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Este livro está disponível gratuitamente para download no 
grupo: Serviço Social - Livros e Apostilas.
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Editora Appris Ltda.
1ª Edição – Copyright© 2014 dos autores
Direitos de Edição Reservados à Editora Appris Ltda.
Nenhuma parte desta obra, poderá ser uti lizada indevidamente, sem estar de acordo com a
Lei nº 9.610/98.
Se incorreções forem encontradas, serão exclusiva responsabilidade de seus organizadores.
Foi feito o Depósito Legal na Fundação Biblioteca Nacional, de acordo com as Leis nºs 10.994,
de 14/12/2004 e 12.192, de 14/01/2010.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Elaborado por Sônia Magalhães
Bibliotecária CRB9/1191
O48s
2014
Oliveira, Edson Marques
Serviço social e sustentabilidade humana : o empreendedorismo
social como estratégia de efetivação de direitos / Edson Marques
Oliveira. – 1. ed. – Curitiba : Appris, 2014. – (Coleção serviço social).
96 p. ; 23 cm
Inclui bibliografias
ISBN 978-85-8192-073-3
1. Serviço social. 2. Assistentes sociais – Prática. 3. Empreendedorismo
social. 4. Direitos humanos. I. Título. II. Série.
CDD 20. ed. – 363.3
Editora e Livraria Appris Ltda.
Rua José Tomasi, 924 - Santa Felicidade
Curitiba/PR - CEP: 82015-630
Tel: (41) 3156-4731 | (41) 3030-4570
http://www.editoraappris.com.br/
FICHA TÉCNICA
DIREÇÃO – ARTE E PRODUÇÃO Sara C. de Andrade Coelho
EDITORIAL Augusto V. de A. Coelho
ADMINISTRATIVO Selma Maria Fernandes do Valle
COMERCIAL Eliane de Andrade
LIVRARIAS E EVENTOS Silvana VicenteLudni Amadeu
DIAGRAMAÇÃO Bruno de Souza Braz
REVISORES Marta Zanatt a Lima | Gislaine Stadler
CAPA Adriana Polyanna V. R. da Cruz
COMITÊ EDITORIAL Edmeire C. Pereira - Ad hoc.
Iraneide da Silva - Ad hoc.
Jacques de Lima Ferreira - Ad hoc.
Marli Caetano - Análise Editorial
CONVERSÃO PARA E-PUB Cumbuca Studio
COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO
CIÊNCIAS SOCIAIS
DIREÇÃO
CIENTIFICA Fabiano Santos – UERJ/IESP
CONSULTORES Alícia Ferreira Gonçalves – UFPB José Henrique Artigas de Godoy –UFPB
Artur Perrusi – UFPB Josilene Pinheiro Mariz – UFCG
Carlos Xavier de Azevedo Netto –
UFPB Leticia Andrade – UEMS
Charles Pessanha – UFRJ Luiz Gonzaga Teixeira – USP
Flávio Munhoz Sofiati – USP,
UFSCAR
Marcelo Almeida Peloggio – UFC
Elisandro Pires Frigo –
UFPR/Palotina
Maurício Novaes Souza – IF Sudeste
MG
Gabriel Augusto Miranda Setti –
UnB Michelle Sato Frigo – UFPR/Palotina
Geni Rosa Duarte – UNIOESTE Revalino Freitas – UFG
Helcimara de Souza Telles – UFMG Rinaldo José Varussa – UNIOESTE
Iraneide Soares da Silva – UFC, UFPI Simone Wolff – UEL
João Feres Junior – UERJ Vagner José Moreira – UNIOESTE
Jordão Horta Nunes – UFG
Sumário
Capa
Créditos
Folha de Rosto
Sumário
Introdução
1. Por um serviço social contextualizado as novas demandas do Século
XXI
1.1 - O enfrentamento dos impactos do neoliberalismo e da globalização
– novas e velhas dimessões
1.1.1 - O enfrentamento dos impactos do neoliberalismo e da
globalização - novas e velhas dimessões
1.1.2 - A nova cultura do capitalismo – três grandes desafios
1.1.3 Um “novo” tipo de pobreza: a perceptiva.
1.1.4 - A busca de sentido para a vida – o surgimento de “ novos
manifestos”
1.1.5 - A revitalização da espiritualidade
1.2 - O serviço social no contexto das recentes mudanças provocadas
pelo neoliberalismo e pela globalização
1.2.1 - Com a profissão
1.2.2 - Com os profissionais
1.3 - Por um serviço social contextualizado ao século xxi: desafios e
possibilidades
1.3.1 - Por um serviço social contextualizado – sete teses e uma
metáfora
1.3.1.1 - A metáfora – a águia e a galinha e o desenvolvimento
do serviço social como profissão
1.3.2 - As sete teses de contextualização
1.3.3 - Os desafios e as possibilidades do serviço social frente ao
contexto da globalização neoliberal
1.4 - O assistente social na era da informação e da qualidade de vida: o
emergir da sustentabilidade humana
1. 4.1 - O novo papel do assistente social num contexto paradoxal
1.4.2. - Mutações do mundo do trabalho na sociedade da
informação
1.4.3. - A emergência pela busca da qualidade de vida
1.4.4 - A emergência pela gestão da informação
1.4.5 - O assistente social como gerenciador sócioinformacional –
Elementos de gestão sócio-informacinal
2 - Novas dimensões da consolidação de direitos o Empreendedorismo
social como alternativa para o Desenvolvimento da sustentabilidade
humana
2.1 - Séculos XXI - uma era marcada pela conquista e manutenção de
direitos
2.2 - O emergir da sustentabilidade humana – novas dimensões na
consolidação dos direitos
2.3 - Elementos básicos da sustentabilidade humana
2.4 - Desenvolvimento da sustentabilidade humana através do
quadrante vital
3 - Empreendedorismo social como estratégia de garantia de direitos
e desenvolvimento da sustentabilidade humana
3.1 - Desenvolvimento: a concepção e formatação teórica e
metodologica do projeto casulo sócio-tecnológico
3.2 - Caracterizações, formatação e estratégia de trabalho
3.3 - Procedimentos metodológicos e estratégicos de execução
3.4 - Sequência das ações: execução e avaliação
3.5 - Atividades realizadas através das células ativadas
4 - Novos rumos e perspectivas para o serviço social na luta pela
garantia de direitos e sustentabilidade humana
4.1 - Empreendedorismo social, gênero e territorialização
4.2 - Desenvolvimento e desdobramentos do experimento de m
apeamento e territorializa\cão de oportunidades
Considerações finais
Bibliografia
PREFÁCIO
“É um traço do serviço
social pulsar conforme
o contexto em que o
mesmo está inserido
(...)
podemos e devemos
reconstruir um novo
serviço social...”
 
(Profa. Maria Carmelita Yasbek-PUC-SP,1994,
sala de aula Mestrado
 
A epígrafe desse prefácio explicita o que procuro apresentar ao longo
desse ensaio, e tudo começou a mais de vinte anos, quando ainda era um
jovem profissional em início de carreira. Em meados de 1990 fui trabalhar
numa empresa do ramo da indústria de autopeças no setor de Recursos
Humanos, havia me formada num momento onde o Serviço Social passava
por um processo de transição, (1989) do chamado modelo tradicional para o
modelo atual dito como moderno e crítico.
Sou de uma geração de profissionais que pegou o final do modelo caso,
grupo e comunidade, e a influência da visão critica com víeis marxista de
perspectiva revolucionária. No término da faculdade e de uma experiência
intensa no movimento estudantil e participação ativa de luta por questões
como estágio, novos espaços de trabalho, democratização do país
(desdobramentos das diretas já entre outros movimentos) além de questões
como a mudança da lei de regulamentação da profissão de Assistente Social e
da alteração do código de ética, e mudanças nas diretrizes curriculares.
Minha visão nesse momento era da busca de uma práxis profissional
revolucionária, transformadora e de impacto significativo e amplo na
sociedade, não muito diferente do que hoje tanto se propala nos textos, nos
eventos e nas salas de aula... Bem, não demorou muito para perceber que
alguma coisa não estava congruente, alguma coisa não se encaixava, apesar de
meu esforço, o meu discurso com as minhas ações ou as ações que tentava
fazer.
Nesse momento percebi que a realidade pulsava uma outra linguagem, e a
que estava professando era outra. Passado alguns anos fui percebendo que
aquele sentimento e a questão de pulsar conforme o contexto ficava cada vez
mais nítido.
