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PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO HUMANO
Estudo científico sobre o desenvolvimento humano, que sistemático, adaptativo, e dura a vida toda (a exemplo do desenvolvimento do ciclo de vida). Estuda as fases, o ciclo vital. 
Metas
· Descrever: quando as crianças pronunciam suas primeiras palavras?
· Prever: o atraso no desenvolvimento da linguagem afeta a fala?
· Explicar: como as crianças aprendem a usar a linguagem?
· Modificar: a terapia pode ajudar nos atrasos de fala?
Períodos
· Período pré-natal: concepção ao nascimento, entendendo-se que o desenvolvimento humano começa na concepção;
· Primeira infância: nascimento a 3 anos;
· Segunda infância: 3 a 6 anos;
· Terceira infância: 6 a 11 anos;
· Adolescência: 11 a 20 anos;
· Adulto jovem: 20 a 40 anos;
· Vida adulta intermediária: 40 a 65 anos;
· Vida adulta tardia: 65 anos ou mais.
Mudança e estabilidade 
O desenvolvimento pode ser entendido em diversos sentidos:
· Físico: corpo, cérebro, sentidos, habilidades motoras e saúde;
· Cognitivo: aprendizagem, memória, julgamento moral, linguagem, pensamento e criatividade;
· Psicossocial: personalidade, vida emocional e relacionamentos.
Primeiras vocalizações
O reconhecimento dos sons precede a capacidade para a linguagem ainda na vida intra-uterina. O ritmo cardíaco dos fetos torna-se mais lento quando ouvem versos infantis familiares. São as formas pelas quais as crianças expressam emoção, expõem um significado através da fala:
· Choro - recém nascidos;
· Arrulhos: repetição de sons vocais, como “ahhhh” – 6 a 8 semanas;
· Balbucio: repetição de sons consonantais, como “ma-ma-ma” – 6 a 10 meses;
· Fala linguística: expressão verbal que transmite significado – 10 a 14 meses;
· Holofrase: sílabas simples com significados completos, como “pa” que pode significar “onde está o papai”;
· A “explosão de nomes” ocorre aos 16-24 meses.
Superdotação: Standford-Binet
Classificação geral dos níveis de QI:
UK IQ test:
É necessário lembrar que ser superdotado quando criança é muito diferente de ser superdotado quando adulto. Transformar a prodigalidade da infância na excelência do adulto sempre é o desafio mais difícil. A vida pode ser cruel e o destino pode colocar uma vida “de cabeça para baixo” em um instante. Os potenciais mais brilhantes, às vezes, tem que ser abandonados pelo cansativo trabalho de ganhar a vida. Um estudo na Austrália revelou que os superdotados eram mais depressivos e isolados. Relatavam “amarga infelicidade”.
Uma nota sobre inteligência:
· Estigma;
· Perspectiva homogeneizante;
Teoria das inteligências multiplas
1. Corporal/sinestésica: autocontrole corporal e coordenação motora;
2. Interpessoal:
2.1 Compreensão das pessoas: intenções, motivações, humores, temperamentos e desejos;
2.2 Relacionamento eficiente: respostas adequadas.
3. Intrapessoal:
3.1 Autoconhecimento e uso preciso: ideias, habilidades, necessidades, sonhos e desejos;
3.2 Gerenciamento: de emoções e sentimentos.
4. Naturalista: sensibilidade ao meio ambiente;
5. Linguística: 
5.1 Uso objetivo da linguagem: convencer, agradar, estimular, comunicar e relatar;
5.2 Escrita oral.
6. Musical: 
6.1 Percepção: de tons, timbres, ritmos e temas;
6.2 Reprodução e produção.
7. Lógico/matemática: 
7.1 Sensibilidade: a símbolos, relações e padrões;
7.2 Raciocínio lógico/dedutivo e solução de problemas.
8. Visual/espacial:
8.1 Percepção: formas espaciais, relações e padrões visuais;
8.2 Visualização em 3D: composição, transformação e equilíbrio.
Elaborada por Howard Gardner, em 1980, causou forte impacto na área educacional dos EUA. Seu interesse pelos processos de aprendizado já estava presente nos primeiros estudos de pós-graduação, quando pesquisou as descobertas do suíço Jean Piaget.
Natureza x criação
Este debate busca entender o que influencia no desenvolvimento humano, se a natureza (mediante influencias da genética e instintos) ou a criação.
