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FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO ABC CENTRO DE CIÊNCIAS NATURAIS E HUMANAS BIOQUÍMICA RELATÓRIO 4: DESNATURAÇÃO PROTEICA E ATIVIDADE ENZIMÁTICA Vítor Hugo Jacintho Barbosa 1.INTRODUÇÃO As proteínas são moléculas complexas e essenciais para a vida, desempenhando diversas funções no organismo, como catalisar reações químicas, transportar moléculas e fornecer suporte estrutural. No entanto, as proteínas são estruturas altamente sensíveis que podem ser facilmente afetadas por condições adversas do ambiente, como temperatura, pH, força iônica e agentes químicos. A desnaturação proteica é um processo pelo qual a estrutura tridimensional de uma proteína é alterada ou destruída, resultando na perda da sua atividade biológica. Isso ocorre quando as interações não- covalentes que mantêm a proteína em sua forma nativa, como pontes de hidrogênio, forças de Van der Waals e interações hidrofóbicas, são perturbadas. Como resultado, a proteína perde sua capacidade de realizar sua função biológica normal. A atividade enzimática é um exemplo de uma função biológica que pode ser afetada pela desnaturação proteica. As enzimas são proteínas que catalisam reações químicas em uma velocidade muito mais rápida do que seria possível espontaneamente. No entanto, a atividade enzimática depende da estrutura tridimensional da enzima, e qualquer alteração na sua estrutura pode diminuir ou inibir completamente a atividade enzimática. Estrutura tridimensional de uma enzima: a atividade enzimática depende da estrutura tridimensional da enzima, e qualquer alteração na sua estrutura pode diminuir ou inibir completamente a atividade enzimática. (Google imagens) Por isso, a compreensão dos fatores que afetam a desnaturação proteica e a atividade enzimática é essencial para a bioquímica e a biologia molecular, bem como para a aplicação prática em diversas áreas, como biotecnologia, medicina e indústria alimentícia. 1.1 Propriedades enzimáticas do abacaxi O abacaxi contém uma enzima digestiva chamada bromelina, que é capaz de quebrar proteínas, é composta por moléculas proteolíticas que são capazes de hidrolisar as ligações peptídicas presentes nas proteínas, quebrando-as em fragmentos menores. Quando consumimos alimentos que contêm proteínas, como carnes, ovos ou laticínios, as enzimas digestivas presentes no nosso sistema digestivo quebram essas proteínas em aminoácidos que são absorvidos pelo nosso organismo e utilizados na síntese de proteínas do nosso corpo. A bromelina é um tipo de protease encontrada no abacaxi que pode ajudar a acelerar esse processo de quebra de proteínas, já que possui função proteolítica muito eficiente. Isso pode ser benéfico para pessoas que têm dificuldade de digestão, como é o caso de algumas pessoas com problemas digestivos. Estrutura da Bromelina: A bromelina é um tipo de protease encontrada no abacaxi que pode ajudar a acelerar esse processo de quebra de proteínas. (Fonte: Vânia Letica Abreu) 1.2 Proteases Proteases representam uma classe de enzimas com importantes papéis em processos fisiológicos. Além disto, elas possuem aplicação comercial, estando entre os três maiores grupos de enzimas industriais, sendo responsáveis por 60% da venda internacional de enzimas. Estas enzimas estão envolvidas em processos biológicos essenciais, como a coagulação sanguínea, morte celular e diferenciação de tecidos. Várias etapas proteolíticas importantes ocorrem no mecanismo invasivo de tumores, assim como no ciclo de infecção de um grande número de vírus e microrganismos patogênicos. Estes fatos tornam as proteases um alvo quimioterápico valioso para o desenvolvimento de novos compostos farmacêuticos. As enzimas proteolíticas também participam no catabolismo de proteínas, tanto nas vias degradativas como nas biossintéticas, e na liberação de hormônios peptídeos farmaceuticamente ativos a partir de proteínas precursoras. Certas modificações específicas e seletivas de proteínas durante a ativação de enzimas ocorrem via proteólise, que também colabora no transporte de proteínas secretórias na membrana. As proteases têm também uma variedade de aplicações principalmente na indústria de detergentes e de alimentos. Tendo em vista os recentes acordos mundiais para uso de tecnologias não poluentes, as proteases começaram a ser usadas em larga escala no tratamento do couro, em substituição aos compostos tóxicos e poluentes até então usados. Na indústria farmacêutica, as proteases são usadas em pomadas cicatrizantes e têm um uso potencial para outros medicamentos. Proteases hidrolisam as proteínas em peptídeos e aminoácidos, facilitando a sua absorção pelas células; devido a seu papel despolimerizante, as enzimas extracelulares têm um papel importante na nutrição. (APOSTILA DE BIOQUÌMICA). 