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6 Formação do Processo

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FORMAÇÃO DO PROCESSO
O processo nasce com a propositura da demanda, que (art. 312) considera-se proposta quando a inicial for protocolada, surgindo a litispendência (pendência da causa). Todavia, ela só produz efeitos quanto ao réu depois que for validamente citado.
Petição inicial
Instrumento, forma da demanda, que é o conteúdo da inicial, ambas não se confundindo. Como a demanda tem a função de limitar a atividade jurisdicional, que não pode extrapolar os seus limites, é possível dizer que a inicial é um projeto de sentença: contém aquilo que o demandante almeja ser o conteúdo da decisão que vier a acolher o seu pedido.
Tem como requisitos, é caracterizada ser:
· Forma escrita: mesmo a do habeas corpus, que ao ser informal apenas não tem requisitos de forma para tal. Admite-se o pedido oral apenas em algumas situações no juizado, mas este acaba sendo reduzido a termo escrito, de qualquer forma;
· Assinatura: por quem tem capacidade postulatória, ou seja, capacidade para pedir, não necessariamente o advogado, a exemplo do MP, bem como o leigo, por exemplo, na ação de alimentos (art. 2º, lei 5.478/1968), no habeas corpus e Juizados Cíveis.
Ela é composta por, são seus elementos (art. 319):
1. Endereçamento: tem função de delimitar a quem a demanda está submetida. Deve indicar a comarca (unidade territorial da justiça dos Estados ou Seção judiciária, da justiça Federal) e o juiz (federal ou de direito);
2. Qualificação das partes: autor e réu, elementos subjetivos da demanda.
2.1 PF: nome, registro (CPF ou RG), endereço, profissão, estado civil e endereço eletrônico. Se o autor for nascituro, será identificado como “nascituro de (nome da mãe)”.
2.2 PJ: nome fantasia (razão social, se houver), qualificação do representante legal (devendo a inicial ser instruída com a carta constitutiva da PJ – contrato social ou estatuto - que comprove esta situação), os demais iguais aos da PF;
3. Tipo de ação: para verificar qual o rito a ser seguido;
4. Causa de pedir (causa petendi): elemento objetivo da demanda. O CPC adota a teoria da substancialização da causa, para a qual é necessária a indicação do fato constitutivo do pedido, enquanto para a da individuação é suficiente a dos fundamentos jurídicos. 
4.1 Fatos jurídicos (causa remota): fatos da vida judicializados pela incidência da hipótese normativa, fato constitutivo do direito alegado (causa remota ativa) e a lesão ao direito dela decorrente, que impulsiona o direito de agir (causa remota passiva). Assim, a pluralidade de fatos jurídicos implicará na pluralidade de demandas, e será composta a causa de pedir fundada em vários fatos individualizadores de uma única pretensão. Por exemplo, o art. 186 CC compõe-se de 4 elementos: conduta, culpa, nexo de causalidade e dano, de modo que só terá direito à indenização (responsabilidade civil, efeito jurídico) aquele que conseguir demonstrar a existência destes quatro requisitos (fato jurídico composto);
4.2 Fundamentos jurídicos (causa próxima): relação de direito/jurídica afirmada, relação substancial deduzida, resultante da ocorrência dos fatos previstos pela norma, não se confundindo com a fundamentação legal. Esta última, inclusive, é dispensável, não é preciso mencionar a lei a ser aplicada, podendo ser a doutrina ou jurisprudência o fundamento jurídico, visto que se presume que o judiciário conhece a lei. Esta presunção é relativa, não se aplicando à lei estrangeira ou municipal, apenas à federal ou estadual. 
5. Pedido: exigido em todo processo civil, sendo dispensado no constitucional, onde o pedido está implícito no restante da estrutura, visto que, diferente do civil, ele tem uma única finalidade (declaração de constitucionalidade ou não);
6. Valor da causa: já que todo processo civil tem cunho patrimonial, cuja fixação seguirá o que dispõem os arts. 291-293 do CPC;
7. Meios de prova: solicitação de quais deles se deseja fazer uso, sendo as partes intimadas a indica-los novamente na fase saneadora, podendo o julgador determinar a produção de provas de oficio (art. 370);
8. Opção ou não pela realização de audiência de conciliação/mediação: visto que para o alcance do acordo é preciso que ao menos uma das partes tenha interesse nele, o silencio sendo interpretado como aceite (sem ser indeferida a inicial);
9. Documentos necessários/indispensáveis (art. 320): a prova documental deve ser produzida no momento da postulação (art. 434). São indispensáveis aqueles que a lei exige para a propositura da demanda, variando de acordo com esta (como procuração quando o processo exigir a presença de um advogado). Amaral Santos chama estes de substanciais, e de fundamentais aqueles a que o autor se referiu na inicial.
