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Distúrbios Sensoriais, Motores e da Consciência 1 Mírian Santos – 7° semestre Problema 04 – “Olhar parado” Objetivos: 1. Elucidar a Epilepsia: → Definição → Classificação → Epidemiologia → Fatores de risco (febre) → Fisiopatologia → Quadro Clínico → Diagnóstico (EEG) → Diagnóstico diferencial → Tratamento → Relacionar o tratamento na gestação → Orientações aos familiares sobre as crises e como proceder. 2. Compreender a Crise Convulsiva: → Definição → Classificação → Relação da febre e convulsão Epilepsia Definição É definida como um distúrbio cerebral caracterizado por predisposição permanente de gerar crises epilépticas e por suas consequências neurobiológicas cognitivas, psicológicas e sociais. Do ponto de vista operacional define-se epilepsia como uma doença encefálica caracterizada por uma das condições seguintes: 1. Pelo menos duas crises não provocadas (ou reflexas) ocorrendo em intervalo superior a 24 horas. 2. Uma crise não provocada (ou reflexa) e uma probabilidade de crises subsequentes semelhante ao risco geral de recorrência (pelo menos de 60%) após duas crises não provocadas, ocorrendo nos próximos 10 anos. 3. Diagnóstico de uma síndrome epiléptica. A epilepsia, é a doença neurológica grave mais comum, ocorre em todas as idades e se caracteriza por uma variedade de apresentações e etiologias. Epilepsia é considerada resolvida para indivíduos que tiveram uma síndrome epiléptica idade-dependente mas agora passaram a idade vulnerável ou aqueles que permaneceram livres de crises por pelo Distúrbios Sensoriais, Motores e da Consciência 2 Mírian Santos – 7° semestre menos 10 anos, sem medicações antiepilépticas pelos últimos 5 anos. Crise epiléptica é a ocorrência de sinais e/ou sintomas transitórios devidos a uma atividade neuronal anormal, excessiva e síncrona no cérebro. Classificação De forma prática, as epilepsias podem ser classificadas segundo dois grandes eixos: topográfico e etiológico. No eixo topográfico, as epilepsias são separadas em generalizadas e focais. As generalizadas manifestam-se por crises epilépticas cujo início envolve ambos os hemisférios simultaneamente. Em geral, são geneticamente determinadas e acompanhadas de alteração da consciência.. ➢ Crises de ausência; ➢ Crises mioclônicas; ➢ Crises tônico-clônicas generalizadas (TCG) . Nas epilepsias focais, as crises epilépticas iniciam de forma localizada numa área específica do cérebro, e suas manifestações clínicas dependem do local de início e da velocidade de propagação da descarga epileptogênica. As crises dividem-se em focais simples (sem comprometimento da consciência) e focais complexas (com comprometimento ao menos parcial da consciência durante o episódio). Por fim, uma crise focal, seja simples ou complexa, quando propagada para todo o córtex cerebral, pode terminar numa crise TCG, sendo então denominada crise focal secundariamente generalizada. No eixo etiológico, as epilepsias são divididas em idiopáticas (sem lesão estrutural subjacente), sintomáticas (com lesão) ou criptogênicas (presumivelmente sintomáticas, mas sem uma lesão aos exames de imagem disponíveis no momento). As causas lesionais mais frequentes das epilepsias focais sintomáticas são esclerose temporal mesial, neoplasias cerebrais primárias, anomalias vasculares e malformações do desenvolvimento corticocerebral. Primeiro classifica o tipo de crise epileptica/convulsiva e depois a sindrome epileptica. Distúrbios Sensoriais, Motores e da Consciência 3 Mírian Santos – 7° semestre Epidemiologia A epilepsia está associada a uma maior mortalidade (risco de acidentes e traumas, crises prolongadas e morte súbita), a um risco aumentado de comorbidades psiquiátricas (sobretudo depressão e ansiedade) e também a inúmeros problemas psicossociais (perda da carteira de habilitação, desemprego, isolamento social, efeitos adversos dos fármacos, disfunção sexual e estigma social). Estima-se que a prevalência mundial de epilepsia ativa esteja em torno de 0,5% a 1,0% da população. A prevalência da epilepsia difere com as diferentes idades, gêneros, grupos étnicos e fatores socioeconômicos. Nos países desenvolvidos, a prevalência da epilepsia aumenta proporcionalmente com o aumento da idade, enquanto nos países em desenvolvimento geralmente atinge picos na adolescência e idade adulta. A probabilidade geral de um indivíduo ser afetado pela epilepsia ao longo da vida é de cerca de 3%. Etiologia – Síndromes de epilepsia Na infância, situações relativamente benignas, como epilepsia rolândica benigna da infância e convulsões febris simples, podem ocorrer. Encefalopatias epilépticas, tais como as síndromes de West e de Lennox-Gastaut, estão comumente associadas a alguma doença de base (são, portanto, sintomáticas na sua maioria) e geralmente apresentam mau prognóstico tanto do ponto de vista do controle medicamentoso de crises como no tocante ao desenvolvimento neuropsicomotor. A epilepsia rolândica benigna da infância geralmente tem início na pré-adolescência (7 a 10 anos de idade), predomina em meninos (numa proporção de 1,5:1) e apresenta alta prevalência (15% das epilepsias da infância). As crises caracterizam-se por sintomas motores ou sensoriais faciais unilaterais, manifestações orofaríngeas, paralisia da fala e hipersalivação. É uma epilepsia geneticamente determinada, com evidências de ligação com o cromossoma 15q14. Sua herança