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DIABETES MELLITUS Doença do metabolismo intermediário, resultando hiperglicemia crônica e complicações. V I N I C I U S D A S I L V A S A N T O S - M E D I C I N A - U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D E P E R N A M B U C O DEFINIÇÃO: Doença do metabolismo intermediário, caracterizada pela ocorrência de hiperglicemia crônica que acarreta em complicações em longo prazo (lesões em órgãos-alvo). REVISÃO: METABOLISMO INTERMEDIÁRIO NORMAL E NO DIABETES MELLITUS METABOLISMO INTERMEDIÁRIO • Definição: Conjunto de reações orgânicas de síntese e degradação de macromoléculas (proteínas, carboidratos e lipídios). • Proteínas: Componentes estruturais dos tecidos e exercem inúmeras funções enzimáticas e hormo- nais, apenas em situações especiais são usadas como combustível energético. • Carboidratos e lipídios: São as moléculas de reserva de energia, essencialmente. • Controle → Hormônios: Insulina mediando o anabolismo e glucagon, adrenalina e cortisol mediando o catabolismo. Para que haja homeos- tase, é preciso equilíbrio entre anabolismo e catabolismo. • Insulina: Peptídeo produzido nas células beta pancreáticas, derivado da clivagem da pró-insulina. Tem como principal estímulo à síntese e liberação o aumento dos níveis de glicose. o Secreção: A glicose é percebida quando entra nas células beta via GLUT 1 e 2, o que promove o fechamento de canais de potá- ssio ATP-sensíveis, ocorrendo influxo de cálcio, despolatização e secreção dela. • Glucagon: Peptídeo sintetizado pelas células-alfa em resposta à redução dos níveis séricos de glicose POR QUE A GLICOSE NORTEIA O METAB. INTERMED? • A glicose é a fonte de energia dos neurônios: Os neurônios não são sensíveis à insulina (expressam GLUT1 constitutiva), dependendo muito da glice- mia e entrando em colapso caso esteja baixa. • Os neurônios não fazem betaoxidação: Ou seja, não convertem gordura em energia. • O fígado produz corpos cetônicos: Em vigência da hipoglicemia, mas esses fazem mal ao sistema, causando cetoacidose. METABOLISMO INTERMEDIÁRIO NORMAL • Estado pós-prandial • Estado de Jejum (interprandial) ESTADO PÓS-PRANDIAL 1. Absorção intestinal: Aumenta os níveis séricos de glicose e outras macromoléculas. 2. Estímulo à liberação de insulina: Devido a glicose, ocorre em duas etapas: a. Primeira fase (pico precoce): Liberação de grânulos pré-formados, aumenta os níveis séricos em dois a dez minutos. b. Segunda fase (tardia): Secreção de insuli- na de forma sustentada, pelo aumento da síntese. 3. Anabolismo: Glicogenogênese, lipogênese e síntese proteica 4. Utilização da glicose como principal substrato energético. ESTADO DE JEJUM (INTERPRANDIAL) 1. Inibição da liberação de insulina: Pelo estímulo à secreção de contrarreguladores, como glucagon. 2. Catabolismo: Glicogenólise, gliconeogênese hepática, lipólise, cetogênese e proteólise. 3. Utilização de ácidos graxos como principal substrato energético INCRETINAS: Peptídeos secretados pelo tubo digestivo durante a absorção de nutrientes. Tem como função aumentar a secreção de insulina em resposta à glicose. • A ação das incretinas só ocorre com a absorção de glicose por via oral • Tipos: GLP-1 e GIP. Ambas degradadas pela enzima DPP-IV *Muitos diabéticos apresentam baixa do “efeito incretínico”, novos medicamentos visam diminuir essa baixa (ex: sitagliptina, inibidor da DPP-IV). V I N I C I U S D A S I L V A S A N T O S - M E D I C I N A - U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D E P E R N A M B U C O METABOLISMO INTERMEDIÁRIO NO DM: Devido a carência de insulina, o indivíduo