O mundo pedia uma intervenção mais efetiva, criativa, inovadora e de um
olhar mais complexo, de resultados mais plausíveis, então compreendi que
mais do que discursos bem, elaborados, e boas intenções, a sociedade e a
população que trabalhos requer mais de nos, além de perceber que o contextodo século XXI abre novas oportunidades, dais quais precisamos estar
preparados, bem como ter uma visão crítica mas sobre tudo, propositiva,
construtiva.
Nesse sentido, percebi que deveria me abrir para outras abordagens e
mesmo não percebendo, estava buscando essa forma de um Serviço Social
que pulsava conforme o contexto do século XXI, e me vi sempre
perguntando, como seria isso? Qual seria essa abordagem?
Não acredito que tenha encontrado todas essas respostas, mas acredito
que encontrei algumas pistas, e no presente trabalho procuro esboçar e
compartilhar algumas dessas ideias sobre o que acredito ser um Serviço Social
que pulsa em conformidade ao século XXI, e assim, apresentar uma
linguagem profissional que não perde os avanços da visão critica mas se situa
e contextualiza-se ao universo de uma sociedade gerida paradoxalmente pela
informação e o conhecimento, onde o social ganha maior proeminência e
requer novas estratégias de intervenção que visem a emancipação dos
sujeitos, o seu empoderamento com vistas a garantia do exercício de sua
plena cidadania, direitos já adquiridos e por que não, a garantia de novos
direitos.
Espero que consiga atingir esse objetivo, e contribuir para uma reflexão
diferenciada, não mais importante e nem menos importante, simplesmente
diferente.
Boa leitura.
Edson Marques Oliveira, Toledo — PR, inverno de 2012
INTRODUÇÃO
O presente ensaio é resultado de um relato de uma prática social que
segue uma trajetória auspiciosa quanto aos aspectos epistemológicos,
metodológicos e práticos. É resultado de esforço cientifico e de aplicação
prática e comprovação efetiva desta relação. Tendo como cenário o cotidiano
e o envolvimento de vidas e organizações, o que demonstra que Maturana
tem razão ao afirmar que “viver é conhecer, conhecer é viver” e que tudo é
visto por um observador, e que a nossas explicações cientificas são sínteses e
reformulações de nossas narrativas e experiências vividas em nosso cotidiano,
e é do cotidiano que extraímos as nossas mais importantes teses, e com um
objetivo único, influir na vida humana, ou seja:
A validade da ciência está em sua conexão com a vida
cotidiana. Na verdade, a ciência é uma glorificação da vida
cotidiana, na qual os cientistas são pessoas que têm a paixão
de explicar e que estão, cuidadosamente, sendo impecáveis em
explicar somente de uma maneira, usando um só critério de
validação de suas explicações, que tem a ver com a vida
cotidiana...” (MATURANA, 2001, p.31)
Creio que não exista um cientista social mais próximo desta realidade do
que o assistente social. E é com esse entendimento, de que a nossa profissão,
que em si é uma pratica pensada, logo uma práxis, e logo uma ciência
aplicada a intervenção social, e por tanto afetando o cotidiano de pessoas e
organizações, é que apresento uma experiência e trabalho desenvolvido entre
2004 a 2007 na cidade de Toledo-PR, onde a parceria entre uma universidade
pública, através de um projeto de extensão, e uma Associação Comercial
Empresarial, mostraram que o Serviço Social e o assistente social podem fazer
diferença e que no epicentro deste processo, o resultado maior é o emergir de
uma nova estratégia e sentido de efetivação de direitos.
Na sua essência, o mesmo se apresenta como uma ação estratégica de
gestão social, que permite a articulação de pessoas e organizações na direção e
busca de tornar a vida melhor e mais justa para todos, dentro de um clima de
democratização e qualidade das relações humanas. Não seria essa a essência
da perspectiva de uma das muitas dimensões do direito humano? O direito a
vida, a paz e ao bem-estar?
Pois, segundo um dos maiores pensadores do século XX, “Em outras
palavras, a democracia é a sociedade dos cidadãos, e os súditos se tornam
cidadãos quando lhes são reconhecidos alguns direitos fundamentais; haverá
paz estável, uma paz que não tenha a guerra como alternativa, somente
quando existirem cidadãos não mais apenas deste ou daquele Estado, mas do
mundo.” (BOBBIO, 1992, p.3)
Essa cidadania global e planetária desafia os conceitos convencionais
sobre cidadania e direitos do ser humano. Ao Serviço Social, como uma
ciência aplica a intervenção social, é ainda mais desafiador compreender a
transcendência deste conceito, visto que seu propósito e essência maior, ainda
é o que Balbina, em sua grande sabedoria, que lhe era peculiar, a tempos nos
afirmou, “... a realização do homem.” (VIEIRA, 1982,p.209).
E nesta perspectiva e experiência, tenho comprovado que emerge na
atualidade um novo foco para o Serviço Social, e para todos que trilham os
caminhos da intervenção social. Este foco, considerando a busca não só de
lutar por novos direitos, mas para dar manutenção aos que já foram
conquistados, e que hora ou outra, estão sempre ameaçados em sua
existência, esta centrado nos elementos que pulsam o cotidiano da vida no
século XXI. Em outros termos, a informação, o conhecimento e a
sustentabilidade.
A complexidade dos processos produtivos da revolução tecnológica
vividas nas últimas décadas centrou esforços na produção cada vez maior de
informações e no processo de geração de conhecimento, vivemos na chamada
sociedade do conhecimento. Que em certa medida ampliou o paradoxo da
sociedade pós-moderna, a saber: um incomparável crescimento científico, e
um abominável processo de exclusão social e crescente concentração de renda
e degradação do ser humano. A pobreza, um velho problema social, emerge
neste contexto com novas dimensões, que não se limitam a restrição de bens
materiais e nem condições de vida, mas de percepção, sentido e significado da
vida, onde a crescente superficialidade das relações e os processos de
coisificação das relações, elevam o viver a um patamar cada vez mais tenso e
conturbado.
Fazendo como as nossas elites, tanto financeiras como políticas lidem de
forma pobre o enfrentamento da pobreza (DEMO, 2003). Surge uma
compreensão mais ampliada quanto ao cuidar da cidadania global e
planetária, o conceito de sustentabilidade, outrora restrito a questão
ambiental, amplia sobremodo sua essência e transcende para uma visão
inovadora de perceber a necessidade de desenvolver a sustentabilidade
humana, para que o desenvolvimento integrado e sustentável da sociedade
(econômico, social e ambiental) seja concretizado.
A sustentabilidade humana pode ser entendida como um processo de
desenvolvimento das potencialidades humana visando ações presentes que
gerem a paz e condições humano-sociais melhores para as gerações futuras.
E esse desenvolvimento da sustentabilidade humana pode ser sintetizado
em quatro grandes pontos, a saber: capital e inteligência humana (educação e
gestão do conhecimento), capital e inteligência social (cooperação, integração
e solidariedade), capital e inteligência emocional (auto-controle) e capital e
inteligência espiritual (sentido e significado de existência), estes quatro
pontos chamo de quadrante vital, pois se olharmos a complexidade da vida,
não podemos deixar de perceber que sistemicamente, tudo esta ligado a tudo,
logo, a amplitude do ser humano é impossível ser aprendida por qualquer
disciplina. Mas estes quatro pontos vitais estão no epicentro dos valores e das
inteligências necessárias ao bom conviveu neste presente e vindouro século.
E para processar ações efetivas de direitos globais e que passam pela
sustentabilidade humana, surge no final da década de 1990, frente ao quadro
de degradação humana e ambiental, e invasão neoliberal, uma série de
propostas alternativas ao enfrentamento das chamadas expressões da questão
social.
Entre elas destaca-se o empreendedorismo social. Caracterizado por ser
um processo, que vem gradativamente assumindo contornos de um modo,
estilo e modelo de gestão e intervenção social. Quem tem como principal
missão, potencializar pessoas, articular organizações e gerenciar ações
inovadoras para gerar novas tecnologiassociais de alto impacto e com
potencial de replicação.
É sobre estas questões que se trata o presente ensaio, não somente de
teorias e metodologias, e de ações bem articuladas, mas sobre tudo, de vida,
cotidiano, paixão, dor, desafios e vitorias. É exatamente isso que a presente
experiência, que procuro a seguir apresentar, produziu, tem produzido e
creio, produzira em minha vida e na vida das pessoas que se envolveram nesta
experiência.
Como sinalizado acima, é uma experiência de um projeto de extensão,
fruto da pesquisa realizada no doutorado em Serviço Social. Que envolveu
várias pessoas, mas principalmente, profissionais e estudantes de Serviço
Social. O que eleva o orgulho de ser assistente social e fazer diferença através
de uma prática inovadora como a do empreendedorismo social.
