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DEFINIÇÃO Descrição de semelhanças e diferenças entre os sistemas de notação em Libras, bem como reflexão e análise do uso prático da escrita de sinais na educação de sujeitos surdos. PROPÓSITO Conhecer como as diferentes propostas de notação em Libras utilizadas atualmente são importantes ferramentas de fortalecimento da língua em si, além de viabilizar estratégias de letramento visual e desenvolvimento linguístico aprofundado. OBJETIVOS MÓDULO 1 Descrever a importância e os desafios da construção de sistemas de notação para a Língua Brasileira de Sinais (Libras) MÓDULO 2 Distinguir os sistemas de notação para a Libras MÓDULO 3 Identificar estratégias de notação da Libras MÓDULO 1 Descrever a importância e os desafios da construção de sistemas de notação para a Língua Brasileira de Sinais (Libras) OS MODELOS DE ESCRITA: UM CONFLITO IDEOLÓGICO No vídeo a seguir, vamos entender a real importância dos sistemas de notação para as línguas de sinais: Desde o início do século XIX, há propostas de escritas de sinais criadas para a educação de pessoas surdas: A primeira de que se tem registro é a Mimographie, criada por Bébian (1789-1839), em Guadalupe, estudada por Oviedo (2009 apud Aguiar e Chaibue, 2015). Na imagem, manuscrito original, de 1825. Desde então, outras foram e estão sendo pensadas para atingir linguística e culturalmente as comunidades surdas ao redor do mundo. São exemplos desses novos desenvolvimentos o sistema de notação de Stokoe (Estados Unidos), o de François Neve (Bélgica) e o HamNoSys (Alemanha). Na imagem, o sistema de notação de Stokoe. (Fonte: Wikimedia) De acordo com Leontiev (2004), esses registros influenciaram as pesquisas e as construções de novos sistemas de notação para as línguas de sinais. Isso ocorre pela necessidade de estudo dessas línguas nos diferentes países em que a comunidade surda alcançou certa visibilidade, mas também porque a modalidade escrita de uma língua, além de meio de comunicação, proporciona a organização e o registro do pensamento humano, tendo fundamental importância para o desenvolvimento do seu povo. Por se tratar da língua falada por uma minoria linguística, as comunidades usuárias de Libras, assim como de outras línguas de sinais, buscam na escrita uma estratégia de fortalecer e desenvolver linguística e socialmente o seu modo de comunicação, sua forma de vida. Capovilla (2004) afirma que esse movimento acontece pela compreensão de que estudar a língua por meio do seu registro escrito é um passo importante para o respeito à condição de surdo bilíngue, pois sabe-se que uma língua que não tem um registro escrito é limitada e incapaz de desenvolver-se e consolidar-se a ponto de servir de base para a constituição de um povo e de uma cultura. NÃO SE PODE ESQUECER DE QUE A LINGUAGEM ESCRITA É UM VEÍCULO DE PENSAMENTO. A visualidade e a tridimensionalidade da Língua de Sinais (LS) tornaram-se desafios a serem ultrapassados nos processos de construção de sistemas de notação da Libras. Por isso, há cada vez mais estudos sobre o tema, os quais contribuem com as discussões das propostas para a educação de surdos (letramento visual) e para fortalecer as diferentes atuações da comunidade surda em geral (aceitação e valorização da língua de sinais, estratégias de estudo para tradutores intérpretes, registro de questões profissionais, entre outras). Para transpor desafios, é necessário compreendê-los no contexto em que os estamos estudando: VISUALIDADE Está ligada diretamente ao modo de a pessoa surda estar no mundo, de se comunicar por meio da Libras e de perceber as informações pelo canal visual. Assim, quando se trata do trabalho com a língua de sinais, vital para o desenvolvimento linguístico social dos surdos, o aprendizado precisa estar aliado às questões visuais que norteiam a apreensão de significado. Campello (2008) afirma que, em todas as etapas da educação de surdos, os aspectos da visualidade têm a tarefa de relacionar o novo com o já conhecido em seu mundo, a partir de sua experiência visual – inclusive na graduação e pós-graduação. Fonte:Shutterstock TRIDIMENSIONALIDADE No caso da língua de sinais, refere-se ao espaço em que ela é produzida e no qual se distribuem os elementos da sentença, que não são uma linha ou, ainda, o canal oral-auditivo, mas um cenário visual no qual se constrói, muitas vezes, uma representação icônica, a qual também necessita de estratégias de escrita (LESSA-DE-OLIVEIRA, 2012). Fonte:Shutterstock RESUMINDO Sendo assim, compreende-se a construção de escritas de sinais voltadas para a visualidade surda e para a tridimensionalidade da língua. OS CINCO PARÂMETROS DA LIBRAS Para contemplar inteiramente a produção linguística dos sistemas de notação trabalhados aqui, ou seja, os sistemas utilizados e estudados no Brasil, é preciso priorizar os cinco parâmetros da Libras: Fonte:Shutterstock ESSES PARÂMETROS SERVEM DE BASE PARA A MAIORIA DAS PROPOSTAS, UMAS COM MAIOR ABRANGÊNCIA, OUTRAS NÃO UTILIZANDO UM OU OUTRO PARÂMETRO LISTADO. SAIBA MAIS Pela Gramática da Libras, são cinco parâmetros. Mas como veremos a seguir, na ELiS e na VisoGrafia, a configuração de mãos (CM) é abordada como configuração de dedos (CD). Trata- se de uma forma diferenciada de abordar a questão do formato da mão na construção do sinal. OS SISTEMAS DE NOTAÇÃO DA LIBRAS Nos últimos anos, a comunidade surda brasileira vem se apropriando e criando sistemas de notação em Libras, como forma de estudo de valorização do seu idioma. Estudaremos aqui os quatro sistemas criados/utilizados no Brasil. São eles: SW Sistema SignWriting ELIS Escrita de Língua de Sinais SEL Sistema de Escrita para a Libras VISOGRAFIA Escrita Visogramada das Línguas de Sinais Vamos identificar as diferenças conceituais e ideológicas entre esses modelos. Serão analisadas as estratégias de construção, os objetivos de cada sistema e ainda a questão da visualidade da escrita, a qual constitui um