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Diabetes Mellitus

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Medicina 
Vitória Boulhosa 
	 1	
Diabetes Mellitus 
 
Relembrando: fisiologia do pâncreas 
endócrino 
 
2% da massa pancreática é composta pelas 
ilhotas de Langerhans, que produzem 
hormônios para a regulação da glicose. A 
maior concentração dessas ilhotas é na 
cauda pancreática. 
 
Insulina 
As células β pancreáticas secretam insulina 
em resposta às elevações dos níveis 
glicêmicos. Primeiramente, é produzida uma 
proteína precursora denominada pró-
insulina, que é armazenada em gra ̂nulos 
citoplasmáticos. Em condições de aumento 
de glicemia, a pró-insulina é clivada em 
peptídeo C e insulina e, então, secretada na 
circulação. 
No diabetes mellitus tipo 1, há destruição 
das células beta pancreáticas, levando à 
deficiência absoluta de insulina, o que 
resulta em desbloqueio da cetogênese. O 
aumento exagerado da síntese de corpos 
cetônicos ocasiona o quadro de cetoacidose 
diabética! 
Diabetes mellitus (DM) é uma condição em 
que ocorre hiperglicemia, seja por defeito 
de ação e/ou secreção inadequada de 
insulina. 
 
 Epidemiologia 
Segundo estimativas da International 
Diabetes Federation (IDF), 9,3% das pessoas 
entre 20 e 79 anos apresentavam diabetes 
mellitus em 2019. O Brasil é o quarto país 
com maior número de diabéticos no mundo; 
são 16,8 milhões de indivíduos 
diagnosticados, com projeção de aumento 
para 26 milhões em 2045. Esse crescimento 
de forma epidêmica é devido 
principalmente ao diabetes mellitus tipo 2, 
que é a etiologia mais frequente de DM, 
correspondendo a 85%-90% dos casos. 
Há dados que mostram encurtamento de 12 
anos na expectativa de vida, afetando 
indivíduos em faixas etárias ainda 
produtivas. O diabetes mellitus é uma das 
principais causas de mortalidade mundial, 
correspondendo a 14,5% de todas as 
mortes, sendo que 75% delas são de causas 
cardiovasculares. Além disso, o aumento das 
comorbidades associadas e das 
complicações decorrentes do mau controle 
glicêmico ao longo do tempo levam à 
incapacidade individual precoce e à 
sobrecarga dos serviços de saúde. 
 
Classificação 
 
 
 
 
 
Medicina 
Vitória Boulhosa 
	 2	
Diabetes mellitus tipo 1 
Epidemiologia 
O diabetes mellitus tipo 1 (DM tipo 1) 
corresponde a 5%-10% dos casos de DM 
e é caracterizado pela deficiência grave 
de insulina, ocasionada pela destruição 
das células beta pancreáticas. É o tipo de 
diabetes mellitus mais comum na 
infa ̂ncia e adolescência, representando 
cerca de 85% dos casos. A herança da 
doença é poligênica e, assim, há 
predisposição familiar, embora seja 
muito menor que a hereditariedade vista 
no MODY e no diabetes mellitus tipo 2. 
Para se ter uma ideia, indivíduos com 
parente de primeiro grau acometido 
(pais e irmãos) com DM tipo 1 têm 6% de 
chance de desenvolver a doença e esse 
risco pode chegar até 50% em gêmeos 
monozigóticos. 
Etiologia 
A maioria dos casos tem etiologia 
autoimune (85%), com positividade para 
anticorpos contra as células beta (anti 
ICA) e/ou para outros anticorpos, como o 
anticorpo antidescarboxilase do ácido 
gluta ̂mico (anti-GAD 65), anti-insulina 
(anti IAA), anti-tirosina fosfatase (anti IA2) 
e antitransportador de zinco (anti ZnT8). 
Quando é demonstrada a presenc ̧a de 
autoimunidade, classificamos a doença 
como diabetes mellitus tipo 1A. 
Entretanto, em cerca de 15% dos casos 
não há autoanticorpos, apesar da 
destruição das células beta e nenhuma 
outra causa provável para o 
desenvolvimento de diabetes. Assim, 
dizemos que esses pacientes 
apresentam diabetes mellitus tipo 1B, no 
qual os mecanismos de morte celular 
ainda não estão claramente 
compreendidos. É mais frequente em 
indivíduos de ascendência africana ou 
asiática. 
Fatores ambientais 
Protetores: aleitamento materno e níveis 
adequados de vitamina D 
Gatilhos: teoria da higiene, vIrus 
coxsackie B, componentes do leite de 
vaca e glúten. 
Uma das suspeitas é a teoria da higiene, 
que explica o aumento das doenças 
autoimunes devido ao desvio da 
resposta imunológica, que antes era 
destinada a agentes externos, para 
componentes do próprio organismo; é 
como se nosso sistema imunológico não 
tivesse mais que combater 
microrganismos e outros germes, já que 
vivemos em ambientes ultralimpos, 
então ele acaba virando-se contra o 
próprio corpo. Outras hipóteses 
envolvem mimetismos proteicos, como o 
vírus Coxsackie B, que se assemelha à 
descarboxilase do ácido gluta ̂mico 
(GAD), favorecendo a criação de 
processo imunológico contra o GAD 
(anticorpos anti-GAD), exposição à beta-
caseína e ao glúten em idades precoces. 
 
Apresentação clínica 
É incomum o DM tipo 1 aparecer antes 
dos 6 meses de idade (nessa faixa etária, 
devemos pensar em diabetes neonatal) e 
seu pico de maior incidência é bimodal, 
ocorrendo entre 4-6 anos e no início da 
puberdade (10-14 anos). Pode ser 
diagnosticado em fase adulta, sendo 
denominado LADA (Latent Autoimmune 
Diabetes in Adults). 
Ao diagnóstico, podemos ter 3 situações 
diferentes: 
• Presença de sintomas sugestivos de 
hiperglicemia e hipoinsulinismo, como 
perda ponderal (estado de jejum), 
poliúria (ocasionada pela polidipsia), 
polidipsia (aumento da osmolaridade 
plasmática), polifagia. Níveis glicêmicos 
> 180mg/dL ultrapassam o limiar de 
reabsorção renal, levando à glicosúria e à 
poliúria; Já a perda ponderal ocorre 
devido ao hipoinsulinismo, que leva ao 
aumento dos hormônios 
contrarreguladores (glucagon, 
principalmente), com ação catabólica 
(lembre-se de que lipólise e a proteólise 
são estimuladas nessas situações). É a 
apresentação mais frequente de DM tipo 
1; 
• Internação devido à cetoacidose 
diabética, que é o quadro de 
hipoinsulinismo grave associado a um 
fator precipitante, como infecção ou 
Medicina 
Vitória Boulhosa 
	 3	
trauma. Pode corresponder a até 40% 
das apresentações iniciais de DM tipo 1. 
• Paciente assintomático submetido a 
exames de glicemia: é a forma menos 
comum de diagnosticar o DM tipo1. 
Nem todos os casos de diabetes mellitus 
na infa ̂ncia e na adolescência são DM 
tipo 1 e, devido ao crescente aumento de 
obesidade infantil, cada vez mais 
observamos a elevação do número de 
pacientes com DM tipo 2 nessa faixa 
etária. Assim, fique atento para as 
características clínicas que possibilitam a 
diferenciação dos dois tipos: 
 