1.3 Gelatina Gelatina é uma mistura heterogênea de proteínas desnaturadas solúveis em água, derivada da hidrólise parcial do colágeno tipo I nativo e que possuem alta média de massa molecular. Tradicionalmente são usadas na indústria alimentar e de cosméticos. Entretanto, recentemente vem sendo muito usada em pesquisas na área biomédica (devido sua alta biocompatibilidade, biodegradabilidade e baixa imunogenicidade, além de baixo custo) como estrutura para adesão celular, biomaterial para engenharia de tecidos e sistema de entrega de fármacos diferente das cápsulas tradicionais (YOUNG et al, 2005). Na conversão do colágeno à gelatina, que ocorre acima da temperatura de desnaturação do colágeno, tropocolágenos perdem a estrutura de hélice tripla característica, há quebras de ligações intermoleculares e de ligações peptídicas resultando em cadeias polipeptídicas que pela análise SDSPAGE apresentam peso molecular de menos de 300 kDa com distribuição muito ampla. Assim, os constituintes moleculares da gelatina são heterogêneos em relação ao colágeno, apresentam cadeias com menor peso molecular relativo e variada distribuição de estrutura primária. Como alguns dos 39 aminoácidos na estrutura peptídica do colágeno contêm grupos funcionais que são hidrolisados sob condições ácidas ou básicas, há dois tipos de gelatina, dependentes do processo de extração: tipo A e tipo B, obtidas de pré-tratamento ácido e básico respectivamente (YOUNG et al, 2005). (APOSTILA DE BIOQUÍMICA) 2.OBJETIVOS Este experimento didático tem como proposta fazer com que os estudantes entendam como a estrutura tridimensional proteica pode ser alterada física e quimicamente, bem como observem a ação de uma enzima proteolítica. a) Estudar os efeitos da desnaturação proteica causada por temperatura; b) Avaliar os efeitos de álcool e sais sobre a solubilidade de uma solução de gelatina; c) Demonstrar a atividade proteolítica presente no suco de abacaxi. 3.ANÁLISE DE DADOS 3.1. Preparar uma tabela indicando os resultados observados de cada experimento. 3.2. Tirar uma fotografia dos resultados para anexar ao caderno de laboratório como figura. TUBO 1 TUBO 2 TUBO 3 Água 2 ml - Sulfato de amônio - 2 ml - Etanol Absoluto - - 2 ml Gelatina 2 ml 2 ml 2ml Resultado Não apresentou corpo de fundo, permaneceu incolor. Apresentouuma formação de corpo de fundo intermediária quando comparado ao tubo 1 e 3. Solução esbranquiçada. Apresentou bastante corpo de fundo, solução bastante esbranquiçada. TUBO 1 TUBO 2 TUBO 3 TUBO 4 Água 2 ml - - Amostra abacaxi - 2 ml - - Amostra abacaxi 60°C - - 2 ml - Amostra abacaxi fervida - - - 2ml Gelatina 2 ml 2 ml 2 ml 2ml Resultados Permaneceu praticamente incolor, sem muitas alterações. Apresentou um pouco de corpo de fundo e uma solução levemente turva. Apresentou corpo de fundo e uma solução consideravelmente turva. Apresentou mais corpo de fundo que os demais tubos e uma solução turva. 3.3. Discutir o efeito do suco de abacaxi sobre o colágeno (gelatina). Levando em conta a presença de proteases no suco de abacaxi, é correto afirmar houve uma bem- sucedida quebra das ligações peptídicas das proteínas do colágeno. Assim, essas enzimas catalisaram a hidrólise das ligações que compõe a gelatina, quebrando sua estrutura em peptídeos menores e aminoácidos livres, o que gerou no tubo 1 e no tubo 4 um corpo de fundo gelatinoso. 3.4. Discutir o efeito da temperatura sobre as enzimas (proteases) presentes no suco do abacaxi. As amostras que não foram fervidas não apresentaram tanto conteúdo “gelatinoso” quanto a amostra fervida. Isso pode ser associado à desnaturação das proteases submetidas a altas temperaturas, uma vez que esse fato implica na ausência de catalisação das proteínas do colágeno em moléculas menores, os aminoácidos. O que favoreceu o desenvolvimento de uma estrutura em forma de gel. 3.5. Discutir o efeito do etanol e do sulfato de amônio sobre as proteínas em solução. Qual o princípio de cada efeito? No tubo contendo sulfato de amônio houve a precipitação de conteúdo em forma sólida, formando duas fases distintas na amostra, uma sólida e outra líquida. Situação que pode ser explicada pela presença desse sal no meio, assim há a tendência de, não só a proteína interagir com o composto iônico, como também a água (fase líquida). Assim, como a fase líquida é reduzida, há uma menor razão 𝑠𝑜𝑙𝑢𝑡𝑜 = 𝑝𝑟𝑜𝑡𝑒í𝑛𝑎 𝑠𝑜𝑙𝑣𝑒𝑛𝑡𝑒 = á𝑔𝑢𝑎 e, portanto, precipitação de material. Já no tubo contendo etanol houve a formação de um sólido em consistência de gel, semelhante ao observado na amostra de suco de abacaxi fervido. O que é coerente, uma vez que o etanol, em altas concentrações é também capaz de desnaturar proteínas. 