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1. DIFERENCIAR EPILEPSIA DE CRISE EPILÉPTICA; Uma convulsão/epilepsia consiste na ocorrência transitória de sinais ou sintomas devido a uma atividade neuronal anormal, excessiva ou sincrônica. De acordo com a distribuição das descargas, essa atividade cerebral anormal pode ter várias manifestações, que variam desde uma atividade motora dramática até fenômenos sensoriais dificilmente discerníveis por um observador. O significado do termo convulsão tem de ser cuidadosamente distinguido daquele de epilepsia. A epilepsia descreve uma condição em que uma pessoa corre risco de convulsões recorrentes devido a um processo subjacente crônico. Essa definição subentende que uma pessoa que sofre uma única convulsão, ou convulsões recorrentes em consequência de circunstâncias corrigíveis ou evitáveis, não tem necessariamente epilepsia (embora uma única convulsão associada a determinadas manifestações clínicas ou eletrencefalográficas específicas possa estabelecer o diagnóstico de epilepsia). Epilepsia diz respeito a um fenômeno clínico mais do que a uma entidade patológica única, pois existem muitas formas e causas de epilepsia. 2. CARACTERIZAR OS TIPOS DE CRISES CONVULSIVAS (GENERALIZADAS E PARCIAIS) E SUAS PRINCIPAIS CAUSAS; • CLASSIFICAÇÃO Esse sistema baseia-se nas manifestações clínicas das convulsões e nos achados eletrencefalográficos associados. Um princípio fundamental é que as convulsões podem ser focais ou generalizadas. As convulsões focais originam-se dentro de redes limitadas a uma região cerebral (observe que o termo convulsões parciais não é mais usado). As convulsões focais em geral estão associadas a anormalidades estruturais do cérebro. As convulsões generalizadas surgem e rapidamente envolvem redes distribuídas por ambos os hemisférios cerebrais. As convulsões generalizadas, em contrapartida, podem decorrer de anormalidades celulares, bioquímicas ou estruturais que têm distribuição mais disseminada. Entretanto, existem exceções claras em ambos os casos. 1. Convulsão de inicio focal As convulsões focais surgem a partir de uma rede neuronal localizada distintamente dentro de uma região cerebral ou distribuída mais amplamente, porém ainda situada dentro de um hemisfério cerebral. Com o novo sistema de classificação, a classificação enfatiza o efeito na percepção (mantida – perceptiva – ou comprometida – disperceptiva) e a natureza do início (motor ou não motor). As convulsões focais também podem evoluir para convulsões generalizadas. No passado, esse tipo era designado convulsões focais com generalização secundária, porém o novo sistema baseia-se em descrições específicas do tipo de convulsões generalizadas que evoluem a partir da convulsão focal. O eletrencefalograma (EEG) interictal (i.e., entre as convulsões) de rotina em pacientes com convulsões focais está frequentemente normal ou pode demonstrar descargas breves, denominadas pontas epileptiformes ou ondas agudas. Como as convulsões focais podem surgir no lobo temporal medial ou no lobo frontal inferior (i.e., regiões distantes do couro cabeludo), o EEG registrado durante a convulsão pode não localizar o foco. Entretanto, a região de início da convulsão pode ser detectada com o uso de eletrodos intracranianos cirurgicamente implantados. 1.1.Convulsões focais perceptivas (intact awareness) As convulsões focais podem ter manifestações motoras (como movimentos tônicos, clônicos ou mioclônicos) ou não motoras (como sintomas sensitivos, autonômicos ou emocionais) sem comprometimento da percepção. Por exemplo, um paciente que apresenta uma convulsão motora focal oriunda do córtex motor primário direito próximo à região que controla os movimentos da mão irá perceber o aparecimento de movimentos involuntários na mão esquerda contralateral. Uma vez que a região cortical que controla o movimento da mão é imediatamente adjacente à da expressão facial, a convulsão também pode causar movimentos anormais da face, sincrônicos aos movimentos da mão. O EEG registrado com eletrodos no couro cabeludo durante a convulsão (i.e., um EEG ictal) pode demonstrar descargas anormais em uma região muito limitada na área apropriada do córtex cerebral se o foco da convulsão comprometer a convexidade do cérebro. Vale a pena mencionar três características adicionais das convulsões motoras focais. Primeiramente, em alguns pacientes os movimentos motores anormais podem começar em uma região muito restrita, como os dedos, e avançar de modo gradual (em questão de segundos a minutos) para incluir uma parcela maior do membro. Esse fenômeno, originalmente descrito por Hughlings Jackson e conhecido como “marcha jacksoniana”, representa a disseminação da atividade convulsiva para uma região progressivamente maior do córtex motor. Em segundo lugar, os pacientes podem apresentar paresia localizada (paralisia de Todd) durante alguns minutos a muitas horas na região acometida após a convulsão. Em terceiro, em casos raros, a convulsão persiste durante horas ou dias. Tal situação, denominada epilepsia parcial contínua, muitas vezes é refratária ao tratamento clínico. As convulsões também podem manifestar-se como alterações na sensibilidade somática (p. ex., parestesias), na visão (luzes piscando ou alucinações bem formadas), no equilíbrio (sensação de queda ou vertigem), ou na função autonômica (rubor, sudorese, piloereção). As convulsões focais que surgem do córtex temporal ou frontal também podem causar alterações na audição, olfato ou estado emocional. Elas incluem a sensação de odores incomuns e intensos (p. ex., borracha queimando ou querosene) ou sons (grosseiros ou altamente complexos), ou uma sensação epigástrica que ascende do estômago ou tórax para a cabeça. Alguns pacientes descrevem sentimentos singulares, como medo, sensação de mudança iminente, dissociação, despersonalização, déjà vu, ou ilusões de que os objetos estão se tornando menores (micropsia) ou maiores (macropsia). Esses eventos “internos” subjetivos, que não são diretamente observáveis por outra pessoa, são designados auras. 1.2.Convulsões focais disperceptivas (impaired awareness) As convulsões focais também podem ser acompanhadas de comprometimento transitório da capacidade do paciente de manter contato normal com o ambiente. O paciente é incapaz de responder adequadamente a comandos visuais ou verbais durante a convulsão e tem memória ou percepção da fase ictal comprometidas. As convulsões costumam começar com aura (i.e., convulsão focal sem distúrbio cognitivo), estereotipada para cada paciente. O início da fase ictal consiste frequentemente em olhar fixo imóvel, que assinala o começo do período de comprometimento da percepção. A percepção comprometida é habitualmente acompanhada de automatismos, que são comportamentos automáticos involuntários, com ampla variedade de manifestações. Os automatismos podem consistir em comportamentos muito básicos, como mastigar, estalar os lábios, deglutir, ou movimentos de apanhar objetos com as mãos, ou comportamentos mais elaborados, como a expressão de emoção ou o ato de correr. Em geral, o paciente está confuso após a convulsão, e a transição até a recuperação plena da consciência pode demorar de segundos até 1 hora. O exame imediatamente após a convulsão pode revelar amnésia anterógrada ou déficits neurológicos transitórios (como afasia, heminegligência ou perda visual) causados por inibição pós-ictal das regiões corticais mais envolvidas na convulsão. 2. Convulsões generalizadas As convulsões focais podem disseminar-se e comprometer ambos os hemisférios cerebrais, produzindo uma convulsão generalizada, em geral do tipo tônico clônica. Essa evolução é observada com frequência após convulsões focais, que surgem a partir de um foco no lobo frontal, mas também pode associar-se a convulsões focais que ocorrem em outrasáreas do cérebro. Muitas vezes, é difícil diferenciar uma convulsão focal que evolui para uma generalizada de uma convulsão tônico-clônica primária de início generalizado, visto que as testemunhas tendem a enfatizar a fase convulsiva generalizada, mais dramática, da convulsão, e omitir os sintomas focais mais sutis presentes no início. Em alguns casos, o início focal da crise só fica evidente quando uma anamnese minuciosa identifica uma aura prévia. As convulsões de início generalizado originam-se em algum ponto do cérebro, porém ocupam, imediata e rapidamente, redes neuronais em ambos os hemisférios. Diversos tipos de convulsões generalizadas apresentam características que as incluem em categorias distintas e que facilitam o diagnóstico clínico. 