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5 Crimes Contra a Administração Pública

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CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
O BJ tutelado é a moralidade administrativa, a moralidade pública, e os bens públicos. 
Por isto, a sum. 599 STJ entende que a eles não se aplica o princípio da insignificância. Trata-se do entendimento majoritário, mais concretizado, visto que sumulado. Apesar disso, existe posicionamento do STJ e do STF admitindo a aplicação excepcional ao crime de descaminho quando o valor deste não for superior a R$ 20.000,00, pois não são ajuizadas execuções fiscais para cobrança de valores inferiores a este, a administração pública – que é a vítima – não tem interesse em buscar tais valores mediante execução, não fazendo sentido a aplicação do direito penal para punir o infrator, enquanto última ratio. Ainda, existem outras decisões permitindo a aplicação do princípio em situações específicas – como quando alguém trafica um medicamento para uso próprio - utilizando-se análise casuística.
Ainda, o STF entende que, em regra o princípio não é aplicado, mas possibilita aplica-lo se assim indicarem as especificidades do caso concreto, efetuando-se uma análise casuística.
Praticados por funcionário público contra a administração em geral
São chamados de crimes funcionais, visto que decorrentes do exercício da função pública – praticados por funcionário público no exercício de suas funções ou em razão dela. Podem ser:
- Próprios/puros/propriamente ditos
Na falta da qualidade de funcionário público ao autor, o fato é atípico, havendo atipicidade absoluta. Ou seja, se o autor não for funcionário público, não há crime, a conduta passa a ser legal. São exemplos:
· Prevaricação: pois não há como o particular deixar de praticar ato de ofício previsto em lei, já que a lei não determina atos de ofício a serem praticados por particulares;
· Advocacia administrativa, pois se o sujeito não for funcionário público estará exercendo a advocacia de forma lícita, que envolve patrocinar interesse privado perante a administração pública.
- Impróprios/impuros/impropriamente ditos/mistos
Na falta da qualidade de funcionário público ao autor, desaparece o crime funcional, mas o fato se submete/adequa a outro tipo penal, havendo atipicidade relativa. São exemplos:
· Peculato próprio: pois se o particular se apropriar de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel de que tenha posse, estará praticando apropriação indébita;
· Peculato impróprio/peculato-furto: pois se o particular apropriar-se de bem sem ter sua posse direta, estará praticando furto.
- Conceito de funcionário público
Art. 327, CP – “Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública”. 
Por exemplo, exercem função pública para fins penais, os jurados do tribunal do júri, o juiz de paz, o tabelião, os agentes políticos, o estagiário de órgãos públicos, o enfermeiro voluntário que trabalha em hospital público e os mesários eleitorais. 
Por sua vez, não são funcionários públicos para fins penais aqueles que exercem encargo público atribuído por lei (múnus público), a exemplo do tutor, do curador, do depositário judicial, do defensor dativo e do administrador judicial.
§ 1º - Equipara-se a funcionário público – sendo chamado de funcionário público por equiparação – quem exerce cargo, emprego ou função em entidade paraestatal, e quem trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada para a execução de atividade típica da Administração Pública. Considere-se:
· Entidade paraestatal: são os serviços sociais autônomos (sistema “S”); ONG’s; entidades de apoio como fundações, associações e cooperativas; organizações sociais e organizações sociais de interesse público (OSCIP’s);
· Empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada para a execução de atividade típica da Administração Pública: é exemplo o médico que atua na saúde pública em razão de ter sido contratado por empresa privada conveniada, dela provindo seu salário, já que a saúde é atividade típica da administração pública. Por sua vez, não se considera funcionário público para fins penais, o vigilante de órgãos públicos, pois não se trata de atividade típica da administração pública.
Diverge a doutrina sobre se esta equiparação só é aplicada quando aquele que seria equiparado a funcionário público é sujeito ativo do delito, ou também quando for sujeito passivo. São as teorias:
· Restritiva: entende que a equiparação só ocorre quando a pessoa for sujeito ativo;
· Extensiva/ampliativa: doutrina majoritária, entende que a equiparação também se aplica quando a pessoa for sujeito passivo.
Estes dispositivos trazem uma norma penal explicativa/interpretativa, pois busca esclarecer outras normas penais, não norma incriminadora ou que isente de pena.
§ 2º - A pena será aumentada de 1/3 quando os autores forem ocupantes de cargos em comissão, de função de direção ou assessoramento de órgão da administração direta, sociedade de economia mista, empresa pública ou fundação instituída pelo poder público (que fazem parte da administração indireta). Entende o STF que apesar de serem considerados funcionários públicos para fins penais, isto não se aplica àqueles que trabalham em autarquias, respeitando-se o princípio da legalidade penal estrita, pois entender em sentido contrário seria analogia em malam partem, vedada.
Pode um particular praticar crime funcional, próprio ou impróprio, desde que em concurso de pessoas com funcionário público – pois, pela adoção da teoria monista, quem concorreu para um crime, responde por ele – tendo conhecimento da condição de funcionário público do outro – pois, pela adoção da teoria subjetiva da ação, o sujeito responde pelo crime que acredita estar participando, e se não soubesse que a outra pessoa é funcionário público, acreditaria estar praticando outra conduta. Em relação a isto, dispõe o art. 30 CP que não se comunicam as condições de caráter pessoal – como ser funcionário público – salvo quando elementares do crime – como é o caso.
Por exemplo, pratica peculato-furto/impróprio o particular que subtrai aparelho eletrônico da repartição pública afirmando estar dando manutenção ao aparelho, utilizando-se de crachá de funcionário da repartição para nela ingressar. Se o particular não soubesse que o outro é funcionário público, acreditaria estar praticando apenas um furto.
Salvo o peculato culposo, todos os crimes aqui previstos exigem o elemento subjetivo dolo, são dolosos, não se admitindo modalidade culposa. Ainda, todos são de ação pública incondicionada. 
O sujeito ativo será sempre o funcionário público, tratando-se de crimes próprios. Apesar disso, também pode ser praticado por particular em concurso com o funcionário público.