Para melhor compreensão desta proposta, o empreendedorismo social
como ferramenta para o Serviço Social se inserir como uma ciência aplica a
intervenção social transformadora e inovadora, e com isso contribuir para o
desenvolvimento da sustentabilidade humana, estarei apresentando os
seguintes tópicos.
Primeiramente, apresentando uma visão contextualizada do que acredito
ser um jeito diferente de fazer Serviço Social, considerando o contexto da
sociedade globalizada e impactada pela informação e o conhecimento como
fatores decisivos de inserção neste contexto.
Num segundo momento, apresento o que chamo de novas dimensões para
consolidação dos direitos, considerando o desafio da sustentabilidade
humana. E na sequência, apresento o empreendedorismo social e suas linhas
mais gerais, e o relato da experiência do projeto Casulo Sócio-Tecnológico se
mostra como uma estratégia possível de ser replicada em várias áreas de
atuação do Serviço Social, impactando e contribuindo para boas praticas
sociais na efetivação de direitos. Finalizando faço algumas considerações
gerais.
Com isso, espero estar contribuindo para a explicitação de um Serviço
Social mais contextualizado e de práticas inovadoras na garantia dos novos
direitos e da cidadania do século XXI.
1. POR UM SERVIÇO SOCIAL
CONTEXTUALIZADO AS NOVAS
DEMANDAS DO SÉCULO XXI.
Nesta primeira parte, quero apresentar a visão que tenho do contexto em
que o empreendedorismo social e o Serviço Social, se entrelaçam para com
isso, gerar ações de garantia de direitos e sobre tudo, da sustentabilidade
humana. Parto da compreensão de um contexto mais amplo que é da
globalização e vários outras dimensões que vem impactando o cotidiano,
palco de atuação e intervenção do Serviço Social e arena da luta pela garantia
dos direitos humanos e da vida.
1.1 O ENFRENTAMENTO DOS IMPACTOS DO
NEOLIBERALISMO E DA GLOBALIZAÇÃO – NOVAS E
VELHAS DIMESSÕES.
1.1.1 CORROSÃO DO CARÁTER: O EFEITO DERIVA...
É notório os impactos da globalização, principalmente no mundo e no
mercado de trabalho. Tal impacto atinge, tanto aos trabalhadores qualificados
como os não qualificados, e até mesmo os empregadores, sofrem com estes
rebatimentos. Os dois primeiros grupos sofrem com a real e dura condição de
lutar pelo pão-nosso-de-cada-dia, dentro das condições impostas por um
processo que cada vez mais enfoca o econômico em detrimento do social e
humano.
Considerando o atual processo de reestruturação produtiva, constatamos
uma brutal concentração de renda e as segue-las da precarização da vida, que
refletem no aumento da violência, materializada no roubo, nos sequestros,
nos assassinatos e entre outros tipos de violência e deterioração do caráter.
Sennett (1999, p. 10), analisa as consequências pessoais do trabalho no
novo capitalismo, destacando, o que ele chama de corrosão do caráter,
entendendo o mesmo como “... o valor ético que atribuímos aos nossos
próprios desejos e às nossas relações com os outros”. Segundo o autor, a atual
configuração do sistema capitalista, faz com que os processos de reajustes
reproduzam efeitos destruidores em nossa formação humana. Destaca vários
aspectos deste processo, mas nos chama a atenção o fator flexibilidade, que
segundo o autor “... causa ansiedade: as pessoas não sabem que riscos serão
compensados que caminhos se guiar.” (idem, p. 26).
Esta flexibilização e esta incerteza, fazem com as carreiras profissionais
sejam também flexíveis e a cada momento procuram se adaptar a este
contexto, o que leva a outro fator de corrosão, o da perda da intensidade nos
relacionamentos, a rotina que possibilita o aprofundamento das relações e do
viver, e que produzem, segundo o autor, um certo grau de irracionalidade em
relação ao viver cotidiano que afeta a percepção e ações de interação humano-
social, ou seja, “ Imaginar uma vida de impulsos momentâneos, de ação a
curto prazo, despida de rotinas sustentáveis, uma vida sem hábitos, é
imaginar na verdade uma existência irracional.” (idem, p. 50)
1.1.2 A NOVA CULTURA DO CAPITALISMO – TRÊS GRANDES
DESAFIOS
Numa obra mais recente, Sennett (2007) destaca o que ele chama de “nova
cultura do capitalismo, que se caracteriza pelos processos de organização da
vida humana nas últimas décadas, e dos processos de reordenação do
trabalho e do papel das organizações, onde valores e práticas capazes de unir
as pessoas assumem formas diferenciadas em meio a um processo de
fragmentação da vida.
Segundo o autor, em meio a esta nova cultura existem três grandes
desafios. O primeiro esta relacionado a questão do tempo, pois a atual
dinâmica da sociedade esta lendo-nos a cada vez mais fazer mais em menos
tempo. O que leva as pessoas a atenderem as exigências de mercado e das
organizações que estão ligadas, conduzindo a um processo frenético de
descontextualização do sentido de viver, e até de si mesmo.
O segundo desafio, esta relacionado ao talento humano, em outros
termos, o desafio de desenvolver novos conhecimentos e novas habilidades
que atendam as novas demandas constantes de inovação, e considerando que
o talento humano é uma questão de cultura, o autor afirma que a ordem
social que esta emergindo luta contra ao que é artesanal, simples, de focar e
realizar as coisas por simplesmente fazer, sem necessariamente ter um fim
comercial ou ganho financeiro. O que esta em jogo, é que por mais que
estejamos atualizados, os conhecimentos tem um tempo de validade, nos
levando a uma corrida insana de constate atualização, e às vezes sem saber
necessariamente para que.
Finalmente, o terceiro desafio, esta relacionado com a noção de história,
de trajetória, pois a atual cultura nos leva sempre a olhar para frente, sem
olhar para traz, e sem uma convicção do que realmente nos espera no futuro.
Pois somos obrigados a conviver com perdas de coisas que até bem pouco
tempo eram concretas, o autor dá o exemplo do emprego vitalício. Hoje,
temos que conviver com o sentido da incerteza, e saber conviver e prosperar
em meio a um processo de constante mudança.
Esse é o cidadão mais procurado pelo mercado de trabalho, mas como
afirma o autor, “... o ideal cultural necessário nas novas instituições faz mal a
muitos dos que nelas vivem.” (idem, p.15)
1.1.3 UM “NOVO” TIPO DE POBREZA: A PERCEPTIVA.
Se observarmos os padrões atuais de concentração de renda, bem como,
os avanços das novas tecnologias, que unem imagem, som, e texto, quase que
simultaneamente, podemos imediatamente perceber um dos grandes
paradoxos da globalização, o global e local se fundem, o real e o virtual fazem
parte do cotidiano da vida das pessoas, e este processo não respeita a condição
de classe social-econômica, atinge a todos.
Este fato fica mais claro a partir da explicação de Ferrara (1997), ao
analisar a representação simbólica do mapa na Europa na idade media e da
importância da correlação de forças para melhor compreensão da nova
formatação do novo mapa do mundo atual. Coloca como eixo a informação, e
em específico, o processo de informação instantânea relacionando o processo
da globalização como a questão e importânciado espaço local.
Explicita o caso Brasileiro e enfatiza o poder de interferência na percepção
da sociedade quanto a esta nova formatação do mundo global, tendo a TV
como principal meio de comunicação e manipulação, onde é transmitindo e
disseminando valores de consumo e de alienação dos objetos, onde é passado
a ilusão de termos o global dentro de nossa casa (local), gerando um processo
de feitiche mercadológico afastando a compreensão e leitura mais crítica da
realidade, reforçando a mera leitura mecânica das informações transmitidas
em tempo real e em grande escala. Fator este decorrente aos processos de
urbanização e inovação dos processos tecnológicos. Conclui, a autora,
“... o que se globaliza não é o mapa do mundo, mas a
percepção desse mundo feito de fragmentos globais e
diferentes ao mesmo tempo: o espaço global só se revela pelo
encontro do particular fragmentado, mas reconhecido. Desse
modo, entende-se o planeta como um organismo onde a
ruptura, a decadência ou o subdesenvolvimento de qualquer
parte será fatal para o todo. Apenas nesse sentido, pode-se
entender o desenho de um novo mapa do mundo. Construir
esse mapa supõe rejeitar as prerrogativas que sustentam a
mentalidade cultural do Primeiro Mundo como território
civilizado, secundado pelos mais pobres que a ele se
subordinam (...) para que um país subdesenvolvido tenha
condição de processar uma informação integrada com sua
realidade, é indispensável uma cirurgia perceptiva que
desnude a passividade e a solidão de uma recepção
mecanicamente manipulada (...) Essa consciência supõe não
apenas desenhar um novo mapa mas construir uma insólita
arquitetura do mundo onde todos, desenvolvidos e
subdesenvolvidos, sejam capazes de produzir uma informação
diversificada, apoiada nas particularidades locais que
sustentam uma diferente cultura global, onde todos serão
mais capazes de avançar do que de acompanhar.” (p. 170/71)
Os efeitos deste processo no cotidiano das populações excluídas, fica mais
evidente em outro trabalho da mesma autora, Ferrara (1993), onde é
apresentado o resultado de uma pesquisa de percepção espacial, com base na
teoria da percepção semiótica em Peirce. O livro é composto de duas partes.
