendo envolver um dos ou todos os seguintes fatores: Função visceral alteradas Fenômenos sensoriais, olfatórios, auditivos, visuais ou gustativos Movimentos motores anormais Alterações de acuidade mental e comportamento Alterações de consciência Convulsões parciais (focais, locais) Convulsões parciais simples Sinais motores Sinais somatossensoriais ou sensoriais especiais Sinais ou sintomas autonômicos Sintomas psíquicos Convulsões Parciais Complexas (psicomotoras, lobo temporal) Início parcial simples seguido de perda de consciência Perda de consciência desde o início Convulsões parciais evoluindo para convulsões tônico-clônicas generalizadas (secundariamente generalizadas) Convulsões parciais simples evoluindo para convulsões tônico-clônicas generalizadas Convulsões parciais complexas evoluindo para convulsões generalizadas tônico-clônicas (evoluindo de uma convulsão parcial simples ou de uma convulsão parcial complexa para uma convulsão tônico-clônica) Crises generalizadas (convulsivas ou não convulsivas) Crises de ausência (de pequeno mal verdadeiro) Crises de ausência atípicas Convulsões mioclônicas Convulsões clônicas Convulsões tônicas Convulsões tônico-clônicas (de grande mal) Convulsões atônicas Convulsões epiléticas não classificadas Convulsões parciais apresentam evidência comportamental ou eletroencefalográfica que mostram que a descarga ictal se inicia em uma área do cérebro. As convulsões que não alteram a consciência são chamadas de parciais simples. Aquelas que alteram são denominadas de parciais complexas. Convulsões Acredita-se que as convulsões parciais complexas evoluem de convulsões parciais simples quando iniciam sem uma alteração de consciência (p. ex., uma aura). As convulsões parciais podem progredir para convulsões tônico-clônicas generalizadas e são chamadas de convulsões secundariamente generalizadas. As manifestações comportamentais ou eletroencefalográficas de crises generalizadas verdadeiras são generalizadas desde o início. Vários tipos de crises generalizadas são reconhecidas; alguns não possuem causas estruturais ou químicas conhecidas (p. ex., o pequeno mal verdadeiro), enquanto outros estão associados a dano cerebral difuso. Quando os episódios convulsivos são examinados de acordo com a idade de início, torna-se evidente um padrão. As taxas mais altas de incidência ocorrem abaixo dos 2 anos e acima dos 65 anos. Mais de três quartos dos pacientes com epilepsia possuem a experiência do primeiro episódio convulsivo antes dos 20. Os tipos de convulsões que ocorrem com maior frequência e possuem o maior potencial de morbidade e morte são conhecidos como convulsões generalizadas. Neste grupo incluem-se os episódios convulsivos tônico-clônicos, clinicamente conhecidos como epilepsia de grande mal, além da epilepsia de pequeno mal, também conhecida como crises de ausência. Convulsões parciais Convulsões parciais ou focais são episódios epiléticos caracterizados por sintomas motores, sensoriais, autônomos ou psíquicos, durante os quais é preservada a consciência. Os sinais clínicos e os sintomas das convulsões focais são relacionados com a área afetada do cérebro (foco ictal). Os sinais e sintomas evidentes nos indivíduos que apresentam convulsões parciais podem incluir sintomas sensoriais ou motores específicos, ou ambos; assim, eles são chamados de convulsões parciais simples. As convulsões focais normalmente permanecem localizadas; neste caso, a consciência do indivíduo ou o estado de alerta, normalmente, são meio perturbados e podem ficar evidentes os graus variáveis de amnésia. Por outro lado, uma convulsão focal pode tornar-se uma convulsão generalizada; neste caso, o indivíduo perde a consciência. Convulsões generalizadas A maioria dos pacientes com convulsões recorrentes e generalizadas desenvolve uma das três formas principais: de grande mal, de pequeno mal ou psicomotora. Epilepsia de grande mal A epilepsia de grande mal, mais conhecida como convulsão