O sujeito passivo será a administração pública, o Estado, podendo incluir outros a depender das especificidades da conduta.
Peculato
Pode ser:
- Peculato próprio (peculato-apropriação e peculato-desvio)
Art. 312 – “Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio: Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa”. 
São os núcleos do tipo (verbos):
· Peculato-apropriação: apropriar-se é tomar para si definitivamente. É exemplo o motorista que, em vez de devolver o veículo da repartição à esta, como se espera que faça diariamente, se apropria dele levando-o para casa, e não aparece mais;
· Peculato-desvio: o desvio refere-se ao desvio de finalidade. É exemplo o policial rodoviário federal que, em vez de colocar um veículo apreendido (de particular) no guincho para ser removido ao local apropriado, fica com ele para dele utilizar-se, desviando sua finalidade.
Seu objeto material pode ser dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo. Apesar disso, o proveito obtido não precisa ser necessariamente patrimonial, podendo ser, por exemplo, moral ou de prestígio.
O sujeito passivo também pode ser o particular que teve seus bens apropriadosou desviados. Trata-se de crime material, consumando-se quando o autor efetivamente age como dono da coisa e obtém seu domínio. Admite-se a tentativa. 
- Peculato de uso
Questiona-se se, caso a apropriação ou desvio seja temporário, ausente o dolo de apropriação definitiva, haverá peculato. Entendeu o STF (HC 108433 AgR, julgado em 25/06/13) que isto vai depender se o bem objeto material do crime é fungível ou não:
· Bem infungível (e não consumível): não há peculato – pois o bem não vai perder suas características, sua qualidade, neste período – mas há ato de improbidade administrativa (art. 9, IV, lei 8.429/92). É exemplo o motorista que em vez de apropriar-se de veículo da repartição definitivamente, apenas o usa temporariamente, entre uma tarefa e outra;
· Bem fungível (e consumível): há peculato. É exemplo o escrivão que utiliza o dinheiro da fiança para pagar uma conta atrasada sua, planejando restituí-lo quando receber seu pagamento.
Cabe lembrar, porém, que, em qualquer hipótese, é crime o peculato de uso praticado por prefeito, pois há previsão específica neste sentido no art. 1º, II, decreto-lei 201/67
- Peculato impróprio (peculato-furto)
§ 1º - Aplica-se a mesma pena, se o funcionário público, embora não tendo a posse do dinheiro, valor ou bem, o subtrai, ou concorre para que seja subtraído, em proveito próprio ou alheio, valendo-se de facilidade que lhe proporciona a qualidade de funcionário. 
O núcleo do tipo é subtrair – valendo-se de facilidade que lhe proporciona a qualidade de funcionário – sendo isso que lhe distingue do peculato próprio. No mais, é igual.
Tanto o peculato próprio, quanto o impróprio, são crimes funcionais impróprios.
Peculato culposo
§ 2º - “Se o funcionário concorre culposamente para o crime de outrem: Pena - detenção, de 3 meses a 1 ano”. 
É exemplo o policial que estaciona viatura aberta, com a chave na ignição, permitindo que um transeunte a subtraia, cometendo furto.
É o único crime culposo praticado por funcionário público contra a administração pública.
§ 3º - É possível a reparação do dano. Se feita antes da sentença irrecorrível/transitada em julgado, ela extingue a punibilidade; se feita depois, ela reduz de metade a pena imposta. Ainda, é possível a aplicação das medidas despenalizadoras (suspensão condicional da pena, transação penal e reparação civil do dano).
Peculato mediante erro de outrem
Art. 313 – “Apropriar-se de dinheiro ou qualquer utilidade que, no exercício do cargo, recebeu por erro de outrem: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa”. 
É tomar proveito da situação de erro em que outro se encontra. Trata-se do peculato-estelionato/mediante erro de outrem. 
É exemplo o policial que se aproveita de idosa que chega na delegacia pedindo para pagar seu INSS e lhe entrega o dinheiro acreditando que está fazendo isto.
Peculato eletrônico
- Inserção de dados falsos em sistema de informações
Art. 313-A – “Inserir ou facilitar, o funcionário autorizado, a inserção de dados falsos, alterar ou excluir indevidamente dados corretos nos sistemas informatizados ou bancos de dados da Administração Pública com o fim de obter vantagem indevida para si ou para outrem ou para causar dano: Pena – reclusão, de 2 a 12 anos, e multa”.
Exige-se o dolo específico de obter vantagem ou causar dano. Como o resultado danoso já está presente no tipo penal, não há causa de aumento de pena.
 - Modificação ou alteração não autorizada de sistema de informações
Art. 313-B – “Modificar ou alterar, o funcionário, sistema de informações ou programa de informática sem autorização ou solicitação de autoridade competente: Pena – detenção, de 3 meses a 2 anos, e multa.”
Diferente da figura anterior, o sujeito ativo é qualquer funcionário, não precisando ser autorizado.
Único – “As penas são aumentadas de um terço até a metade se da modificação ou alteração resulta dano para a Administração Pública ou para o administrado”. Como não se exige o dolo específico de causar dano, ele é causa de aumento de pena.
Extravio, sonegação ou inutilização de livro ou documento
Art. 314 – “Extraviar livro oficial ou qualquer documento, de que tem a guarda em razão do cargo; sonegá-lo ou inutilizá-lo, total ou parcialmente: Pena - reclusão, de um a quatro anos, se o fato não constitui crime mais grave”. 
O BJ protegido são a integridade de bens (livros e documentos oficiais) e informações públicas. O sujeito passivo é a repartição pública à qual eles pertencem. 
Ressalta-se que só se pune a modalidade dolosa, quando o extravio, sonegação ou inutilização ocorre por querer, não se punindo acidentes causados por negligência, imprudência ou imperícia (modalidade culposa).
Emprego irregular de verbas ou rendas públicas
Art. 315 – “Dar às verbas ou rendas públicas aplicação diversa da estabelecida em lei: Pena - detenção, de um a três meses, ou multa”. É exemplo um prefeito que recebeu valores da União para fazer licitações voltadas à saúde, fazê-las para a área da educação. O sujeito não fica com o dinheiro, pois neste caso se teria peculato-furto. Assim a administração pública é, ao mesmo tempo, vítima e beneficiária.