 
Diagnóstico 
 
Em pacientes assintomáticos, devem ser 
realizados 2 testes para confirmação 
diagnóstica. 
Em pacientes com sintomas clássicos de 
hiperglicemia (perda ponderal, poliúria, 
polidipsia), é necessário apenas 1 teste 
alterado ou glicemia aleatória ≥ 200mg/dL 
para diagnóstico de DM. Em pacientes com 
sintomas clássicos de hiperglicemia (perda 
ponderal, poliúria, polidipsia), é necessário 
apenas 1 teste alterado ou glicemia aleatória 
≥ 200mg/dL para diagnóstico de DM. 
 
A glicemia em jejum é o teste de primeira 
escolha para rastreamento de casos. É 
simples, barata e fácil de ser realizada. 
Necessita de, pelo menos, 8 horas em jejum. 
 
TOTG é um teste mais sensível e específico 
para o diagnóstico de DM em pacientes com 
sobrepeso e obesidade. Não devemos 
indicar o TOTG em pacientes que já 
possuem glicemia em jejum ≥ 126mg/dL, 
pois há risco de induzir hiperglicemia grave. 
Portanto, quando precisamos confirmar o 
diagnóstico de diabetes mellitus em um 
paciente assintomático com glicemia em 
jejum ≥ 126mg/dL, devemos repetir a 
glicemia em jejum ou solicitar HbA1c. 
 
A hemoglobina glicada foi incluída como 
critério diagnóstico em 2010, sendo que a 
partir de HbA1c > 7%, o risco de 
complicações se tornava exponencial. Pode 
ser coletada em qualquer horário do dia, não 
necessita de jejum e não sofre alterações 
com o estresse. É um ótimo exame para 
acompanhar a eficácia do tratamento e, 
nessa situação, deve ser solicitado a cada 3-
4 meses, já que seus valores se 
correlacionam com o tempo de vida das 
hemácias (90-120 dias). O que é medido é a 
glicação, que é um processo não enzimático, 
da hemoglobina A, sendo que seus valoressão diretamente proporcionais à glicose 
existente no meio vascular nos últimos 90-
120 dias. 
 
Para o controle glicêmico, são solicitadas a 
glicemia em jejum e a hemoglobina glicada 
fração A1c, ambas de rotina. 
 
Sistemas de monitorização contínua de 
glicose (SMCG): medem a glicemia presente 
no interstício através de dispositivo colocado 
no subcutâneo. 
 
Tratamento 
A insulinoterapia deve imitar e corrigir as 
deficiências na secreção pancreática de 
insulina. Portanto, quanto maior o grau de 
Medicina 
Vitória Boulhosa 
	 4	
disfunção pancreática, maior será a 
necessidade de insulina exógena. 
Os pacientes com diabetes mellitus tipo 1 
(DM1) possuem uma deficiência absoluta de 
insulina, logo, invariavelmente, necessitarão 
de insulina em doses plenas, ou seja, 
insulinas basal e prandial em doses 
suficientes para substituir a secreção 
pancreática em sua totalidade. 
 - Farmacocinética das insulinas: 
Primeiramente, deve-se entender que a 
secreção basal de insulina corresponde a 
40% – 60% da produção diária total do 
hormônio e tem como objetivo suprimir a 
produção hepática de glicose, a 
glicogenólise e a cetogênese (o que mantém 
a euglicemia no estado de jejum e, em 
menor grau, nos períodos pós-alimentares). 
Já os picos pós-prandiais de secreção de 
insulina destinam- se a cobrir a incursão 
glicêmica decorrente da ingestão alimentar, 
através da promoção da captação e 
armazenamento periféricos de glicose. É 
justamente esse padrão de secreção bifásica 
que a insulinoterapia deve imitar. 
 
Insulinas basais: NPH (ação intermediária), 
Detemir e Glargina (ação longa), Degludeca 
(Ação ultralonga) 
Insulinas prandiais: Regular (insulina humana 
de ação rápida), Lispro, Asparte, Glulisina, 
Faster aspart, Inalável tecnosfera (Análogos 
de ação ultrarrápida). 
 
Insulinas pré-mistura: congregam, em um só 
produto, uma insulina basal e uma insulina 
prandial: 
• Humulin® 70/30 (70% NPH + 30% regular). 
• Humalog® Mix 25 (25% lispro + 75% lispro 
protaminada). 
• Humalog® Mix 50 (50% lispro + 50% lispro 
protaminada). 
• NovoMix® 70/30 (30% asparte + 70% 
asparte protaminada). 
O acréscimo de protamina à molécula de um 
análogo ultrarrápido aumenta a duração do 
efeito da insulina, ou seja, transforma-se uma 
insulina prandial em uma insulina basal. A 
vantagem das insulinas em pré-mistura é a 
comodidade de o paciente poder aplicar a 
insulina basal e a insulina prandial em uma 
única injeção. O inconveniente é que o ajuste 
dessas insulinas é menos flexível, pois a 
proporção é fixa. Ou seja, se aumentarmos a 
dose de insulina basal, a dose de insulina 
prandial também será aumentada e vice-
versa. Essas formulações podem representar 
uma mais valia nos seguintes grupos: 
• Pacientes com hábitos de vida regulares. 
• Pacientes com menores flutuações de 
glicemia. 
• Dificuldade cognitiva ou motora para 
realizar as aplicações de insulina. 
 
