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10 Competência Material da Justiça do Trabalho

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COMPETÊNCIA MATERIAL DA JUSTIÇA DO TRABALHO
A competência material é definida pela identificação da causa de pedir (fatos e fundamentos jurídicos) e o pedido deduzido em juízo. 
A EC 45/04 alterou significativamente a competência da justiça do trabalho, impondo alterações no art. 114 da CF. A justiça do trabalho que, tradicionalmente, tinha competência para resolver os conflitos oriundos apenas da relação entre empregado e empregador, passou a ter competência para resolver as ações oriundas da relação de trabalho. Neste contexto, assim prevê o art. 114 da CF atualmente:
Art. 114 - Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar:
I. As ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de direito público externo e da administração pública direta e indireta da União, dos Estados, do DF e dos Municípios;
II. As ações que envolvam exercício do direito de greve;
III. As ações sobre representação sindical, entre sindicatos, entre sindicatos e trabalhadores, e entre sindicatos e empregadores;
IV. Os mandados de segurança, habeas corpus e habeas data, quando o ato questionado envolver matéria sujeita à sua jurisdição;
V. Os conflitos de competência entre órgãos com jurisdição trabalhista, ressalvado o disposto no art. 102, I, o;
VI. As ações de indenização por dano moral ou patrimonial, decorrentes da relação de trabalho;
VII. As ações relativas às penalidades administrativas impostas aos empregadores pelos órgãos de fiscalização das relações de trabalho;
VIII. A execução, de ofício, das contribuições sociais previstas no art. 195, I, a, e II, e seus acréscimos legais, decorrentes das sentenças que proferir;
IX. Outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho, na forma da lei: assim, leis supervenientes podem estabelecer a competência da justiça do trabalho para dirimir conflitos provenientes de determinada situação.
§ 1º - Frustrada a negociação coletiva, as partes poderão eleger árbitros.
§ 2º - Recusando-se qualquer das partes à negociação coletiva ou à arbitragem, é facultado às mesmas, de comum acordo, ajuizar dissídio coletivo de natureza econômica, podendo a Justiça do Trabalho decidir o conflito, respeitadas as disposições mínimas legais de proteção ao trabalho, bem como as convencionadas anteriormente.
§ 3º - Em caso de greve em atividade essencial, com possibilidade de lesão ao interesse público, o MPT poderá ajuizar dissídio coletivo, competindo à Justiça do Trabalho decidir o conflito. 
A redação originária do caput previa: “compete à justiça do trabalho conciliar e julgar [...]”. Todavia, a EC a alterou para, “compete à justiça do trabalho processar e julgar”. A alteração não importa em abolir a conciliação da justiça do trabalho, mas em ressaltar que sua competência é enfrentar a resolução dos litígios onde não há possibilidade de conciliação, notadamente diante da possibilidade de autocomposição via Comissões de Conciliação Prévia.
A função conciliatória, outrossim, está prevista no art. 764 da CLT, sendo desnecessária a previsão no texto constitucional.
Relação de trabalho (I)
Mauro Schiavi, assim conceitua a relação de trabalho: “O trabalho prestado por conta alheia, em que o trabalhador (pessoa física) coloca, em caráter preponderantemente pessoal, de forma eventual ou não, gratuita ou onerosa, de forma autônoma ou subordinada, sua força de trabalho em prol de outra pessoa (física ou jurídica, de direito público ou de direito privado), podendo o trabalhador correr ou não os riscos da atividade que desempenhará”.
Assim, pode-se destacar os seguintes elementos da relação de trabalho: 
· O prestador dos serviços somente pode ser pessoa física, o trabalho humano deve ser o objeto da relação jurídica;
· Pessoalidade: embora seja inerente ao contrato de emprego, na relação de trabalho é importante conservar a identidade em relação ao trabalhador (prestador dos serviços). Admite-se, no entanto, substituição ocasional com a concordância do tomador dos serviços;
· De forma eventual ou não;
· Gratuita ou onerosa;
· De forma autônoma ou subordinada.
Amauri Mascaro Nascimento, elenca requisitos básicos para caracterizar a relação de trabalho:
· Profissionalismo: serviço prestado profissionalmente e não com outra intenção; pressupõe remuneração;
· Pessoalidade: o trabalho deve ser prestado por pessoa física diretamente, sem auxiliares ou empregados;
· O objeto do contrato deve ser a própria atividade do prestador do serviço;
· Subordinação ou não;
· Eventualidade ou não.