se comporta como se estivesse sempre em jejum, estimulando: Catabolismo, gliconeogênese, betaoxidação em predomínio à glicólise, explicando a hiperglicemia crônica. DIABETES MELLITUS CLASSIFICAÇÃO • DM tipo 1 (5-10%): Destruição, desde muito novo (mais comum em jovens não obesos, mas pode se manifestar após os 30 anos), das células beta pancreáticas, levando a um hipoinsulinismo “absoluto”, pode ser dividida em: o Tipo 1A: O “A” vem de autoimune (90% dos casos), em que nosso corpo destrói as células pancreáticas. o Tipo 1B: É o tipo idiopático, mais comum em negros e asiáticos (4,7%). • DM tipo 2 (80-90%): O corpo desenvolve uma resistência periférica à insulina, que progride com disfunção progressiva das células beta. Predomina em adultos obesos (>45 anos), mas pode ocorrer na adolescência tendo em vista a obesidade. • DM gestacional: Intolerância à glicose durante a gestação, que não configura um quadro franco de diabetes mellitus. Se a paciente preenche os critérios de DM na gravidez, chamamos de diabe- tes mellitus não gestacional ou overt diabetes. • Outros: DM associado ao uso de drogas (glicocorti- coides), endocrinopatias ou até mesmo defeitos genéticos (chamados de “MODY”). ETIOPATOGENIA DM TIPO 1 Fatores genéticos + ambientais causam o processo de insulinite em indivíduos predispostos, em que há a invasão das ilhotas de Langerhans por linfócitos T CD8+, que destroem as células beta seleti-vamente. É comum surgirem autoanticorpos específi-cos, mas são apenas marcadores de autoimunidade, que surgem ANOS ANTES da expressão clínica da doença, o que mostra que possui fase assintomática. • Ambientais: Infecção viral (coxsackie B) e exposi- ção a antígenos desconhecidos. • Genéticos: Mutações nos genes do MHC, como os genes HLA DR3 e DR4. (30-70% dos gêmeos desenvolvem DM1 juntos!) • Ausência ABSOLUTA de insulina endógena: Pela destruição, necessitando repor insulina sempre! • Incidência: Bimodal! Um pico entre os 4-6 anos e outro entre 10-14 anos, sem diferença entre os sexos e ampla variabilidade em função da etnia e região geográfica (lugares de alta latitude como a Finlândia possui as maiores incidências). ETIOPATOGENIA DM TIPO 2 Fatores genéticos + ambientais, que levam à hipergli- cemia crônica, justificada pelo aumento da resistência insulínica e déficit secretório de células beta, resultando em um hipoinsulinismo relativo. • Genéticos: Maiores que na DM tipo 1! Quase 100% dos gêmeos idênticos possuem DM tipo 2 juntos, e tal aspecto surge por um herança poligênica, a citar o gene da insulina, P PAR-gama, canal de K+ ATP- sensível e calpaína 10, entre muitos outros. • Ambientais: Os principais são ganho de peso e inatividade física! • Resistência à insulina: É quando doses basais ou até elevadas de insulina na corrente sanguínea não são capazes de captar a glicose para os tecidos. • Déficit secretório das células beta: Ocorre principalmente por hipossensibilidade da célula beta à glicose (menor expressão de GLUT 2), deficiência de incretina e, em níveis mais tardios, destruição de algumas células beta por acúmulo de amilina, formando depósitos amilóides. ETIOPATOGENIA OUTROS TIPOS DE DM • Insuficiência pancreática: É preciso que 80-90% da massa pancreática tenha sido perdida, pode ocorrer na pancreatite crônica e fibrose cística. • Endocrinopatias: Desbalanço entre insulina e contrarreguladores, como no Cushing (muito cortisol), Acremegalia (excesso de GH), Feocromo- citoma (excesso de catecolaminas). • Medicamentos: Exercem efeito contrarregulador da insulina e algumas drogas causam aumento da resistência periférica à insulina. V I N I C I U