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CLÍNICA INTEGRADA DE ENDOCRINOLOGIA DIABETES MELLITUS DIABETES MELLITUS TIPO 1 ↪ Destruição das células beta do pâncreas; ↪ Caracterizado pelo estado de deficiência absoluta de insulina; ↪ Paciente obrigatoriamente insulinodependente; ↪ Ocorre principalmente em crianças e adolescentes; ↪ Pacientes possuem o IMC normal; ↪ Paciente apresenta peptídeo C em níveis baixos; ↪ Pode ser subdividido em dois grupos: 1A (anticorpo positivo) e 1B (causa idiopática). O diabetes mellitus tipo 1 é definida pela presença de anticorpos que agem no pâncreas, causando, assim, o estado de hiperglicemia. São esses marcadores: ↪ Anticorpo anticélulas de ilhotas ↪ Anti-GAD e anti-insulina Nesse caso, os autoanticorpos acima geralmente precedem o estado de hiperglicemia por meses a anos, caracterizando o estágio pré-diabético. O estado de hiperglicemia permanente, por sua vez, se manifesta quando 90% das ilhotas são destruídas. Obs.: um ou mais anticorpos estão presentes na maioria dos pacientes na ocasião do diagnóstico e podem persistir por até 10 anos ou mais após o mesmo, sobretudo o anti-GAD. DIABETES MELLITUS TIPO 2 ↪ Surge habitualmente após os 40 anos de idade; ↪ Nos últimos anos, tem sido observado maior frequência em indivíduos jovens; ↪ A maioria dos pacientes apresentam síndromes metabólicas; ↪ Obesidade, história familiar, sedentarismo, alimentação, tabagismo e etilismo são fatores de risco. Diversos fatores levam ao estado de hiperglicemia característico do DM, como: ↪ Efeito incretínico reduzido; ↪ Lipólise aumentada; ↪ Reabsorção de glicose aumentada; ↪ Redução da captação periférica de glicose; ↪ Disfunção de neurotransmissores; ↪ Resistência à insulina aumentada no fígado; ↪ Secreção de glucagon aumentada; ↪ Secreção de insulina deteriorada. Diante os fatores expostos acima, os principais mecanismos fisiopatológicos que levam à hiperglicemia são: (1) a resistência periférica à ação da insulina nos adipócitos e no músculo esquelético. Por isso que, em pacientes pós-bariátrica, a perda de peso pode ocasionar redução da resistência à insulina. (2) Secreção deficiente de insulina no pâncreas. (3) Aumento da produção hepática de glicose devido à resistência insulínica no fígado. QUADRO CLÍNICO DE DIABETES MELLITUS ↪ Tontura; ↪ Visão turva; ↪ Fraqueza; ↪ Acantose nigricans; ↪ Poliúria, Polifagia, Polidipsia e Perda de peso (4P’s) Obs: o paciente com DM 1 é mais sintomático, uma vez que não há produção de insulina devido à degeneração das células beta do pâncreas. DIAGNÓSTICO Glicemia em jejum: maior ou igual a 126; Hemoglobina glicada (HbA): maior ou igual a 6,5; (Glicose ligada à Hb nos últimos 90 dias) Teste de tolerância oral à glicose (TOTG): maior ou igual a 200. Em geral, para se ter o diagnóstico de diabetes é necessário dois testes positivos: testes diferentes em uma mesma amostra; testes diferentes em amostras diferentes; mesmo teste em dias diferentes. Obs.: em pacientes que apresentam sintomas de hiperglicemia (4P) e glicemia aleatória maior que 200, não é necessário realizar dois testes de glicemia para diagnosticar o DM. Apenas a glicemia aleatória maior ou igual a 200 já é suficiente. EXAMES COMPLEMENTARES ↪ Dosagem de peptídeo C (baixo = tipo 1; normal = tipo 2) ↪ Frutosamina (quando a hemoglobina glicada está submetida a interferências externas) ↪ Corpos cetônicos (em casos de infecção