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Tuberculose Extra-Pulmonar Introdução: Aproximadamente 20% dos casos de tuberculose em paciente HIV- negativo são formas extra-pulmonares. Em áreas endêmicas, é mais comum ocorrer associadamente com a forma pulmonar e atinge mais crianças e jovens adultos, nos quais representa uma infecção primária progressiva. Em áreas não-endêmicas, ocorre de forma isolada mais comumente, afetando mais idosos e representando reativação da doença. Os sinais e sintomas da tuberculose extra-pulmonar dependem do foco, órgão ou sistema atingido. As principais formas diagnosticadas em nosso meio são: Tuberculose Pleural: Forma mais comum de tuberculose extra-pulmonar em indivíduos sem coinfecção pelo HIV. Cursa frequentemente com dor torácica pleurítica. Astenia, perda ponderal e anorexia ocorrem em cerca de 70% dos doentes; febre com tosse seca acontecem em 60%. Em pacientes com mais tempo de evolução da doença e com derrame pleural mais volumoso, a dispneia pode estar presente. Em relação ao exame físico, observam-se macicez à percussão e ruídos respiratórios diminuídos. Radiografias de tórax frequentemente mostram derrame pleural unilateral. Essa forma ocorre por extensão direta de um foco caseoso subpleural que libera secreção para o espaço pleural, ou mesmo por via hematogênica. Nesses pacientes, o líquido pleural tem características de exsudato, com predomínio de linfócitos e, na maior parte das vezes, pesquisa para BAAR e cultura estarão negativas. Níveis elevados de ADA (adenosina deaminase) no líquido pleural são frequentes e tem sido usado como critério de diagnóstico da TB pleural. Já a cultura para TB do escarro é positiva em 50% dos pacientes. Empiema Pleural Tuberculoso: Uma cavidade tuberculosa pode se romper e extravasar para o espaço pleural. Logo, teremos frequentemente líquido no espaço pleural e pneumotórax. A baciloscopia e a cultura do líquido são frequentemente positivas, ao contrário do que ocorre na tuberculose pleural. Tuberculose Ganglionar Periférica: É a forma mais frequente de tuberculose extra pulmonar em indivíduos coinfectados com HIV. O paciente apresenta com aumento subagudo dos linfonodos, de forma indolor e assimétrica, das cadeias cervicais anterior e posterior, bem como supraclavicular. Em coinfectados com HIV, há maior tendência a acometimento de linfonodos bilateralmente. Ao exame físico, os linfonodos estão endurecidos ou amolecidos, aderentes entre si e ao plano profundo, podendo flutuar ou fistulizar espontaneamente, inflamando a pele subjacente. Tuberculose Pericárdica: Sua apresentação clínica é subaguda e geralmente não está associada à tuberculose pulmonar, embora possa ocorrer simultaneamente com a forma pleural. Dor torácica, tosse seca e dispneia são os principais sintomas dessa forma de tuberculose. Febre, emagrecimento, sudorese norturna, astenia, tontura e - por conta da disfunção das câmaras cardíacas direitas gerando congestão - edema de MMII, dor em hipocôndrio direito e aumento do volume abdominal - por disfunção das câmaras direitas secundária à disfunção. A pericardiocentese e a biópsia são métodos diagnósticos disponíveis. Se houver tamponamento, a pericardiocentese constitui também uma abordagem terapêutica. Tuberculose Óssea: Mais comum em crianças ou indivíduos entre os 30 e 40 anos. As localizações mais acometidas são a coluna vertebral e as articulações coxofemoral e do joelho, embora outras localidades possam ser comprometidas. A TB da coluna vertebral também é chamada de mal de Pott e compõe cerca de 1% dos casos de TB, além de 50% dos casos de TB óssea. A coluna torácica baixa e lombar são as mais frequentemente acometidas. O quadro clínico é constituído de dor lombar, dor à palpação local e sudorese noturna. Tuberculose Gastroinstestinal: As manifestações clínicas mais comuns são febre, dor abdominal e sangramento gastrintestinal ou obstrução. O diagnóstico é suspeitado em áreas endêmicas para TB e HIV ou pelo achado de TB em outro local. A biópsia intraluminal dos sítios envolvidos é usada para estabelecer o diagnóstico. Tuberculose Miliar: Também conhecida como tuberculose hematogênica generalizada, a tuberculose miliar ocorre quando uma lesão tuberculosa ulcera em um vaso sanguíneo, disseminando milhões de bacilos da tuberculose pela circulação sanguínea e ao longo do