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AV1 RESPONSABILIDADE CIVIL Pro. Leo Vieira Malu Leite Goes Boavista 2023.1 *resumo baseado nas anotações em sala e cadernos de @catharinaorganiza e Beatriz Melo 1. INTRODUÇÃO A RC - Responsabilidade civil = dever de indenizar - É a resposta do ordenamento diante de um dano injustificado que possa atingir o patrimônio ou os direitos da vítima e, essa vítima irá se movimentar para obter a reparação do seu dano material ou a compensação pelo dano extrapatrimonial (veremos mais à frente o que é, mas é basicamente o dano moral). - A responsabilidade civil é uma das espécies da responsabilidade jurídica (que pode ser penal, ético profissional, administrativa e civil) - Pode acontecer de em um só ato, o indivíduo descumprir todas as esferas de uma vez - ainda que elas sejam autônomas -, bem como ele pode ser absolvido em uma esfera e condenado em outra pelo mesmo ato. ● NATUREZA JURÍDICA DA RESPONSABILIDADE CIVIL: sanção reparadora e preventiva. - A responsabilidade civil é sempre uma obrigação secundária, porque antes de ela se configurar, um dever primário foi descumprido ❖ SANÇÃO REPARADORA: amparar as vítimas oriundas destes danos de forma em que ou seus patrimônios sejam recompostos ou que elas recebam um valor relativo aos seus direitos de personalidade que foram ofendidos ❖ SANÇÃO PREVENTIVA: para evitar a rescisão de quem cometeu, bem como evitar que outros cometam também - É também discutida uma função punitiva, mas Leo acredita que não deveria ter. ● PRESSUPOSTOS DA RC: ‘’C D NC NI’ - Para que haja a responsabilidade civil (ou seja, o dever de indenizar), é preciso que todos os pressupostos estejam presentes simultaneamente. São eles: Conduta, Dano, Nexo Causal e Nexo de Imputação - Schreiber define que ‘’a erosão dos pressupostos gera a responsabilidade civil’’. ● CONCEITO: é a OBRIGAÇÃO SECUNDÁRIA decorrente de um dever primário desrespeitado e que tenha decorrido um dano, em que se deve observar culpa e se aplique sanção para que retome o status quo ou compense as ofensas aos direitos de personalidade. 1 - Os deveres primários também podem decorrer da inobservância de normas principiológicas, como por exemplo, os deveres anexos da boa fé objetiva (dever de informação, de sigilo, de cooperação e de proteção). 2. ANÁLISE HISTÓRICA - Não existe exatamente uma data, mas geralmente se associa ao período em que as pessoas deixaram de usar a barbárie para resolverem as suas desavenças e passou a ter um poder central que impedisse a vingança e o ato de ‘’fazer justiça com as próprias mãos’’, como por exemplo a Lei de Talião e a sua idéia de ‘’olho por olho, dente por dente’’. - Ao perceber que essa lógica de vingança privada não era mais aceitável, se deu a ideia da COMPOSIÇÃO VOLUNTÁRIA, que um poder central garante que, caso aconteça um dano, a vítima e o autor do dano irão sentar, discutir e encontrar uma solução, porque assim como não permitiam mais a vingança privada, não permitiam também que a vítima ficasse prejudicada/irressarcida. - Posteriormente surgiu a ideia de COMPOSIÇÃO TARIFADA, onde o poder central evolui e passa a existir um padrão de valores em que a vítima do dano pudesse almejar em decorrer de tal fato. Aqui, a responsabilidade civil e penal ainda se confundiam e a responsabilidade ainda era objetiva (que se configura independentemente de culpa) - A ideia de culpa só começa a ser cogitada na LEX AQUILIA, datada no Império Romano, e foi um marco histórico pois foi a primeira a tratar de responsabilidade civil (se estabeleceu uma norma genérica que quem der causa a danos intoleráveis pelo sistema jurídico haverá de indenizar) e foi a primeira a pincelar a ideia de culpa como fato de atribuição a responsabilidade civil. - Seguindo essa evolução, no Código de Napoleão surgem as bases da teoria clássica da responsabilidade civil e na época, o dever de indenizar passou a depender de: conduta, dano, nexo causal e a culpa naquele momento histórico. - Só no início do século XX que passaram a existir as teorias objetivistas, que criticavam o domínio exclusivo da culpa para poder indenizar. A Revolução Industrial influenciou na teoria clássica, pois as condições de trabalho nas fábricas eram péssimas