e/ou glicemia maior que 250) Obs.: caso o paciente apresente cetonúria + hiperglicemia + pH ácido, estamos diante de uma caso de cetoacidose diabética. Ela é a principal complicação aguda do DM, onde o paciente excreta corpos cetônicos na urina. PRÉ-DIABETES Glicemia de jejum: entre 100-125; Hemoglobina glicada: entre 5,7-6,4; TOTG: entre 140-199. Obs.: mesmo com apenas a glicemia glicada maior que 100, o paciente já pode ser considerado pré-diabético. RASTREIO DM ↪ Todos acima de 35 anos de idade; ↪ Sobrepeso ou obesidade + 1 fator de risco; ↪ Pré-diabético. TRATAMENTO: HIPOGLICEMIANTES ORAIS ↪Mudança do estilo de vida; ↪ Dieta; ↪ Atividade física (tanto aeróbica quanto anaeróbica); ↪ Farmacoterapia oral; ↪ Farmacoterapia injetável. OBJETIVO DO TRATAMENTO O tratamento tem como objetivo reduzir as complicações micro e macrovasculares do diabetes melito (DM), efeito legado e controle de pressão arterial, dislipidemias, peso e vacinação. Obs: um tratamento rigoroso ainda no início do DM reduz as complicações a longo prazo, como as vasculares, pois o paciente com diabetes apresenta uma boa memória metabólica. METAS TERAPÊUTICAS Dar enfoque aos valores da ADA. Metas mais rigorosas (Hb glicada deve ser maior ou igual a 6,5%) podem ser usadas em pacientes selecionados. Em idosos, por exemplo, deve-se tomar cuidado com a hipoglicemia. Idoso saudável: HbA1c < 7,5%. Idoso comprometido: HbA1c < 8,5%; GJ de 90 a 150; GPP < 180. TRATAMENTO PRÉ DM ↪Mudança de estilo de vida; ↪ Perda de peso (ao menos 7%); ↪ Atividade física maior que 150 min/semana de intensidade moderada. Pacientes pré-diabéticos com indicação para o tratamento medicamentoso: ↪ Abaixo de 60 anos; ↪ IMC > 35Kg/m2; ↪ DMG prévio; ↪ Síndrome metabólica; ↪ HAS; ↪ GJ > 110mg/dL. ↪ Droga de escolha: metformina 850mg 2x dia. METFORMINA ↪ Classe: biguanida; ↪ Reduz a resistência à insulina - agente sensibilizador de insulina; ↪ Utilizada no tratamento inicial do DM; ↪ 75% da ação anti-hiperglicemiante: Inibe a gliconeogênese hepática; Vantagens: ↪ Reduz mortalidade; ↪ Reduz HbA1c e GJ; ↪ Baixo custo; ↪ Neutro em relação ao peso; ↪ Não causa hipoglicemia; ↪Melhor perfil lipídico - reduz TGL e LDL colesterol. Efeitos colaterais: ↪ Náuseas, vômitos e diarreia; ↪ Hipovitaminose de B12; ↪ Risco principal: acidose lática. Obs: deve ser administrada com alimentos, pois a sua absorção se torna mais lenta e os efeitos adversos, consequentemente, se tornam menores. Contraindicada para paciente com insuficiência renal (se TFG < 45, reduz a dose; se TFG < 30, suspender), insuficiência hepática, IC descompensada, sepse e IAM. Metformina 500mg e 850mg; Glifage XR 500mg, 750mg e 1g (menos efeitos gastrointestinais). SULFONILUREIAS ↪Melhora a secreção de insulina no pâncreas; ↪ Para seu funcionamento, as células beta do pâncreas precisam ser funcionantes; ↪ Hipoglicemiantes. Indicações: ↪ Baixo custo; ↪ Alta eficácia; ↪ Terapia dupla; ↪ Neutra para doenças cardiovasculares; Efeitos: ↪ Reduz HbA1c; ↪ Reduz nefropatia DM. Desvantagens: ↪ Ganho de peso; ↪ Risco de hipoglicemia; ↪ Falência secundária pancreática; ↪ Não recomendada para pacientes com TFG < 30mL/min Glibenclamida 5mg - SUS. Gliclazida MR 30 a 60mg. Glimepirida 1, 2, 3, 4 e 6mg. Obs: condições como dose excessiva, omissão de refeições, atividade física extenuante, ingestão excessiva de bebidas alcoólicas, idade avançada, doenças associadas e medicamentos