tônico-clônica, é a forma mais comum de desordem convulsiva. A convulsão tônico-clônica pode ser produzida por desordens neurológicas, incluindo neoplasias, acidentes vasculares cerebrais, meningite e encefalite, ou pode se desenvolver em um cérebro neurologicamente sadio, secundária a um distúrbio metabólico sistêmico ou tóxico. As causas incluem descontinuação de medicamentos, fotoestímulo, menstruação, fadiga, álcool ou outras intoxicações e adormecer e despertar. As convulsões tônico-clônicas induzidas neurologicamente normalmente duram cerca de 2 a 3 minutos e raramente duram mais de 5 minutos (fase clônica). Toda a convulsão, incluindo o período pósictal imediato, dura de 5 a 15 minutos, mas o retorno completo à função cerebral normal e pré-ictal pode demorar até 2 horas. Crises de ausência As crises de ausência podem ocorrer frequentemente e os indivíduos podem vivenciar múltiplos episódios diários. Estas convulsões tendem a ocorrer logo após o despertar ou durante períodos de inatividade. Por outro lado, o exercício reduz a incidência de crises de ausência. As crises de ausência típicas são caracterizadas pela parada comportamental súbita e a falta de resposta que pode ser acompanhada por atividade clônica de pálpebra ou facial; automatismos e aspectos autonômicos, tônicos ou atônicos. A duração raramente excede 10 segundos, sem observação de aura ou estado pós-ictal. O indivíduo não apresenta movimentos durante o episódio, exceto, talvez, um piscar cíclico das pálpebras. O episódio normalmente termina da mesma forma abrupta como foi iniciado. Se o indivíduo estiver em pé no princípio da convulsão, normalmente permanecerá ereto durante o episódio. Além disto, é reconhecida uma tríade do pequeno mal, que consiste em espasmos mioclônicos, convulsões acinéticas e breves ausências ou ausências sem associação com quedas e convulsões corporais. Os indivíduos também apresentam padrões eletroencefalográficos característicos consistentes de 3 ciclos por segundo. Epilepsia de Jackson Com a epilepsia de Jackson (convulsão parcial simples), o indivíduo normalmente permanece consciente, apesar do óbvio comprometimento da consciência. As convulsões focais de epilepsia de Jackson podem ser de natureza motora, sensorial ou autônoma. Geralmente, este tipo de epilepsia se inicia nos músculos distais de um dos membros, como espasmo convulsivo ou parestesia; ou na face, como um espasmo crônico localizado que se espalha (a “marcha de Jackson” clássica) de uma maneira meio ordenada. Por exemplo, pode ser iniciada no hálux e passar para perna, coxa, tronco e ombros, possivelmente envolvendo os membros superiores. Se a convulsão passar para o lado oposto, o indivíduo normalmente perde a consciência. Convulsões psicomotoras Também conhecidas como convulsões parciais complexas. Estas convulsões envolvem regiões corticais extensas e produzem vários sintomas. Duram mais do que as convulsões parciais simples (normalmente 1 a 2 minutos) eseu início e término são mais graduais, além de envolverem um comprometimento de consciência associado. Tais episódios geralmente progridem para ataques generalizados. As causas comuns de convulsões psicomotoras incluem problemas no parto, tumores e trauma. A idade de início normalmente se estende do final da fase infantil ao início da fase adulta. Os indivíduos com epilepsia psicomotora normalmente apresentam automatismos, movimentos aparentemente propositais, fala incoerente, desvio de cabeça e dos olhos, estalar dos lábios, movimentos de torção e contorção das extremidades, perturbação de consciência e amnésia. Estado epilético (status epileticus) O estado epilético é definido como uma atividade convulsiva contínua, clínica ou elétrica, ou convulsões repetitivas com recuperação inter-ictal neurológica incompleta em um período mínimo de 30 minutos. Uma vez que a maioria das convulsões cessa espontaneamente dentro de 1 a 2 minutos, os pacientes com atividade contínua