Há três posições preponderantes acerca do alcance da expressão “relação de trabalho”, para fins de apuração da competência da justiça do trabalho:
1) Relação de trabalho restringe-se à relação de emprego: a competência da justiça do trabalho se restringe ao contrato de emprego;
2) A relação de trabalho deve guardar semelhanças com a relação de emprego: o prestador dos serviços deve estar em situação de dependência econômica em relação ao tomador dos serviços, além da pessoalidade, onerosidade e continuidade na prestação. A relação de consumo está excluída da competência da justiça do trabalho;
3) Relação de trabalho abrange qualquer espécie de trabalho humano, independentemente do vínculo jurídico entre o prestador e o tomador dos serviços. Exige, unicamente, que o prestador dos serviços seja pessoa natural e que o serviço seja prestado em favor de pessoa natural ou jurídica.
Nas constituições anteriores (1934, 1946, 1967 e 1988) fazia-se alusão quanto à competência da justiça do trabalho às controvérsias entre empregados e empregadores. Após a EC 45/04, refere-se às controvérsias oriundas da relação de trabalho, independentemente das pessoas envolvidas no litígio. Em razão disso, não há como sustentar que o emprego da expressão “relação de trabalho” como sinônimo de relação de emprego.
São relações de trabalho afetas à competência da justiça do trabalho:
· Trabalhador doméstico eventual (diarista);
· Trabalhador urbano ou rural eventual;
· Trabalhador autônomo;
· Trabalhador voluntário;
· Estagiário;
· Trabalhador considerado pequeno empreiteiro, operário ou artífice;
· Trabalhador parassubordinado: para Amauri Mascaro Nascimento, “a parassubordinação se concretiza nas relações de natureza contínua, nas quais os trabalhadores desenvolvem atividades que se enquadram nas necessidades organizacionais dos tomadores de seus serviços, contribuindo para atingir o objeto social do empreendimento, quando o trabalho pessoal deles seja colocado, de maneira predominante, à disposição do contratante, de forma contínua”). É exemplo o representante comercial;
· Profissional liberal que presta serviços à empresa ou tomador de serviços que não seja destinatário final: como médico para clínica ou hospital e o advogado para escritório de advocacia.
Relação de trabalho e relação de consumo
Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final. Assim, para estar abrangida pela competência da justiça do trabalho, o tomador dos serviços não pode ser o usuário/destinatário final dos serviços, mas mero utilizador da energia de trabalho para consecução de sua finalidade social. A respeito há três correntes:
· Relação de consumo é bifronte: do ângulo do consumidor (destinatário do serviço) há uma relação de consumo, de competência da justiça comum; do ângulo do prestador do serviço há uma relação de trabalho, de competência da justiça do trabalho; 
· Competência da Justiça do Trabalho para apreciar ambas as demandas (pedido reconvencional do tomador dos serviços);
· Relação de consumo não é da competência da justiça do trabalho: distingue consumidor (pessoa física ou jurídica destinatária final) e tomador de serviços (intermediário dos serviços prestados). Por exemplo, a relação entre o médico e o paciente é de consumo, enquanto a relação entre o médico e a clínica é de trabalho.
Sum. 363 do STJ - Compete à Justiça Estadual processar e julgar a ação de cobrança ajuizada por profissional liberal contra cliente.
 Quando a discussão sub judice girar em torno da aplicação do CDC, ou seja,caso o litígio entre o fornecedor (prestador do serviço) e o consumidor (tomador dos serviços) envolva relação de consumo a justiça do trabalho não possui competência para processar e julgar a demanda. Quando o litígio entre o prestador de serviços e o consumidor abranger a relação de trabalho entre ambos, possui competência a justiça do trabalho.
 Na relação de consumo, o “consumidor” é o tomador dos serviços e o prestador dos serviços é o detentor do poder econômico que oferece publicamente seus serviços, auferindo os ganhos junto aos consumidores. Se transportar-se essa relação à justiça do trabalho, o consumidor (tomador dos serviços) receberia tutela especial, assumindo posições incompatíveis: a de fragilizado consumidor e de contratante beneficiado pela energia de trabalho (tomador dos serviços).
 Na justiça do trabalho o tomador dos serviços não pode ser usuário final, mas mero utilizador da energia de trabalho para a consecução de sua finalidade social.
Para João Oreste Dalazen, trata-se de uma relação jurídica de natureza bifronte:
· Sob o ângulo do consumidor/destinatário do serviço: relação de consumo, regida e protegida pelo CDC. Lide, cujo objeto é a defesa de direitos do cidadão na condição de consumidor de um serviço, e não de um prestador de serviço. Trata-se de uma obrigação contratual de resultado, não importando o trabalho em si, de modo que não possui competência a justiça do trabalho;
· Sob o ângulo do prestador do serviço (fornecedor), regulada pelas normas gerais do direito civil. Relação contratual que tem por objeto a prestação de um serviço.