e os trabalhadores não eram ressarcidos pelos danos do trabalho. Por tanto, os autores franceses Josserand e Saleilles, vão demonstrar na época que aquela teoria clássica não acompanhava mais a realidade. - Superando isso, surge a SOCIALIZAÇÃO DA RESPONSABILIDADE. Passa a ganhar força a ideia de que a indenização possui mais importância em deslocar os holofotes para a vítima e não só buscar repreender o autor, porque o sistema deve minimizar ao máximo que alguém seja prejudicado sem ser ressarcido. Aqui surgem, por exemplo, os seguros, ● EVOLUÇÃO HISTÓRICA NO BRASIL - Inicialmente, ambas as responsabilidades (civis e penais) estavam misturadas. No CC de 1916 havia um artigo sobre RC. A nossa Constituição 2 prevê danos morais para alguns crimes ambientais. O Código Civil de Reale (2002) tem um caput sobre a RC, entre outros artigos (como o 927). 3. RESPONSABILIDADE CIVIL E ATO ILÍCITO: artigos 186 e 187 Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. - Responsabilidade civil e ato ilícito não se confundem, pois a responsabilidade civil é uma obrigação secundária e é uma das consequências possíveis do abuso de direito. - O conceito de ato ilícito tem como elemento central a culpa. - Havendo ato ilícito, há dever de indenizar. Mas nem sempre que houver dever de indenizar, será em decorrência de um ato ilícito. - O artigo 186 conceitua o ato ilícito, mas é o 927 que obriga a indenização - A culpa não é um elemento essencial, mas sim acidental. Isso porque a culpa não é um pressuposto geral da responsabilidade, tendo em vista que existe responsabilidade civil objetiva (em que não há necessidade de provar a culpa). - Por tanto, recapitulando: os elementos essenciais para configurar a RC são a conduta, o dano e o nexo, sendo que apenas esses já configuram a responsabilidade objetiva. A culpa é um elemento acidental para configurar a responsabilidade subjetiva, haja vista que é possível existir responsabilização sem que tenha havido culpa. 4. FIGURAS PARCELARES DA BOA FÉ OBJETIVA E RC: - São figuras parcelares porque são derivações da boa fé; ideia de que tem que haver um equilíbrio nas relações. - Supressio/surrectio - Venire contra factum proprium (se cria uma expectativa com uma pessoa, mas ela é quebrada. a caracterização dessas hipóteses, em havendo um dano, enseja a RC) 5. RESPONSABILIDADE CIVIL POR ABUSO DE DIREITO - Abuso de direito = abuso de poder - A responsabilidade civil também não se confunde com abuso de poder, pois a RC pode ser um dos desdobramentos do abuso de direito - Abuso de direito: você tem um direito normatizado e garantido legalmente, logo, você usufrui dele recebendo seus benefícios. Contudo, ao utilizá-lo, você extrapola o uso por afrontar os princípios e valores do Direito, sendo eles a boa fé, os bons costumes e as funções econômicas e sociais do direito. - Não é necessário provar culpa (subjetiva). É um entendimento dominante no Brasil. ❖ TEORIA DO ATO EMULATIVO: O indivíduo está no direito dele, mas age com o intuito de prejudicar o outro. Por exemplo: eu possuo uma propriedade e não quero que fique passando balões sobrevoando minha casa e ainda que 3 não atrapalhe em nada da minha vida, eu não gosto desses balões. Eu vou lá e construo estacas altas o suficiente para impedir essa passagem de balões. Isso seria um abuso de poder. O abuso de direito se configura porque eu tenho um direito, mas eu quero prejudicar o terceiro (dolo). . Essa teoria desenvolve a TEORIA DO ABUSO DE DIREITO, que se divide em três correntes doutrinárias: - TEORIA SUBJETIVISTA: precisa de culpa (não adotada/minoritária) - TEORIA OBJETIVISTA: não precisa de culpa (maioria) - TEORIA ECLÉTICA: precisa tanto de culpa quandode fatores objetivos (ex: desrespeito à boa fé); é a teoria que prevalece para o professor - A diferença entre o ato emulativo e o abuso de direito é que o abuso não precisa de dolo, ou seja, da intenção de lesar, enquanto o emulativo precisa. - O argumento para a corrente minoritária que acredita que o abuso de direito é uma responsabilidade civil subjetiva é que: o caput do artigo 927 se refere a responsabilidade subjetiva, enquanto o caput menciona o 186 e 187, logo, o abuso de direito também seria uma responsabilidade subjetiva. Afinal, o parágrafo único é objetivo e se o legislador quisesse que fosse objetivo, colocaria o artigo do abuso de direito nele. - Já o argumento da corrente majoritária, que acredita que o abuso de direito é objetivo, é de que não se discute culpa. Afinal, nem sempre o sujeito terá a intenção de lesar terceiros, mas a utilização de seu direito de forma excessiva é capaz de lesá-los e esses terceiros não podem ficar desamparados diante do dano causado. 