de convulsão por 10 minutos ou mais devem ser tratados como se estivessem em estado epilético. O estado epilético como uma convulsão que continua por mais de 5 minutos ou uma convulsão repetida que se inicia antes que o indivíduo se recupere do episódio inicial. As crises de ausência prolongadas e as convulsões psicomotoras são exemplos de estados não convulsivos e incluem alterações classificadas como de leves a graves no nível de consciência e confusão, com ou sem automatismos. O estado de ausência pode durar horas ou dias, normalmente sendo precipitado por hiperventilação, fotoestímulo, estresse psicogênico, fadiga ou trauma menor, frequentemente terminando em uma convulsão generalizada. O estado não convulsivo não constitui uma emergência médica de perigo de morte agudo no consultório odontológico. Causas As convulsões são divididas em parciais (ou focais) e generalizadas. A consciência é mantida nas convulsões parciais, pois somente uma pequena região do cérebro é afetada. Nas convulsões generalizadas, o estado de consciência é perdido, pois todo o córtex é afetado. As parciais podem tornar-se generalizadas. As convulsões generalizadas “primárias” envolvem todo o cérebro desde o início. A epilepsia pode ainda ser subdividida em três categorias: (1) sintomática de uma lesão cerebral subjacente e identificada; (2) criptogênica, onde existe suspeita de uma lesão anatômica, mas que não pode ser identificada com a tecnologia atual; (3) idiopática, na qual uma lesão identificável não pode ser identificada e nem suspeita. As anomalias herdadas de neurotransmissão sem lesões anatômicas correspondentes são consideradas como a causa para as síndromes idiopáticas. Algumas das possíveis causas de epilepsia sintomática incluem: Anomalias congênitas Lesões perinatais Desordens metabólicas e tóxicas Trauma na cabeça Tumores e outras lesões que ocupam espaço Doenças vasculares Desordens degenerativas Doenças infecciosas As condições congênitas e perinatais incluem infecção maternal(rubéola), trauma ou hipóxia durante o parto. As desordens metabólicas, tais como a hipocalcemia, hipoglicemia, fenilcetonúria e abstinência alcoólica ou medicamentosa, também podem produzir convulsões. Entre os medicamentos comumente utilizados associados à capacidade de provocar convulsões (epileptogênicas) incluem-se penicilina, agentes hipoglicêmicos, anestésicos locais, fisostigmina e fenotiazinas. O trauma da cabeça é muito importante em qualquer idade, mas especialmente nos adultos jovens. A epilepsia pós traumática tende a se desenvolver quando a dura-máter é penetrada; as convulsões se manifestam dentro de 2 anos após o dano. As doenças infecciosas são consideradas como causas reversíveis de convulsões e podem ocorrer em qualquer idade. As infecções do sistema nervoso central (SNC), como a meningite bacteriana ou a encefalite por herpes, frequentemente provocam convulsões. Há um fenômeno no qual crianças e adultos expostos à interferência de televisão, às luzes intermitentes e aos padrões geométricos de videogames desenvolvem convulsões. Este fenômeno, chamado de epilepsia fotossensível, recentemente foi responsável pela ocorrência de convulsão e atividade do tipo epilética em centenas de crianças japonesas ao assistirem a um show de televisão que apresentava luzes coloridas e intermitentes. As convulsões febris normalmente estão associadas a elevações marcantes de temperatura corporal, que as precipitam. Elas ocorrem quase que exclusivamente em bebês e crianças pequenas, particularmente durante o primeiro ano de vida. Os critérios para as convulsões febris incluem: Idade entre 3 meses a 5 anos (ocorrendo principalmente entre 6 meses e 3 anos) Febre de 38.8º C Infecção não associada ao SNC As causas mais frequentes para qualquer tipo de convulsão no consultório odontológico incluem: Convulsão em um paciente epilético Hipoglicemia Hipóxia secundária à síncope Overdose de anestésico local Fatores Predisponentes O