2.1.Crise de ausência típicas: As crises de ausência típicas caracterizam-se por lapsos breves e súbitos da consciência sem perda do controle postural. Em geral, a convulsão dura apenas alguns segundos, a consciência retorna tão rapidamente quanto foi perdida e não há confusão pós-ictal. As crises de ausência em geral acompanham-se de sinais motores bilaterais sutis, como rápido piscar de olhos, movimentos mastigatórios, ou movimentos clônicos de pequena amplitude das mãos. As crises de ausência típicas estão associadas a um grupo de epilepsias geneticamente determinadas que começam em geral na infância (entre 4 e 10 anos) ou no início da adolescência e são o principal tipo de convulsão em 15 a 20% das crianças com epilepsia. As convulsões podem ocorrer centenas de vezes durante o dia, mas a criança pode não ter consciência ou ser incapaz de expressar sua ocorrência. A marca eletrofisiológica das crises de ausência típicas é uma descarga em ponta-onda lenta generalizada simétrica de 3 Hz, que começa e cessa bruscamente, em um EEG de base normal. Períodos de descargas em ponta-onda lenta com duração de mais de alguns segundos em geral correlacionam-se com sinais clínicos, mas o EEG muitas vezes demonstra um número muito maior de períodos de atividade cortical anormal do que se poderia suspeitar clinicamente. A hiperventilação tende a desencadear essas descargas eletrográficas e até mesmo as próprias convulsões, e é uma manobra rotineira durante o registro do EEG 2.2.Crise de ausência atípicas: As crises de ausência atípicas exibem características que as distinguem das manifestações clínicas e eletrofisiológicas das crises de ausência típicas. Por exemplo, a perda de consciência tem duração maior e início e fim menos abruptos, e a convulsão acompanha-se de sinais motores mais evidentes que podem incluir características focais ou de lateralização. O EEG mostra um padrão lento e generalizado de ponta-onda lenta, com frequência ≤ 2,5 por segundo, além de outros tipos de atividade anormal. As crises de ausência atípicas costumam associar-se a anormalidades estruturais difusas ou multifocais do cérebro e, portanto, podem acompanhar outros sinais de disfunção neurológica, como deficiência intelectual. Além disso, em comparação com as crises de ausência típicas, apresentam pior resposta ao tratamento com anticonvulsivantes. 2.3.Convulsões tônico-clônicas generalizadas As convulsões tônico-clônicas de início generalizado são o principal tipo de convulsão em cerca de 10% de todas as pessoas com epilepsia. A convulsão costuma iniciar-se bruscamente, sem aviso prévio, porém alguns pacientes descrevem sintomas premonitórios vagos nas horas que a antecedem. A fase inicial da convulsão costuma ser de contração tônica dos músculos de todo o corpo, fato responsável por diversas características clássicas do evento. A contração tônica dos músculos da expiração e da laringe no início da convulsão produz um gemido alto, ou “grito ictal”. A respiração é prejudicada, as secreções acumulam-se na orofaringe e surge cianose. A contração dos músculos da mandíbula pode levar o paciente a morder a língua. Um aumento acentuado do tônus simpático gera aumentos da frequência cardíaca, da pressão arterial e do tamanho das pupilas. Após 10 a 20 segundos, a fase tônica da convulsão evolui para a fase clônica, produzida pela sobreposição de períodos de relaxamento muscular e a contração muscular tônica. Os períodos de relaxamento aumentam progressivamente até o final da fase ictal, a qual costuma durar não mais que 1 minuto. A fase pós-ictal se caracteriza por ausência de responsividade, flacidez muscular e salivação excessiva que pode causar respiração ruidosa e obstrução parcial das vias aéreas. Nesse momento, pode ocorrer incontinência urinária ou fecal. Os pacientes gradualmente recuperam a consciência em alguns minutos ou horas e, durante essa transição, há um período de confusão pós-ictal. Mais tarde, os pacientes queixam-se de cefaleia, fadiga e mialgia, que podem durar muitas horas. A duração da alteração de consciência na fase pós-ictal pode ser extremamente longa (i.e., muitas horas) nos pacientes com convulsões prolongadas ou doenças subjacentes do sistema nervoso central (SNC), como atrofia cerebral alcoólica. O EEG durante a fase tônica da convulsão exibe um aumento progressivo da atividade rápida e generalizada de baixa voltagem, seguido por descargas polipontas generalizadas de alta amplitude. Na fase clônica, a atividade de alta amplitude é interrompida por ondas lentas, criando um padrão de ponta-onda lenta. O EEG pós-ictal revela supressão difusa de toda atividade cerebral e, em seguida, lentidão que gradualmente se recupera à medida que o paciente acorda. Existem diversas variantes de convulsões motoras generalizadas, incluindo convulsões tônicas puras e clônicas puras. Vale a pena mencionar as crises tônicas breves, com apenas alguns segundos de duração, pois costumam associar-se a síndromes epilépticas específicas que apresentam fenótipos convulsivos mistos, como a síndrome de Lennox-Gastau 2.4.Convulsões atônicas As convulsões atônicas se caracterizam por perda súbita de tônus muscular postural com duração de 1 a 2 segundos. A consciência é brevemente prejudicada, mas não costuma haver confusão pós-ictal. Uma convulsão muito breve pode gerar apenas queda rápida da cabeça ou movimento de inclinação da cabeça, enquanto uma convulsão mais longa faz o paciente a cair. O EEG evidencia descargas em ponta-onda breves e generalizadas, seguidas imediatamente por ondas lentas difusas que se correlacionam com a perda do tônus muscular. À semelhança das convulsões tônicas puras, as convulsões atônicas em geral são vistas associadas a síndromes epilépticas conhecidas. 2.5.Convulsões mioclônicas A mioclonia é uma contração muscular súbita e breve que pode comprometer uma parte ou todo o corpo. Uma forma fisiológica comum e normal de mioclonia é o movimento de abalo súbito observado ao adormecer. Mioclonia patológica é vista com mais frequência associada a distúrbios metabólicos, doenças degenerativas do SNC, ou lesão cerebral anóxica. As convulsões mioclônicas são consideradas eventos epilépticos verdadeiros, pois são causadas por disfunção cortical (vs. subcortical ou espinal). O EEG revela descargas sincrônicas bilaterais em ponta-onda lenta imediatamente antes do artefato de movimento e muscular associado à mioclonia. As convulsões mioclônicas costumam coexistir com outras formas de convulsões generalizadas, mas são a característica predominante da epilepsia mioclônica juvenil (EMJ) 2.6.Espasmos epilépticos Os espasmos epilépticos caracterizam-se por flexão ou extensão brevemente sustentadas dos músculos predominantemente proximais, incluindo músculos do tronco. Em geral, o EEG revela hipsarritmia, que consiste em ondas lentas gigantes e difusas, com fundo caótico de pontas multifocais irregulares e ondas agudas. Durante o espasmo clínico, observa-se uma supressão acentuada do EEG de fundo (a “resposta eletrodecremental”). Aeletromiografia (EMG) também revela um padrão romboide característico, que pode ajudar a distinguir os espasmos das convulsões tônicas e mioclônicas breves. Os espasmos epilépticos ocorrem predominantemente em lactentes e resultam provavelmente de diferenças da função neuronal e da conectividade no SNC imaturo versus maduro. 3. Sindromes epilépticas As síndromes epilépticas são distúrbios nos quais a epilepsia é uma característica predominante, e existem evidências suficientes em favor de um mecanismo subjacente comum. 4. EPILEPSIA MIOCLÔNICA JUVENIL A EMJ é um distúrbio convulsivo generalizado de causa desconhecida, que surge no início da adolescência e que se caracteriza geralmente por abalos mioclônicos bilaterais que podem ser isolados ou repetitivos. As convulsões mioclônicas são mais frequentes pela manhã, após o paciente acordar, e podem ser provocadas por privação do sono. A consciência é preservada, a menos que a mioclonia seja especialmente intensa. Muitos pacientes também apresentam convulsões tônico clônicas generalizadas, e até um terço tem crises de ausência. Embora a remissão completa seja relativamente incomum, as convulsões costumam responder bem à medicação anticonvulsivante apropriada. Muitas vezes, há história familiar de epilepsia, e estudos de ligação genética sugerem uma causa poligênica. 5. SÍNDROME DE LENNOX-GASTAUT A síndrome de Lennox-Gastaut ocorre em crianças e é definida pela seguinte tríade: (1) múltiplos tipos de convulsões (que costumam incluir convulsões tônico-clônicas generalizadas, atônicas e crises de ausência atípicas); (2) EEG com descargas em ponta-onda lentas (< 3 Hz) e várias outras anormalidades; e (3) disfunção cognitiva na maioria dos casos, mas não em todos. A síndrome de Lennox-Gastaut associa-se a doença ou disfunção do SNC de várias etiologias, incluindo mutações de novo, anormalidades do desenvolvimento, hipoxia/isquemia perinatal, traumatismo, infecção e outras lesões adquiridas. A natureza multifatorial dessa síndrome sugere que se trata de uma resposta inespecífica do cérebro à disfunção neuronal difusa. Infelizmente, muitos pacientes têm prognóstico reservado em razão da doença subjacente do SNC e das consequências físicas e psicossociais da epilepsia grave mal controlada. 6. SÍNDROME DE EPILEPSIA DO LOBO TEMPORAL MESIAL A síndrome de epilepsia do lobo temporal mesial (ELTM) é a síndrome mais comum associada a convulsões focais com comprometimento da consciência e é um exemplo de uma síndrome epiléptica com características clínicas, eletrencefalográficas e anatomopatológicas distintas. A ressonância magnética (RM) de alta resolução pode detectar a esclerose hipocampal típica que parece ser essencial à fisiopatologia da ELTM em muitos pacientes O reconhecimento dessa síndrome é especialmente importante, pois ela tende a ser refratária ao tratamento com anticonvulsivantes, mas responde bem à intervenção cirúrgica. 3. COMPREENDER A EPILEPSIA: • EPIDEMIOLOGIA Quando se emprega como definição de epilepsia a ocorrência de duas ou mais convulsões não provocadas, sua incidência é de cerca de 0,3 a 0,5% em diferentes populações no mundo inteiro, e estimou-se sua prevalência em 5 a 30 pessoas por 1.000. Cerca de 5 a 10% da população apresentará pelo menos uma convulsão, sendo as maiores incidências verificadas no início da infância e na idade adulta avançada. • ETIOPATOGENIA As convulsões resultam de um desvio no equilíbrio normal entre excitação e inibição no SNC. 1. O cérebro normal é capaz de sofrer uma convulsão sob as circunstâncias apropriadas, havendo diferenças entre as pessoas na suscetibilidade ou no limiar para as convulsões. Por exemplo, as convulsões podem ser induzidas por febre alta em crianças normais sob outros aspectos e que nunca desenvolvem outros problemas neurológicos, incluindo epilepsia. Porém, as convulsões febris ocorrem apenas em uma proporção pequena de crianças. Isso implica que há vários fatores endógenos subjacentes que influenciam o limiar para uma convulsão. Alguns desses fatores são genéticos, visto que a história familiar de epilepsia tem uma clara influência na probabilidade de ocorrência de convulsões em pessoas normais sob outros aspectos. O desenvolvimento normal também desempenha papel importante, pois o cérebro parece apresentar limiares diferentes para convulsão em diferentes estágios de maturação. 