corpo. Pode ocorrer disseminação maciça descontrolada durante a infecção primária ou após a reativação de um foco latente. Frequentemente, são afetados pulmões e medula óssea, mas qualquer local pode ser envolvido. É mais comum entre crianças < 4 anos de idade; pessoas imunocomprometidas; e idosos. Os sintomas incluem febre, calafrios, fraqueza, mal-estar e frequentemente dispneia progressiva. A disseminação intermitente de bacilos tuberculosos pode leva à febre de origem indeterminada prolongada. O envolvimento de medula óssea pode produzir anemia, trombocitopenia, ou uma reação leucemoide. Tuberculose Meníngea/Cerebral: É responsável por 3% dos casos de TB em pacientes não infectados pelo HIV e por até 10% em PVHIV. A meningite basal exsudativa é a apresentação clínica mais comum e émais frequente em crianças abaixo dos seis anos de idade. Clinicamente, pode ser subaguda ou crônica (sinais e sintomas com duração superior a quatro semanas). Na forma subaguda, cursa com cefaleia holocraniana, irritabilidade, alterações de comportamento, sonolência, anorexia, vômitos e dor abdominal associados à febre, fotofobia e rigidez de nuca por tempo superior a duas semanas. Eventualmente, apresenta sinais focais relacionados a síndromes isquêmicas locais ou ao envolvimento de pares cranianos (pares II, III, IV, VI E VII), podendo-se evidenciar sinais de hipertensão intracraniana. Na forma crônica, o paciente evolui várias semanas com cefaleia, até que o acometimento de pares cranianos faz o médico suspeitar de meningite crônica. Ocorre doença pulmonar concomitante em até 59% dos casos. Fluxograma Diagnóstico Resumido: Tratamento: Existem duas fases no tratamento da tuberculose: a fase intensiva e a fase de manutenção. A fase intensiva tem o objetivo de diminuir a população bacilar consideravelmente, incluindo os resistentes. Já a fase de manutenção visa à eliminação de bacilos latentes ou persistentes e a diminuição da chance de recidiva. • Esquema básico: para casos novos e retratamento – sendo este a recidiva após cura ou reingresso após abandono. Válido para todas as formas de tuberculose, em coinfectados por HIV ou não – com exceção da tuberculose meningoencefálica e osteomuscular. No esquema básico, faremos 2 meses de RIPE/RHZE e 4 meses de RI/ RH. Temos 4 fármacos principais - RIPE/ RHZE: rifampicina(R), isoniazida (I/H), pirazinamida (P/Z) e etambutol (E). A atuação dos medicamentos vai depender da localidade e do ambiente onde o bacilo se encontra. Naqueles bacilos intramacrofágicos, agem os medicamentos que melhor se difundem em pH ácido e meio intracelular: rifampicina, pirazinamida e etambutol. Em lesões caseosas, rifampicina é o mais efetivo e, por fim, nas cavitações, a rifampicina, estreptomicina e isoniazida são mais efetivas devido ao pH do meio. E como trataremos as tuberculoses meningoencefálica e osteomuscular? Esquema RIPE/RHZE por 2 meses (fase intensiva), seguido de esquema RI/RH por 10 meses (fase de manutenção). E se o paciente tiver mais de uma forma de acometimento: uma forma meningoncefálica ou osteoarticular e uma forma pulmonar, por exemplo? Nesse caso, seguiremos o esquema da forma meningoencefálica e osteoarticular: 2RHPE/10RH. Referências Bibliográficas: a) Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis. Recomendações para controle da tuberculose: guia rápido para profissionaisde saúde / Ministério da saúde, Secretaria de Vigilância em saúde, Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis. – 2. ed. – Brasília: Ministério da saúde, 2021. 47 p.: il. b) Manual de recomendações para o controle da tuberculose no Brasil https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_recomendaco es_controle_tuberculo se_brasil_2_ed.pdf https://portaldeboaspraticas.iff.fiocruz.br/biblioteca/manual-de- recomendacoes-para-ocontrole-da-tuberculose-no-brasil/ c) SuperMaterial SanarFlix – Tuberculose https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_recomendacoes_controle_tuberculo%20se_brasil_2_ed.pdf https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_recomendacoes_controle_tuberculo%20se_brasil_2_ed.pdf https://portaldeboaspraticas.iff.fiocruz.br/biblioteca/manual-de-recomendacoes-para-ocontrole-da-tuberculose-no-brasil/ https://portaldeboaspraticas.iff.fiocruz.br/biblioteca/manual-de-recomendacoes-para-ocontrole-da-tuberculose-no-brasil/