Hereditariedade
Traços herdados de pais biológicos.
Os indivíduos variam no ritmo e no tempo de desenvolvimento devido...
O temperamento, por exemplo, é uma predisposição biológica de reatividade, altamente hereditário e estável. Assim pode-se alterar o humor de uma pessoa
Fácil
· Geralmente feliz;
· Responde bem à mudança e novidade.
Aquecimento
· Geralmente reações brandas;
· Hesitante sobre novas experiências.
Difícil
· Irretratável;
· Respostas emocionais intensas.
	Apego
	Comportamento infantil
	Seguro
	Brinca livremente quando a mãe está próxima; feliz quando a mãe retorna
	Inseguro-resistente
	Fica em torno da mãe; bravo quando a mãe retorna
	Desorganizado
	Incoerente e errático; parece muito estressado
Quatro grandes mudanças nos bebês:
· O córtex cerebral torna-se funcional;
· Os lobos frontais interagem com o sistema límbico;
· O bebê desenvolve autoconsciência e consciência;
· Alterações hormonais coincidem com as emoções avaliadoras.
Ambiente
Influências físicas e sociais, sobretudo aquelas ligadas à pobreza, tornam crianças e adolescentes mais propensas à:
· Ter problemas emocionais e comportamentais;
· Não atingir o potencial cognitivo;
· Apresentar desempenho escolar mais fraco.
	Consequência
	Aumento do risco para atraso desenvolvimental
	Saúde
	
	Morte na infância
	1,6 vezes
	Nascimento prematuro
	1,8 vezes
	Assistência pré-natal inadequada
	2,8 vezes
	Nenhuma assistência médica regular
	2,7 vezes
	Educação
	
	Repete uma série
	2 vezes
	Abandono da escola (16 a 24 anos)
	3,5 vezes
Tais influencias podem ser normativas ou não:
· Normativas: eventos que moldam atitudes de uma geração histórica, que um grupo que vivencia um evento num período formativo. Por exemplo, pessoas que viveram na Segunda Guerra Mundial tem fortes laços sociais entre si;
· Não-normativas: eventos não usuais que afetam a vida dos indivíduos, como eventos típicos em épocas atípicas (a exemplo da puberdade aos 20 anos e casamento na adolescência) ou eventos atípicos (como malformações durante o nascimento e ganhar na loteria).
O ambiente também molda a personalidade com os cuidadores, por meio das interações com adultos durante atividades, que são influenciadas por diferenças culturais. Por exemplo, crianças norte-americanas participam de mais atividades lúdicas enquanto crianças guatemaltecas participam de mais atividades de trabalho.
Maturação
Sequencias de padrões físicos e comportamentais.
Crianças e adolescentes como sujeitos de direitos
· Revolução industrial e as novas famílias/arranjos alternativos;
· Movimento feminista;
· Pílula anticoncepcional;
· Inseminação in-vitro;
· Movimento hippie.
O debate acerca dos direitos de crianças e adolescentes constitui tema fundamental na contemporaneidade, considerando-se que os avanços jurídicos não garantiram na prática a implementação de tais direitos.
O “menor” se distinguia dos adultos segundo critérios biológicos de idade (positivismo criminológico - Lombroso), quando o indivíduo se encontra em processo de socialização e de desenvolvimento físico-psíquico. O conceito ainda se caracterizou, especialmente no século XIX, por selecionar as crianças e os adolescentes que não tiveram acesso às, ou foram expulsos das, instituições básicas de socialização e de controle social existentes para esta faixa da sociedade: a família e a escola.
O Estado brasileiro, nos últimos anos, vem desenvolvendo políticas públicas contraditórias: de um lado busca atingir a inclusão social dos segmentos menos favorecidos, por outro tais ações estão circunscritas no nível de políticas públicas compensatórias.
Dessa forma os avanços adquiridos no contexto jurídico, influenciados pelas declarações e convenções internacionais, constituem um processo lento e demandam esforços políticos no campo das políticas públicas.
A ONU teve papel fundamental na construção dos direitos das crianças e adolescentes. Com a Declaração Universal dos Direitos do Homem, em 1948, foi estabelecido o marco para o reconhecimento dos direitos humanos das crianças e adolescentes, conforme art. 25, § 2º: “a maternidade e a infância têm direito a cuidados e assistência especiais. Todas as crianças nascidasdentro ou fora do matrimônio, gozarão da mesma proteção social”.