Concussão
Art. 316 – “Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função [como estando de férias ou licença] ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida: Pena - reclusão, de 2 a 12 anos, e multa”. É exemplo o secretário de obras que exige valores do proprietário sob a ameaça de que, se não recebe-los, irá embargar a obra, mesmo que ela não tenha qualquer irregularidade.
O núcleo do tipo é exigir, ou seja, impor. Assim esta conduta difere da corrupção passiva, cujo núcleo do tipo é solicitar – fazendo um pedido, deixando escolha ao particular, sem ameaça-lo com uma sanção caso não concorde – ou receber. 
O particular, ao concordar, não cometerá crime, diferente do que ocorre na corrupção passiva. Caso a exigência ocorra mediante violência ou grave ameaça á pessoa, não se tem concussão, mas extorsão.
A conduta é direta quando o funcionário fizer, ele próprio, a exigência, e será indireta quando pedir para alguém fazê-lo em seu nome, por exemplo. A exigência também pode ser explícita ou tática.
Parte da doutrina entende que a vantagem indevida necessariamente será patrimonial. Porém, doutrina majoritária entende que pode ser de outra ordem, como sentimental, moral ou sexual. 
É crime funcional próprio. O sujeito passivo mediato e secundário será o particular de quem a vantagem foi exigida, enquanto que o imediato e primordial será a administração pública. 
É crime formal, pois basta a exigência para sua consumação, não sendo necessária a obtenção da vantagem buscada, o que representará apenas seu exaurimento. Por isto, não é possível a realização de flagrante ficto, planejado, se transcorrido um período considerável de tempo entre a exigência e a obtenção da vantagem. Imagine-se que o funcionário exigiu um valor no dia A, mas o particular não dispunha dele, dizendo ao funcionário que retornasse no dia B. Neste meio tempo, porém, avisa a polícia. Caso a polícia se prepare e acompanhe a transação no dia marcada, não haverá flagrante, pois o crime se consumou no dia A, com a exigência. 
Em regra, se admite tentativa, salvo quando a exigência é oral (unissubsistente).
Excesso de exação
Exação é cobrança. 
§ 1º - “Se o funcionário exige tributo ou contribuição social que sabe ou deveria saber indevido, ou, quando devido, emprega na cobrança meio vexatório ou gravoso, que a lei não autoriza: Pena - reclusão, de 3a 8 anos, e multa”. Enquanto no crime anterior se exige vantagem indevida, aqui o objeto material do crime é específico: tributo ou contribuição social. Pode ser considerado modalidade qualificada de concussão ou crime autônomo. Note-se que aqui o tributo exigido em excesso não se reverterá em benefício do particular, mas da administração pública.
§ 2º - Se o funcionário desvia, em proveito próprio ou de outrem, o que recebeu indevidamente para recolher aos cofres públicos: Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.
Ambos são crimesformais, não se exigindo o efetivo pagamento para sua consumação. Pode ser praticado por dolo direto (“tributo que sabe ser indevido”) ou eventual (“tributo que deveria saber ser indevido”). É crime funcional próprio.
Corrupção passiva
Art. 317 – “Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem: Pena – reclusão, de 2 a 12 anos, e multa”. 
O que muda em relação à concussão é apenas o verbo: enquanto lá o funcionário exige à vantagem, não deixa escolha ao particular, enquanto aqui ele apenas a solicita, ou aceita do particular que a ofereceu (corrupção ativa). O particular que entrega a vantagem solicitada não pratica crime, só o faz se oferecer a vantagem, tendo a iniciativa (corrupção ativa).
Na modalidade solicitar, assim como na concussão, é crime formal, bastando a solicitação para sua consumação. Na modalidade “receber”, porém, é crime formal, sendo necessário o efetivo recebimento para sua consumação.
Também não admite tentativa quando oral, mas admite quando praticada de outras formas, como por escrito.
§ 1º - “A pena é aumentada de 1/3, se, em consequência da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou deixa de praticar qualquer ato de ofício ou o pratica infringindo dever funcional”. Isto não se aplica se a violação, por si só, constituir outro crime, pois o agente responderá por este último, em concurso com a corrupção.
	CONCUSSÃO
	EXTORSÃO
	CORRUPÇÃO PASSIVA
	Art. 316 – Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função [como estando de férias ou licença] ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida.
	Art. 158 – Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar de fazer alguma coisa.
	Art. 317 – Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem.
	Pena: reclusão de 2 a 12 anos
	Pena: reclusão de 4 a 10 anos
	Pena: reclusão de 2 a 12 anos
	A exigência (ou constrangimento) é realizado mediante coação, intimidação
	O constrangimento é realizado mediante violência ou grave ameaça
	Não há exigência ou constrangimento
	Crime próprio/especial
	Crime comum
	Crime próprio/especial
- Corrupção passiva privilegiada
§ 2º - “Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda ato de ofício, com infração de dever funcional, cedendo a pedido ou influência de outrem: Pena - detenção, de 3 meses a 1 ano, ou multa”. É exemplo quando alguém, ao ser parado por policial, liga para um conhecido de influência, como um juiz, e este fala com o policial, influenciando-o a não praticar o ato, e este solicita ou aceita vantagem.
Facilitação de contrabando ou descaminho
Art. 318 – “Facilitar, com infração de dever funcional, a prática de contrabando ou descaminho (art. 334): Pena - reclusão, de 3 a 8 anos, e multa”. 
Além da moralidade administrativa e da administração pública, a ordem tributária também é BJ tutelado. É crime próprio, sempre praticado apenas pelo funcionário que tenha a capacidade de realizar esta facilitação. É crime formal.
O crime de facilitação não se aplica quando o agente facilita o tráfico de drogas, armas ou pessoas, situação na qual responderá por estes crimes.
Quem praticou o contrabando ou descaminho responderá por estes crimes. Trata-se de adoção da teoria pluralista, que permite que dois sujeitos sejam punidos por crimes diferentes em razão do mesmo fato. É uma exceção à regra, pois em sua parte geral o CP adota a teoria monista.