ponto importante quando se discute qualquer tópico relacionado a sujeitos surdos. MESMO QUE OS QUATRO SISTEMAS DE ESCRITA TENHAM COMO BASE AS MESMAS CARACTERÍSTICAS FONOLÓGICAS DA LIBRAS, SEUS CRIADORES PROPUSERAM ESTRATÉGIAS VARIADAS DE NOTAÇÃO. Silva et al. (2018) afirmam que isso pode ser visto, principalmente, no sentido dessas escritas, podendo elas serem registradas verticalmente, por meio de um sistema gráfico-esquemático- visual (SignWriting) ou horizontalmente, mediante um sistema de base alfabética e linear (demais sistemas) no papel ou computador. A escolha entre um ou outro dos sistemas disponíveis para a Libras é essencialmente ideológica: Os que defendem um sistema de notação diferente da Língua Portuguesa A parcela da comunidade que se alia a um sistema visualmente distante da escrita da Língua Portuguesa (LP) entende que a produção escrita da Libras solicita um registro também distante do da LP. Ou seja, é percebida a descontinuidade entre as línguas. Por isso, é comum a opção pelo uso do SignWriting, mesmo que a adaptação a esse registro seja um pouco mais complexa, principalmente por não respeitar as linhas de um caderno ou o sentido (horizontal) da LP, com o qual estamos acostumados a lidar. Os que apoiam um sistema similar à Língua Portuguesa Já a outra parcela da comunidade surda, a qual costuma fazer uso de um dos outros três sistemas aqui estudados (ELiS, SEL ou VisoGrafia), tem por argumento a aproximação com a LP, entendendo que uma escrita linear, na qual se faz possível a comparação de configurações de mãos com letras alfabéticas, pode facilitar o aprendizado tanto de surdos quanto de ouvintes que usam a Libras como segunda língua (L2). COMENTÁRIO Para compreender melhor cada sistema utilizado para o registro da língua de sinais no Brasil, abordaremos suas características, seus processos de construção e alguns exemplos no próximo módulo. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. ESTUDAMOS SOBRE A IMPORTÂNCIA DE UM SISTEMA DE NOTAÇÃOPARA AS LÍNGUAS DE SINAIS E O QUE INFLUENCIA CONSTRUÇÕES DISTINTAS PARA AS LÍNGUAS DOS DIFERENTES PAÍSES. ASSINALE ENTRE AS OPÇÕES ABAIXO A QUE DESCREVE CORRETAMENTE A IMPORTÂNCIA DO ESTABELECIMENTO DE SISTEMAS DE ESCRITA PARA AS LÍNGUAS DE SINAIS: A) A modalidade escrita da língua, além de meio de comunicação, é a principal forma de desenvolver a oralidade do surdo, seja em língua de sinais ou, ainda, da própria língua oral do país. B) Os sistemas de escrita das línguas de sinais são importantes para ajudar os surdos a aprenderem a modalidade escrita das respectivas línguas orais de seus países. C) A modalidade escrita de uma língua, além de meio de comunicação da comunidade surda, incentiva a organização e o registro do pensamento das pessoas, sendo importante para o desenvolvimento linguístico e cultural do seu povo. D) A importância da criação dos sistemas de escrita das línguas de sinais é assessória, ou seja, auxilia na compreensão do funcionamento delas, mas não colabora com o desenvolvimento cultural do seu povo. 2. SABEMOS QUE A LÍNGUA DE SINAIS SE DIFERENCIA DA LÍNGUA ORAL PRINCIPALMENTE PELO SEU CANAL DE EXPRESSÃO, OU SEJA, A PRIMEIRA É VISUAL-ESPACIAL E A SEGUNDA, ORAL-AUDITIVA. A PARTIR DISSO, ASSINALE A ALTERNATIVA QUE MOSTRA OS PRINCIPAIS DESAFIOS PARA A CONSTRUÇÃO DE UM SISTEMA DE ESCRITA DA LIBRAS: A) A expressão facial presente na produção das línguas de sinais. B) Visualidade de tridimensionalidade da língua de sinais. C) Os cinco parâmetros da Libras. D) A ausência de fala na produção linguística das línguas de sinais. GABARITO 1. Estudamos sobre a importância de um sistema de notação para as línguas de sinais e o que influencia construções distintas para as línguas dos diferentes países. Assinale entre as opções abaixo a que descreve corretamente a importância do estabelecimento de sistemas de escrita para as línguas de sinais: A alternativa "C " está correta. A escrita de uma língua é um sistema de aquisição secundário ao se pensar na ordem de aquisição linguística do ser humano. Sendo assim, a produção oral precede a produção escrita, normalmente, e serve de base para o raciocínio de transposição da modalidade oral para a escrita de uma língua. No caso dos surdos, o que vinha sendo ofertado era o registro em uma língua de modalidade distante da língua de sinais, a língua oral escrita. De acordo com Leontiev (2004) e Capovilla (2004), o desenvolvimento de uma linguagem escrita proporciona a organização do pensamento humano, assim como serve de base para a consolidação linguístico-cultural de um povo. Enfim, o objetivo linguístico está na linguagem (escrita, no caso), não como uma ponte para o aprendizado de outra língua, mas como valorização e visibilidade da própria língua, podendo servir de base para o aprendizado de línguas adicionais, ou não. 2. Sabemos que a língua de sinais se diferencia da língua oral principalmente pelo seu canal de expressão, ou seja, a primeira é visual-espacial e a segunda, oral-auditiva. A partir disso, assinale a alternativa que mostra os principais desafios para a construção de um sistema de escrita da Libras: A alternativa "B " está correta. A fala, como explicado no texto, não se resume à mera produção vocalizada de sons para construir um enunciado, mas ao uso de palavras, sinalizadas ou oralizadas, dentro de um sistema de significados compartilhado por diferentes falantes de uma mesma língua. Sendo assim, há, na língua de sinais, a presença de fala. Compreendendo que a expressão facial é um dos cinco parâmetros que constroem a tridimensionalidade da língua de sinais, eles se tornam parte da resposta. As construções linguísticas nas línguas de sinais baseiam-se também nas experiências visuais dos surdos, cruciais para o desenvolvimento linguístico desses sujeitos. Dessa forma, a resposta que abrange toda a complexidade da construção de um sistema de escrita para as línguas de sinais é a alternativa B. MÓDULO 2 Distinguir os sistemas de