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A perturbação do trabalho ou do sossego alheios - Atividade Policial

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04/01/23, 11:59 A perturbação do trabalho ou do sossego alheios - Atividade Policial
https://atividadepolicial.com.br/2020/05/20/a-perturbacao-do-trabalho-ou-do-sossego-alheios/ 1/37
A perturbação do trabalho ou do sossego
alheios
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04/01/23, 11:59 A perturbação do trabalho ou do sossego alheios - Atividade Policial
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A perturbação do trabalho ou do sossego alheios é uma contravenção penal prevista no art. 42 do Decreto-
Lei n. 3.688/41.
Art. 42. Perturbar alguem o trabalho ou o sossego alheios:
I – com gritaria ou algazarra;
II – exercendo pro�ssão incômoda ou ruidosa, em desacordo com as prescrições legais;
III – abusando de instrumentos sonoros ou sinais acústicos;
IV – provocando ou não procurando impedir barulho produzido por animal de que tem a guarda:
Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses, ou multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis.
a) Bem jurídico tutelado
A �nalidade deste tipo contravencional é tutelar a paz pública, a tranquilidade e o direito ao sossego.
O direito ao sossego entre vizinhos encontra previsão no art. 1.277 do Código Civil.
Art. 1.277. O proprietário ou o possuidor de um prédio tem o direito de fazer cessar as interferências
prejudiciais à segurança, ao sossego e à saúde dos que o habitam, provocadas pela utilização de
propriedade vizinha.
O direito à paz e a viver livre de perturbações encontra, inclusive, previsão constitucional, em razão do
disposto no art. 144 da Constituição Federal, que assegura o direito à preservação da ordem pública.
A ordem pública subdivide-se em salubridade, tranquilidade e segurança pública. A tranquilidade pública, por
sua vez, abrange o direito ao sossego e à possibilidade de viver em paz em seu sentido mais amplo, sem que
haja perturbações de ordem criminal ou cível.
Nesse sentido, o art. 42 da Lei de Contravenções Penais tutela um direito assegurado constitucionalmente,
que é a tranquilidade, a paz pública, o sossego.
b) Sujeitos da contravenção penal
O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, enquanto que o sujeito passivo é primariamente, a sociedade, a
coletividade e, secundariamente, os indivíduos que forem diretamente afetados.
A vítima pode ser somente a sociedade composta por pessoas físicas, por seres humanos. Não abrange
animais, que são protegidos pelo art. 54 da Lei n. 9.605/98. Não abrange, também, pessoa jurídica, pelo
simples fato desta não sofrer perturbação, dada a inexistência de vida própria.
Não é possível que qualquer contravenção penal seja praticada por pessoa jurídica, uma vez que no Brasil a
pessoa jurídica, atualmente, só pode ser responsabilizada por crimes ambientais (art. 225, § 3º, da CF c/c art.
3º da Lei n. 9.605/98).
por Rodrigo Foureaux | 20 maio 2020 | Atividade Policial
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04/01/23, 11:59 A perturbação do trabalho ou do sossego alheios - Atividade Policial
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A Constituição Federal autoriza no art. 173, § 5º, a responsabilização penal da pessoa jurídica nos atos
praticados contra a ordem econômica e �nanceira e contra a economia popular, todavia, inexiste lei que trate
que trata dessa responsabilidade criminal.
c) Elemento subjetivo
Exige-se que o agente atue de forma dolosa. Basta o dolo genérico. Admite-se o dolo direto ou eventual. Não
admite-se a forma culposa, por ausência de previsão legal.
d) Análise das condutas do tipo penal
Para que esteja caracterizada a contravenção penal não é su�ciente que esteja presente a perturbação do
trabalho ou do sossego alheios, sendo necessário que esta perturbação seja realizada mediante uma das
formas de�nidas nos incisos do art.42 da Lei de Contravenções Penais.
Art. 42. Perturbar alguem o trabalho ou o sossego alheios:
I – com gritaria ou algazarra;
II – exercendo pro�ssão incômoda ou ruidosa, em desacordo com as prescrições legais;
III – abusando de instrumentos sonoros ou sinais acústicos;
IV – provocando ou não procurando impedir barulho produzido por animal de que tem a guarda:
Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses, ou multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis.
Perturbar signi�ca atrapalhar, incomodar, aprontar, embaraçar, causar desordem.
Alguém refere-se ao autor da contravenção penal, termo que foi empregado de forma completamente
desnecessária, além de gerar confusões interpretativas, por possibilitar interpretação de que o “alguém”
refere-se a determinada pessoa como vítima, o que não é verdade, pois trata-se de uma contravenção penal
inserida no capítulo IV, que trata das contravenções penais referentes à paz pública. Além do mais, uma
leitura atenta, possibilita concluir que o “perturbar alguém” refere-se ao autor do tipo contravencional.
Trabalho refere-se à atividade pro�ssional, ao emprego, ao serviço.
Sossego trata da tranquilidade, do estado de paz, da possibilidade de uma pessoa �car em um ambiente
sereno, calmo.
O termo “alheios” refere-se a terceiras pessoas. Repare que o termo é emprego no plural, o que permite
a�rmar que é necessário mais de uma pessoa. Por se tratar de contravenção penal que visa tutelar a paz
pública, são necessárias várias pessoas para a sua caracterização.
d.1) Perturbação mediante gritaria ou algazarra;
Gritar é falar em voz alta. Gritaria é o tom de voz alto do ser humano, que extrapola a naturalidade das
conversas no dia a dia. Algazarra é o som alto, o barulho, produzido por ser humano, desde que não seja a
voz.
Um grupo de pessoas que anda pela rua chutando garrafas e arrastando objetos que provocam um barulho
alto, está a praticar algazarra.
Não caracteriza a contravenção penal cantar parabéns em tom alto ou um dar um grito de alegria de forma
isolada ao assistir a um jogo de futebol e o seu time do coração fazer o gol da vitória aos 45 do segundo
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tempo, pois a lei visa coibir a perturbação de sossego intencional e não gritarias isoladas de alegria.
Nesse sentido, “o simples cantar, manifestação de saúde e felicidade do cidadão, ainda que por vezes um
tanto alto, não con�gura a infração do art. 42 da LCP” (TACrim – RT 224/370).
A lei proíbe a perturbação com gritaria ou algazarra e não a simples manifestação de alegria ou falar um
pouco alto (TJSC – RT, 491/352).
O Supremo Tribunal Federal já decidiuque a pessoa que no afã de agredir determinada servidora de um
posto de saúde, adentra ao recinto e, com gritaria e algazarra, perturba a todos que ali se encontravam,
pratica a contravenção penal de perturbação do sossego.
A perturbação do trabalho de uma funcionária e de um médico no hospital, mediante gritaria e algazarras,
con�gura a contravenção penal de perturbação do sossego.
A realização de festa com gritaria e algazarras, bem como a execução de som em volume alto, viola a
tranquilidade dos vizinhos e caracteriza a contravenção penal de perturbação do sossego.
Algumas lojas mantêm seus funcionários na calçada com microfone anunciando os produtos com o �m de
atrair clientes, o que é mais comum nos centros das cidades. Caso o som seja compatível com o barulho local,
não haverá contravenção penal de perturbação de sossego, em que pese esta ocorrer, mas não a ponto de
merecer a tutela penal., em razão do barulho razoável e normal no dia a dia ser comum à vida.
d.2) Perturbação mediante o exercício de pro�ssão incômoda ou ruidosa, em desacordo com as
prescrições legais;
Trata-se de norma penal em branco, isto é, exige-se para a sua con�guração a presença de outra lei (norma
penal em branco homogênea) ou norma administrativa (norma penal em branco heterogênea) que limite ou
de�na as condições para o funcionamento da atividade pro�ssional que ao ser infringida e perturbar o
trabalho ou sossego alheios, caracterizará a contravenção penal em análise.
Pro�ssão incômoda é aquela cujo o seu exercício importuna ou causa algum tipo de desconforto, como a
construção civil.
Pro�ssão ruidosa é aquela que causa ruídos, sons ou barulhos que incomodam, como uma indústria em
funcionamento que faz alto barulho.
Quando o tipo contravencional diz “prescrições legais” utiliza o termo “legais” de forma genérica, o que
permite abranger abrange toda a legislação (leis e normas)
Ricardo Andreucci ensina que:
(…) para a caracterização dessa contravenção, é necessário que haja um diploma disciplinado das
atividades laboriosas, emanado do poder público competente, estabelecendo o horário de
funcionamento de indústrias, fábricas, igrejas, bares, restaurantes, e quaisquer outros
estabelecimentos comerciais. Jurisprudência (TACrimSP – RT, 671/349): “Em tema de conduta
contravencional consistente em perturbação do trabalho ou do sossego alheios pelo exercício de
pro�ssão incômoda ou ruidosa, em desacordo coma as prescrições legais, não se tendo produzido
nenhum elemento de convicção acerca da existência ou vigência de lei, postura, ou ato administrativo ou
regulamentação municipal disciplinadores das atividades públicas suscetíveis de gerar atribulações
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sonoras ou ruidosas, descabe cogitar de capitular o evento no inciso II do art. 42 do Dec-Lei nº 3.688/41,
norma penal em branco”.