Segundo Otávio Calvet, numa relação de trabalho nunca pode aparecer como tomador do serviço o usuário final, este mero cliente consumidor, mas sempre alguém que, utilizando do labor adquirido pela relação de trabalho, realiza sua função social perante os usuários finais”. [...] “O tomador dos serviços não pode ser o usuário final, mas mero utilizador da energia de trabalho para a consecução da sua finalidade social”. 
	
	Relação de consumo
	Relação de trabalho
	Sujeitos
	- Fornecedor (prestador dos serviços);
- Consumidor (tomador dos serviços).
	- Trabalhador;
- Tomador dos serviços.
	Objeto
	Serviço: atividade fornecida no mercado de consumo
	Atividade humana, energia de trabalho (trabalho da pessoa humana com pessoalidade)
- Relação de trabalho e prestação de serviço por empresa
Relação empresarial
- Relação de trabalho e representação comercial autônoma
Lei n. 4.886/65
· Representante comercial: pessoa jurídica;
· Representante comercial: pessoa física/empresário (art. 966 do CC);
· Representante comercial: pessoa física sem empresariedade;
Relação de trabalho, relação societária e relação associativa;
Relação de trabalho, trabalho eventual e avulso
 Art. 643 da CLT – “Os dissídios, oriundos das relações entre empregados e empregadores bem como de trabalhadores avulsos e seus tomadores de serviços, em atividades reguladas na legislação social, serão dirimidos pela Justiça do Trabalho, de acordo com o presente Título e na forma estabelecida pelo processo judiciário do trabalho”.
- Relação de trabalho e trabalho gratuito
- Relação de trabalho e trabalho de preso (execução penal) 
- Relação de trabalho e relação estatutária
São diversas as espécies de relação com a administração pública (União, estados, municípios, autarquias e fundações públicas):
· Estatutária - cargos públicos
O STF, na ADIn 3.395-MC, entendeu que a relação entre o servidor e a administração pública não é contratual, mas administrativa, afastando a competência da justiça do trabalho para julgar ações envolvendo relações estatutárias e cargos em comissão . Assim, tratando-se de servidor municipal ou estadual, a competência será da justiça estadual (sum. 137 STJ e sum. 218 STJ): 
Sum. 137 do STJ - “Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar ação de servidor público municipal, pleiteando direitos relativos ao vínculo estatutário.” 
Sum. 218 do STJ – “Competência de Justiça Comum Estadual para processar e julgar ação de servidor estadual decorrente de direitos e vantagens estatutários no exercício de cargo em comissão.”
Tratando-se de servidor federal, a competência será da justiça federal. O mesmo se aplica a servidores de agências reguladoras (autarquias em regime especial), que são regidos pela lei 8.112/90.
· Empregatícia - emprego público
Em relação aos empregados públicos (art. 173, § 1º, II da CF), funcionários de empresa pública e sociedade de economia mista, mantém-se a competência da justiça do trabalho, uma vez que são regidos pela CLT.
· De caráter jurídico-administrativa (temporária) - função pública
O STF cancelou a OJ-205-SDI-1/TST, que previa a competência da justiça do trabalho para dirimir dissídio individual entre trabalhador e entre público quando havia controvérsia acerca do vínculo empregatício, bem como, quando se alegava o desvirtuamento da contratação temporária. Tais matérias são de competência da justiça comum.
Assim, atualmente, somente se lei que autoriza a contratação temporária definir o regime do servidor temporário, como o celetista, a competência será da justiça do trabalho.
 Sum. 97 do STJ - “Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar reclamação de servidor público relativamente a vantagens trabalhistas anteriores à instituição do regime jurídico único”, ou seja, enquanto ainda era CLT.
 OJ-138-SDI-1/TST - “Compete à justiça do trabalho julgar pedidos de direitos e vantagens previstas na legislação trabalhista referente a período anterior à lei 8.112/90, mesmo que a ação tenha sido ajuizada após a edição da referida lei. A superveniência de regime estatutário em substituição ao celetista, mesmo após a sentença, limita a execução ao período celetista.” 
Sum. 170 do STJ - “Compete ao juízo onde primeiro foi intentada a ação envolvendo acumulação de pedidos, trabalhista e estatutário, decidi-la nos limites de sua jurisdição, sem prejuízo do ajuizamento de nova causa, com pedido remanescente, no juízo próprio.”