notação para a Libras SISTEMAS DE ESCRITAS Como visto no módulo anterior, o desenvolvimento de sistemas de notação da Libras surgiu como possibilidade de registro do pensamento em língua de sinais, assim como de leitura do mundo em que os surdos estão inseridos. Para esse sistema ser aceito pela comunidade, ele deve trabalhar com a visualidade e a tridimensionalidade da produção de uma língua visuoespacial como a Libras, por exemplo. As propostas para a escrita de línguas de sinais ao redor do mundo são várias, mas, no Brasil, quatro sistemas (SW, ELiS, SEL e VisoGrafia) foram criados como opção para uso concomitante à LP, porém ainda não se tem uma escrita de sinais oficial no país. Seja nos momentos de educação formal ou para produção pessoal de textos, o interesse pelo registro escrito da Libras tem aumentado nos cursos de graduação, pós-graduação e como estratégia de letramento visual na educação básica. VEJAMOS AGORA CADA UM DESSES SISTEMAS, SUAS SIMILARIDADES E DIFERENÇAS, SEUS AUTORES E SUAS PROPOSTAS DE REGISTRO. SIGNWRITING (SW) Criado pela coreógrafa norte-americana Valerie Sutton, na Dinamarca, em 1974, o SignWriting é uma forma de registro internacional, que permite o registro de sinais da Libras. Segundo Silva et al. (2018), há muitos estudiosos desse sistema em diversas partes do Brasil, desde 1996, quando foi introduzido em nosso país. De acordo com Campos e Silva (2013) e Stumpf (2005), estudos mostram que os estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo despontam em pesquisas para desenvolver ainda mais o sistema SignWriting e qualificá-lo para atender à escrita da Libras, mostrando-se um importante aliado no letramento de crianças surdas. Esse sistema gráfico-esquemático-visual possui grande aceitação da comunidade surda, como afirmam Capovilla e Raphael (2001), partindo da premissa de que se a linguagem escrita é um veículo do pensamento e se o pensamento no sujeito surdo ocorre em sinais, um sistema de escrita da linguagem espaço-visual, como SignWriting, revela-se capaz de evocar, espontaneamente, o pensamento do surdo. Segundo Aguiar e Chaibue (2015), esse pensamento decorre de o aspecto visual ser claramente perceptível ao leitor quando se depara com um sistema composto de mais de 1.900 símbolos que pode ser adaptado a qualquer língua de sinais. Os símbolos criados para o sistema SW buscam marcar os aspectos fonético-fonológicos de qualquer língua de sinais e não somente da Libras. Esses aspectos são divididos em dez categorias, sendo elas: MÃOS MEMBROS FACES LOCALIZAÇÃO OMBRO PONTUAÇÃO CONTATO DAS MÃOS INCLINAÇÃO DA CABEÇA MOVIMENTOS DO CORPO E DA CABEÇA MOVIMENTO DE DINÂMICAS (SILVA et al., 2018) Esses aspectos, unidos no registro em SW, atendem a cada um dos cinco parâmetros das línguas de sinais. Pode-se perceber, pela imagem a seguir, que é necessária a tradução da mensagem do texto em LP antes da construção do texto em SW. Assim, respeita-se a gramática da Libras ao se fazer seu registro na modalidade escrita da língua. Perceba que a notação é feita pela perspectiva do sinalizador, ou seja, aquele que sinaliza, influenciando diretamente a escrita e a leitura desse sistema: SUA ESCRITA É VERTICAL, LOGO, AINDA NÃO SE PODE UTILIZÁ-LA DIRETAMENTE NOS EDITORES DE TEXTO PADRÃO PARA COMPUTADORES. SAIBA MAIS Atualmente, o SW é a forma mais difundida de registro da Libras na modalidade escrita. Esse registro pode ser feito em um programa de edição específico do sistema (o SignEdit) ou através de uma plataforma online (SignPuddle) a qual possibilita criar textos em SW. Reconhecer os significados dos símbolos, das cores e dos aspectos básicos é crucial para o desenvolvimento das habilidades de leitura e escrita em Libras através do SW. Para isso, acompanhe um levantamento das principais regras de funcionamento do SignWriting, de forma sucinta: CONFIGURAÇÃO DE MÃOS No registro das configurações de mãos (CM), quando o sinalizador vê o dorso da mão,o grafema será preto; quando vê a palma, será branco; e quando vê o lado, será metade branco, metade preto. Observe: GRAFEMA Segundo Barreto e Barreto (2015), o grafema, nas línguas de sinais, equivale ao fonema nas línguas orais. Ou seja, grafemas são as menores unidades com significado em dada língua. Nas línguas de sinais, podemos utilizá-los, salvo algumas perspectivas teóricas, para os cinco parâmetros. javascript:void(0) Fonte:Shutterstock ORIENTAÇÃO DA PALMA DA MÃO A orientação da palma da mão interfere no registro da configuração, pois, se a mão está paralela ao chão durante o sinal, o registro será cortado em algum ponto para evidenciar esse parâmetro, conforme pode-se perceber na figura a seguir. Fonte:Shutterstock MOVIMENTO O movimento é, na maioria das vezes, indicado por setas. Porém, é necessário perceber se ele é realizado paralelo ao chão ou à parede. Fonte:Shutterstock PONTO DE ARTICULAÇÃO E EXPRESSÕES NÃO MANUAIS O contato mais utilizado é o asterisco, para toque, mas há outros tipos de contato: Fonte:Shutterstock A locação do sinal é colocada também na notação, assim como expressões faciais (quando ocorrem). O ponto de articulação, quando na cabeça, é claramente representado, porém, outros locais, dentro do espaço de sinalização padrão, podem não usar grafema algum, quando acontecem em espaço neutro ou peito, ou, ainda, aparecer como traços ou linhas, para representar os ombros (linha acima da CM) ou a cintura (linha abaixo da CM). O SW tem proposta puramente visual, sem relações com a escrita alfabética das línguas orais. Talvez, por isso, tenha difusão por todo o país, sendo utilizado para o estudo da gramática da Libras e como auxílio no letramento visual de crianças surdas. COMENTÁRIO Posteriormente, você poderá aprofundar-se nesses estudos com as indicações da seção Explore+. ESCRITA DE LÍNGUA DE SINAIS (ELIS) Criado em 1997, pela dra. Mariângela Estelita Barros, a ELiS, como é conhecida a Escrita de Língua de Sinais, vem sendo desenvolvida principalmente no