Em Belo Horizonte, a Lei n. 9.505/08 dispõe que são tolerados os ruídos e sons provenientes dos serviços de
construção civil no período compreendido entre 10:00 h e 17:00 h (art. 10, I). Portanto, caso haja perturbação
decorrente da construção civil fora desse intervalo de tempo, haverá a prática de contravenção penal de
perturbação de sossego decorrente do exercício de pro�ssão incômoda.
Caso uma fábrica barulhenta tenha autorização para funcionar até as 18:00 horas, mas exceda esse horário e
provoque pertubação do trabalho ou do sossego alheios, haverá a prática da contravenção penal prevista no
art. 42, II, do Decreto-Lei n. 3.688/1941.
Em Belo Horizonte, a Lei n. 9.505/08 dispõe que são tolerados os ruídos e sons provenientes dos serviços de
construção civil no período compreendido entre 10:00 h e 17:00 h (art. 10, I). Portanto, caso haja perturbação
decorrente da construção civil fora desse intervalo de tempo, haverá a prática de contravenção penal de
perturbação de sossego decorrente do exercício de pro�ssão incômoda.
Na hipótese em que inexistir qualquer lei ou norma que limite ou imponha condições para o exercício da
pro�ssão que está a gerar incômodo ou ruídos, não há que se falar em contravenção penal de perturbação
de sossego.
d.3) Perturbação mediante abuso de instrumentos sonoros ou sinais acústicos;
Abuso consiste em excesso. É aquilo que extrapola, é o que foge do razoável, do bom senso.
Instrumentos sonoros são os que emitem som, como os aparelhos de música (violão, guitarra, teclado,
piano).
Sinais acústicos são os aparelhos de som, como as caixas de som, as televisões, aparelhos de rádio, o som do
carro.
Os sinais acústicos emitidos por viaturas policiais, por ambulâncias e por outros veículos o�ciais, quando
devidamente empregados, não caracterizam perturbação do trabalho ou do sossego alheios, uma vez que a
atuação decorrerá do estrito cumprimento do dever legal, podendo-se, ainda, considerar o fato como atípico
em razão da ausência de antinormatividade (teoria da tipicidade conglobante).
O proprietário de um estabelecimento comercial que perturba a vizinhança de modo signi�cativo com a
manutenção de som alto e algazarras em seu bar, pratica o ilícito descrito no art. 42, inc. III, da LCP.
Uma pessoa que realiza festa particular com excessivo volume de som e incomoda vizinhos, pratica a
contravenção penal em estudo.
O dono de bar que realiza apresentações e músicas ao vivo e causa barulho acima dos limites tolerado, em
horário avançado, pratica contravenção penal de perturbação de sossego, sendo irrelevantes a autorização
para funcionamento do estabelecimento ou a mudança posterior da conduta.
d.3.1) Perturbação do trabalho e do sossego alheios em razão do carnaval e de eventos festivos;
Em épocas festivas, como o carnaval que ocorre em todo o Brasil, ocasião em que é utilizado som alto
decorrente do uso de instrumentos sonoros, sinais acústicos, além da gritaria e algazarra, pelas ruas da
cidade, deve haver uma maior tolerância, em razão dos costumes, da adequação social e do direito ao lazer
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(art. 4º do Decreto-Lei n. 4.657/42; art. 6º da CF). Deve-se levar em consideração também que eventos festivos
ocorrem periodicamente, como o carnaval que é realizado uma vez por ano e em todo o país.
Nesse sentido, o Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul já autorizou a realização de carnaval de
rua em razão do direito ao lazer e pela impossibilidade de se assegurar a imposição absoluta do direito ao
sossego.
AGRAVO DE INSTRUMENTO. DIREITO AMBIENTAL AÇÃO CIVIL PÚBLICA. ALEGAÇÕES DE POLUIÇÃO
SONORA E PERTURBAÇÃO DO SOSSEGO. CARNAVAL DE RUA DO MUNICÍPIO DE CASCA. LIMINAR DE
PROIBIÇÃO. DESCABIMENTO. Diante da existência de diversos valores em exame, dentre os quais os
direitos ao sossego e ao meio-ambiente saudável, bem como o direito ao lazer, diante do contexto
probatório e não havendo como concluir pela preponderância absoluta dos primeiros a ponto de
proibir a realização do carnaval de rua no Município de Casca, evento comemorado em todo o País,
sob pena de impor excessiva limitação ao lazer, ensejando o indeferimento da liminar. Hipótese em
que a Municipalidade, em audiência de justi�cação prévia com a presença de representantes de vários
setores da comunidade, comprometeu-se à realização de diversas medidas, a �m de preservar os
interesses da coletividade, no exercício do poder de polícia. (TJ-RS – AG: 70041364522 RS, Relator: Carlos
Eduardo Zietlow Duro, Data de Julgamento: 23/02/2011, Vigésima Segunda Câmara Cível, Data de
Publicação: Diário da Justiça do dia 02/03/2011)
O Tribunal de Justiça de Minas Gerais já decidiu pela manutenção do carnaval de rua em razão da proteção ao
patrimônio histórico, dos direitos culturais, do lazer, do turismoe da tradição em se realizar o evento.
(…) 2- Concessão de antecipação de tutela, em ação civil pública, no sentido de proibição de realização de
festividades de carnaval, na área central de município, ao fundamento de vulneração da segurança e
sossego público, bem como de danos ao patrimônio arquitetônico e histórico. 3 – Direitos do cidadão,
constitucionalmente garantidos, de segurança e de sossego públicos, da mesma forma que é dever
do Poder Público, e da Comunidade, a proteção e preservação do patrimônio histórico, como
preceitua o § 1º, do art. 216, da CF\88. 4- Contrapartida, pela consideração da previsão constitucional ao
pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, bem como ao direito
constitucionalmente garantido ao lazer, além do fomento ao turismo e economia locais, como
forma do poder, que possui o ente público municipal, de propulsão da comunidade local. 5-
Necessidade, para a disciplina da medida antecipatória concedida, de ponderação dos interesses e
princípios constitucionais envolvidos. 6- Presença, na legislação estadual e municipal, de exceção de
posturas. Razoabilidade, em razão da natureza anual e isolada do evento. 7- Eventual responsabilização
por ato ilícito, se ocorrente, que ser buscada na via adequada, contra os devidos causadores, ausente
motivo su�cientemente razoável para privar a comunidade de comemorar o carnaval em sua cidade. 8–
Poder Público Municipal que é dotado de meios para garantir a segurança e o sossego públicos,
através da requisição de policiamento e segurança pública, a �m de coibir os eventuais excessos
dos foliões, retiradas de veículos de locais de estacionamento proibido, etc., sem que tenha de se
impedir a realização da tradicional festividade. 9- Elementos probatórios colacionados aos autos, que
indicam a impossibilidade de realização das festividades em outro local da cidade. 10 – Tradicional
realização das festividades carnavalescas no centro da cidade, aliada à impossibilidade, até então
demonstrada, de realização dos eventos em outro local do Município, que induz a necessidade de
manutenção provisória da realização das festividades nos espaços públicos onde é
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tradicionalmente comemorada, não sendo razoável o abrupto impedimento. (…) (TJ-MG – AI:
10028140026270001 MG, Relator: Sandra Fonseca, Data de Julgamento: 16/12/2015, Câmaras Cíveis / 6ª
CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação: 18/12/2015)
Não se quer dizer que nesses períodos não possa ocorrer a contravenção penal de perturbação de sossego,
todavia a veri�cação desta contravenção durante o carnaval deve ter parâmetros que se adaptem à realidade
do momento, podendo, para tanto, ser utilizado os horários de autorização para o funcionamento do
carnaval de rua, o horário limite do uso do som e os locais autorizados a utilizarem o som.
Tome como exemplo um palco instalado na praça de uma cidade, autorizado pela prefeitura a ter música até
as 02:00. Passado o horário, o som continua no palco, em volume alto, e incomoda os moradores locais.
Haverá a prática de contravenção penal de perturbação de sossego.
Não se trata de criar um horário para de�nir quando será perturbação de sossego ou não, pois o direito ao
sossego e tranquilidade não tem horário. Ocorre que se trata de uma excepcionalidade decorrente de um
evento festivo periódico, aceito socialmente, o que legitima uma maior tolerância pelos moradores que
residam nas proximidades do local que emite som alto.
Caso haja a instalação de palco em local não autorizado, o incômodo decorrente do som alto caracterizará a
contravenção penal de perturbação de sossego, pois não há que se falar em aplicação da adequação social e
do costume para a realização de um evento não autorizado legalmente, pois o Poder Público, em tese, estuda
e analisa os pontos de foco e concentração para autorizar as festividades de acordo com a realidade local.
O princípio da adequação social, concebido por Hans Welzel, exclui a tipicidade material. O fato será atípico.
Carnaval não é uma pro�ssão incômoda ou ruidosa. É um evento cultural, razão pela qual não há que se falar
em perturbação de sossego mediante o exercício de pro�ssão incômoda ou ruidosa, em desacordo com as
prescrições legais.
d.4) Perturbação provocando ou não procurando impedir barulho produzido por animal de que tem a
guarda;
Provocar é dar causa, é originar. Não procurar impedir é não evitar, não fazer cessar ou pelo menos tentar
fazer cessar.