Em resumo:
	
	ESTATUTÁRIO
	EMPREGADO PÚBLICO
	TEMPORÁRIO
	VÍNCULO
	Cargo público
	Emprego público
	Função pública
	REGIME FUNCIONAL
	Estatutário: pluralidade normativa; vínculo legal; lei 8.112/90
	Trabalhista ou
celetista: unicidade
normativa; vínculo
contratual
	Especial: pluralidade normativa; vínculo especial de direito administrativo; lei
8.745/93
	COMPETÊNCIA
	Justiça comum
	Justiça do trabalho
	Justiça comum
	INGRESSO
	Cargo efetivo: aprovação em concurso público;
Cargo em comissão: livre nomeação.
	Aprovação em
concurso público
	Sem concurso público, diante de necessidade temporária de
excepcional interesse
público
	REGIME DE PREVIDÊNCIA SOCIAL
	Cargo efetivo: regime próprio de previdência;
Cargo em comissão:
Se ocupante exclusivamente de cargo em comissão: regime geral de previdência.
Se titular de cargo efetivo: regime próprio de previdência.
	Regime Geral da
Previdência Social
	Regime Geral da
Previdência Social
- Relação de trabalho e pequena empreitada
Em regra, questões relativas a eles são de competência da justiça comum. Todavia, serão de competência da justiça do trabalho quando o empreiteiro for operário ou artífice (art. 652, “a”, III da CLT). 
Pequeno empreiteiro, operário ou artífice é aquele trabalhador pessoa física, autônomo, podendo ser especializado ou não em determinado serviço, que vive do seu próprio trabalho e que tem suas próprias ferramentas ou instrumentos de trabalho, prestando serviços com pessoalidade.
- Contratos de prestação de serviços
Em geral, são de competência da justiça comum, visto que são regulados pelos arts. 593 a 609 do CC. Todavia, podem ser da justiça do trabalho quando o prestador de serviço for pessoa física, estando presente a pessoalidade e a habitualidade, mesmo que sem subordinação. 
- Entes de direito público externo
Quando os entes de direito público externo (sujeitos de direito internacional público) situados no território brasileiro contratam empregados brasileiros, praticam atos de gestão. Assim, estes atos não estão abrangidos pela imunidadede jurisdição, que abrange somente os atos de império. Deste modo, sujeitam-se à jurisdição brasileira, e não apenas à do país de origem. Tais ações são de competência da justiça comum.
Apesar disso, ainda possuem imunidade de execução, de modo que a execução forçada em território nacional é substituída pela execução por carta rogatória. Existem, porém, exceções à imunidade de execução:
· Quando o Estado estrangeiro renunciar à intangibilidade de seus próprios bens;
· Quando houver no território brasileiro bens que não estejam vinculados às finalidades essenciais e inerentes às relações diplomáticas. 
· Organização ou organismos internacionais 
A exemplo de OIT e ONU, possuem imunidade absoluta de jurisdição estabelecida em tratados internacionais que devem ser observados (OJ-416- SDI-1/TST).
Exercício do direito de greve (II)
Tratam-se de conflitos coletivos de greve envolvendo os direitos das classes trabalhadoras e patronal (dissídio coletivo de greve), como, abusividade, garantia de funcionamento de atividades essenciais, entre outros. Antes da EC 45/04 eram de competência da justiça comum.
Sum. 189 e Precedente Normativo 29 do TST – “A Justiça do Trabalho é competente para declarar a abusividade, ou não, da greve”. Trata-se de competência funcional.
Art. 677 da CLT – “A competência dos Tribunais Regionais determina-se pela forma indicada no art. 651 e seus parágrafos e, nos casos de dissídio coletivo, pelo local onde este ocorrer”.
Art. 651 – “A competência das Juntas de Conciliação e Julgamento é determinada pela localidade onde o empregado, reclamante ou reclamado, prestar serviços ao empregador, ainda que tenha sido contratado noutro local ou no estrangeiro”.
Art. 2º da lei 7.701/88 - Compete à seção especializada em dissídios coletivos, ou seção normativa: I - originariamente: a) conciliar e julgar os dissídios coletivos que excedam a jurisdição dos TRT’s e estender ou rever suas próprias sentenças normativas, nos casos previstos em lei.
Sum. vinculante 23 do STF - “A Justiça do Trabalho é competente para processar e julgar ação possessória ajuizada em decorrência do exercício do direito de greve pelos trabalhadores da iniciativa privada”. Por exemplo, é comum que os grevistas impeçam demais funcionários de entrarem na empresa, situação em que tais ações podem ser úteis. Ainda, podem ser usadas por empresas vizinhas que também estejam sendo afetadas. 