Prevaricação
Art. 319 – “Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal: Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa”. Difere da corrupção passiva e da concussão pela motivação, pois aqui não se busca obter vantagem. 
É exemplo o membro do MP que solicita o arquivamento de inquérito que investiga um amigo.
- Prevaricação imprópria
Art. 319-A – “Deixar o Diretor de Penitenciária e/ou agente público, de cumprir seu dever de vedar ao preso o acesso a aparelho telefônico, de rádio ou similar, que permita a comunicação com outros presos ou com o ambiente externo: Pena: detenção, de 3 meses a 1 ano”. É crime omissivo próprio – praticado por omissão – que não admite tentativa. É crime formal.
Condescendência criminosa
Art. 320 – “Deixar o funcionário, por indulgência [pena, dó, clemência], de responsabilizar subordinado que cometeu infração no exercício do cargo ou, quando lhe falte competência, não levar o fato ao conhecimento da autoridade competente: Pena - detenção, de 15 dias a 1 mês, ou multa”.
Advocacia administrativa
Art. 321 – “Patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante a administração pública, valendo-se da qualidade de funcionário: Pena - detenção, de um a três meses, ou multa”. O patrocínio deve ser inerente a atos fora das atribuições do servidor.
Único - Se o interesse é ilegítimo: Pena - detenção, de 3 meses a 1 ano, além da multa.
Violência arbitrária
Art. 322 – “Praticar violência, no exercício de função ou a pretexto de exercê-la: Pena - detenção, de 6 meses a 3 anos, além da pena correspondente à violência”.
Abandono de função
Art. 323 – “Abandonar cargo público, fora dos casos permitidos em lei: Pena - detenção, de 15 dias a 1 mês, ou multa”. São exemplos de cargos permitidos em lei a licença prêmio e licença maternidade. Como a lei não informa um prazo, alguns doutrinadores fixam prazo de 30 dias, mas prevalece o entendimento de que deve ser um prazo suficiente para causar dano à administração pública.
§ 1º - “Se do fato resulta prejuízo público: Pena - detenção, de 3 meses a 1 ano, e multa”. Trata-se de perigo abstrato, não se exigindo prova dele.
§ 2º - “Se o fato ocorre em lugar compreendido na faixa de fronteira: Pena - detenção, de 1 a 3 anos, e multa”. Isto só abrange a fronteira nacional, não as estaduais.
Exercício funcional ilegalmente antecipado ou prolongado
Art. 324 - Entrar no exercício de função pública antes de satisfeitas as exigências legais, ou continuar a exercê-la, sem autorização, depois de saber oficialmente que foi exonerado, removido, substituído ou suspenso: Pena - detenção, de 15 dias a 1 mês, ou multa.
Violação de sigilo funcional
Art. 325 - Revelar fato de que tem ciência em razão do cargo e que deva permanecer em segredo, ou facilitar-lhe a revelação: Pena - detenção, de 6 meses a 2 anos, ou multa, se o fato não constitui crime mais grave.
§ 1º - Nas mesmas penas deste artigo incorre quem: 
I. Permite ou facilita, mediante atribuição, fornecimento e empréstimo de senha ou qualquer outra forma, o acesso de pessoas não autorizadas a sistemas de informações ou banco de dados da Administração Pública;
II. Se utiliza, indevidamente, do acesso restrito.
§ 2º - Se da ação ou omissão resulta dano à Administração Pública ou a outrem: Pena – reclusão, de 2 a 6 anos, e multa.
Violação do sigilo de proposta de concorrência
Art. 326 – “Devassar o sigilo [tomar conhecimento] de proposta de concorrência pública, ou proporcionar a terceiro o ensejo de devassá-lo: Pena - Detenção, de 3 meses a 1 ano, e multa”. É aplicado subsidiariamente aos crimes previstos na lei de licitações.
Praticados por particulares contra a administração em geral
Podem ser praticados, também, por funcionário público fora do exercício da função.
Usurpação de função pública
Art. 328 – “Usurpar o exercício de função pública: Pena - detenção, de 3 meses a 2 anos, e multa”. Se trata do particular que finge ser agente público. Não se confunde com o crime de exercício funcional ilegalmente antecipado ou prolongado, que é praticado por agente público.
Único - Se do fato o agente aufere vantagem: Pena - reclusão, de 2 a 5 anos, e multa.
Resistência
Art. 329 - Opor-se à execuçãode ato legal, mediante violência ou ameaça a funcionário competente para executá-lo ou a quem lhe esteja prestando auxílio: Pena - detenção, de 2 meses a 2 anos.
§ 1º - Se o ato, em razão da resistência, não se executa: Pena - reclusão, de 1 a 3 anos.
§ 2º - As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo das correspondentes à violência.
Desobediência
Art. 330 - Desobedecer a ordem legal de funcionário público: Pena - detenção, de 15 dias a 6 meses, e multa.
Desacato
Art. 331 – “Desacatar funcionário público no exercício da função ou em razão dela: Pena - detenção, de 6 meses a 2 anos, ou multa”. Pode ser praticado por outro funcionário público.
Tráfico de influência
Art. 332 – “Solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si ou para outrem, vantagem ou promessa de vantagem, a pretexto de influir em ato praticado por funcionário público no exercício da função: Pena - reclusão, de 2 a 5 anos, e multa”. É exemplo o juiz que, ao receber ligação de familiar parado em blitz, busca influenciar o policial ou agente de trânsito a não lhe aplicar a penalidade devida.
Único - A pena é aumentada da metade, se o agente alega ou insinua que a vantagem é também destinada ao funcionário.
Corrupção ativa
Art. 333 - Oferecer ou prometer [dar não é crime] vantagem indevida a funcionário público, para determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício: Pena – reclusão, de 2 a 12 anos, e multa.
Único - A pena é aumentada de um terço, se, em razão da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou omite ato de ofício, ou o pratica infringindo dever funcional.