A Declaração Universal dos Direitos da Criança, de 1959, que foi adotada por unanimidade pelos 78 Estados-Membros da ONU, reconheceu que “a humanidade deve à criança o melhor de seus esforços”. Assim, ela estabeleceu uma mudança de paradigma no que diz respeito à proteção da criança, a qual passou a ser vista como sujeito de direitos, ao se instituir o Princípio do Melhor Interesse.
Os princípios protetivos da criança nela contidos são:
· Direito à igualdade, sem distinção de raça, religião ou nacionalidade;
· Direito a especial proteção para seu desenvolvimento físico, mental e social;
· Direito a um nome e uma nacionalidade;
· Direito à alimentação, moradia e assistência médica adequadas para a criança e a mãe;
· Direito à educação e a cuidados especiais para a criança física ou mentalmente deficiente;
· Direito ao amor e à compreensão por parte dos pais e da sociedade;
· Direito à educação gratuita e ao lazer infantil;
· Direito a ser socorrido em primeiro lugar em caso de catástrofes;
· Direito a ser protegido contra o abandono e a exploração no trabalho;
· Direito a crescer dentro de um espírito de solidariedade, compreensão, amizade e justiça entre os povos.
Embora veicule princípios gerais de direito, o que poderia lhe conferir o caráter de jus cogens, do ponto de vista prático, sua força obrigacional é questionável, uma vez que: “não conseguiu traduzir-se em medidas efetivas de proteção à criança, consubstanciando-se, mais no embrião de uma nova doutrina relativa aos cuidados com a criança [...] do que num instrumento ativo de consolidação de tais direitos”.
É nesse contexto que surge, na Assembleia Geral das ONU, a Convenção sobre os Direitos da Criança, em 1989. Em seu art. 1º, ela define criança como “todo o ser humano com menos de 18 anos de idade, a não ser que, pela legislação aplicável, a maioridade seja atingida mais cedo”.
Os pilares fundamentais nos quais ela está alicerçada são:
· A não-discriminação;
· O interesse superior da criança;
· A igualdade de oportunidades;
· Garantia de acesso a serviços básicos, além do respeito à opinião da criança.
Os direitos fundamentais da criança podem ser identificados a partir do art. 2º, de modo especial o direito à vida (art. 6º), os direitos de expressão e de manifestação do pensamento (arts. 12 a 14), os direitos à alimentação e à saúde (art. 24), direitos à educação, à cultura e ao lazer (arts. 17, 18, 28. 29 e 31), direitos a nome e a nacionalidade (art. 7º), direito à convivência familiar (art. 9º, 10º, 20) e o direito à liberdade (art. 37), sem discriminação de qualquer natureza. A Convenção atribui ainda aos Estados-Partes o dever de assegurar tais direitos.
Assim, a possibilidade de uma moderna visão sobre o “menor” se estruturou a partir da consolidação do Estado de Bem-Estar. Seu reconhecimento, a nível formal, como sujeito de direito, é uma construção recente, de finais do século XX, que se vincula à atividade estatal.
É importante analisar as novas pautas de regulação e de intervenção do Estado em relação aos adolescentes, de maneira que o exercício do poder punitivo estatal não entre em conflito com os seus direitos, e verificar se a proposta garantista realmente corresponde à efetividade destes direitos.
ECA 
Buscou direcionar políticas públicas que atendam tanto à criança e ao adolescente em situação de risco social, como aos adolescentes autores de ato infracional, visando à aplicação de medidas de proteção no primeiro caso e socioeducativas no segundo. Até 1927, com o código de menores, a adolescência não era considerada uma fase, sendo considerados mini-adultos, sofrendo as mesmas sanções que eles.
Distintamente da normativa internacional, o ECA estabelece, em seu art. 2º que criança é a pessoa até 12 anos de idade incompletos e adolescente aquela que conte com idade entre 12 e 18 anos. 
O ECA dispõe sobre a proteção integral à criança e ao adolescente, especificando uma rede de direitos e deveres que devem ser alvo de aplicação dos mecanismos sociais próprios ao estabelecimento da ordem social. Isto inclui as ações na área de saúde e no âmbito do judiciário, por exemplo.
- Conselho tutelar
Previsto no art. 131, é órgão permanente e autônomo, não jurisdicional, encarregado de zelar pelos direitos da criança e do adolescente. Encontra-se em contato direto com a população.