estado de Goiás, por ser o local onde a sua criadora cursou pós-graduação. A ELiS foi criada durante o mestrado da pesquisadora, aperfeiçoada em seu doutorado, em 2008, e continua sendo trabalhada em disciplinas do curso de Letras-Libras (BARROS, 2016). Devido ao seu desenvolvimento acadêmico, atualmente esse sistema está presente nos ensinamentos de pelo menos cinco diferentes universidades federais brasileiras. Para criar os 95 visografemas desse sistema, a autora utilizou quatro parâmetros das línguas de sinais, sendo três os mesmos utilizados por Stokoe, em 1965, e adicionou o Ponto de Articulação. Os visografemas na ELiS estão divididos entre os quatro parâmetros da seguinte forma: VISOGRAFEMAS Utilizados pela criadora, os visografemas remetem ao design das letras no sistema ELiS. 10 PARA AS CONFIGURAÇÕES DE DEDOS (CD) 6 PARA A ORIENTAÇÃO DA PALMA (OP) javascript:void(0) 35 PARA O PONTO DE ARTICULAÇÃO (PA) 44 PARA O MOVIMENTO (M) Escritos nessa ordem, seguindo a anatomia da mão direita, pode-se dispensar o último parâmetro (Expressões Não Manuais), em casos de sinais que não o apresentem, para que a leitura respeite uma sequência linear, da esquerda para a direita. Os visografemas são o alfabeto da ELiS, ou seja, eles são elementos que, quando organizados linearmente, compõem palavras/sinais da Libras. Em uma comparação às línguas orais, a ELiS possui 95 elementos contra uma variação de aproximadamente 20 a 40 elementos para representar o alfabeto da língua. Sendo assim, ao dizermos que esse sistema é alfabético, significa que ele dispõe desses elementos para organizá-los linearmente de acordo com o sinal a ser escrito. Esse sistema, originalmente brasileiro, pode adaptar-se facilmente a qualquer língua de sinais, não servindo apenas para a escrita da Libras. Sua difusão aproxima-se da do SW e atrai adultos surdos e ouvintes pela possibilidade de ser facilmente adaptável a editores de texto disponíveis no mercado. Como exemplo, perceba as notações utilizadas pelo sistema ELiS para o registro do texto em Libras, sendo logo após traduzido para a Língua Portuguesa. Veremos agora, a interpretação de um poema notado em ELiS: A fonte ELiS pode ser facilmente salva no computador e utilizada em um editor de texto comum. Basta que o usuário a conheça e faça a adaptação para o teclado do equipamento. Para compreendê-la, é preciso conhecer e estudar com atenção os seus visografemas. Para isso, busquemos alguns princípios básicos de seu funcionamento. CONFIGURAÇÃO DE DEDOS (CD) O primeiro passo para a construção de um sinal em ELiS é escrever os visografemas de configuração de dedos (CD), os quais representam as posições dos dedos, de forma separada, polegar e demais, para, combinando-se entre si, comporem o formato da mão do sinalizador: Fonte:Shutterstock ORIENTAÇÃO DA PALMA (OP) Depois de grafado o formato da mão, partimos para a orientação da palma (OP). Ela deve vir logo após a CD, dando continuidade na compreensão do leitor e indicando para qual direção a palma da mão está voltada: Fonte:Shutterstock PONTO DE ARTICULAÇÃO (PA) O próximo visografema a ser registrado para, talvez, já completar o sinal desejado (no caso de sinais sem movimento) é o do ponto de articulação (PA). Com 35 visografemas, o PA é variado, mas é relativamente fácil perceber visualmente a que parte do corpo o sinal está ligado: Fonte:Shutterstock MOVIMENTO (M) O movimento (M), um dos parâmetros possíveis de se registrar na ELiS, possui 44 visografemas, sendo 12 destinados às expressões não manuais (ENM), não vistas na primeira relação de parâmetros utilizados para a criação do sistema. Mesmo assim, a escrita de uma ou outra palavra em língua de sinais pode não possuir esse visografema por ser um sinal que não tenha movimento ou expressão não manual registrada: Fonte:Shutterstock Nas línguas de sinais, existem palavras que utilizam uma ou duas mãos para serem produzidas quando, com as duas mãos, pode haver um movimento simétrico, ou seja, as duas mãos realizam os mesmos visografemas; um movimento assimétrico, quando realizam visografemas diferentes; ou sinais com uma mão de apoio apenas, sem modificação de significado. Eles compõem os tipos de sinais com registro próprio dentro da ELiS: MONOMANUAL Fonte:Shutterstock BIMANUAL SIMÉTRICO Fonte:Shutterstock BIMANUAL ASSIMÉTRICO Fonte:Shutterstock BIMANUAL QUASE SIMÉTRICO Fonte:Shutterstock COM MÃO DE APOIO Fonte:Shutterstock COMPOSTO Fonte:Shutterstock Para compreendermos os tipos de sinais na ELiS, vamos analisar o sinal de BONITO, o qual é realizado com uma das mãos. Percebemos que sua notação segue exatamente os passos listados anteriormente (ver tabela com exemplo visual a seguir). Para colocarmos maior intensidade e escrevermos MUITO BONITO, basta apenas inserir // antes da palavra BONITO para que o sinal seja feito com as duas mãos, modificação indicada na Libras para expressar o aumentativo desse adjetivo (muito bonito, bonitão). Visualize o exemplo: Fonte:Shutterstock A ELiS tem uma possibilidade real de uso pelos surdos e ouvintes usuários da Libras por ser de fácil adaptação aos programas de edição de texto e abranger os parâmetros da língua de sinais. É uma escrita que possibilita a reflexão metalinguística no aprendizado e o estudo continuado da Libras, propiciando o empoderamento da comunidade surda. ATENÇÃO Há uma perspectiva de menor visualidade na ELiS do que no SW, pois, mesmo sem conhecer o sistema SW, algumas pessoas, que conhecem a Libras, conseguem compreender algumas notações nele. Em relação à ELiS, é preciso uma introdução formal ao sistema, porém não se trata de um ponto negativo e sim de uma diferença quanto à visualidade entre as escritas. TRAÇOS FONOLÓGICOS DISTINTIVOS Os traços distintivos, na gramática gerativa, são propriedades mínimas referentes aos processos articulatório eacústico envolvidos na produção de um som. De acordo com esse ponto de vista, a representação segmental de um som seria o equivalente a