S D A S I L V A S A N T O S - M E D I C I N A - U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D E P E R N A M B U C O QUADRO CLÍNICO DM TIPO 1 → CLÁSSICO! • Poliúria, polidipsia, polifagia e emagrecimento: Os famosos polis do diabetes! Tais sintomas se desenvolvem por dias ou semanas. • LADA: Quando se manifesta, apresenta sinais de hipoinsulinismo associados a um agravante como a cetoacidose diabética. DM TIPO 2 • Tardio: Pacientes passam anos assintomáticos, em metade dos casos a doença só é reconhecidaquando há lesão de órgão-alvo estabelecida! • Paciente típico: Adulto > 40-45 anos, obeso, sedentário e com fator de risco cardiovascular. • Hiperglicemia franca: Poliúria, polidipsia podem ser referidos pelo paciente! • Acantose nigricans: Lesão cutânea hiperpigmentada e de aspecto aveludado que predomina em áreas de dobra cutânea. Sinal importante, se o paciente tiver, pensar em resistência à insulina (DM) ou neoplasia maligna! DIAGNÓSTICO → DEMONSTRAÇÃO LABORATORIAL DA HIPERGLICEMIA CONFORME A TABELA! • Se executar o critério 4: Deverá fazer os outros exames a não ser que o paciente esteja em franca descompensação metabólica (como uma cetoaci- dose diabética ou estado hiperosmolar). • Caso dois testes tenham sido solicitados ao mesmo tempo: Se forem concordantes, não precisamos fazer nem um outro. Se foram discordantes, aquele que estiver alterado deve ser repetido para confirmar ou não o diagnóstico! ESTADOS PRÉ-DIABÉTICOS • Alta probabilidade de desenvolver DM a curto prazo: Em média 30% nos próximos 5 anos, mas pode ser evitada se seguimos as medidas corretamente! • É preciso exame adicional se a glicemia de jejum estiver alterada? SIM! Devemos descartar a existência de DM através do TOTG-75, se a aferição der ≥ 200 mg/dL, significa que aquela paciente já tinha DM previamente não detectada! • Medidas preventivas: Orientação nutricional + atividade física regular! MEV visando reduzir o peso corporal e reversão do estado de resistência. • Medidas farmacológicas: Metformina deverá ser indicada se a paciente é de muito alto risco, preenchendo os critérios de: (1) IMC ≥ 35, (2) idade < 60 anos e (3) história de diabetes gestacional. RASTREIO POPULACIONAL DM TIPO 2 1. “Sobrepeso”: IMC ≥ 25 em todas as raças exceto asiáticos. Em que o IMC passa a ser 23. + Pelo menos um fator de risco para DM tipo II. 2. Qualquer adulto > 45 anos na ausência do critério 1 estabelecido. V I N I C I U S D A S I L V A S A N T O S - M E D I C I N A - U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D E P E R N A M B U C O 3. Crianças e adolescentes com sobrepeso ou obesidade + pelo menos um dos fatores: a. Diabetes gestacional na gestação do pct b. DM na mãe durante a gestação do pct c. História familiar de DM 2 em parente de 1º ou 2º grau d. Etnia: Negro, latino, índio ou do pacífico. e. Sinais de resistência à insulina ou condições associadas: Hipertensão arterial , acantosem dislipidemia, SOP, nascido “pequeno para idade gestacional”. *Todos os métodos diagnósticos (glicemia de jejum, TOTG ou A1c) podem ser empregados no screening! • Rastreio negativo: Repetir a cada 3 anos em adultos e a cada 2 em crianças. • Pré-diabéticos: Rastreio anualmente! RASTREIO PARA DM TIPO 1: Pode ser realizado em pacientes com parente de primeiro grau acometido, o método é a pesquisa de autoanticorpos característicos! No entanto, tal rastreio é controverso pois não existem estratégias terapêuticas/preventivas comprovadas! FATORES DE RISCO PARA DM TIPO 2 DIFERENCIAÇÃO DM TIPO 1 E 2 • Paciente típico DM tipo 1: Início agudo, idade < 45 anos, ausência de obesidade, cetoacidose