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Guilherme Morais Camargo Professor Paulo F. Pinheiro Centro de Ensino Superior dos Campos Gerais – CESCAGE Curso de Direito – Direito Penal RESUMO O presente trabalho, o qual será entregue ao supracitado professor de Direito Penal, se trata sobre o tema “feminicídio”. A finalidade do exposto artigo é explicar aos leitores a presença deste crime no nosso cotidiano, bem como mostrar as consequências deste na vida da vítima e dos agressores, é também um meio de alertar a sociedade como um todo sobre a reprovabilidade do crime, o qual é classificado como crime hediondo por nosso Código Penal, além de trazer penas duras a quem comete o referido ato ilegal. Por ser um meio de alertar a sociedade sobre as delimitações do tema, o presente trabalho trás as questões sociais sobre o tema, além de trazer formas de como o Estado tenta diminuir os índices de mortes do gênero feminino. Palavras chaves: Mortes, mulheres, feminicídio, agressões físicas. 01 INTRODUÇÃO. Podemos dizer que, a luta das mulheres para conseguir espaço entre a sociedade existem desde a criação das relações humanas, e no Brasil não é diferente. Muito antes da chegada de colonizadores ao nosso País, a figura feminina foi deixada de lado e, consequentemente foi rebaixada a níveis extremamente absurdos – sendo apenas um espelho do que já ocorria em outros lugares, bem como muito antes da referida colonização portuguesa. Em sociedades de Idade média e antiga, a objetificação da mulher já existia e era algo inequívoco, pois a figura feminina era visto como apenas um adereço à figura masculina. Sendo assim, era vista apenas como um “ser para reproduzir e servir seu marido”, além de sofrer abusos e crueldades sem mesmo ter o direito de se defender. Como bem ilustra o livro “História das Mulheres no Brasil – de Mary Del Priore”, na página 37: “Das leis do Estado e da Igreja, com frequência bastante duras, à vigilância inquieta de pais, irmãos, tios, tutores, e à coerção informal, mas forte, de velhos costumes misóginos, tudo confluía para o mesmo objetivo: abafar a sexualidade feminina que, ao rebentar as amarras, ameaçava o equilíbrio doméstico, a segurança do grupo social e a própria ordem das instituições civis e eclesiásticas.”. Ou seja, a mulher devia ser uma construção social feita pelo Estado e seus Pertencentes masculinos, mostrando, mais uma vez a insignificância da mulher nos primórdios da sociedade brasileira. Outro exemplo a ser citado sobre a irrelevância social da mulher na sociedade antiga é o período da “inquisição”, onde a figura da mulher “pecadora” era motivo de sua morte, e sempre de maneira humilhantes para que servisse de exemplo para outras pessoas. Vale dizer que nesse período foram mortas inúmeras pessoas, mas com um número maior do gênero feminino (pois eram consideradas “bruxas” as que não condiziam com o pensamento da época), com a finalidade de erradicar a desobediência na idade média. Pode-se citar como exemplo o livro feito pelo inquisidor Heinrich Kramer, chamado de “O Martelo das Feiticeiras” – onde o mesmo dizia que a mulher tem tendência natural a ser bruxa”. No brasil, um dos marcos importantes para as conquistas femininas foi a eleição universal, onde incluiu o direito das mulheres em ter representação política, tal como o sufrágio. Tal ato, conseguido em 1932 através de muita luta feminina, pode-se dizer que foi a ilustração de anos e anos de luta para que a existência de direitos igual seja presente em nosso país. Nos dias atuais, a representação feminina é algo bem presente, porém ainda não é suficiente, visto que algumas pessoas ainda tem resquícios de pensamentos antigos, os quais refletem na ideia de que, o homem é superior a mulher – algo que sabemos o quanto é errado e desprezível. Sendo assim, a Constituição de 1988, junto com o código penal brasileiro, adotam medidas para que cada vez mais a diferença entre os sexos seja mínima, de maneira que não seja prejudicial a ninguém. 