é autossômica dominante, com penetrância idade-dependente. Apesar de clinicamente as crianças terem aspecto muito próximo do normal, o eletroencefalograma mostra-se desproporcional e gravemente alterado, com atividade epileptogênica localizada em uma ou em ambas as regiões centrais, sobretudo durante o sono. O prognóstico é excelente: o risco de desenvolver crises generalizadas infrequentes na idade adulta é inferior a 2%. A remissão das crises ocorre 2-4 anos após o início do quadro e sempre antes dos 16 anos de idade. A maioria dos pacientes apresenta menos de 10 crises ao longo do tratamento. Convulsões febris devem-se a uma suscetibilidade aumentada a crises epilépticas, são dependentes da idade (6 meses - 5 anos) e geneticamente determinadas. Distúrbios Sensoriais, Motores e da Consciência 4 Mírian Santos – 7° semestre As crises são precipitadas por febre, sem evidência de infecção do sistema nervoso central (SNC) ou outra causa. Há uma leve predominância do sexo masculino (60%). A prevalência é de cerca de 3% das crianças. As crises duram menos de 15 minutos, são generalizadas e não se acompanham de deficits neurológicos. Não há necessidade de medicamentos anticonvulsivantes preventivos. Cerca de 3% das crianças que tiveram crises febris desenvolvem algum tipo de epilepsia na idade adulta. Em geral, o prognóstico é bom, com desenvolvimentos cognitivo e comportamental adequados(14). A síndrome de West é uma encefalopatia epiléptica relacionada especificamente a crianças com menos de 1 ano de idade, resultante de múltiplas causas. Ela é caracterizada por um tipo específico de crise epiléptica, denominada “espasmos epilépticos”, e anormalidades grosseiras ao eletrocardiograma (o chamado padrão hipsarrítmico ou hipsarritmia). O desenvolvimento psicomotor é invariavelmente prejudicado. Cerca de 60% das crianças desenvolvem outros tipos de crises, evoluindo para síndrome de Lennox- Gastaut(15). A síndrome de Lennox-Gastauté uma síndrome da infância caracterizada pela tríade: crises epilépticas polimorfas intratáveis (em geral, tônicas, atônicas ou de ausência atípica), anormalidades cognitivas e comportamentais e EEG com paroxismos de atividade rápida e descargas generalizadas de complexos onda aguda-onda lenta a 2,5 Hz. Manifesta-se antes dos 11 anos de idade, e as crises geralmente resultam em quedas. A exemplo da síndrome de West, a de Lennox- Gastaut também apresenta uma vasta lista de possíveis Epilepsia etiologias. O prognóstico é ruim, com 5% de mortalidade. Cerca de 80%-90% dos pacientes continuam a apresentar crises epilépticas na vida adulta. A identificação de fatores etiológicos e da doença em seu estágio inicial e o encaminhamento ágil e adequado para o atendimento especializado dão à Atenção Básica um caráter essencial para um melhor resultado terapêutico e prognóstico dos casos. Síndrome de epilepsia do lobo temporal mesial A síndrome de epilepsia do lobo temporal mesial (ELTM) é a síndrome mais comumente associada a crises focais com manifestações discognitivas e fornece um exemplo de uma síndrome de epilepsia com características clínicas, eletrencefalográficas e anatomopatológicas distintivas. A RM de alta resolução pode detectar a esclerose hipocampal típica que parece ser essencial à fisiopatologia da ELTM em muitos pacientes. O reconhecimento desta síndrome é especialmente importante, pois ela tende a ser refratária ao tratamento com anticonvulsivantes, Distúrbios Sensoriais, Motores e da Consciência 5 Mírian Santos – 7° semestre mas responde muitíssimo bem à intervenção cirúrgica. Fisiopatologia As crises epilépticas resultam de um desvio no equilíbrio normal entre excitação e inibição no SNC. Devido as várias propriedades que controlam a estabilidade neuronal, não causa surpresa o fato de existirem muitas formas diferentes de perturbar esse equilíbrio normal e, portanto, muitas causas diferentes para as crises epilépticas e a epilepsia. Três observações clínicas mostram porque certas afecções causam crises epilépticas ou epilepsia em um dado paciente. 1. O cérebro normal é capaz de apresentar uma crise epiléptica nas circunstâncias apropriadas, e existem diferenças entre os indivíduos na suscetibilidade ou no limiar para crises epilépticas. ➢ Por exemplo, a febre alta pode induzir crises em crianças sem outros problemas de saúde e que jamais apresentarão problemas neurológicos, incluindo epilepsia. ➢ Isso mostra que existe diversos fatores endógenos que influenciam o limiar para uma crise. ➢ Alguns desses fatores são claramente genéticos, pois se mostrou que uma história familiar de epilepsia influencia a probabilidade de haver crises em indivíduos normais nos demais aspectos. 2. Existem diversas afecções que apresentam altíssima probabilidade de acarretar um distúrbio epiléptico crônico. Um dos melhores exemplos disso é o traumatismo craniano grave penetrante, associado a risco de quase 45% de epilepsia subsequente. ➢ A alta propensão da lesão cerebral traumática grave de gerar epilepsia sugere que a lesão resulte em uma modificação patológica persistente no SNC que transforma uma rede neural presumivelmente normal em outra anormalmente hiperexcitável. ➢ Esse processo é conhecido como epileptogênese e as alterações específicas que resultam em diminuição do limiar para crises epilépticas podem ser consideradas fatores epileptogênicos. 