2. Há uma variedade de condições que apresentam altíssima probabilidade de acarretar um distúrbio convulsivo crônico. Um dos melhores exemplos disso é o traumatismo craniano grave penetrante, associado a risco de quase 45% de epilepsia subsequente. A alta propensão da lesão cerebral traumática grave de gerar epilepsia sugere que a lesão resulte em uma modificação patológica persistente no SNC que transforma uma rede neural presumivelmente normal em uma anormalmente hiperexcitável. Esse processo é conhecido como epileptogênese, e as alterações específicas que resultam em diminuição do limiar para convulsões podem ser consideradas fatores epileptogênicos. Outros processos associados à epileptogênese incluem acidentes vasculares cerebrais (AVCs), infecções e anormalidades do desenvolvimento do SNC. De modo semelhante, as anormalidades genéticas associadas a epilepsia provavelmente envolvem processos que desencadeiam o surgimento de conjuntos específicos de fatores epileptogênicos. 3. As convulsões são episódicas. Os pacientes com epilepsia têm convulsões de maneira intermitente e, de acordo com a causa subjacente, muitos permanecem completamente normais por meses ou até mesmo anos entre as convulsões. Isso sugere a existência de fatores desencadeantes ou precipitantes importantes que induzem convulsões no paciente com epilepsia. De modo análogo, fatores desencadeantes são responsáveis pela ocorrência da convulsão isolada em indivíduos sem epilepsia. Os fatores precipitantes incluem aqueles que decorrem de processos fisiológicos intrínsecos, como estresse psicológico ou físico, privação do sono ou alterações hormonais. Também incluem fatores exógenos como exposição a substâncias tóxicas e a certos fármacos. 4. Relacionados com a idade Durante o período neonatal e primeira infância, as causas em potencial incluem encefalopatia hipóxico-isquêmica, traumatismo, infecção do SNC, anormalidades congênitas do SNC e distúrbios metabólicos. Os recém-nascidos de mães que utilizaram substâncias neurotóxicas como cocaína, heroína ou etanol são suscetíveis a convulsões por abstinência da substância nos primeiros dias de vida. Hipoglicemia e hipocalcemia, que podem ocorrer como complicações secundárias de lesão perinatal, também são causas de convulsões logo após o nascimento. As convulsões provocadas por erros inatos do metabolismo em geral manifestam-se quando a alimentação regular é iniciada, com 2 a 3 dias de vida. A deficiência de piridoxina (vitamina B6 ), uma causa importante de convulsões neonatais, é tratada efetivamente com a reposição da piridoxina. As formas idiopáticas e hereditárias das convulsões neonatais também são vistas nesse período. As convulsões mais comuns que surgem na segunda infância são as convulsões febris, que são convulsões associadas a febre sem evidências de infecção do SNC ou outras causas definidas. A prevalência global é de 3 a 5%, e ainda mais alta em algumas regiões do mundo, como a Ásia. Os pacientes com frequência têm história familiar de convulsões febris ou epilepsia. As convulsões febris ocorrem entre 3 meses e 5 anos de idade, e têm um pico de incidência entre os 18 e 24 meses. O quadro típico é o de uma criança que apresenta convulsão tônico-clônica generalizada durante uma enfermidade febril gerada por uma infecção comum da infância, por exemplo, otite média, infecção respiratória ou gastrenterite. A convulsão émais propensa a ocorrer durante a fase de elevação da curva de temperatura (i.e., no primeiro dia) do que nos estágios subsequentes da enfermidade. Uma convulsão febril simples é um evento único isolado, breve e de apresentação simétrica. As convulsões febris complexas apresentam atividade convulsiva repetida, duram mais de 15 minutos, ou têm características focais. Cerca de um terço dos pacientes com convulsões febris sofrem recorrência, porém < 10% têm três ou mais episódios. As recorrências são mais prováveis quando a convulsão febril ocorre no primeiro ano de vida. As convulsões febris simples não se associam a aumento do risco de epilepsia, enquanto as convulsões febris complexas têm risco de 2 a 5%; outros fatores de risco incluem a presença de déficits neurológicos prévios e história familiar de convulsões não febris. A terceira infância assinala a época em que muitas síndromes epilépticas bem definidas se manifestam. Algumas crianças, normais nos demais aspectos, desenvolvem convulsões tônico-clônicas generalizadas idiopáticas sem outras características que se encaixem em síndromes específicas. A epilepsia do lobo temporal em geral manifesta-se na infância e pode ter relação com a esclerose do lobo temporal mesial (como parte da síndrome de ELTM) ou outras anormalidades focais, como disgenesia cortical. Outros tipos de convulsões focais, incluindo aquelas que evoluem para convulsões generalizadas, podem ser uma manifestação relativamente tardia de um distúrbio do desenvolvimento, de uma lesão adquirida como traumatismo craniano, de infecção do SNC (em especial encefalite viral) ou, muito raramente, de tumor do SNC. O período da adolescência e início da idade adulta é uma fase de transição, durante a qual síndromes epilépticas de origem genética ou idiopática, como a EMJ e a epilepsia de ausência juvenil, tornam-se menos comuns, enquanto as epilepsias secundárias a lesões adquiridas do SNC começam a predominar. As convulsões que começam em pacientes dessa faixa etária podem estar associadas a traumatismo craniano, infecções do SNC (incluindo infecções parasitárias como a cisticercose), tumores cerebrais, anormalidades congênitas do SNC, uso de substâncias ilícitas ou abstinência de álcool. Autoanticorpos dirigidos contra antígenos do SNC como receptores de glutamato ou canais de potássio são uma causa recentemente reconhecida de epilepsia que também começa a aparecer nesse grupo etário (embora casos de autoimunidade sejam cada vez mais descritos na população pediátrica), incluindo pacientes sem um câncer identificável. Deve-se suspeitar dessa etiologia quando um indivíduo previamente normal apresenta um padrão de convulsões particularmente agressivo que se desenvolve ao longo de semanas a meses e que se caracteriza por convulsões cada vez mais frequentes e prolongadas, particularmente quando combinadas com sintomas psiquiátricos e alterações da função cognitiva. O traumatismo craniano é uma causa comum de epilepsia em adolescentes e adultos. A lesão craniana pode ser causada por uma variedade de mecanismos, e a probabilidade de desenvolver epilepsia correlaciona-se fortemente com a gravidade da lesão. Um paciente com trauma craniano penetrante, fratura craniana com afundamento, hemorragia intracraniana ou coma ou amnésia pós traumática prolongada apresenta um risco de 30 a 50% de ter epilepsia, enquanto aqueles com lesão craniana fechada e contusão cerebral têm risco de 5 a 25%. Convulsões recorrentes costumam surgir em 1 ano após o traumatismo craniano, embora já se tenham descrito intervalos de mais de 10 anos. As causas de convulsões em adultos mais velhos incluem doença cerebrovascular, traumatismo (incluindo hematoma subdural), tumores do SNC e doenças degenerativas. A doença cerebrovascular pode ser responsável por cerca de 50% dos novos casos de epilepsia em pacientes > 65 anos de idade. As convulsões agudas (i.e., que ocorrem no momento do AVC) são vistas com maior frequência no acidente vascular embólico do que no hemorrágico ou trombótico. As convulsões crônicas surgem meses a anos após o evento inicial e estão associadas a todas as formas de AVC. Distúrbios metabólicos como desequilíbrio eletrolítico, hipo ou hiperglicemia, insuficiência renal e insuficiência hepática podem causar convulsões em qualquer idade. De modo semelhante, os distúrbios endócrinos, as doenças hematológicas, as vasculites e muitas outras doenças sistêmicas podem causar convulsões ao longo de uma ampla faixa etária. Uma extensa variedade de fármacos e substâncias de uso abusivo sabidamente também precipitam convulsões. • FISIOPATOLOGIA 1. Mecanismos de início e propagação da convulsão A atividade convulsiva focal pode começar em uma região bem definida do córtex e, depois, lentamente invadir as regiões vizinhas. A característica fundamental de uma convulsão bem definida é uma “ponta” eletrográfica devido a disparos intensos quase simultâneos de um grande número de neurônios excitatórios locais, resultando em uma hipersincronização aparente dos disparos excitatórios em uma região cortical relativamente grande. A atividade paroxística em neurônios individuais (o “desvio paroxístico da despolarização”) é causada por despolarização de duração relativamente longa da membrana neuronal decorrente do influxo de cálcio extracelular (Ca 2+), o qual leva à abertura dos canais de sódio (Na +) dependentes de voltagem, influxo de Na + e geração de potenciais de ação repetitivos. Isso é seguido de um pós- potencial hiperpolarizante mediado pelos receptores do ácido γ- aminobutírico (GABA) ou canais de potássio (K+), de acordo com o tipo celular. Os disparos sincronizados de um número suficiente de neurônios resultam na chamada descarga em ponta no EEG. A onda de disseminação da convulsão é alentecida e, por fim, interrompida pela hiperpolarização intacta e uma