 
Diabetes Tipo 2 
Epidemiologia: Segundo os dados mais 
recentes da International Diabetes 
Federation (IDF), 9,3% dos indivíduos entre 
Medicina 
Vitória Boulhosa 
	 5	
20 e 79 anos (463 milhões de pessoas) 
apresentavam diabetes mellitus em 2019; 
somam-se a esses números mais 350 
milhões acometidos por pré-diabetes. O 
Brasil é o quarto país em população de 
diabéticos no mundo: são 16,8 milhões de 
indivíduos diagnosticados, com projeção de 
aumento para 26 milhões em 2045. 
Esse crescimento de forma epidêmica é 
devido, principalmente, ao DM tipo 2, uma 
vez que se associa a fatores como rápida 
urbanização, industrialização, adoção de 
estilos de vida não saudáveis, como padrões 
alimentares hipercalóricos (dieta rica em 
gorduras e açúcares e pobre em fibras) e 
sedentarismo, aumento do peso corporal e 
envelhecimento da população. Apesar do 
DM tipo 2 ser uma doença mais frequente 
em adultos, geralmente > 45 anos, sua 
prevalência tem aumentando na faixa etária 
pediátrica e em adultos jovens, 
correspondendo a quase 20% dos casos em 
crianças e adolescentes. Credita-se uma 
grande parte desses números à elevação 
simulta ̂nea da obesidade, condição 
relacionada com a piora da resistência à 
insulina. 
Cerca de 79% dos casos de DM estão 
concentrados nos países em 
desenvolvimento e, segundo estimativas, 
esse percentual aumentará ao longo dos 
anos. Esses países já enfrentam grandes 
desafios no controle de doenças infecciosas 
e esse aumento nos casos de DM, 
principalmente em indivíduos em idade 
produtiva, pode significar um impacto 
enorme nos recursos destinados à saúde. 
Em 2019, os custos de saúde relacionados 
com o DM foram da ordem de 53 bilhões de 
dólares, no Brasil, além de mais de 135 mil 
mortes associadas à doença no mesmo ano. 
O aumento de casos tem impacto não 
apenas no sistema de saúde, mas também 
nos setores produtivos da sociedade, uma 
vez que atinge faixas etárias 
economicamente ativas. Soma-se a isso o 
fato de que indivíduos com DM apresentam 
um encurtamento na sobrevida média de até 
12 anos. Segundo estimativas da IDF, 40-
60% dos pacientes com DM morrem antes 
de completar 60 anos, no Brasil. 
 
Etiologia e fatores de risco: O 
desenvolvimento de DM tipo 2 resulta da 
combinação de herança poligênica e fatores 
ambientais. O genótipo é uma condição 
importante, uma vez que se observa maior 
prevalência de diabetes mellitus em 
determinadas etnias, como afro-americanos, 
nativos americanos, índios Pima e 
hispa ̂nicos. Além disso, a penetra ̂ncia desses 
genes é relativamente alta, visto que 39% 
dos indivíduos com DM tipo 2 têm, pelo 
menos, um parente afetado e, entre gêmeos 
monozigóticos, o risco de desenvolver DM 
tipo 2 chega a quase 90%. 
 
IDADE - O DM tipo 2 é, predominantemente, 
uma doença de adultos; assim, seu 
aparecimento é maior em indivíduos com > 
45 anos. Entretanto, como dito antes, tem-se 
observado maior incidência em faixas etárias 
mais jovens, devido ao aumento da 
obesidade e dos maus hábitos de vida. 
ANTECEDENTE FAMILIAR POSITIVO 
Apesar da herança poligênica, há alta 
penetrabilidade dos genes que aumentam o 
risco de DM tipo 2. Assim, é comum 
encontrar familiares de primeiro e segundo 
graus acometidos. 
SOBREPESO/ OBESIDADE E 
DISTRIBUIÇÃO DE GORDURA 
O aumento progressivo do peso corporal 
está relacionado, de forma paralela, com o 
risco de desenvolver DM tipo 2. O padrão de 
distribuição da gordura corporal também é 
outro fator de risco para diabetes, sendo 
mais importante naqueles indivíduos com 
predomina ̂ncia de deposição em abdome. 
As medidas aumentadas da relação cintura-
quadril e da circunferência abdominal 
refletem a gordura visceral, que tem maior 
implicação no desenvolvimento de 
resistência insulínica. A distribuição de 
gordura visceral tem influência genética e de 
fatores ambientais, como o uso de 
glicocorticoides, antipsicóticos e 
antirretrovirais. 
PADRÕES DIETÉTICOS: A dieta 
hipercalórica de padrão ocidental, 
caracterizada por consumo elevado de carne 
vermelha, carnes processadas, alimentos 
gordurosos e ricos em açúcares, é associada 
ao maior risco de desenvolver DM tipo 2, 
Medicina 
Vitória Boulhosa 
	 6	
independentemente do índice de massa 
corporal (IMC). Entretanto, esse risco é ainda 
mais elevado em indivíduos obesos, sendo 
até 11 vezes maior quando comparado a 
pessoas com IMC normal. 
Há estudos que correlacionam o consumo 
de bebidas açucaradas, como refrigerantes 
e sucos industrializados, à obesidade 
(durante a infa ̂ncia) e com DM tipo 2 (na vida 
adulta). 
A ingestão diária de grãos integrais, frutas, 
vegetais, castanhas, peixes, carnes brancas e 
azeite de oliva é associada à diminuição, de 
forma modesta, do risco de DM tipo 2. 
Entretanto, esse padrão de dieta, conhecido 
como “dieta do Mediterra ̂neo”, melhora o 
controle glicêmico de pacientes diabéticos 
e, assim, deve sempre ser estimulado. 
Os laticínios, principalmente aqueles com 
redução de gordura, correlacionam-se a 
menor risco de DM tipo 2, 
independentementedo IMC. 
SEDENTARISMO 
A falta de atividade física promove ganho de 
peso, baixa capacidade aeróbica e 
diminuição de força muscular, que são 
relacionados com o maior risco de 
desenvolver DM tipo 2. A prática frequente 
de exercícios moderados é efetiva na 
prevenção de diabetes mellitus, pois 
promove manutenção ou perda de peso, 
aumento da sensibilidade à insulina (através 
de maior translocação de receptores de 
glicose, denominados GLUT-4, nas células 
musculares) e utilização de ácidos graxos 
como fonte de energia pelos músculos. 
TABAGISMO 
Apesar do efeito causal não ser 
completamente esclarecido, há correlação 
positiva entre o hábito de fumar e o DM tipo 
2. As principais hipóteses levam em 
consideração que o tabagismo possa 
ocasionar resistência à insulina e deposição 
de gordura abdominal. Após dez anos da 
interrupção do hábito de fumar, o risco de 
desenvolver diabetes é igual ao de quem 
nunca fumou. 
PESO AO NASCER E DURANTE A 
INFA ̂NCIA 
Indivíduos predispostos geneticamente ao 
baixo peso ao nascer, quando expostos ao 
ambiente de restrição de crescimento 
intrauterino, sofrem alterações epigenéticas 
que ocasionam resistência à insulina como 
forma de sobrevivência; porém, na vida 
adulta, tais modificações aumentam o risco 
de desenvolver diabetes mellitus tipo 2. 
Além disso, o aumento de peso durante a 
infa ̂ncia, mesmo em crianças nascidas com 
peso normal, correlaciona-se com o maior 
risco de desenvolver diabetes mellitus na 
vida adulta. Entretanto, se essas crianças 
normalizam o peso antes da puberdade, o 
risco de DM tipo 2 se iguala ao das crianças 
que sempre tiveram peso adequado. Caso a 
regularização do peso ocorra após a 
puberdade, ainda há um risco residual de 
desenvolver DM tipo 2, porém menor do que 
se não tivessem perdido peso. 
 