3. As crises epilépticas são episódicas. Os pacientes com epilepsia têm crises de maneira intermitente e, de acordo com a causa subjacente, muitos permanecem completamente normais por meses ou até mesmo anos entre as crises. ➢ Isto sugere a existência de fatores desencadeantes ou precipitantes importantes que induzem crises no paciente com epilepsia. ➢ Os elementos precipitantes incluem aqueles decorrentes de processos fisiológicos intrínsecos, como estresse psicológico ou físico, privação do sono, ou alterações hormonais associadas ao ciclo menstrual. ➢ Também incluem fatores exógenos como exposição a substâncias tóxicas e certos fármacos. Distúrbios Sensoriais, Motores e da Consciência 6 Mírian Santos – 7° semestre Mecanismo de inicio e propagação da convulsão: A atividade convulsiva focal pode começar em uma região bem definida do córtex e, depois, lentamente invadir as regiões vizinhas. A característica fundamental de uma convulsão bem definida é uma “ponta” eletrográfica devido a disparos intensos quase simultâneos de um grande número de neurônios excitatórios locais, resultando em uma hipersincronização aparente dos disparos excitatórios em uma região cortical relativamente grande. A atividade paroxística em neurônios individuais (o “desvio paroxístico da despolarização”) é causada por despolarização de duração relativamente longa da membrana neuronal decorrente do influxo de cálcio extracelular (Ca2+), o qual leva à abertura dos canais de sódio (Na+) dependentes de voltagem, influxo de Na+ e geração de potenciais de ação repetitivos. Isso é seguido de um pós-potencial hiperpolarizante mediado pelos receptores do ácido γ-aminobutírico (GABA) ou canais de potássio (K+), de acordo com o tipo celular. Os disparos sincronizados de um número suficiente de neurônios resultam na chamada descarga em ponta no EEG. A onda de disseminação da convulsão é alentecida e, por fim, interrompida pela hiperpolarização intacta e uma inibição “ circundante” criada pela ativação progressiva de neurônios inibitórios. Com ativação suficiente, há recrutamento dos neurônios circundantes por diversos mecanismos sinápticos e não sinápticos, incluindo: (1) aumento do K+ extracelular, que amortece a hiperpolarização e despolariza neurônios vizinhos; (2) acúmulo de Ca2+ nos terminais présinápticos, levando a maior liberação de neurotransmissores; e (3) ativação induzida pela despolarização do subtipo N-metil-D-aspartato (NMDA) do receptor de aminoácidos excitatórios, que causa influxo adicional de Ca2+ e ativação neuronal; e (4) interações efáticas relacionadas a alterações da osmolaridade tecidual e edema celular. O recrutamento de uma quantidade suficiente de neurônios leva à propagação de correntes excitatórias para áreas contíguas por meio de conexões corticais locais, e para áreas mais distantes por meio de vias comissurais longas como o corpo caloso. Muitos fatores controlam a excitabilidade neuronal e, dessa maneira, existem muitos mecanismos com o potencial de alterar a propensão do neurônio a apresentar atividade paroxística. Os mecanismos intrínsecos ao neurônio incluem alterações na condutância dos canais iônicos, nas características de resposta dos receptores da membrana, no tamponamento citoplasmático, nos sistemas de segundo mensageiro e na expressão de proteínas determinada pela transcrição, tradução e modificação pós-traducional dos genes. Os mecanismos extrínsecos ao neurônio abrangem modificações na quantidade ou no Distúrbios Sensoriais, Motores e da Consciência 7 Mírian Santos – 7° semestre tipo de neurotransmissores presentes na sinapse, modulação de receptores por íons extracelulares e outras moléculas e propriedades temporais e espaciais dos impulsos aferentes sinápticos e não sinápticos. As células não neuronais, como os astrócitos e oligodendrócitos, também exercem um papel importante em muitos desses mecanismos. A ingestão acidental de ácido domoico, um análogo do glutamato (o principal neurotransmissor excitatório do cérebro), causa convulsões intensaspor meio da ativação direta de receptores de aminoácidos excitatórios em todo o SNC. Os mecanismos básicos de outros fatores desencadeantes de convulsões, como privação do sono, febre, abstinência alcoólica, hipoxia e infecção, são menos bem compreendidos, mas presume-se que envolvam perturbações análogas da excitabilidade neuronal. MECANISMOS DA EPILEPTOGÊNESE Epileptogênese refere-se à transformação da rede neuronal normal em uma rede que é cronicamente hiperexcitável. Muitas vezes, há um atraso de meses a anos entre a lesão inicial do SNC, como traumatismo, AVC ou infecção e a primeira convulsão. Diagnóstico (EEG) ANAMNESE E EXAME FÍSICO O primeiro objetivo é determinar se o evento de fato foi uma convulsão. Uma anamnese minuciosa é essencial, pois em muitos casos, o diagnóstico de uma convulsão se baseia unicamente em critérios clínicos – o exame físico e os testes laboratoriais costumam ser normais. As perguntas devem concentrar-se nos sintomas que ocorreram antes, durante e após o episódio a fim de discriminar entre convulsão e outros eventos paroxísticos. As convulsões com frequência ocorrem fora do ambiente hospitalar, e o paciente pode não ter consciência das fases ictal e pós-ictal imediata; portanto, as testemunhas do evento devem ser questionadas cuidadosamente. A anamnese deve concentrar-se nos fatores de risco e eventos predisponentes. Os indícios de predisposição a convulsões incluem história de convulsões