Prévia do material em texto
UNIDADE 6 – ORIFÍCIOS, BOCAIS, COMPORTAS 6.1 – Orifícios 6.2 – Bocais 6.3 –Tubos Curtos 6.4 – Comportas Engenharia Civil Disciplina: Hidráulica Geral 2º sem / 2020 6.1 ORIFÍCIOS • É definido como: “abertura de perímetro fechado, de forma geométrica definida (circular, retangular, triangular, etc), realizada na parede ou fundo de um reservatório ou na parede de um canal ou conduto em pressão, pela qual o líquido em repouso ou movimento escoa em virtude da energia potencial e/ou cinética que possui”. • Escoamento para ambiente sob pressão atmosférica: DESCARGA LIVRE • Escoamento para região ocupada pelo mesmo líquido: DESCARGA AFOGADA (ou orifício submerso) 2 • CLASSIFICAÇÃO DOS ORIFÍCIOS: • Quanto à Forma geométrica: – Circulares, retangulares, triangulares, etc. • Quanto à Orientação do plano do orifício: – Verticais, horizontais ou inclinados. • Quanto à sua dimensão: – Pequenos (dimensão do orifício < 1/3 da carga H) – Grandes (dimensão do orifício > 1/3 da carga H) • Quanto à espessura da parede: – Fina – a veia líquida só está em contato com a linha de contorno (perímetro do orifício) – Espessa – o jato adere à parede da abertura segundo uma superfície • Espessura da parede < 1,5 dimensão do orifício • Espessura da parede > 1,5 dimensão do orifício – CLASSIFICADO COMO BOCAL • Orifícios de parede espessa: estudo igual de bocais!!! 3 6.1.1 Descarga livre em orifícios de parede fina • As partículas líquidas afluem ao orifício de todas as direções, com trajetórias convergentes • Devido à inércia e componentes de velocidade, as partículas não mudam de direção de forma brusca ao se aproximar da saída e continuam movendo-se em trajetórias curvilíneas , obrigando o jato a se contrair um pouco além da borda interna da abertura – CONTRAÇÃO DO JATO • Seção onde a contração é máxima – Seção contraída – Trajetórias são paralelas entre si (linhas de corrente) – Dist. de velocidades uniforme – Área transversal igual a aproximadamente 60% da área do orifício – Pressão uniforme em todos pontos e igual à pressão exterior (atm) 4 • Orifício circular – a seção contraída situa-se a uma distância igual a 0,5 D da parede interna da abertura • A relação entre a área transversal do jato na seção contraída (Ac) e a área do orifício (A) é denominada Coeficiente de Contração (Cc). – Para orifícios circulares de parede fina, o valor médio de Cc é da ordem de 0,62 (variando com as dimensões do orifício e com a carga H) 5 orifíciodoárea contraídaseçãodaárea A A C cc __ ___ Vazão descarregada: • Desconsiderando efeito da contração do jato e as perdas de carga – pode-se determinar a vazão com a equação de Bernoulli: – Nas aplicações práticas, estes efeitos devem ser considerados!!! – Não dispensa determinação experimental dos coeficientes para corrigir as equações teóricas. • Considere um orifício vertical, de pequenas dimensões, parede delgada, através do qual escoa um líquido entre as regiões A e B. – Desconsiderando as perdas, e líquido na seção contraída com linhas de corrente paralelas e pressão uniforme: 6 p/ƴ=pressão estática ou altura piezométrica Z=energia potencial ou altura geométrica V²/2g=pressão dinâmica ou altura cinética g V Z p g V Z p b b ba a a 22 22 HgVb ..2 Velocidade teórica na seção contraída: Teorema de Torricelli • Devido a existência de perdas de energia no escoamento ao entrar no orifício e durante a passagem, a velocidade real na seção contraída é ligeiramente inferior à velocidade teórica dada pela equação anterior • Para correção e calcular a velocidade real: Coeficiente de velocidade Cv: – Para orifícios circulares de parede fina Cv=0,98 • Portanto a vazão real será: – Onde Ac=área da seção contraída • Sendo que Cc.Cv = Coeficiente de descarga Cd 7 Vt V teóricavelocidade realvelocidade Cv _ _ HgCvV ..2. HgCvAcQ ..2 HgCvCcAQ ..2 HgACdQ ..2 • Valores do coeficiente de vazão (Cd) para orifícios verticais, circulares e de parede fina, em função do diâmetro e da carga (Azevedo Netto): 8 O valor médio geralmente adotado em problemas é igual a 0,61 • É produto das resistências devido a viscosidade do líquido e oferecida pela parede e pelo próprio ar. • Portanto nem toda energia potencial, representada pela carga H, é transformada em energia cinética • Se velocidade real: • A carga original vale: • A energia remanescente do jato é