 § 1º - “Caso não disponha das informações previstas no inciso II [qualificação], poderá o autor, na inicial, requerer ao juiz diligências necessárias a sua obtenção”. É característico das ações reperceptórias, como a reintegração de posse e processo re-possessório, de recuperação de coisa, como imóvel invadido pelo MST. § 2º - “A inicial não será indeferida se, apesar da falta destas informações, for possível a citação do réu”, sendo o autor intimado a se manifestar sobre outros meios que possibilitem encontra-lo. § 3º - “A inicial não será indeferida pelo não atendimento ao disposto no inciso II se a obtenção de tais informações tornar impossível ou excessivamente oneroso o acesso à justiça”.
Art. 321 – “O juiz, ao verificar que a inicial não preenche os requisitos ou que apresenta defeitos e irregularidades capazes de dificultar o julgamento de mérito, determinará que o autor, em 15 dias, a emende ou a complete, indicando com precisão o que deve ser corrigido ou completado”. Se a emenda for incorreta, será concedido novo prazo para tal, que se não for cumprido adequadamente, o juiz indeferirá a petição inicial – único.
Se efetuada a emenda após o prazo, não se justifica o indeferimento, pois sempre que o defeito for sanável deve o magistrado determinar a emenda, o que decorre, inclusive, do principio da cooperação. É possível, ainda, a emenda após a contestação, desde que não enseje modificação do pedido ou da causa de pedir sem o consentimento do réu, quando então não seria emenda, mas alteração ou aditamento da inicial.
O indeferimento indica problema neste instrumento, de forma/estrutura, nos pressupostos processuais, extinguindo o processo por ausência deles. Trata-se de decisão de admissibilidade, não de mérito, que apenas reconhece a impossibilidade de sua apreciação por meio daquele instrumento. Ele só ocorre no início do processo, antes da ouvida do réu, depois disso, se o juiz vier a acolher alguma alegação do réu, extinguirá o feito sem resolução do mérito por outro motivo. Ele pode acontecer havendo:
· Inépcia/inaptidão da inicial: não preenchimento dos requisitos, o que costuma acontecer na causa de pedir ou no pedido, a exemplo da indeterminação (como a não indicação de quais parcelas se deseja discutir em ação de revisão de contrato de empréstimo), causa de pedir incompleta (ausência de causa remota ativa, por exemplo) e cumulação de pedidos incompatíveis. São exemplos o pedido de dano moral por PJ quando o dano não afetou sua imagem e a incompatibilidade dos pedidos;
· Ilegitimidade da parte: não ter relação com os fatos relatados. Nas atividades terceirizadas, por exemplo, quem tem prejuízo e pode pedir indenização é a prestadora de serviços, não a contratante;
· Interesse de agir: necessidade e utilidade;
· Não indicação do endereço do advogado (art. 106);
· Requisitos especiais: como não apresentação do ato constitutivo em processo envolvendo PJ e de recolhimento de custas em processo fora do juizado.
O indeferimento pode ser total ou parcial, quando o juiz apenas rejeitar parte da demanda diante da cumulação de pedidos. Contra a decisão que o fizer caberá agravo de instrumento (art. 354, único). Art. 331 - havendo apelação contra a sentença que indefere a inicial, poderá o juiz, em 5 dias, rever a sua decisão e modificá-la, em juízo de retratação. O juiz não pode retratar-se, casoa apelação seja intempestiva, pois estaria, neste caso, revendo uma decisão transitada em julgado. Se não houver retratação o réu será intimado a oferecer contra-razões.
Pedido
É a providência que se pede ao judiciário, a pretensão material deduzida em juízo (tornando-se pretensão processual), objeto da demanda, efeito jurídico do fato posto como causa de pedir. Serve para de identificação da demanda para fins de verificação de conexão, litispendência, coisa julgada e para fixação do valor da causa. O pedido pode ser dividido em:
1. Mediato: providência jurisdicional pretendida, o que se pede do juiz - declaração, constituição ou condenação. Não pode ser indeterminado, para o juiz saber o que deve conceder ou não, e para possibilitar o contraditório, pois a parte precisa saber do que se defende. Por exemplo, é determinado o pedido de levantamento de bens de uma pessoa no inventário e de que o plano de saúde cubra os gastos com certo tratamento;
2. Imediato: bem da vida, resultado pratico da providência judicial, o que se pede da outra parte - o que será declarado ou constituído. Pode ser indeterminado se, por exemplo, não se sabe quais são os bens da pessoa e quais os gastos com o tratamento.