febris, história familiar de convulsões e, de importância particular, auras ou convulsões breves anteriores não reconhecidas como tais. Fatores epileptogênicos, como traumatismo craniano anterior, AVC, tumor ou infecção do SNC, devem ser identificados. Nas crianças, uma avaliação cuidadosa dos marcos do desenvolvimento pode proporcionar evidências de uma doença subjacente do SNC. Também é necessário identificar fatores desencadeantes como privação do sono, doenças sistêmicas, desequilíbrios eletrolíticos ou metabólicos, infecção aguda, fármacos que reduzem o limiar convulsivo ou uso de álcool ou substâncias ilícitas. O exame físico geral inclui uma pesquisa de sinais de infecção ou enfermidade sistêmica. Um exame cuidadoso da pele pode revelar sinais de distúrbios neurocutâneos, como esclerose tuberosa ou neurofibromatose, ou de uma doença renal ou hepática crônica. Distúrbios Sensoriais, Motores e da Consciência 8 Mírian Santos – 7° semestre A detecção de organomegalia pode indicar uma doença metabólica de depósito, e a assimetria dos membros fornece um indício de lesão cerebral no início do desenvolvimento. Devem-se procurar por sinais de traumatismo craniano e uso de álcool e substâncias ilícitas. A ausculta cardíaca e das artérias carótidas pode evidenciar uma anormalidade que predisponha a doença cerebrovascular. Uma avaliação cuidadosa do estado mental (incluindo a memória, a linguagem e o pensamento abstrato) pode sugerir lesões nos lobos frontal anterior, parietal ou temporal. O teste dos campos visuais ajuda no rastreamento de lesões das vias ópticas e dos lobos occipitais. Os testes de rastreamento da função motora, como queda em pronação, reflexos tendíneos profundos, marcha e coordenação, podem sugerir lesões do córtex motor (frontal), e os testes de sensibilidade cortical (p. ex., estimulação simultânea dupla) podem detectar lesões no córtex parietal. EXAMES LABORATORIAIS Exames de sangue de rotina estão indicados para identificar as causas metabólicas mais comuns das convulsões, como anormalidades nos eletrólitos, glicose, cálcio ou magnésio e doenças hepática ou renal. Também se deve solicitar rastreamento para toxinas no sangue e na urina de todos os pacientes que pertençam aos grupos de risco apropriados, principalmente se não for identificado um fator precipitante claro. A punção lombar é indicada se houver qualquer suspeita de meningite ou encefalite, e é obrigatória em todos os pacientes infectados pelo HIV, mesmo na ausência de sinais ou sintomas sugestivos de infecção. O teste para autoanticorpos no soro e no líquido cerebrospinal (LCS) deve ser considerado em pacientes com uma forma muito agressiva de epilepsia associada a outras anormalidades, como sintomas psiquiátricos e distúrbios cognitivos. EXAMES ELETROFISIOLÓGICOS A atividade elétrica do cérebro (EEG) é facilmente registrada por meio de eletrodos aplicados no couro cabeludo. A diferença de potencial entre os pares de eletrodos posicionados no couro cabeludo (derivação bipolar) ou entre eletrodos específicos e um ponto de referência comum relativamente inativo (derivação referencial) é amplificada e exibida na tela de um computador, no osciloscópio ou no papel. As características do EEG normal dependem da idade e do nível de vigília do paciente. Nos adultos normais despertos e deitados tranquilamente com os olhos fechados, o EEG mostra, nas regiões posteriores, um ritmo alfa de 8 a 13 Hz, entremeado com quantidade variável de atividade (beta) mais rápida (> 13 Hz) generalizada; o ritmo alfa é atenuado quando os olhos são abertos. No estado de sonolência, o ritmo alfa também diminui; no sono superficial, as atividades mais lentas nas faixas teta (4-7 Hz) e delta (< 4 Hz) tornam-se mais evidentes. Distúrbios Sensoriais, Motores e da Consciência 9 Mírian Santos – 7° semestre Todos os pacientes com suspeita de um distúrbio convulsivo devem ser avaliados com EEG assim que possível. Na avaliação de um paciente com suspeita de epilepsia, a presença de atividade convulsiva eletrográfica durante o evento clinicamente evidente – isto é, atividade rítmica repetitiva anormal com início e fim distintos – estabelece o diagnóstico claramente. Contudo, a ausência de atividade convulsiva eletrográfica não exclui um distúrbio convulsivo porque convulsões focais podem originar-se de uma região do córtex que não pode ser detectada por eletrodos no couro cabeludo. O EEG sempre é anormal durante convulsões tônico-clônicas generalizadas. O EEG também é usado para classificar os distúrbios convulsivos e ajudar na seleção de fármacos anticonvulsivantes. Por exemplo, atividade de ponta-onda generalizada episódica costuma ser encontrada em pacientes com epilepsia de ausência típica e pode ser vista com outras síndromes epilépticas generalizadas. Descargas epileptiformes interictais focais sustentam o diagnóstico de um distúrbio convulsivo focal, como a epilepsia do lobo temporal ou convulsões do lobo frontal, de acordo com a localização das descargas. Também se pode usar o EEG rotineiro registrado no couro cabeludo para avaliar o prognóstico dos distúrbios convulsivos; em geral, um EEG normal significa prognóstico melhor, enquanto um ritmo de base anormal ou atividade epileptiforme profusa sugere prognóstico reservado. A magnetoencefalografia (MEG) oferece outro modo não invasivo de avaliar a atividade cortical. Em vez de medir a atividade elétrica do cérebro, ela mede