02. LEI Nº 13.104, DE 9 DE MARÇO DE 2015 – A LEI DO FEMINICÍDIO. Como dito anteriormente, hoje ainda há pessoas que sentem que a mulher é “submissa ao homem”, que o papel da mesma é ainda aquele construído por uma sociedade ultrapassada – que a mulher é feita para cuidar da casa, mesmo sem o seu consentimento. Esse pensamento primitivo gera uma insegurança enorme dentro do âmbito familiar, pois é o local de convivência entre o homem e a mulher e também o onde ocorre a grande maioria de violência entre essas pessoas. Notado a diferença de força entre ambos, foi necessário a criação de leis, a fim de proteger essa convivência, e consequentemente a integridade de mulher que eram vítimas de violência pelos seus maridos ou companheiros. Nos anos anteriores a criação da lei, no Brasil em 2013 foram mortas 4.762 mulheres pelo simples fato de ser vista como um objeto de posse masculina, e de todas essas mortes, a maioria foi morta pelo companheiro ou ex companheiros da vítima – dados obtidos pelo Mapa da Violência 2015: homicídio de mulheres no Brasil. Sendo assim, o Brasil necessitava tomar medidas mais drásticas sobre o tema, visto que a Lei Maria da Penha (a qual protege contra violências domesticas) não estava protegendo um número considerável de mulheres, pois ainda haviam mortes acontecendo. Foi nesse prisma que, no ano de 2015 foi redigida a referida Lei de Feminicídios, 2.1 O QUE É A LEI N° 13.104, DE 9 DE MARÇO DE 2015 A supracitada lei é a forma de como o Estado passou a tratar de maneira mais rígida a questão do homicídio contra o gênero mulher, dentro das regras exigidas em lei. Sendo assim, a Lei n° 13104/15 (também chamada de Lei do Feminicídio) alterou o artigo 121 do Código Penal Brasileiro, bem como alterou a Lei 8072/90 (lei dos crimes hediondos). Vale lembrar que, a existência dessa lei se deu por iniciativa da população feminina, a qual teve uma grande pressão popular para que a mesma fosse aceita pelo Congresso Nacional, momento em que o número de mortes das mulheres chegou em 13 casos por dia. A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito sobre Violência contra a Mulher (CPMI) teve um papel fundamental na criação da lei, visto que a proposta para existência da mesma se deu por conta da provocação desta comissão. 2.2 FINALIDADE DA LEI N° 13.104, DE 9 DE MARÇO DE 2015 Primeiramente, é necessário deixar claro o que é “feminicídio” para que possamos entender as características que envolvem o tema e suas particularidades. Bem como uma breve explicação do conceito de homicídio. Para o autor Guilherme de Souza Nucci, em seu livro chamado de “Código Penal Comentado”, homicídio é “é a supressão da vida de um ser humano causada por outro” – ou seja, quando um indivíduo, com dolo ou não, tira a vida outra pessoa, tendo motivos ou não. Já o feminicídio, segundo a autora Diana E. H. Russell é “o assassinato de mulheres por homens motivados pelo ódio, desprezo, prazer ou sentimento de possessividade em relação às mulheres. Podemos destacar que o feminicídio se encaixa somente, na morte feminina causada pelo homem, o qual se dá pela misoginia (ódio ou repulsa pelo sexo feminino – sem outro motivo específico). Como exposto no capítulo anterior, a lei vem como uma forma de endurecer o nosso ordenamento jurídico, fazendo com quem a gravidade do crime seja tratada de outra maneira. Para isso acontecer, a nova lei altera o Artigo 121 do Código Penal, fazendo com que o crime de feminicidio seja visto pelos aplicadores do Direito como uma qualificadora do crime de homicídio, além de passar a integrar o rol de crimes hediondos. Com isso há uma elevação da pena a ser aplicada, a qual deverá ser vista e aplicada da melhor maneira possível, a fim de garantir todos os princípios do Direito Penal. 2.3 PARA QUEM A LEI N° 13.104, DE 9 DE MARÇO DE 2015 É DIRECIONADA. Com a criação da lei, nosfica bem claro que a finalidade de tal dispositivo é a proteção do sexo feminino, por sua vez, em regra quem pode cometer feminicídio é o sexo masculino. Porém, não é nos dado a certeza de que feminicídio é somente realizado por homens, visto que a norma trata apenas do conceito de que é a vítima – deixando em aberto casos particulares – como o feminicídio causado em casais homossexuais (entre mulheres). Ainda sobre este tema, podemos destacar a existência do feminicídio contra transexuais, o qual também é pouco debatido nas academias de Direito. 