São seus requisitos:
- Certeza - art. 322
Deve ser expresso, não implícito, dúbio. Deve ser possível identificar qual a atividade jurisdicional requerida, se declaração, constituição ou condenação;
- Determinação - art. 324
Extensão da atividade jurisdicional sobre o objeto do processo, delimitação de gênero, qualidade e quantidade. § 1º - É lícito, porém, formular pedido (mediato) genérico, ou seja, genérico em relação à quantidade e qualidade, não ao gênero, sendo relativamente genérico:
I. “Nas ações universais, se o autor não puder individuar os bens demandados”: aquelas em que a pretensão recai sobre universalidade, de fato (art. 90, CC – pluralidade de bens singulares que, pertinentes à mesma pessoa, tenham destinação unitária, como o rebanho) ou de direito (art. 91 - complexo de relações jurídicas, de uma pessoa, dotadas de valor econômico, como o espólio). São exemplos processo de inventário, cujo objetivo é descobrir quais são os bens da pessoa, semelhante ao da falência;
II. “Quando não for possível determinar, desde logo, as consequências do ato ou do fato”: independente se ele é lícito ou não, já que a indenização pode decorrer de ato lícito ou ilícito. O juiz poderá levar em consideração fatos novos ocorridos depois da propositura da ação, para que possa proferir a sentença, que deve refletir o montante dos danos existente à época da sua prolação. É exemplo processo que pede a realização de cirurgia, visto que a diferença no lapso temporal entre o pedido e a realização ou não desta pode trazer consequências diferentes;
III. Quando a determinação do objeto ou do valor da condenação depender de ato que deva ser praticado pelo réu.
§ 2º O disposto neste artigo aplica-se à reconvenção.
Embora não precise quantificá-la, o autor deverá especificar a lesão, como os prejuízos correspondentes à perda da colheita de certa lavoura. O mesmo se aplica ao dano moral a não ser que verificada alguma das situações supracitadas, como o dano decorrente da inscrição em cadastro de inadimplentes, que ainda não foi retirada, continuando a produzir efeitos.
- Congruência/coerência
Respeitar uma estrutura de lógica relacionada a o que o Estado é capaz de oferecer, não sendo possível pedir que alguém de amor ou carinho ou alguém.
- Clareza
Precisa, ser claro, compreensível, inteligível. 
É possível a cumulação de pedidos, tornando composto o objeto do processo, inclusive porque toda condenação pressupõe uma condenação ou constituição. Ela pode ser:
1. Própria: que pretende o acolhimento simultâneo de todos. Pode ser: 
1.1 Sucessiva: um depende do outro, um depois do outro. É exemplo pedido de reconhecimento de paternidade, de capacidade econômica e de prestação de alimentos. Pode ocorrer de duas formas: o primeiro pedido é prejudicial ao segundo, de modo que seu não acolhimento implicará a rejeição (e, portanto, julgamento) do segundo; ou o primeiro pedido é preliminar ao segundo, de modo que seu não acolhimento implicará na impossibilidade de exame do segundo;
1.2 Simples: os pedidos são independentes, podendo ser parcialmente rejeitados.
2. Imprópria (art. 326): apenas um deles poderá ser deferido, o acolhimento de um implica a impossibilidade do acolhimento do outro. Pode ser:
2.1 Alternativa (art. 325): sem ordem de preferencia, pede-se uma coisa ou outra. É exemplo pedido para que alguém que foi contratado para fazer um muro para que o faça, pague alguém para fazê-lo ou devolva o dinheiro. O acolhimento de um e a rejeição do outro também não implicam sucumbência parcial do autor.
2.2 Subsidiária/eventual: com uma hierarquia, preferencia entre os pedidos. Pede- uma coisa apenas se a outra não for possível. É exemplo pedido para contratar alguém para fazer o muro apenas se não puder ele mesmo o fazer. A eles não se aplica o requisito de compatibilidade entre os pedidos (art. 327, § 3º), motivo pelo qual esta é a melhor técnica a ser usada. Por isto sempre há o valor de causa, possibilitando a subsidiariedade. Acolhido o pedido principal, está o juiz dispensado de examinar o subsidiário, que não ficará coberto pela coisa julgada. Se acolhido parcialmente o pedido principal deverá o magistrado examinar o subsidiário se for o caso de acolhê-lo integralmente, presumindo-se que o interesse do autor estaria mais bem atendido com a total procedência do subsidiário do que com a parcial procedência do principal. Poderá o autor, porém, impor recurso pedindo o principal. Só haverá sucumbência total do autor se todos os pedidos forem rejeitados.
