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Consolidação do Estado-Nação no Século XIX


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18/12/2012
A ideia é completar um pouco a visão sobre o século XIX do ponto de vista de dois países também centrados para esse momento de mudanças que aconteceram ao longo desse século. Foi o momento aonde e quando se consolidou as bases do Estado nação que procurou resolver um problema filosófico, um problema de sociabilidade que a gente podia pensar que seria a paz dentro do contexto da Europa, que vinha sistematicamente tendo uma serie de guerras por fronteiras, por definições de território, de soberania e também substituindo o modo clássico de conquista de poder do mundo medieval que era através da força. Lembrando-se de Maquiavel que no século XVI, todos os seus escritos tinham como aumentar a conquista do controle do poder em determinado território e ai o que a historia passou a reconhecer em Maquiavel uma ideia ruim “maquiavélica”, como alguém que manipula para atingir seus objetivos. Em uma leitura mais ampla de Maquiavel e mais contextualizada em seu tempo, na verdade ele está preocupado consolidar o poder dos italianos para os italianos e de alguma forma atingir a paz. Mesmo que pra isso o príncipe deva eliminar alguns adversários, ou seja, o objetivo é ter um poder constituído que promova felicidade, igualdade, etc. 
Os contratualistas ingleses Hobbes e Locke falam da mesma coisa. O estado de natureza de Hobbes é um Estado de guerra, da luta de todos contra todos e é preciso que haja um personagem central que garanta a vida e a propriedade. Locke imediatamente depois vai dizer que não era necessário que houvesse a figura central do leviatã, mas que a sociedade civil que estaria no estado de natureza, livre e feliz, poderia fazer a opção por um Estado que não precisaria ser absolutista, poderia ser constitucional onde determinadas atribuições pudessem ser compartilhadas entre o Estado e a sociedade. Tanto que do ponto de vista do contrato social de Locke, a garantia da vida desaparece por parte do leviatã e o Estado se viu não mais absolutista e sim constitucional e garante propriedade, contrato e herança. Rousseau no século XVIII falou de novo do contrato social, mas um contrato que também expressasse a vontade geral, ou seja, porque que os homens se organizariam na forma de Estado, basicamente Rousseau reconhecia que nesse Estado (não de natureza), mas fala de que antes do contrato social, antes da vontade geral poder se constituir o que há é a desigualdade, a ideia de que apesar de os homens nascerem iguais, se tornam desiguais na vida em sociedade. Então é preciso um novo contrato social, uma nova forma de viver em sociedade que poderia tentar atingir os objetivos maiores de igualdade. 
Esses pensadores claramente escrevem dentro do contexto de seus países e de seu tempo, mas todos eles estão olhando para o controle, distribuição e exercício do poder e essa mensagem sobre poder que estamos tentando observar nesse século XIX, considerando que os EUA mesmo tendo produzido sua distribuição de poder como a gente viu nos federalistas ainda no século XVIII, ele atravessou o século XIX difundindo a sua teoria federalista em outros países. Ou seja, o federalismo norte-americano vai estar colocado no novo mundo, a Europa esta fazendo outra discussão, mas de alguma maneira no final do século XIX é preciso perceber o rearranjo do poder dentro deste Estado nação que vai permitir a eclosão do Estado democrático de direito que é o que vamos acompanhar nessa mudança do século XIX para o XX. 
Os autores de hoje serão um francês e outro inglês. O primeiro autor Alexis de Tocqueville é uma figura bastante interessante nos termos de sua produção porque ele foi um observador da America, ele foi até os EUA para entender o que havia acontecido dentro do formato federalista norte americano, da organização de poder dos EUA, e também ele tem uma profunda reflexão sobre a trajetória francesa desde o antigo regime, ou seja, pré-revolução francesa de 1789 e o que aconteceu ao longo da vida dele na frança que não foi muito longa, mas Foi um período aonde aconteceram mudanças radicais no sistema de governo. 
A frança já existe como um Estado nação e podemos verificar que ao longo do século XIX houve ainda algumas guerras pro fronteiras, mas basicamente a França já existe como Estado nação e um pouco antes do nascimento do autor, Napoleão Bonaparte reinstalou a monarquia. Então o período republicano da primeira república francesa aconteceu de 1792 a 1804 quando então Napoleão reinstala a monarquia e nós temos então um período monárquico que vai até 1847, após um pouco daquilo que Marx apontou no seu manifesto do partido comunista, as varias revoluções democráticas que aconteceram na década de 40 do século XIX. Então há uma profunda movimentação na França, caindo então a monarquia napoleônica (já não era mais Napoleão o imperador), e se instala então a 2ª república. 1848 a 1857 a frança vive a 2ª república e é nesse momento aonde o autor tem maior expressão porque apesar de nobre e católico (que naquela época significava certo pensamento em relação a tudo), ou seja, isso o coloca em alguns dilemas sobre o ponto de vista do desenvolvimento e ele começa a olhar fortemente para países classicamente protestantes, EUA e Inglaterra, ele passou grande parte da sua vida na Inglaterra e dialoga muito com Stuart Mill e outros autores ingleses. 