Descaminho
Art. 334 - Iludir, no todo ou em parte, o pagamento de direito ou imposto devido pela entrada, pela saída ou pelo consumo de mercadoria [permitida]. Pena - reclusão, de 1 a 4 anos.
§ 1º - Incorre na mesma pena quem:
I. Pratica navegação de cabotagem, fora dos casos permitidos em lei;
II. Pratica fato assimilado, em lei especial, a descaminho;
III. Vende, expõe à venda, mantém em depósito ou, de qualquer forma, utiliza em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria de procedência estrangeira que introduziu clandestinamente no País ou importou fraudulentamente ou que sabe ser produto de introdução clandestina no território nacional ou de importação fraudulenta por parte de outrem;
IV. Adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria de procedência estrangeira, desacompanhada de documentação legal ou acompanhada de documentos que sabe serem falsos.
§ 2º - Equipara-se às atividades comerciais, para os efeitos deste artigo, qualquer forma de comércio irregular ou clandestino de mercadorias estrangeiras, inclusive o exercido em residências.
§ 3º - A pena aplica-se em dobro se o crime de descaminho é praticado em transporte aéreo, marítimo ou fluvial.
É crime formal.
Contrabando
Art. 334-A. Importar ou exportar mercadoria proibida: Pena - reclusão, de 2 a 5 anos.
§ 1º - Incorre na mesma pena quem:
I. Pratica fato assimilado, em lei especial, a contrabando;
II. Importa ou exporta clandestinamente mercadoria que dependa de registro, análise ou autorização de órgão público competente;
III. Reinsere no território nacional mercadoria brasileira destinada à exportação;
IV. Vende, expõe à venda, mantém em depósito ou, de qualquer forma, utiliza em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria proibida pela lei brasileira;
V. Adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria proibida pela lei brasileira.
Se a mercadoria for arma de fogo, munição ou acessório, não se tem crime de descaminho, aplicando-se o estatuto do desarmamento.
§ 2º - Equipara-se às atividades comerciais, para os efeitos deste artigo, qualquer forma de comércio irregular ou clandestino de mercadorias estrangeiras, inclusive o exercido em residências.
§ 3º - A pena aplica-se em dobro se o crime de contrabando é praticado em transporte aéreo, marítimo ou fluvial. 
Impedimento, perturbação ou fraude de concorrência
Art. 335 - Impedir, perturbar ou fraudar concorrência pública ou venda em hasta pública, promovida pela administração federal, estadual ou municipal, ou por entidade paraestatal; afastar ou procurar afastar concorrente ou licitante, por meio de violência, grave ameaça, fraude ou oferecimento de vantagem: Pena - detenção, de 6 meses a 2 anos, ou multa, além da pena correspondente à violência.
Único - Incorre na mesma pena quem se abstém de concorrer ou licitar, em razão da vantagem oferecida.
Inutilização de edital ou de sinal
Art. 336 - Rasgar ou, de qualquer forma, inutilizar ou conspurcar edital afixado por ordem de funcionário público; violar ou inutilizar selo ou sinal empregado, por determinação legal ou por ordem de funcionário público, para identificar ou cerrar qualquer objeto: Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa.
Subtração ou inutilização de livro ou documento
Art. 337 - Subtrair, ou inutilizar, total ou parcialmente, livro oficial, processo ou documento confiado à custódia de funcionário, em razão de ofício, ou de particular em serviço público: Pena - reclusão, de dois a cinco anos, se o fato não constitui crime mais grave.
Sonegação de contribuição previdenciária
Art. 337-A - Suprimir ou reduzir contribuição social previdenciária e qualquer acessório, mediante as seguintes condutas:
I. Omitir de folha de pagamento da empresa ou de documento de informações previsto pela legislação previdenciária segurados empregado, empresário, trabalhador avulso ou trabalhador autônomo ou a este equiparado que lhe prestem serviços;
II. Deixar de lançar mensalmente nos títulos próprios da contabilidade da empresa as quantias descontadas dos segurados ou as devidas pelo empregador ou pelo tomador de serviços;
III. Omitir, total ou parcialmente, receitas ou lucros auferidos, remunerações pagas ou creditadas e demais fatos geradores de contribuições sociais previdenciárias: 
Pena – reclusão, de 2 a 5 anos, e multa. 
§ 1º - É extinta a punibilidade se o agente, espontaneamente, declara e confessa as contribuições, importâncias ou valores e presta as informações devidas à previdência social, na forma definida em lei ou regulamento, antes do início da ação fiscal.
§ 2º - É facultado ao juiz deixar de aplicar a pena ou aplicar somente a de multa se o agente for primário e de bons antecedentes, desde que: 
I. VETADO
II. O valor das contribuições devidas, inclusive acessórios, seja igual ou inferior àquele estabelecido pela previdência social, administrativamente, como sendo o mínimo para o ajuizamento de suas execuções fiscais.
§ 3º - Se o empregador não é pessoa jurídica e sua folha de pagamento mensal não ultrapassa R$ 1.510,00, o juiz poderá reduzir a pena de um terço até a metade ou aplicar apenas a de multa.
§ 4º - O valor a que se refere o parágrafo anterior será reajustado nas mesmas datas e nos mesmos índices do reajuste dos benefícios da previdência social.
Contra a administração pública estrangeira
Corrupção ativa em transação comercial internacional
Art. 337-B - Prometer, oferecer ou dar, direta ou indiretamente, vantagem indevida a funcionário público estrangeiro, ou a terceira pessoa, para determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício relacionado à transação comercial internacional: Pena – reclusão, de 1 a 8 anos, e multa. 
Único - A pena é aumentada de 1/3, se, em razão da vantagem ou promessa, o funcionário público estrangeiro retarda ou omite o ato de ofício, ou o pratica infringindo dever funcional.
Tráfico de influência em transação comercial internacional
Art. 337-C - Solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, vantagem ou promessa de vantagem a pretexto de influir em ato praticado por funcionário público estrangeiro no exercício de suas funções, relacionado a transação comercial internacional: Pena – reclusão, de 2 a 5 anos, e multa.
Único - A pena é aumentada da metade, se o agente alegaou insinua que a vantagem é também destinada a funcionário estrangeiro. 