2.4 DEFINIÇÕES E CIRCUNSTÂNCIAS PARA APLICAÇÃO DA LEI N° 13.104, DE 9 DE MARÇO DE 2015. No artigo 121, parágrafo 2°, do Código Penal, está descrito as circunstâncias nas quais se tipificam o crime de feminicídio. TIPIFICAÇÃO DO CRIME Feminicídio (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015) VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino: (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015) Pena - reclusão, de doze a trinta anos. § 2º-A Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolve: (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015) I - Violência doméstica e familiar; (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015) II - Menosprezo ou discriminação à condição de mulher. (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015). AGRAVANTES DA PENA DO FEMINICÍDIO § 7 o A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado: (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015) I - durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao parto; (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015) II - contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de 60 (sessenta) anos ou com deficiência; (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015) II - contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de 60 (sessenta) anos, com deficiência ou portadora de doenças degenerativas que acarretem condição limitante ou de vulnerabilidade física ou mental; (Redação dada pela Lei nº 13.771, de 2018) III - na presença de descendente ou de ascendente da vítima. (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015) III - na presença física ou virtual de descendente ou de ascendente da vítima; (Redação dada pela Lei nº 13.771, de 2018) IV - em descumprimento das medidas protetivas de urgência previstas nos incisos I, II e III do caput do art. 22 da Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006 . (Incluído pela Lei nº 13.771, de 2018). 03. LEI MARIA DA PENHA: CARACTERÍSTICAS GERAIS A Lei 11.340/06 chamada Lei Maria da Penha, foi criada no Brasil para assegurar proteção para a mulher vítima de violência doméstica e familiar, de acordo a um de seus artigos: Art. 5º Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas; II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa; III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação. Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo independem de orientação sexual. A mesma demorou a existir, o país se viu obrigado a fazer a sua lei em razão de uma denúncia que tomou medidas internacionais, de um atentado gravíssimo que sofreu uma mulher chamada Maria da Penha Fernandez, farmacêutica, qual sofreu uma dupla tentativa de feminicídio por parte de seu ex companheiro, a mesma lutou por justiça durante 19 anos e 6 meses o que a tornou um símbolo de luta por uma vida livre de violência. Com a criação da Lei previu-se mecanismos para coibir e evitar a violência contra a mulher, entre eles a criação dos juizados especializados no assunto de violência doméstica e familiar contra a mulher, o estabelecimento de meios de assistência e proteção as vítimas em situação de violência. Algumas das medidas protetivas dispõem sobre: - O afastamento imediato do agressor; - Fixação de limite mínimo entre o agressor para com a vítima; - Proibição do agressor tentar em contato com a vítima por qualquer meio que seja, eletrônico, parentes, etc.; - Pode ocorrer suspensão de visitas aos menores dependentes; - Há proteção também dos bens das vítima; - Pagamento de pensão alimentícia provisional, entre outros. 04. DIFERENÇA ENTRE OS TIPOS DE VIOLÊNCIA NO QUAL A MULHER PODE SER VÍTIMA Segundo o artigo 7º da Lei nº 11.340/2006 são formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre outras, as cincos expostas a seguir: Violência física: Este tipo de violência é a mais comum, a mais conhecida, onde a maioria das pessoas já ouviram falar sobre, trata-se basicamente, quando existe qualquer conduta que afete a integridade física da mulher, como tapas, socos, empurrões, puxão de cabelo enfim todas as condutas que cheguem a machucar de alguma forma, podendo ou não deixar marcas. Violência psicológica: Trata-se de uma das mais importantes, por que se envolve em vários aspectos de relacionamentos abusivos, muitas vezes as violências tem a tendência de começar pela parte psicológica, para depois passar para outras formas de violência. A mesma envolve tudo aquilo que afeta a autoestima da mulher, como humilhação, xingamentos, ameaça, constrangimento, atitudes que tentem controlar o comportamento natural da mulher, sua conduta e seu direito de ir e vir. Umas das maneiras mais perversas deste tipo de violência é chamado de “Gaslighting” onde as informações são distorcidas, seletivamente omitidas ou simplesmente inventadas com a intenção de fazer a vítima duvidar de sua própria memória, percepção