Na economia, a Inglaterra e a França como dois países centrais, pelo menos inaugurais, do desenvolvimento econômico europeu, tinham concepções diferentes sobre riqueza. Adam Smith no século XVIII na Inglaterra havia construído uma teoria de que as riquezas de uma nação eram decorrentes do trabalho. Ou seja, a quantidade de trabalho e principalmente a divisão e a especialização de trabalho no interior do Estado nação é que produziria a sua riqueza. Então toda ideia de revolução industrial, do desenvolvimento econômico que acontece na Inglaterra é claramente associado ao trabalho. A noção de riqueza dos fisiocratas franceses vem da terra, é a propriedade da terra, a expressão é renda da terra e não o trabalho da terra. Então, nessa concepção de desenvolvimento econômico, um Frances católico imagina que o desenvolvimento econômico, a felicidade, ou seja, a renda, vem da propriedade da terra. Não é a toa que na frança ao longo de suas revoluções, ao longo ainda hoje, se olharmos que o território francês ainda hoje, ele sofreu uma ampla e restrita reforma agrária. Ou seja, a Ideia dos pequenos produtores, a ideia de que todas as propriedades do território francês têm donos e também produtores. Essa grande massa de pequenos produtores rurais sempre foi um problema para a teoria de Marx, que sempre olhou para a França com um problema, pois ele não conseguia perceber essa classe proprietária rural como ploretário. Essa classe detinha o controle dos meios de produção, mas por outro lado, não era burguesa, ela não exercia a exploração do trabalho nem a acumulação da renda através da mais-valia de uma classe trabalhadora. Eles eram produtores rurais em suas pequenas propriedades, seria em termos de Brasil o que chamamos de agricultura familiar que em tese é um modelo econômico que não explora o assalariado, portanto não explora a mais-valia e não e burguês. Por outro lado, não é ploretário, pois não são desprovidos de meio de produção, eles trabalham em suas propriedades. Esse é o contexto do autor que depois ainda em vida, viu Luis Bonaparte em 1857 reinstalar a monarquia. Luis Bonaparte que é um livro interessante de Marx, que é exatamente o 18 Brumário de Bonaparte, onde Marx relata a passagem da república para a monarquia. 
Dezoito Brumário de Luís Bonaparte
“Hegel observa em algum lugar que todos os grandes fatos e personagens da história universal aparecem como que duas vezes. Mas esqueceu-se de acrescentar: uma vez como tragédia e a outra como farsa. [...] Os homens fazem a sua própria história, mas não a fazem segundo a sua livre vontade, em circunstâncias escolhidas por eles próprios, mas nas circunstâncias imediatamente encontradas, dadas e transmitidas. A tradição de todas asgerações mortas pesa sobre o cérebro dos vivos como um pesadelo.”
Para a Crítica da Economia Política (Prefácio) 
A estrutura do sistema da economia burguesa: capital, propriedade fundiária, trabalho assalariado; Estado, comércio externo, mercado mundial
Revisão crítica da filosofia do direito de Hegel: as relações jurídicas, tal como formas de Estado, não podem ser compreendidas a partir de si mesmas nem a partir do chamado desenvolvimento geral do espírito humano, mas enraízam-se nas relações materiais da vida, cuja totalidade Hegel, na esteira dos ingleses e franceses do século XVIII, resumiu sob o nome de "sociedade civil", e cuja anatomia ter-se-ia que procurar na economia política.
- 	Na produção social da sua vida os homens entram em determinadas relações, necessárias, independentes da sua vontade, relações de produção que correspondem a uma determinada etapa de desenvolvimento das suas forças produtivas materiais;
-	 A totalidade destas relações de produção forma a estrutura econômica da sociedade, a base real sobre a qual se ergue uma superestrutura jurídica e política, e à qual correspondem determinadas formas da consciência social;
-	 O modo de produção da vida material é que condiciona o processo da vida social, política e espiritual. Não é a consciência dos homens que determina o seu ser, mas, inversamente, o seu ser social que determina a sua consciência;
É nesse período então que autor se afasta da França, passa um tempo na Inglaterra e volta para a França para morrer em 1859 sem ver a queda de Luis Bonaparte que aconteceu na década seguinte aonde começa a 3ª república. Então a França, no ponto de vista cotidiano, quando a gente lê sobre o individualismo igualitarismo francês, o republicanismo francês, ele não tem uma passagem direta com a revolução francesa, ela reproduziu a república francesa na verdade uma das ultimas rupturas que a França atravessou até chegar a sua 5ª república. Ou seja, é 5ª constituição republicana que é feita na França. Depois da 2ª guerra mundial a frança ficou dividida em duas, uma que não se submeteu ao regime nazista e portanto eles decidiram declarar que estão na 5ª república. 
Alexis de Tocqueville ( 1805-1859) – Aristocrata, católico, liberal.  Admirador da monarquia constitucional britânica e da democracia americana. Iniciou sua carreira pública como magistrado, obteve autorização oficial para visitar a América, em 1831-1832, com o propósito de estudar o sistema penal americano. Após uma visita de apenas nove meses, conseguiu produzir o que ainda hoje é considerado o melhor livro sobre a democracia e sobre a América.