6. DICOTOMIAS DA RESPONSABILIDADE CIVIL: ❖ CONTRATUAL X EXTRACONTRATUAL - CONTRATUAL/NEGOCIAL: O dever de indenizar deriva de uma obrigação previamente firmada entre as partes (prazo prescricional de 10 anos) - EXTRACONTRATUAL: Quando não havia vínculo jurídico prévio (prazo prescricional de 3 anos). Ex: eu bato no carro de Fulaninho e me surge o dever de indenizá-lo. ❖ SUBJETIVA X OBJETIVA - SUBJETIVA: exige a presença de culpa - OBJETIVA: não exige a presença de culpa; a culpa é irrelevante OBS: não confundir com culpa presumida. A responsabilidade objetiva NÃO HÁ CULPA, enquanto a presumida há uma presunção de culpa, invertendo-se o ônus da prova para que o suposto lesante comprove a sua inexistência. ❖ OBRIGAÇÃO DE MEIO X OBRIGAÇÃO DE RESULTADO - OBRIGAÇÃO DE MEIO: quando é prometido algo que gere um determinado resultado mas surge algo que impeça a obtenção deste resultado, ainda que não precise se responsabilizar por isso. Ex: 4 contrato um advogado e apesar de ele cumprir com o seu papel de me defender, possa ser que ele não ganhe a causa - OBRIGAÇÃO DE RESULTADO: o fim prometido só se exonera com o objetivo alcançado. Ex: pago por um anestesista na minha cirurgia de prótese e ele tem que ficar lá comigo até acabar a cirurgia. ❖ TEORIA DA CARGA DINÂMICA DO ÔNUS DA PROVA: o juiz pode inverter o ônus da prova toda vez que achar que a outra parte pode provar melhor. Os casos tem que ser: - Previstos em lei - Devido a impossibilidade da produção de prova - A excessiva dificuldade da produção da prova - Maior facilidade de obtenção da prova do fato OBS: O ônus da prova é da vítima para provar o dano capaz de reconhecer a RC. 7. CULPA: ● CONCEITO DOS IRMÃOS MAZEAUD: - ‘’Culpa seria o erro de conduta’’. - A culpa é o erro de conduta do indivíduo que não se comporta da maneira normalmente esperada para evitar danos a terceiros - Divide-se em: ❖ CULPA ABSTRATO: é a verificação da culpa através de uma comparação de condutas. - Se remove o agente do caso concreto e coloca no lugar dele a pessoa média, se questionando se a pessoa média agiria diferente. ❖ CULPA EM CONCRETO: seria provar que aquela pessoa não teria tal atitude conforme os seus próprios comportamentos. - Leva em conta o comportamento individualizado da própria pessoa ● CONCEITO DE RENÉ SAVATIER: - ‘’A culpa é a inobservância do direito objetivo de cuidado’’ ❖ ELEMENTO SUBJETIVO: imputabilidade, ou seja, a condição do agente ter discernimento da maneira em que ele está se colocando ❖ ELEMENTO OBJETIVO: o dever violado perante a inobservância de agir de forma adequada ● GRADAÇÃO DA CULPA: Artigo 944 - No período romano a culpa era dividida entre grave, leve ou levíssima. O CC de 2002, no artigo 944, expandiu esse conceito. ❖ CULPA GRAVE: é a culpa que claramente agride o comportamento esperado em sociedade e, embora não seja, se aproxima do dolo. É a culpa que o homem médio não cometeria. 5 ❖ CULPA LEVE: é o erro de conduta que é significativo, que não seria cometido por uma pessoa média daquela forma ❖ CULPA LEVÍSSIMA: até mesmo o homem médio cometeria. Não configura responsabilidade civil subjetiva. ● CULPA EM SENTIDO ESTRITO: ato voluntário mas que não tem a intenção de cometê-lo: negligência (a pessoa deixa de agir conforme o esperado), imprudência (a pessoa age de forma que não é esperada) e imperícia (age sem preparação ou conhecimento técnico que se espera para aquela conduta) ● CULPA LATO SENSU: dolo + culpa stricto sensu ● CULPA IN ELIGENDO X CULPA IN VIGILANDO: - Era uma diferença comum no código de 1916 e hoje não é mais. Era considerada uma Responsabilidade Civil Indireta (ex: a responsabilidade do empregador com o seu empregado) ❖ CULPA IN ELIGENDO: culpa pela escolha; não escolheu bem o preposto ❖ CULPA IN VIGILANDO: culpa pela fiscalização (vigilância); falta de cuidado por não fiscalizar o preposto - Ex: uma empresa de ônibus e o motorista - o motorista atropela uma pessoa. antigamente, conforme o código de 1916, para conseguir a responsabilização, você teria que provar que o motorista era malucão e atropelou a pessoa (culpa in vigilando) e que a empresa permitia motoristas doidões (culpa in eligendo), assim, não havendo qualquer verificação da conduta desses colaboradores. Hoje em dia não é mais assim, não precisa provar a culpa in eligendo e in vigilando, basta que prove a imprudência, negligência ou a imperícia, sem precisar provar a culpa da empresa pela escolha do motorista lelé. ● CULPA PRESUMIDA: - O ato, por si só, já presume a culpa. Ela pode ser relativa ou absoluta. ❖ CULPA RELATIVA: admite prova ao contrário ❖ CULPA ABSOLUTA (juris et de jure): não admite prova ao contrário. Se é absoluta, é a mesma coisa de responsabilidade civil. - A culpa presumida gera a inversão do ônus da prova e cabe ao agente provar que não agiu com culpa ● CULPA EM SENTIDO AMPLO: dolo ● CULPA EM SENTIDO ESTRITO: negligência, imprudência e imperícia 8. RESPONSABILIDADE OBJETIVA - NÃO PRECISA DE CULPA PARA INDENIZAR. - Critérios: risco, equidade (art. 928) e disposição legal (a lei fala que em uma situação, se houver dano, haverá responsabilidade independente de culpa) ● TEORIA DO RISCO: 6 - Teoria do risco criado: não vai importar se a pessoa tirou proveito ou não da atividade com risco, mas ela terá que indenizar independente de culpa por conta do risco que foi criado. O foco não é a vantagem, é a situação que foi criada. - Teoria do risco extraordinário: quando a atividade é de um risco absurdo, não precisa nem provar a culpa. Ex: a pessoa vai lidar com material radioativo, ou com um vírus altamente prejudicial à saúde que escapou de um laboratório - Teoria do risco agravado: é extremamente aguda e dispensa culpa e nexo causal; tem que ter norma expressa. Ex: a pessoa está em um campo, trabalhando, e cai um raio que faz com que ela perca os dedos do pé. Independente de culpa ou acidente extraordinário, a pessoa tem direito ao INSS. ● TEORIA DO SEGURO: - A técnica do seguro não destrói a responsabilidade civil. - Alguns acreditam que teremos uma tendência de que o seguro vai sempre cobrir tudo. - Se todo mundo tiver seguro, perde o sentido da responsabilidade civil. É utópico. - O seguro vai estipular tetos sobre eventuais casos, por ex: x% para batida de carro, y% danos, z% perdas, etc. - O seguro não vai excluir a possibilidade de indenização complementar ao segurado. Ex: em caso de acidente de trânsito, a família do acidentado recebe o seguro DPVAT, podendo acionar o agente causador do dano civilmente. - Artigos 778 - 785 e 788. 9. PRESSUPOSTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL - Com a teoria contemporânea a culpa passa a ser um mero elemento acidental, uma vez que há a responsabilidade objetiva. - Deve existir 4 elementos para que haja responsabilidade civil: conduta, dano, nexo causal e nexo de imputação. - Erosão dos filtros da responsabilidade civil: é a ideia de Anderson Schreiber de que, se por exemplo, 8 amigos vão ao bosque e morre uma pessoa. Não conseguem descobrir quem foi que matou:os 8 serão responsabilizados. Para o legislador, é melhor que todos sejam responsabilizados do que que ninguém seja responsabilizado e a família de quem morreu fique irressarcida. 10. CONDUTA - Poderá recair sobre pessoa física ou pessoa jurídica - Deve se questionar se a conduta é tal que se justifique o dever de reparação - Pressupõe a existência concomitante dos seus pressupostos (um deles é a conduta) - Não precisa ser necessariamente danosa 7 ● CONDUTA VOLUNTÁRIA: é a conduta humana - É a voluntariedade que resulta da liberdade de escolha do agente imputável (que tem discernimento e consciência daquilo que faz). - A voluntariedade não significa que o indivíduo teve a intenção de causar o dano, mas sim que possuía consciência do que estava fazendo - É a consciência do ato ● CONDUTA COMISSIVA OU OMISSIVA: - CONDUTA COMISSIVA (ou positiva): eu cometi uma conduta danosa; é a ação, o fazer. Ex: um cara bêbado arremessa o carro contra o muro do vizinho - CONDUTA OMISSIVA (ou negativa): é uma abstenção; é