diabéti- ca e necessidade de insulina para controle. • Paciente típico DM tipo 2: Idade < 45 anos, obesidade, não ocorrência de cetoacidose na ausência de reposição de insulina. *Todavia, nenhum critério clínico é absoluto! Na dúvida, dosar autoanticorpos do DM, principalmente o ICA e o anti-GDA. TRATAMENTO TRATAMENTO DO DM TIPO 1 OBJETIVOS DO TRATAMENTO • Redução da morbimortalidade: O paciente com DM tipo 1 morre rápido sem usar insulina. • Controle glicêmico rígido: Estudo DCCT (Diabetes Control and Complications Trial) mostrou redução significativa das complicações do DM 1 quando o paciente era submetido a tratamento intensivo. • Evitar a progressão de quadros já instalados CONTROLE DE TRATAMENTO • Aferição da glicemia capilar: O paciente deve comprar um glicosímetro e IDEALMENTE medir a glicemia no mínimo 4 vezes por dia (antes do café, almoço, jantar e antes de dormir). • Alvos glicêmicos: São iguais no paciente adulto DM tipo 1 e 2 (ver adiante) e diferente na faixa pediá- trica pois as crianças tendem a ter hipoglicemia. o Antes das refeições: 90-130 mg/dl. o Antes de deitar: 90-150 mg/dl. o Glicada (A1c): < 7,5%. • Hemoglobina glicada (A1c): Corresponde a uma pequena fração da hemoglobina total que sofreu reação de glicosilação por hiperglicemia sustenta- da. Seus níveis refletem o tempo de meia-vida da hemácia, ou seja, 120 dias! No paciente DM tipo 1, é recomendado manter a HbA1c entre 6-7%. *Para idosos, os níveis de HbA1c devem ser individuali- zados e em gestantes os níveis não devem ser utiliza- dos como parâmetro, haja vista que podem demorar dois meses para refletir a inadequação ao tratamento. V I N I C I U S D A S I L V A S A N T O S - M E D I C I N A - U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D E P E R N A M B U C O DIETA, ÁLCOOL E EXERCÍCIO FÍSICO • Aporte calórico: Deve ser alto para manter o seu peso ideal, os pacientes geralmente são magros. Podemos calcular o aporte multiplocando o peso ideal por 22! • Dieta: Individualizada! Consulte um nutricionista. De maneira geral, os pacientes devem ingerir NA CEIA carboidratos de baixo índice glicêmico e sem- pre associado a lipídios e proteínas. Esses lipídios devem ser evitados se saturados, trans e com altos níveis de colesterol! • Álcool: Deve ser desencorajado! Aumenta o risco de hipoglicemia (o metabolismo do álcool inibe a gliconeogênese hepática), pequenas doses diárias de bebidas adocicadas (como vinho tinto) podem ser consumidas sem maiores problemas. • Exercício físico regular: Sempre! Mas com cuidado pois exercícios físicos extenuantes podem causar tanto hipo como hiperglicemia, siga as orientações: INSULINOTERAPIA • Base da terapia do DM tipo 1: Não há outro medicamento capaz de controlar a glicemia deles! • Início do tratamento: Deve ser feito com 0,3-0,5 U/ kg/dia por via Subcutânea (SC). No início fazemos menos pois o pâncreas ainda possui alguma reserva de insulina endógena (período de lua de mel), no entanto, logo a dose plena deve ser administrada. • Dose média adequada: 0,5-1 U/kg/dia para os adultos. Em médicos generalistas (nós), considerar fazer sempre a dose média mais baixa (0,5 UI). • Insulina exógena aplicada: Sempre a humana recombinante ou análogos sintéticos de insulina, as suínas e bovinas são muito alergênicas! o Análogos da insulina: Lispro, aspart, glusilina, glargina, determir e degludec. • Esquemas de insulinoterapia: o Esquema 1: Duas aplicações o Esquema 2: Múltiplas aplicações (basal- bolus), padrão-ouro DM tipo 1. o Esquema 3: Infusão contínua (basal). ESQUEMA 1: DUAS APLICAÇÕES • 2/3 da dose diária na primeira tomada (manhã) e 1/3 da dose