Funcionário público estrangeiro
Art. 337-D - Considera-se funcionário público estrangeiro, para os efeitos penais, quem, ainda que transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública em entidades estatais ou em representações diplomáticas de país estrangeiro. 
Único - Equipara-se a funcionário público estrangeiro quem exerce cargo, emprego ou função em empresas controladas, diretamente ou indiretamente, pelo Poder Público de país estrangeiro ou em organizações públicas internacionais.
Contra a administração da justiça
O BJ tutelado é a administração da justiça. Não dizem respeito apenas ao judiciário, mas a toda a persecucio criminis promovida pelo Estado.
O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa. O sujeito passivo é o Estado, pois é ele o administrador da justiça, detendo o jus puniendi. O BJ tutelado é a administração da justiça. O elemento subjetivo é o dolo. Em regra, são crimes de ação penal pública incondicionada.
Reingresso de estrangeiro expulso
Art. 338 - Reingressar no território nacional o estrangeiro que dele foi expulso: Pena - reclusão, de um a quatro anos, sem prejuízo de nova expulsão após o cumprimento da pena.
Reingresso de estrangeiro expulso
Art. 338 - Reingressar no território nacional o estrangeiro que dele foi expulso: Pena - reclusão, de um a quatro anos, sem prejuízo de nova expulsão após o cumprimento da pena.
Denunciação caluniosa
Art. 339 - Dar causa à instauração de inquérito policial, de procedimento investigatório criminal, de processo judicial, de processo administrativo disciplinar, de inquérito civil ou de ação de improbidade administrativa contra alguém, imputando-lhe crime, infração ético-disciplinar ou ato ímprobo de que o sabe inocente: Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa.
§ 1º - A pena é aumentada de sexta parte, se o agente se serve de anonimato ou de nome suposto.
§ 2º - A pena é diminuída de metade, se a imputação é de prática de contravenção.
Comunicação falsa de crime ou de contravenção
Art. 340 - Provocar a ação de autoridade, comunicando-lhe a ocorrência de crime ou de contravenção que sabe não se ter verificado: Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
Auto-acusação falsa
Art. 341 - Acusar-se, perante a autoridade, de crime inexistente ou praticado por outrem: Pena - detenção, de três meses a dois anos, ou multa.
Falso testemunho ou falsa perícia
Art. 342 - Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade como testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete em processo judicial, ou administrativo, inquérito policial, ou em juízo arbitral: Pena - reclusão, de 2 a 4 anos, e multa.
§ 1º - As penas aumentam-se de um sexto a um terço, se o crime é praticado mediante suborno ou se cometido com o fim de obter prova destinada a produzir efeito em processo penal, ou em processo civil em que for parte entidade da administração pública direta ou indireta.
§ 2º - O fato deixa de ser punível se, antes da sentença no processo em que ocorreu o ilícito, o agente se retrata ou declara a verdade.
Corrupção de testemunha, perito e equiparados
Art. 343 – “Dar, oferecer ou prometer dinheiro ou qualquer outra vantagem a testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete, para fazer afirmação falsa, negar ou calar a verdade em depoimento, perícia, cálculos, tradução ou interpretação: Pena - reclusão, de três a quatro anos, e multa”.
Admite-se tentativa quando a conduta for realizada, por exemplo, por escrito.
Aquele que aceitar a vantagem indevida e efetivamente fazer afirmação falsa, negar ou calar a verdade, responderá pelo crime de falso testemunho ou perícia (art. 342).
Quando o perito, contador, tradutor ou intérprete for funcionário público (perito oficial) e aceitar a vantagem indevida, ele estará cometendo corrupção ativa. Novamente há uma exceção á teoria monista, adotando-se a teoria pluralista, pois os sujeitos poderão responder por crimes diferentes em decorrência de uma mesma conduta.
Único – “As penas aumentam-se de 1/6 a 1/3, se o crime é cometido com o fim de obter prova destinada a produzir efeito em processo penal ou em processo civil em que for parte entidade da administração pública direta ou indireta”.
Coação no curso do processo
Art. 344 – “Usar de violência ou grave ameaça, com o fim de favorecer interesse próprio ou alheio, contra autoridade, parte, ou qualquer outra pessoa que funciona ou é chamada a intervir em processo judicial, policial ou administrativo, ou em juízo arbitral: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa, além da pena correspondente à violência [lesão corporal]”. Isto também se aplica a procedimento administrativo ou policial.
O sujeito passivo, além do Estado, é a vítima, a pessoa envolvida no processo que sofreu a violência ou grave ameaça, podendo ser inclusive o próprio réu ou co-réu. É possível a tentativa.
Praticada a violência, o autor também poderá responder de forma autônoma por lesão corporal, um crime não absorvendo o outro.
Exercício arbitrário das próprias razões
Art. 345 – “Fazer justiça pelas próprias mãos, para satisfazer pretensão, embora legítima, salvo quando a lei o permite: Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa, além da pena correspondente à violência”. É exemplo de pretensão legítima a situação em que alguém lhe deve dinheiro, devendo o credor ingressar com ação para isto, permitindo ao devedor o contraditório e a ampla defesa. Se, todavia, o credor subtrair para si um objeto da vítima, para saldar a dívida, cometerá a conduta aqui prevista, e não o furto.
O sujeito passivo é o Estado e a vítima. A consumação se dá com o efetivo exercício arbitrário das próprias razões, sendo possível a tentativa. Doutrina majoritária entende ser crime material, mas alguns entendem que é formal, a depender de seus modos de execução.
Único – Em regra, é crime de ação penal pública incondicionada. Porém, se não há emprego de violência, somente se procede mediante queixa, sendo crime de ação penal privada.
Apoderamento de coisa
Art. 346 – “Tirar, suprimir, destruir ou danificar coisa própria, que se acha em poder de terceiro por determinação judicial ou convenção: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa”. Ocorre quando o terceiro detém o bem do sujeito ativo legitimamente, a posse sobre ele é legítima. É exemplo aquele que tem veículo apreendido por apresentar irregularidades e busca reavê-lo ilegalmente. Outro exemplo é aquele que destrói veículo objeto de busca e apreensão quando o oficial de justiça busca obtê-lo.