quando alguém deixa de agir quando juridicamente era esperada uma conduta. Até na omissão há voluntariedade da conduta. Ex: omissão de socorro, que pode ensejar em condenação penal e civil. ● RESPONSABILIDADE CIVIL INDIRETA X RESPONSABILIDADE CIVIL INDIRETA ❖ DIRETA: o agente do dano é o responsável pela reparação, ou seja, quem causou o dano é quem vai indenizar. É a regra ❖ INDIRETA: uma pessoa por quem você é responsável causou o dano (arts 932 e 933) - O agente responderá pela conduta de outrem - Ato praticado por terceiro ou fato do animal e de coisa - É uma responsabilização objetiva, pois não há culpa Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil: I - os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia; II - o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas mesmas condições; III - o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele; IV - os donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos onde se albergue por dinheiro, mesmo para fins de educação, pelos seus hóspedes, moradores e educandos; V - os que gratuitamente houverem participado nos produtos do crime, até a concorrente quantia. - O ‘’também’’ sugere responsabilidade solidária. - No artigo 928 diz que o incapaz responde em alguns casos, mas o 932, I, diz que tanto os filhos quanto os pais respondem. Por isso, há uma antinomia. Irá prevalecer a que for mais específica e restritiva, ou seja, o 928. 8 ❖ ANALISANDO OS INCISOS do 932: INCISO I: os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia; - Responsabilidade sobre os filhos (incapazes): é subsidiária e não solidária entre os filhos e pais - O artigo 928 é claro em dizer que um filho menor de idade, na dependência de seus pais, só vai responder com o patrimônio dele de forma subsidiária (como no caso de o filho ter patrimônio, ex: ator mirim). O menor só vai arcar com patrimônio próprio se seus responsáveis não tiverem obrigação de fazê-lo ou não dispuserem de meios suficientes - Se os pais são divorciados, ambos respondem solidariamente, se a guarda é compartilhada. Se mesmo com o divórcio o pai não tiver a guarda, mesmo que tenha visitas nos finais de semana, será responsável o pai que estiver com o filho no momento. - Situações em que o responsável não tem obrigação de arcar: se o responsável está em coma e o incapaz está com a avó, por exemplo. O pai em coma não tem responsabilidade; ou se os responsáveis não têm patrimônio para arcar. - Os pais não podem entrar com ação de regresso INCISO II: o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas mesmas condições; - Mesma lógica do anterior. - Caso tenham que pagar, podem depois entrar com ação de regresso (os pais não podem) - O pródigo está excluído deste inciso, pois a sua incapacidade diz respeito ao seu patrimônio = responsabilidade DIRETA. INCISO III: o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele; - O serviçal deverá ser retirado - A conduta deverá ter ocorrido no exercício do trabalho ou em razão dele para que recaia a responsabilidade indireta - Recai, obviamente, a solidariedade INCISO IV: os donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos onde se albergue por dinheiro, mesmo para fins de educação, pelos seus hóspedes, moradores e educandos; - O hotel só responde pelo seu hóspede se a situação ocorrer dentro do hotel ou do raio de influência - Um exemplo é o caso de um menor, hóspede de um hotel, que foi agredido por um outro hóspede. O hotel poderia ser processado pela família do menino, pois tem responsabilidade indireta já que o agressor era também um hóspede. O agressor e o hotel respondem solidariamente - Essa lógica se aplica também às escolas: se um menor bate no outro, a escola vai responder e não haverá direito de regresso contra os pais. Leo entende que no momento em que o menor está na escola, ele sai da responsabilidade dos pais e passa para a do colégio. INCISO V: os que gratuitamente houverem participado nos produtos do crime, até a concorrente quantia. - No rigor técnico não seria responsabilidade indireta. - Ex: se minha amiga traficante rouba uma jóia e me dá de presente, eu não vou arcar com todo o prejuízo causado pelo roubo, mas terei que restituir o valor da jóia. 9 - Seria a restituição