inibição “circundante” criada pela ativação progressiva de neurônios inibitórios. Com ativação suficiente, há recrutamento dos neurônios circundantes por diversos mecanismos sinápticos e não sinápticos, incluindo: (1) aumento do K+ extracelular, que amortece a hiperpolarização e despolariza neurônios vizinhos; (2) acúmulo de Ca 2+ nos terminais pré sinápticos, levando a maior liberação de neurotransmissores; (3) ativação induzida pela despolarização do subtipo N-metil-D-aspartato (NMDA) do receptor de aminoácidos excitatórios, que causa influxo adicional de Ca 2+ e ativação neuronal; (4) interações efáticas relacionadas a alterações da osmolaridade tecidual e edema celular. O recrutamento de uma quantidade suficiente de neurônios leva à propagação de correntes excitatórias para áreas contíguas por meio de conexões corticais locais, e para áreas mais distantes por meio de vias comissurais longas como o corpo caloso. Os mecanismos intrínsecos ao neurônio incluem alterações na condutância dos canais iônicos, nas características de resposta dos receptores da membrana, no tamponamento citoplasmático, nos sistemas de segundo mensageiro e na expressão de proteínas determinada pela transcrição, tradução e modificação pós-traducional dos genes. Os mecanismos extrínsecos ao neurônio abrangem modificações na quantidade ou no tipo de neurotransmissores presentes na sinapse, modulação de receptores por íons extracelulares e outras moléculas e propriedades temporais e espaciais dos impulsos aferentes sinápticos e não sinápticos. As células não neuronais, como os astrócitos e oligodendrócitos, também exercem um papel importante em muitos desses mecanismos. Determinadas causas reconhecidas de convulsões são explicadas por esses mecanismos. A ingestão acidental de ácido domoico, um análogo do glutamato (o principal neurotransmissor excitatório do cérebro), causa convulsões intensas por meio da ativação direta de receptores de aminoácidosexcitatórios em todo o SNC. A penicilina, capaz de reduzir o limiar convulsivo em humanos e um potente convulsivante em modelos experimentais, reduz a inibição ao antagonizar os efeitos do GABA no seu receptor. Os mecanismos básicos de outros fatores desencadeantes de convulsões, como privação do sono, febre, abstinência alcoólica, hipoxia e infecção, são menos bem compreendidos, mas presume-se que envolvam perturbações análogas da excitabilidade neuronal. Do mesmo modo, os fatores endógenos que determinam o limiar convulsivo do indivíduo também podem estar relacionados com tais propriedades. O conhecimento dos mecanismos responsáveis pelo início e pela propagação da maioria das convulsões generalizadas (incluindo os tipos tônico clônico, mioclônico e atônico) ainda é rudimentar e reflete a compreensão limitada sobre a conectividade do cérebro no nível de sistemas. Sabe-se muito mais sobre a origem das descargas em ponta-onda generalizadas das crises de ausência. Elas parecem ter relação com os ritmos oscilatórios normalmente gerados durante o sono por circuitos que conectam o tálamo e o córtex. Esse comportamento oscilatório envolve uma interação entre receptores GABAB , canais de Ca 2+ do tipo T e canais de K+ localizados dentro do tálamo. 2. Mecanismos da epileptogênese Epileptogênese refere-se à transformação da rede neuronal normal em uma rede que é cronicamente hiperexcitável. Muitas vezes, há um atraso de meses a anos entre a lesão inicial do SNC, como traumatismo, AVC ou infecção e a primeira convulsão. A lesão parece desencadear um processo que gradualmente diminui o limiar convulsivo na região afetada, até que ocorra uma convulsão espontânea. Em muitas formas genéticas e idiopáticas de epilepsia, presume-se que a epileptogênese seja determinada por eventos regulados ao longo do desenvolvimento. Estudos patológicos do hipocampo de pacientes com epilepsia do lobo temporal levaram à sugestão de que algumas formas de epileptogênese teriam relação com alterações estruturais nas redes neuronais. Por exemplo, muitos pacientes com ELTM sofrem perda altamente seletiva de neurônios, que normalmente contribuem para a inibição dos principais neurônios excitatórios contidos no giro denteado. Há também evidências de que, em resposta à perda de neurônios, ocorre reorganização dos neurônios sobreviventes de uma forma que afetaria a excitabilidade da rede. Algumas dessas alterações são vistas em modelos experimentais de convulsões elétricas prolongadas ou lesão cerebral traumática. Assim, uma lesão inicial como o traumatismo craniano pode gerar uma região focal de modificação estrutural que causa hiperexcitabilidade local. A hiperexcitabilidade local origina novas alterações estruturais que evoluem ao longo do tempo, até que a lesão focal produz convulsões clinicamente evidentes. Modelos semelhantes forneceram fortes evidências de alterações em longo prazo nas propriedades bioquímicas intrínsecas das células contidas na rede, como alterações crônicas na função do receptor de glutamato ou GABA. A indução de cascatas inflamatórias também pode constituir um fator crítico nesses processos. 3. Causas genéticas Embora a maioria das mutações identificadas até o presente cause formas raras de epilepsia, sua descoberta proporcionou avanços conceituais extremamente importantes. Por exemplo, parece que muitas das epilepsias hereditárias resultam de mutações que afetam a função dos canais iônicos. Portanto, essas síndromes fazem parte do grupo maior de canalopatias que causam distúrbios paroxísticos como arritmias cardíacas, ataxia episódica, fraqueza periódica e migrânea (enxaqueca) hemiplégica familiar. Foi constatado que outras mutações gênicas estão associadas a vias que influenciam o desenvolvimento do SNC ou a homeostase neuronal. Mutações de novo podem explicar uma proporção significativa dessas síndromes, em especial aquelas que começam no início da infância. • QUADRO CLINICO Abordagem ao paciente Quando um paciente é atendido logo após uma convulsão, as prioridades iniciais são atenção aos sinais vitais, suporte respiratório e cardiovascular e tratamento das convulsões, caso elas retornem. Condições potencialmente letais, como infecção do SNC, desequilíbrios metabólicos ou intoxicação por substâncias, devem ser identificadas e tratadas da maneira adequada. Quando o paciente não está agudamente enfermo, a avaliação inicial concentra-se na pesquisa da história de convulsões prévias. Se essa for a primeira convulsão, deve-se enfatizar o seguinte: (1) definir se o episódio descrito foi uma convulsão ou outro evento paroxístico, (2) determinar a causa da convulsão pela identificação de fatores de risco e eventos desencadeantes (3) decidir se é necessário instituir terapia anticonvulsivante além do tratamento da doença subjacente. No paciente com convulsões prévias ou história conhecida de epilepsia, a avaliação é dirigida para: (1) identificação da causa subjacente e fatores precipitantes (2) determinação da adequação da terapia atual do paciente. 1. Anamnese e exame físico Uma anamnese minuciosa é essencial, pois em muitos casos, o diagnóstico de uma convulsão se baseia unicamente em critérios clínicos – o exame físico e os testes laboratoriais costumam ser normais. As perguntas devem concentrar-se nos sintomas que ocorreram antes, durante e após o episódio a fim de discriminar entre convulsão e outros eventos paroxísticos. As convulsões com frequência ocorrem fora do ambiente hospitalar, e o paciente pode não ter consciência das fases ictal e pós-ictal imediata; portanto, as testemunhas do evento devem ser questionadas cuidadosamente. A anamnese deve concentrar-se nos fatores de risco e eventos predisponentes. Os indícios de predisposição a convulsões incluem história de convulsões febris, história familiar de convulsões e, de importância particular, auras ou convulsões breves anteriores não reconhecidas como tais. Fatores epileptogênicos, como traumatismo craniano anterior, AVC, tumor ou infecção do SNC, devem ser identificados. Nas crianças, uma avaliação cuidadosa dos marcos do desenvolvimento pode proporcionar evidências de uma doença subjacente do SNC. Também é necessário identificar fatores desencadeantes como privação do sono, doenças sistêmicas, desequilíbrios eletrolíticos ou metabólicos, infecção aguda, fármacos que reduzem o limiar convulsivo ou uso de álcool ou substâncias ilícitas. O exame físico geral inclui uma pesquisa de sinais de infecção ou enfermidade sistêmica. Um exame cuidadoso da pele pode revelar sinais de distúrbios neurocutâneos, como esclerose tuberosa ou neurofibromatose, ou de uma doença renal ou hepática crônica. A detecção de organomegalia pode indicar uma doença metabólica de depósito, e a assimetria dos membros fornece um indício de lesão cerebral no início do desenvolvimento. Devem-se procurar por sinais de traumatismo craniano e uso de álcool e substâncias ilícitas. A ausculta cardíaca e das artérias carótidas pode evidenciar uma anormalidade que predisponha a doença cerebrovascular. Todos os pacientes necessitam de exame neurológico completo, com ênfase especial na pesquisa de sinais de doença hemisférica cerebral. Uma avaliação cuidadosa do estado mental (incluindo a memória, a linguagem e o pensamento abstrato) pode sugerir lesões nos lobos frontal anterior, parietal ou temporal. O teste dos campos visuais ajuda no rastreamento de lesões das vias ópticas e dos lobos occipitais. Os testes de rastreamento da função motora, como queda em pronação, reflexos tendíneos profundos, marcha e coordenação, podem sugerir lesões do córtex motor (frontal), e os testes de sensibilidade cortical (p. ex., estimulação simultânea dupla) podem detectar lesões no córtex parietal. 