Bio-bibliografia :
- O sistema penal nos Estados Unidos da América e sua aplicação na França (1833)
- Democracia na América vol. 1 (1835) 
- Notas sobre a pobreza: a caridade pública produz uma classe preguiçosa e dependente? (1835) 
- O Estado Social e Político na França antes e depois de 1789. (1836)
- Democracia na América vol. 2 (1840) 
- O Antigo Regime e a revolução (1856)
Tocquerville então procurou compreender com a capacidade cognitiva de um francês o que ele chamou de “Democracia na América” e depois estudou o antigo regime e a revolução. Basicamente esse “Democracia na América” ainda hoje é bastante utilizado e interessante para pensar sobre os EUA porque a partir da constituição dos EUA, a nossa constituição praticamente é a mesma. É uma constituição enxuta e estabelece relações dos Estados. É claro que quando escutamos que a constituição republicana é a mesma, a gente nunca se pergunta quantas constituições dos Estados dos EUA não mudaram, isso não transita na esfera internacional, o que transita é a constituição federal norte americana. Agora a constituição que rege o cotidiano da vida dos americanos são as constituições estaduais. No Brasil não é assim, mas na pratica, por exemplo, a lei seca que e uma lei federal, só é vigente realmente no Rio de Janeiro. Essa é uma discussão interessante do ponto de vista francês sobre os EUA, porque a França é um estado unitário, ou seja, ela tem instituições, constituições, legislações muito mais homogêneas do que os EUA e esse autor foi obrigado a olhar os EUA, os estados federados e fazer a tradução pra França. O objetivo dele foi observar as pessoas, como elas se comportam em sociedade e isso informou a ele de um determinado lugar, por outro lado ele observou os governos e percebeu outro lugar. Então sua obra é uma observação comparativa, olhando do ponto de vista da diferença. Quando você pensa sobre as diferenças e não sobre aquilo que é igual, o raciocínio fica mais rico. 
Nesse exercício de comparação, ou seja, ele foi aos EUA e voltou à França. Sua visão sobre o “despotismo igualitário” na França se resume neste pensamento: 
"Vejo uma multidão imensa de homens semelhantes e de igual condição girando sem descanso à volta de si mesmos, em busca de prazeres insignificantes e vulgares com que preenchem as suas almas. Cada um deles, pondo-se à parte, é como um estranho face ao destino dos outros; para ele, a espécie humana resume-se aos seus filhos e aos seus amigos; quanto ao resto dos seus concidadãos, está ao lado deles, mas não os vê; toca-lhes, mas não os sente, ele só existe em e para si próprio e, se ainda lhe resta uma família, podemos dizer pelo menos que deixou de ter uma pátria.”
Nesse momento de mais ou menos 60 anos depois da revolução francesa, a igualdade está estabelecida, a ideia de um antigo regime de uma sociedade estratificada desapareceu do imaginário francês, ou seja, semelhantes de igual condição. Vamos fazer o contraste com o Brasil, ou seja, essa frase poderia ser dita pelo Brasil? Não. Então nós ainda não conseguimos nem sequer chegar a ver uma sociedade de homens semelhantes. É interessante pensar esse olhar de um francês sobre a sociedade francesa, mas isso não esta muito distante da visão de um brasileiro. A gente não imagina o que é uma pátria, nós não temos um sentimento de solidariedade de uma unidade efetiva. 
“Acima desses homens ergue-se um poder imenso e tutelar que se encarrega sozinho da organização dos seus prazeres e de velar pelo seu destino. É um poder absoluto, pormenorizado, ordenado, previdente e suave. [... O poder tutelar] trabalha de boa vontade para lhes assegurar a felicidade, mas com a condição de ser o único obreiro e árbitro dessa felicidade. Garante-lhes a segurança, previne e satisfaz as suas necessidades, facilita-lhes os prazeres, conduz os seus principais assuntos, dirige a sua indústria, regulamenta as suas sucessões, divide as suas heranças." 
Ele denomina esse Estado francês com um poder imenso e tutelar que se encarrega sozinho da organização dos seus prazeres e de velar pelo seu destino. É um poder absoluto, pormenorizado, ordenado e previdente, isso também pode descrever o Brasil de hoje. O Estado não só diz o que a gente pode fazer, mas como podemos fazer, o que a gente não pode fazer e o que podemos ter como prazer ou não prazer antes mesmo da realização da atividade. Ou seja, o meu destino é pensado pelo Estado. E é paradoxal porque esse mesmo Estado permite a interrupção de fetos anencéfalos entre outros pelo direito da mulher de ter controle de seu próprio corpo. O controle então passa a ser exercido de forma tutelar. 
Então onde o Estado imagina que deve intervir ou se ausentar, ele o faz. Na concepção do Estado da França no século XIX, o autor utiliza uma expressão muito característica da sua visão sobre a sociedade francesa, a ideia de um poder tutelar que é aquele que sem que eu precise ser convencido do que é bom pra mim, ele impõe a sua vontade. Esse Estado trabalha para garantir felicidade, mas ele é o único obreiro. Um exemplo de intervenção do Estado é que ele proíbe o não recebimento de hora extra, ou seja, mesmo que você não queira receber, que você tenha feito isso por um favor, o Estado intervém. Então essa frase se Tocquerville sobre a França tendo em vista os EUA, também vale para pensarmos o Brasil.
É interessante pensar o quanto o capitalismo norte americano e o modelo republicano que seinstalou em todo o mundo e como hoje há sinais que isso mudará. Então se lá no século XIX a aposta foi prever o que aconteceria 100 anos depois, hoje já há uma serie de autores que dizem que o eixo político e econômico mundial vai se deslocar para o modelo de relação estado, economia e sociedade que está acontecendo no oriente, principalmente as Coreias e a China. São Estados fortes, mas que controlam a sociedade através da economia. A china continua sendo um Estado socialmente comunista e economicamente capitalista. 