A primeira apresenta a pesquisa e os principais resultados. Na segunda parte
uma série de textos produzidos a partir da pesquisa.
A pesquisa foi realizada junto a uma população da periferia da cidade de
São Paulo, no bairro de São Miguel Paulista. Além de questionários e
entrevista, a aurora fez uso da técnica de fotografia e da análise semiótica,
tendo a foto como índice (pista) para captar a percepção/representação dos
moradores da periferia em relação ao espaço e impactos do processo de
urbanização.
O resultado é que grande parte das fotos, e depoimentos, não identificam
os espaços e problemas coletivos, nem públicos, mas centralizam o espaço
privado, a casa e a relação com a posse de bens, sinalizando um agravamento
do processo de participação e das relações sociais de troca e cooperação para
resolução de problemas coletivos. Conclui, a autora que a urbanização é um
processo histórico, este processo agasalha várias informações, muitas delas
manifestadas na formatação arquitetônica e nas formas de vivencia e
organização da população.
Este fato gera um modo diferente de apreender aos impactos da
metropolização, onde a cidade apresenta uma linguagem quase que invisível,
mas que sinaliza vários aspectos do cotidiano e, portanto do processo de
constituição retórico de uma sociedade.
A pesquisa de percepção semiótica, através da técnica de fotografia,
explicita fatores relevantes para a compreensão dos processos de urbanização
na vida cotidiana de seus moradores, principalmente os que vivem na
margem dos processos e avanços tecnológicos e estão na luta pela
sobrevivência, mas são profundamente afetados pelos meios de informação e
cultura de consumo e de alienação, principalmente de elementos do viver
comunitário. Como bem expressado pela autora.
“A sociedade de consumo, marcada por certa especialidade
técnica no campo de trabalho, e sobretudo, pelo vintém
poupado que permite o acesso, ainda que superficial, ao
mundo do valor de posse, privatiza as aspirações coletivas e as
centraliza na habitação e na tecnologia dos objetos, que
isolam ao mesmo tempo que satisfazem (...) Vivencia-se uma
mudança perceptiva que as populações periféricas têm do seu
espaço e, consequentemente, de si mesmas, coloca-se em
questão a cooperação mútua, a coesão e ação coletiva. (...) Não
se processa à transformação social, porque não se cria o
significado do lugar urbano como coletivo, capaz de elaborar,
argumentar e produzir idéias e ações, ainda que
contraditórias. Elimina-se o espaço urbano como aquele onde
são gerados os valores do debate, da opinião: o espaço como
signo de coisa viva em processo.” (idem, p.125)
Se considerarmos estes fatos, aliados aos últimos dados do censo 2000 do
IBGE, onde mais de 50% dos brasileiros se encontram na linha de pobreza, e
ao mesmo tempo, verificamos que um dos produtos mais vendidos, cerca de
47% de aumento nos últimos dez anos, foi a televisão e que cerca de 85% da
população tem um aparelho, e que os atuais donos dos meios de comunicação
são os mesmos que dominam a política e a economia (cf. OLIVEIRA (a),
1996, p. 50), podemos concluir que na globalização temos que enfrentar um
outro tipo de pobreza, a da percepção.
O que demanda novas formas de enfrentamento da pobreza, bem
diferentes das tradicionais, que já não estavam apresentando grandes
resultados, o que nos desafia a buscar ações contextualizadas e mais eficientes,
não só estrutural, política mas agora, também perceptiva, pois se não
captarmos o percebido, não poderemos transformar o vivenciado.
Se não contribuirmos para a ampliação da visão dos que podem fazer algo
pelo nosso país e mundo, creio que todos viverão numa condição
insustentável, pois os efeitos da exclusão e desumanização da vida, não são
imunes a carros blindados, casas em condomínios fechados. Sedo ou tarde a
insustentabilidade humana baterá na porta de todos, seja pela crise energética,
pela contaminação do ar e destruição das relações e solidariedade humana.
1.1.4 A BUSCA DE SENTIDO PARA A VIDA – O SURGIMENTO DE “
NOVOS MANIFESTOS”.
O atual estágio do capitalismo globalizado impõe uma serie de desafios,
mas também e paradoxalmente, apresentam novas formas de estimulo e
motivação para novos manifestos, como afirma SOUZA SANTOS (a)(2002,
p.13),
“Contudo, apesar de mais importante e hegemônica por
reação a ela (globalização neoliberal) não é única. De par com
ela e em grande medida por reação a ela está emergindo uma
outra globalização, construída pelas redes e alianças
transfronteiriças entre movimentos, lutas e organizações
locais ou nacionais que nos diferentes cantos do globo se
mobilizam para lutar contra a exclusão social, a precarização
do trabalho, o declínio das políticas publicas, a destruição do
meio ambiente e da biodiversidade, o desemprego, as
violações dos direitos humanos, as pandemias os ódios
interétnicos produzidos direta ou indiretamente pela
globalização neoliberal.”
Surgem inúmeras alternativas, conceitos e valores, onde de uma forma ou
outra, novas manifestações estão ocorrendo, com um foco centrado na busca
de soluções para os problemas sociais, econômicos e ambientais.
O social, assume uma importância vital neste processo, como pode ser
observado na discussão da Rio+20, que apesar das limitações e avanços, deixa
claro que o combate a pobreza, exclusão social, desigualdade é urgente, e
como diz KLIKSBERG (2000) “um debate inadiável”.
Este clima faz com a postura de inserção neste contexto requer respostas e
propostas mais rápidas e com maior impacto. Nota-se que é dado cada vez
mais, ênfase no poder local, nas famílias, na cultura e na geração de capital
social, através de ações empreendedoras. (cf.KLIKSBERG, 1997),
privilegiando as ações em rede (MACE, 1999), ao cooperativismo
(CATANNI,1996) e formas de produção não capitalistas, mais solidárias e
empreendedoras.(cf. SOUZA SANTOS, 2002b) onde o desenvolvimento
social e humano, deve ser tão importante quanto o desenvolvimento
econômico, ou como diz DOWBOR, (2001, p.38), “A essência do enfoque é
que não se trata de optar pelo (...) interesse econômico ou pelo social: trata-se
de articulá-los.”
Neste sentido, não é mais tolerável a ganância de acumulação de capital,
pois até os causadores deste processo, já recolhessem que chegamos a níveis
de pobreza e desigualdade sociais insuportáveis, e paradoxalmente novos
caminhos e perspectivas surgem em meio as múltiplas transformações da
globalização, estas por sua vez, precisam ser mais bem apropriadas para que o
resultado não seja de manutenção ou mero controle dos níveis suportáveis de
pobreza, mas que sejam para efetiva emancipação e desenvolvimento social, e
que dêem a vida um sentido maior do que só acumular riquezas e consumir
desenfreadamente, sem ter na vida um sentido maior.
Com isso, emerge neste contexto paradoxal, uma dimensão antiga, mas
que recebe uma maior vitalidade na atualidade, me refiro a dimensão da
espiritualidade humana.
1.1.5 A REVITALIZAÇÃO DA ESPIRITUALIDADE.
Quero ressaltar que este clima paradoxal de novos manifestos, esta
trazendo a baila um tema que na verdade nunca foi esquecida, tal vez, meio
afastado dos holofotes, mas sempre permaneceu latente e influenciando em
todas as áreas da vida humana, estamos nos referido à espiritualidade.
O próprio censo (IBGE, 2000), sinaliza que mais de 90% dos brasileiros
tem algum tipo de crença. Surgem vários trabalhos que focalizam a
necessidade e importância da espiritualidade em todas as dimensões da vida
humana, seja, na comunidade, para o crescimento pessoal, ou no trabalho.
(cf. CHARLES, (et.al), 2002; BOFF(a), 1998; BONDER, 2001 e GLEISER,
2001).