na segunda (noite) • Proporção: Deve ser de 70% NPH e 30% Regular na primeira tomada e 50/50% na segunda. • Ajuste: Pela aferição da glicemia capilar pré- prandial e antes de dormir. o Glicemia matinal: Depende da NPH do jantar da véspera (noite). o Glicemia pré-almoço: Depende da regular da manhã. o Glicemia pré-jantar: Depende da NPH da manhã. o Glicemia antes de dormir: Depende da regular da noite. • Aplicação: Regular no subcutâneo da barriga e a NPH na coxa ou nádegas, porém, pode misturar V I N I C I U S D A S I L V A S A N T O S - M E D I C I N A - U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D E P E R N A M B U C O nas duas seringas (só essas). A insulina regular deve ser aplicada cerca de 30-45 min antes da refeição. Se usar um análogo ultrarápido (lispro), podemos aplicar 15 minutos antes da refeição. *O esquema 1 não é fisiológico e não deve ser recomendado para os pacientes com DM tipo 1, a não ser que o paciente não tenhaadesão aos demais (principalmente o basal-bolus). ESQUEMA 2: BASAL-BOLUS • Dose basal: 40-60% da dose total (0,5 UI/kg/d) de insulina basal! Como não temos experiência, utilizamos 50% insulina basal. A insulina escolhida deve ser lenta, ultralenta ou intermediária. • Bolus estimado: Não é 50%! Para realizar o bolus, devemos fazer a contagem de carboidratos naquela refeição + aferição da glicemia para correção (caso alterada). Deve ser feita pelo paciente (individualizada) com insulinas rápidas ou ultra rápidas. o Alvo da glicemia: 100 mg/ dL no HGT. o Contagem de carboidratos: Considerar cerca de 1U insulina a cada 15 g de carbo. o Correção de glicemia: 1U de insulina a cada 50 mg glicose acima do alvo. EX: COMBINAÇÕES PRÁTICAS DO ESQUEMA 2 1. NPH ou detemir antes do café e antes do jantar ou ceia (insulina basal) + Insulina regular (ou, de preferência, lispro ou aspartat) antes de cada refeição (insulina bolus) 2. Glardina/degludec antes do café (basal) + insulina ultrarrápida/rápida durante as refeições (bolus) *A escolha da combinação ideal deve ser individualiza- da por cada paciente, avaliando a sua resposta de maneira frequente e monitorando. PLANO B: Se o paciente não quer/não sabe fazer a contagem de carboidratos? Bolus em dose fixa! 1. Iniciar 0,5 a 1 UI/Kg/dia, sendo estes: a. 50% de Insulina basal b. 50% Insulina bolus distribuídos nas 3 refeições: As distribuições podem ser de maneira equânime (não indicada) ou adaptada ao hábito alimentar do paciente (se ele come muito no almoço, mais no almoço e menos no café, por exemplo). *Problemas do plano B: Maior risco de hipoglicemia, menos liberdade para comer. ESQUEMA 3: INFUSÃO CONTÍNUA • Método: Paciente usa uma bomba de insulina que libera a dose basal de maneira contínua e, quando o paciente toca, um bolus para cobrir o período pós prandial (pode ser calculado). • Vantagens: Elimina a necessidade de múltiplas aplicações da insulina, melhor os níveis de A1c, a glicemia varia menos. • Desvantagens: Aparelho de alto custo e manuten- ção, risco de infecção no local de inserção, risco de obstrução do cateter. *A ADA indica esse esquema em pacientes que possu- em uma equipe muito boa de acompanhamento e se encontram motivados para realizar o tratamento. HIPOGLICEMIA • Evento adverso comum relacionado ao tto do DM: Principalmente quando o paciente usa insulina! • Causas: Irregularidade dietética (omissão de refeição), erro na dose de insulina, atividade física não programada e ingestão excessiva de álcool. • Diagnóstico → Tríade de Whipple: V I N I C I U S D A S I L V A S A N T O S - M E D I C I N A - U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D E P E