os pequenos campos magnéticos que são gerados por essa atividade. A MSI pode ser útil para localizar focos convulsivos em potencial. EXAMES DE IMAGEM CEREBRAL Demonstrou-se que a RM é superior à tomografia computadorizada (TC) na detecção de lesões cerebrais associadas à epilepsia. Em alguns casos, a RM identifica lesões como tumores, malformações vasculares e outras patologias que exigem tratamento urgente. A disponibilidade de métodos mais modernos de RM aumentou a sensibilidade para a detecção de anormalidades da arquitetura cortical, incluindo atrofia hipocampal associada a esclerose temporal mesial, e anormalidades da migraçãoneuronal cortical. Nesses casos, os achados podem não levar a terapia imediata, mas proporcionam uma explicação para as convulsões do paciente e apontam para a necessidade de terapia farmacológica antiepiléptica crônica ou possível ressecção cirúrgica. Procedimentos de imagens funcionais, como a tomografia computadorizada por emissão de pósitrons (PET) e a tomografia computadorizada por emissão de fóton único (SPECT), também são usados para avaliar determinados pacientes com convulsões refratárias ao tratamento clínico. Distúrbios Sensoriais, Motores e da Consciência 10 Mírian Santos – 7° semestre Diagnóstico diferencial Tratamento Tratamento pré-hospitalar O fator mais importante no tratamento de crises epilépticas de aparecimento agudo é o intervalo de tempo até a administração do tratamento inicial. Isso exige reconhecimento oportuno de crises epilépticas por testemunhas oculares e notificação dos serviços de atendimento de emergência. O atendimento pré-hospitalar com estabilização do paciente e administração de medicação é crucial no tratamento inicial das crises epilépticas agudas e tem sido associado a melhora dos desfechos dos pacientes. A estabilização inclui avaliação inicial das vias respiratórias, estabilização da ventilação e manutenção da circulação. Após a estabilização do paciente, o tratamento pré- hospitalar inclui tentativas de obter um acesso intravenoso (IV) e investigação de causas reversíveis de crises epilépticas como hipoglicemia. Após a avaliação inicial, o tratamento para crises epilépticas convulsivas pode ser administrado pela equipe de emergência móvel. Os benzodiazepínicos têm sido o FAE preferido no ambiente extra-hospitalar. Tradicionalmente, os agentes IV usados são lorazepam (4 mg) ou diazepam (10 mg). Os pacientes com atividade crítica medicados com benzodiazepínicos por via IV, em doses apropriadas e direcionadas, apresentam menos ocorrências de depressão respiratória/intubação do que pacientes com atividade crítica prolongada sem tratamento. A eficácia e a segurança do uso de benzodiazepínicos IV, sobretudo lorazepam, foram achados importantes no tratamento pré- hospitalar precoce de crises epilépticas convulsivas. A dificuldade da equipe pré-hospitalar de estabelecer um acesso venoso para a administração apropriada de diazepínicos, juntamente com o armazenamento de lorazepam IV nas ambulâncias, constitui um empecilho ao seu uso. Como resultado, midazolam na dose de 10 mg IM tem sido cada vez mais usado no atendimento pré-hospitalar. Um estudo com este FAE revelou eficácia e eficiência como uma alternativa para o lorazepam IV. Tratamento hospitalar Após o paciente chegar ao hospital, ele deve ser reavaliado quanto à estabilidade das vias respiratórias, da ventilação e da circulação. Oxigênio suplementar pode ser providenciado. O monitoramento hemodinâmico deve ser implementado, com atenção especial a pressão arterial, monitoramento cardíaco e oxigenação. Distúrbios Sensoriais, Motores e da Consciência 11 Mírian Santos – 7° semestre O acesso venoso, se ainda não tiver sido estabelecido, deve ser obtido juntamente com infusão de soluções para manter a euvolemia. Os médicos devem reavaliar o estado glicêmico e, se houver evidências de hipoglicemia, é importante corrigi-la imediatamente com 50 mℓ de glicose a 50% associada a 100 mg de tiamina IV. Os prestadores de atendimento pré-hospitalar devem informar aos médicos da instituição quais providências foram tomadas antes da chegada, inclusive doses de benzodiazepínicos. A terapia inicial com benzodiazepínicos é, com frequência, feita com doses inferiores às necessárias porque a posologia para a atividade crítica é mais elevada que a prescrita para a maioria das indicações nos serviços de emergência móvel ou pronto-socorro. Deve ser dada atenção à instituição de terapia plena e apropriada com benzodiazepínicos por meio de doses adicionais se isso não foi feito inicialmente. Lorazepam IV é comprovadamente o agente inicial preferido. A dose total preconizada de 0,1 mg/kg (4 mg por dose) pode ser administrada. Outra dose de 4 mg pode ser administrada após 5 a 10 min se isso for necessário (até um total máximo de 8 mg). A velocidade de administração do lorazepam deve ser de até 2 mg/min. Deve ser dada atenção cuidadosa às condições cardiopulmonares durante a administração de benzodiazepínico para evitar hipotensão ou depressão respiratória. Do mesmo modo que o tratamento pré- hospitalar, se não houver um acesso IV disponível, os benzodiazepínicos podem ser administrados IM por via, retal, nasal ou bucal. Midazolam é o agente preferido para administração por via intramuscular. Midazolam pode ser administrado na dose de 0,2 mg/kg IM até uma dose total de 10 mg. Crise convulsiva Uma convulsão consiste na ocorrência