6. Pesquisar qual(is) protease(s) está(ão) presente(s) no suco de abacaxi. A principal protease presente no abacaxi é a bromelina, segundo Varilla, C et Al., é uma enzima presente nos tecidos de plantas da família Bromeliaceae, onde o principal representante é o abacaxi. É do tipo hidrolase capaz de romper as ligações peptídicas das proteínas. 6.1 Como poderia ser realizada a purificação dessa(s) proteína(s)? Segundo Ferreira et al., é possível utilizar o método líquido-líquido para purificação dessas enzimas: “Este processo de separação é baseado na distribuição do soluto entre as fases e a miscibilidade parcial dos líquidos. (Rabelo, 1999)” Nesse método, a eficiência do processo é regida tanto pelas concentrações das fases poliméricas e salinas, quanto pelo pH do meio. 6.2 A atividade das proteases pode ser otimizada? Como? É possível otimizar a atividade enzimática das proteases a partir do alcance de ‘condições ótimas do meio’, que envolvem faixas tanto de pH entre 7 e 8, quanto temperatura próxima a 50°C (SILVEIRA, 2015) . Gráfico de Atividade enzimática x pH e de Atividade enzimática x Temperatura: Os pontos mais altos representam o ápice de atividade enzimática nos dois gráficos ao atingir um pH correto e uma temperatura correta. 7. Discuta o efeito da temperatura sobre a desnaturação de proteínas no processo de cozimento dos alimentos. Qual a importância disso? Levando em conta que durante o cozimento de alimentos ocorre a desnaturação proteica, é possível inferir que tal processo possui maior efeito em termos sensoriais do que nutricionais, uma vez que a deformação na estrutura terciária das proteínas é capaz de alterar cor, consistência e textura do conteúdo alimentício, contudo, não necessariamente está relacionada à perda de nutrientes presentes na proteína. Ademais, o ácido estomacal, por possuir um pH baixo demais, já seria responsável pela desnaturação dessas moléculas. A importância desse processo cabe, portanto, na alteração de condições sensoriais dos alimentos, sendo crucial para a indústria desse segmento. 8. Por que se pode utilizar abacaxi para amaciar carnes? Qual a relação entre o suco do abacaxi e os amaciantes de carnes comerciais. O abacaxi possui propriedade amaciante em virtude da presença da Bromelina, responsável por quebrar fibras que dão à carne aspecto ‘duro’, tornando-a mais suave. A relação está na presença dessa mesma enzima nos amaciantes comerciais (LEMOS, UFRPE). 4.REFERÊNCIAS - LEMOS, L. G. P. (ED.). Avaliação Sensorial de Carnes Amaciadas por Ácidos e Enzimas. - SILVEIRA, L. L. (ED.). Purificação e Caracterização de Protease com Atividade Colagenolítica produzida por Actinomadura sp. Disponível em: <https://repositorio.ufpe.br/handle/123456789/170 38#:~:text=A%20enzima%20apresentou%20term oestabilidade%20at%C3%A9,atividade%20em%2 050%C2%B0C.>. - FERREIRA, J. (ED.). PURIFICAÇÃO DA ENZIMA BROMELINA PRESENTE NO CURAUÁ (Ananas erectifolius L.B. SMITH) VARIEDADE ROXA, POR SISTEMA BIFÁSICO AQUOSO PEG 4000/FOSFATO DE POTÁSSIO. Disponível em: <https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/114 49/140397/ISSN1517-8595-2011-13-02-197- 202.pdf;jsessionid=A9C237809557772673858A8 618E90CBD?sequence=1>. - Varilla, C.; Marcone, M.; Paiva, L.; Baptista, J. Bromelain, a Group of Pineapple Proteolytic Complex Enzymes (Ananas comosus) and Their Possible Therapeutic and Clinical Effects. A Summary. Foods 2021, 10, 2249. https://doi.org/10.3390/foods10102249 -ABÍLIO, G. M. F. et al. Extração, atividade da bromelina e análise de alguns parâmetros químicos em cultivares de abacaxi. Revista Brasileira de Fruticultura, v. 31, n. 4, p. 1117–1121, dez. 2009. -How does alcohol denature a protein? | AAT Bioquest https://www.aatbio.com/resources/faq-frequently-asked-questions/How-does-alcohol-denature-a-protein