Além de ampla cobertura da mídia (cf. CHEN, 2002;
KLIONTOWITZ,2001; COLAVITTI, 2002; BERNADES, 2002). E também
ganhando atenção em espaços expressivos como no último CBAS –
Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais, em novembro de 2001 no Rio de
Janeiro, onde tivemos um seminário sobre Serviço Social e religião.
E podemos constatar que este assunto é atual e ganha cada vez mais
importância. Fato este de grande relevância para o Serviço Social, pois o
mesmo fala de sua origem, apesar de que tem pessoas que não gostam de
lembrar este fato, mas a verdade é que como profissão esta imbricada com
uma forte herança nesta área. E que deve ser mais bem trabalhada, e
respeitada, afinal as pessoas realizadas sobre esse tema apontam que mais de
90% dos assistentes sociais crêem em Deus e cerca de 86% são praticantes de
uma religião.
Pois ao que parece, muitos profissionais omitem esta dimensão em sua
vida e até em sua prática profissional, com receio de ser taxado(a) de
alienado, ou como se não houvesse compatibilidade entre uma perspectiva
crítica e uma vivência espiritual. O que ao nosso ver, tanto teórica como em
prática de vida, a dimensão espiritual é necessária para se formar uma visão
mais otimista da vida, frente aos infortúnios do mundo moderno.
Não como fuga da realidade, mas, sobretudo como fonte propositiva de
uma utopia possível. Pois como diz, Alves, “a espiritualidade busca
transformar-se em matéria. A espiritualidade do espírito está precisamente
nisso: o desejo e o trabalho para fazer com que aquilo que existe apenas
dentro da gente(e que, portanto, só pode ser conhecido pela gente), se
transforma numa coisa, que pode então ser gozada por muitos.A
espiritualidade busca comunhão” (ALVES, 2002).
O transcendente faz parte da história da humanidade, tanto quanto o
próprio homem. E isto faz com que na atual conjuntura, ocorra uma
verdadeira transformação na vida interior e exterior de muitas pessoas, como
afirma BOFF(d) (2001, p.86). “... Essa transformação acenderá nossa chama
interior que produz luz e calor e nos dá mil razões para vivermos como
humanos (...) E mergulhamos nessa Fonte de espiritualidade, que é Fonte de
espírito, de vida, de amorização, de realização e de paz.” Mais a frente destaco
que esta dimensão é um dos componentes do que chamo de sustentabilidade
humana.
Neste sentido, é preciso dar melhor atenção para algo que tem tanta força
de mobilização, e buscarmos mais do que compreender, como também, e por
que não, vivermos uma espiritualidade saudável e que nos fortaleça para o
melhor enfrentamento das questões postas no cenário atual, bem como, os
desafios impostos pela prática profissional e a luta por garantir o direito a
uma vida melhor para todos.
E é neste contexto que o Serviço Social encontra os grandes desafios para
sua efetiva prática de intervenção social, que ganha novos contornos neste
ambiente paradoxal, como procuro apresentar a seguir.
1.2 O SERVIÇO SOCIAL NO CONTEXTO DAS RECENTES
MUDANÇAS PROVOCADAS PELO NEOLIBERALISMO E
PELA GLOBALIZAÇÃO
É importante, mesmo que brevemente, sinalizar algumas dimensões sobre
o Serviço Social frente às múltiplas mudanças causadas pela globalização
neoliberal, e em específico dos impactos e as dimensões que foram
anteriormente destacados.
1.2.1 COM A PROFISSÃO:
a) Mercado de trabalho:
As demandas para o Serviço Social são inúmeras. O campo social esta
cada vez mais em evidência. Mas os assistentes sociais não estão imunes aos
impactos de precarização do trabalho, baixos salários, condições inadequadas
de trabalho, entre outros. Em resumo, somos também profissionais que
vivem do seu trabalho e apesar de se ter um discurso de não dar uma
formação para o mercado, como forma instrumental, não podemos ignorar
que não formamos profissionais para nós mas para atuarem na sociedade e o
mercado faz parte desse universo, então temos sim que preparar para o
mercado mas com uma consciência e compromisso crítico de mundo e de
sociedade em que estamos inseridos.
b) Postos de trabalho:
Considerando a realidade Brasileira, estamos perdendo postos de
trabalho, como por exemplo, em empresas, ou em outras áreas, onde outros
profissionais “invadem o campo social”. Exemplo da administração, que em
seus currículos já introduziram a disciplina gestão de organizações do terceiro
setor, bem como, tem ampliado os cursos de pós-graduação neste campo, o
que em muitos casos se entrecruzam com as atividades do assistente social.
Na pesquisa sobre cartografia sócio-ocupacional (OLIVEIRA, 2010)
constatamos que uma das áreas de menor procura dos profissionais de
Serviço Social é empresarial e educacional, 3% e 5% respectivamente, o que
demonstram um amplo espaço a ser explorado, além do terceiro setor e da
área de pesquisa e também e por que não, clínica. Esse último que requer de
nossos órgãos representativos, principalmente o CFESS (Conselho Federal de
Serviço Social) e ABEPSS (Associação Brasileira de ensino e Pesquisa em
Serviço Social), uma regulamentação para ampliar e não restringir a prática
profissional nessa área, o que poderia perfeitamente ser feito através de cursos
de pós-graduação devidamente reconhecidos e autorizados por esses órgãos
para qualificar e facilitar a penetração dos profissionais nessa área. Mas ao
contrário, existe uma forte resistência a potencialização desse campo de
atuação.
O fato é que não podemos mais procurar emprego como assistente social,
e sim, encontrar espaços de trabalho, onde nosso talento possa contribuir
para a execução e resultados mais eficientes e eficazes frente aos inúmeros
problemas oriundos da questão social historicamente construída em nosso
país.
c) Demandas e novas exigências:
Como a nível global, os impactos para o mercado de trabalho do assistente
social, também é paradoxal, pois ao mesmo tempo em que sofremos os
mesmos impactos que outras categorias, vemos que surgem novas demandas,
bem como, oportunidadesde atuação (cf. OLIVEIRA, 2000), é exigido do
profissional novas posturas, habilidades, conhecimentos, não só para atender
ao mercado de trabalho, mas principalmente para dar conta das demandas e
necessidades da população.
Um exemplo é demonstrado na pesquisa sobre cartografia sócio-
ocupacional do assistente social, (OLIVEIRA, 2010) realizada entre 2009 e
2010 onde podemos constatar que entre as atividades que mais absorve o
profissional em seu cotidiano são: encaminhamentos, 21% seguido de
orientação social, 19% e elaboração de planos, programas e projetos com 15%,
e entre as habilidades mais exigidas estão: relacionamento, 63%, aprendizado,
46% e técnicas com 36%, o que leva a crer e ver um perfil diferenciado, onde o
profissional lida mais com pessoas, através da efetivação de ações planejadas o
que requer maior aprendizado e habilidades técnicas, até mais do que
políticas e ideológicas.
Em suma, cuidar de sua empregabilidade, não com a finalidade última,
busca do sucesso pelo sucesso, mas, uma empregabilidade-cidadã, onde o
cuidado de si não substitui o compromisso ético-político de uma sociedade
mais justa e digna de se viver, o que passa, fundamentalmente, pela
consciência de que não estamos no mundo sozinhos e que nem tudo é só
dinheiro, e que o trabalho seja visto como forma de manutenção das
necessidades básicas, mas também de prazer e satisfação.
d) Campos e áreas emergentes – novos espaços, velhos problemas:
O trabalho de SERRA (2000), sinaliza algumas tendências do mercado de
trabalho para os assistente sociais, e seus desafios, bem como, alguns campos
emergentes de atuação, mas ainda apresenta um velho problema, a
“visibilidade” ou “ materialidade” de sua prática, o que repercute no mercado
de trabalho. Serra, sinaliza que um das áreas ainda inexploradas é o campo da
consultoria. Mas este campo encontra grandes desafios, entre eles, a própria
preparação para esta atividade, e as condições institucionais para esta prática
(CFESS – Conselho Federal de Serviço Social, e CRESS – Conselho Regional
de Serviço Social). Mas, tanto para a consultoria, como para outras áreas, já
consolidadas ou emergentes, há um grande desafio. Que é ressaltado por
SERRA, (idem, p.186)
[...] o Serviço Social só melhora sua performance como
conjunto, como categoria profissional, se for capaz de
instrumentalizar seus agentes profissionais para responder
com competência e comprometimento aos interesses da
população, às necessidades e demandas sociais, à luz da teoria
crítica, em consonância com a natureza e limites de (sua)
prática profissional.
E é urgente retomarmos algumas questões que aparentemente estavam
resolvidas, mas que no atual contexto, requerem novas respostas,
contextualizadas e condizentes ao presente em busca de um futuro melhor.