O sujeito passivo é o Estado e o terceiro que estiver legitimamente na posse do bem. A consumação se dá com a efetivação dos núcleos do tipo (verbos). É crime material. A tentativa é possível.
Fraude processual
Art. 347 – “Inovar artificiosamente, na pendência de processo civil ou administrativo, o estado de lugar, de coisa ou de pessoa, com o fim de induzir a erro o juiz ou o perito: Pena - detenção, de 3 meses a 2 anos, e multa”. Uma vez que a lei não menciona a figura do delegado de polícia ou do MP, o crime não se aplica quando a conduta for destinada a induzir estas pessoas em erro. 
Único – “Se a inovação se destina a produzir efeito em processo penal, ainda que não iniciado, as penas aplicam-se em dobro”. Assim, isto se aplica ao inquérito policial.
É exemplo de mudança de lugar o sujeito que, tendo atropelado a vítima, move seu corpo de local. É exemplo de mudança de estado de pessoa, aquele que faz cirurgia plástica para não ser reconhecido. É exemplo de mudança de estado de coisa a danificação de objeto, como a arma do crime.
Exige-se o dolo específico da indução à erro.
Favorecimento pessoal
Art. 348 – “Auxiliar a subtrair-se à ação de autoridade pública autor de crime a que é cominada pena de reclusão: Pena - detenção, de 1 a 6 meses, e multa”. § 1º - Se ao crime não é cominada pena de reclusão: Pena - detenção, de 15 dias a 3 meses, e multa.
Se protege o criminoso. É exemplo dar carona a alguém que a solicita explicando que cometeu um crime e precisa evadir-sedo local.
§ 2º - “Se quem presta o auxílio é ascendente, descendente [independentemente do grau de parentesco], cônjuge ou irmão do criminoso, fica isento de pena”. Trata-se de hipótese de isenção de pena, ou seja, o sujeito pratica o crime, mas não é punido.
Favorecimento real
Art. 349 – “Prestar a criminoso, fora dos casos de co-autoria ou de receptação, auxílio destinado a tornar seguro o proveito do crime: Pena - detenção, de um a seis meses, e multa”. Se protege o crime. O sujeito ativo não pode ser aquele que praticou o crime – pois esta situação seria uma hipótese da chamada pós factum impunível – tendo de ser um terceiro.
É exemplo guardar o objeto furtado, a pedido de quem realizou o furto, para que ele não seja encontrado durante uma busca na casa do infrator. 
É crime formal, consumando-se mesmo que o objeto do crime não se conserve, sendo encontrado pela polícia, por exemplo.
Entrada de equipamento eletrônico em estabelecimento prisional
Art. 349-A – “Ingressar, promover, intermediar, auxiliar ou facilitar a entrada de aparelho telefônico de comunicação móvel, de rádio ou similar, sem autorização legal, em estabelecimento prisional. Pena: detenção, de 3 meses a 1 ano”. 
O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa. O sujeito passivo é o Estado, na figura do estabelecimento prisional.
Exercício arbitrário ou abuso de poder
Art. 350 - Popular abuso de autoridade, foi revogado pela lei que trata do assunto.
Fuga de pessoa presa ou submetida a medida de segurança
Art. 351 – “Promover ou facilitar a fuga de pessoa legalmente presa [que praticou crime ou contravenção, sendo prisão por sentença ou cautelar] ou submetida a medida de segurança detentiva [internação ou atendimento ambulatorial, aplicados a inimputáveis]: Pena - detenção, de 6 meses a 2 anos”.
 - Formas qualificados
§ 1º - “Se o crime é praticado a mão armada, ou por mais de uma pessoa, ou mediante arrombamento, a pena é de reclusão, de 2 a 6 anos”.
§ 3º - “A pena é de reclusão, de 1 a 4 anos, se o crime é praticado por pessoa sob cuja custódia ou guarda está o preso ou o internado”.
- Pena autônoma
§ 2º - “Se há emprego de violência contra pessoa, aplica-se também a pena correspondente à violência [lesão corporal]”.
- Modalidade culposa/privilegiada
§ 4º - “No caso de culpa do funcionário incumbido da custódia ou guarda, aplica-se a pena de detenção, de três meses a um ano, ou multa”.
Evasão mediante violência contra a pessoa
Art. 352 – “Evadir-se ou tentar evadir-se o preso ou o indivíduo submetido a medida de segurança detentiva, usando de violência contra a pessoa: Pena - detenção, de três meses a um ano, além da pena correspondente à violência”.
Trata-se novamente de exceção à teoria monista, pois a pessoa que ajudou na fuga responde pelo art. anterior, enquanto que aquele que fugiu usando de violência responde por este. Não estará configurada a conduta se a violência for apenas contra a coisa (como serrar grades). Neste caso, inicialmente, não haverá crime, salvo se encaixar-se na hipótese do 359.
O elemento subjetivo é o dolo, não havendo modalidade culposa. O sujeito ativo necessariamente será o preso ou o indivíduo submetido a medida de segurança detentiva. O sujeito passivo é o Estado materializado na penitenciária. Uma vez que “tentar” é um dos núcleos do tipo, trata-se também de um crime de atentado, não admitindo-se tentativa.
Arrebatamento de preso
Art. 353 – “Arrebatar [linchar, tratar com violência] preso, a fim de maltratá-lo, do poder de quem o tenha sob custódia ou guarda: Pena - reclusão, de um a quatro anos, além da pena correspondente à violência”.
Exige-se o dolo específico, a finalidade de maltratar. O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, pois qualquer um pode ter a custódia ou guarda do preso, a exemplo do particular que flagra alguém furtando sua casa e o leva até a delegacia, podendo cometer o presente crime no caminho. Todavia, entende doutrina majoritária que se trata de crime próprio, pois só pode cometê-lo quem tiver a guarda ou custódia do preso.