transitória de sinais ou sintomas devido a uma atividade neuronal anormal, excessiva ou sincrônica. De acordo com a distribuição das descargas, essa atividade cerebral anormal pode ter várias manifestações, que variam desde uma atividade motora dramática até fenômenos sensoriais dificilmente discerníveis por um observador. Embora diversos fatores influenciem a incidência e prevalência de convulsões, cerca de 5 a 10% da população apresentará pelo menos uma convulsão, sendo as maiores incidências verificadas no início da infância e na idade adulta avançada. O significado do termo convulsão tem de ser cuidadosamente distinguido daquele de epilepsia. A epilepsia descreve uma condição em que uma pessoa corre risco de convulsões recorrentes devido a um processo subjacente crônico. Essa definição subentende que uma pessoa que sofre uma única convulsão, ou convulsões recorrentes em consequência de circunstâncias corrigíveis ou evitáveis, não Distúrbios Sensoriais, Motores e da Consciência 12 Mírian Santos – 7° semestre tem necessariamente epilepsia (embora uma única convulsão associada a determinadas manifestações clínicas ou eletrencefalográficas específicas possa estabelecer o diagnóstico de epilepsia). CLASSIFICAÇÃO DAS CONVULSÕES A determinação do tipo de convulsão é fundamental para concentrar a abordagem diagnóstica em etiologias específicas, selecionar o tratamento apropriado e fornecer informações potencialmente vitais acerca do prognóstico. A Comissão de Classificação e Terminologia da International League Against Epilepsy (ILAE) forneceu uma abordagem atualizada para a classificação das convulsões em 2017. Esse sistema baseia-se nas manifestações clínicas das convulsões e nos achados eletrencefalográficos associados. Um princípio fundamental é que as convulsões podem ser focais ou generalizadas. As convulsões focais originam-se dentro de redes limitadas a uma região cerebral (observe que o termo convulsões parciais não é mais usado). As convulsões focais em geral estão associadas a anormalidades estruturais do cérebro. As convulsões generalizadas surgem e rapidamente envolvem redes distribuídas por ambos os hemisférios cerebrais. As convulsões generalizadas, em contrapartida, podem decorrer de anormalidades celulares, bioquímicas ou estruturais que têm distribuição mais disseminada. CONVULSÕES DE INÍCIO FOCAL As convulsões focais surgem a partir de uma rede neuronal localizada distintamente dentro de uma região cerebral ou distribuída mais amplamente, porém ainda situada dentro de um hemisfério cerebral. As convulsões focais também podem evoluir para convulsões generalizadas. O eletrencefalograma(EEG) interictal (i.e., entre as convulsões) de rotina em pacientes com convulsões focais geralmente é normal ou pode mostrar descargas breves, denominadas pontas epileptiformes ou ondas agudas. Como as convulsões focais podem surgir no lobo temporal medial ou no lobo frontal inferior (i.e., regiões distantes do couro cabeludo), o EEG registrado durante a convulsão pode não localizar o foco. Entretanto, a região de início da convulsão pode ser detectada com o uso de eletrodos intracranianos cirurgicamente implantados. 1. Convulsões focais perceptivas (intact awareness) ➢ As convulsões focais podem ter manifestações motoras (como movimentos tônicos, clônicos ou mioclônicos) ou não motoras (como sintomas sensitivos, autonômicos ou emocionais) sem comprometimento da percepção. ➢ Por exemplo, um paciente que tem uma convulsão motora focal no córtex motor primário direito próximo à região Distúrbios Sensoriais, Motores e da Consciência 13 Mírian Santos – 7° semestre que controla os movimentos da mão irá perceber o aparecimento de movimentos involuntários na mão esquerda contralateral. ➢ Uma vez que a região cortical que controla o movimento da mão é adjacente à da expressão facial, a convulsão também pode causar movimentos anormais da face, sincrônicos aos movimentos da mão. Vale a pena mencionar três características das convulsões motoras focais. ➢ Primeiramente, em alguns pacientes os movimentos motores anormais podem começar em uma região muito restrita, como os dedos, e avançar de modo gradual (em questão de segundos a minutos) para incluir uma parcela maior do membro. Conhecido como “marcha jacksoniana”, representa a disseminação da atividade convulsiva para uma região progressivamente maior do córtex motor. ➢ Em segundo lugar, os pacientes podem apresentar paresia localizada (paralisia de Todd) durante alguns minutos a muitas horas na região acometida após a convulsão. ➢ Em terceiro, em casos raros, a convulsão persiste durante horas ou dias. Tal situação, denominada epilepsia parcial contínua, muitas vezes é refratária ao tratamento clínico. ➢ As convulsões também podem manifestar-se como alterações na sensibilidade somática (p. ex., parestesias), na visão (luzes piscando ou alucinações bem formadas), no equilíbrio (sensação de queda ou vertigem), ou na função autonômica (rubor, sudorese, piloereção). ➢ As convulsões focais que surgem do córtex temporal ou frontal também podem causar alterações na audição, olfato ou estado emocional. ➢ Elas incluem a sensação de odores incomuns e intensos (p. ex., borracha queimando ou querosene) ou sons (grosseiros ou altamente complexos), ou uma sensação epigástrica que ascende do estômago ou tórax para a cabeça. ➢ Alguns pacientes descrevem sentimentos singulares, como medo, sensação de mudança iminente, dissociação, despersonalização, déjà vu, ou ilusões de que os objetos estão se tornando menores (micropsia) ou maiores (macropsia). ➢ Esses eventos “internos” subjetivos, que não são diretamente observáveis por outra pessoa, são designados auras. 