tratamento da maioria dos pacientes com história de epilepsia se baseia na prevenção ou na diminuição da frequência de convulsões agudas. Em quase todos os casos, este objetivo é alcançado pelo uso de terapia com medicamentos antiepiléticos (anticonvulsivos) a longo prazo. Em muitos momentos da atividade convulsiva, está evidente uma perturbação aguda que a desencadeia. Estes fatores desencadeantes incluem: luzes intermitentes (destacam-se especialmente em precipitação de crises de ausência), fadiga ou saúde física debilitada, falta de uma refeição, ingestão alcoólica e estresse físico ou emocional. Assim, pode-se dizer que as convulsões são precipitadas por uma combinação de vários fatores. A predisposição genética às convulsões e a presença de uma lesão cerebral localizada estão entre estes fatores. Um ou mais dos fatores seguintes também podem induzir a atividade convulsiva aguda: Perturbação metabólica generalizada ou tóxica que produza um aumento de excitação neuronal cerebral Um estado de insuficiência cerebrovascular Uma perturbação desencadeante aguda, tal como sono ou ciclo menstrual, fadiga, luzes intermitentes ou estresse físico ou psicológico Prevenção Causas não epiléticas A prevenção de atividade convulsiva aguda no consultório odontológico pode ser difícil, devido à natureza idiopática da maioria das convulsões. Entretanto, a avaliação física do paciente, antes do tratamento, pode facilitar a prevenção de convulsões produzidas por perturbações metabólicas ou tóxicas. Uma overdose de anestésico local (p. ex., reação tóxica) é a mais provável causa de uma convulsão não epilética no consultório odontológico. A avaliação adequada do paciente, o preparo, o cuidado na seleção dos agentes anestésicos e o uso de técnica apropriada de administração auxiliam na prevenção da reação tóxica. Causas epiléticas O objetivo de um profissional com os pacientes epiléticos (assim como com todos os pacientes) é determinar a tendência de evolução de uma convulsão aguda durante o tratamento odontológico e tomar qualquer das medidas necessárias para diminuir esta possibilidade. Além disto, o profissional e sua equipe devem estar preparados para tratar qualquer paciente cuja convulsão possa se desenvolver, apesar das técnicas preventivas, e deve tentar minimizar qualquer complicação clínica associada (p. ex., danos ao tecido mole ou fraturas). História médica Investigar a partir de perguntas se o paciente tem ou já teve algum quadro de convulsão, para escolher a melhor abordagem de tratamento odontológico. Exame físico Se um paciente epilético for examinado entre os episódios epiléticos, não há sinais clínicos ou sintomas específicos que levem a um diagnósticode epilepsia. Não são indicadas modificações específicas no tratamento odontológico, além da sedação possivelmente necessária devido à ansiedade. Como a maioria dos anticonvulsivantes provoca depressão no SNC, tal como os benzodiazepínicos (p. ex., diazepam, oxazepam e midazolam), deve haver precaução especial para evitar a sedação excessiva quando são utilizadas as técnicas de sedação mínima ou moderada. Implicações psicológicas de epilepsia Os pacientes com convulsões psicomotoras ou de grande mal podem apresentar sinais de pavor e, de fato, lutam irracionalmente contra qualquer indivíduo que tente auxiliar durante a convulsão. A maioria dos pacientes com convulsões recorrentes podem e conseguem se adaptar ao trabalho e à sociedade, apesar dos períodos ocasionais de incapacidade, devido às convulsões e suas consequências imediatas. O aspecto mais sério de incapacidade epilética é o ostracismo social, que é especialmente prejudicial na criança em idade escolar, a qual fica constrangida pelas convulsões e pode separar-se das outras devido ao medo e à ignorância. Considerações no tratamento odontológico A principal consideração no tratamento odontológico destes indivíduos portadores de epilepsia é se preparar para lidar com uma convulsão, caso