 Síndrome metabólica 
A síndrome metabólica é caracterizada por 
um conjunto de fatores que elevam o risco 
cardiovascular e sua principal característica é 
a resistência à insulina. Os critérios variam 
conforme a entidade escolhida (OMS, IDF ou 
NCEP), mas, em geral, os componentes são 
o aumento de circunferência abdominal 
(CA), a resistência à insulina (expressa por 
meio de hiperglicemia), a hipertensão 
arterial, hipertrigliceridemia e os baixos 
níveis de HDL- colesterol. 
A síndrome metabólica, mesmo em 
indivíduos não obesos, aumenta, em até 
cinco vezes, o risco de desenvolver DM tipo 
2, em até duas vezes, o de doenças 
cardiovasculares e em 60% o de mortalidade 
por todas as causas. 
Medicina 
Vitória Boulhosa 
	 7	
 
Fisiopatogenia: 
a predisposição genética e, na maior parte, 
os fatores ambientais propiciam o 
desenvolvimento da resistência à insulina, 
que aparece, em média, cinco anos antes do 
diagnóstico de diabetes. Nas fases iniciais, 
há hipersecrec ̧ão de insulina, com o intuito 
de vencer a barreira criada à sua ação, 
mantendo a normoglicemia. 
A secrec ̧ão de insulina também se encontra 
alterada nesses pacientes, uma vez que a 
pró-insulina não é clivada, adequadamente, 
em insulina. A principal hipótese é a de que, 
por conta da hipersecreção, os gra ̂nulos 
contendo pró-insulina não conseguem 
maturar por completo, com consequente 
diminuição da clivagem da molécula 
precursora em insulina e peptídeo C. Assim, 
apesar da hipersecreção de insulina pelas 
células-beta pancreáticas, uma parte do 
conteúdo do gra ̂nulo fica comprometida por 
não ter sido clivada, permanecendo sob a 
forma de pró-insulina. 
Além da resistência à insulina e dos defeitos 
de clivagem da pró-insulina, ocorre 
diminuição da produção de GLP-1 (glucagon 
like peptide-1) e resistência à ação do GIP 
(polipeptídeo inibitório gástrico), que 
correspondem a > 90% dos hormônios 
incretínicos (moléculas produzidas no 
intestino e que são capazes de estimular a 
secreção de insulina). O GIP é secretado 
pelas células K do duodeno e jejuno e o GLP-
1, pelas células L do íleo, em resposta à 
alimentação rica em carboidratos e 
gorduras. Ambos são metabolizados pela 
enzima peptidil peptidase-4 (DPP-4) e 
possuem meia-vida muito curta, ao redor de 
2 minutos. Os níveis reduzidos de GLP-1 e a 
resistência ao GIP contribuem para a 
elevação da glicemia. 
A alteração dos hormônios incretínicos 
colabora para a elevação dos níveis 
plasmáticos de glucagon. Tanto o GIP 
quanto o GLP-1 diminuem a secreção de 
glucagon nos períodos pós-prandiais, 
levando à inibição da produção hepática de 
glicose, o que contribui com redução de 
50% no valor glicêmico após as refeições. 
Assim, a maior secreção de glucagon, aliada 
à maior sensibilidade hepática a esse 
hormônio, proporcionam o surgimento de 
hiperglicemia. Além disso, o glucagon 
estimula a lipólise, com maior liberação de 
ácidos graxos na circulação, piorando a 
resistência à ação da insulina. 
Com a perda da secreção de insulina ao 
longo do tempo, aliada à resistência a sua 
ação no fígado e maiores níveis plasmáticos 
de glucagon, ocorre queda na relação 
insulina/glucagon. Quando essa razão cai, há 
estímulo à produção hepática de glicose 
(glicogenólise e gliconeogênese), 
colaborando para o surgimento de 
hiperglicemia, inclusive em estados de 
jejum. 
O rim também está presente nesse cenário 
de criação da hiperglicemia. Normalmente, 
toda a glicose filtrada é reabsorvida pelos 
rins, sendo 90% nos túbulos proximais, por 
meio de transportadores de sódio-glicose 
tipo 2 (SGLT-2). Em indivíduos diabéticos, há 
maior capacidade de reabsorção renal de 
glicose devido à elevada expressão de 
SGLT-2. Assim, só veremos glicosúria 
quando a hiperglicemia ultrapassar a 
capacidade de reabsorção, que, 
geralmente, ocorre em níveis glicêmicos 
superiores a 180 mg/ dL. 
Por fim, a insulina atua nos centros 
hipotala ̂micos de controle do apetite, 
inibindo a fome; nos pacientes obesos, 
apesar da hiperinsulinemia em resposta à 
alimentação, os efeitos no hipotálamo são 
reduzidos e retardados, mostrando 
resistência central à ação desse hormônio. 
 