um conjunto de feixes de traços distintivos referentes a esse som. SISTEMA DE ESCRITA PARA A LIBRAS (SEL) Criado na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), por meio de um projeto de pesquisa coordenado pela professora Adriana Stella Cardoso Lessa-de-Oliveira, o Sistema de Escrita para a Libras (SEL) foi pensado, em 2009, para pertencer ao grupo de sistemas alfabéticos. Seus registros refletem uma análise mais aprofundada, chegando a um sistema satisfatório em 2011. A opinião de seus criadores é que um sistema logográfico ou ideográfico como o SW, por exemplo, é menos eficiente do que um alfabético. De acordo com Lessa-de-Oliveira (2012), esse pensamento se aproxima ao dos idealizadores da ELiS, porém os caracteres do SEL fazem menção a conhecimentos de natureza trácica, ou seja, registra traços fonológicos distintivos da língua, e não fonemas, como a primeira. Com um estudo de níveis hierárquicos do funcionamento existentes tanto nas línguas orais- auditivas quanto nas gestovisuais, o SEL localiza o início da construção de um sinal no primeiro nível dessa hierarquia. Nesse ponto, encontram-se os parâmetros da língua de sinais, acompanhados de outros traços distintivos da língua, como o eixo da mão ou as opções de toque para a realização dos sinais. Esses traços unem-se em um segundo nível, formando os macrossegmentos MLMov, a saber: mão, locação e movimento. Silva et al. (2018) apontam que, ao unirmos os macrossegmentos no terceiro nível de articulação, temos unidades MLMov, as quais precedem o último, ou quarto nível hierárquico de funcionamento da língua, no qual essas unidades se juntam para produzir a escrita de uma palavra/sinal no sistema SEL. Por exemplo, na escrita para a palavra ZEBRA, o sinal é composto de duas unidades MLMov, podendo ser percebida na notação a reincidência dos macrossegmentos, conforme ilustrado a seguir: javascript:void(0) Fonte:Shutterstock De acordo com Lessa-de-Oliveira (2012), para compreender a escrita, ou ainda ler textos neste sistema, é necessário debruçar-se sobre a sua teoria e entender um pouco das nuances de uma produção linguística em termos de traços fonológicos. Ao total, o sistema de escrita para a Libras conta com 109 caracteres e 54 diacríticos, dispostos linearmente para a escrita de palavras/sinais. Essa quantidade foi atingida ao optar pelo registro dos traços fonológicos e não dos macrossegmentos, que resultaria em mais de 800 caracteres para serem combinados entre si. Com o registro dos caracteres e diacríticos mencionados, acredita-se que a característica tridimensional da Libras tenha sido captada, possibilitando o detalhamento de sua escrita. Vamos conhecer cada macrossegmento e seus caracteres e diacríticos, nas suas formas manuscritas e mecânicas, para compreendermos melhor essa proposta de registro da Libras. MÃO É um macrossegmento que envolve três elementos: configurações de mãos; orientação da palma da mão; e eixo. As primeiras possuem 52 caracteres. Orientação da palma da mão e eixo têm juntas 12 caracteres, ou seja, quatro opções de OP para cada um dos três eixos possíveis, os quais seguem o registro das primeiras, de forma linear. Vejamos a seguir as 52 configurações de mãos: Também podemos ter os seguintes eixos: EIXO SUPERIOR autor/shutterstock autor/shutterstock autor/shutterstock autor/shutterstock EIXO ANTERIOR autor/shutterstock autor/shutterstock autor/shutterstock autor/shutterstock EIXO LATERAL autor/shutterstock autor/shutterstock autor/shutterstock autor/shutterstock OUTROS autor/shutterstock autor/shutterstock LOCAÇÃO É o macrossegmento que mostra 27 caracteres para o ponto de articulação de um sinal em Libras. Fonte:Shutterstock MOVIMENTO É o último macrossegmento registrado na palavra em Libras. É dividido em dois tipos: de mão e de dedo. Adicionam-se ainda os diacríticos de pontos de toque e de expressões faciais. Para o primeiro, há ainda uma subdivisão em três elementos: tipo, orientação e plano. O tipo recebe caracteres, enquanto a orientação e o plano são diacríticos, como acentos inseridos aos caracteres para marcar um detalhe na execução do movimento. Ou seja, o movimento é semicircular (tipo), mas pode receber outras duas características pelos seus diacríticos transversal (plano) e para frente (orientação). Fonte:Shutterstock Para o movimento dos dedos, houve a elaboração de 19 caracteres para mostrar cada um dos cinco dedos: Fonte:Shutterstock Foram criados também 11 diacríticos para expressar o movimento em si, ou seja, o movimento interno da mão: DIACRÍTICOS Sinal gráfico complementar que modifica o valor de um símbolo (como o til ou a cedilha na Língua Portuguesa escrita). Fonte:Shutterstock javascript:void(0) A marcação dos pontos de toque é feita através de 11 diacríticos e das expressões visuais de mais 20 diacríticos: Fonte:Shutterstock Fonte:Shutterstock O sistema SEL auxilia a desenvolver o pensamento do surdo ao buscar atingir níveis mais internos de reflexão linguística, ou o início da produção, ainda mental, de um sinal. Ao refazer o caminho dos níveis de articulação, esse sistema de notação traz, como facilitador para o raciocínio humano, um caminho que começa pelos traços distintivos na gramática da Libras para, após junções desses traços em unidades maiores (as unidades MLMov), visualizar sinais escritos. A forma linear com que trabalha Lessa-de-Oliveira (2012) não descarta a tridimensionalidade da língua, tampouco a sua praticidade na escrita e na leitura. Defende-se, com o SEL, a possibilidade de estudos gramaticais, bem como a produção de textos escritos em Libras de forma manual ou mecânica. ESCRITA VISOGRAMADA DAS LÍNGUAS DE SINAIS (VISOGRAFIA) A mais recente das propostas para uma escrita de sinais, criada em 2016 (e alterada em 2017 com os estudos de seu idealizador, Cláudio Alves Benassi), a VisoGrafia busca simplificar e viabilizar a leitura e a escrita em línguas de sinais. A proposta surgiu depois de Benassi ter contato com os