R N A M B U C O o (1) Sinais e sintomas de hipoglicemia: Começam pela fase hiperadrenérgica (tremores finos de extremidades, sudorese fria, taquicardia, palpitações) e depois a fase neuroglicopênica (dificuldade na con- centração, letargia, sonolência, ataxia, até déficit neurológico focal). o (2) Glicemia capilar reduzida: < 70 mg/dl o (3) Melhora após ADM de glicose: Os pacientes devem ter sempre um doce disponível no início do quadro, uma colher de açúcar ou mel, 150 ml de suco, etc. • Hipoglicemia grave: Casos em que o paciente precisa da ajuda de terceiros, algum parente ou amigo pode aplicar uma injeção subcutânea de glucagon 0,5 (< 5 anos) ou 1 mg (>5 anos). o No hospital: Glicose hipertônica IV, pelo menos 4 FA a 50% ou 8 FA a 25%. FATORES QUE INTERFEREM COM A NECESSIDADE DE INSULINA • Insuficiência renal • Infecções • Trauma • Síndrome de Cushin • Aumento da necessidade de insulina: Puberdade, hipertireoidismo e uso de corticoide. • Diminuição da necessidade de insulina: Má absorção intestinal, hipotireoidismo, insf. Adrenal. TRATAMENTO DO DM TIPO 2 OBJETIVOS DO TRATAMENTO • Controle glicêmico rígido: Tão rígido quanto no DM tipo 1, haja vista que grandes estudos demonstraram benefícios no uso de fármacos na redução das complicações do DM. • Controle dos fatores de risco para aterosclerose: Haja vista que IAM é a principal causa de óbito no diabético, sendo muito frequente também o AVE e a arteriopatia dos MMII. METAS GLICÊMICAS *Na prática, individualizamos para cada pessoa, o idoso pode ter hipoglocemia com essas metas. DIETA E EXERCÍCIO FÍSICO • Corrigir a obesidade: Meta de IMC entre 20-25. A melhora está relacionada com menor resistência periférica à insulina e maior capacidade secretória. A dieta deve ser com déficit calórico de 500-1000. o Considerar medicações contra a obesida- de e cirurgia bariátrica! • Composição da dieta: Como a DM 1, individualizar! Ideal manter 50-55% carbo, 10-20% proteína e 30- 35% de lipídios. • Exercício físico regular: Fundamental! Auxilia na correção da hiperglicemia (o músculo condiciona- do capta melhor a glicose) e reduz o risco CV. O ideal é realizar 30 min de exercício aeróbico 5x por semana e, se possível, associar à musculação. TERAPIA FARMACOLÓGICA DO DM2 REVISÃO FARMACOLÓGICA (QUADRO COM OS PRINCIPAIS ASPECTOS ABAIXO) V I N I C I U S D A S I L V A S A N T O S - M E D I C I N A - U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D E P E R N A M B U C O CLASSES DE FÁRMACOS 1. Fármacos secretagogos: Sufonilureias (glibencla- mida), Glinidas, Incretinomiméticos (liraglutida) e inibidores da DPP-IV (Linagliptina) 2. Sensibilizadores de insulina: Biguanidas (metfor- mina), Tiazolidinedionas (pioglitazona). 3. Inibidores da absorção intestinal de glicose: Inibidores das alfaglicosidases (acarbose). 4. Inibidores da reabsorção tubular de glicose: Inibidores do SGLT2 (dapaglifozina). FÁRMACOS SECRETAGOGOS SULFONILUREIAS • 1ª geração: Clorpropamida (em desuso, tempo de meia vida grande). • 2ª geração: Glibenclamida, glicazida, glimepirida. • Mecanismo de ação: Bloqueio do canal de K+, o que impede a repolarização das células beta e uma consequente liberação maior de insulina. • Vantagens: Redução da HbA1c em 1-5,2%, menor complicação microvascular, controle da glicemia de jejum e de 24h. • Desvantagens: Risco de hipoglicemia (principal- mente na glibenclamida) e ganho de peso! • Contraindicações: Gravidez, insuficiência renal ou hepática e pacientes urêmicos. GLINIDAS • Fármacos: Repaglinida, Nateglinida. • Mecanismo de ação: Igual ao das sulfonilureias, só que com menor afinidade de ligação, tem um efeito