Questões centrais do pensamento de Tocqueville: liberdade, igualdade e democracia. 
A mudança do pensamento da revolução francesa da fraternidade pela democracia. Porque de alguma forma liberdade continua tendo uma expressão clara, a noção de igualdade ainda se vincula com a questão política e economia, mas a democracia diria respeito à dimensão política e social que estaria implícita na noção de fraternidade. Tocquerville diz que fraternidade tem um sentido muito familiar, é um comportamento pra essa nação homogênea, pra essa pátria e para esse jeito de se relacionar entre iguais. A democracia aparece no pensamento do autor exatamente para respeitar as diferenças. É uma discussão interessante que surge e até hoje sobre o conceito de democracia que não é algo muito claro. Democracia pode ser pensada como a ditadura da maioria. Então não há fraternidade, para isso acontecer é preciso dar espaço as minorias. 
No Brasil, no período de ascensão democrática na transição da ditadura, do ponto de vista jurídico havia uma constituição e por outro lado uma hipertrofia do executivo. A constituição de 1969 não trabalhava de forma politicamente adequada na relação entre os três poderes (executivo, legislativo e judiciário), foi uma constituição que deu maiores poderes ao executivo, ela diminuiu as potencia legislativas e judiciárias. Porém, esse arranjo é democrático. O movimento mais importante do nosso país foi o movimento das diretas já. 
Perspectiva analítica empírica: observar as sociedades de seu tempo.
Pergunta Central:
Resposta: A Democracia, não apenas como um “tipo ideal” weberiano (antecipado) mas como efetivamente praticado, como por exemplo nos Estados Unidos. A Democracia seria o “fim da história”, ou a “Paz Perpétua” de I. Kant, ou a forma mais aperfeiçoada da política engendrável pelo homem. 
A noção de “tipo ideal” foi para trabalhar as atribuições do poder e do Estado de uma forma analítica, ou seja, ele queria olhar para sistemas de dominação diferentes e tentar separar elementos constitutivos, é claro que a dominação carismática, burocratoco-legal, tradicional ou religiosa, não existem puras, não são só elas que acontecem. A idéia do “tipo ideal” é algo que é bom para pensarmos analiticamente mesmo que ela não aconteça em todas as facetas no mundo real. Nós vivemos de 64 a 88 um período de ascensão democrática ou um período de ditadura, eu uso ditadura como uma categoria analítica, pois mesmo reconhecendo que esse período era de ascensão, havia democracia. Dentro de outro conceito de tipo ideal, mas pensando nessa democracia não como ela era praticada.
 Nos EUA ele vai dizer que há uma democracia, há um modelo político que consegue respeitar um pouco essas três questões de liberdade, igualdade e democracia. Ele foi lá observar e a ideia do desenvolvimento econômico, a igualdade não inibiu a liberdade. Ele imaginou algo que Kant não tinha conseguido formular claramente, mas a democracia no modelo norte americano seria a forma política mais aperfeiçoada que o homem poderia fazer. De alguma maneira, Tocquerville antecipou aquilo que iria acontecer apesar de que na verdade os Estados constitucionais que se seguiram o modelo norte americano não se reproduziram da mesma forma. Pelo menos, até onde sei, todos os Estados democráticos de direito estão amparados em uma constituição que organiza o Estado de forma local, particular e mais ou menos estão organizados da mesma forma: executivo, legislativo e judiciário. E entre esses três poderes há um maior grau de autonomia, de separação e independência, de limite de um sobre outro. E há países que um poder se mistura com o outro, tornando meio confuso, como é o caso da nossa constituição que ainda hoje permite que o executivo se meta em questões do legislativo, que o judiciário se meta em questões do executivo. 
A crença na igualdade formal não impede na busca incessante pela igualdade material; 
Por outro lado, esta busca não deverá descambar para a tirania de uma maioria sobre a minoria; 
Desvios possíveis na busca da igualdade material:
- O surgimento de uma sociedade de massas (não a revolução de 1848 que fundou a segunda República Francesa, mas a Comuna de Paris, 1871)
 - O surgimento de um Estado Despótico; 
Recusa a visão da economia política inglesa quanto à busca pela maximização individual dos ganhos Homem Econômico Racional
Remédio: foco constante e coletivo da atenção pelo interesse público 
A ideia que Tocquerville faz de que mesmo se você pensar em uma sociedade formal, aquela igualdade que está na constituição (todos são iguais perante a lei), mas não são. A busca pela igualdade material é um elemento neutralizante da democracia, ele diz que a busca por igualdade material não devera significar a tirania da maioria sobre a minoria. Isso quer dizer que o direito de resistência da sociedade democrática deve ser garantido. Então por exemplo, a nossa constituição diz que nós não somos obrigados a fazer coisas que contradigam a consciência individual. E claro que essa consciência individual tem que ter uma aceitação pela maioria, mas se o Brasil declara guerra, a pessoa tem o direito alegando razoes de consciência de não guerrear. A lei é uma maioria legislativa. Porque, por exemplo, que a venda de cigarros não é proibida? Já que é um mal comprovado para a saúde e por conta disso gera gastos públicos. É uma questão de economia.