a carga cinética V²/2g • A perda de carga será: • Substituindo pela equação de H: 9 6.1.2 Perda de carga em orifícios HgCvV ..2. g V Cv H 2 ² ² 1 )1 ² 1 ( 2 ² 2 ² 2 ² ² 1 Cvg V g V g V Cv h HCvh ²)1( Válida para qualquer tipo de orifício de pequenas dimensões, incluindo os de parede espessa!! Para Cv=0,98 a perda de carga será aproximadamente 4% – 1) Calcula-se a vazão teórica para determinado tipo de orifício e carga – 2) Mede-se a vazão real – 3) A relação da vazão real pela vazão teórica é o coeficiente de descarga Cd • O valor de Cd para um dado orifício em geral não é constante, varia com a carga, condições de fluxo e viscosidade do líquido. 10 6.1.3 Determinação experimental dos coeficientes de um orifício • Trajetória do jato livre: – A distância percorrida na direção horizontal, em movimento uniforme, é: • V=X/t Portanto: • X = Vr . t (onde Vr é a velocidade real de saída do jato) – Na direção vertical, temos um movimento uniformemente variado. O jato nesta direção percorre uma distância Y: • Y = g.t²/2 – Assim podemos substituir o tempo t pela expressão obtida no movimento uniforme horizontal. Fazendo isto, temos: • Y=g.X²/(V².2) • Ou: • X²=Y.V².2/g 11 • Se a dimensão vertical de um orifício é grande, a carga hidrostática que produz o fluxo é menor no bordo superior da abertura que no bordo inferior • Portanto, a vazão calculada em relação ao centro do orifício não é verdadeira. • Método utilizado nessa situação: – Calcular a vazão elementar através de uma faixa horizontal de altura infinitesimal – Integrar do topo até o fundo da abertura para se obter a vazão teórica – Se conhecermos o Cd, poderemos estimar a vazão real. 12 6.1.4 Teoria dos grandes orifícios 13 A vazão elementar, em uma faixa horizontal de espessura dh, é dada por: hgdhbCddQ 2 Considerando Cd constante (igual para todas as faixas), integra-se a equação acima de h1 a h2. A integração dependerá da forma geométrica do orifício. Para orifício retangular: )(2 3 2 2/3 1 2/3 2 hhbgCdQ Ou 12 2/3 1 2/3 2 )(2 3 2 hh hh gACdQ • Sendo H diferença de nível, escoamento permanente, aplica- se a equação de Bernoulli entre as seções a-a e b-b (coincidente com a seção contraída do jato) levando em conta a perda de carga: 14 6.1.5 Orifícios afogados )(2 )(2 2 1 ² 1 2 2 21 21 2 2 2 2 21 2 2 21 hhgACdQ hhgCvV g V Cvg V hh h g V hh **Hipótese válida para h2 muito maior que a dimensão vertical do orifício • Exercício 1: • Um reservatório de barragem, com nível de água na cota 545,0m está em conexão com uma câmara de subida de peixes, através de um orifício circular com diâmetro D1=0,50m. Essa câmara descarrega na atmosfera, por outro orifício circular de diâmetro D2=0,70m, com centro na cota 530,0m. Após certo tempo, cria-se um regime permanente (níveis constantes). Sabendo-se que os coeficientes de contração dos dois orifícios são iguais a Cc=0,61 e os coeficientes de velocidade, iguais a Cv=0,98, calcular qual é a vazão de regime e o nível da água na câmara de subida de peixes. 15 • Ocorre quando as paredes ou o fundo do reservatório se encontram a distâncias inferiores a 3D (D=diâmetro do orifício) ou 3a (a=menor dimensão doorifício) • Se aplicam todos os conceitos vistos até aqui, mas é necessário corrigir o coeficiente de vazão: 16 6.1.6 Contração incompleta do jato Condição para ocorrência da contração completa do jato Contração incompleta do jato Cd*=Cd (1 + 0,15.K) para orifícios retangulares Cd*=Cd (1 + 0,13.K) para orifícios circulares K é a relação entre a parte do perímetro em que há supressão da contração e o perímetro total do orifício Para exemplo da figura, com orif. Retangular: K=b/(2a+2b) Para orifícios circulares: K =0,25 (orif. Junto a uma parede lateral ou fundo) K = 0,50 (orif. Junto a parede e fundo) • Exercício 2 • Em uma fábrica encontra-se a instalação indicada no esquema da figura, compreendendo dois tanques em comunicação por um orifício circular de diâmetro D. • Determinar o valor de D para que não ocorra transbordamento no 2º tanque. • O orifício com descarga livre é quadrado (com supressão em uma face). 