2. Convulsões focais disperceptivas (impaired awareness) ➢ As convulsões focais também podem ser acompanhadas de comprometimento transitório da capacidade do paciente de manter contato normal com o ambiente. ➢ O paciente é incapaz de responder adequadamente a comandos visuais Distúrbios Sensoriais, Motores e da Consciência 14 Mírian Santos – 7° semestre ou verbais durante a convulsão e tem memória ou percepção da fase ictal comprometidas. ➢ As convulsões costumam começar com aura (i.e., convulsão focal sem distúrbio cognitivo), estereotipada para cada paciente. ➢ O início da fase ictal consiste frequentemente em olhar fixo imóvel, que assinala o começo do período de comprometimento da percepção. ➢ A percepção comprometida é habitualmente acompanhada de automatismos, que são comportamentos automáticos involuntários. ➢ Os automatismos podem consistir em comportamentos muito básicos, como mastigar, estalar os lábios, deglutir, ou movimentos de apanhar objetos com as mãos, ou comportamentos mais elaborados, como a expressão de emoção ou o ato de correr. ➢ Em geral, o paciente está confuso após a convulsão, e a transição até a recuperação plena da consciência pode demorar de segundos até 1 hora. ➢ O exame imediatamente após a convulsão pode revelar amnésia anterógrada ou déficits neurológicos transitórios (como afasia, heminegligência ou perda visual) causados por inibição pós-ictal das regiões corticais mais envolvidas na convulsão. EVOLUÇÃO DAS CONVULSÕES FOCAIS PARA CONVULSÕES GENERALIZADAS As convulsões focais podem disseminar-se e comprometer ambos os hemisférios cerebrais, produzindo uma convulsão generalizada, em geral do tipo tônico-clônica. Essa evolução é mais comum após convulsões focais, que surgem a partir de um foco no lobo frontal. Muitas vezes, é difícil diferenciar uma convulsão focal que evolui para uma generalizada de uma convulsão tônico- clônica primária de início generalizado, visto que as testemunhas tendem a enfatizar a fase convulsiva generalizada, mais dramática, da convulsão, e omitir os sintomas focais mais sutis presentes no início. Em alguns casos, o início focal da crise só fica evidente quando uma anamnese minuciosa identifica uma aura prévia. Porém, com frequência o início focal não é clinicamente evidente e só é estabelecido por uma análise cuidadosa do EEG. CONVULSÕES DE INÍCIO GENERALIZADO As convulsões de início generalizado originam- se em algum ponto do cérebro, porém ocupam, imediata e rapidamente, redes neuronais em ambos os hemisférios. Diversos tipos de convulsões generalizadas apresentam características que as incluem em categorias distintas e que facilitam o diagnóstico clínico. Crises de ausência típicas: ➢ As crises de ausência típicas caracterizam-se por lapsos breves e Distúrbios Sensoriais, Motores e da Consciência 15 Mírian Santos – 7° semestre súbitos da consciência sem perda do controle postural. ➢ Em geral, a convulsão dura apenas alguns segundos, a consciência retorna tão rapidamente quanto foi perdida e não há confusão pós-ictal. ➢ As crises de ausência em geral acompanham-se de sinais motores bilaterais sutis, como rápido piscar de olhos, movimentos mastigatórios, ou movimentos clônicos de pequena amplitude das mãos. ➢ As crises de ausência típicas estão associadas a um grupo de epilepsias geneticamente determinadas que começam em geral na infância (entre 4 e 10 anos) ou no início da adolescência e são o principal tipo de convulsão em 15 a 20% das crianças com epilepsia. ➢ As convulsões podem ocorrer centenas de vezes durante o dia, mas a criança pode não ter consciência ou ser incapaz de expressar sua ocorrência. ➢ Como os sinais clínicos das convulsões são sutis, o primeiro indício da epilepsia de ausência muitas vezes corresponda a “devaneios” inexplicados e piora do rendimento escolar identificada por um professor. ➢ A marca eletrofisiológica das crises de ausência típicas é uma descarga em ponta-onda lenta generalizada simétrica de 3 Hz, que começa e cessa bruscamente, em um EEG de base normal. ➢ O EEG muitas vezes demonstra um número muito maior de períodos de atividade cortical anormal do que se poderia suspeitar clinicamente. ➢ A hiperventilação tende a desencadear essas descargas eletrográficas e até mesmo as próprias convulsões, e é uma manobra rotineira durante o registro do EEG. Crises de ausência atípicas➢ As crises de ausência atípicas têm como características perda de consciência com duração maior e início e fim menos abruptos, e a convulsão acompanha-se de sinais motores mais evidentes que podem incluir características focais ou de lateralização. ➢ O EEG mostra um padrão lento e generalizado de ponta-onda lenta, com frequência ≤ 2,5 por segundo, além de outros tipos de atividade anormal. ➢ As crises de ausência atípicas costumam associar-se a anormalidades estruturais difusas ou multifocais do cérebro e, portanto, podem acompanhar outros sinais de disfunção neurológica, como deficiência intelectual. ➢ Além disso, em comparação com as crises de ausência típicas, apresentam pior resposta ao tratamento com anticonvulsivantes. Convulsões tônico-clônicas generalizadas ➢ As convulsões