O barulho pode ser emitido por qualquer animal (cachorro, gatos, pássaros).
Ter a guarda signi�ca ter sob sua responsabilidade, seja o dono do animal ou não.
O agente que atua “provocando” estimula o animal a fazer barulho, enquanto que o agente que atua “não
procurando impedir”, tem ciência do barulho emitido pelo animal, mas nada faz para cessá-lo ou diminuí-lo.
Um morador que possui cães que latem muito durante o dia, o que incomoda vizinhos, e nada faz para cessar
a perturbação, pratica a contravenção penal de perturbação de sossego por omissão. Neste caso o morador
deve adotar meios para manter a paz e o sossego, como instalar isolamento acústico ou cuidar dos cães para
que façam menos barulho, no limite do tolerável, como eventuais latidos durante o dia.
Caso o morador estimule os cães a latirem em sua casa, o que incomoda vizinhos, também praticará
contravenção penal de perturbação de sossego, dessa vez por ação.
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Em condomínios não é possível proibir de maneira absoluta que os moradores tenham animais, desde que
não perturbe o sossego, a segurança, a saúde e a higiene.
e) Classi�cação da infração penal
A perturbação de sossego é uma infração penal comum, pois pode ser praticada por qualquer pessoa; pode
ser praticada mediante ação ou omissão, neste caso quando o responsável por animal não toma as medidas
necessárias para que este cesse os barulhos; é uma contravenção penal material, isto é, exige-se a ocorrência
de efetiva perturbação, é necessário que haja várias pessoas que se sintam incomodadas; a sua prática é de
forma vinculada, pois somente pode ser praticada nas formas indicadas pelos incisos I a V do art. 42 da Lei de
Contravenções Penais; é unissubjetivo, pois pode ser praticado somente por uma pessoa ou por várias; é
plurissubsistente, pois a perturbação do sossego ocorre mediante a prática de vários atos e não de um só.
Em tese, as infrações penais plurissubsistentes admitem tentativa, ocorre que nas contravenções penais a
tentativa não é punível (art. 4° do Decreto-Lei n. 3.688/41).
No plano fático é possível que haja tentativa em uma contravenção penal, todavia esta não é punível por
opção legislativa.
f) Consumação. Como comprovar a consumação da perturbação de sossego? É possível que haja
perturbação de sossego em razão de uma denúncia anônima ou reclamação de somente uma pessoa?
A consumação ocorre a partir do momento em que é perturbado o trabalho ou o sossego de várias pessoas.
Nota-se que o caput do art. 42 da Lei de Contravenções Penais diz: perturbar o trabalho ou o sossego alheios
(alheios, no plural, o que indica uma pluralidade de pessoas, uma vez que esta contravenção penal está no
capítulo das contravenções que tutelam a paz pública).
Não há que se falar em paz pública de duas pessoas. Não é possível de�nir um mínimo de pessoas para que
seja possível a ocorrência da perturbação de sossego, devendo-se, no entanto, considerar pelo menos três
pessoas, o que deve ser aferido caso a caso, pois essas três pessoas podem ser moradores de uma mesma
casa, dormirem no mesmo quarto, o que não é su�ciente para caracterizar a contravenção penal, pois mais
importantedo que atingir um número mínimo de pessoas é a perturbação atingir locais diversos, casas
diversas, pois a paz pública é violada quando o incômodo atinge uma coletividade e, naturalmente, ao
perturbar um morador de uma casa perturbará outros moradores dessa mesma casa, o que não demonstra
que a paz pública foi violada.
É possível que a contravenção penal de perturbação de sossego esteja consumada, ainda que somente uma
pessoa tenha ligado para o 190 e não se identi�que, pois a exigência da presença de vítimas/testemunhas
visa provar a ocorrência da contravenção penal e não con�gurar a sua existência, já que a vítima é a
coletividade. Quem reclama do som alto não é obrigado a comparecer ao local para que a polícia tome
providências, mas será obrigado a fornecer os dados para ser arrolado como vítima/testemunha (arts. 201,
202 e 206, todos do CPP).
É possível que haja denúncia anônima de perturbação de sossego ou que somente uma pessoa acione a
polícia, todavia os policiais que atenderem a ocorrência deverão constatar a prática da perturbação.
A prova da perturbação de sossego pode ocorrer por qualquer meio idôneo, como gravação do barulho em
uma distância que possa dizer objetivamente que está havendo perturbação de sossego, como gravar em
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imagem e som a uma distância de alguns quarteirões do local dos fatos, somado às diversas ligações
recebidas via 190, que poderão ser comprovadas por registro das gravações que ocorrem no 190.
Nesse sentido, “não se exige, para a con�guração da contravenção penal do art. 42, III, embora
recomendável, que sejam perfeitamente identi�cadas e nominadas, tampouco inquiridas, as vítimas da
perturbação do sossego. Su�ciente é a prova de que o som excessivo tenha provocado perturbação ao
sossego dos vizinhos, que, em mais de uma ocasião, acionaram os policiais militares à residência do acusado.
Se a contravenção penal está comprovada pelo depoimento de policiais militares, acionados por vizinhos
perturbados com o barulho de som mecânico, os quais constataram o excessivo volume do som produzido
pela festa particular, está con�gurada a contravenção penal. Sabe-se que a contravenção penal de
perturbação de sossego alheio não é delito que deixa vestígios, a ponto de se exigir que sua comprovação se
dê somente por exame pericial, ou que seja necessário medir, por equipamento próprio, o barulho
provocado pelo aparelho de som.”
Caso não haja identi�cação do que representaria a coletividade atingida, como a ausência de qualquer
vítima ou testemunha ou de �lmagens ou de qualquer prova, não há que se falar em pertubação de
sossego.
Na hipótese em que não houver perturbação à paz social, o fato é atípico, pois exige-se para a consumação
da perturbação de sossego que haja um incômodo coletivo, plural e não somente de uma única pessoa.
Nesse sentido, já decidiu o Supremo Tribunal Federal.
Habeas Corpus. 2. Contravenção Penal. 3. Perturbação do Trabalho ou Sossego Alheios. 4. Atipicidade da
conduta. 5. Ausência de perturbação à paz social. 6. Falta de justa causa. 7. Ordem concedida. (STF –
HC: 85032 RJ, Relator: Min. GILMAR MENDES, Data de Julgamento: 17/05/2005, Segunda Turma, Data de
Publicação: DJ 10-06-2005 PP-00060 EMENT VOL-02195-02 PP-00288 RTJ VOL-00193-03 PP-01069 RJSP v.
53, n. 333, 2005, p. 139-141 RMDPPP v. 2, n. 7, 2005, p. 110-113)
O relator Ministro Gilmar Mendes fundamentou em seu voto no HC n. 85032 que:
Conforme a orientação doutrinária, o bem jurídico tutelado é a paz pública, a tranqüilidade da
coletividade, não existindo a contravenção quando o fato atinge uma única pessoa. A objetividade aí
não se refere ao repouso individual, mas ao da coletividade: A simples susceptibilidade de um
individuo, a sua maior intolerância ou a irritabilidade de um neurastênico não é gradua a
responsabilidade. A excitação auditiva, a percepção dolorosa de sons agudos, a hiperacusia de
alguém não é o que justi�ca a repressão.
No caso, a denúncia (�. 45) descreve um fato que atingiria apenas o morador do apartamento do andar
inferior, donde a não tipi�cação da contravenção do art. 42. Nem é o caso de se cogitar de
enquadramento na contravenção do art. 65 pois, para tanto, além da ofensa à tranqüilidade pessoal,
seria necessária, também, a descrição dos elementos subjetivos do tipo, acinte ou motivo reprovável.” (�s.
129-131)
Com efeito, o interesse tutelado pelo tipo contravencional se refere às pessoas “in genere”. Tal como
a�rma Marcello Jardim Linhares, “o sujeito passivo da contravenção é a coletividade indistinta que em
realidade concreta se identi�ca numa pluralidade de pessoas vivas em determinado ambiente, embora
mais restrito, porque não ocorre a identi�cação das pessoas singulares que tenham sofrido a
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perturbação.” (LINHARES, Marcello Jardim. Contravenções Penais. São Paulo: Saraiva, 1980, v.1, p. 363)
Sobre este tema, vale destacar os seguintes comentários ao art. 42 da Lei de Contravencoes Penais: “A
excitação auditiva, a percepção dolorosa de sons agudos, a hipercusia de alguém não é que
justi�ca a repressão. A perturbação deve, assim, ser incômoda aos que habitam um quarteirão,
residem em uma vila, se recolhem a um hospital, freqüentam uma biblioteca.” (DUARTE, José.