Manifestações Clínicas: 
A resistência à insulina desencadeia, como 
resposta, a hipersecreção desse hormônio 
pelas células-beta pancreáticas, cuja 
principal função é aumentar a captação da 
glicose pelos diversos tecidos. Além disso, 
também tem efeitos no crescimento celular; 
assim, em estados de excesso de insulina, 
podemos observar alguns sinais clínicos, 
que são resultantes desse processo, como a 
acantose nigricans e o hiperandrogenismo. 
Ambos não são exclusividade do diabetes 
mellitus tipo 2, sendo encontrados em outras 
condições. 
A acantose nigricans é uma lesão em placa, 
hipercrômico, de aspecto aveludado, 
Medicina 
Vitória Boulhosa 
	 8	
presente, principalmente, em dobras 
cuta ̂neas. Os pacientes costumam referir-se 
a ela como “uma sujeira que não sai”. Isso 
acontece pois quando há excesso de 
insulina, há maior estimulação dos 
receptores de IGF-1, levando à proliferação 
de fibroblastos e queratinócitos. 
A resistência insulínica também pode 
propiciar o hiperandrogenismo em 
mulheres, manifestando-se clinicamente 
pela presença de hirsutismo, acne e alopecia 
de padrão androgenético. 
muitos indivíduos são identificados devido 
aos sintomas decorrentes da hiperglicemia. 
Os principais são a poliúria, a polidipsia e as 
infecções fúngicas recorrentes. A glicemia, 
ao ultrapassar o limiar de reabsorção renal, é 
excretada na urina, ocasionando diurese 
osmótica. Consequentemente, a diminuição 
de volume circulante leva à maior tonicidade 
plasmática, que ativa a sede, aumentando a 
ingestão de água. 
A hiperglicemia também acarreta disfunção 
imunológica e mudança de flora 
microbiótica local, propiciando infecções 
recorrentes, principalmente, as fúngicas. A 
pele e as mucosas são os locais mais 
acometidos, tanto que, nas provas, é comum 
a descrição de “candidíase vaginal” em 
pacientes com DM tipo 2. 
A hiperglicemia crônica é tóxica às células, 
pois leva à ativação de vias intracelulares que 
culminam como aumento do estresse 
oxidativo, causando injúrias e, até mesmo, 
morte celular. 
A perda ponderal e a polifagia também 
podem estar presentes e são relacionadas 
com a diminuição da ação da insulina pela 
resistência periférica. A insulina estimula a 
utilização da glicose, a síntese proteica e o 
estoque de lipídios; uma vez que ela não 
consegue agir adequadamente há elevação 
de hormônios contrarreguladores, 
caracterizados pelas ações catabólicas, 
como proteólise, lipólise e glicogenólise, 
levando à perda de peso. 
 
Rastreamento e diagnóstico: 
Rastreamento: feito com o intuito de 
diagnosticar e tratar precocemente o DM2. 
Quando fazer o rastreamento em adultos: 
1. Indivíduos ≥ 45anos. 
2. Indivíduos em qualquer idade, com sobre 
peso (IMC25-29,9kg/m2) ou obesidade 
(IMC≥30kg/m2), na presença de, pelo 
menos, mais um dos fatores abaixo: 
• Hipertensão arterial; 
• História familiar de DM tipo 2; 
• Doença cardiovascular; 
• Síndrome dos ovários policísticos; 
•HDL-colesterol < 35 mg/dL e/ou 
triglicérides > 250 mg/dL; 
• Sedentarismo; 
• Presença de obesidade grau 2 (IMC 35-
39,9 kg/m2) ou grau 3 (IMC ≥ 40 kg/m2); 
• Presença de sinais de resistência à insulina 
(acantose nigricans); 
• Etnias em que o risco de DM tipo 2 é maior 
que o da população em geral. 
* Asiáticos ou descendentes devem ser 
rastreados se IMC ≥ 23 kg/m2. 
3.Indivíduos com pré-diabetes de vem ser 
testados, pelo menos, anualmente. 
4.Mulheres com diabetes gestacional devem 
ser testadas, pelo menos, a cada três anos. 
5. Indivíduos com teste de rastreamento 
normal devem ser testados a cada três anos 
ou em intervalo inferior, se o risco aumentar 
(por exemplo, se no período ocorrer o 
diagnóstico de hipertensão, o paciente 
deverá ser, novamente, testado). 
 
Em crianças e adolescentes o rastreamento 
de DM2 deve ser feito em toda criança ou 
adolescente com sobrepeso 
(IMC≥percentil85) ou obesidade 
(IMC≥percentil95) e pelo menos um dos 
fatores abaixo: 
• História materna de DM ou crianças 
nascidas de mães com diabetes gestacional; 
• Familiares de primeiro ou segundo grau 
com DM tipo 2; 
• Etnias de maior risco para DM tipo 2; 
•Sinais ou condições associadas à resistência 
insulínica: acantose nigricans, SOP, 
hipertensão, dislipidemia ou nascido 
pequeno para a idade gestacional (PIG). 
 
2. Se os testes resultarem normais, repetir a 
cada três anos ou em intervalos menores, se 
o IMC continuar a subir. 
 
Diagnóstico: 
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Medicina 
Vitória Boulhosa 
	 9	
 
Tratamento: 
Todo paciente com doença crônica deve ser 
incluído em uma rede de cuidados, de 
preferência, multiprofissional. Um dos 
grandes desafios no tratamento de diabetes 
mellitus, principalmente quando 
diagnosticado durante exames de rotina, em 
condições assintomáticas, é convencer o 
paciente sobre a importa ̂ncia da adesão à 
terapêutica proposta. Além disso, devemos, 
também, tratar as comorbidades que 
ofereçam risco cardiovascular, a fim de 
diminuir a morbimortalidade. 
É nosso dever estimular a incorporação de 
hábitos mais saudáveis e ajudar na 
construção de um estilo de vida melhor, 
tanto alimentares quanto físicos. Além disso, 
o paciente deve entender que a ausência de 
sintomas, devido ao uso das medicações, 
não pode ser obstáculo para a manutenção 
dos hábitos mais saudáveis. 
É importante lembrar que a diabetes está 
associada a transtornos depressivos, que 
podem comprometer a adesão ao 
tratamento. O risco de depressão é 2-3 vezes 
maior em pacientes com diabetes mellitus e 
cerca de 2/3 dos casos não são 
diagnosticados. Segundo estudos, a 
depressão piora o controle glicêmico e, 
infelizmente, a piora metabólica agrava o 
quadro depressivo. 
A educac ̧ão dos familiares quanto à doença 
fortalece a adesão do paciente, uma vez que 
torna o ambiente doméstico mais propício a 
aceitar as mudanças necessárias para a 
condução adequada do tratamento, como 
melhorias alimentares e estímulos a hábitos 
mais saudáveis, além de imprimir 
responsabilidade de cuidado aos que 
rodeiam o indivíduo doente. 
Não medicamentoso - orientação 
nutricional individualizada, mantendo o 
equilíbrio entre os macronutrientes. 
Orientação quanto a prática de atividade 
física. A atividade física melhora a captação 
de glicose muscular de forma independente 
da insulina por até duas horas após o 
término do exercício; também melhora a 
sensibilidade da insulina, resultando na 
maior translocação de receptores GLUT-4 
para a membrana celular, por até 48 horas. 
Por conta disso, é importante não ficar mais 
de dois dias seguidos sem praticar 
exercícios. 
 