No entanto, há divergência quanto à inclusão dos interditos proibitórios na competência da Justiça do Trabalho (permitir o livre acesso de clientes e funcionários ao local de trabalho ou à empresa). O STJ afasta a competência da Justiça do Trabalho.
A justiça do trabalho também é competente para julgar ações de indenização em razão do movimento grevista, envolvendo as próprias partes ou terceiros. Elas abrangem ações de indenização por danos materiais e morais, movidas por sindicatos, trabalhadores, empregadores ou terceiros; bem como, ações civis públicas, movidas pelo MPT.
Em todos estes casos se analisará se a causa de pedir envolve o direito de greve, ou seja, se indenização ou ação possessória, por exemplo, é resultante do exercício deste direito.
Quando o direito de greve for exercido por servidor público, predomina o entendimento de que a competência permanecerá na justiça comum. O que prepondera, nesse caso, não é a causa de pedir, mas o sujeito, a pessoa envolvida.
Competência para julgamento da greve dos servidores públicos – art. 37, VII, CF, aplica-se por analogia a lei de greve (Lei n. 7.783/89), segundo entendimento atual do STF. Questão controvertida: a Justiça do Trabalho teria competência porque se fala em exercício do direito de greve (direito fundamental), independentemente do regime jurídico? Por outro lado, o STF ao excluir os estatutários da competência da Justiça do Trabalho, também se aplica para as ações decorrentes do exercício do direito de greve destes (ADI 3395 – competência da Justiça Comum).
Tratando-se de servidor público federal, a competência será do STJ caso o movimento grevista seja de âmbito nacional, atinja mais de uma região da justiça federal ou compreenda mais de uma unidade da federação. Por outro lado, será do TRF se o movimento abranger uma única região da justiça federal ou âmbito local.
Tratando-se de servidor público estadual e municipal, a competência será do TJ desde que o movimento envolva uma unidade da federação ou âmbito local. 
As ações penais decorrentes do exercício do direito de greve são de competência da justiça comum (ADI 3684).
Representação sindical (III)
Os conflitos relativos à matéria podem ser:
· Inter-sindicais (não coletivos): entre dois ou mais sindicatos, sobre representação de determinada categoria, desmembramento, dissociação, entre outros (art. 114, § 2º da CF);
· Inter-sindicais (coletivos): trata-se dos dissídios coletivos, instaurados quando a negociação coletiva, que resultaria em ACT ou CCT, não é exitosa;
· Intra-sindicais: envolvem questões do sindicato considerado em si mesmo e não em conflito com outro sindicato. Envolvem conflitos entre o sindicato e seus associados, empregadores e terceiros.
Diante disso, existem duas correntes: 
· Entende que a competência da justiça do trabalho limita-se às ações sobre representação sindical, não abrangendo as controvérsias entre sindicatos e terceiros, bem como aquelas entre empregados e empregadores envolvendo o exercício de representação sindical;
· Amplia a competência para todas as ações que envolvem matéria sindical, entre sindicatos e empregados e sindicatos e empregadores.
As ações decorrentes de sindicatos de servidores estatutários, segundo jurisprudência majoritária, não são da competência da Justiça do Trabalho.
A sum. 222 do STJ dispunha que “compete à Justiça Comum processar e julgar as ações relativas à contribuição sindical prevista no art. 578 da CLT”. Todavia, este entendimento foi superando, atualmente reconhecendo-se a competência da justiça do trabalho para as ações relativas à contribuição sindical (sum. 367 do STJ).
Deste modo, conflitos envolvendo sindicatos só não são de competência da justiça do trabalho quando se tratar de sindicatos de servidores públicos.
Mandado de segurança, habeas corpus e habeas data (IV)
Novamente, é necessário observar a causa de pedir, sendo de competência da justiça do trabalho as matérias afetas à relação de trabalho.
Habeas corpus
Nos termos do art. 5º, LXVIII da CF, o habeas corpus tem como finalidade a garantia da liberdade de locomoção, quando limitada ou ameaçada de sê-lo, por ilegalidade ou abuso do poder público. São exemplos de utilização na justiça do trabalho: descumprimento de ordem judicial para cumprimento das obrigações de fazer ou não fazer; depositário infiel (sum. vinculante 25 do STF).
Também se entende que há competência para julgar habeas corpus contra ato do empregador que restringe a liberdade de locomoção do empregador, uma vez que o texto constitucional não restringe a ato de autoridade.
A competência funcional para julgar o HC depende de quem praticou o ato:
· Particular: varas do trabalho;
· Juiz do trabalho: TRT;
· TRT: TST (entende-se revogado pela norma mais nova o art. 105, I, “c”, CF, que atribuía tal competência ao STJ);
· Ministro do TST: STF (art. 102, I, i, CF).