Quais seriam estas questões? Vejamos algumas. O que é Serviço Social? O que
faz o assistente social? Qual sua importância junto ao trabalho inter-
disciplinar? Precisamos mesmo do Serviço Social?
1.2.2 COM OS PROFISSIONAIS:
Da mesma forma, as questões anteriores, ressoam para os profissionais,
que antes de serem profissionais, são também pessoas, que tem necessidades,
desejos, e expectativas como qualquer outra pessoa ou profissional. Pode
parecer redundante fazer esta observação, mas não é.
Principalmente quando nos deparamos com profissionais que após algum
tempo na vida profissional, é costumeiro se queixar e as vezes se decepcionar
com a profissão, e fonte as inúmeras mudanças e exigências da
competitividade de espaços de trabalho, surgem questões que precisam ficar
claras, principalmente para cada profissional, e não somente para uma
“vanguarda”, a saber:
Quem é o assistente social ? Quais são os seus sonhos, será que ele pode
realizá-los ou até tê-los? Satisfação, realização e paixão pelo trabalho, fazem
parte, ou tenho que sempre sacrificar-me em nome do coletivo? Como o
assistente sofre e enfrenta os efeitos da “corrosão de caráter” produzido pela
globalização? Como posso melhorar? Vale a pena lutar? Com que ferramentas
podemos enfrentar questões como da pobre perceptiva e a complexidade da
exclusão social e falta de sustentabilidade humana?
1.3 POR UM SERVIÇO SOCIAL CONTEXTUALIZADO AO
SÉCULO XXI: DESAFIOS E POSSIBILIDADES.
Temos visto que é mais fácil, e até mais “nobre”, dizer que não temos
receitas, ou que temos mais indagações do que respostas, e as pessoas até ajam
que isto é bonito, dá um ar de intelectualidade, e quem ouve para não ficar
por baixo acaba aceitando esta posição e ninguém sai do lugar, e ficamos mais
na retórica e no discurso. Mas na verdade, cremos que isto parece mais
incapacidade de apontar algumas saídas do que não querer “dar receitas”.
Não é intenção, nem dar receitas, e nem se julgar o dono da verdade, mas
sem dúvida, quero apontar uma perspectiva, que nos ajuda a ver o Serviço
Social de outra forma, é o que sinalizo a seguir.
1.3.1 POR UM SERVIÇO SOCIAL CONTEXTUALIZADO – SETE TESES E
UMA METÁFORA
Farei uso da metáfora da águia e da galinha, apresentada por BOFF(b)
(1998) para refletir sobre a condição humana no presente tempo. E que
utilizamos para refletir e propor uma forma de ver o Serviço Social na
atualidade, o que faremos a partir de sete teses na perspectiva de um Serviço
Social contextualizado.(cf. OLIVEIRA, 2001).
1.3.1.1 A METAFORA – A AGUIA E A GALINHA E O DESENVOLVIMENTO DO
SERVIÇO SOCIAL COMO PROFISSÃO
Leonardo Boff(b), (op.cit, p. 30-34), em sua infinita sabedoria e elegância
literária, apresenta uma estória, onde um camponês viajando por um
caminho encontra um filhote de águia caído do ninho. Leva o filhote para sua
fazenda, e salva sua vida, mas começa a criar a águia junto com as galinhas.
Um dia recebe a visita de um especialista (naturalista), o mesmo ao visitar
a criação de galinhas, logo percebeu algo estranho, e já identificou que aquela
ave era uma águia e não uma galinha. O camponês mesmo confirmando que
era uma águia disse que a mesma foi crida com as galinhas e que agora era
mais galinha do águia.
O naturalista retrucado a afirmação do camponês disse que uma vez águia
sempre será uma águia. Após varias tentativas, sem sucesso, o camponês e o
naturalista, levam a águia numa montanha, logo ao amanhecer, para uma
ultima tentativa de despertar a águia para sua verdadeira natureza.
Se colocando num lugar mais alto de uma montanha, com a águia no
braço, disse o naturalista:
“Águia, já que você é uma águia, já que você pertence ao céu e
não a terra, abra suas asas e voe. A águia olhou ao redor.
Tremia como se experimentasse nova vida. Mas não voou.
Então o naturalista segurou-a firmemente, bem na direção do
sol, para que seus olhos pudessem encher-se da claridade solar
e da vastidão do horizonte. Nesse momento, ela abriu suas
potentes asas, grasnou com o típico krau-krau das águias e
ergueu-se, soberana, sobre si mesma. E começou a voar, a
voar para o alto, a voar cada vez para mais alto. Voou...voou...
até confundir-se com o azul do firmamento”
O autor utiliza esta metáfora para falar sobre a complexidade da existência
humana no mundo atual, por complexidade se entende “... os múltiplos
fatores, energias, relações, inter-retro-reações que caracterizam cada ser e o
conjunto dos seres do universo... tudo esta em relação com tudo. Nada está
isolado, existindo solitário, de si e para si. Tudo co-existe e inter-existe com
todos os outros seres do universo“ (op. cit, p.72)
Desta forma o complexo esta articulado em muitas partes, é dinâmico e
sempre esta aberto para novas sínteses.
Nesta perspectiva a dimensão galinha representa aquilo que é fechado,
restrito, limitado. Já a dimensão águia, representa aquilo que é aberto, amplo,
ilimitado na vida e existência humana, ou seja, “ a dimensão galinha é o
sistema imperativo, o nosso arranjo existencial, a nossa vida cotidiana, os
hábitos estabelecidos e os horizontes de nossas preocupações.São também as
limitações, os enquadramentos e formações histórico-sociais que, quando
absolutizados, se transformam em impasses, em descaminhos, em falta de
perspectiva e em desesperança para as pessoas e para as coletividades.
A dimensão águia são os sonhos, os projetos, os anelos, os ideais e as
utopias que, mesmo frustradas, nunca morreram em nós porque sempre de
novo ressuscitam. Eles representam a águia em nós, águia que nos ergue
continuamente para o alto, para descobrir nossos caminhos e direções
diferentes. Para recordamos o chamado do novo do possível.” (BOFF(c),
1998, p.42).
Por fim, o autor aponta para um grande desafio, fazer conviver águia com
a galinha e buscar o ponto de equilíbrio, desta forma nos convida BOFF,
“Sejamos galinhas e águias: realistas e utópicos, enraizados no concreto e
abertos ao possível ainda não ensaiado, andando no vale, mas tendo os olhos
nas montanhas. Recordemos a lição dos antigos: se não buscarmos o
impossível (águia) jamais conseguiremos o possível (galinha)” (idem, p.103).
Procurando fazer uma analogia ao desenvolvimento do Serviço Social
como profissão, é possível comparar os primórdios da profissão como o
momento galinha e movimento de reconceituação como o momento águia.
No primeiro uma visão localizada, mais restrita e voltada para práticas de
ajuda para o ajustamento, sem uma maior consciência e busca do novo,
preocupava-se em dar manutenção. Daí vem o momento águia, percebe a sua
verdadeira natureza e vocação, a de ir além do paliativo ou da “boa
manutenção”, mesmo que cientifica, mas buscar a libertação e transformação,
por fim a águia alça voou, procura deixar para traz tudo o que lembrava a
velha galinha (momento também de ruptura, ou tentativa de ruptura). Voou
tão alto que se esqueceu que precisaria como todo águia faz descer na terra
para se alimentar, e se alimentar da realidade, é o extremo do politicismo da
confusão entre profissão e militância política partidária e perda de
objetividade.
A águia percebe que novos horizontes estão se abrindo e que é preciso
buscar equilíbrio, ser só águia, só estar nas alturas, pode levar a ações
afastadas e distanciadas da realidade. É preciso saber escutar o chamado do
momento, do contexto em que se esta inserida. É preciso saber mediar às
utopias com as novas demandas sem perder as conquistas e avanços
alcançados. O momento atual pede a busca de equilíbrio, visibilidade,
simplicidade, objetividade sem perder o idealismo, a visão crítica e o gosto
pelo novo.
1.3.2 AS SETE TESES DE CONTEXTUALIZAÇÃO.
Entendo contextualização como sendo o hoje e o agora. É o viver do
cotidiano concreto e efetivo, fruto sim do processo histórico de lutas, de erros
e acertos, de vitórias e derrotas, mas acima de tudo, o viver hoje significa viver
do agora e não do passado, contextualização significa estar em sintonia com o
meu momento, saber agir, falar e ler a realidade a partir de sua totalidade
complexa e não obtusa e polarizada, radicalizada.
Ver contextualizadamente, é ver as coisas a partir de sua dualidade (pares
de uma mesma moeda), e não como dualismo (pares diferentes, antagônicos).