17 • Situação anterior: escoamento permanente. Portanto, vazão que alimenta o reservatório é igual à vazão descarregada pelo orifício. • Seja um reservatório que não há alimentação de água, de modo que a abertura do orifício no fundo provoca uma diminuição gradual da profundidade, e portanto, da pressão sobre o orifício: • Considerando Cd = Constante • Deriva-se a equação da vazão em orifícios em função do tempo e integra-se a equação de t=0 a t=T (tempo correspondente à variação de volume de h1 a h2). Para um reservatório prismático, chega-se na seguinte equação: – Sendo A = área do reservatório; Ao = área do orifício • Para h2=0, temos o tempo necessário para o esvaziamento total do reservatório (a partir de h1). Nesse caso, o tempo será APROXIMADO, pois quando temos cargas pequenas as condições são alteradas, podendo ocorrer vórtice (não teria distribuição hidrostática de pressão) • Portanto: Só consideramos Cd constante se orifício for pequeno!! 18 6.1.7 Escoamento sob carga variável 21 2 2 hh gAoCd A T • Exercício 3: • Um reservatório de seção quadrada de 1,0m de lado possui um orifício circular de parede fina de 2cm² de área, com coeficiente de velocidade Cv=0,97 e coeficiente de contração Cc=0,63, situado 2,0m acima do piso, conforme a figura. Inicialmente, com uma vazão de alimentação constante, o nível da água no reservatório mantém-se estável na cota 4,0m. Nestas condições, determine: • A) a vazão de alimentação; • B) a perda de carga no orifício; 19 C) a distância X da vertical passando na saída do orifício até o ponto onde o jato toca o solo (alcance do jato); D) interrompendo-se bruscamente a alimentação (Q=0), no instante t=0, determinar o tempo necessário para o nível da água no reservatório baixar até a cota 3,0m. • Quando o orifício é de parede grossa – jato após passar pela seção contraída, tem espaço para se expandir e ocupar a totalidade da seção • Entre a seção contraída e a seção final ocorre uma rápida desaceleração, acompanhada de turbulência e perda de energia • Quando se pretende dirigir o jato e alterar o coeficiente de descarga de um orifício, adiciona-se ao orifício um certo comprimento de tubo (em geral de mesma geometria que o orifício). Esse dispositivo é chamado de Bocal ou tubo adicional, e é caracterizado por ter um comprimento L, entre 1,5D e 5,0D (D=diâmetro do orifício). 20 6.2 BOCAIS Classificação dos bocais: -Cilíndricos; ou -Cônicos (convergentes ou divergentes) -Internos; ou -Externos • Aplicação de Bernoulli: – Onde Δh é a perda de carga entre as seções, que se resume à perda localizada no processo de expansão da veia dentro do bocal. • Equação da perda de carga localizada: k.V²/2g – Onde k é um coeficiente adimensional que depende da geometria da seção, número de Reynolds, da rugosidade da parede e condições de escoamento. Em situações práticas, assume-se como uma valor constante retirado de tabelas e gráficos retirados da literatura 21 6.2.1 Bocal Cilíndrico Externo h g V H 2 ² 118,0 Ac A k • Equação da continuidade: Q = Vc . Ac = V . A Vc = A . V / Ac Vc = V / Cc • Combinando a equação da continuidade com Bernoulli, e considerando um coeficiente de contração médio Cc de 0,62, temos: • A jusante da seção contraída, o jato não apresenta mais seção contraída e Cc=1. Portanto a vazão no bocal será: 22 gHV 282,0 HgAQ 282,0 Comparando a vazão através do bocal (eq. acima) com a vazão de um orifício de parede fina, de mesma área A e sujeito a mesma carga H, com Cd =0,61, observa-se que, apesar da perda carga, a instalação de um bocal promove um aumento na vazão de cerda de 34% Ocorre pq na seção contraída a pressão é menor que a atm • A pressão na seção contraída do jato é inferior à pressão atmosférica local em ¾ da carga sobre o bocal (aplicando eq. energia) (pg 367 e 368 do livro): (Patm – Pc)/ɤ = 3H/4 • Para ocorrer escoamento no bocal, há um limite físico da carga H, sendo que a carga máxima será o limite em que a pressão na seção contraída seja igual à pressão de vapor saturante (evitar cavitação): 23 va ppH 3 4 max Valores do coeficiente de vazão de um bocal cilíndrico, colocado perpendicularmente ao plano da abertura, em função da relação comprimento (L) diâmetro (D): QDO pressão seção contraída =pv *valores de H próx. de Hmax: escoamento se torna intermitente – não tem continuidade da veia líquida • Comprimento do bocal entre 2.D a 2,5.D (diâmetro da abertura) – Bocal de borda • Contração na entrada do bocal maior que a observada nos orifícios, sem tocar as paredes internas do mesmo 24 6.2.2 Bocal Cilíndrico Interno bocal de borda • Cv=0,98 e Cc=0,52. Portanto: *Cd