O procedimento a ser observado é o preconizado nos artigos 647 e seguintes do CPP.
Habeas data
Conforme Alexandre de Moraes, nos termos do art. 5º, LXXII da CF, o habeas data serve para proteger o direito que assiste a todas as pessoas de solicitar judicialmente a exibição dos registros públicos e privados, nos quais estejam incluídos seus dados pessoais, para que deles tome conhecimento e, se necessário for, sejam retificados os dados inexatos ou obsoletos ou que impliquem em discriminação.
Não cabe contra o empregador, pois não se trata de registros públicos ou de caráter público. O empregador pode impetrá-los empregador em face de órgão de fiscalização.
Mandado de segurança
Previsto no art. 5º, LXIX da CF.
Após a EC 45/2004, é possível a interposição de mandado de segurançana justiça do trabalho contra ato de autoridades, como, auditores fiscais e delegados do trabalho, oficiais de cartório que recusam o registro de entidade sindical, MPT em inquéritos civis públicos. Também podem ser utilizados contra decisões às quais não cabe recurso específico imediatamente.
Para definição da competência, considera-se se o ato praticado está afeto à jurisdição trabalhista, não importando a qualidade da autoridade que o pratica. Competência funcional é disciplinada pelo art. 678 da CLT e lei 7.701/88 e regimentos internos dos tribunais.
Ver lei 12.016/2009 (nova lei do mandado de segurança individual e coletivo). 
Competência penal da justiça do trabalho
São exemplos de crimes correlatos à relação de trabalho o falso testemunho, fraude processual e delitos contra organização do trabalho.
Há entendimentos (não prevalecentes) que a justiça do trabalho teria competência para apreciar os delitos contra a organização do trabalho e contra a administração da justiça do trabalho. Prevalece, no entanto, o entendimento que a EC 45/2004 não atribuiu competência penal à justiça do trabalho. A competência restringe-se ao cumprimento das decisões proferidas pela justiça do trabalho, que são de natureza cautelar e não penal. Não se aplica a pena, mas se busca a efetividade das decisões judiciais.
O art. 109, VI da CF, prevê a competência da Justiça Federal para julgar os crimes contra a organização do trabalho:
· Falsa anotação em CTPS: por envolver a previdência social, entende-se competente a justiça comum federal (sum. 62 do STJ)
· Estelionato por falsificação de guias de recolhimento das contribuições previdenciárias: quando não causar lesão à autarquia federal, é de competência da justiça comum estadual;
· Falso testemunho: competência da justiça comum federal (sum. 165 do STJ).
Ações de indenização por danos morais e patrimoniais decorrentes da relação de trabalho (VI)
Acidente de trabalho
As ações promovidas pelo empregado em face do empregador são competência da justiça do trabalho:
Sum. 392 do TST - “[...] a justiça do trabalho é competente para processar e julgar ações de indenização por dano moral e material, decorrentes da relação de trabalho, inclusive as oriundas de acidente de trabalho e doenças a ele equiparadas, ainda que propostas pelos dependentes ou sucessores do trabalhador falecido”.
Sum. vinculante 22 do STF - “A justiça do trabalho é competente para processar e julgar as ações de indenização por danos morais e patrimoniais decorrentes de acidente de trabalho propostas por empregado contra empregador, inclusive aquelas que ainda não possuíam sentença de mérito em primeiro grau quando da promulgação da EC 45/04”.
Uma vez que antes da EC 45/04 tais ações eram de competência da justiça comum, STF e STJ entendem que somente serão remetidas à justiça do trabalho as ações de indenização por danos materiais e morais decorrentes de acidente de trabalho que, no advento da EC, ainda não tiveram sentença.
As ações acidentárias/previdenciárias, promovidas pelo empregado (segurado) em face do INSS (seguradora), são de competência da justiça comum estadual, nas varas de acidente de trabalho (art. art. 643, § 2º da CLT, sum. 15 do STJ, sum. 235 do STF e sum. 501 do STF).
As ações regressivas da previdência social em face do empregador quando o acidente de trabalho é causado por culpa do empregador são de competência da justiça comum federal (art. 109 da CF, art. 120 da lei 8.213/91).
Danos alheios a acidente de trabalho
Também são da competência da justiça do trabalho ações de indenização por danos não decorrentes de acidente de trabalho, sejam eles contratuais (ocorridos durante a contratualidade, na execução do contrato de trabalho) ou ocorridos na fase pré-contratual (como na fase de seleção) ou pós-contratual (como decorrente da revelação de segredo industrial – hipótese na qual a ação será movida pelo empregador – ou difamação do empregador ou empregado).