Tratamento medicamentoso: 
Ø Medicações que aumentam a 
secreção de insulina de forma impendente 
dos níveis glicêmicos: 
Sulfonilureias - glibenclamina, glimepirida, 
glipizida, glicazida, clorpropamida. 
 
É importante lembrar que nós pacientes não 
diabéticos, o principal estímulo à secreção 
de insulina é o aumento dos níveis 
glicêmicos. A maior conversão de glicose em 
G6F leva a diversas reações intracelulares 
que fecham os canais de K+. Com isso, 
ocorre despolarização e o cálcio entra na 
célula, com consequente secreção de 
insulina. 
As sulfonilureias são drogas que se ligam em 
receptor próprio nos canais de K+-ATP 
dependentes, inibindo o influxo de K+. 
Consequentemente, a célula se mantém 
despolarizada, o que permite a entrada de 
cálcio, cujo aumento intracelular estimula a 
liberação dos gra ̂nulos de insulina. 
Essas medicações costumam ter duração 
mais prolongada, o que permite a secreção 
de insulina de forma contínua e 
independente dos níveis de glicose. Por esse 
motivo, são drogas relacionadas com a 
hipoglicemia, uma vez que não há 
interrupção da secreção de insulina, mesmo 
com a queda nos níveis glicêmicos. 
A glibenclamida possui o maior risco de 
causar hipoglicemia, a glimepirida possui 
risco intermediário e a glipizida/gliclazida 
possuem risco menor. 
Essa classe possui uma desvantagem quanto 
a função renal, pois há uma diminuição no 
clearance da droga (ela fica disponível por 
mais tempo no organismo). 
*glimepirida- mesmos efeitos em dose 
menor. Melhora a sensibilidade periférica à 
insulina e mimetiza sua ação no fígado, 
inibindo a produção hepática de glicose 
ajudando a diminuir os níveis glicêmicos. 
*gliclazida ou glimepirida- preferenciais 
quanto ao risco cardiovascular, pois aso 
seletivas para os receptores de sulfonilureias 
pancreáticos. 
Medicina 
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	 10	
Um efeito colateral dos medicamentos dessa 
classe é o ganho de peso 
*As sulfonilureias não são recomendadas na 
insuficiência renal com taxa de filtração 
glomerular (TFG) < 30 mL/minuto, pois há 
menor clearance da droga, aumentando o 
risco de hipoglicemias. Da mesma maneira, 
não devem ser as drogas de escolha para 
pacientes com alto risco de hipoglicemias, 
como idosos fragilizados, e para aqueles 
com doenças cardiovasculares. 
 
Glinidas - nateglinida e repaglinida. 
Assim como as sulfonilureias, as glinidas são 
secretagogos de insulina, pois estimulam a 
sua secreção de forma muito semelhante, 
uma vez que mantêm a célula-beta 
despolarizada; isso permite o influxo de 
cálcio, que leva à excreção dos gra ̂nulos 
contendo insulina. 
Por conta desse mecanismo de ação, as 
glinidas também são relacionadas com a 
maior ocorrência de hipoglicemias. A 
vantagem delas, em relação às sulfonilureias, 
é o menor tempo de ação, que costuma ser 
ao redor de 1-2 horas. Porém, devido à meia- 
vida reduzida, essas medicações devem ser 
tomadas próximo às refeições, com o intuito 
de cobrir o período pós-prandial. Isso leva 
ao aumento do número de comprimidos ao 
dia, o que repercute na menor adesão. 
Além da hipoglicemia, as glinidas também 
podem levar ao ganho ponderal. Perceba 
que essa classe é muito semelhante às 
sulfonilureias, uma vez que a secreção de 
insulina é mantida, independentemente dos 
níveis glicêmicos. 
Como sua metabolização ocorre, de forma 
predominante, no fígado,com posterior 
excreção renal, seu uso não é recomendado 
em pacientes com insuficiência hepática ou 
insuficiência renal (TFG < 15mL/minuto). 
 
Ø Medicações com efeito incretínico. 
As medicações com efeito incretínico são 
aquelas cujas ações se assemelham ao 
glucagon like peptide-1 (GLP-1). 
As células L, presentes, principalmente, no 
íleo, produzem GLP-1 em resposta à 
chegada do bolo alimentar. Esse hormônio 
atua nas células-beta pancreáticas, 
estimulando a secreção de insulina, porém 
de maneira dependente dos níveis 
glicêmicos. Cerca de 70% da produção de 
insulina durante a refeição é resultante da 
ação do GLP-1. 
Além disso, o GLP-1 promove menor 
esvaziamento gástrico, retardando a 
absorção dos alimentos, com consequente 
redução do pico glicêmico prandial. 
Também inibe a secreção de glucagon, 
colaborando para a menor elevação da 
glicemia após as refeições. Outro benefício 
do GLP-1 é a sua ação nos centros 
hipotalâmicos de controle de fome e apetite, 
inibindo a secreção de hormônios com 
características orexígenas. 
Para começarmos a discorrer sobre as duas 
classes medicamentosas com efeito 
incretínico, que são os inibidores da DPP-4 e 
os agonistas do receptor de GLP-1, temos de 
lembrar que a secreção de GLP-1 está 
diminuída nos pacientes com diabetes 
mellitus tipo 2, sendo, portanto, um dos 
mecanismos patológicos que levam à 
hiperglicemia. 
 
Inibidores da dipeptidil peptidase-4 (iDPP-4) 
- sitagliptina, vidagliptina, linagliptina, 
alogliptina, saxagliptina. 
Os iDPP-4, também chamados de gliptinas 
(observe que todas as drogas terminam em 
“gliptina”), atuam inibindo a dipeptidil 
peptidase-4, enzima responsável pela 
degradação do GLP-1. Normalmente, a 
meia-vida do GLP-1 é ao redor de dois 
minutos; com os iDPP-4, a inibição da enzima 
pode durar até 24 horas, o que eleva os 
níveis de GLP-1 em 2-3 vezes. 
O aumento no GLP-1 melhora a secreção de 
insulina, principalmente, nos períodos pós-
prandiais. Entretanto, sua atividade ainda é 
modesta, quando comparada à dos 
agonistas do receptor de GLP-1. Por conta 
disso, não se observa perda de peso nos 
pacientes que utilizam iDPP-4. Por outro 
lado, também não se relacionam ao ganho 
ponderal, sendo, portanto, neutros nesse 
quesito. 
Por induzirem a secreção de insulina de 
forma dependente dos níveis glicêmicos, 
não causam hipoglicemia, o que faz com que 
tais medicações sejam muito utilizadas em 
idosos. 
Medicina 
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	 11	
linagliptina pode ser utilizada em qualquer 
estágio da doença renal crônica, sem 
necessidade de modificação posológica. As 
demais medicações também podem ser 
administradas em TFG < 60 mL/minuto, 
inclusive em doença renal crônica dialítica, 
porém com ajustes de doses. 
Outro ponto divergente na classe é a 
segurança cardiovascular. A alogliptina e a 
saxagliptina aumentam o risco de 
descompensações da insuficiência cardíaca, 
porém sem repercussão em mortalidade. 
 