2. Exames laboratoriais Exames de sangue de rotina estãoindicados para identificar as causas metabólicas mais comuns das convulsões, como anormalidades nos eletrólitos, glicose, cálcio ou magnésio e doenças hepática ou renal. Também se deve solicitar rastreamento para toxinas no sangue e na urina de todos os pacientes que pertençam aos grupos de risco apropriados, principalmente se não for identificado um fator precipitante claro. A punção lombar é indicada se houver qualquer suspeita de meningite ou encefalite, e é obrigatória em todos os pacientes infectados pelo HIV, mesmo na ausência de sinais ou sintomas sugestivos de infecção. O teste para autoanticorpos no soro e no líquido cerebrospinal (LCS) deve ser considerado em pacientes com uma forma muito agressiva de epilepsia associada a outras anormalidades, como sintomas psiquiátricos e distúrbios cognitivos. 3. Exames eletrofisiológicos As características do EEG normal dependem da idade e do nível de vigília do paciente. Em geral, a atividade rítmica registrada representa os potenciais pós sinápticos das células piramidais orientadas verticalmente no córtex cerebral e é classificada com base em sua frequência. Nos adultos normais despertos e deitados tranquilamente com os olhos fechados, o EEG mostra, nas regiões posteriores, um ritmo alfa de 8 a 13 Hz, entremeado com quantidade variável de atividade (beta) mais rápida (> 13 Hz) generalizada; o ritmo alfa é atenuado quando os olhos são abertos No estado de sonolência, o ritmo alfa também diminui; no sono superficial, as atividades mais lentas nas faixas teta (4- 7 Hz) e delta (< 4 Hz) tornam-se mais evidentes. Todos os pacientes com suspeita de um distúrbio convulsivo devem ser avaliados com EEG assim que possível. Na avaliação de um paciente com suspeita de epilepsia, a presença de atividade convulsiva eletrográfica durante o evento clinicamente evidente – isto é, atividade rítmica repetitiva anormal com início e fim distintos – estabelece o diagnóstico claramente. Contudo, a ausência de atividade convulsiva eletrográfica não exclui um distúrbio convulsivo porque convulsões focais podem originar- se de uma região do córtex que não pode ser detectada por eletrodos no couro cabeludo. O EEG sempre é anormal durante convulsões tônico- clônicas generalizadas. Como as convulsões são, em geral, infrequentes e imprevisíveis, muitas vezes é impossível realizar o EEG durante um evento clínico. Nessas situações, procedimentos ativadores são geralmente realizados, enquanto o EEG é registrado na tentativa de provocar anormalidades. Esses procedimentos costumam incluir hiperventilação (por 3-4 min), estimulação fótica, sono e privação de sono durante a noite que antecede o exame. O monitoramento contínuo por longos períodos em unidades de telemetria com vídeo-EEG de pacientes hospitalizados ou o uso de equipamento portátil para registrar o EEG continuamente por ≥ 24 horas em pacientes ambulatoriais facilita a captura dos achados eletrofisiológicos associados aos eventos clínicos. Em particular, a telemetria com vídeo-EEG é hoje um exame rotineiro para o diagnóstico preciso de epilepsia em pacientes com eventos mal caracterizados ou convulsões de difícil controle. O EEG também pode ser útil no período interictal ao mostrar certas anormalidades que são altamente sugestivas do diagnóstico de epilepsia. Essa atividade epileptiforme consiste em disparos de descargas anormais que contêm pontas ou ondas agudas. A presença de atividade epileptiforme não é específica de epilepsia, mas tem uma prevalência bem maior em pacientes com epilepsia do que em indivíduos normais. Contudo, mesmo no paciente com epilepsia confirmada, o EEG interictal inicial rotineiro pode ser normal em até 60% dos casos. Por essa razão, o EEG não estabelece o diagnóstico da epilepsia em muitos casos. O EEG também é usado para classificar os distúrbios convulsivos e ajudar na seleção de fármacos anticonvulsivantes. Por exemplo, atividade de ponta-onda generalizada episódica costuma ser encontrada em pacientes com epilepsia de ausência típica e pode ser vista com outras síndromes epilépticas generalizadas. Descargas epileptiformes interictais focais sustentam o diagnóstico de um distúrbio convulsivo focal, como a epilepsia do lobo temporal ou convulsões do lobo frontal, de acordo com a localização das descargas. Também se pode usar o EEG rotineiro registrado no couro cabeludo para avaliar o prognóstico dos distúrbios convulsivos; em geral, um EEG normal significa prognóstico melhor, enquanto um ritmo de base anormal ou atividade epileptiforme profusa sugere prognóstico reservado. Infelizmente, o EEG não se mostrou útil na predição de quais pacientes com distúrbios predisponentes, como traumatismo craniano ou tumor cerebral, terão epilepsia, porque nessas circunstâncias a atividade epileptiforme é comumente encontrada, independentemente da ocorrência de convulsões. A magnetoencefalografia (MEG) oferece outro modo não invasivo de avaliar a atividade cortical. Em vez de medir a atividade elétrica do cérebro, ela mede os pequenos campos magnéticos que são gerados por essa atividade. Pode-se analisar a fonte da atividade epileptiforme vista na MEG e estimar sua origem no cérebro por intermédio de uma variedade de técnicas matemáticas. Essas estimativas da origem podem então ser transferidas para uma imagem anatômica do cérebro, como uma RM (descrita adiante), para gerar uma imagem de fonte magnética (MSI, de magnetic source image). A MSI pode ser útil para localizar focos convulsivos em potencial. 4. Exames de imagem cerebral Quase todos os pacientes com convulsões de início recente devem ser submetidos a exames de imagem cerebral para determinar se existe uma anormalidade estrutural. A única exceção em potencial a essa regra são crianças que apresentam uma história inequívoca e um exame físico sugestivo de distúrbio convulsivo generalizado benigno, como epilepsia de ausência. Demonstrou-se que a RM é superior à tomografia computadorizada (TC) na detecção de lesões cerebrais associadas à epilepsia. Em alguns casos, a RM identifica lesões como tumores, malformações vasculares e outras patologias que exigem tratamento urgente. No paciente com suspeita de infecção do SNC ou lesão expansiva, deve- se obter uma TC em regime de emergência caso não se disponha imediatamente de RM. Do contrário, é satisfatório obter uma RM alguns dias após a avaliação inicial. Procedimentos de imagens funcionais, como a tomografia computadorizada por emissão de pósitrons (PET) e a tomografia computadorizada por emissão de fóton único (SPECT), também são usados para avaliar determinados pacientes com convulsões refratárias ao tratamento clínico. 5. Testes genéticos Com o reconhecimento cada vez maior de que há mutações gênicas específicas que causam a epilepsia, o teste genético está começando a surgir como parte da avaliação diagnóstica de pacientes com epilepsia. Além de fornecer um diagnóstico definitivo (o que pode ser de grande benefício para o paciente e seus familiares e abreviar a realização de exames laboratoriais adicionais inconclusivas), o teste genético pode proporcionar um guia para opções terapêuticas. No momento atual, o teste genético está sendo realizado principalmente em lactentes e crianças com síndromes epilépticas que se acredita tenham uma causa genética. Todavia, o teste genético também deve ser considerado em pacientes de mais idade com história sugestiva de síndrome epiléptica genética não diagnosticada que começou no início da vida • Diagnóstico diferencial 1. Sincope As características de uma convulsão incluem a presença de aura, cianose, inconsciência, manifestações motoras por >15 segundos, desorientação pós-ictal, dores musculares e sonolência. Em contrapartida, a probabilidade de um episódio sincopal é maior se o acontecimento tiver sido provocado pordor aguda ou ansiedade ou ocorrido logo após levantar-se da posição deitada ou sentada. Pacientes com síncope costumam descrever uma transição estereotipada da consciência para inconsciência que inclui cansaço, sudorese, náusea e visão em túnel, e apresentam uma perda relativamente breve da consciência. Cefaleia ou incontinência em geral sugerem uma convulsão mas às vezes também ocorrem na síncope. Um período breve (i.e., 1-10 s) de atividade motora convulsiva é frequentemente observado logo após o início de um episódio sincopal, sobretudo se o paciente permanecer em postura ereta após desmaiar (p. ex., na cadeira de dentista) e, portanto, tiver redução persistente da perfusão cerebral. Raramente, um episódio sincopal induz uma convulsão tônico-clônica completa. Nesses casos, a avaliação deve concentrar-se na causa do evento sincopal e na possibilidade de o paciente ter propensão a convulsões recorrentes. 2. Convulsões psicogênicas As convulsões psicogênicas são comportamentos não epilépticos que se assemelham a convulsões. Com frequência, fazem parte de uma reação de conversão precipitada por sofrimento psicológico subjacente. Certos comportamentos, como virar a cabeça de um lado para o outro, movimentos de abalos assimétricos e de grande amplitude dos membros, abalos dos quatro membros sem perda de consciência e impulsos pélvicos, estão mais associados a convulsões psicogênicas do que a convulsões epilépticas. As crises psicogênicas muitas vezes duram mais do que as convulsões epilépticas e podem ir e vir durante minutos a horas. No caso das convulsões psicogênicas que se assemelham a convulsões focais, pois as manifestações comportamentais de convulsões focais (sobretudo as originárias do lobo frontal) podem ser extremamente incomuns e, em ambos os casos, o EEG de superfície rotineiro pode ser normal. Convulsões tônico-clônicas generalizadas sempre produzem anormalidades acentuadas no EEG durante e após a convulsão. Para suspeita de convulsões focais que se originam no lobo temporal, o uso de eletrodos adicionais pode ajudar a localizar um foco convulsivo. A medição dos níveis séricos de prolactina também ajuda a discriminar entre convulsões epilépticas e psicogênicas, já que a maioria das convulsões generalizadas e algumas convulsões focais são acompanhadas de elevações da prolactina sérica (durante os primeiros 30 min do período pós-ictal imediato), enquanto as convulsões psicogênicas não o são. O diagnóstico de convulsões psicogênicas não exclui um diagnóstico concomitante de epilepsia, pois os dois podem coexistir. • TRATAMENTO O tratamento de um paciente com distúrbio convulsivo quase sempre é multimodal e envolve o tratamento das condições subjacentes que causam ou contribuem para as convulsões, a exclusão de fatores precipitantes, a supressão das convulsões recorrentes por terapia profilática com antiepilépticos ou cirurgia e a discussão de diversas questões psicológicas e sociais. 