Observa-se que as queixas relativas à violação dos direitos de crianças e adolescentes, em geral, são dirigidas a esse órgão, o qual deve estar em sintonia com o judiciário local, a fim de que as informações e as ações sejam harmoniosas. Trata-se de autoridade pública municipal. Nos centros urbanos maiores e mais complexos, esse órgão pode funcionar de maneira interdisciplinar, com advogado, psicólogo, pedagogo, assistente social, administrador, além dos próprios conselheiros.
Suas principais atribuições são: atender crianças que necessitem de proteção, sempre que seus direitos forem ameaçados ou violados; atuar junto às instituições de aplicação das medidas socioeducativas; encaminhar ao Ministério Público a notícia de fato que constitua infração administrativa ou penal contra os direitos da criança e do adolescente.
Medidas de Proteção - art. 101
Art. 101 - Verificada qualquer das hipóteses previstas no art. 98, a autoridade competente poderá determinar, dentre outras, as seguintes medidas:
I. Encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo de responsabilidade;
II. Orientação, apoio e acompanhamento temporários;
III. Matrícula e frequência obrigatórias em estabelecimento oficial de ensino fundamental;
IV. Inclusão em serviços e programas oficiais ou comunitários de proteção, apoio e promoção da família, da criança e do adolescente;
V. Requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime hospitalar ou ambulatorial;
VI. Inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos;
VII. Acolhimento institucional; 
VIII. Inclusão em programa de acolhimento familiar;
IX. Colocação em família substituta.
- Atos infracionais
O ECA dispõe, no art. 112, as seguintes medidas que podem ser aplicadas na ocorrência de ato infracional praticado por adolescente, dentre elas:
· Advertência;
· Obrigação de reparar o dano;
· Prestação de serviços à comunidade;
· Liberdade assistida;
· Inserção em regime de semiliberdade;
· Internação em estabelecimento educacional.
Como modelo de justiça juvenil, o ECA se caracteriza por incorporar limites à intervenção estatal pela prática de atos infracionais próprios do Direito Penal.
O art. 100 do ECA estabelece expressamente que “Na aplicação das medidas levar-se-ão em conta as necessidades pedagógicas, preferindo-se aquelas que visem ao fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários”. Desta forma, a finalidade educativa também marca, no modelo brasileiro, a pauta de intervenção legítima do Estado, através de medidas de prevenção e repressão aos casos em que os adolescentes entram em conflito com a lei.
Para esses casos foram criados os tribunais de menores, de caráter essencialmente paternalista-repressivo, os quais, no âmbito positivista, substituíram o tratamento jurídico da criminalidade dos “menores” por um tratamento educativo-terapêutico
O controle do “menor” estendia-se para além da prática de condutas tipificadas como delito, para alcançar todos que se situassem no padrão da irregularidade.
Nesse cenário, o juiz tinha poderes extremamente amplos - com grande espaço para a arbitrariedade - de modo que os conflitos, que deveriam ser situados na esfera das políticas sociais, resultaram por ser apropriados pelo Estado e, assim, judicializados.
Cerca de dois terços das crianças em todo o mundo com idades entre dois e 14 anos – quase 1 bilhão – são submetidas a punições físicas por seus cuidadores de forma regular. E no entanto, apenas um terço dos adultos acredita que a punição física seja necessária para criar ou educar propriamente uma criança. 
Para Anthony Lake, diretor executivoda UNICEF: “Violência gera violência. Sabemos que crianças que experimentam abusos são mais propensas a ver a violência como algo normal, até mesmo aceitável e têm mais probabilidade de perpetuar a violência contra suas próprias crianças no futuro”. Ele adiciona que os efeitos da violência infantil alteram o desenvolvimento cerebral e causam danos à saúde física, mental e emocional dos meninos e meninas. Isto se aplica ao bullyng: comportamento repetitivo intencional que busca a inversão de poder.
Modelos de justiça juvenil
Tutelar
Modelo paternalista, coincide com o surgimento da categoria “menor”. Criou mecanismos para encobrir uma marcada atuação, repressiva e paternalista, buscando suporte em súplicas de ajuda humanitária e se traduziu no grande laboratório de práticas do positivismo criminológico.
O modelo de justiça de menores, representado institucionalmente pelos tribunais de menores, estruturou-se a partir de uma série de procedimentos defensivos, educativos e curativos adaptados aos graus da periculosidade e à capacidade de readaptação daqueles delinquentes, conscientes mas com uma vontade imatura.