podem ser fatores de risco para casos de hipoglicemia em usuários de sulfonilureias. GLITAZONA ↪ Reduz a resistência à insulina; ↪ Atua no PPAR-gama, estimula a diminuição da lipólise (menos ácidos graxos livres); ↪ Favorece a lipogênese. PIOGLITAZONA ↪ Pouco usada atualmente (aumento de IAM); ↪ Indicada para homens, NASH e baixo risco cardiovascular; ↪ Desvantagens: ganho de peso, fraturas, restrição hídrica (contraindicado para IC); ↪ Reduz a HbA1c; ↪ Não precisa de ajuste para função renal; ↪ Não causa hipoglicemia; ↪ Baixo custo. INIBIDOR DE DPP IV ↪ Aumenta a secreção de insulina a partir do aumento de GLP-1; ↪ DPP IV: enzima que degrada a GLP-1. Com a inibição, tenho o aumento de GLP-1. Vantagens: ↪ Bem tolerada; ↪ Neutro em relação ao peso; ↪ Não causa hipoglicemia; ↪ Neutro para risco de DCV; ↪ Redução da HbA1c de 0,6-0,8%. Cuidados: ↪ Reajuste para função renal (exceto a linagliptina); ↪ Contraindicada na insuficiência renal (alogliptina e saxagliptina). Alogliptina – Nesina® Vildagliptina – Galvus® Sitagliptina – Januvia® Saxagliptina - Onglyza® Linagliptina – Trayenta® Obs: DPP-IV pode ser associado à metformina, iSGLT2 e pioglitazona. INIBIDORES DE SGLT2 ↪ Eliminam a glicose pelos rins, mediante a inibiçãodo seu cotransportador (Na e glicose); ↪ Em condições normais, 180g de glc são reabsorvidas; ↪ Em diabéticos, aproximadamente 250g são reabsorvidas por dias; ↪ Reduz o peso, reduz volemia e reduz PA. Dapagliflozina 10mg. Empagliflozina 10mg e 25mg. Canagliflozina 100mg e 300mg. Efeitos colaterais: ↪ Infecção urinária; ↪ Candidíase vaginal; ↪ Efeito diurético; ↪Mais sede e desidratação; ↪ Leve queda da PA. Indicações: ↪ Diminui o risco cardiovascular e renal; ↪Melhora a PA; ↪ Redução do peso; ↪ Queda de 0,7-1% da HbA1c (não causa hipoglicemia). TRATAMENTO INJETÁVEL DO DM INDICAÇÕES DE INSULINOTERAPIA PARA DM 2: ↪ Gestação (preferivelmente antes); ↪ Doenças agudas que necessitam de hospitalização; ↪ Perioperatório/UTI; ↪ Pós-IAM, AVC; ↪ Terapia com alta dose de glicocorticóide; ↪ Intolerância ou contraindicações para drogas orais; ↪ Descompensação aguda; ↪Mal controle com drogas orais. Obs: pacientes em quimioterapia para combater o efeito hiperglicemiante do corticoide, podem realizar o uso de insulina. Na terapia com insulina, objetiva-se possibilitar o controle metabólico mais próximo ao normal, tentando sempre minimizar o risco de hipoglicemia e ganho de peso. Com isso, deve-se considerar: ↪ Expectativa de vida; ↪ Idade; ↪ Comorbidades; ↪ Problemas psicossociais e físicos; ↪ Dificuldade na adesão, acesso e/ou preço; CLASSIFICAÇÃO DAS INSULINAS: ↪ Ação ultrarrápida: lispro, asparte e FIASP. Início de ação: 0-15min. Pico: 1-2h. Duração 3-5h. ↪ Ação rápida: regular. Início de ação: 30-60min. Pico: 2-4h. Duração: 6-8h. ↪ Ação intermediária: Humana NPH. Início de ação: 1-3h. Pico: 5-8h. Duração: 10-16h. ↪ Ação prolongada: detemir, glargina (U100 e U300) e degludeca. Início de ação: 1-2h. Pico: plena (age o dia inteiro). Duração: 24h. Pacientes com glicemias altas antes das refeições: utilizar insulinas de ação intermediária ou de ação prolongada. O objetivo é manter a glicemia basal normal. Pacientes com glicemias altas após refeições: utilizar insulinas de ação ultrarrápida ou rápida. O objetivo é normalizar os níveis de insulina pós-prandial. Neste tipo de paciente, geralmente a insulina basal é normal, sendo alterada após