1. Tratamento das condições subjacentes Se a única causa da convulsão for um distúrbio metabólico, como anormalidade dos eletrólitos séricos ou da glicemia, o tratamento visa reverter o problema metabólico e prevenir sua recorrência. A terapia com antiepilépticos em geral é desnecessária, a menos que seja impossível corrigir prontamente o distúrbio metabólico e o paciente corra risco de apresentar novas convulsões. Se a causa aparente de uma convulsão tiver sido um fármaco (p. ex., teofilina) ou o uso de substâncias ilícitas (p. ex., cocaína), o tratamento apropriado consiste em evitar a substância; os antiepilépticos em geral são desnecessários, a menos que ocorram novas convulsões na ausência desses fatores desencadeantes. As convulsões causadas por lesões estruturais do SNC, como tumor cerebral, malformação vascular ou abscesso cerebral, podem não recorrer após o tratamento apropriado da lesão subjacente. Entretanto, apesar da eliminação da lesão estrutural, existe o risco de permanecer um foco convulsivo no tecido circundante ou de aparecer um novo foco como resultado de gliose e outros processos induzidos por cirurgia, radiação ou outras terapias. Portanto, a maioria dos pacientes é mantida com antiepilépticos por pelo menos 1 ano, e tentativas de suspender a medicação só devem ser feitas se o paciente estiver totalmente livre de convulsões. Se as convulsões forem refratárias à medicação, o paciente pode beneficiar-se da remoção cirúrgica da região epiléptica do cérebro. 2. Prevenção de fatores precipitantes Infelizmente, sabe-se pouco sobre os fatores específicos que determinam precisamente quando uma convulsão ocorrerá em um paciente com epilepsia. Um fator precipitante quase universal para convulsões é a privação do sono, de modo que os pacientes devem se empenhar o máximo possível para otimizar a qualidade do sono. Muitos pacientes são capazes de identificar outras situações particulares que parecem reduzir o seu limiar convulsivo, e essas situações devem ser evitadas. Por exemplo, podem perceber uma associação entre o consumo de álcool e as convulsões, de modo que devem ser incentivados a modificar seus hábitos de consumo de álcool. Também existem casos relativamente raros de pacientes com convulsões induzidas por estímulos altamente específicos, como monitores de videogame, música, ou a voz de um indivíduo (“epilepsia reflexa”). Como costuma haver uma associação entre estresse e convulsões, técnicas de redução do estresse, como exercício físico, meditação e psicoterapia, podem ajudar. 3. Medicamentoso Quando iniciar a farmacoterapia antiepiléptica A terapia farmacológica deve ser iniciada em todo paciente com convulsões recorrentes de etiologia desconhecida, ou com uma causa conhecida que seja irreversível. A instituição de tratamento em paciente após uma única convulsão é controversa. Os pacientes com convulsão única devido a lesões identificadas, como um tumor do SNC, infecção ou traumatismo, nas quais existam fortes evidências de que a lesão seja epileptogênica, devem ser tratados. O risco de recorrência em um paciente com convulsão aparentemente não provocada ou idiopática é incerto, e as estimativas variam de 31 a 71% nos primeiros 12 meses após a convulsão inicial. Essa incerteza decorre de diferenças nos tipos subjacentes de convulsão e nas etiologias nos vários estudos epidemiológicos publicados. Os fatores de risco em geral aceitos como associados à recorrência das convulsões incluem: (1) exame neurológico anormal, (2) convulsões que se manifestam como estado de mal epiléptico, (3) paralisia de Todd pós-ictal, (4) história familiar significativa de convulsões (5) EEG anormal. A maioria dos pacientes com um ou mais desses fatores de risco deve ser tratada. Questões como o trabalho ou a condução de veículo também podem influenciar a decisão de iniciar a medicação. Por exemplo, um paciente com uma única convulsão idiopática cujo trabalho depende da condução de veículos pode preferir usar antiepilépticos em vez de arriscar- se a apresentar uma nova convulsão e perder o direito de conduzir veículos. Além da eficácia, os fatores que influenciam a escolha de uma medicação inicial incluem a conveniência da posologia (p. ex., 1 vs. 3 ou 4×/dia) e os efeitos colaterais em potencial. Nesse aspecto, vários dos fármacos mais recentes têm a vantagem de interações medicamentosas reduzidas e posologia mais fácil. Quase todos os antiepilépticos comumente empregados causam efeitos colaterais semelhantes e dose-relacionados, como sedação, ataxia e diplopia. O uso prolongado de alguns agentes em adultos, em particular no indivíduo idoso, pode levar à osteoporose. Um acompanhamento cuidadoso é necessário para garantir que esses efeitos colaterais sejam prontamente reconhecidos e revertidos. A maioria dos fármacos mais antigos e alguns dos recentestambém causam toxicidade idiossincrásica, como exantema, supressão da medula óssea ou hepatotoxicidade. Um importante avanço recente na assistência de pacientes com epilepsia foi a aplicação de teste genético para ajudar a orientar a escolha da terapia (bem como estabelecer a causa subjacente da síndrome de um paciente). Por exemplo, a identificação de uma mutação no gene SLC2A1, que codifica o transportador de glicose tipo 1 (GLUT-1) e que constitui uma causa de deficiência de GLUT-1, deve levar imediatamente ao tratamento com dieta cetogênica. Mutações no gene ALDH7A1, que codifica a antiquitina, podem causar alterações no metabolismo da piridoxina, que são revertidas por tratamento com piridoxina. Há também evidências crescentes de que determinadas mutações gênicas podem indicar uma resposta melhor ou pior a fármacos antiepilépticos específicos. Por exemplo, pacientes com mutações na subunidade do canal de sódio SCN1A geralmente devem evitar o uso de fenitoína ou lamotrigina, enquanto pacientes com mutações nas subunidades dos canais de sódio SCN2A ou SCN8A parecem responder de modo favorável à fenitoína em altas doses. Estudos mostraram que indivíduos asiáticos portadores do alelo do antígeno leucocitário humano HLA-B*1502 correm risco particularmente alto de desenvolver reações cutâneas graves a carbamazepina, fenitoína, oxcarbazepina e lamotrigina. Foi também constatada uma associação de HLA A*31:01 a reações de hipersensibilidade induzidas pela carbamazepina em pacientes de ascendência europeia ou japonesa. Assim, a origem racial e o genótipo são fatores adicionais a serem considerados na seleção do fármaco. Seleção de fármacos antiepilépticos para convulsões focais A carbamazepina (ou o fármaco relacionado, oxcarbazepina), a lamotrigina, a fenitoína e o levetiracetam são, atualmente, os fármacos de escolha para o tratamento inicial das convulsões focais, incluindo as que evoluem para convulsões generalizadas. Por exemplo, uma vantagem da carbamazepina (que também está disponível em apresentação de liberação prolongada) é que seu metabolismo segue a farmacocinética de primeira ordem, o que permite a relação linear entre a dose, os níveis séricos e a toxicidade. A carbamazepina pode causar leucopenia, anemia aplásica ou hepatotoxicidade e, portanto, está contraindicada em pacientes predispostos a esses problemas. A oxcarbazepina tem a vantagem de ser metabolizada de uma forma que evita um metabólito intermediário associado a alguns dos efeitos colaterais da carbamazepina. Também possui menos interações medicamentosas do que a carbamazepina. A lamotrigina tende a ser bem tolerada em termos de efeitos colaterais. Contudo, os pacientes devem permanecer particularmente vigilantes quanto à possibilidade de ocorrer exantema durante o início do tratamento. Tal reação pode ser grave e levar à síndrome de Stevens-Johnson se não for reconhecida e se o medicamento não for suspenso imediatamente. Esse risco pode ser reduzido pelo uso de doses iniciais baixas e aumento gradual. A lamotrigina deve ser introduzida com doses baixas quando acrescentada à terapia com ácido valproico, pois este inibe o metabolismo da lamotrigina, o que prolonga muito a sua meia-vida. A fenitoína tem meia-vida relativamente longa e oferece a vantagem de possibilitar 1 ou 2 doses diárias, em comparação com a posologia de 2 a 3 doses diárias de muitos dos outros fármacos. O uso de longo prazo de fenitoína está associado a efeitos estéticos indesejáveis (p. ex., hirsutismo, características faciais grosseiras, hipertrofia gengival) e efeitos no metabolismo ósseo. Devido a esses efeitos, a fenitoína costuma ser evitada em pacientes jovens que podem necessitar do fármaco por muitos anos. O topiramato pode ser usado para convulsões tanto focais quanto generalizadas. Da mesma forma que outros fármacos antiepilépticos, o topiramato pode causar retardo psicomotor significativo e outros problemas