ela ocorra. Em caso seguro, devem ser consideradas modificações específicas no tratamento. O estresse psicológico e a fadiga aumentam a tendência de desenvolvimento de uma convulsão. Se o indivíduo tiver medo de dentista, deve ser considerada a sedação mínima ou moderada durante o tratamento. Sedação mínima ou moderada A inalação consciente com óxido nitroso e oxigênio é uma rotina de sedação altamente recomendada para o paciente epilético e ansioso, pois permite um maior grau de controle sobre suas ações. Quando administrado com no mínimo 20% de O2 , não há contraindicações médicas para a administração de óxido nitroso. 60 A sedação oral mínima ou moderada também pode ser eficaz no tratamento de um paciente epilético menos ansioso. Os benzodiazepínicos (p. ex.: diazepam, oxazepam, triazolam, flurazepam) são altamente recomendados para pacientes adultos, ao passo que para crianças são sugeridas prometazina, hidroxizina e midazolam. Podem ser empregados níveis mais profundos de depressão do SNC (sedação parenteral moderada ou sedação profunda) com segurança por via intravenosa (IV) ou intramuscular, nos pacientes epiléticos mais fóbicos. As precauções normais associadas às técnicas de sedação parenteral devem ser aplicadas. A hipóxia ou a anóxia podem induzir convulsões em qualquer paciente, mas a tendência é maior naqueles com desordens convulsivas preexistentes. O uso de O2 complementar durante o tratamento e o oxímetro de pulso são altamente recomendados, sempre que houver necessidade de maiores níveis de depressão do SNC. O uso de álcool é definitivamente contraindicado aos pacientes epiléticos, pois pode precipitar as convulsões. Assim, pacientes epiléticos não devem realizar tratamento odontológico se for óbvia a ingestão alcoólica recente. Além disto, o profissional não deve considerar o uso de álcool como um agente sedativo para um paciente epilético. Um paciente típico, com epilepsia bem controlada, representa um risco ASA 2, enquanto aqueles com epilepsia não tão bem controlada podem representar riscos ASA 3 ou 4. Manifestações Clínicas As convulsões parciais se iniciam em uma área localizada do cérebro e envolvem somente um hemisfério. A convulsão é chamada de convulsão parcial simples quando a consciência permanece inalterada. Por exemplo, a convulsão motora focal é uma convulsão parcial simples durante a qual o indivíduo permanece totalmente alerta e consciente, enquanto um de seus membros sofre espasmos por vários segundos. Entretanto, se houver uma descarga neuronal anormal no hemisfério oposto, a consciência é alterada e a capacidade do paciente em responder ficará comprometida. Este evento é chamado de convulsão parcial complexa e está associado a padrões de comportamento complexo chamados de automatismos. Um exemplo típico de convulsão parcial complexa é o início súbito de gosto ruim na boca (a aura), seguido de uma falta de resposta, movimentos de abanar as mãos e estalar dos lábios. Lentamente, em cerca de um minuto, o paciente se torna reorientado e volta ao normal, exceto por uma leve letargia por três minutos. Uma condição rara, o estado epilético focal, é resistente à terapia com anticonvulsivantes. Caracteristicamente, a atividade convulsiva dura por semanas, independente do tratamento vigoroso. Felizmente, este tipo de convulsão não provoca risco à vida. As convulsões, tanto parciais como complexas, podem progredir para convulsões tônico-clônicas. Convulsão de ausência (pequeno mal) Os episódios convulsivos de ausência ocorrem principalmente em crianças, com início por volta dos 3 aos 15 anos. A convulsão tem um início abrupto, caracterizado por uma supressão total de todas as funções mentais, manifestada por uma súbita imobilidade e um olhar inexpressivo. O indivíduo pode apresentar automatismos simples e pequenos movimentos clônicos faciais, tal como piscar de olhos intermitente em três ciclos por segundo e movimentos com a boca. Tais episódios convulsivos