sistemas SW, na graduação, e ELiS, já como professor universitário, e perceber as dificuldades na aquisição da escrita por seus alunos na disciplina de Escrita de Sinais (onde ele ensinava apenas a ELiS). Assim, Benassi (2018) criou um sistema híbrido resultante da união desses sistemas, pleiteando abarcar a visualidade do SW e a praticidade da ELiS. Por praticidade, entende-se a escrita linear e de natureza alfabética do sistema ELiS adaptada para ser utilizada em conjunto com os grafemas do SignWriting. Foi dessa composição que se criou o visograma (O “alfabeto” da ELiS.) da escrita. Segundo Benassi (2018), na sua primeira versão, a VisoGrafia era composta por 64 símbolos, número bem menor que no SW (900) ou na ELiS (95). Após a proposta inicial, alguns experimentos foram feitos com pessoas surdas e ouvintes usuárias da Libras. Ela também foi utilizada para o registro de palavras em línguas de sinais diferentes da brasileira, como a mexicana, a chilena e a colombiana. Desses experimentos, resultou sua alteração mais atual, em 38 visografemas e 55 diacríticos: Fonte:Shutterstock Fonte:Shutterstock Os visemas grafados são a configuração de mãos a partir: das configurações de dedos e da orientação da palma; da locação; do movimento; e da expressão não manual. De acordo com Silva et al. (2018), na sequência linear a que se propõe, escreve-se a OP e nela se grafa as CD. Por último, escrevem-se os M e as ENM por meio do uso de diacríticos próprios. Atualmente, esse sistema tem sido utilizado em duas revistas acadêmicas: Revista Diálogos (RevDia) e Revista Falange Miúda (ReFaMi), nas quais resumos são traduzidos para a Libras e registrados pela VisoGrafia.Ao ensinar a VisoGrafia, Benassi (2018) enfatiza que em um estágio básico, é necessário aprender, apenas, os 38 visografemas e diacríticos de configuração de dedos, contato e movimento para conseguir grafar a LS, sendo que os demais são dispensáveis. Portanto, o sistema se propõe a estágios de aquisição, podendo-se nele fazer reflexões linguísticas, ler e escrever textos. Conforme seu idealizador, por ter um baixo número de caracteres essenciais à compreensão visual da Libras, a VisoGrafia pode ser decodificada facilmente, colocando-a como um dos mais promissores sistemas de escrita das línguas de sinais. VISEMAS Unidade mínima da língua visual, isto é, de sinais; equivalente visual do fonema. javascript:void(0) TODOS OS SISTEMAS AQUI APRESENTADOS ESTÃO EM PERMANENTE ADAPTAÇÃO PARA ATINGIR AS MUDANÇAS QUE OCORREM NA LIBRAS. Por ser uma língua viva, ela está em constante movimento, necessitando de registro, na maioria das vezes. Três dos quatro sistemas discutidos, a ELiS, o SEL e a VisoGrafia, apostam na linearidade como a principal característica para promover facilidade na aquisição e praticidade no seu uso, tanto na produção quanto na recepção de língua na modalidade escrita. Mesmo assim, o SW tem muitos usuários em nosso país por ser a notação que mais se conecta com a visualidade, aspecto muito caro às comunidades surdas para fortalecimento de sua língua e cultura. ATENÇÃO A escolha entre uma das propostas ainda é de cunho particular, visto que não há a oficialização de um sistema para todo o território brasileiro. Há, porém, a eleição de uma ou duas a serem trabalhadas em cursos de graduação e pós-graduação ou em algumas escolas especializadas na educação de surdos. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. ESTUDAMOS OS QUATRO SISTEMAS DE ESCRITA DE SINAIS UTILIZADOS NO BRASIL. TODOS ELES BUSCAM O REGISTRO DA VISUALIDADE TRIDIMENSIONAL DA LIBRAS, PORÉM SE DIFERENCIAM QUANTO À NATUREZA DE REGISTRO DE SEUS GRAFEMAS. SOBRE ISSO, ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA: A) O SW é um sistema alfabético-linear enquanto os outros foram criados como sistemas gráfico-esquemático-visuais. B) A ELiS e a VisoGrafia são similares, porém se diferenciam no registro, pois o primeiro é linear e o segundo não. C) A VisoGrafia é um sistema híbrido, resultante da junção do SW e da ELiS, trazendo visografemas visuais, principalmente do SW, e registrado linearmente, como na ELiS. D) O SEL e a ELiS são sistemas de base alfabética, escritos na vertical, que possibilitam a leitura e a escrita de textos, além da reflexão linguística sobre a Libras. 2. (UFSM/2017) O SISTEMA DE REPRESENTAÇÃO DA ESCRITA DA LÍNGUA DE SINAIS QUE É BASTANTE DIFUNDIDO NO BRASIL E FOI CRIADO POR VALERIE SUTTON, NA DINAMARCA, EM 1974, É O: A) Sistema de escrita das línguas de sinais (ELiS). B) Sistema de escrita notação Mimographie. C) Sistema de escrita SignWriting. D) Sistema D'Sign. GABARITO 1. Estudamos os quatro sistemas de escrita de sinais utilizados no Brasil. Todos eles buscam o registro da visualidade tridimensional da Libras, porém se diferenciam quanto à natureza de registro de seus grafemas. Sobre isso, assinale a alternativa correta: A alternativa "C " está correta. Essa questão revisa conhecimentos básicos sobre todas as propostas apresentadas, principalmente no que tange à natureza do registro dos sistemas. De forma resumida, o SW é um sistema gráfico-esquemático-visual baseado nos parâmetros das línguas de sinais, com escrita vertical, que atende maximamente aos aspectos de visualidade e tridimensionalidade. Já os outros sistemas são de natureza alfabética e buscam atender aos dois aspectos citados, porém apostando na praticidade do registro linear, da esquerda para a direita. A VisoGrafia é a proposta mais atual, que tenta unir praticidade com visualidade e tridimensionalidade por meio de um sistema híbrido, com a junção do SW e da ELiS, trazendo visografemas visuais, principalmente do SW, e sendo registrado linearmente, como na ELiS. 2. (UFSM/2017) O sistema de representação da escrita da língua de sinais que é bastante difundido no Brasil e foi criado por Valerie Sutton, na Dinamarca, em 1974, é o: A alternativa "C " está correta. A ELiS foi criada no Brasil, em 1997, pela dra. Mariângela Estelita Barros. A