cognitivos. Além disso, ele não deve ser usado em pacientes sob risco de desenvolver glaucoma ou cálculos renais. O ácido valproico é uma alternativa eficaz para alguns pacientes com convulsões focais, principalmente quando estes apresentam generalização. Os efeitos gastrintestinais são menores quando se usa a formulação de liberação prolongada. Há necessidade de exames laboratoriais para monitorar a toxicidade, pois o ácido valproico pode, raramente, causar hepatotoxicidade e supressão da medula óssea de forma reversível. Esse fármaco, de modo geral, deve ser evitado em pacientes com hepatopatia ou doença prévia da medula óssea. O ácido valproico também apresenta um risco relativamente alto de efeitos adversos inaceitáveis para mulheres em idade fértil, incluindo hiperandrogenismo, que pode afetar a fertilidade, e teratogênese (p. ex., defeitos do tubo neural). A insuficiência hepática fatal irreversível, que ocorre como um efeito colateral idiossincrásico em vez de relacionado com a dose, é uma complicação relativamente rara; seu risco é mais alto nas crianças < 2 anos, principalmente nas que usam outros antiepilépticos ou que apresentam erros inatos do metabolismo. A zonisamida, o brivaracetam, a tiagabina, a gabapentina e a lacosamida são fármacos adicionais atualmente usados no tratamento das convulsões focais, com ou sem evolução para convulsões generalizadas. O fenobarbital e outros compostos barbitúricos eram comumente usados como terapia de primeira linha para muitas formas de epilepsia. Entretanto, os barbitúricos costumam causar sedação em adultos, hiperatividade em crianças e outras alterações cognitivas mais sutis; portanto, seu uso deve ser restrito a situações em que não existam alternativas terapêuticas adequadas. Seleção de fármacos antiepilépticos para convulsões generalizadas A lamotrigina, o ácido valproico e o levetiracetam são atualmente considerados a melhor escolha inicial para o tratamento das convulsões tônico-clônicas generalizadas primárias. O topiramato, a zonisamida, a fenitoína, a carbamazepina e a oxcarbazepina são alternativas apropriadas, embora a carbamazepina, a oxcarbazepina e a fenitoína possam agravar certos tipos de convulsões generalizadas. O ácido valproico é particularmente efetivo nas convulsões de ausência, mioclônicas e atônicas. Portanto, é comumente usado em pacientes com síndromes epilépticas generalizadas que apresentam tipos mistos de convulsões. Entretanto, o levetiracetam, mais do que o ácido valproico, está sendo cada vez mais considerado como fármaco de escolha inicial para mulheres com epilepsias do tipo misto, tendo em vista os efeitos adversos do ácido valproico para mulheres de idade fértil. A lamotrigina também é uma alternativa para o valproato, particularmente para as crises de ausência. A etossuximida tem particular eficácia no tratamento das crises de ausência não complicadas, mas não é eficaz contra convulsões tônico-clônicas ou focais. O monitoramento periódico do hemograma é necessário, pois a etossuximida causa raramente supressão da medula óssea Início e monitoramento do tratamento A maioria dos fármacos antiepilépticos deve ser introduzida de forma relativamente lenta para minimizar os efeitos colaterais. Os pacientes devem saber que efeitos colaterais menores, como sedação leve, alterações sutis da cognição ou desequilíbrio, melhoram após alguns dias. As doses iniciais em geral são as menores doses. Aumentos subsequentes só devem ser feitos após ser atingido um estado de equilíbrio dinâmico com a dose prévia (i.e., após um intervalo de cinco ou mais meias-vidas). Assim, pacientes com níveis reduzidos de proteínas séricas (p. ex., redução da albumina sérica por disfunção hepática ou renal) podem apresentar aumento da proporção entre o fármaco livre e o ligado; porém, a concentração de fármaco livre pode ser adequada para controlaras convulsões. Esses pacientes podem ter um nível “subterapêutico” do fármaco, mas a dose só deve ser alterada se as convulsões não estiverem sob controle, e não apenas para atingir um nível “terapêutico”. Também é proveitoso monitorar os níveis de fármaco livre nesses pacientes. Na prática, além de ser útil durante a instituição da terapia ou no momento de modificá-la, o monitoramento dos níveis dos antiepilépticos é de grande utilidade para documentar a adesão do paciente ou para avaliar uma suspeita clínica de toxicidade. Se as convulsões persistirem mesmo com aumentos graduais até a dose máxima tolerada e com adesão documentada, torna-se necessário mudar para outro antiepiléptico. Em geral, mantêm-se o paciente com o primeiro fármaco enquanto se acrescenta o segundo. A dose do segundo fármaco deve ser ajustada de modo a reduzir a frequência de convulsões sem causar toxicidade. Uma vez atingido esse objetivo, pode-se retirar gradualmente o primeiro fármaco (em geral, ao longo de algumas semanas, a menos que exista toxicidade significativa). Em seguida, a dose do segundo fármaco é novamente ajustada com base na resposta das convulsões e nos efeitos colaterais. A monoterapia deve ser o objetivo, sempre que possível. Quando suspender o tratamento De modo geral, cerca de 50 a 60% dos pacientes cujas convulsões são totalmente controladas por fármacos antiepilépticos podem finalmente suspender o tratamento. O seguinte perfil de paciente tem maior probabilidade de permanecer sem convulsões após a suspensão do tratamento farmacológico: (1) controle clínico completo das convulsões por 1 a 5 anos; (2) um único tipo de convulsão, com melhor prognóstico para as convulsões generalizadas do que para as convulsões focais; (3) exame neurológico normal, incluindo inteligência; (4) ausência de história familiar de epilepsia; (5) EEG normal. O intervalo livre de convulsões ideal é desconhecido e, sem dúvida, varia para as diferentes formas de epilepsia. Entretanto, parece razoável tentar suspender o tratamento após 2 anos em um paciente que preencha todos os critérios já citados, que esteja motivado para suspender a medicação e compreenda claramente os riscos e benefícios em potencial. Na maioria dos casos, é preferível reduzir a dose do fármaco de modo gradual ao longo de 2 a 3 meses. A maioria das recidivas ocorre nos primeiros 3 meses após a suspensão da terapia, e os pacientes devem ser aconselhados a evitar situações potencialmente perigosas como conduzir veículos ou praticar natação durante esse período. Tratamento da epilepsia refratária Cerca de um terço dos pacientes com epilepsia não respondem ao tratamento com um antiepiléptico único, tornando-se necessário tentar uma combinação de fármacos para controlar as convulsões. Pacientes que apresentam epilepsia focal relacionada com uma lesão estrutural subjacente ou aqueles com múltiplos tipos de convulsão e atraso do desenvolvimento são particularmente propensos a necessitar de vários fármacos. Hoje, não existem diretrizes nítidas para a polifarmácia racional; porém, teoricamente a combinação de fármacos com mecanismos de ação diferentes pode ser mais útil. Na maioria dos casos, a terapia de combinação inicial inclui fármacos de primeira linha (i.e., carbamazepina, oxcarbazepina, lamotrigina, ácido valproico, levetiracetam e fenitoína). Se esses fármacos não tiverem sucesso, indica- se o acréscimo de outros fármacos, como zonisamida, brivaracetam, topiramato, lacosamida ou tiagabina. Pacientes com convulsões mioclônicas resistentes ao ácido valproico podem beneficiar-se do acréscimo de clonazepam ou clobazam, e aqueles com crises de ausência podem responder a uma combinação de ácido valproico e etossuximida. Os mesmos princípios relativos ao monitoramento da resposta terapêutica, toxicidade e níveis séricos da monoterapia aplicam-se à polifarmácia, e devem-se reconhecer as interações medicamentosas em potencial. Se não houver melhora, pode-se acrescentar um terceiro fármaco enquanto os dois primeiros são mantidos. Se houver resposta, o menos eficaz ou o menos bem tolerado dos dois primeiros fármacos deve ser retirado gradualmente. Tratamento cirúrgico da epilepsia refratária Cerca de 20 a 30% dos pacientes com epilepsia continuam apresentando convulsões apesar dos esforços para identificar uma combinação eficaz de antiepilépticos. Para alguns deles, a cirurgia pode ser extremamente eficaz e gerar uma redução substancial da frequência de convulsões, e até mesmo controla-las completamente. O conhecimento do valor em potencial da cirurgia tem especial importância quando as convulsões de um paciente não são controladas com o tratamento inicial, pois esses pacientes em geral não respondem a tentativas subsequentes de administração de medicação. Em vez de submeter o paciente a anos de terapia clínica sem sucesso e ao trauma psicossocial e aumento da mortalidade associados à persistência das convulsões, o paciente deve ser submetido a uma tentativa eficiente, porém relativamente curta, de tratamento clínico e, em seguida, ser encaminhado para avaliação cirúrgica. O procedimento cirúrgico mais comum para pacientes com epilepsia do lobo temporal envolve a ressecção do lobo temporal anteromedial (lobectomia temporal) ou uma remoção mais limitada do hipocampo e da tonsila subjacentes (tonsilo-hipocampectomia). Convulsões focais oriundas de regiões extratemporais podem ser abolidas por uma ressecção neocortical focal, com remoção precisa de uma lesão identificada (lesionectomia). A ressecção neocortical localizada sem uma lesão clara identificada na RM também é possível quando outros testes (p. ex., MEG, PET, SPECT) implicam uma região cortical focal como zona de início das convulsões. Quando for impossível remover a região cortical, a transecção subpial múltipla, que interrompe as conexões intracorticais, é às vezes usada para prevenir a