podem durar de 5 a 30 segundos, enquanto o estado de pequeno mal pode persistir por horas ou dias. Geralmente, uma criança pequena pode ser diagnosticada informalmente com a epilepsia de pequeno mal quando ela entra na escola. Após algumas semanas ou meses, o professor da criança pode alertar aos pais que a criança fica sonhando acordada frequentemente ou vai para “outro mundo” por breves períodos de tempo. A avaliação médica normalmente proporciona evidência definitiva de epilepsia de pequeno mal. Convulsão tônico-clônica Fase prodrômica Por um período variável de tempo (vários minutos ou várias horas) antes que ocorra a convulsão tônico- clônica, o paciente epilético apresenta alterações, de sutis a óbvias, na reação emocional, incluindo aumentos na ansiedade ou depressão. O início imediato de uma convulsão tônico-clônica é marcado, na maioria dos pacientes, pelo surgimento de uma aura. A aura, em si, que pode ser de natureza olfativa, visual, degustativa ou auditiva, pode ser considerada como uma convulsão parcial simples que progride para uma convulsão tônico-clônica. Fase pré-ictal Logo após o surgimento da aura, o indivíduo perde a consciência e, se estiver em pé, vai ao chão. É neste momento que ocorre a maioria dos danos relacionados à convulsão. Simultaneamente, ocorre uma série de grandes espasmos mioclônicos bilaterais generalizados, normalmente de flexão e que duram vários segundos. O chamado “grito epilético” ocorre neste momento; uma súbita vocalização produzida com o ar sendo expelido por uma glote parcialmente fechada, enquanto os músculos do diafragma sofrem espasmo. As alterações autonômicas estão associadas a esta fase inicial, incluindo um aumento na frequência cardíaca e na pressão arterial até o dobro do valor limiar, um forte aumento na pressão na bexiga, congestão dos vasos cutâneos e piloereção, hipersecreção glandular, desvio ocular superior com midríase e apneia. Fase ictal Componente tônico Ocorre uma série de contrações generalizadas dos músculos esqueléticos, primeiro em flexão, que então progride para uma rigidez tônica do extensor das extremidades e do tronco. Durante a fase ictal da convulsão, os músculos da respiração também são envolvidos e pode ficar evidente a dispneia e a cianose, indicando a ventilação inadequada. Este período de rigidez tônica normalmente dura de 10 a 20 segundos. Componente clônico A fase tônica evolui para o componente clônico, que se caracteriza por movimentos clônicos generalizadosdo corpo, acompanhados por respiração pesada e ruidosa. O relaxamento muscular alternado e as contrações flexoras violentas caracterizam a atividade clônica. Durante esta fase o paciente pode espumar na boca, devido à mistura de ar e saliva. Fase pós-ictal Quando cessam os movimentos tônico-clônicos e a respiração retorna ao normal, o paciente entra na fase pós-ictal, durante a qual a consciência retorna gradualmente. As manifestações clínicas desta fase dependem muito da severidade da fase ictal. Nos primeiros minutos de fase pós-ictal imediata, o paciente apresenta um período momentâneo de flacidez muscular durante o qual pode ocorrer a incontinência urinária ou fecal, devido ao relaxamento do esfíncter. Condição convulsiva tônico-clônica (grande mal) O estado epilético é definido como uma convulsão contínua ou a recorrência repetitiva de qualquer tipo de convulsão sem recuperação entre os episódios convulsivos. O estado de grande mal pode persistir por horas ou dias e sua causa principal de morte está diretamente relacionada com as desordens convulsivas. Fisiopatologia A epilepsia não é uma doença; é um sintoma que normalmente representa uma forma primária de disfunção cerebral. Estes neurônios hiperexcitáveis estão localizados nos agregados em um foco epileptogênico (o local de origem da convulsão) em algum lugar do cérebro e tende a explosões recorrentes de alta frequência de potenciais de ação. A atividade de convulsão clínica se desenvolve