Comentários a Lei das Contravenções Penais. São Paulo: Forense, 1958, v.2, p. 179) “Já tem a
jurisprudência decidido que �cará a critério do juiz a apreciação de cada caso de perturbação, quer do
trabalho, quer do sossego, não se devendo levar em conta o excesso de suscetibilidade do queixoso,
mas sim a sensibilidade média dos cidadãos. Não bastará, para a integração da contravenção, a
perturbação que só atinja um indivíduo ou um número muito restrito de pessoas.” (COSTA LEITE,
Manoel Carlos. Lei das Contravencoes Penais. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1976, p. 166)
“Cabe considerar, inicialmente, que o simples fato de alguém, por qualquer motivo ou capricho, ou
ainda ser portador de qualquer irritabilidade, se sentir perturbado em seu trabalho ou em sua
tranqüilidade por fatos sem importância, pensamos, não ocorrer a �gura em estudo. Necessário,
pois, que a perturbação seja analisada, devidamente considerados os seus elementos em concreto,
para que se caracterize a �gura aqui estudada.” (FIDA, Orlando; GUIMARÃES, Carlos A. M.; BIASOLI,
Ângelo. Comentários à Lei das Contravencoes Penais. São Paulo: Livraria Editora Universitária de Direito,
1974, p. 65)
O fato de uma ou mais pessoas serem mais suscetíveis a se irritarem com barulho não caracteriza a
perturbação de sossego. O barulho tem que ser aferido de tal forma que cause incômodo para o homem
médio.
É desnecessário que haja um número excessivo de vítimas, sendo su�ciente a prova de que a coletividade foi
afetada, como comprovar o alto barulho a uma distância considerável do local do som ou que moradores de
casas diferentes foram perturbados.
Caso o som alto ocorra em local isolado, que não seja área residencial, como em um sítio, não há que se falar
em perturbação de sossego, em razão da inexistência da coletividade para �gurar como vítima, o que
caracteriza impropriedade absoluta do objeto (aplicação do instituto do crime impossível às contravenções
penais).
O som alto que limita-se a um espaço fechado, seja dentro de uma casa ou salão de festas, não caracteriza
perturbação de sossego, pois esta caracteriza-se quando atinge a coletividade. Assim, o morador de uma casa
que está com som alto, mas local, em razão de uma festa de outro morador, e que aciona a polícia com o �m
de silenciar o barulho local, não deve ser atendido, mas somente orientado via 190 que não se trata de “casode polícia”, salvo se os ânimos locais estiverem a�orados e o caso puder evoluir para fatos graves.
f.1) É necessário que haja a produção de prova técnica (perícia) para a comprovação da perturbação de
sossego?
Não é necessária a realização de perícia ou a utilização de um decibelímetro para aferir se há perturbação de
sossego, pois o tipo contravencional exige somente a perturbação do trabalho ou do sossego alheios, o que
pode ser comprovado por qualquer meio de prova admitido no direito.
A jurisprudência é pací�ca pela desnecessidade de realização de perícia para comprovar a ocorrência de
perturbação de sossego.
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http://www.jusbrasil.com.br/topicos/11737484/artigo-42-do-decreto-lei-n-3688-de-03-de-outubro-de-1941
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/110062/lei-das-contravencoes-penais-decreto-lei-3688-41
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/110062/lei-das-contravencoes-penais-decreto-lei-3688-41
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/110062/lei-das-contravencoes-penais-decreto-lei-3688-41
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Deve-se destacar, no entanto, que a perícia somente não será necessária quando houver outras provas que
demonstrem a prática da contravenção penal de perturbação de sossego.
g)A perturbação do sossego está condicionada a horário, local ou intensidade do som? Existe lei do
silêncio?
A crença popular de que a perturbação de sossego só pode ocorrer após as 22:00 horas ou qualquer outro
horário não é verdadeira, uma vez que a Lei de Contravenções Penais não delimita horários para que haja
perturbação de sossego, podendo esta ocorrer a qualquer hora do dia ou da noite e em qualquer local que
haja a possibilidade de perturbação do sossego da coletividade.
A intensidade do som deve ser su�ciente para provocar o desconforto e incômodo a outras pessoas, o que
deve ser aferido de acordo com o homem médio. Isto é, o barulho é su�ciente para incomodar uma pessoa
que esteja dentro dos padrões “de normalidade” da sociedade, no sentido de não ser sensível a barulhos,
causador de problemas ou se irritar facilmente com os desconfortos do dia a dia?
A conhecida “lei do silêncio” trata de leis municipais que versem sobre o controle de ruídos e sons nos
municípios, sem que inter�ra na infração penal de perturbação de sossego prevista no art. 42 do Decreto-Lei
n. 3.688/41. Geralmente, essas leis possuem previsão de sanções administrativas para as hipóteses de
perturbação de sossego.
Em Belo Horizonte, a Lei n. 9.505, de 23 de janeiro de 2008, é conhecida como Lei do Silêncio e proíbe a
emissão de ruídos, sons e vibrações, produzidos de forma que: I – ponha em perigo ou prejudique a saúde
individual ou coletiva; II – cause danos de qualquer natureza às propriedades públicas ou privadas; III – cause
incômodo de qualquer natureza; IV – cause perturbação ao sossego ou ao bem-estar públicos; V – ultrapasse
os níveis �xados nesta Lei (art. 2º).
Os artigos 3º e 4º estipulam os horários e o limite de decibéis dentro do município de Belo Horizonte.
Horário Níveis máximos de decibéis
07:01 às 19:00 70
19:01 às 22:00 60
22:01 às 23:59 50
00:00 às 07:00 45
Quando a propriedade em que se dá o suposto incômodo tratar-se de escola, creche, biblioteca pública,
cemitério, hospital, ambulatório, casa de saúde ou similar, deverão ser atendidos os menores limites: a) em
período diurno: 55 dB; b) em período vespertino: 50; c) em período noturno: 45 dB.
A violação ao disposto na lei municipal de Belo Horizonte pode acarretar em advertência; multa; interdição
parcial ou total da atividade, até a correção das irregularidades; cassação do Alvará de Localização e
Funcionamento de Atividades ou de licença (art. 13).
A �scalização do cumprimento do limite de decibéis em um município pode ocorrer por servidores do próprio
município, pela Guarda Municipal ou pela Polícia Militar, contudo será necessário possuir equipamento
técnico para aferir os decibéis.
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O respeito ao quantitativo de decibéis limitado por um município afasta a prática da contravenção penal de
perturbação de sossego, em razão da teoria da tipicidade conglobante (ausência de conduta antinormativa),
pois não se tem como punir o que a própria lei autoriza. A interpretação da tipicidade exige a análise de todo
emaranhado de normas, razão pela qual se a própria lei permite que durante o dia uma pessoa faça barulho
até tantos decibéis, não há fundamento para permitir a sua punição, por estar “dentro dos limites da lei”.
De qualquer forma, repita-se, o art. 42 da Lei de Contravenções Penais não exigiu quantitativos de decibéis
para aferir se há perturbação de sossego, devendo-se avaliar pelo homem médio, o que possibilita, inclusive,
que não seja constatada a prática de infração administrativa, mas se comprove a prática de infração penal,
pois esta não exige avaliação técnica, aquela sim, já que tem que aferir os decibéis.
Em síntese, para �ns de infração administrativa, por exigir quantitativo de decibéis, é necessária a produção
de prova técnica; para �ns penais, não se exige a prova técnica, razão pela qual é possível admitir qualquer
meio de prova admitido no direito.
A Lei n. 9.505/08 (Lei do Silêncio de Belo Horizonte/MG) traz consequências administrativas (multa) para
quem descumprir os limites de decibéis previstos na lei, mas não ressalva a possibilidade daquele que
descumprir a Lei do Silêncio responder criminalmente.
A jurisprudência é pací�ca que quando a própria lei já impõe consequências cíveis ou administrativas, sem
ressalvar a possibilidade da responsabilização criminal, é porque o legislador já entendeu que aquelas
punições, por si sós, são su�cientes para atingirem o caráter preventivo e sancionador da conduta ilícita,
razão pela qual não se deve invocar o direito penal, que possui caráter subsidiário no tocante à aplicação de
punições, por poder atingir um direito fundamental de elevada importância, a liberdade.
Dessa forma, nos municípios que possuem Lei do Silêncio e imponha as sanções para o caso de
descumprimento, é possível a prática de contravenção penal de perturbação de sossego? Entendo que
sim, pois a Lei do Silêncio, como a de Belo Horizonte, impõe limites de decibéis, o que é desnecessário para a
prática da contravenção penal de perturbação de sossego. Pode ocorrer de haver infração administrativa em
razão do desrespeito ao limite previsto na Lei do Silêncio, mas não haver perturbação de sossego, por não ter
ocorrido uma perturbação coletiva. Nota-se que são critérios distintos, razão pela qual é possível cumular a
infração administrativa com a criminal, ainda que a lei que preveja a infração administrativa não tenha feito
essa ressalva. Além do mais, é no mínimo questionável a possibilidade de uma lei municipal trazer uma
infração administrativa e por via transversas impossibilitar a aplicação de uma lei de conteúdo criminal, já
que a matéria de direito criminal compete à União legislar.
h) E se a perturbação de sossego decorrer do exercício da liberdade religiosa?
O art. 5º, VI, da Constituição Federal assegura o livre exercício dos cultos religiosos como um direito
fundamental.
O direito à paz e a viver livre de perturbações encontra previsão constitucional, em razão do disposto no art.
144 da Constituição Federal, que assegura o direito à preservação da ordem pública que subdivide-se em
salubridade, tranquilidade e segurança pública. A tranquilidade pública, por sua vez, abrange o direito ao
sossego e à possibilidade de viver em paz em seu sentido mais amplo, sem que haja perturbações de ordem
criminal ou cível.