Agonistas do receptor de GLP-1/ Análogos 
de GLP-1 = exenatida, liraglutida, lixisenatida 
(uso diário, subcutâneo); semaglutida, 
dulaglutida (uso semanal, subcutâneo). 
Como um dos efeitos patológicos do 
diabetes mellitus tipo 2 é a diminuição da 
secreção de GLP-1, essa classe 
medicamentosa atua na melhora da 
secreção de insulina. Com a reposição do 
hormônio de forma exógena, conseguimos 
aumentar, significativamente, seu nível 
circulante, o que propicia as outras ações do 
GLP-1, não observadas com o iDPP-4: 
retarda o esvaziamento gástrico e diminui o 
apetite. Esses dois efeitos repercutem na 
perda ponderal. A liraglutida, como veremos 
no livro sobre obesidade, é o único análogo 
de GLP-1 aprovado para tratamento 
medicamentoso, pois mostrou-se seguro e 
eficaz no processo de perda ponderal. 
Além da redução de peso, alguns dos 
análogos de GLP-1 relacionam-se à 
diminuição de risco cardiovascular em 
pacientes com doença cardiovascular 
estabelecida. 
Os efeitos colaterais mais comuns com os 
AgR GLP-1/ 
análogos de GLP-1 são relacionados com o 
trato gastrointestinal: náuseas, vômitos, 
diarreia/constipação. Por serem muito 
frequentes, a introdução das drogas é feita 
de forma gradual e progressiva. 
As contraindicações ao uso dos AgR GLP-
1/análogos de GLP-1 envolvem: 
• História prévia de pancreatite: foi relatado 
aumento de casos de pancreatite aguda em 
usuários de agonistas do receptor de GLP-1; 
• Gastroparesia: lembre-se de que a 
medicação atua retardando o esvaziamento 
gástrico, o que pode piorar os sintomas da 
gastroparesia; 
• História prévia de carcinoma medular de 
tireoide (CMT) ou pacientes diagnosticados 
com neoplasia endócrina múltipla tipo 2: a 
recomendação tem origem em estudos em 
roedores, nos quais houve aumento de 
tumores benignos e malignos de células C; 
• TFG < 30 mL/minuto. 
 
Ø Medicações com efeito sensibilizador 
de insulina 
Biguanidas - A única representante da classe 
é a metformina. Lançada em 1960, essa 
droga já se firmou como a primeira escolha 
terapêutica no DM tipo 2, uma vez que seu 
custo-benefício é enorme. A principal ação 
da metformina é bloquear uma enzima 
pertencente à gliconeogênese, reduzindo a 
transformação de lactato em piruvato. 
Outra ação sensibilizadora de insulina ocorre 
nos músculos, nos quais há maior captação 
de glicose (entretanto, a metformina tem 
ação predominantemente hepática; 
veremos que as tiazolidinedionas agem mais 
no tecido periférico). Pelo fato de melhorar a 
sensibilidade à insulina, a metformina reduz 
a acantose nigricans, tornando-a menos 
espessada. 
A metformina também é capaz de ativar uma 
enzima nos hepatócitos que reduz os níveis 
circulantes de lipídios, além de 
diminuir sua síntese no fígado e no músculo, 
efeitos considerados extraglicêmicos. 
O status de droga de primeira escolha não é 
por acaso: a metformina apresenta baixo 
custo, boa tolerabilidade (especialmente nas 
versões de liberação prolongada) e ótimo 
perfil de segurança. Não é associada ao 
ganho de peso e, em obesos, há alguns 
dados sugerindo modesta perda ponderal. 
Além disso, por atuar em mecanismos não 
relacionados com a secreção de insulina, 
não apresenta risco de hipoglicemia. 
Contraindicações ao uso de metformina 
As contraindicações à metformina envolvem 
situações em que há maior risco de acidose 
láctica: 
1. TFG<30mL/minuto; 
2. Doença hepática ativa: reduz a utilização 
do lactato, possibilitando seu acúmulo; 
Medicina 
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	 12	
3. Abuso de álcool: a oxidação do etanol leva 
à formação de NADH, que faz com que o 
piruvato seja transformado em lactato, 
acumulando-o; 
4. Insuficiência cardíaca descompensada; 
5. Risco de hipoperfusão (cirurgias, por 
exemplo) ou instabilidade hemodina ̂mica; 
6. Histórico de acidose láctica em uso de 
metformina. 
Lembre-se de que a metformina reduz a 
transformação de lactato em piruvato, 
acumulando-o. Em condições nas quais a 
função renal estiver comprometida 
(insuficiência renal, hipoperfusão tecidual 
por insuficiência cardíaca ou perdas 
sanguíneas), há maior retenção do lactato, 
aumentando o risco de acidose láctica. 
Os principais efeitos adversos da metformina 
são gastrointestinais: sabor metálico na 
boca, estufamento, flatulência, dor 
abdominal e diarreia. Antes de suspender a 
medicação, devemos tentar o comprimido 
de liberação estendida (metformina XR): 
consiste em uma “esponja”, que contém a 
droga, permitindo a liberação mais lenta da 
medicação. Muitos pacientes relatam 
encontrar o comprimido nas fezes e isso é 
normal; você pode tranquilizá-los dizendo 
que aquilo é apenas o invólucro e que a 
droga foi, de fato, absorvida. 
Outro efeito colateral que pode ocorrer em 
até 30% dos pacientes é a deficiência de 
vitamina B12, que é decorrente de má 
absorção desencadeada pela metformina. É 
rara a apresentação como anemia 
megaloblástica, mas devemos nos atentar a 
quadros de neuropatia periférica, que 
podem ocorrer como complicação 
microvasculardo diabetes ou por deficiência 
da vitamina B12. 
A metformina pode ser utilizada em crianças 
com diabetes mellitus tipo 2, a partir de 6 
anos de idade. As outras drogas possíveis de 
serem utilizadas na faixa etária pediátrica são 
a insulina e a liraglutida (aprovada para ≥ 10 
anos de idade). 
 