em caso de propagação de uma descarga anormal pelos caminhos neuronais ou se ocorrer o recrutamento neuronal local (se os neurônios circunvizinhos adicionais forem estimados pela descarga). Uma vez que seja recrutada uma massa crítica de neurônios e ocorra uma excitação mantida, a convulsão se propaga pelas vias condutoras até as áreas subcorticais e os centros talâmicos. Se essa descarga permanecer localizada dentro da área do foco, se desenvolve uma convulsão parcial com sinais e sintomas clínicos e, relacionados com a área focal específica. Se a descarga continuar a se espalhar pelo tecido neuronal normal e continuar o recrutamento, ocorre a convulsão generalizada. As manifestações clínicas da convulsão dependem do foco de origem e da região do cérebro por onde a descarga, a seguir, se espalha. As convulsões clínicas provocadas por desordens metabólicas sistêmicas e tóxicas proporcionam evidências de que as convulsões também podem surgir de tecidos neurológicos normais. As deficiências de O2, como na hipóxia que se desenvolve durante a síncope vasodepressora; ou de glicose, que resulta em hipoglicemia; ou nos íons de cálcio, que resultam em hipocalcemia, criam uma instabilidade na membrana que predispõe neurônios que seriam considerados normais a uma descarga paroxísmica. O estímulo elétrico adequado também pode produzir convulsões clínicas em tecidos neurológicos normais (p. ex., terapia eletroconvulsiva). Ocorrem alterações significativas, tanto na fisiologia cerebral como na sistêmica, durante as convulsões motoras. As alterações cerebrais incluem aumentos marcantes no fluxo sanguíneo, utilização de O2 e glicose e produção de dióxido de carbono. Estas alterações são associadas à hipóxia cerebral e à retenção de dióxido de carbono, resultando em acidose e acúmulo de ácido láctico. Após 20 minutos de atividade convulsiva contínua, as demandas metabólicas cerebrais podem exceder o suprimento disponível, levando a uma destruição neuronal potencial. Tratamento O tratamento de um paciente durante a fase ictal de uma convulsão tônico-clônica concentra-se na prevenção de danos e manutenção de ventilação adequada. Em quase todas as convulsões, não há necessidade de medicamentos anticonvulsivos porque a maioria deles é autolimitador. Se a convulsão persistir por um período demasiadamente longo (> 5 minutos), entretanto, deve ser seriamente considerada a terapia com droga anticonvulsiva. Após o término da fase convulsiva, o paciente apresenta vários graus de depressão de SNC, cardiovascular e respiratória, necessitando de atendimento adicional em todos os casos. Sempre existe um conhecimento prévio da atividade convulsiva neste paciente e, assim, é altamente improvável que a equipe odontológica seja surpreendida pela ocorrência de uma convulsão. Crises de ausência e convulsões parciais O tratamento de crises de ausência e convulsões parciais é de natureza de proteção; o socorrista age protegendo a vítima de danos. Em cada um desses casos de convulsão, há pouco ou nenhum perigo para a vítima e, mesmo sem a assistência da equipe odontológica, a morte é rara. São indicadores diagnósticos da presença de convulsão de ausência ou parcial: Início súbito de imobilidade e olhar fixo Comportamento automático simples Piscar das pálpebras lento Duração curta (segundos a minutos) Rápida recuperação Etapa 1: reconhecimento do problema. Falta de resposta ao estímulo sensorial. Etapa 2: término do procedimento. Etapa 3: ativação de equipe de emergência do consultório. Etapa 4: P (posição). Na maioria dos casos de crise de ausência ou parcial simples, não há necessidade de modificar a posição do paciente. Etapa 5: conforto do paciente. Após a convulsão, o profissional deve conversar com o paciente para determinar o nível de alerta e buscar determinar se o episódio estava relacionado com o tratamento odontológico. Etapa 6: liberação do paciente e continuação do tratamento odontológico. Convulsões