Motim de presos
Art. 354 – “Amotinarem-se presos, perturbando a ordem ou disciplina da prisão: Pena - detenção, de 6 meses a 2 anos, além da pena correspondente à violência”.
Isto não se aplica ao submetido à medida de segurança. 
Pelo uso do termo “presos”, no plural, exige-se a participação de uma coletividade, sendo crime plurissubjetivo. Assim, se um único preso fizer a perturbação, não responderá por este crime. É crime próprio, pois só pode ser praticado pelo preso.
Patrocínio infiel
Art. 355 – “Trair, na qualidade de advogado ou procurador [nomeado pelo juiz], o dever profissional, prejudicando interesse, cujo patrocínio, em juízo, lhe é confiado: Pena - detenção, de 6 meses a 3 anos, e multa”.
Isto só se aplica no processo judicial, não em procedimentos administrativos.
É exemplo o advogado que aceita acordo quando a parte lhe instruiu a não fazê-lo.
É crime próprio, pois só pode ser praticado por advogado ou procurador. Entende doutrina majoritária que se trata de crime material, sendo necessário que o prejuízo à parte se concretize para a consumação do crime. A conduta pode ser comissiva ou omissiva.
Patrocínio simultâneo ou tergiversação
Único – “Incorre na pena deste artigo o advogado ou procurador judicial que defende na mesma causa, simultânea ou sucessivamente, partes contrárias”.
Sonegação de papel ou objeto de valor probatório
Art. 356 – “Inutilizar, total ou parcialmente, ou deixar de restituir autos, documento ou objeto de valor probatório, que recebeu na qualidade de advogado ou procurador: Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa”.
É crime próprio, pois só pode ser praticado por advogado ou procurador. Na modalidade inutilizar é crime material (exige a efetiva inutilização) e na modalidade deixar de restituir é formal.
Exploração de prestígio
Art. 357 – “Solicitar ou receber dinheiro ou qualquer outra utilidade, a pretexto de influir em juiz, jurado, órgão do MP, funcionário de justiça [serventuário], perito, tradutor, intérprete ou testemunha: Pena - reclusão, de 1 a 5 anos, e multa”.
O sujeito ativo é aquele que busca influir no funcionário público, como um advogado pode fazer ao oferecer propina a um membro do MP para que não denuncie seu cliente. Se for o membro do MP a pedir esta propina ou agir me conluio com o autor deste crime, estará praticando corrupção passiva. É crime comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa.
Único – “As penas aumentam-se de 1/3, se o agente alega ou insinua que o dinheiro ou utilidade também se destina a qualquer das pessoas referidas neste artigo”.
Trata-se de crime formal, não sendo necessário o efetivo pagamento, por exemplo, para sua consumação. Admite-se a tentativa, caso seja cometido por escrito, por exemplo.
Violência ou fraude em arrematação judicial
Art. 358 – “Impedir, perturbar ou fraudar arrematação judicial; afastar ou procurar afastar concorrente ou licitante, por meio de violência, grave ameaça, fraude ou oferecimento de vantagem: Pena - detenção, de dois meses a um ano, ou multa, além da pena correspondente à violência”.
É crime comum. Admite tentativa.
Desobediência a decisão judicial sobre perda ou suspensão de direito
Art. 359 – “Exercer função, atividade, direito, autoridade ou múnus, de que foi suspenso ou privado por decisão judicial: Pena - detenção, de 3 meses a 2 anos, ou multa”.
É exemplo deixar de entregar coisa cuja apreensão foi determinada por decisão judicial ou praticar ato cuja abstenção foi determinada por decisão judicial.
Admite-se a tentativa.
Crimes contra as finanças públicas
Contratação de operação de crédito
Art. 359-A - Ordenar, autorizar ou realizar operação de crédito, interno ou externo, sem prévia autorização legislativa: Pena – reclusão, de 1 a 2 anos.
Único - Incide na mesma pena quem ordena, autoriza ou realiza operação de crédito, interno ou externo: 
I. Com inobservância de limite, condição ou montante estabelecido em lei ou em resolução do Senado Federal; 
II. Quando o montante da dívida consolidada ultrapassa o limite máximo autorizadopor lei.
Inscrição de despesas não empenhadas em restos a pagar
Art. 359-B - Ordenar ou autorizar a inscrição em restos a pagar, de despesa que não tenha sido previamente empenhada ou que exceda limite estabelecido em lei: Pena – detenção, de 6 meses a 2 anos. 
Assunção de obrigação no último ano do mandato ou legislatura 
Art. 359-C - Ordenar ou autorizar a assunção de obrigação, nos dois últimos quadrimestres do último ano do mandato ou legislatura, cuja despesa não possa ser paga no mesmo exercício financeiro ou, caso reste parcela a ser paga no exercício seguinte, que não tenha contrapartida suficiente de disponibilidade de caixa: Pena - reclusão, de 1 a 4 anos.
Ordenação de despesa não autorizada
Art. 359-D - Ordenar despesa não autorizada por lei: Pena – reclusão, de 1 a 4 anos.
Prestação de garantia graciosa
Art. 359-E - Prestar garantia em operação de crédito sem que tenha sido constituída contragarantia em valor igual ou superior ao valor da garantia prestada, na forma da lei: Pena – detenção, de 3 meses a 1 ano. 
Não cancelamento de restos a pagar
Art. 359-F - Deixar de ordenar, de autorizar ou de promover o cancelamento do montante de restos a pagar inscrito em valor superior ao permitido em lei: Pena – detenção, de 6 meses a 2 anos. 
Aumento de despesa total com pessoal no último ano do mandato ou legislatura
Art. 359-G - Ordenar, autorizar ou executar ato que acarrete aumento de despesa total com pessoal, nos cento e oitenta dias anteriores ao final do mandato ou da legislatura: Pena – reclusão, de 1 a 4 anos.
Oferta pública ou colocação de títulos no mercado
Art. 359-H - Ordenar, autorizar ou promover a oferta pública ou a colocação no mercado financeiro de títulos da dívida pública sem que tenham sido criados por lei ou sem que estejam registrados em sistema centralizado de liquidação e de custódia: Pena – reclusão, de 1 a 4 anos

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