O direito ao sossego entre vizinhos encontra previsão no art. 1.277 do Código Civil.16
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Art. 1.277. O proprietário ou o possuidor de um prédio tem o direito de fazer cessar as interferências
prejudiciais à segurança, ao sossego e à saúde dos que o habitam, provocadas pela utilização de propriedade
vizinha.
Luciano Casaroti leciona que:
A liberdade de culto garantida pelo art. 5º, inc. IV, da Constituição Federal, não serve para excluir a
tipicidade dos responsáveis, pois o sossego e a tranquilidade alheia são bens jurídicos tutelados
pelo ordenamento jurídico, de sorte que não é permitido a ninguém perturbar o trabalho ou
sossego alheio com exercício de atividade ruinosa mesmo em se tratando de cultos religiosos. A
propósito: Incorre nas sanções do art. 42, I e III, da LCP, os agentes que, durante cultos religiosos
realizados durante a noite nos dias de semana e sábados, perturbam os vizinhos da sede da Igreja,
utilizando-se de microfones e guitarras elétricas em volume alto, promovendo gritarias, lamentações e
cânticos” (TACRIM-SP – RJD27/174)
Ricardo Andreucci cita julgado em que um pastor foi absolvido da prática da contravenção penal de
perturbação de sossego pelo fato de inexistir limites previstos em lei ou em ato municipal em relação aos
cultos religiosos.
Embora normalmente ruidosas, pelo clamor dos �éis e pelo uso de guitarras, ampli�cadores e alto-falantes,
as reuniões de oração da igreja Pentecostal Deus é Amor só tipi�cariam a contravenção do art. 42 da lei
especí�ca se violassem os limites eventualmente previstos em lei ou ato municipal disciplinadores das
práticas públicas desse culto religioso. Logo, inexistindo prova da existência de norma ou medida nesse
sentido, impõe-se a absolvição do pastor responsável por tais atividade” (TACrimSP – RT, 624/324)
Ocorre que ainda que não exista nenhum ato normativo que limite os decibéis ou a forma de exercício do
culto religioso, este não pode causar grandes incômodos aos vizinhos, pois o direito ao sossego dos vizinhos
encontra-se previsto no art. 1.277 do Código Civil, além de também ser um direito constitucional.
Deve haver uma ponderação de valores de forma que se permita a realização de cultos com os barulhos
naturais de um evento religioso, sem excessos e incômodos excessivos. Para tanto, os locais que realizam
cultos (igrejas ou até mesmo em residências) devem moderar a intensidade do som ou realizar obras
necessárias para que haja isolamento acústico.
Nesse sentido, já decidiu o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo
“Vizinhança. Obrigação de fazer e indenização. Preliminar rejeitada. Barulho excessivo decorrente dos
cultos da igreja ré. Comprovação. De rigor a condenação da ré a promover obras necessárias para a
contenção do som. Liberdade religiosa que não autoriza ignorar a perturbação do sossego alheio.
Precedentes da jurisprudência. Danos morais constatados. Valor da indenização que não comporta
redução” (Ap. 0000786-74.2014.8.26.0480, 36ª Câm. Dir. Privado do TJSP, j. 03.03.16, rel. Milton Carvalho).
“Direito de vizinhança. Ação de obrigação de fazer c/c indenização por danos materiais e morais. Imóvel
utilizado para culto religioso. Barulho excessivo. Perturbação do sossego. Uso nocivo da propriedade.
Inteligência dos artigos 1.277 e 187 do Código Civil. Sentença de parcial procedência mantida.” (Ap.
017810-06.2016.8.26.0003, 34ª Câm. Dir. Privado do TJSP, j. 14.03.18, rel. L. G. Costa Wagner)
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Por óbvio as pessoas devem saber conviver harmoniosamente em sociedade e os barulhos do dia a dia
devem ser toleráveis, como a da realização de uma construção civil; de uma igreja; de uma escola, no
intervalo; de um estádio de futebol no dia de jogo; do trânsito; de um bar e restaurante com música
ambiente, dentre outros.
O exercício da atividade religiosa (art. 5º, VI, da CF) não permite barulhos estrondosos e perturbações
excessivas, como se o som estivesse dentro da casa vizinha, pois todos direitos fundamentais possuem
limites para o seu exercício e a convivência social em paz deve, igualmente, ser protegida (art. 144 da CF c/c
art. 1.277 do CC).
i) Competência e natureza da ação penal
A Súmula n. 38 do Superior Tribunal de Justiça dispõe que “Compete à Justiça Estadual Comum, na vigência da
Constituição de 1988, o processo por contravenção penal, ainda que praticada em detrimento de bens, serviços ou
interesse da União ou de suas entidades.”
A referida súmula encontra-se em consonância com o art. 109, IV, da Constituição Federal.
Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:
IV – os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou interesse da
União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, excluídas as contravenções e ressalvada
a competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral;
Caso haja a perturbação de um trabalho da União, ainda assim, a competência para processar e julgar a
contravenção penal será da Justiça Estadual.
O Superior Tribunal de Justiça já decidiu que ainda que haja “conexão probatória entre contravenção penal e
crime de competência da Justiça Comum Federal, aquela deverá ser julgada na Justiça Comum Estadual.
Nessa hipótese, não incide o entendimento de que compete à Justiça Federal processar e julgar,
uni�cadamente, os crimes conexos de competência federal e estadual (súmula n.º 122 desta Corte), pois tal
determinação, de índole legal, não pode se sobrepor ao dispositivo de extração constitucional que veda o
julgamento de contravenções por Juiz Federal (art. 109, inciso IV, da Constituição da República).”
Nas hipóteses em que houver foro por prerrogativa de função, por decorrer de previsão constitucional, a
contravenção penal deverá ser julgada pelo tribunal competente – e não pela justiça comum -, como a
hipótese em que um Juiz Federal ou Procurador da República pratica contravenção penal, o que remete a
competência para o processo e julgamento ao tribunal regional federal (art. 108, I, “a”, da CF).
As contravenções penais praticadas pelas autoridades que possuem foro por prerrogativa de função nos
tribunais superiores (STF e STJ), são por eles julgados.
Não é possível que as contravenções penais sejam consideradas de natureza militar, pois o art. 9º, II, do
Código Penal Militar prevê a possibilidade de haver infração penal militar prevista fora do Código Penal Militar
somente se for crime.
Logo, uma perturbação de sossego praticada em local sujeito à administração militar, por militares em
serviço, será competência da Justiça Comum.
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A ação penal das contravenções penais é de natureza pública incondicionada, nos termos do art. 17 da Lei de
Contravenções Penais.
Art. 17. A ação penal é pública, devendo a autoridade proceder de ofício.
Em que pese não mencionar expressamente que a ação é pública incondicionada, o simples fato de dizer que
é pública, sem especi�car se é condicionada ou incondicionada, deve ser interpretado como pública
incondicionada, pois a regra das ações na esfera penal é que somente serão condicionadas ou privadas
quando a lei disser expressamente (art. 107 do CP). O silêncio ou a simples menção à natureza pública deve
ser interpretado como pública incondicionada.
Art. 100 – A ação penal é pública, salvo quando a lei expressamente a declara privativa do ofendido.
(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Pelo fato da ação penal ser de natureza pública incondicionada, obrigatoriamente, o estado deve tomar todas
as providências legais, independentemente,de pedido ou autorização do ofendido.
Ainda que não haja qualquer solicitação, a polícia deve adotar providências, desde que seja possível constatar
que há perturbação de sossego, o que, na prática, resta, praticamente, inviabilizado se não houver pelo
menos uma pessoa para relatar a perturbação, ainda que as demais não demonstrem interesse.
O Memorando n. 32.276.3/09 da Polícia Militar de Minas Gerais trata da atuação da Polícia Militar nas
ocorrências de perturbação de sossego e no item “k” assegura que:
Argumenta-se, em alguns círculos, que o art. 17 da Lei de Contravenções Penais estabelece que todas
contravenções são de ação penal pública incondicionada e que assim a Polícia Ostensiva deveria agir de
ofício, independentemente de haver um solicitante que se sinta perturbado, ou seja, uma vítima do delito.
Entretanto, salienta-se que a ação penal é o direito ou o poder-dever de provocar o Poder Judiciário
para que decida o con�ito nascido com a prática de conduta de�nida em lei como crime. A ação
policial não confunde-se com a ação penal;
Com efeito, a ação policial não se confunde com a ação penal. Ocorre que determinadas ações policiais
somente são possíveis de serem executadas se houver autorização da vítima, pois a ação penal, em que pese
ser o direito ou o poder-dever de provocar o Poder Judiciário, irradia efeitos desde a prática da infração
penal, pois a investigação criminal sequer pode se iniciar se não houver autorização da vítima quando a ação
for de natureza pública condicionada ou incondicionada e o delegado não deve lavrar o auto de prisão em
�agrante se a vítima não autorizar, ainda que informalmente, a tomada de providências (art. 5º, §§ 4º e 5º, do
CPP). Além do mais, nas ações penais de natureza pública incondicionada, o policial tem a obrigação de levar
o agente capturado à presença do Delegado de Polícia para a adoção das providências de polícia judiciária.