e sanidade. Violência sexual: A mesma vai para além do estupro, que é a primeira forma que se associa a este tipo de violência, não se aplicando somente nas relações intimas de afeto, mas também nas relações familiares. Ocorre quando o agressor opina ou não deixa a mulher usar algum método contraceptivo, outra maneira possível também é quando a mulher é obrigada a manter uma gravidez quando se possui o direito legal ao aborto, ou quando a mesma quer a gravidez mas o agressor a obriga a abortar, e também, a obrigação de prostituição, que acontece muito em famílias vulneráveis, onde meninas jovens são forçadas a ser prostituir por seus parentes. Violência patrimonial: Envolve todas as condutas que de alguma forma minam a autonomia econômica de uma mulher, a Lei teve esta preocupação específica por que muitas mulheres não conseguem sair de lares abusivos por que materialmente, há uma dependência econômica para com o agressor, por exemplo em um casamento onde a mulher é obrigada a parar de trabalhar, deixa de trabalhar para cuidar dos filhos, da casa. Ou ocorre inversamente quando a mulher possui melhor condição financeira, e o companheiro se utilizando de má-fé e violência psicológica toma o dinheiro para si, até mesmo fazendo que a mulher compre presentes, contraindo dividas desnecessárias, se valendo da relação para tirar vantagens. Outra forma muito presente, é a destruição de bens, de documentos, ou objetos da mulher. Violência moral: Fala-se em calunia, injúria e difamação, que são os crimes contra honra que temos no Código Penal. A primeira ocorre com a imputação de um falso crime, por exemplo onde o agressor afirma que a mulher furtou bens como carro, moto, dinheiro, a segunda fere a dignidade da mulher através de xingamentos e palavras de baixo calão, como “burra, idiota porca, inútil” entre inúmeras outras, e a última quando se atribui a mulher fatos que manchem sua reputação, afirmarque a mulher é adultera, etc. Pode-se concluir que estas violências podem acontecer de forma isoladas, mas geralmente ocorrem conjuntamente, no dia a dia. 05. COMO AMBAS AS LEIS PODEM TRABALHAR EM CONJUNTO PARA GARANTIR MAIOR SEGURANÇA PARA A MULHER De acordo a muitas pesquisas realizadas ao longo dos anos, a violência se dá como um sistema circular, este ciclo se caracteriza pela sua continuidade ao longo do tempo, sendo repetido diversas vezes, aumentando cada vez mais sua intensidade, podendo chegar ao homicídio. Daí então a importância das Leis de proteção a mulher, onde se tem o objetivo de prevenir e coibir a violência, com todas suas medidas disponíveis, podendo então evitar que chegue ao ponto do feminicídio, que é o ápice, última instância de controle por tentativa do agressor, porém falta a efetividade para ambas as leis. Nota-se que a dificuldade para a eliminação da violência contra a mulher é muito mais complexa, não sendo a simples elaboração de lei a solução, mas sua efetividade, tendo que haver uma união da sociedade em geral levando ao conhecimento das autoridades os casos de violência e o poder público ao tomar conhecimento, aplicando de fato as devidas sanções, punindo e evitando assim novas práticas, evitando chegar ao fatídico feminicídio, fazendo-se necessário investir em políticas sociais e culturais para atuarem como práticas educativas e preventivas que se inicie desde a escolarização e perpetue-se na vivência em sociedade. 06. QUAIS AS ASSISTENCIAS SOCIAIS E JURIDICAS ADOTADAS PELO ESTADO SOBRE O TEMA A Lei n. 11.340/2006 prevê que os juizados poderão contar com uma equipe multidisciplinar que será composta por uma rede de profissionais das áreas psicossocial, jurídica e de saúde. Nas comarcas onde esses ainda não tenham sido criados, os crimes devem ser julgados nas varas criminais. A lei também proíbe a aplicação de penas pecuniárias e pagamentos de cestas básicas. As mulheres vítimas devem ser encaminhadas a programas e serviços de proteção e assistência social, uma vez que a Lei Maria da Penha prevê a criação de políticas públicas que venham a garantir os direitos das mulheres em suas relações domésticas e familiares. Tendo ainda a possibilidade de se obter medidas protetivas, algumas dispõem sobre: - O afastamento imediato do agressor; - Fixação de limite mínimo entre o agressor para com a vítima; - Proibição do agressor tentar em contato com a vítima por qualquer meio que seja, eletrônico, parentes, etc.; - Pode ocorrer suspensão de visitas aos menores dependentes; - Há proteção também dos bens das vítima; - Pagamento de pensão alimentícia provisional, entre outros. Há mais uma ferramenta de segurança para as mulheres vítimas de violência, chamada de botão do pânico, um dispositivo que deve ser acionado na tela do celular através de um aplicativo, onde a mulher que se sentir ameaçada, poderá acionar a polícia de onde ela estiver. E ainda se fala na importância da realização de palestras informativas para áreas mais afastadas e mais carentes, com o objetivo de orientar as mulheres de seus direitos e levar informações sobre as Leis Maria da Penha e a do Feminicídio. 