mais rápido e curto. • Vantagens: Redução da HbA1c em 1-5,2%, menor tempo de ação (1-3h), controle pós-prandial. • Desvantagens: Hipoglicemia e ganho de peso. • Contraindicações: Grávidas! INCRETINOMIMÉTICOS E INIBIDORES DE DPP-IV • Incretinomiméticos (Análogos do GLP-1): Liraglu- tida, Exenatida, Dulaglutida. o Vantagens: Redução da HbA1c de 0,8-1,2% (até 1,8 com a semaglutida), rara hipoglice- mia e perda de peso (liraglutida), reduz PA. o Desvantagens: Via subcutânea, intolerân- cia gastrointestinal e risco de pancreatite. • Inibidores da DPP-IV (Gliptinas): Linagliptina, Alo- gliptina, Saxagliptina, Sitagliptina. o Vantagens: Via oral! Reduz HbA1c de 0,6- 0,8%, rara hipoglicemia e não interfere no peso dos pacientes! o Desvantagens: Risco de angioedema e urticária e risco de pancreatite aguda. • Mecanismo de ação: Aumentam a disponibilidade de incretinas, seja ingerindo análogos sintéticos (incretinomiméticos), seja inibindo a enzima que degrada as incretinas do corpo (Linagliptina). SENSIBILIZADORES DE INSULINA BIGUANIDAS (METFORMINA) • Mecanismo de ação: 3 mecanismos, inibição da gliconeogênese hepática (principal responsável pela hiperglicemia de jejum), melhora a sensibili- dade periférica à insulina e reduz o turnover de glicose no leito esplâncnico. • Única medicação no UKPDS que determinou redução da incidência de complicações microvas- cularesem obesos: Menos IAM e AVC. • Posologia: Metformina (Glifage) 1000-2550 mg VO /dia em duas tomadas • Vantagens: Redução da HbA1c de 1,5-2%, perda de peso, melhora do perfil lipídico, antihiperglicemi- ante, eliminação inalterada na urina, não se liga a proteínas plasmáticas. • Desvantagens: Sintomas gastrointestinais (a forma XR de ação prolongada reduz muitos esses sintomas), pode causar anemia megaloblástica (def. B12) e risco de acidose láctica! V I N I C I U S D A S I L V A S A N T O S - M E D I C I N A - U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D E P E R N A M B U C O • Contraindicações: Insuficiência renal (TFG < 30), hepatopata com transaminases > 3x o VR em estresse agudo e feita com muito cuidado em idosos acima dos 80 anos (risco de acidose láctica)! *A metformina deve ser iniciada, juntamente com as MEV para todos os pacientes DM 2 que não apresentem contraindicações! TIAZOLIDINEDIONAS: PIOGLITAZONA • Mecanismo de ação: Ativação do receptor PPARy, diminuindo os níveis de glicose, aumentando a sensibilidade à insulina, e reduzindo inflamação. • Vantagens: Reduz HbA1c em 0,5-1,4%, redução de TG, melhora do perfil lipídico e rara hipoglicemia. • Desvantagens: Retenção hídrica, ganho de peso, anemia, insuficiência cardíaca, risco de fraturas. • Contraindicações: Insuficiência cardíaca grau III e IV, gravidez e insuficiência hepática. INIBIDORES DA ABSORÇÃO INTESTINAL DE GLICOSE • Principal fármaco → Acarbose! • Mecanismo de ação: Diminui a absorção de mono e dissacarídeos por inibir a alfa-glicosidade intestinal. • Vantagens: Reduz a HbA1c em 0,5-0,8%, reduz a variabilidade da glicose pós-prandial e rara hipogl. • Desvantagens: Meteorismo, flatulência e diarreia, além da redução discreta de HbA1c. • Contraindicações: Gravidez! INIBIDORES DA SGLT-2 → GLIFOZINAS • Glifozinas: Dapaglifozina, empaglifozina, Canaglif. • Mecanismo de ação: Inibe a SGLT-2, responsável pela reabsorção de sódio e glicose no túbulo contorcido proximal, aumentando a eliminação de glicose pela urina (glicosúria) e o diminuindo o feedback tubuloglomerular. • Vantagens: Reduz a HbA1c em 0,5-1%, rara hipogli- cemia, reduz peso, reduz PA e benefícios renais/cv. • Desvantagens: Infecções, poliúria, depleção de