Mimographie foi o primeiro sistema de escrita de sinais de que se tem registro, criada na França, por Bébian. A SignWriting, alternativa correta, é o sistema criado pela coreógrafa Valerie Sutton, na Dinamarca. Por fim, o elaborado sistema D’Sign também foi criado na França, em 1990, mas seu criador, Paul Jouison, morreu antes de definir todo o funcionamento interno do sistema. MÓDULO 3 Identificar estratégias de notação da Libras NOÇÕES PRÁTICAS E PRODUÇÃO DAS ESCRITAS DE SINAIS Conhecer teoricamente os sistemas de escrita utilizados no Brasil é um passo importante para o desenvolvimento dos estudos em Libras, pois percebemos as diferenças metodológicas que influenciaram a construção de cada um e o que cada idealizador entendeu serem os aspectos determinadores de seu funcionamento. No que diz respeito à visualidade, o SW desponta como o sistema mais visual dentre os quatro apresentados, mas não se mostrou como o mais prático e de fácil aquisição. A ELiS é um sistema alfabético que buscou na linearidade a praticidade do registro do pensamento humano em línguas de sinais, inclusive, podendo ser utilizado no computador, em editores de texto comuns. Um obstáculo à sua difusão, no entanto, é o conjunto grande de caracteres. O SEL tem uma proposta voltada para a utilização de traços fonológicos distintivos, entendendo que é necessário refletirmos sobre os níveis articulatórios das línguas de sinais. Por isso, o SEL considera esses níveis desde o momento em que o sinal começa a ser produzido, ainda mentalmente. Também abre um leque de opções de uso dos cinco parâmetros para construir as unidades MLMov. Por último, surge uma proposta híbrida de dois sistemas anteriormente estudados. A VisoGrafia se coloca como a mais promissora das escritas de sinais, com o argumento de ser enxuta e de fácil compreensão, após experimentos realizados pelo seu idealizador. Independentemente do sistema a ser utilizado, são necessários a prática e o contato frequente para a apropriação dos caracteres, grafemas e visografemas. Vamos agora praticar um pouco de cada um dos sistemas, partindo de um movimento básico de registro em Libras: será em Libras. NÃO É CORRETO TRANSPOR PALAVRAS DA LÍNGUA PORTUGUESA ORAL PARA A ESCRITA DE SINAIS. Deve-se traduzir a mensagem para Libras e escrevê-la com os sinais da tradução ou produzir o texto diretamente em língua de sinais. Veremos um exemplo: Fonte:Shutterstock Um olhar atento capta as diferenças entre os registros das línguas. A Língua Portuguesa tem elementos sintáticos e gramaticais que diferem da língua de sinais, nesse caso, registrada em SW. É importante pensar em Libras, visualizar os sinais a serem produzidos para, então, escrevê-los. Pode-se ver essa metodologia aplicada à tradução de um poema para Libras, escrito em VisoGrafia. Agora, veremos como se dá a interpretação em LIBRAS de um poema escrito no sistema VisoGrafia: Além da compreensão das características sintáticas das línguas, devemos atentar para detalhes que podem modificar o significado do sinal. Por exemplo, os pares mínimos na Libras, isto é, os sinais que se diferenciam por um parâmetro apenas, podem deixar passar despercebida essa característica na escrita de sinais e, consequentemente, confundir sua leitura. Vamos analisar os sinais APRENDER e LARANJA no sistema SEL, como exemplo dessa situação. O ponto de articulação ou locação é, respectivamente, a testa e a boca. Os caracteres que representam esse parâmetro são parecidos e ocupam o meio da palavra, de acordo com a ordem da unidade MLMov. Fonte:Shutterstock A ordem de escrita e o posicionamento de cada grafema também precisam ser respeitados. Para isso, cada sistema possuisuas regras, já estudadas nos módulos anteriores. No exemplo a seguir, podemos comparar como algumas delas aparentam no registro: SIGNWRITING Fonte:Shutterstock No sinal CASA, em SW, é fácil perceber a regra dos pontos de toque. As configurações de mãos que se tocam aparecem na notação encostadas uma na outra, com o grafema de toque acima. Não devemos grafar entre as CM, separando-as. ELIS Fonte:Shutterstock O sinal LIMPO está escrito em ELiS com // antes de iniciar a palavra, pois é feito com as duas mãos, simetricamente. Após as duas barras, a ordem da escrita é respeitada – CD-OP-PA-M. Não há expressão não manual nesse sinal, mas, mesmo que houvesse, o sistema ELiS não registraria esse parâmetro. SEL Fonte:Shutterstock O sinal VER se realiza com a mão configurada em “V”, palma em posição anterior para baixo, fazendo-se um movimento retilíneo para frente a partir de um dos olhos. Somente respeitando a ordem de escrita, como MLMov, podemos compreender o que cada um dos visografemas representa. VISOGRAFIA Fonte:Shutterstock O sinal OUVIR, em Libras, é aqui grafado pela VisoGrafia e tem a mistura de dois sistemas, SW e ELiS, seguindo uma escrita linear, mas com grafemas de locação do SW no centro e demais misturados com os da ELiS. Algumas marcações dessa última foram sobrepostas e outras se mantiveram separadas. As ordens dos dois sistemas mesclaram-se, mas, mesmo assim, é escrito um sinal ao lado do outro, priorizando a natureza linear da escrita. DICA Independentemente do sistema de notação escolhido, os pontos levantados aqui são imprescindíveis para que não haja eventuais problemas de leitura e escrita da Libras. Sendo assim, sempre volte a sua atenção para a produção linguística em língua de sinais, seja após uma tradução ou ainda no registro de pensamentos na Libras; atente para cada parâmetro grafado – um erro aqui pode mudar o significado do sinal escrito; e escreva na ordem que o sistema mostra, seja sobrepondo parâmetros e características ou organizando-os um após o outro, linearmente. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. A ESCRITA DE SINAIS AINDA É NOVA PARA A COMUNIDADE SURDA, MAS VEIO PARA SUPRIR A NECESSIDADE DE REGISTRO DE PENSAMENTOS HUMANOS QUE SE DÃO EM LÍNGUA DE SINAIS. SOBRE ISSO, ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA: A) Os sistemas de notação em Libras seguem a produção linguística da pessoa que escreve, seja na sua primeira língua, em Libras ou na Língua Portuguesa. B) Os sistemas de notação em Libras seguem a produção linguística em língua de sinais, podendo ser resultado de tradução ou de produção direta em LS. C) Os sistemas de notação em Libras seguem a produção linguística em língua de sinais, devendo ser resultado de tradução de um texto em LP. D) Os sistemas de notação em Libras seguem a produção linguística em língua de sinais, devendo ser resultado apenas da produção direta em LS. 2. A ORDEM DE NOTAÇÃO DOS SISTEMAS INFLUENCIA DIRETAMENTE A COMPREENSÃO DA ESCRITA. CADA PARÂMETRO (OU UNIDADE COMPOSTA DE PARÂMETROS, NO CASO DO SEL) PRECISA SER CUIDADOSAMENTE COLOCADO NA ORDEM CORRETA. SE TROCARMOS UM DOS GRAFEMAS, PODEMOS ESTAR REGISTRANDO UM SINAL DIFERENTE DO QUE PENSAMOS OU TALVEZ UM PAR MÍNIMO DO SINAL DESEJADO. QUANTO A ISSO, ASSINALE A ALTERNATIVA INCORRETA: A) Ao trocarmos o grafema de PA do sinal LARANJA, podemos estar registrando o sinal OUVIR. B) Ao trocarmos o grafema de CM do sinal LARANJA, podemos estar registrando o sinal QUEIJO. C) Ao trocarmos o grafema de MOVIMENTO do sinal LARANJA, podemos estar registrando o sinal BOM. D) Ao trocarmos o grafema de CM do sinal LARANJA, podemos estar registrando o sinal APRENDER. GABARITO 1. A escrita de sinais ainda é nova para a comunidade surda, mas veio para suprir a necessidade de registro de pensamentos humanos que se dão em língua de sinais. Sobre isso, assinale a alternativa correta: A alternativa "B " está correta. Ao praticar cada um dos sistemas, percebemos o requisito básico de registro em Libras: será em sinais. Sendo assim, não necessariamente será a produção linguística própria da pessoa que escreve o texto em Libras, pois essa pessoa pode ter produzido um texto em LP. O verbo dever nas alternativas C e D exclui uma e outra, pois, na verdade, o principal é que a mensagem a ser escrita (com um dos sistemas de notação) precisa estar em língua de sinais, podendo ser resultado de tradução ou da produção direta em LS. 2. A ordem de notação dos sistemas influencia diretamente a compreensão da escrita. Cada parâmetro (ou unidade composta de parâmetros, no caso do SEL) precisa ser cuidadosamente colocado na ordem correta. Se trocarmos um dos grafemas, podemos estar registrando um sinal diferente do que pensamos ou talvez um par mínimo do sinal desejado. Quanto a isso, assinale a alternativa incorreta: A alternativa "D " está correta. Os sinais de LARANJA, OUVIR e APRENDER são realizados com a mesma CM (próxima à CM da letra S), porém o PA é diferente: em frente à boca, à orelha e à testa, respectivamente. Já o movimento nesses três sinais é o mesmo (de abre e fecha). O sinal de QUEIJO é realizado com a CM em L e localizado no queixo, próximo à boca. O sinal de BOM é parecido com os sinais de LARANJA, OUVIR e APRENDER, começando com a configuração em S e abrindo a mão ao final do movimento, localizado em frente à boca. Sendo assim, é incorreto dizer que, ao trocarmos o grafema de CM do sinal LARANJA, podemos estar registrando o sinal APRENDER, pois esses são sinais que compartilham a mesma CM, além do movimento, sendo diferenciados pelo PA. CONCLUSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS No Brasil, ainda é complicado prover acessibilidade na educação formal e trazer diferentes perspectivas de desenvolvimento cognitivo, principalmente para os surdos. Vários estudos publicados nos últimos anos têm revelado a necessidade de uma educação voltada para a visualidade surda, chegando ao letramento visual. Essa estratégia de ensino auxilia o desenvolvimento cognitivo dos alunos, entendendo que: OS SURDOS PRECISAM ESCREVER NAS SUAS LÍNGUAS DE SINAIS, ALÉM DE INTERCAMBIAR POR MEIO DE GRAFISMOS SUAS EXPRESSÕES LINGUÍSTICAS, COMO OS OUVINTES O FAZEM UTILIZANDO OS DIFERENTES ALFABETOS INVENTADOS PARA AS DIVERSAS LÍNGUAS ORAIS. (SILVA et al., 2018). Ao trabalharmos a escrita de sinais em sala de aula com alunos surdos, fortalecemos a condição linguística em que todos ali se inserem, promovemos a condição bilíngue que deveria se dar na educação da comunidade surda brasileira, além de fazer com que a cultura surda e a própria Libras evoluam a cada dia, tendo maior visibilidade e respeito. AVALIAÇÃO DO TEMA: REFERÊNCIAS AGUIAR, T. C., CHAIBUE, K. Histórico das Escritas de Línguas de Sinais. In: Revista Virtual de Cultura Surda, n.15, 2015. BARRETO, M., BARRETO R. Escrita de Sinais sem Mistérios. v.1. Salvador: Libras Escrita, 2015. BARROS, M. E. Princípios Básicos da ELiS: Escrita das Línguas de Sinais. In: Revista Sinalizar, v.1, n.2, jul./dez. 2016, p. 204-210. BENASSI, C. A. O despertar para o outro: entre as escritas de língua de sinais. Rio de Janeiro: Autografia, 2017. BENASSI, C. A. Visografia: uma nova proposta de escrita da língua de sinais. In: Traços de Linguagem 72, v.2, n.2. Cáceres, 2018, p.71-82. BENASSI, C. 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LIBRAS escrita: o desafio de representar uma língua tridimensional por um sistema de escrita linear. In: ReVEL. v.10, n.19, 2012. SILVA, A. D. S. et al. Os Sistemas de Escrita de Sinais no Brasil. In: Revista Virtual de Cultura Surda, 23. ed., 2018. EXPLORE+ Para aprofundar ou reforçar seus estudos sobre o SignWriting, leia o livro Escrita de Sinais sem Mistérios, de Madson e Raquel Barreto (2015) e aventure-se na plataforma SignPuddle. Assista ao vídeo ELiS - Escrita das Línguas de Sinais, da criadora do Sistema ELiS, a Profa. Dra. Mariângela Estelita Barros, em seu canal no YouTube, explicando algumas dúvidas que as pessoas têm sobre a necessidade de uma escrita para as línguas de sinais e as características do sistema ELiS. A fonte ELiS pode ser acessada e salva pelo site da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Goiás (UFG). CONTEUDISTA Antonielle Cantarelli CURRÍCULO LATTES javascript:void(0);