Estava à serviço dos imperativos da defesa social e atribuindo às medidas impostas (primordialmente o internamento) o fundamento da prevenção especial, ou seja, a possibilidade de ressocialização através de medidas educativas e curativas.
Os tribunais de mores expandiram sua esfera de competência para além da prática de delitos, interferindo preventivamente no âmbito da vida privada do menor, cerceando sua liberdade, também quando este se encontrava em situação irregular, ou seja, quando duas condições pessoais, familiares e sociais indicavam um prognóstico de periculosidade.
Além do mais, o procedimento para a adoção de medidas era desenvolvido sem as garantias jurídicas típicas do Estado de direito garantista, de maneira que o que existiu foi um autêntico sistema paternalista e repressor.
Educativo
Período de transição que não é muito nítido, podendo coexistir os modelos até o momento atual.
Surge em alguns países da Europa como oferta de Estado de Bem-Estar e tem como proposta o distanciamento dos menores do sistema penal através da aplicação de medidas educativas extrajudiciais, não necessariamente envolvendo a privação de liberdade, englobando outros sistemas como o de saúde, em resposta à prática de condutas antissociais.
Nele prevalece o critério das necessidades do menor, estritamente vinculado à ideologia da necessidade de educação (imposição da educação), o que permitiu a introdução de técnicas desjudicializadas e não formalizadas em prol da não estigmatização do menor.
As mudanças, enunciadas como positivas, não representaram, entretanto, uma transformação significativa com respeito ao modelo anterior. Isto porque se manteve a ampla possibilidade de interferência do Estado na vida privada do indivíduo, através de instâncias administrativas de atendimento.
A interferência se justificava para a imposição de medidas consideradas educativas ou assistenciais, mas que, paradoxalmente, significavam a efetiva restrição de direitos, além de resultar na estigmatização dos “menores” ante a ausência de distinção, para efeito do atendimento, entre infratores da norma penal, “menores” abandonados, enfermos mentais, em processo de desestruturação familiar, etc. Realidade que, em parte, explicava-se pela não aplicação de garantias jurídicas.
O principal argumento a favor do modelo educativo – o distanciamento do “menor” dos estigmas do sistema penal – acabou por desacreditá-lo, uma vez que a renúncia às garantias formais e substancias do processo abriu espaço para o excesso e o arbítrio na aplicação de medidas socioeducativas.
Modelo atual
As consequências negativas dos modelos anteriores derivaram da consideração do “menor” como incapaz e alheio aos processos de produção.
Este estigma na sociedade moderna trouxe uma mácula: por um lado significava identificar o “menor” como indivíduo privado de razão, num momento em que a emancipação estava estritamente vinculada ao padrão de cidadania e racionalidade ao qual o “menor” efetivamente não tinha acesso, estando, portanto, excluído do espaço de reconhecimento de direitos.
No processo de construção dos direitos sociais, o reconhecimento formal das crianças e dos adolescentes como sujeitos de direito não aconteceu de maneira imediata e uniforme.
Transcorreu de modo lento nos diversos ordenamentos jurídicos e culminou, com seu recente reconhecimento em nível internacional, em uma série de tratados e convenções, cuja referência mais importante é a Convenção Internacional dos Direitos da Criança, de 20 de novembro de 1989.
A proteção integral, interpretada como um princípio garantista, significa a proteção dos direitos das crianças e dos adolescentes, de maneira que através da proteção seja possível garantir a efetivação destes direitos. Como pauta para a atuação estatal, o modelo de proteção integral procura reconhecer e promover os direitos humanos, econômicos, sociais e culturais de crianças e adolescentes.
No Brasil, este modelo se concretizou pela elaboração do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), introduzido pela Lei n. 8069, de 13 de julho de 1990, que representa o micro-sistema jurídico aplicável aos “menores”, e está inserido no projeto de incorporação dos princípios do Estado de Bem-Estar e a consequente outorga de direitos sociais expressados pela Constituição Federal de 1988.
A CF de 1988
· Há 18 menções à palavra “menor”;
· Há 14 menções à palavra “criança”
· Há 17 menções à palavra “adolescente”
Seção III, Capítulo VII: da família, da criança, do adolescente, do jovem e do idoso).
Art. 227 - É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. 