volume, hipotensão e risco de cetoacidose euglicêmica! RECOMENDAÇÕES GERAIS ABORDAGEM CONFORME A GLICEMIA • Paciente com manifestações leves: Glicemia de jejum < 200, sintomas leves ou ausentes → Anti- diabéticos que não promovem o aumento de insulina, principalmente em obesos. O inicial de escolha é a metformina, de preferência de ação prolongada (Glifage XR). • Paciente com manifestações moderadas: Glicemia entre 200-300, sem critério para quadros graves → Associar metformina + segundo agente hipoglice- miante, que varia conforme a resistência ou deficiência de insulina. o Segundo agente: Inibidores da DPP-4, aná- logos do GLP-1, inibidores do SGLT2, glita- zona e acarbose são principais. o Se perda ponderal: Metformina + sulfonil- ureia ou glinidas. • Paciente com manifestações graves: Glicemia > 300 + manifestações de gravidade (perda grande de peso, sintomas graves e/ou cetonuria) → Fazer insulinoterapia. ABORDAGEM CONFORME O QUADRO CLÍNICO • DM2 típico → Obesidade, hipertrigliceridemia, baixo HDL e HAS: Anti-hiperglicemiantes (metfor- mina), evitando ganho ponderal. As gliptinas também são uma opção e podem ser usadas. • Obeso em monoterapia: Adicionar fármacos que fazem o doente perder peso, como é o caso da lira- glutida, dulaglutida e inibidores da SGLT2. • Doença cardiovascular estabelecida: Associar com a metformina análogos do GLP-1 ou inibidores do SGLT2. Se insuficiência cardíaca, o melhor é a dapaglifozina (inibidores de SGLT2). • DRC estabelecida: Associar metformina à inibidor da SGLT2 (primeira linha) ou agonistas do GLP-1 (segunda linha). • Paciente com sinais de insulinopenia (4 P’s): Associar insulina NPH SC 1x ao dia antes do jantar ou antes de dormir + antidiabéticos. ABORDAGEM GERAL PRÁTICA • Depende da função pancreática existente: Ou seja, avalia a progressão da dç (quadro abaixo). • Fase 1: Período inicial do DM, caracterizado por hiperglicemia discreta, obesidade e insulinorresis- tência, a recomendação é a metformina! Se intole- rância, podemos fazer as gliptinas (Trayenta), inibidores do SGLT2 ou um insulinomimético. • Fase 2: Diminuição da secreção de insulina, é correta a associação com um secretagogo (glibenclamida), com ou sem sensibilizadores insulínicos ou até outras classes. • Fase 3: Após uma década de evolução da doença (em média), se houver perda de peso e comorbi- dades, é necessário associar uma injeção de insulina de depósito antes de dormir. • Fase 4: Insulinoterapia, a associação com antidia- béticos orais mostrou benefícios metabólicos. V I N I C I U S D A S I L V A S A N T O S - M E D I C I N A - U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D E P E R N A M B U C O FLUXOGRAMAS DE ABORDAGEM NA PRESENÇA DE DOENÇA CARDIOVASCULAR... NA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA NA DRC LEVE A MODERADA (TFG: 30-60 mL/min/1,73 m² ou 30-90 ml/min/1,73) DRC CRÔNICA SEVERA QUANDO INSULINIZAR O PACIENTE DIABÉTICO? • Como começar? Insulina basal (0,1-0,2 UI/ Kg/d) e manter os antidiabéticos orais. O esquema pode ser feito pela manhã em jejum ou o esquema Bedtime (10-15 UI, 1x ao dia, a noite). • Se refratário: Progredir para insulina basal plus (com um pico prandial na refeição em que achamos estar prejudicada) com ou sem os antidiabéticos orais. • Se ainda refratário: Progredir para a insulinização plena (igual ao DM tipo I). • O DM 2 pode voltar a tomar antidiabéticos? Sim, mas em situações pontuais como no uso de corti- coterapia, infecções e sepse. Mas, via de regra, em insulinização plena o paciente não volta a fazer uso dos antidiabéticos orais!
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