tônico-clônicas de início generalizado são o principal tipo de Distúrbios Sensoriais, Motores e da Consciência 16 Mírian Santos – 7° semestre convulsão em cerca de 10% de todas as pessoas com epilepsia. ➢ Também são o tipo mais comum de convulsão nos distúrbios metabólicos e, portanto, são frequentes em muitas situações clínicas diferentes. ➢ A convulsão costuma iniciar-se bruscamente, sem aviso prévio, porém alguns pacientes descrevem sintomas premonitórios vagos nas horas que a antecedem. ➢ A fase inicial da convulsão costuma ser de contração tônica dos músculos de todo o corpo, fato responsável por diversas características clássicas do evento. ➢ A contração tônica dos músculos da expiração e da laringe no início da convulsão produz um gemido alto, ou “ grito ictal”. A respiração é prejudicada, as secreções acumulam- se na orofaringe e surge cianose. ➢ A contração dos músculos da mandíbula pode levar o paciente a morder a língua. ➢ Um aumento acentuado do tônus simpático gera aumentos da frequência cardíaca, da pressão arterial e do tamanho das pupilas. ➢ Após 10 a 20 segundos, a fase tônica da convulsão evolui para a fase clônica, produzida pela sobreposição de períodos de relaxamento muscular e a contração muscular tônica. ➢ Os períodos de relaxamento aumentam progressivamente até o final da fase ictal, a qual costuma durar não mais que 1 minuto. ➢ A fase pós-ictal se caracteriza por ausência de responsividade, flacidez muscular e salivação excessiva que pode causar respiração ruidosa e obstrução parcial das vias aéreas. ➢ Nesse momento, pode ocorrer incontinência urinária ou fecal. ➢ Os pacientes gradualmente recuperam a consciência em alguns minutos ou horas e, durante essa transição, há um período de confusão pós-ictal. ➢ Mais tarde, os pacientes queixam-se de cefaleia, fadiga e mialgia, que podem durar muitas horas. ➢ A duração da alteração de consciência na fase pós-ictal pode ser extremamente longa (i.e., muitas horas) nos pacientes com convulsões prolongadas ou doenças subjacentes do sistema nervoso central (SNC), como atrofia cerebral alcoólica. ➢ O EEG durante a fase tônica da convulsão exibe um aumento progressivo da atividade rápida e generalizada de baixa voltagem, seguido por descargas polipontas generalizadas de alta amplitude. ➢ Na fase clônica, a atividade de alta amplitude é interrompida por ondas lentas, criando um padrão de ponta- onda lenta. O EEG pós-ictal revela supressão difusa de toda atividade Distúrbios Sensoriais, Motores e da Consciência 17 Mírian Santos – 7° semestre cerebral e, em seguida, lentidão que gradualmente se recupera à medida que o paciente acorda. Convulsões atônicas ➢ As convulsões atônicas se caracterizam por perda súbita de tônus muscular postural com duração de 1 a 2 segundos. A consciência é brevemente prejudicada, mas não costuma haver confusão pós-ictal. ➢ Uma convulsão muito breve pode gerar apenas queda rápida da cabeça ou movimento de inclinação da cabeça, enquanto uma convulsão mais longa faz o paciente a cair. Isso pode ser extremamente perigoso, pois existe um risco substancial de traumatismo craniano na queda. ➢ O EEG evidencia descargas em ponta- onda breves e generalizadas, seguidas imediatamente por ondas lentas difusas que se correlacionam com a perda do tônus muscular. À semelhança das convulsões tônicas puras, as convulsões atônicas em geral são vistas associadas a síndromes epilépticas conhecidas. Convulsões mioclônicas ➢ A mioclonia é uma contração muscular súbita e breve que pode comprometer uma parte ou todo o corpo. Uma forma fisiológica comum e normal de mioclonia é o movimento de abalo súbito observado ao adormecer. ➢ Mioclonia patológica é vista com mais frequência associada a distúrbios metabólicos, doenças degenerativas do SNC, ou lesão cerebral anóxica. ➢ As convulsões mioclônicas são consideradas eventos epilépticos verdadeiros, pois são causadas por disfunção cortical (vs. subcortical ou espinal). ➢ O EEG revela descargas sincrônicas bilaterais em ponta-onda lenta imediatamente antes do artefato de movimento e muscular associado à mioclonia. Espasmos epilépticos ➢ Os espasmos epilépticos caracterizam-se por flexão ou extensão brevemente sustentadas dos músculos predominantemente proximais, incluindo músculos do tronco. ➢ Em geral, o EEG revela hipsarritmia, que consiste em ondas lentas gigantes e difusas, com fundo caótico de pontas multifocais irregulares e ondas agudas. Durante o espasmo clínico, observa-se uma supressão acentuada do EEG de fundo (a “resposta eletrodecremental”). ➢ A eletromiografia (EMG) também revela um padrão romboide característico, que pode ajudar a distinguir os espasmos das convulsões tônicas e mioclônicas breves. ➢ Os espasmos epilépticos ocorrem predominantemente em lactentes e resultam provavelmente de diferenças da função neuronal e da conectividade no SNC imaturo versus maduro. Distúrbios Sensoriais, Motores e da Consciência 18 Mírian Santos – 7° semestre Referencias 1. Tratado de Neurologia da Academia Brasileira de Neurologia; 2. Medicina Interna de Harisson; 3. Tratado de Neurologia de Merriet; 4. Neurologia Clínica de Harisson. Distúrbios Sensoriais, Motores e da Consciência 19 Mírian Santos – 7° semestre Distúrbios Sensoriais, Motores e da Consciência 20 Mírian Santos – 7° semestre Distúrbios Sensoriais, Motores e da Consciência 21 Mírian Santos – 7° semestre
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