Dano moral em ricochete/sucessivo
 Os danos morais decorrentes da relação de trabalho abrangem, segundo entendimento predominante do TST, as ações de indenização por dano moral movidas por terceiro alheio à relação trabalhista. 
A sum. 366 do STJ determinava a competência da justiça comum estadual para processar e julgar ação de viúva e filhos de empregado falecido em acidente de trabalho. Todavia, ela foi cancelada, passando-se a entender que é de competência da justiça do trabalho, uma vez que a causa de pedir está relacionada à relação de trabalho.
Penalidades administrativas impostas por órgãos de fiscalização do exercício de profissões regulamentadas (VII)
Abrange a execução e eventual questionamento de tais multas.
A competência da justiça do trabalho não abrange as ações relativas às penalidades administrativas lavradas pelos órgãos de fiscalização de profissões regulamentadas (como OAB e CREA), porque dispositivo menciona penalidade administrativa imposta aos empregadores, e porque entre o órgão de fiscalização do exercício da profissão e o prestador de serviços não há uma relação de trabalho.
Execução de ofício das contribuições previdenciárias (VIII)
Arts. 832, 876, 879, 880 e 889-A da CLT. 
Essa competência “alcança a execução de ofício das contribuições previdenciárias relativas ao objeto da condenação constante das sentenças que proferir e acordos por ela homologados” (sum. vinculante 53 do STF). 
Imagine-se que, em uma causa, foi reconhecido vínculo empregatício e, consequentemente, são devidas contribuições previdenciárias. A justiça do trabalho não terá competência para executá-las, visto que não possuem natureza condenatória. Só terá competência para executar a contribuição decorrente de parcelas de natureza condenatória, como 13º, férias, de natureza salarial, objeto da condenação. Em relação a períodos em que, apesar de reconhecido o vínculo, não houve contribuição, a justiça do trabalho irá oficiar a União que promoverá a cobrança de tais valores. Neste sentido:
Sum. 368 do TST - I – “A Justiça do Trabalho é competente para determinar o recolhimento das contribuições fiscais [INSS e Imposto de Renda]. A competência da justiça do trabalho, quanto à execução das contribuições previdenciárias, limita-se às sentenças condenatórias em pecúnia que proferir e aos valores, objeto de acordo homologado, que integrem o salário de contribuição”. 
II – “É do empregador a responsabilidade pelo recolhimento [não pelo pagamento] das contribuições previdenciárias e fiscais, resultantes de crédito do empregado oriundo de condenação judicial. A culpa do empregador pelo inadimplemento das verbas remuneratórias, contudo, não exime a responsabilidade do empregado pelos pagamentos do imposto de renda devido e da contribuição previdenciária que recaia sobre sua quota-parte”. 
III – Os descontos previdenciários relativos à contribuição do empregado, no caso de ações trabalhistas, devem ser calculados mês a mês, de conformidade com o art. 276, § 4º, do decreto 3.048/1999 que regulamentou a lei 8.212/1991, aplicando-se as alíquotas previstas no art. 198, observado o limite máximo do salário de contribuição.
IV - Considera-se fato gerador das contribuições previdenciárias decorrentes de créditos trabalhistas reconhecidos ou homologados em juízo, para os serviços prestados até 4.3.2009, inclusive, o efetivo pagamento das verbas, configurando-se a mora a partir do dia dois do mês seguinte ao da liquidação (art. 276, “caput”, do decreto 3.048/99). Eficácia não retroativa da alteração legislativa promovida pela MP 449/2008, posteriormente convertida na lei 11.941/09, que deu nova redação ao art. 43 da lei 8.212/91.
V - Para o labor realizado a partir de 5.3.2009, considera-se fato gerador das contribuições previdenciárias decorrentes de créditos trabalhistas reconhecidos ou homologados em juízo a data da efetiva prestação dos serviços. Sobre as contribuições previdenciárias não recolhidas a partir da prestação dos serviços incidem juros de mora e, uma vez apurados os créditos previdenciários, aplica-se multa a partir do exaurimento do prazode citação para pagamento, se descumprida a obrigação, observado o limite legal de 20%.
VI – O imposto de renda decorrente de crédito do empregado recebido acumuladamente deve ser calculado sobre o montante dos rendimentos pagos, mediante a utilização de tabela progressiva resultante da multiplicação da quantidade de meses a que se refiram os rendimentos pelos valores constantes da tabela progressiva mensal correspondente ao mês do recebimento ou crédito, nos termos do art. 12-A da lei 7.713, de 22/12/1988, com a redação conferida pela lei 13.149/2015, observado o procedimento previsto nas Instruções Normativas da Receita Federal do Brasil.