Tiazolidinedionas 
A única droga disponível no Brasil é a 
pioglitazona, que atua como agonista dos 
receptores nucleares PPAR-ʏ (receptores 
ativadores de proliferação de peroxissomos 
ʏ) e dos PPAR-α, alterando a transcrição de 
vários genes envolvidos no metabolismo da 
glicose e de lipídios. As tiazolidinedionas 
também são chamadas de glitazonas. 
Os PPAR-α são encontrados, em sua maioria, 
no fígado, coração, músculo esquelético e 
parede de vasos. Ao estimulá-los, a 
pioglitazona leva ao aumento da produção 
das lipoproteínas lipases, que hidrolisam os 
triglicérides dentro dos vasos, liberando 
ácidos graxos, que são captados e estocados 
pelo tecido adiposo. Além disso, também 
aumentam a síntese de apolipoproteína A-I, 
resultando em elevação de HDL. Essa ação 
agonista nos PPAR-α leva a um melhor perfil 
de triglicérides e HDL, da mesma forma que 
ocorre com os fibratos, que são drogas que 
estimulam os PPAR-α. Já os PPAR-ʏ estão 
presentes, principalmente, no tecido 
adiposo, estimulando o estoque de 
gorduras, porém com diminuição do 
processo inflamatório. Além disso, os PPAR-
ʏ também são encontrados no sistema 
nervoso central e, quando estimulados, 
aumentam o apetite, sendo uma das 
hipóteses para o ganho de peso relacionado 
com o uso das tiazolidinedionas. Outro 
mecanismo de ação que colabora para o 
aumento ponderal é a retenção hídrica; a 
ativação dos PPAR-ʏ presentes nos ductos 
coletores leva à reabsorção de sódio, com 
consequente reabsorção de água. Como 
resultado, os pacientes podem apresentar 
edema periférico e macular e, até mesmo, 
congestão cardíaca. Por esse motivo, a 
pioglitazona é contraindicada em 
portadores de insuficiência cardíaca classes 
funcionais NYHA III e IV. 
Os mecanismos pelos quais as 
tiazolidinedionas reduzem a resistência à 
insulina ainda não são, claramente, 
estabelecidos. A principal hipótese é a de 
que essas drogas, ao reduzirem os 
triglicérides circulantes e os ácidos graxos 
livres (que são estocados), levam à 
diminuição do processo inflamatório no 
tecido adiposo, resultando em mudanças no 
perfil de citocinas secretadas, com 
consequente incremento na sensibilidade à 
insulina nos tecidos periféricos. Segundo 
estudos, a melhora da inflamação vem 
acompanhada de aumento de captação de 
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glicose, associada, em menor grau, à 
redução da produção hepática de glicose. 
 
Ø Medicações que provocam glicosúria 
Inibidores do transportador sódio-glicose 
tipo 2 (iSGLT-2) - canagliflozina, 
dapaglifozima, empaglifozina. 
Os inibidores do SGLT-2 são a classe 
medicamentosa mais nova no arsenal 
terapêutico do DM tipo 2. Seu mecanismo de 
ação consiste em inibir os transportadores 
de sódio-glicose tipo 2, presentes, 
majoritariamente, no túbulo proximal, 
impedindo a reabsorção de sódio e de 
glicose. 
Como a inibição da reabsorção renal é 
dependente dos níveis de glicose filtrada, os 
iSGLT-2 não causam hipoglicemia, uma vez 
que sua ação acompanha os níveis 
glicêmicos. Outro efeito benéfico é a 
redução ponderal, vista, de forma mais 
frequente, nos três primeiros meses de 
tratamento, com posterior manutenção. A 
média, nos estudos, foi de 3kg a menos nos 
pacientes em uso de iSGLT-2. A redução de 
peso é correlacionada com a perda de 
calorias por meio da glicosúria. 
O efeito colateral são as infecções de trato 
urinário. Ao impedir a reabsorção da glicose, 
os iSGLT-2 desencadeiam glicosúria; é 
absolutamente normal, portanto, a presença 
de glicose em exames urinários. Soma-se a 
isso a mudança de pH e de flora bacteriana, 
aumentando a frequência de infecções 
urogenitais. As mulheres são as mais 
acometidas e a candidíase vulvovaginal é a 
forma de apresentação mais comum. 
 
Ø Medicações que diminuem a 
absorção intestinal de glicose 
Inibidores da α-glicosidase 
Os inibidores da α-glicosidase têm apenas 
um representante no Brasil, a acarbose. Seu 
mecanismo de ação é inibir a enzima 
responsável pela clivagem de 
polissacarídeos em monossacarídeos, no 
trato gastrointestinal superior. Assim, a 
acarbose atua, principalmente, na regulação 
da glicemia pós-prandial, controlando a 
absorção intestinal de glicose (lembre-se de 
que apenas os monossacarídeos, como a 
glicose, são absorvidos). 
Por não estimular a secreção de insulina, não 
há hipoglicemias relacionadas com a 
acarbose. Além disso, tende a ser neutra em 
relação ao peso. Apesar das ações 
benéficas, a medicação tem baixa adesão, 
pois, ao aumentar a quantidade de 
polissacarídeos na luz intestinal, mais de 70% 
dos pacientes referem efeitos adversos, 
como flatulência e diarreia. Em estudos, ao 
final de um 
ano de tratamento, menos de 20% dos 
pacientes ainda utilizavam a acarbose, por 
conta dos sintomas. As contraindicações 
incluem doenças gastrointestinais que 
podem ter suas manifestações clínicas 
agravadas pela acarbose, como síndromes 
de má absorção (por exemplo, doença 
celíaca), doenças inflamatórias intestinais e 
obstrução. A cirrose e o histórico de 
cetoacidose diabética (CAD) também são 
condições em que a acarbose é 
contraindicada. Na primeira, pelo potencial 
de elevar as enzimas hepáticas. Já no caso da 
CAD, o motivo é que a droga diminui o 
aporte de glicose, reduzindo a secreção de 
insulina em indivíduos já insulinopênicos, 
resultando em não bloqueio da cetogênese. 
Apesar de ser metabolizada no intestino, seu 
uso não é recomendado em TFG < 30 
mL/minuto.

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