Também pode ser:
· Inicial: pedida já na inicial;
· Ulterior: por meio de aditamento da inicial (art. 328, I), decorrente da impossibilidade de se cumprir o pedido inicial, surgindo a necessidade de se fazer outro. É exemplo caso em que a pessoa contratada vem a falecer antes de construí-lo.
Alguns autores consideram que qualquer ampliação objetiva do processo é uma cumulação ulterior de pedidos, como a reconvenção. Fala-se, então, em cumulação homogênea, quando os pedidos forem formulados pela mesma parte, e heterogênea ou contrastante caso contrário. Assim, nem sempre se aplica à cumulação heterogênea o requisito da compatibilidade dos pedidos. São requisitos para a cumulação (art. 327, § 1º):
I. Coerência na sua totalidade/compatibilidade de pedidos: por exemplo, não é possível pedir que não se reconheça uma dívida e ao mesmo tempo pedir que caso ela seja reconhecida não se reconheça a aplicação de juros em razão da falta de notificação. A incompatibilidade dos pedidos decorre do direito material, razão pela qual alguns autores usam a expressão incompatibilidade substancial;
II. Competência do juízo para a análise de todos os pedidos: não deve o magistrado indeferir totalmente a inicial se um dos pedidos cumulados fugir da sua competência, mas admitir que lhe é pertinente, rejeitando o outro (sum. 170 STJ e art. 45, § 1º e 2º CPC). Isto se aplica à incompetência absoluta, devendo o processo seguir normalmente se o réu não suscitar a relativa, em razão da conexão (art. 55, § 1º). É por isso que se admite a cumulação, no mesmo processo, de pedido de resolução do compromisso de compra e venda de imóvel (competência relativa) com o pleito reivindicatório do mesmo bem (competência absoluta);
III. Mesmo procedimento ou conversibilidade/adaptabilidade para o procedimento comum: se o procedimento a ser seguido não for o mesmo deverá ser seguido o comum (mesmo que tratam-se de pedidos que sigam dois procedimentos especiais diferentes) com as devidas adaptações, quando possível, ou seja, quando o legislador, ao prever um procedimento especial, possibilite que o uso do comum, sem ser obrigatório o especial. É exemplo pedido de nulidade de contrato e reintegração de posse de imóvel dele decorrente, que seguem procedimentos distintos, podendo, porém, a técnica da cognição limitada usada no possessório,ser inserida no comum. Isto não precisa acontecer desde o início/ab initio.
Art. 329, I – depois da citação é possível a alteração do objeto litigioso (pedidos) inicialmente delimitado, pelo aditamento da inicial, entre a citação do réu e o saneamento, contanto que com seu consentimento (II - negócio processual típico). Ele poderá ser:
1. Ampliado: é exemplo pedido de desconsideração da PJ diante do surgimento da existência de fraude no meio do processo, que amplia a discussão e os sujeitos.
2. Reduzido: é exemplo de redução do número de sujeitos situação em que, diante de uma dívida, alguns pagam e outros não. É exemplo de redução do objeto pedido de reconhecimento de paternidade, guarda e prestação de alimentos, diante de DNA que afirme a paternidade aceito pela parte, permanecendo o pedido de guarda e alimentos, bem como, diante de uma sentença que reconheça vários pedidos o recurso a só um deles reduz o objeto.
Caso contrário, em ambos os casos, haverá a preclusão do direito de defesa ou impugnação pertencente ao réu. Depois da fase saneadora nenhuma alteração poderá ser feita, mesmo com concordância das partes. Apenas eventuais correções de erros materiais da demanda podem ser feitas a qualquer tempo.
O juiz pode decidir com base em fundamentos que não foram apresentados, mas não pode extrapolar com relação aos fatos.
Se deferido, com os pedidos o autor faz uma primeira delimitação do objeto litigioso, limitando a atividade jurisdicional, limite este que se não for respeitado poderá classificar a decisão como extra-petita (o juiz decide outra coisa, que não foi pedida, coisa diversa do que foi pedido), ultra petita (além dos pedidos) ou citra-petita (aquém dos pedidos, faltou decidir).

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