§ 1º - O Estado promoverá programas de assistência integral à saúde da criança, do adolescente e do jovem, admitida a participação de entidades não governamentais, mediante políticas específicas e obedecendo aos seguintes preceitos:
I. Aplicação de percentual dos recursos públicos destinados à saúde na assistência maternoinfantil;
§ 3º - O direito a proteção especial abrangerá os seguintes aspectos:
I. Idade mínima de quatorze anos para admissão ao trabalho;
II. Garantia de acesso do trabalhador adolescente à escola;
III. Garantia de acesso do trabalhador adolescente e jovem à escola;
IV. Estímulo do Poder Público, através de assistência jurídica, incentivos fiscais e subsídios, nos termos da lei, ao acolhimento, sob a forma de guarda, de criança ou adolescente órfão ou abandonado;
V. Programas de prevenção e atendimento especializado à criança, ao adolescente e ao jovem dependente de entorpecentes e drogas afins. 
§ 4º - A lei punirá severamente o abuso, a violência e a exploração sexual da criança e do adolescente. § 5º - A adoção será assistida pelo Poder Público, na forma da lei, que estabelecerá casos e condições de sua efetivação por parte de estrangeiros. § 6º - Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação. § 7º - No atendimento dos direitos da criança e do adolescente levar-se- á em consideração o disposto no art. 204 (Formas de assistência social, que veremos a seguir).
Art. 227, II - Criação de programas de prevenção e atendimento especializado para os portadores de deficiência física, sensorial ou mental, bem como de integração social do adolescente portador de deficiência, mediante o treinamento para o trabalho e a convivência, e a facilitação do acesso aos bens e serviços coletivos, com a eliminação de preconceitos e obstáculos arquitetônicos e de todas ad formas de discriminação.
Art. 228 - São penalmenteinimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às normas da legislação especial.
Art. 229 - Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade.
Seção IV: da assistência social:
Art. 203 - A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social, e tem por objetivos:
I. A proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice;
II. O amparo às crianças e adolescentes carentes.
Judicialização dos conflitos de crianças e adolescentes
A busca de soluções para os casos de conflito de adolescentes com a lei é um tema conflitante. Tratar de como se constroem atualmente as ações do Estado Democrático de Direito, principalmente pelas mãos do Judiciário, significa partir do princípio de que o “menor” já não corresponde à imagem de sujeito incapaz, imposta entre finais do século XIX e princípios do século XX.
Monteiro indica ser necessário analisar duas questões quando da judicialização de conflitos de jovens:
· Se a educação é uma finalidade executável pelo Direito Penal quando adolescentes entram em conflito com a lei, seja pela via do modelo de responsabilidade ou pela via do modelo de proteção integral;
· Se é possível seguir sustentando que as respostas mais eficazes a este problema devam permanecer restritas ao âmbito de atuação estatal, a partir de decisões do Poder Judiciário.
Quando se desenvolve em um ambiente de autonomia, respeito, participação conjunta e reciprocidade entre educador e educando, a educação supõe um verdadeiro instrumento de emancipação para a liberdade de eleger e decidir com responsabilidade e consciência das consequências das ações individuais para a sociedade.
Tal perspectiva, aplicável às crianças e aos adolescentes, parte do pressuposto do reconhecimento de seus direitos, principalmente do direito à igualdade e à liberdade de expressão.
Na medida em que o Direito Penal se apropria do conceito de educação, o faz contextualizando com a finalidade ressocializadora da pena, transformando-a em instrumento de controle.
O objetivo é fazer com que o adolescente seja capaz de aprender e respeitar valores reconhecidos na sociedade, de maneira a promover sua integração como parte desta mesma sociedade, a fim de que não volte a cometer delitos.
Dessa forma, funciona como um instrumento de imposição ideológica e conformista do ideário de mundo, sociedade e das normas da cultura adulta, executada através da deslegitimação da posição do menor com relação ao adulto (COUSO SALAS, 1999).
A orientação da finalidade da pena para a educação, como instrumento de ressocialização, sugere duas interpretações: a primeira é a associação entre a prática de delitos pelo adolescente ao déficit de aprendizagem. A segunda é a possibilidade de suprir este déficit através da educação pela via da pena ou de medidas socioeducativas.
Logo, é necessário desmistificar a educação como tarefa do Direito Penal ou do sistema de justiça juvenil. Sua consideração somente pode ser útil para a limitação da medida/pena no momento de reprimir o adolescente pelo fato cometido e como oferta da Administração, em respeito ao seu processo de desenvolvimento físico-psíquico e social.