O autor não acredita que haja a sobreposição de uma classe sobre a outra como Marx, a dialética dele é sobre liberdade e tutela. Ou seja, a ideia da luta de classes que ele coloca é a liberdade e tutela e não servos e senhores. Pra ele é uma condição de maior liberdade e menor liberdade. Essa tirania tutela X liberdade que é o motor da história. Liberdade significa que uma classe não vai sobrepujar a outra, o que vai haver é uma harmonia dentro da igualdade. Outra discussão que ele faz é uma preocupação com essa igualdade e com a democracia, é a ideia do Estado despótico, é aquele Estado que tem a liberdade na palavra do seu corpo Maximo. A gente pode pensar que isso pode estar presente em vários lugares, em vários discursos. Se lêssemos o discurso do Celso de Melo ontem, sobre o final do julgamento do mensalão, a questão da perda do mandato, e se compararmos aos outros discursos, vejam se a posição do Celso de Melo sobre a última palavra do supremo, num voto 5x4. Isso significa que a decisão dos quatro outros não tem valor? E se tivessem mais dois ministros? O que legitima a presença do supremo não é esse despotismo, o voto do ultimo ministro foi um voto despótico, ele fala e não precisa ouvir. O Joaquim Barbosa em vários momentos sempre teve debates com os outros ministros do supremo dizendo que era preciso ouvir o clamor do povo. Então de alguma forma, o que é ao contrario do despotismo. 
Institucionalização da Política
 Descentralização e Associativismo participação
Arcabouço jurídico: Constituição e Leis que garantam a igualdade e a liberdade
Porém, só a ação política individual e coletiva pode garantir a liberdade. Thomas Jefferson: “ o preço da liberdade é a eterna vigilância”. 
Mesmo que positivada, a liberdade só será efetivada através da ação dos cidadãos. 
Como a igualdade material pode ser atingida em patamares desiguais, sua conquista pode ser uma ameaça à liberdade. 
Remédio: Democracia
Democracia na América v. 1 
- O território e seus habitantes aborígenes
- Os pais fundadores: Virgínia e Nova Inglaterra – puritanos e anti monarquistas – religião e liberdade;
- O Estado Socialdemocracia
- Fundamento da Soberania o povo (predestinação)
- A comunidade, o condado; administração versus governo
- O Estado: 
- Poder Legislativo bicameral – Senado e Câmara
- Poder Executivo – Governador como magistrado supremo eleito democraticamente; chefe forças armadas
- Poder Judiciário, como poder político
- Da Constituição Federal 
- Soberania dos Estados e da Federação
- Pluralidade e Associativismo
O Antigo Regime e a Revolução 
Revolução Francesa e Fundamentalismo Religioso
Objetivos:
 - aumentar o poder e os direitos das autoridades públicas
- abolir as instituições feudais e instituir uma ordem social e política mais uniforme e mais simples com base na igualdade de condições 
Circulação do Direito Romano nos novos Estados Nacionais na Europa do século XVIII; 
Direitos do Homem: Liberdade, Igualdade e Fraternidade.
Stuart Mill
Contemporâneo de Tocquerville, fez parte desse momento intelectual da Inglaterra que tem algo diferente da França no conceito de formação, pois a França desde o século XII, XIII já tinha um ensino escolar bem consolidado, tinham um conhecimento disciplinar. Mesmo que depois esses autores escrevessem sobre muitas coisas, basicamente a ideia do conhecimento era enciclopédico, na Inglaterra tinha vários autores que não tiveram uma formação escolar clássica, nãon estudaram numa faculdade de direito ou economia. Stuart Mill é um dos últimos só século XIX que foi autodidata no sentido de que teve toda sua formação feita por seu pai que foi também um filósofo importante. Morou muito tempo na Índia e basicamente o conhecimento que ele reproduziu foi de livre escolha, então ele circulou por várias esferas de origem teórica e disciplinar, mas também se beneficiou muito de uma serie de outros pensadores contemporâneos. Ele trabalhou dentro de campos de lógica, psicologia, direito, economia e política. Seu conhecimento era produzido empiricamente, através da observação.
John Stuart Mill ( 1806-1873). Ao longo de sua vida, Stuart Mill acompanhou mudanças nas esferas econômicas e políticas sem precedentes na Inglaterra (e quem sabe no mundo). Suas atenções estiveram voltadas para campos tão distintos quanto a Lógica, a Psicologia, o Direito, a Economia e a Política. Teve influência de pensadores como Jeremy Bentham (utilitarismo, pesou questões sociais e psicológicas vinculadas ao direito), Auguste Comte (laicismo, pai da sociologia) e David Ricardo (economia liberal). 
Temas que adicionou – próximos ao de Marx - são evidentes: a propriedade e os rendimentos do trabalho. 
Tocquerville pode ser considerado um empiricista, sempre preocupado em observar o mundo e a parir daí pensar como poderia ser explicado e eventualmente reorganizado. Marx era observador tal como tocquerville, mas alem disso era historicista, olhava através de uma perspectiva histórica para chegar as suas conclusões. Mill e Tocquerville trocaram correspondências e basicamente tinham preocupações semelhantes em termos de conteúdo, de perguntas, mas que não eram exatamente as mesmas, provavelmente muitas de suas conclusões também não eram as mesmas, pois eram contextos diferentes, as sociedades concretas nas quais viviam eram bastante diferentes. Esses autores estão muito preocupados com essa ideia teleológica, podemos perceber que Marx tem um sentido teleológico, a sociedade comunista, tocquerville pensa numa democracia efetivamente igualitária e justa, e Stuart Mill também pensa no desenvolvimento final. Eles pensam em atingir a paz perpétua pela política, economia ou o Estado. Mas a ideia é que a sociedade está se desenvolvendo. 