Ainda, o INSS devido, cujo valor é calculado com base nas parcelas da condenação, não é destinado apenas à previdência social. Parte deste valor é destinado ao seguro de acidente de trabalho (SAT) e parte ao sistema “S”. Assim, a sum. 454 do TST prevê a competência para execução da contribuição social referente ao SAT (art. 195, I a, II da CF). Porém, não tem competência para executar as contribuições devidas a terceiros do sistema “S”.
Outras competências da justiça do trabalho
Sum. 300 do TST – “Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar ações ajuizadas por empregados em face de empregadores relativos ao cadastramento no Programa de Integração Social (PIS)”. Imagine-se que a CTPS do empregado não havia sido registrada e, consequentemente, o empregado não foi cadastrado no PIS e não recebeu os abonos devidos. A justiça do trabalho é competente para julgamento de ação relativa a tais valores
Sum. 19 do TST – “A justiça do trabalho é competente para apreciar reclamação de empregado que tenha por objeto direito fundado em quadro de carreira”.
OJ-26-SDI-1/TST - A Justiça do Trabalho é competente para apreciar pedido de complementação de pensão postulada por viúva de ex-empregado, por se tratar de pedido que deriva do contrato de trabalho. (STF – alterou entendimento)
Sum. 736 do STF – “Compete à justiça do trabalho julgar ações que tenham como causa de pedir o descumprimento de normas trabalhistas relativas à segurança, higiene e saúde dos trabalhadores”.
Sum. 389 do TST – “I – Inscreve-se na competência material da justiça do trabalho a lide entre empregado e empregador tendo por objeto indenização pelo não-fornecimento das guias do seguro-desemprego [que servem para o ex-empregado encaminhar o seguro]. II – O não fornecimento pelo empregador da guia necessária para o recebimento do seguro-desemprego dá origem ao direito à indenização”.
Complementação de aposentadoria
Complementação de aposentadoria decorre de previsão em instrumento normativo ou regulamento interno do empregador; vantagem concedida pelo empregador para complementar a aposentadoria do INSS.
Ações de complementação de aposentadoria:
1. Plano instituído, regulamentado e pago pelo empregador – competência da Justiça do Trabalho (art. 468, CLT; Súmula 288, I/TST);
2. Plano por entidade privado de previdência complementar – 2 situações:
2.1 ação em face do empregador requerendo o pagamento de diferenças na complementação de aposentadoria que não foram pagas corretamente pelo empregador: competência da Justiça do Trabalho;
2.2 ação em face da entidade de previdência privada para discutir o próprio benefício – regras aplicáveis – competência da Justiça Comum.
Complementação de aposentadoria (Súmula 288/TST) – STF (RExt 586453 e 583050) – competência da Justiça Comum quando se tratar de entidade privada de previdência complementar – deriva de uma relação previdenciária autônoma – modulação de efeitos: mantém na JT os processos com sentença de mérito até 20.02.2013.
Autorização de trabalho artístico infantil
O art. 8º da convenção 138 da OIT prevê a possibilidade de autorização para trabalho artístico de crianças e adolescentes – art. 406, CLT;
 Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) n. 361 e ADI 5326 – liminar reconhecendo a competência da Justiça Comum – natureza eminentemente civil.
Homologação de acordo extrajudicial em matéria de competência da Justiça do Trabalho
A Reforma Trabalhista incluiu a questão na CLT:
Art. 652 - Compete às Varas do Trabalho: f) Decidir quanto à homologação de acordo extrajudicial em matéria de competência da Justiça do Trabalho.
Art. 855-B - O processo de homologação de acordo extrajudicial terá início por petição conjunta, sendo obrigatória a representação das partes por advogado.
§1º - As partes não poderão ser representadas por advogado comum.
§2º - Faculta-se ao trabalhador ser assistido pelo advogado do sindicato de sua categoria.
Art. 855-C - O disposto neste Capítulo não prejudica o prazo estabelecido no §6º do art. 477 desta Consolidação e não afasta a aplicação da multa prevista no §8º art. 477 desta Consolidação.
Art. 855-D - No prazo de 15 dias a contar da distribuição da petição, o juiz analisará o acordo, designará audiência se entender necessário e proferirá sentença.
Art. 855-E - A petição de homologação de acordo extrajudicial suspende o prazo prescricional da ação quanto aos direitos nela especificados.
Único - O prazo prescricional voltará a fluir no dia útil seguinte ao do trânsito em julgado da decisão que negar a homologação do acordo.

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