Isto é, ação penal e ação policial não se confundem, mas esta depende da natureza daquela, pois a vítima
pode dispensar a tomada de providências pelo Estado e os policiais, nestes casos, devem se limitar a lavrar o
Boletim de Ocorrência para futuros �ns. Caso os policiais veri�quem no local que os ânimos estejam
a�orados, ainda que a vítima dispense a adoção de providências, nada tem de ilegal conduzir as partes para a
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http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm#art100
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Delegacia de Polícia, com o �m de restabelecer a paz e garantir a tranquilidade social , que é missão dos
órgãos de segurança pública (art. 144 da CF).
j) Atuação policial na contravenção penal de perturbação de sossego. Cabe prisão em �agrante? É
possível entrar na residência? É possível apreender o som? Onde a ocorrência deve ser encerrada?
Não é incomum que a Polícia Militar seja acionada para atender a ocorrências de perturbação de sossego,
sobretudo no período noturno.
Por vezes as pessoas que acionam a Polícia Militar pretendem, somente, que os policiais compareçam ao
local e peçam para a pessoa que está com som alto, diminuir ou desligar o som.
Os policiais podem assim proceder?
Entendo que sim. Explico.
Em um primeiro momento a resposta tende a ser que a polícia deve conduzir o agente que está com som alto
à Delegacia por perturbação de sossego e apreender som, uma vez que a ação penal é pública
incondicionada e o Estado é obrigado a adotar as providências contra aqueles que praticam perturbação de
sossego. Uma outra opção seria a própria Polícia Militar lavrar o termo circunstanciado de ocorrência nos
estados que assim procedem. Esta solução não está errada e encontra amparo na lei (arts. 301 e 6º, II, ambos
do CPP).
Ocorre que a solução acima apontada pode não ser a melhor para o caso.
A perturbação de sossego é contravenção penal, razão pela qual submete-se ao rito previsto na Lei n.
9.099/95 que não admite a prisão em �agrante quando o agente assume o compromisso de comparecer ao
Juizado Especial Criminal (art. 69, parágrafo único).
Portanto, cabe a captura e condução do contraventor (aquele que pratica a contravenção penal), mas não
cabe a prisão, desde que assuma o compromisso de comparecer ao Juizado Especial Criminal.
A doutrina costuma dividir a prisão em �agrante em 04 (quatro) fases: captura; condução à autoridade
policial; lavratura do auto de prisão em �agrante e encarceramento. A Polícia Militar executa as duas
primeiras fases, salvo quando a própria Polícia Militar lavra o termo circunstanciado de ocorrência, ocasião
em que realiza somente a primeira fase.
A situação caracterizadora de �agrante de contravenção penal de perturbação de sossego autoriza o ingresso
em domicílio? Sim, pois a Constituição Federal autoriza no art. 5º, XI, o ingresso em casa na hipótese de
�agrante delito e o art. 302, I e II, do Código de Processo Penal considera em �agrante delito quem está
cometendo infração penal ou acaba de cometê-la. A infração penal subdivide-se em crime e contravenção
penal, na forma do art. 1º da Lei de Introdução ao Código Penal (Decreto-Lei n. 3.914/41).
Art 1º Considera-se crime a infração penal que a lei comina pena de reclusão ou de detenção, quer
isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa; contravenção, a infração
penal a que a lei comina, isoladamente, pena de prisão simples ou de multa, ou ambas, alternativa
ou cumulativamente.
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Portanto, é perfeitamente possível o ingresso em domicílio em razão da prática de qualquer
contravenção penal (art. 5º, XI, da CF c/c art. 302 do CPP c/c art. 1º da LICP).
A Lei n. 9.505/08 de Belo Horizonte autoriza o ingresso de agentes públicos nas residências e em locais que
emitem som alto em descumprimento à lei.
Art. 7º Para o cumprimento do disposto nesta Lei, o Executivo poderá utilizar-se, além dos recursos
técnicos e humanos de que dispõe, do concurso de outros órgãos ou entidades públicas ou privadas,
mediante convênios, contratos e credenciamento de agentes.
Parágrafo Único – Será franqueada aos agentes públicos e agentes credenciados pelo Executivo a
entrada nas dependências das fontes poluidoras localizadas ou a se instalarem no Município, onde
poderão permanecer pelo tempo que se �zer necessário, para as avaliações técnico-�scais do
cumprimento dos dispositivos desta Lei.
Tal previsão deve passar por uma leitura constitucional, com o �m de proteger o domicílio quando não
houver a prática de infração penal que autorize o ingresso (art. 5º, XI, da CF). Portanto, na hipótese de
ocorrência somente de infração administrativa, os agentes públicos não estão autorizados a entrarem nas
dependências das fontes poluidoras quando estas constituírem um domicílio.
Em que pese ser legalmente possível o ingresso em residência quando o agente praticar perturbação
de sossego, é viável? Os policiais devem entrar na casa para fazer cessar o barulho de som alto?
A regra é a inviolabilidade domiciliar, que é um direito fundamental (art. 5º, XI, da CF), sendo, inclusive, crime
de abuso de autoridade o ingresso ilegal (art. 22 da Lei n. 13.869/2019), o que não ocorre na hipótese em que
os policiais adentrem em razão da prática de contravenção penal (art. 22, § 2º, da Lei n. 13.869/2019).
Ocorre que o policial deve atuar como um paci�cador de con�itos e um garantidor de direitos fundamentais,
devendo, sempre que houver espaço para tanto, adotar a decisão mais razoável e proporcional, de forma que
haja um equilíbrio na preservação do direito à paz pública e do direito à inviolabilidade domiciliar e a
preservação da liberdade dos envolvidos.
O art. 20 da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro– Decreto-Lei n. 4.657/42 -, com a redação dada
pela Lei n. 13.655, de 2018, prevê que na esfera administrativa não se decidirá com base em valores jurídicos
abstratos sem que sejam consideradas as consequências práticas da decisão, previsão esta que pode e deve
ser aplicada ao policial na rua que poderá avaliar em uma ocorrência qual é a melhor solução a ser dada, sem
que descumpra a lei e adote a melhor decisão prática que harmonize os direitos em con�ito.
Deve-se observar, ainda, o princípio da paci�cação social de con�itos e a função social da lei, que é manter a
paz social e a harmonia.
A aplicação do direito penal é subsidiária, este é a ultima ratio, e deve ser aplicado quando as demais áreas de
controle social não surtirem efeito. Salienta-se, ainda, que a perturbação de sossego é contravenção penal
(um crime anão) e seria, su�cientemente, resolvida, na esfera administrativa.
Nesse contexto, surge a �gura do “policial conciliador”, que é aquele ponderado e aplicador do direito, que
não se limita a aplicar a letra fria da lei, sem se preocupar com os efeitos que isso pode causar em uma
ocorrência.
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O “policial conciliador” aplica a lei, mas vai além e resolve o con�ito social, pois a aplicação da lei pode colocar
�m ao con�ito jurídico, mas não social.
Dessa forma, o policial, ao se deslocar a uma ocorrência de perturbação de sossego poderá limitar-se a
orientar (determinar) a pessoa que está com som alto dentro da residência a baixar o volume de forma que
não incomode terceiros e registrar esta determinação em um registro interno (Boletim de Ocorrência
Simpli�cado), para futuros �ns.
As pessoas que acionam a polícia para uma ocorrência de perturbação de sossego pretendem que o barulho
seja cessado e até preferem que esta seja a providência adotada para que não tenham que acompanhar o
registro da ocorrência, nem fornecer maiores dados, pois o sossego e a tranquilidade que se busca ao
acionar a polícia poderá ser interrompido de vez ao ter que acompanhar o registro da ocorrência.
Há uma ampla aceitação social de que essa providência – somente mandar cessar o som alto – seja adotada
nas ocorrências de perturbação social, sendo possível a aplicação do princípio da adequação social, o que
excluirá a tipicidade material da contravenção penal de perturbação de sossego.
O policial deve avaliar também o ambiente que contém o som alto, pois em festas e aglomeração de pessoas,
sobretudo com bebidas alcoólicas, o ingresso da polícia na residência, que não será ilegal, pode tomar
proporções catastró�cas, pois poderá haver briga generalizada, início de agressões e avanço dos presentes
para cima dos policiais, com tentativa de tomada de arma e disparos, o que pode resultar em lesão corporal e
em homicídio. Ou seja, uma simples ocorrência de perturbação de sossego pode se tornar em uma grave
ocorrência de homicídio. Essa leitura de cenário cabe aos policiais que atenderem a ocorrência.
Na hipótese em que a pessoa que esteja com som alto não atender à ordem do policial, seja para baixar o
som no momento em que recebe a ordem, seja após baixar e quando os policiais se retirarem do local,
aumentar o som, praticará o crime de desobediência (art. 330 do CP), sem prejuízo da contravenção penal de
perturbação de sossego (art. 42 do Decreto-Lei n. 3.688/41).
Portanto, uma situação que seria legalmente contornada, caso o agente tivesse atendido à ordem do policial,
tomará proporções maiores, pois o agente responderá pelo crime de desobediência e contravenção penal de
perturbação de sossego.