Interessante pensar que nesse momento, a sociedade europeia do século XIX foi bastante modificada pela ideia do evolucionismo biológico. Darwin publicou sua obra na metade desse século e produziu uma concepção sobre o desenvolvimento do mundo natural absolutamente sem precedentes no pensamento humano até então. O fato de Darwin ter tido elementos razoavelmente comprobatórios para explicar que um peixe havia evoluído até se tornar um pássaro, teve um efeito na sociedade também evolucionista. Ou seja, o mundo ao olhar para os indígenas, população aborígene australiana, verem povos selvagens e se enxergarem como o povo civilizado, também imagina a noção de desenvolvimento ou evolução como uma meta. É como se esse homem desse tempo, não se considera tendo atingido o ápice da sua potencialidade. Hoje eu lamento que em pleno 3º milênio a gente a acredite que chegamos à perfeição das instituições políticas, jurídicas, econômica. A gente acha que não deve ter nenhuma criatividade em avaliar se a sociedade que vivemos é justa, se os sistemas políticos são adequados, se podemos pensar melhor a economia, ou a administração de justiça, ou seja, que a gente não tem nada de novo para pensar em termos de desenvolvimento ou evolução.
Mas esse momento histórico não, todos estão pensando que se pode ir mais além. Essa é a riqueza dessa período. Da mesma maneira que podemos analisar o pensador através de algumas de suas frases centrais, Mill também tem em sua frase o seu ideal desenvolvimento final: “Nosso ideal de desenvolvimento final vai mais além da democracia e nos classificaria decididamente sob a designação geral de socialismo. Consideramos que o problema social do futuro seja como reunir a maior liberdade individual de ação com a propriedade comum das matérias-primas do globo e uma participação igualitária de todos nos benefícios do trabalho”.
Ou seja, o que somos capazes de fazer está além da democracia. É claro que ele está falando da democracia de seu tempo, uma democracia inglesa que no século XIX havia atingido o apogeu do maior império já visto. O império britânico naquela época ocupa praticamente todos os espaços do globo. Esse império democrático, nos limites de uma monarquia constitucional ainda não era o estágio mais avançado, era uma democracia eminentemente censitária. Ou seja, só determinados setores da sociedade inglesa tinham direito a voto, mulheres não votavam, só senhores de terras votavam. Então Mill tinha a visão de que vivia-se numa democracia, mas não era a mais adequada. Inegável os processos que estavam ocorrendo na Inglaterra de desenvolvimento econômico como ferrovias, metrô, fábricas, manufaturas, trabalho assalariado, eram sem precedentes, mas do ponto de vista de Stuart Mill é bastante injusto, isso não poderia ser um modelo de democracia. Se olharmos para as nossa cidade de hoje também não poderemos dizer que é justa. 
Temos então um autor inglês, liberal e socialista. Esse socialismo não é o mesmo que Marx falava, por isso Marx trabalhou com a noção de comunismo para diferenciar desse socialismo. Apesar de ouvirmos que Marx trabalhou um socialismo científico. Esse socialismo em geral é pensado em uma forma mais justa da divisão de propriedades, uma divisão mais justa dos ganhos das atividades econômicas, ou seja, as preocupações socialistas são interessantes mesmo para um liberal inglês do século XIX. 
Da mesma forma que Tocquerville, tem uma preocupação com a liberdade e também com a igualdade. O interessante é que dentro do pensamento dessa frase se Stuart Mill é que ele coloca uma preocupação que Tocquerville não tinha e é justificável, pois a reforma agrária da revolução francesa já havia resolvido grande parte da ideia da propriedade, mas ele chama atenção que esse socialismo tem que estar mais preocupado com uma repartição mais igualitária da propriedade e dos benefícios do trabalho. Se formos analisar as ideias do autor sobre o socialismo e a liberdade individual e propriedade comum numa escala global e falar numa participação igualitária do mundo do trabalho, contra a mais-valia, podemos dizer que não era um liberal inglês, mas sim um comunista alemão tal como Marx. É claro que essa proximidade não significa que os dois entendiam a mesma coisa, porque para Marx o motor da história era a luta de classe e pressupunha o ploretariado entrando no lugar da burguesia. E tanto Tocquerville como Mill, estão pensando numa igualdade da sociedade.Para esse autor a ideia era de um desenvolvimento e não de uma ruptura, não é uma revolução. É um desenvolvimento que pudesse produzir igualdade, liberdade, democracia, o fim de uma propriedade privada e uma melhor repartição dos benefícios do trabalho. então os nossos pensadores estão bastante próximos. Se formos pensar nesses problemas contemporaneamente, dizer que uma repartição melhor da propriedade, dos meios de produção e das matérias primas. O que diz a nossa constituição sobre o fundamento da propriedade? Que ela tem que cumprir uma função social. O direito do trabalho é claramente compensatório das desigualdades inerentes entre o empregador e o empregado. Nós temos uma justiça do trabalho liberal, mas de qualquer forma, iluminada pelos pensamentos de Stuart Mill.