Estar contextualizado é ver o diferente não como uma limitação, mas como
uma possibilidade de riqueza de ideias e diversidade de ações, como sinaliza
BOFF(c), “ A diferença convoca para a aceitação e a reciprocidade mútua. Os
diferentes se encontram, trocam riquezas e crescem juntos”(op.cit, p.107).
Para melhor compreensão do que estou propondo, consideramos dois
pontos fundamentais:
a) O que faz certa atividade ser considerada uma profissão?
Na idade média as profissões eram entendidos como vocações e chamados
divinos, e determinados ofícios eram passados de geração para outras
gerações. Com a mudança e mobilidade das sociedades o trabalho assume
outros valores. Com o surgimento do sistema capitalista os processos, ou
modos organizativos do trabalho se alteram, fazendo profundas distinções
entre trabalho intelectual e trabalho manual, produtivo e improdutivo, dando
a possibilidade de vários entendimentos sobre esta temática. Segundo
PAULO ROSAS (apud.cit. BOFF(d),1998, p.53), uma atividade para ser
considerada profissão deve apresentar alguns atributos, a saber: corpo
sistemático de teorias, autoridade profissional, sanção da comunidade, código
de ética e cultura profissional. Analisando e comparado estes atributos e o
Serviço Social, chegamos a seguinte e obvia conclusão.
O Serviço Social é efetivamente uma profissão. Uma profissão que esta
inserida num contexto que historicamente, são as forças de mercado e as
demandas e necessidades de sua clientela, é o que de fato determinam sua
forma de agir e de ser profissional;
b) Qual a principal característica do contexto atual do século XXI?
A principal característica da sociedade do século XXI é a informação (cf.
NEGROPONTE, 1995). Desta forma, no campo das Ciências Humanas,
informação associa-se à perspectiva de gerar, provocar e disseminar
mudanças, de forma a dar sentido à vida.
Tal compreensão de informação remete-nos ao ambiente vivencial
cotidiano em que estamos inseridos, sendo o mesmo em sua totalidade um
espaço que informa e que é impactado pela informação que lhe é atribuída.
Neste sentido, na atualidade mais do que ter informação e conhecimento é
importante saber gerenciar estas informações e estes conhecimentos,
principalmente em se tratando da luta pela cidadania, contra a desigualdade,
concentração de redá, aumento da pobreza e dos constantes embates de
movimentos e grupos societários que lutam para a sobrevivência, onde “a
capacidade de bem negociar somente não é suficiente para a ação política se
não houver meios, dados e informação que sirvam de base para um
planejamento mínimo.
A informação confere poder e liberdade a quem negocia” (SILVA, 1994,
v.8(4) p. 57), informação e conhecimento são ferramentas fundamentais para
a construção de cidadania e portanto de uma sociedade mais justa para se
viver.
Essa característica fica mais em evidência, quando constatamos na
referida pesquisa de cartografia sócio-ocupacional (OLIVEIRA, 2010) a
seguinte constatação sobre essa reflexão: as técnicas mais utilizadas no
cotidiano dos profissionais são: 55% entrevista, 54% orientação social, 50%
visita domiciliar e 36% aconselhamento, e o tipo de informação mais utilizado
seria o conversacional, 54%.
O que demonstra que a grande especialidade do assistente social na
atualidade é lidar cada vez mais com uma grande quantidade de informações
sobre a vida das pessoas, bem como, estabelecer estratégias de intervenção
que orientem, facilitem o acesso as informações sociais relevantes para o
exercício da cidadania, numa perspectiva de empoderamento dos sujeitos em
busca de sua autonomia.
c) Qual o papel do Serviço Social/assistente social neste contexto ? Ou o
que é Serviço Social ?:
Face ao que foi exposto até o momento, ouso afirmar: Ser um facilitador
e decodificador no acesso e compreensão das informações socialmente
relevantes para a organização e mobilização de pessoas, grupos e seguimentos
sociais para exercitarem sua cidadania, em busca da democracia e melhor
qualidade de vida. (cf. OLIVEIRA(a), op.cit, p.200).
Nessa perspectiva o assistente social torna-se um gerenciador sócio-
informacional, procurando criar sinergia entre os grupos de pessoas que esta
atende cotidianamente. Neste sentido, a construção da cidadania é seu objeto
de ação, sua meta/objetivo, é facilitar/decodificar as informações necessárias
para uma melhor compreensão dos direitos e mecanismos de
reivindicação/organização e uso dos serviços que o cidadão do século XXI
tem disponível.
Esta perspectiva cabe em qualquer área em que o assistente social esteja
atuando. A informação é a matéria prima para desencadear as ações efetivas
de enfrentamento e transformação das questões sociais, sem informação,sem
compreensão e acessibilidade, não há cidadania, por tanto não há mudança
efetiva nas relações de poder, de produção e experimentação de novas
relações sociais.
O negocio (centralidade da ação) do Serviço Social é a prestação de
serviços sociais e sua matéria prima é a informação e o conhecimento, o que
pode e deve ser melhor desenvolvido por técnicas e procedimentos teórico-
metodológicos que melhor atendem esta perspectiva, o que na atual
conjuntura há um leque bem amplo.
A partir destas colocações, defendo que o Serviço Social deva se
contextualizar, atender a este chamado que pode ser mais bem entendido
através de sete fatores/ideias primordiais (teses), as mesmas têm como base
uma perspectiva sistêmica, critica e criativa.
1a Tese: Ter uma visão crítica/global:
Para permanecer em seu crescimento histórico diferenciador, onde a luta
pelo novo, a auto crítica, uma postura profissional ética e politicamente
definida e compromissada com o ser humana, principalmente o que esta
desprovido de condições justas de auto subsistência e sofre com a exclusão
social; deve alimentar a sua dimensão águia, ver além do senso comum, crer e
viver uma utopia possível;
2a Tese: Ter uma ação criativa/local:
Ter um equilíbrio dinâmico, fazer acontecer, ter coerência entre discurso e
prática, “... usar a razão para ver claramente, e o coração para decidir com
inteireza...” (BOFF(c) op.cit. p.104). Mais do que discursos românticos e bem
elaborados é preciso ações concretas, que devem ser materializadas nas ações
de intervenção profissional no cotidiano.
3a Tese: Ser polivalente e multiplural:
Sem cair na picaretagem e no ecletismo e na improvisação, é preciso saber
lidar com o trabalho em equipe, saber atuar e dialogar com outras áreas do
saber e agir humano, saber atuar em várias áreas, ter uma carreira em rede,
garantir os postos de trabalho tradicionais, e abrir novas frentes e espaços de
trabalho, adaptar-se e trazer resultados efetivos nas mais diversas
circunstâncias.
4a Tese: Ter um foco definido:
Quem não sabe para onde vai e o que deve fazer, acaba se perdendo no
caminho e nunca é identificado, todo mundo pode ser igual, não há diferença
entre o que fazemos e o que outros estão fazendo. Foco só tem quem sabe
mirar na direção certa, não fica dando tiros para todos os lados e nem
tentando justificar ou sustentar o insustentável, se não temos clareza para
onde vamos, a que viemos e como agimos, estaremos fadados ao fracasso
profissional, pois o mar da globalização e da sociedade da informação passam
por cima dos indefinidos, e outros mais “resolvidos”, ocupam os espaços
sobrantes.
5a Tese: Estar Integrado e conectado:
Na sociedade de informação é preciso estar ligado em rede, não só
eletrônica, mas socialmente falando, o conhecer pessoas certas em lugares
certos trazem condições efetivas de viabilização dos serviços, bem como, a
integração entre outros setores, áreas, órgãos, é preciso dominar as novas
tecnologias e melhor saber aproveitar os seus benefícios e reverter este
processo para melhoria continua dos serviços prestados, construir cidadania.
6a Tese: Ter, leveza, beleza e profundidade:
Nossa profissão via de regra é estressante, e parece que muitos fazem
questão de piorar as coisas. A revolução do mundo e dos problemas de nossos
clientes e organizações não serão resolvidos por um único profissional, ou
seja, temos que ter leveza, fazer o melhor dentro de nossas condições sem
carregar culpa por não estar transformando o mundo.
Temos que ter beleza, o belo é fator de estética, lidamos com vidas
humanas, na sua grande parte, destruídas e empobrecidas, nossas ações, via
de regra, criam condições destas vidas mudarem, somos agentes de um novo
começo para muitas pessoas, isto é belo. Devemos ser inteiros no que
fazemos, devemos propor e não só criticar, por criticar, ver e buscar
alternativas possíveis de solução e irmos fundo nesta busca pela mudança e
resultados.