O Memorando n. 32.276.3/09 da Polícia Militar de Minas Gerais trata da atuação da Polícia Militar nas
ocorrências de perturbação de sossego e dispõe que:
4.1 Atender as reclamações a respeito de perturbação do sossego provocadas pelos estabelecimentos
comerciais, residenciais e de som de veículos, tomando de imediato as providências necessárias a
minimizar a situação e orientando o responsável a proceder o encerramento da perturbação, sob pena de
prisão pelo cometimento do crime de desobediência, apreensão dos instrumentos do crime e lavratura
do Boletim de Ocorrência;
4.2 No caso do delito de perturbação do sossego alheio cometido em residência particular, o policial
militar deverá ADVERTIR o proprietário da residência sobre a perturbação causada por gritaria, algazarra,
instrumentos sonoros ou sinais acústicos, fazendo com que cesse a perturbação. Persistindo a
perturbação, o policial militar deverá efetuar a prisão do infrator pelo cometimento do crime de
desobediência, LAVRAR o BO, efetuar a APREENSÃO do objeto causador da perturbação, se necessário;
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Em que pese a perturbação de sossego ser de ação penal pública incondicionada, tem sido comum nos
juizados especiais criminais a aplicação da composição civil e de acordos muitas vezes consistentes em um
“pedido de desculpas”, em razão da necessária paci�cação social dos con�itos, princípio fundamental do
processo penal, e informalidade que rege o Juizado Especial Criminal.
PERTURBAÇÃO DO SOSSEGO. COMPOSIÇÃO CIVIL. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE DA RÉ. POSSIBILIDADE. A
�nalidade conciliadora dos Juizados Especiais Criminais torna incompatível a persecução penal nos casos
em que as partes compõem voluntariamente o litígio, resultando na manifestação expressa da vontade
da vítima em encerrar a lide. Assim, tratando-se de contravenção penal de perturbação do sossego e
tendo o feito atingido a sua �nalidade, isto é, a paci�cação do con�ito, somado aos critérios
norteadores da informalidade, previstos no art. 62 da Lei 9.099/95, a conseqüência é a desistência
do direito de ação, não se justi�cando o prosseguimento do feito. RECURSO IMPROVIDO. (Recurso
Crime Nº 71005772355, Turma Recursal Criminal, Turmas Recursais, Relator: Luis Gustavo Zanella
Piccinin, Julgado em 04/07/2016). (TJ-RS – RC: 71005772355 RS, Relator: Luis Gustavo Zanella Piccinin, Data
de Julgamento: 04/07/2016, Turma Recursal Criminal, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia
13/07/2016.
Na hipótese em que o policial limitar-se a determinar que a pessoa que esteja com som alto diminua o
volume e a ordem seja devidamente cumprida, sem que haja maiores transtornos, é necessário registrar
termo circunstanciado de ocorrência ou comunicar os fatos para polícia judiciária?
Em razão do disposto no art. 69 da Lei n. 9.099/95, a resposta é sim, pois a autoridade policial que tomar
conhecimento da ocorrência de infração de menor potencial ofensivo, deverá lavrar o termo circunstanciado
e encaminhá-lo ao juizado. Caso a Polícia Militar não lavre o TCO, deve encaminhar o agente à Delegacia de
Polícia.
Ocorre que em razão de todos os fundamentos ora expostos, sobretudo o princípio da adequação social, não
se faz necessária a comunicação à polícia judiciária de advertência policial para que o agente abaixe o volume
do som, sendo su�ciente que esta ocorrência seja documentada para �ns administrativos e de controle do
próprio órgão policial.
A aplicação do princípio da adequação social permite, em situações excepcionais, que a sua análise e
aplicação ocorra diretamente pelo próprio policial, como é o caso da perturbação de sossego e do ato de
perfurar a orelha de uma bebê para a colocação de brincos, o que caracterizaria lesão corporal, mas o policial
ao visualizar essa prática em uma farmácia, por exemplo, não precisa tomar providências, sequer comunicar
a polícia judiciária, dada a ampla aceitação social.
O policial que assim procede não pratica nenhum crime, nem prevaricação, pois atua como um “policial
conciliador” e paci�cador de con�itos sociais, dentro da lei, em razãode todos os argumentos expostos, e não
visa satisfazer nenhum interesse ou sentimento pessoal.
De qualquer forma, o tema é polêmico e o policial deve buscar orientação junto ao Comando de sua
instituição que, por sua vez, poderá formalizar acordo com a Polícia Civil, Ministério Público e Judiciário locais
a respeito de como proceder nessas situações de perturbação de sossego.
Caso o som alto seja emitido de um bar ou local aberto ao público, obviamente, não precisará entrar em
domicílio para fazer cessar o som, salvo se a caixa de som estiver instalada na parte interna do bar (do balcão
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https://www.jusbrasil.com.br/topicos/11306151/artigo-62-da-lei-n-9099-de-26-de-setembro-de-1995
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/103497/lei-dos-juizados-especiais-lei-9099-95
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para dentro).
Pode ocorrer de uma festa com som alto ter muitas pessoas que estejam consumindo bebida alcoólica e
haver várias ligações para o 190 em razão da perturbação de sossego. O policial, ao chegar no local, pede
para baixar o som de forma que �que restrito ao ambiente local, mas o organizador da festa ignora a ordem
do policial. Neste caso terá praticado desobediência, além da contravenção penal de perturbação de sossego,
contudo o agente está dentro da casa e não desliga o som. O ingresso da polícia na residência, nestas
circunstâncias, não é ilegal, pois o agente está em �agrante delito, todavia, o ingresso da polícia é
conveniente? A ocorrência poderá evoluir para uma briga generalizada e provocar lesão corporal e até
mesmo homicídio? Será necessário reforço policial para o ingresso? O que fazer?
Esse tipo de ocorrência não é tão simples de se resolver. Penso que o policial deva analisar o todo, o nível de
incômodo do som, quem são os vizinhos (algum com problema de saúde que necessita descansar e não pode
esperar), o nível de tolerância do barulho, se há hospital por perto, dentre outros fatores, para então decidir a
providência a ser adotada, como entrar na residência à força ou somente registrar a ocorrência e encaminhar
para a polícia judiciária.
Imagine uma guarnição com dois policiais militares em atendimento a uma ocorrência de perturbação de
sossego com grande aglomeração de pessoas que bebem álcool, durante a madrugada, momento em que
não há a presença de outros policiais para apoiarem a ocorrência. Os ânimos estão exaltados e o som não é
reduzido após a ordem do policial. Os policiais devem ou não entrar na casa sozinhos e enfrentarem uma
grande quantidade de pessoas alteradas? Obviamente, que não. A segurança dos policiais está em risco, não
há efetivo em condições de dar uma resposta e uma ocorrência que até então era simples poderá se agravar.
Neste caso, é prudente que o policial registre a ocorrência e a encaminhe para a polícia judiciária. A
ocorrência será encerrada sem que o som seja reduzido. Trata-se da aplicação da excludente de ilicitude do
estado de necessidade em razão da omissão, pois o perigo deve ser enfrentado enquanto comportar
enfrentamento.
Uma solução equilibrada, se possível de ser adotada no local, é o corte de energia da residência que emite o
som alto, o que pode ser feito mediante o acionamento da concessionária de energia. Feito o corte de
energia, deve-se aguardar um tempo, no local ou não, a depender dos ânimos das pessoas presentes, para,
então, religá-la.
Os aparelhos de som utilizados na contravenção penal de perturbação de sossego devem ser apreendidos
(art. 6º, II, do CPP) e restituídos quando não interessarem mais ao processo (art. 118 do CPP), o que pode
ser feito pela autoridade policial ou pelo juiz, mediante termo nos autos, desde que não exista dúvida quanto
ao direito do reclamante (art. 120 do CPP).
Corrente em sentido diverso sustenta ser desproporcional a apreensão da aparelhagem sonora, dada a
desnecessidade de realização de perícia para a comprovação da materialidade, que pode ser suprida pela
prova testemunhal.
Caso o aparelho de som seja um objeto lícito e adquirido licitamente pelo proprietário, este deverá ser
restituído. Do contrário, eventual condenação poderá decretar a perda em favor da União, ressalvado o
direito do lesado ou de terceiro de boa-fé (art. 91, II, “a”, do CP).
Na hipótese em que ocorrer transação penal ou suspensão condicional do processo, não é possível que o juiz
determine o con�sco do bem apreendido com base no art. 91 do Código Penal, uma vez que a sentença é
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homologatória, sem qualquer juízo sobre a responsabilidade criminal da parte. As consequências desses
acordos previstos na Lei n. 9.099/95 são aqueles estipulados no próprio acordo.
No tocante ao local de encerramento da ocorrência, a regra é que esta seja direcionada à Polícia Civil, por
se tratar de contravenção penal, salvo nos casos em que a Polícia Militar lavrar o TCO, ocasião em que
direciona a ocorrência diretamente para o Juizado Especial Criminal.
Ocorre que é possível que a Polícia Federal investigue a prática de contravenção penal, uma vez que a justiça
competente para julgar as infrações penais não implica, necessariamente, na polícia que possui atribuição
para investigar. Em se tratando de contravenção penal, ainda que atente contra os interesses da União, a
competência para julgar será da Justiça Comum Estadual (art. 109, IV, da CF).
O art. 144, § 1º, I, da Constituição Federal especi�ca que cabe à Polícia Federal apurar as infrações penais
contra a ordem política e social ou em detrimento de bens, serviços e interesses da União.