refeições. NPH (AÇÃO INTERMEDIÁRIA) Tem como objetivo controlar a glicemia de jejum e interprandial, além da glicemia à noite e madrugada (insulinemia basal). ↪ Absorção variável; ↪Maior chance de causar hipoglicemia e aumento de peso em comparação a prolongadas; ↪ Baixo custo; GLARGINA 100 E DETEMIR (LENTA), DEGLUDEC E GLARGINA 300 (ULTRALENTA) São responsáveis por controlar a glicemia interprandial (entre refeições) ao longo do dia, porém não possuem “força” suficiente para controlar no pós-prandial. ↪ Indicadas para promover insulinemia basal; ↪ Não possuem pico; ↪ Atividade prolongada (24h); ↪Menor aumento de peso, menos hipoglicemiante e menos variabilidade entre pacientes. INSULINA RÁPIDA ↪ Regular; ↪ Adm 30min antes das refeições (inicio 30-60min e pico 2-4h); ↪ Baixo custo; ↪ Absorção variável, resultando em pico de ação variável; ↪ Controle inconsistente da GPP; ↪ Hipoglicemia retardada. INSULINA ULTRARRÁPIDA ↪ Lispro, asparte e FIASP; ↪ Aplicar pouco antes ou logo após as refeições; ↪ Causam menos hipoglicemia e são mais eficazes no controle de GPP. Obs: a FIASP contém nicotinamida (vitamina B3). Seu início de ação é de 5min e seu pico é de 11min mais cedo que as demais. Administra-se no início da refeição ou até 20 min de seu início. INSULINAS PRÉ-MISTURADAS ↪ Utilizadas no DM2 quando a adesão ao tratamento é um problema. ↪ Contém quantidades fixas das insulinas basal e bolus; ↪ Predispõe a hipoglicemia e ganho de peso; ↪ Controle glicêmico ruim. COMO INICIAR O TRATAMENTO COM INSULINA ↪Manter a medicações em uso; ↪ Iniciar imunização com uma dose diária de 10U-15U ou 0,2U Kg/dia (obesos); ↪ Titulação da dose definida com o objetivo de atingir GJ < 100 mg/dL. ESQUEMA 3 2 1 3: realizar HGT a cada três dias; 2: caso a meta não tenha sido alcançada, adicionar duas unidades até alcançar o objetivo; 1: reajustar até GJ < 100 mg/dL. Obs: sempre começar com a menor dose possível para evitar hipoglicemia e ganho de peso. ETAPAS DO TRATAMENTO Etapa 1: dose única de insulina de ação intermediária ou prolongada, associada às medicações já em uso pelo paciente. A titulação deve ser feita pela glicemia de jejum. Etapa 2: caso persista a hiperglicemia pós-prandial, utiliza-se o esquema basal plus (insulina de ação prolongada ou intermediária + insulina regular ou ultrarrápida). O uso de pré-misturadas pode ser considerado. Etapa 3: hiperglicemia pós-prandial em mais de uma refeição = ampliação do esquema basal plus. Etapa 4: caso não ocorra resposta adequada, recomenda-se a insulinização plena (duas doses de NPH + três doses de insulina rápida e ultrarrápida). Podem ser usadas insulinas de longa duração ou de ultra longa duração. LOCAIS DE APLICAÇÃO ↪ Abdome (melhor absorção); ↪ Face posterior do braço; ↪ Nádegas; ↪ Coxa (não exercitada). GLP-1 Hormônio intestinal de meia-vida curta responsável por estimular a secreção de insulina pelas células beta do pâncreas, mediante o aumento de AMPc que, por sua vez, proporcionará a exocitose de vesículas contendo insulina. ANÁLOGOS DE GLP-1 ↪ Podem causar náuseas e vômitos; ↪ Refluxo e eructações; ↪ Sensação de empachamento e má digestão; ↪ Diarreia ou constipação; ↪ Colelitíase; ↪ Alergia; ↪ Pancreatite. ↪ Reduz a HbA1c em 0,5-1,5 pontos; ↪ Não causa hipoglicemia; ↪Melhora a NASH (esteatose hepática não alcoólica); ↪ Perda de peso; ↪ Benefício cardiovascular.
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