determinado a partir do somatório das forças atuantes em x HgAQ 251,0 Se o comprimento do bocal for menor que 2D, Cd aumenta, tendendo a valores correspondentes aos orifícios de parede espessa Se o comprimento do tubo for maior que 2,5D, a veia líquida após atingir a seção contraída preenche totalmente a seção do bocal, produzindo uma descarga semelhante aos tubos adicionais cilíndricos externos. • Se 1,5 ≤ L/D ≤ 5,0 → Bocais • Se 5,0 < L/D ≤ 100 → Tubos muito curtos • Se 100 < L/D ≤ 1000 → Tubulações curtas • Se L/D > 1000 → Tubulações longas 25 6.3 TUBOS CURTOS COM DESCARGA LIVRE Para tubos muito curtos, considera-se o escoamento como sujeito a lei dos orifícios, em que o Coeficiente de Vazão Cd traduz o efeito das perdas localizadas e distribuída no tubo. HgACQ d 2 H = diferença de nível entre a superfície do reservatório e a linha de centro da seção de saída do tubo A altura de água entre a superfície livre do reservatório e a geratriz superior na entrada do tubo, deve ser no mínimo igual a 1,5 x carga cinética para evitar a formação de vórtice na entrada do tubo. • Coeficientes de descarga Cd para tubos de ferro fundido de D=0,30m: 26 • Coeficientes de descarga Cd para tubos circulares de concreto com entrada arredondada: 27 • Coeficientes de descarga Cd para tubos circulares de concreto com entrada em aresta viva: 28 Exercício 4: Determinar qual deve ser o diâmetro do tubo de concreto, com entrada em aresta viva e 15m de comprimento, para que a vazão seja igual à que passa pelo tudo de ferro fundido de 30cm de diâmetro. Os tubos estão na horizontal e descarregam livremente na atmosfera 29 6.4 COMPORTAS DE FUNDO PLANAS Controla as características do escoamento fluvial a montante e torrencial a jusante É uma placa plana móvel que, ao levantar, permite graduar a abertura e controlar a descarga produzida. A vazão descarregada é função da altura de água e abertura inferior Escoamento após comporta pode ser livre (em geral seguido de ressalto hidráulico) ou afogado 30 31 • Considerando uma comporta de fundo em um canal retangular defundo horizontal e mesma largura: – Não há contração lateral do jato e portanto o escoamento pode ser tratado como bidimensional • O escoamento pode ser tratado através da lei dos orifícios: – lâmina descarregada pelo orifício de abertura b, a partir de um ponto A, sofre contração até alcançar Y2 = Cc.b a uma distância L≡1,3b (seção contraída) 32 Energia = soma da altura da água com carga cinética • Considerando a descarga livre e desprezando as perdas de carga entre 1 e 2: 33 2 2 22 1 1 2 ² 2 ² yg q y yg q yH • Considerando que Y2=Cc.b, e desenvolvendo a eq. acima para colocar na forma da lei dos orifícios, temos: 12 ygbCq d OBS: y1 é a altura total de água no reservatório, e não a distância vertical da superfície livre até o centro de gravidade do orifício Sendo: 1/1 ybC C C c c d • O coeficiente de contração pode ser considerado constante Cc= 0,61 • Swamee (1992) apresentou equações para determinação do Coeficiente de descarga Cd: – A) Descarga livre: – B) Descarga afogada: – C) Condição para existência de descarga livre: 34 072,0 1 1 15 611,0 by by Cd 1 7,0 31 7,0 1 72,0 3 3 7,0 31 81,032,0)( yyy b y yyyCC dda 72,0 3 31 81,0 b y yy 35 Comportas de fundo planas – Escoamento afogado • A característica do escoamento livre sob uma comporta é a existência de regime torrencial com altura de água inferior à abertura b. • Se um condicionamento a jusante da comporta impuser a ocorrência de um ressalto hidráulico, temos dois casos: – Se a posição de equilíbrio do ressalto for afastada da comporta – escoamento livre – o nível de água de jusante (fluvial) não influencia a vazão da comporta – Se y3 for maior que a altura conjugada correspondente de y2: ressalto não encontrará condição de equilíbrio e se moverá para montante, afogando o escoamento (figura) - acaba por influenciar a vazão O valor de y3 que corresponde à situação limite é a altura conjugada de y2 36 Exercício 5: Uma comporta plana e vertical descarrega uma certa vazão em um trecho curto de um canal retangular, horizontal e liso. Na extremidade de jusante, existe uma soleira com altura de 0,5m, seguida por queda livre, conforme a figura. Para um coef. De contração Cc=0,61, determine a vazão unitária e a altura da água em cima da soleira. Despreze a perda de carga na soleira.