A imposição do aprendizado não deve ser uma finalidade legítima da medida/pena, por implicar numa grave restrição da liberdade subjetiva de convicção do indivíduo sobre si mesmo e os rumos que pretende dar à sua vida.
Ademais, a tomada de consciência do erro, pelo delito cometido, e a decisão pessoal de mudar, são processos subjetivos que não podem ser controlados pelo DP.
Se busca-se tornar o adolescente um sujeito responsável e capaz de conviver em sociedade sem cometer outros delitos, a reprovação do comportamento ilegal através da pena pode de ser uma das vias (a mais dura e perversa) de informação e conhecimento das normas de conduta em sociedade, sobretudo se vem acompanhada da oferta de ferramentas que potencializem o desenvolvimento, mas que em nenhum aspecto garante que o indivíduo não volte a cometer crimes.
O instrumento mais eficaz seria garantir ao indivíduo, antes de punir, o acesso às ferramentas para seu desenvolvimento e integração à sociedade, objetivo que se pode cumprir com o apoio da educação.
Insistir na busca de soluções restritas à atuação do Estado significa permanecer limitado ao âmbito das respostas padronizadas, que burocratizam as situações da vida em sociedade, distanciando-se das dinâmicas que originam os conflitos sociais, invisibilizando, desta forma, tudo o que está fora do marco de regulação e atuação estatal, provocando a imobilização na construção de alternativas que, desde dentro do problema, poderiam ser mais eficazes.
O ECA, assim, ‘apresenta-se’ como síntese dos modelos protetor e educativo e ‘implementa-se’ como síntese dos modelos protetor e de justiça. Em termos gerais, o adolescente autor do ato infracional é visto, ao mesmo tempo, como sujeito de direitos e como vítima/objeto de proteção e educação.
As consequências desta ambiguidade teórica e prática e as possibilidades de implementação poder ser, por exemplo, de três ordens.
Em primeiro lugar, um protecionismo com ênfase terapêutica que reforça a estigmatização, medicaliza a violência, estressa funcionários e resume o trabalho à ‘atendimentos’ descontextualizados, pontuais, caros, ineficazes e, muitas vezes, de resultados trágicos.
Em segundo lugar, um educativismo retórico, apoiado na falácia da socioeducação como instrumento de transformação social, que desequilibra a balança entre a necessária discricionariedade técnica e o garantismo, que nunca é demasiado. Esta distorção ainda pode embasar a produção de laudos técnicos substancialistas, apoiados no critério do comportamento ‘dentro’ dos internatos como condição para viver ‘fora’, em liberdade.
E, em terceiro lugar, uma visão penalista estreita de justiça juvenil, que reduz as possibilidades de resolução de conflitos fora do sistema judicial, que embasam propostas como redução da idade para imputabilidade penal, aumento de repressão, etc.
Esta distorção, ainda, reduz a necessária margem de discricionariedade técnica, coerente com o aspecto pedagógico do trabalho socioeducativo
Na justiça juvenil brasileira, a ambiguidade principal, em resumo, que aparece tanto no texto da lei quanto em sua implementação, é entre o caráter pedagógico e o penal. Pode-se assim dizer que o argumento hegemônico sustenta o caráter pedagógico das medidas socioeducativas (o próprio termo demonstra), mas, em nível de práticas, as características principais são a ausência do caráter pedagógico e a violação do caráter garantista.
Os adolescentes que sofreram maus-tratos familiares sofrem mais episódios de violência na escola, vivenciam mais agressões na comunidade e transgridem mais as normas sociais, fechando assim um círculo de violência;
Vivenciam menos apoio social, com menor autoestima e menor capacidade de resiliência. Porém, a percepção de ter sofrido violência depende do microssocial, do grupo próximo e, principalmente, da família, ou seja, dos referenciais de cada um. (ANTONI; KOLLER, 2002) Perfil de crianças e adolescentes infratoras O que seria “violência” para uns pode ser apenas um comportamento lícito de expressão de autoridade para outros. Já algumas ações são tidas como violentas para qualquer pessoa.
A característica de excepcionalidade empresta maior dimensão ao fato, porque se trata de um fenômeno da percepção: a mente concentra-se naquilo que é diferente, construindo, em torno dessa diferença, uma figura.

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