do que foi indevidamente recebido a fim de desfazer um enriquecimento ilícito. Não é responsabilidade civil indireta. ● RESPONSABILIDADE CIVIL INDIRETA DECORRENTE DE COISAS Art. 936. O dono, ou detentor, do animal ressarcirá o dano por este causado, se não provar culpa da vítima ou força maior. - Dano provocado diretamente por um animal = responsabilidade OBJETIVA - A ideia de culpa é totalmente dispensada. - Se aplica também ao detentor, que é, por exemplo, a pessoa que leva o cachorro pra passear - Se relaciona com a teoria do risco: quem se arrisca a ter um animal deve assumir os riscos disso - EXCLUDENTES DO 936: - Culpa da vítima: a culpa é exclusivamente da vítima se ela, por exemplo, se aproxima de um cachorro que ta preso e ele morde ela - Força maior e caso fortuito: se cai um raio na coleira do animal (kkk) e ele se solta e morde algum azarado - Há quem defenda que fato de terceiro também poderia ser uma excludente, por exemplo: se um terceiro solta meu cachorro que estava preso e ele sai mordendo todo mundo, eu estou liberada da culpa. Art. 937. O dono de edifício ou construção responde pelos danos que resultarem de sua ruína, se esta provier de falta de reparos, cuja necessidade fosse manifesta. - O prédio que precisa de manutenção, situação de uma fachada caindo - Haveria a responsabilidade civil se houvesse a necessidade manifesta, ou seja, a pessoa tá vendo que aquilo precisa de um reparo e mesmo assim negligenciou o ato de reparar, que repercutiu no dano - Responsabilidade subjetiva: negligência = culpa Art. 938. Aquele que habitar prédio, ou parte dele, responde pelo dano proveniente das coisas que dele caírem ou forem lançadas em lugar indevido. - É a hipótese de RESPONSABILIDADE PELA COISA CAÍDA; um objeto cai do apartamento e atinge alguém que está passando embaixo - Remete ao direito romano ‘’actio de effusis et dejectis’’ - A responsabilidade é do habitante do apartamento e não necessariamente do dono - Se relaciona com a ideia da erosão dos filtros da responsabilidade, pois, se não tem como comprovar de qual apartamento foi, a vítima poderá mover uma ação contra o condomínio. Inclusive, o condomínio terá direito de regresso para processar como um todo os apartamentos em que poderia ter caído o objeto (causalidade alternativa/responsabilidade anônima) 11. DANO 10 - Mesmo se tratando de erosão dos filtros da responsabilidade, é difícil que o pressuposto dano seja mitigado. - Leo entende que é impossível continuar afirmando que é possível ter responsabilidadecivil sem dano. - CONCEITO: ‘’Lesão a um interesse jurídico tutelado, patrimonial ou não, causado por ação ou omissão do sujeito infrator’’ Pablo Stolze ● REQUISITOS DO DANO RESSARCÍVEL: - A violação ao interesse jurídico, material ou moral - Efetividade ou certeza deste dano - ele não pode ser especulativo Se essa especulação um dia se concretiza, não incorrerá em prescrição pela teoria do actio nata. Ex: levo uma porrada na cabeça e os estudos mostram que isso pode me causar danos psiquiátricos 10 anos depois. Teoricamente, haveria prescrição em 3 anos. Por essa teoria, o prazo prescricional só iria começar a contar a partir do momento em que o dano psiquiátrico se concretizasse. - Subsistência do dano. Ex: eu dou um murro na parede da casa do vizinho e abre uma broca. Eu mesma conserto ali e disfarço o dano, assim o dono da parede não poderia me processar pela visão da responsabilidade civil. - FORMAS DE REPARAR O DANO MATERIAL: - REPOSIÇÃO NATURAL: o autor da conduta lesiva consegue reparar o dano - REPARAÇÃO EM PRESTAÇÃO PECUNIÁRIA: o autor da conduta lesiva paga um valor correspondente ao dano. - EXISTEM 3 TIPOS DE DANO: dano material, dano moral e dano estético. ● DANO MATERIAL: Aquele que atinge o patrimônio do indivíduo; bens que possuem valor economicamente aferível. ❖ DANO EMERGENTE: pode ser identificado pela teoria da diferença no momento da lesão - Ex: eu tenho um carro e Sicrano bate no fundo. O dano emergente é que meu carro tinha um valor antes da batida e agora vai ter outro. Essa diferença é o dano emergente. É verificado pela teoria da diferença (valor antes do dano - valor depois do dano = extensão do dano) 11
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