Art. 144 (…)
§ 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente, organizado e mantido pela União e
estruturado em carreira, destina-se a: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)
I – apurar INFRAÇÕES PENAIS contra a ordem política e social ou em detrimento de bens, serviços e
interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas, assim como outras infrações
cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacional e exija repressão uniforme, segundo se
dispuser em lei;
Infrações penais é o gênero que abrange crime e contravenção penal. Dessa forma, a Polícia Federal poderá
investigar a prática de contravenção penal quando for praticada em detrimento de bens, serviços e interesses
da União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas, como a hipótese em que uma pessoa �nge
ser policial federal (art. 45 da Lei de Contravenções Penais) .
A perturbação de sossego pode atrair o interesse da União? Sim, como a hipótese em que for praticada
reiteradamente e prejudicar os serviços de órgãos da União, em razão do alto volume de som de um morador
que seja vizinho de prédios da União em que ocorre a prestação de serviço público federal.
Portanto, a ocorrência policial, caso a Polícia Militar não lavre o termo circunstanciado de ocorrência, poderá
ser encerrada na Delegacia de Polícia Civil ou da Polícia Federal.
k) Perturbação de sossego causada por veículo automotor
A Resolução n. 624, de 19/10/2016, do CONTRAN, regulamenta a �scalização de sons produzidos por
equipamentos utilizados em veículos, a que se refere o art. 228, do Código de Trânsito Brasileiro – CTB.
Art. 228. Usar no veículo equipamento com som em volume ou freqüência que não sejam autorizados
pelo CONTRAN:
Infração – grave;
Penalidade – multa;
Medida administrativa – retenção do veículo para regularização.
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http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc19.htm#art19
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O art. 1º veda a utilização por veículo de qualquer equipamento que produza som audível pelo lado de fora
do carro.
Art. 1º Fica proibida a utilização, em veículos de qualquer espécie, de equipamento que produza som
audível pelo lado externo, independentemente do volume ou freqüência, que perturbe o sossego público,
nas vias terrestres abertas à circulação.
Parágrafo único. O agente de trânsito deverá registrar, no campo de observações do auto de infração, a
forma de constatação do fato gerador da infração.
As exceções encontram-se dispostas no art. 2º da Resolução n. 624/16 do CONTRAN.
Art. 2º Excetuam-se do disposto no artigo 1º desta Resolução os ruídos produzidos por:
I – buzinas, alarmes, sinalizadores de marcha-à-ré, sirenes, pelo motor e demais componentes
obrigatórios do próprio veículo;
lI – veículos prestadores de serviço com emissão sonora de publicidade, divulgação, entretenimento e
comunicação, desde que estejam portando autorização emitida pelo órgão ou entidade local competente,
e
III – veículos de competição e os de entretenimento público, somente nos locais de competição ou de
apresentação devidamente estabelecidos e permitidos pelas autoridades competentes.
O art. 3º assevera que a inobservância do disposto na Resolução n. 624/16 do CONTRA caracteriza a infração
de trânsito prevista no art. 228 do CTB.
Isto é, basta descumprir a determinação contida na referida resolução no sentido do veículo utilizar de som
audível pelo lado externo, independentemente do volume ou frequência, que perturbe o sossego público,
para que esteja caracterizada a prática de infração de trânsito prevista no art. 228 do CTB.
Com o advento da Resolução n. 624, de 19/10/2016, do CONTRAN não é mais necessária a utilização de
decibelímetro para constatar a infração de trânsito prevista no art. 228 do CTB, uma vez que a Resolução n.
204/06 que limitava o som a 80 decibéis medido a 7 metros de distância do veículo foi revogada.
Nota-se que é necessário que haja a perturbação do sossego público, ou seja, o incômodo causado em várias
pessoas em razão do volume do som, ainda que estejam próximas ao veículo, pois o art. 1º da referida
resolução é claro ao dizer que proíbe-se a utilização, em veículos de qualquer espécie, de equipamento que
produza som audível pelo lado externo, independentemente do volume ou frequência, que perturbe o
sossego público, nas vias terrestres abertas à circulação.
Independentemente da origem do som no carro, seja o que vem embutido da fábrica, seja um som instalado
no veículo, como as caixas de som colocadas no porta-malas, haverá a infração de trânsito prevista no art.
228 do Código de Trânsito Brasileiro, quando houver um som alto que perturba o sossego público, pois esta
infração exige que seja utilizado no veículo “equipamento com som”, o que abrange qualquer equipamento
que emita sons e seja instalado no veículo.
A pessoa que utiliza o som do carro para colocar música em um volume alto em via pública, como na porta de
um bar ou de sua residência, pratica infração de trânsito (art.228 do CTB), pois o art. 1º da Resolução n. 624,
de 19/10/2016, do CONTRAN, proíbe a utilização de som que perturbe o sossego público nas vias terrestres
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abertas à circulação. Logo, a pessoa que utiliza de seu carro para colocar uma música em um volume alto
dentro de sua casa ou em seu sítio, não praticará infração de trânsito, sem prejuízo que pratique a
contravenção penal prevista no art. 42, III, da Lei de Contravenções Penais, por abusar de sinais acústicos.
O agente que utiliza o som do carro em um volume alto em via terrestre aberta à circulação, de forma que
perturbe o sossego público, não pratica infração penal, uma vez que o art. 228 do Código de Trânsito
Brasileiro, que é a infração de trânsito praticada pelo agente, não ressalva a possibilidade de
responsabilização criminal, nem há previsão no CTB de que esta conduta con�gura infração penal.
Quando a própria lei já impõe consequências cíveis ou administrativas, sem ressalvar a possibilidade da
responsabilização criminal, é porque o legislador já entendeu que aquelas punições, por si sós, são
su�cientes para atingirem o caráter preventivo e sancionador da conduta ilícita, razão pela qual não se deve
invocar o direito penal, que possui caráter subsidiário no tocante à aplicação de punições, por poder atingir
um direito fundamental de elevada importância, a liberdade. Trata-se de uma construção doutrinária e
jurisprudencial.
Nesse sentido a jurisprudência é pací�ca, devendo-se aplicar a mesma lógica do julgado abaixo, pois onde há
as mesmas razões, deve haver a mesma aplicação do direito.
Segundo jurisprudência deste Tribunal Superior, a desobediência de ordem de parada dada pela
autoridade de trânsito ou por seus agentes, ou mesmo por policiais ou outros agentes públicos no
exercício de atividades relacionadas ao trânsito, não constitui crime de desobediência, pois há
previsão de sanção administrativa especí�ca no art. 195 do Código de Trânsito Brasileiro, o qual
não estabelece a possibilidade de cumulação de sanção penal. Assim, em razão dos princípios da
subsidiariedade do Direito Penal e da intervenção mínima, inviável a responsabilização da conduta na
esfera criminal. (HC 369.082/SC, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 27/06/2017, DJe
01/08/2017)
Salienta-se haver entendimento diverso, no sentido de ser possível responsabilizar o agente pela infração de
trânsito (art.228 do CTB) e pela contravenção penal de perturbação de sossego (art. 42, III, do Decreto-Lei n.
3.688/41).
O policial, no exercício da função de agente de trânsito, além de lavrar a multa, deverá ordenar que o
responsável pelo veículo abaixe o som do carro quando este causar perturbação do sossego público, que é a
medida administrativa cabível ao caso. Na hipótese em que a ordem de abaixar o som for descumprida,
haverá a prática do crime de desobediência (art. 330 do CP).
O som do veículo, quando for destacável do carro, ou o próprio veículo, não deve ser “apreendido” quando
houver somente infração de trânsito, pois não há previsão dessa medida administrativa para a infração de
trânsito prevista no art. 228 do CTB. O veículo poderá ser apreendido somente se for utilizado para a prática
de infração penal, como a perturbação de sossego, cujo veículo seja o instrumento utilizado.
A jurisprudência diverge a respeito da legalidade da apreensão de veículo e do som causador de perturbação
de sossego. O entendimento favorável argumenta pela legalidade em razão de ser o objeto utilizado na
prática da infração penal, enquanto que o entendimento contrário sustenta ser desproporcional a
apreensão do veículo por não guardar relação direta e necessária com a conduta incriminada, o mesmo se
aplicando à aparelhagem sonora, dada a desnecessidade de realização de perícia para a comprovação da
materialidade, que pode ser suprida pela prova testemunhal.
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https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10603975/artigo-195-da-lei-n-9503-de-23-de-setembro-de-1997
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/91797/c%C3%B3digo-de-tr%C3%A2nsito-brasileiro-lei-9503-97
04/01/23, 11:59 A perturbação do trabalho ou do sossego alheios - Atividade Policial
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l) Distinções entre a perturbação de sossego (art. 42 do LCP) e perturbação da tranquilidade (art. 65 da
LCP)
Perturbação de sossego Perturbação da tranquilidade
Art. 42. Perturbar alguem o trabalho ou o sossego
alheios: I – com gritaria ou algazarra; II – exercendo
pro�ssão incômoda ou ruidosa, em desacordo com
as prescrições legais; III – abusando de instrumentos
sonoros ou sinais acústicos; IV – provocando ou não
procurando impedir barulho produzido por

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