 Ele escreveu sobre lógica e imaginou essa lógica dedutiva, então de alguma maneira, ele é menos empiricista do que Tocquerville. Ele olha pra sociedade, vê desigualdade, mas não é da acurada observação da sociedade que ele vai tirar a sua alternativa. Marx não, ele olhou a sociedade, viu a mais-valia, viu o dano da propriedade privada como meio de produção, ele viu a luta entre burgueses e ploretários e fez a sua proposta. Já Stuart Mill é um pouco mais dedutivista, ele pode pensar numa sociedade mais justa e mais fraterna, independente dela existir ou não. Ele escreveu dois livros sobre a liberdade, sobre o governo representativo, sobre utilitarismo que foi uma filosofia política que basicamente definia que o objetivo era garantir a felicidade (diferente dos primeiros contratualistas ingleses que no caso de Hobbes dizia que o objetivo da vida em sociedade do Estado era garantir a vida e a propriedade). Ou seja, você vive em sociedade para ser feliz. Mill também escreveu sobre a sujeição da mulher dentro da sociedade inglesa que foi o primeiro homem público a propor outro papel social para a mulher. 
Principais livros:
 Sistema de Lógica Dedutiva (1843);
 Princípio de Economia Política (1848);
Considerações sobre a Liberdade
 Sobre a Liberdade (1859);
Considerações sobre o Governo Representativo (1861);
O Utilitarismo (1863)
A Sujeição da Mulher (1869);
Esse trecho coloca a idéia da liberdade e autoridade. De alguma forma, ele está muito próximo a Marx, ou seja, um motor da história seria visto na Grécia, em Roma e na Inglaterra. Mas se Marx reduziu à luta de classes, Stuart Mill qualificou em outro lugar. Não classe enquanto classe, ele falou em liberdade e autoridade. A analise de Stuart Mill ganhou uma outra feição porque pode se beneficiar de toda a concepção, ou seja, se estou falando de liberdade e autoridade, eu não preciso fazer um corte: Roma, Grécia, Inglaterra, vou pensar em um mesmo conjunto aonde a autoridade sempre visa cercear a liberdade e dentro dessa relação autoridade liberdade ele vai produzir toda a sua obra. 
	Ele chama atenção que dentro dessas posições sociais acabam sendo antagônicas em função do grau de liberdade. Por exemplo, quando imaginamos a ideia de uma cronologia para a imputação penal, o que estamos falando é uma relação entre liberdade e não liberdade. Ou seja até que idade um sujeito que cometer um delito pode ser privado de sua liberdade. Porque mesmo que você coloque um menor infrator em uma instituição, a mesma não sera pensada como prisão, mas sim como sócio-educativa. A perda da liberdade não é uma punição é uma ressocialização. A discussão entre liberdade e autoridade é o elemento central que o autor coloca. No fundo ele esta preocupado com liberdade dentro da democracia, do sistema econômico, do sistema político e da própria sociedade. Logo, essa liberdade seria um direito de todos e não separada por gênero nem idade. Desse jeito podemos entender a imputação penal em qualquer idade na Inglaterra. Porque todos são livres e no mal exercício dessa liberdade é que você pode ser imputado. 
Questões centrais do pensamento de Stuart Mill: liberdade, igualdade e felicidade. 
Perspectiva analítica empírico-dedutiva: observar a sociedade de seu tempo e transforma-la.
Movimentos Políticos Centrais de seu tempo: conformação de um “sistema de contestação pública” e “alargamento da base social do sistema político”; 
O indivíduo e o liberalismo: as relações entre indivíduo e sociedade, economia, política e etc. 
“O bom governo será aquele capaz de garantir o maior volume de felicidade líquida [prazer – dor] para o maior número de cidadãos. Para cada ação ou questão política, é sempre possível aplicar este raciocínio para avaliar a ‘utilidade‘ de seus resultados”. 
Se formos comparar Tocquerville e Mill podemos observar que para Mill as palavras-chave são liberdade, igualdade e felicidade e para Tocquerville é liberdade, igualdade e democracia. A sua perspectiva analítica é claramente empírico-dedutiva no sentido que pode observar a sociedade, mas ao mesmo tempo procura transformá-la dedutivamente. Tocquerville era mais empírico, ele olhou para a sociedade norte americana e disse que se a França se aproximar da mesma já é um bom caminho. Aqui, Stuart Mill não olha para a sociedade norte americana, ele olha para a sociedade Inglesa e diz que não está boa, não está justa, está provocando desigualdade econômica e política, não esta trazendo felicidade e, portanto, cabe transformá-la. Ele se beneficia, do ponto de vista de outros autores que também estão acompanhando um momento de turbulência, e acontece não porque ele tenha promovido, mas ele observa esses processos e um deles se chama o sistema de contestação pública, ou seja, a recusa a tirania do governo estava previsto filosoficamente em Locke, onde a ideia de você resistir à opressão Estado era possível. Para Hobbes não, o Estado era absoluto e tinha o objetivo de garantir a vida usando qualquer meio. Locke dizia que o povo tem o direito de resistir ao leviatã que queira se transformar em um tirano nem que seja para proteger a vida. Então, portanto já houve essa mudança de pensamentos, mas o que aconteceu nessa época é que efetivamente isso não se deu. Esse modelo de resistência ficou restrito a uma elite inglesa. Entretanto, é a mesma classe operária que Marx entende como uma classe revolucionária, é a mesma classe de trabalhadores que começa a surgir contra as condições de trabalho contra o aviltamento da qualidade de vida na Inglaterra, contra a ausência de propriedade, de direitos políticos e contra uma série de desigualdades estabelecidas, começa a se estabelecer um sistema de contestação pública e ai partidos políticos de oposição começam a se consolidar. O movimento sindical da Inglaterra começa a se organizar. É claro que se Marx olhou pra esse processo e entendeu um momento de tomada de consciência do ploretariado quanto classe revolucionária. O nosso autor liberal disse que isso foi à construção de um sistema de contestação pública e evidentemente política e com o alargamento da base social do sistema político. Então é como se ele dissesse que não está havendo um caminho de uma ruptura de uma classe dominante. O ploretariado não está se organizando para substituir a burguesia no controle do Estado, mas simplesmente a ideia de um alargamento da base social do sistema político. Ou seja, os trabalhadores, as mulheres, aqueles que são oprimidos, estão se organizando para fazer parte do sistema político.