propagação das convulsões. A hemisferectomia ou ressecção multilobar tem utilidade em alguns pacientes com convulsões graves por anormalidades hemisféricas como hemimegalencefalia ou outras anormalidades displásicas, e demonstrou-se que a corpocalosotomia é eficaz nas convulsões tônicas ou atônicas incapacitantes, em geral quando estas integram uma síndrome de convulsões mistas (p. ex., síndrome de Lennox-Gastaut). A avaliação pré-cirúrgica visa identificar a base funcional e estrutural do distúrbio convulsivo do paciente. O monitoramento por vídeo-EEG durante a internação do paciente é usado para definir a localização anatômica do foco convulsivo e correlacionar a atividade eletrofisiológica anormal com manifestações comportamentais da crise. Os registros rotineiros em couro cabeludo ou com eletrodos esfenoidais e uma RM de alta resolução costumam ser suficientes para a localização do foco epileptogênico, especialmente quando os achados são concordantes. Os exames de imagem funcionais, como SPECT, PET e MEG, são exames adjuvantes que podem ajudar a revelar ou verificar a localização de uma região epileptogênica. Uma vez identificada a localização presumida do início da convulsão, outros exames, incluindo testes neuropsicológicos e o teste do amobarbital intracarotídeo (teste de Wada) e a RM funcional, podem ser usados para avaliar a localização da linguagem e da memória e determinar as possíveis consequências funcionais da ressecção cirúrgica da região epileptogênica. Em algumas situações, a avaliação não invasiva padronizada não é suficiente para localizar a zona de início das convulsões, e o monitoramento invasivo, como os eletrodos implantados profundos ou subdurais, é necessário para a localização mais definitiva. A extensão exata da ressecção a ser realizada pode também ser determinada pela realização de mapeamento cortical durante o procedimento cirúrgico, permitindouma ressecção refinada. Isso envolve registros eletrocorticográficos realizados com eletrodos na superfície do cérebro para identificar a extensão dos distúrbios epileptiformes. Se a região a ser ressecada estiver dentro ou próxima de regiões cerebrais suspeitas de terem função sensitivomotora ou de linguagem, realiza-se o mapeamento por estimulação cortical elétrica com o paciente acordado para determinar a função das regiões corticais em questão a fim de evitar a ressecção do chamado córtex eloquente e, desse modo, minimizar os déficits após a cirurgia. As complicações clinicamente significativas da cirurgia são < 5%, e o uso de procedimentos para mapeamento funcional reduziu sobremodo as sequelas neurológicas decorrentes da remoção ou secção do tecido cerebral. Por exemplo, cerca de 70% dos pacientes tratados com lobectomia temporal se tornarão livres das convulsões, e outros 15 a 25% apresentarão redução mínima de 90% na frequência de crises. Observa-se, também, melhora acentuada em pacientes tratados com hemisferectomia para distúrbios convulsivos catastróficos secundários a grandes anormalidades hemisféricas. Após a cirurgia, os pacientes em geral precisam continuar a usar terapia farmacológica antiepiléptica, mas a acentuada redução das crises pode ter um efeito muito benéfico sobre a qualidade de vida. Nem todos os pacientes refratários ao tratamento clínico são candidatos adequados à cirurgia de ressecção. Por exemplo, alguns pacientes têm convulsões oriundas de mais de um foco, tornando o risco de continuação das convulsões ou de dano em potencial da cirurgia inaceitavelmente alto. A estimulação do nervo vago (ENV) tem sido usada em alguns desses casos, embora os resultados sejam limitados e seja difícil predizer os pacientes que se beneficiariam. Um dispositivo implantável, que pode detectar o início de uma convulsão (em alguns casos, antes de ela se tornar clinicamente aparente) e que libera um estímulo elétrico para abortar a convulsão (neuroestimulação responsiva) demonstrou ser benéfico em pacientes selecionados. No momento, há estudos avaliando a eficácia da radiocirurgia estereotática, da termoablação com laser e da estimulação cerebral profunda (ECP) como outras opções ao tratamento cirúrgico na epilepsia refratária. 4. DISCUTIR SOBRE O USO DE ANTICONVULSIVANTES NA GRAVIDEZ, LACTAÇÃO E ANTICONCEPÇÃO; 1. Epilepsia catamenial Algumas mulheres sofrem aumento acentuado na frequência de crises durante a época da menstruação. Acredita-se que esse aumento seja mediado pelos efeitos do estrogênio e da progesterona sobre a excitabilidade neuronal ou pelas alterações nos níveis dos antiepilépticos em consequência de uma alteração na sua ligação às proteínas ou no metabolismo. Algumas pacientes podem beneficiar-se de aumentos nas doses dos medicamentos antiepilépticos durante a menstruação. As progestinas naturais ou a medroxiprogesterona por via intramuscular podem ser benéficas para um subgrupo de mulheres. 2. Gravidez A maioria das mulheres com epilepsia que engravida apresenta uma gestação sem complicações e dá à luz um bebê normal. Contudo, a epilepsia impõe alguns riscos importantes à gestação. A frequência das convulsões durante a gravidez não se modifica em cerca de 50% das mulheres, aumenta em 30% e diminui em 20%. As modificações na frequência das convulsões são atribuídas aos efeitos endócrinos da gravidez sobre o SNC, às variações na farmacocinética dos antiepilépticos (como aceleração do metabolismo hepático dos fármacos ou efeitos sobre a ligação a proteínas plasmáticas) e a modificações na adesão ao tratamento. Convém avaliar as pacientes a intervalos frequentes durante a gravidez e monitorar os níveis séricos dos antiepilépticos. A incidência global de anormalidades fetais em recém-nascidos de mães com epilepsia é de 5 a 6%, comparada com 2 a 3% para mulheres sadias. Parte dessa incidência maior é decorrente dos efeitos teratogênicos dos antiepilépticos, e o risco aumenta com a quantidade de medicamentos usados (p. ex., risco de malformações de 10 a 20% com três fármacos) e, possivelmente, com doses mais altas. O ácido valproico está fortemente associado a um risco aumentado de consequências fetais adversas (7- 20%). Achados recentes de um grande registro de gestações sugerem que, com exceção do topiramato, os antiepilépticos mais novos são muito mais seguros do que o ácido valproico. Como o dano em potencial das convulsões não controladas sobre a mãe e o feto é considerado maior do que o dos efeitos teratogênicos dos fármacos antiepilépticos, atualmente recomenda-se que as mulheres grávidas sejam mantidas sob tratamento farmacológico eficaz. Se possível, parece prudente manter a paciente em monoterapia com a menor dose eficaz, sobretudo no primeiro trimestre. Entretanto, para algumas mulheres, o tipo e a frequência das convulsões podem permitir um desmame seguro dos antiepilépticos antes da concepção. As pacientes também devem receber folato (1-4 mg/dia), pois acredita- se que os efeitos antifolato dos anticonvulsivantes desempenham um papel no desenvolvimento dos defeitos do tubo neural; 3. Contracepção Deve-se tomar cuidado especial ao prescrever antiepilépticos às mulheres que usam contraceptivos orais. Fármacos como carbamazepina, fenitoína, fenobarbital e topiramato podem diminuir significativamente a eficácia dos contraceptivos orais pela indução enzimática e outros mecanismos. As pacientes devem ser aconselhadas a usar formas alternativas de contracepção, ou a medicação contraceptiva deve ser modificada para compensar os efeitos dos agentes antiepilépticos. 4. Amamentação Os antiepilépticos são excretados, em graus variáveis, no leite materno. A proporção entre a concentração do fármaco no leite materno e no soro varia de cerca de 5% (ácido valproico) até 300% (levetiracetam). Tendo em vista os benefícios gerais do aleitamento materno e a ausência de evidências de efeitos deletérios a longo prazo no lactente exposto a antiepilépticos, mães com epilepsia podem ser incentivadas a amamentar. Porém, isso deve ser reavaliado se houver qualquer evidência de efeitos do fármaco sobre o lactente, como letargia ou recusa alimentar. 5. CARACTERIZAR O QUADRO DE MAL EPILÉPTICO E O SEU TRATAMENTO; O estado de mal epiléptico refere-se a convulsões contínuas ou convulsões distintas repetitivas com perda da consciência no período interictal. O estado de mal epiléptico tem diversos subtipos, incluindo o estado de mal epiléptico convulsivo generalizado (EMECG) (p. ex., convulsões eletrográficas generalizadas persistentes, coma e movimentos tônico- clônicos) e estado de mal epiléptico não convulsivo (p. ex., crises de ausência ou convulsões focais persistentes, com confusão ou comprometimento parcial da consciência e anormalidades motoras mínimas). A duração da atividade epiléptica suficiente para preencher critérios da definição de estado de mal epiléptico foi tradicionalmente especificada como de 15 a 30 minutos. Porém, uma definição mais prática é considerar como estado de mal epiléptico uma situação em que a duração das convulsões leva ao uso agudo de terapia anticonvulsivante. Para o EMECG, essa duração geralmente é quando as convulsões se prolongam por mais de 5 minutos. O EMECG é uma emergência e deve ser tratado imediatamente, pois podem surgir disfunção cardiorrespiratória, hipertermia e desequilíbrios metabólicos como consequência de convulsões prolongadas, e esses distúrbios podem levar a lesão neuronal irreversível. Além disso, pode ocorrer lesão do SNC até mesmo quando o paciente é paralisado com bloqueio neuromuscular mas continua a apresentar convulsões eletrográficas. As causas mais comuns de estado de mal epiléptico convulsivo são suspensão dos anticonvulsivantes ou baixa adesão à terapia, distúrbios metabólicos,
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