tônico-clônicas (grande mal) Indicadores diagnósticos que podem levantar a suspeita de convulsão tônico-clônica: Presença de aura antes de perda da consciência Perda de consciência Contração muscular tônico-clônica Dentes cerrados; morder a língua Incontinência Fase ictal Etapa 2: ativação de equipe de emergência do consultório. Etapa 3: P (posição). Quando uma convulsão se desenvolve e a vítima não se encontra sentada na cadeira odontológica, coloque-a gentilmente no chão, em posição supina. Etapa 4: consideração de chamar a equipe de emergências médicas. Embora as convulsões tônico- clônicas sejam breves (menos de 2 minutos), deve ser considerada a solicitação da assistência médica pois: 1. Se a convulsão ainda estiver em andamento quando a assistência médica chegar, ficará mais fácil acessar uma veia patente e administrar intravenosamente um medicamento anticonvulsivante. 2. Se a convulsão tiver terminado quando a emergência médica chegar (grande possibilidade de ocorrer), os membros do serviço médico de emergência podem ajudar a avaliar o estado pós-ictal do paciente, incluindo a necessidade de possível hospitalização ou liberação. Etapa 5: C → A→ B (circulação - vias aéreas - respiração) ou suporte básico de vida, quando necessário. Durante a convulsão, especialmente na fase tônica, a respiração pode se apresentar inadequada. Na realidade, podem ocorrer breves períodos de apneia em associação à óbvia cianose. As secreções também podem se acumular na cavidade oral e, em caso de volume excessivo, produzir um grau de obstrução de vias aéreas. A saliva e o sangue são as secreções mais comuns. A frequência cardíaca e a pressão arterial sanguínea ficam significativamente elevadas acima dos valores limiares. A cabeça da vítima deve ser estendida (inclinação da cabeça) para assegurar a patência das vias aéreas e, se possível, a cavidade oral deve ser cuidadosamente aspirada, para a remoção de secreções em excesso. Etapa 6: D (cuidado definitivo). Etapa 6a: prevenção de danos. Não deve ser realizada a tentativa de segurar as extremidades do paciente em uma posição fixa devido ao risco de fraturas ósseas. Se o chão não tiver cobertura, a cabeça deve ser protegida de traumas através da colocação de um item fino e macio(uma almofada ou blusa) por baixo da cabeça, assegurando que a mesma não seja fletida para a frente, obstruindo as vias aéreas. Além disto, quando a vítima desenvolve uma convulsão na cadeira odontológica, existe o perigo de que ela caia da cadeira ou seja machucada com algum equipamento odontológico. Felizmente, a cadeira odontologia típica é um lugar bom para se ter uma convulsão. O encosto da cabeça na maioria das cadeiras, normalmente, tem enchimento, não sendo necessária maior proteção. Qualquer travesseiro ou apoio adicional, além do dispositivo de descanso para cabeça, deverá ser retirado. Este travesseiro ou apoio pode lançar a cabeça do paciente para a frente, aumentando a tendência à obstrução parcial ou total das vias aéreas. A remoção do apoio da cabeça permite estender o pescoço, puxar a língua e criar maior patência de vias aéreas. Fase pós-ictal Com o término das convulsões, começa a fase pós-ictal, um período de depressão generalizada envolvendo os sistemas nervoso central, cardiovascular e respiratório. Etapa 7: P(posição). A vítima deve permanecer na posição supina, com os pés levemente elevados. Etapa 8: C → A → B ou suporte básico de vida, conforme necessidade. Os pacientes pós-ictais geralmente necessitam de atendimento de vias aéreas. Raramente também necessitam de ventilação assistida ou controlada. O oxigênio pode ser administrado através da máscara ou cânula nasal, caso indicado. A manutenção de vias aéreas e a adequação de ventilação permanecem como considerações primárias neste momento. Etapa 9: monitoramento dos sinais vitais. Etapa 10: conforto do paciente e recuperação. Etapa 11: liberação do paciente.
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