07. USO DESSAS LEIS PARA OS TRANSEXUAIS Atualmente existe muita discussão sobre o assunto, para alguns doutrinadores mulher da qual se trata a qualificadora é aquela assim reconhecida juridicamente, no caso do transexual que formalmente obtém o direito de ser identificada civilmente como mulher, não há como negar a incidência da lei penal porque, para todos os demais efeitos, esta pessoa será considerada mulher. A proteção especial, todavia, não se estende ao travesti, que não pode ser identificado como pessoa do gênero feminino. Se a Lei Maria da Penha tem sido interpretada extensivamente para que sua rede de proteção se estenda à pessoa que, embora não seja juridicamente reconhecida como mulher, assim se identifique, devemos lembrar que a norma em estudo tem natureza penal e a extração de seu significado deve ser balizada pela regra de que é vedada a analogia in malam partem. Se o transexual for reconhecido como mulher, este passará a ser reconhecido como mulher também no âmbito do Direito Penal, tendo em vista que o próprio STF já se manifestou garantido em relação homo afetiva o direito na aplicação da Lei Maria da Penha. Cezar Roberto Bitencourt considera perfeitamente possível admitir o transexual como vítima de feminicídio, desde que transformado cirurgicamente em mulher, como vítima da violência sexual de gênero caracterizadora da qualificadora do feminicídio. (BITENCOURT, 2016, p.98). Adriana Ramos de Mello entende que, a qualificadora do feminicídio incide quando o sujeito passivo for mulher, entendido de acordo com o critério psicológico, ou seja, quando a pessoa se identificar com o sexo feminino, mesmo quando não tenha nascido com o sexo biológico feminino. (MELLO, 2016, p.142). A autora Adriana Ramos de Mello entende que para ser reconhecida como mulher, não existe a necessidade de fazer a cirurgia de redesignação sexual, basta apenas que o indivíduo se identifique com o gênero feminino. Dessa forma, toda vez que uma mulher, assim compreendida toda pessoa que se identificar com o gênero feminino, for morta em razão desta condição, incidirá a qualificadora do feminicídio. (MELLO, 2016, p. 143). 08. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS. WAISELFISZ, Julio Jacobo. Mapa violência 2015. Disponível em:<https://assets- compromissoeatitude- ipg.sfo2.digitaloceanspaces.com/2015/11/MapaViolencia_2015_homicidiodemulheres.pdf >. Acesso em 03 abr. 2023; JUSTIÇA, Conselho Nacional de. Você conhece a lei do Feminicídio. Disponível em:<https://www.cnj.jus.br/cnj-servico-voce-conhece-a-lei-do-feminicidio/>. Acesso em 03 abr. 2023; PORFÍRIO, Francisco. Feminicídio. Disponível em:<https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/feminicidio.htm>. Acesso em 03 abr. 2023; BITENCOURT, Cezar Roberto. Feminicídio aplicado a transexuais. Disponível em:<https://www.conjur.com.br/2017-nov-15/cezar-bitencourt-feminicidio-aplicado- transexual>. Acesso em 03 abr. 2023; ALBUQUERQUE, Anderson. A violência moral contra a mulher. Disponível em:<https://andersonalbuquerque.com.br/artigo&conteudo=a-violencia-moral-contra-a- mulher>. Acesso em 03 abr. 2023; JUSTIÇA, Conselho Nacional de. Violência contra a mulher/formas de violência contra a mulher. Disponível em:<https://www.cnj.jus.br/programas-e-acoes/violencia- contra-a-mulher/formas-de-violencia-contra-a-mulher/>. Acesso em 03 abr. 2023; BRASIL. Lei 11340 de 2006. Lei Maria da Penha. Diário Oficial da União, 7 ago. 2006. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm>. Acesso em 03 abr. 2023; CARINA, Sara. A mulher transexual como vítima de feminicídio. Disponível em:<https://saracarina173.jusbrasil.com.br/artigos/577036250/a-mulher-transexual-como- vitima-de-feminicidio>. Acesso em 03 abr. 2023.
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