Dentro disso há a ideia de uma organização partidária como elemento de transformação da sociedade. Por exemplo, o PT foi fundado em 83 ainda no período da ditadura e surgiu como partido, ainda não necessariamente oficial dos movimentos operários e nesse momento as forças de oposição da ditadura adotavam duas estratégias: uma era o que chamavam de partidos revolucionários, partidos que não se organizavam pela lógica burguesa nem pelo direito burguês. Tinha um partido chamado PLP (partido da libertação do ploretariado). Enquanto o PT se organizou de acordo com a legislação eleitoral, o PLP ficou como um partido de oposição. O partido que resistiu desde o momento de sua fundação como partido revolucionário e a pouco tempo sucumbiu a legislaçãoformal é o partido da causa operária, o PCO. Era um partido que faria parte do sistema de contestação pública, mas não fazia parte do sistema político vigente. Hoje, eu não conheço algum partido que não esteja inserido no sistema político brasileiro. De qualquer maneira, aqui no Brasil e também na Inglaterra, existia esses movimentos organizados. Marx certamente não concordaria que um partido revolucionário seguisse a legislação burguesa da via eleitoral. 
	Surge também um elemento mais central do pensamento de Stuart Mill frente ao pensamento de Tocquerville que é a centralização do individuo. Isso é importante porque do ponto de vista do momento da frança e da sociedade americana, o que Tocquerville viu foi muito menos o individuo atomizado, mas o individuo organizado na sociedade. uma das grandes surpresas que Tocquerville observou na sociedade norte americana foi o associativismo e o comunitarismo que ele entendeu existir nessa sociedade. Seja entorno da igreja, ou de associações de sindicatos, Tocquerville viu na sociedade americana o que hoje ainda é muito comum e é um dos elementos que ainda são discutidos é o fim ou a diminuição de associativismo. Mas na Inglaterra a preocupação central é do individuo, ou seja, como eu posso garantir pra mim a minha felicidade que não virá necessariamente da minha vida coletiva. Surge então outra relação entre o indivíduo e a sociedade, pois já temos a relação entre o individuo e o Estado, entre a sociedade e o Estado, mas entre o individuo e sociedade passa a ser uma preocupação da filosofia política inglesa e basicamente há outra forma de imaginar o principio da felicidade, já que é a preocupação do nosso autor, e é a partir dos textos de Jeremy Bentham com o utilitarismo que definiu politicamente a ideia de um bom governo que não necessariamente seria democrático enquanto modelo político, mas a preocupação com o resultado de um governo democrático, seria a ideia da maior felicidade liquida. E isso seria que é o resultado de prazer menos dor. Então Bentham diz que não é a ideia de uma sociedade hedonista aonde eu só faço aquilo que me dá prazer. A ideia do utilitarismo é a felicidade líquida. É claro que eu tenho que trabalhar, lutar, reivindicar e isso pode me causar dor, cansaço e esforço, mas o resultado desse esforço deve ser menor do que o prazer. A ideia de felicidade líquida tem que ser para o maior número de cidadãos.
	Como e quanto o direito norte americano opera numa racionalidade econômica e utilitária, não mais sobre o conceito de felicidade, mas sobre o rendimento econômico do direito. Por exemplo, uma justificativa que existe nos estados aonde existe a pena de morte, como poderíamos fazer uma justificativa para uma sociedade que aos olhos de Tocquerville é bastante adequada, democrática e não tirana e ao mesmo tempo tem a pena de morte. Qual seria a justificativa numa concepção utilitarista coletiva? Um cidadão norte americano é condenado a morte quando a avaliação que é feita sobre a possibilidade da ressocialização desse criminoso. Se esse criminoso for avaliado como incapaz de retornar a ser um ser produtivo para a sociedade, porque a sociedade vai gastar dinheiro mantendo esse sujeito vivo? A frança não tem pena de morte, mas tem prisão perpétua. O que seria melhor? 
	Essa ideia de felicidade líquida é uma forma de fugir do economicismo. Por exemplo, se um sujeito se declara infeliz e decide ir morar numa floresta com um grupo de pessoas e caçam para sobreviver em uma reserva onde é proibido fazer tudo isso, se o governo quiser, pode prender a todos. Mas pensando na felicidade utilitarista, será que isso vai deixar a população mais feliz? Pelo motivo de tirar aquelas pessoas de lá?