7a Tese: Buscar o equilíbrio e a sinergia:
Equilíbrio não deve ser confundido com estabilidade sem conflito, todo
mundo vivendo em harmonia, mas antes de tudo, ver as diferenças como
riqueza, tratar o outro com respeito, trocar experiências, informações e
conhecimentos para construir, descordar sem ter que destruir o outro, não
reinventar a roda, procurarmos ser simples e fortificar os fatores que são
convergentes e trabalhar propositivamente os fatores divergentes.
1.3.3 OS DESAFIOS E AS POSSIBILIDADES DO SERVIÇO SOCIAL
FRENTE AO CONTEXTO DA GLOBALIZAÇÃO NEOLIBERAL.
a) desafios
a. Materialização e sentido do fazer profissional,
b. Sair da circunferência do próprio umbigo, ou seja, se fazer entender;
c. Trabalhar com e na pluralidade de fato e não só de discurso;
d. Equilibrar o macro e o micro, nem águia e nem só galinha;
e. Luta pela emancipação social dentro de limites e possibilidades, sem
heroísmos;
f. Enfrentar a pobreza perceptiva para gerar cidadania, pois “... o sistema
não teme um pobre com fome, mas teme um pobre que sabe pensar.”
Pedro Demo
b) possibilidades
a. Contextualização da profissão;
b. Mais que conservar, mais que romper é preciso reinventar (se), o
próprio profissional e a profissão;
c. O campo social é cada vez mais valorizado, dizem até que 2000 é a
década do social;
d. Saber dar respostas a altura das necessidades colocadas pelas novas
demandas;
e. Saber captar o percebido para transformar o vivenciado.
Em síntese, verificamos que em meio a globalização neoliberal, mais que
conservar, mais que romper, o Serviço Social precisa reinventar-se. Uma
maneira, por tudo que colocamos, o Serviço Social se contextualizar ao século
XXI, buscar a convivência das dimensões águia e galinha, não num dualismo
separatista e discriminador, mas encarar as dualidades, não subir demais, não
ficar no chão somente, voar e concretamente saber buscar novos horizontes, o
que leva a buscar novas perspectivas, diferente de outros momentos
históricos, onde mais do que conservar, romper devemos reinventar o
vivenciado.
E só sabe reinventar quem aprendeu com os seus próprios erros, com seus
excessos e infantilidades. É hora da maturidade profissional, reinventar é
antes de tudo, saber lidar com o hoje e com o agora, ser critico mas criativo e
propósito, trazer e buscar resultados efetivos para sua prática profissional.
Não é buscar receitas, mas ter parâmetros, experiências concretas,
alternativas viáveis do agir profissional, como base teórica, histórica, ética e
de um agir político e formal condizentes ao nosso tempo e as novas
exigências e demandas.
Desta forma, neste trabalho procuramos apresentar uma ideia e um modo
de ver o Serviço Social contextualizado no século XXI, sem duvidas muitas
das colocações feitas aqui carece de maior aprofundamento. No entanto, seja
pela limitação do espaço, seja pela extensão do assunto, sabemos que o
mesmo contém limites.
No entanto fica claro que o chamado do Serviço Social no contexto da
sociedade da informação e do conhecimento é sem duvida de ser um
decodificador e facilitador do acesso, compreensão das informações
socialmente relevantes para a organização e mobilização de pessoas, grupos e
movimentos sociais, para o pleno exercício da cidadania, e luta pela
democracia com qualidade de vida.
O Serviço Social é simplesmente uma profissão, por ter todas as
características de aceitação como tal, nem mais nem menos, uma profissão
que lida com pessoas, em várias situações, que tem como objeto o facilitar o
exercício da cidadania em busca de estratégias para melhoria da qualidade de
vida, ou seja, com igualdade, justiça e solidariedade efetiva e verdadeira. Neste
sentido, “Não basta atender às necessidades básicas e com isso fazer a
revolução da fome. Importa criar espaços para o exercício das capacidadeshumanas e da criatividade. Por isso é necessário completar a revolução da fome
com a revolução da liberdade criadora.” [grifo nosso]
E para tanto é necessário termos clareza da natureza de nossa ação neste
contexto, é o que a seguir procuro apresentar.
1.4 O ASSISTENTE SOCIAL NA ERA DA INFORMAÇÃO E
DA QUALIDADE DE VIDA: O EMERGIR DA
SUSTENTABILIDADE HUMANA.
Até esse ponto a reflexão aponta para uma linguagem e um contexto em
que a informação e conhecimento tem uma maior predominância, e não só a
informação relacionado a tecnologia, mas também e principalmente as várias
formas e meios de se comunicar, e transmitir conhecimento. Um outro ponto
a ser destacado é o crescimento da área de serviços e importância acentuada a
área social, isso faz com que outros temas estejam entrelaçados, como meio
ambiente, evolução do negócios, relações de trabalho, novas profissões, novos
espaços sócio-ocupacionais, entre outros.
Nesse sentido, vemos que velhos problemas, como a pobreza, tomam
novos contornos nesse cenário, assim, como conceitos como sustentabilidade
é ampliada, e noções como empreendedorismo são também dimensionados
ao campo social de uma forma renovada e transformadora. E um Serviço
Social inserido nesse contexto, deve estar conectado a essa linguagem, logo, é
preciso ver, entender e fazer um Serviço Social diferenciado, e o que procuro
apresentar a seguir.
1. 4.1 O NOVO PAPEL DO ASSISTENTE SOCIAL NUM CONTEXTO
PARADOXAL
No dia 15 de Maio, no Brasil, é comemorado o dia do(a) “Assistente
Social”, este(a) profissional se insere na divisão técnica do trabalho a partir de
processos históricos dos mais variados contextos de nossa sociedade. O
assistente social é um(a) profissional que atua no campo social
(público,privado, ONG) junto ao enfretamento das questões sociais através de
ações como de pesquisa da realidade social, de planejamento de programas,
projetos, serviços e polícas sociais para o enfrentamento sistemática, técnico,
científico, político e sócio-educativo das injustiças sociais e de situações
problemas geradas por fatores conjunturais, políticos, sócio-organizaional e
das relações sociais e humanas.
No Brasil, como prática profissional, existe desde 1936, o contexto desta
época é turbulento, pois vivíamos a passagem de uma sociedade baseada
numa economia agro-exportadora, para uma economia industrial, e junto às
sequelas de um processo de exclusão das classes mais pobres de nossa
sociedade.
Esta época é marcada por uma grande efervescência de ideias e
movimentos políticos e econômicos. Entre os muitos elementos a serem
destacados, o surgimento da noção e tratamento automático da informação,
decorrente as experiências militares, criaram os primeiros passos do que hoje
conhecemos por informática. Concomitante surge às teorias dos jogos, a
teoria matemática da informação, teoria geral dos sistemas e a cibernética,
precursores dos mais variados sistemas de comunicação e geração de
tecnologias de informação que hoje influenciam o nosso cotidiano.
Paralelo a este desenvolvimento a crise social também cresceu, a ciência
que considerada a solução para as mazelas da humanidade, gradativamente
perde este mérito, pois
“... evidências cada vez numerosas estão se acumulando, no
sentido de que as tecnologias modernas não reduzirão
disparidades dentro das sociedades do Terceiro Mundo. Pelo
contrario, e bem frequentemente, os insumos do processo de
crescimento econômico levam a um aumento da desigualdade
social, tornando os pobres ainda mais “subdesenvolvidos” do
que antes da introdução das inovações tecnológicas.”
(Rattner,1988, p. 13) [grifo nosso]
Na atualidade podemos afirmar que vivemos num momento histórico e
paradoxal, pois em meio ao momento de maior avanço científico e
tecnológico da humanidade, presenciamos os mais autos índices de exclusão
social, de miséria, concentração de renda, da violência, da injustiça social,
onde a tecnologia é necessária, mas a qualidade de vida e vital para
preservação digna da espécie humana.
É neste contexto que o assistente social, como outros profissionais, são
desafiados a contribuir para a construção de um mundo melhor, nesta
perspectiva que gostaria de refletir sobre o papel do assistente social em meio
a um contexto informacional onde a qualidade de vida é a sustentabilidade
humana são os grandes desafios para neste presente século.
1.4.2. MUTAÇÕES DO MUNDO DO TRABALHO NA SOCIEDADE DA
INFORMAÇÃO.
O principal fator de identificação de que vivemos numa sociedade da
informação pode ser observado através do avanço das tecnologias de
processamento automático da informação, tendo a informática como
principal expoente deste processo e principalmente a fusão desta tecnologia
com outros processos modernos de comunicação, que aliados a reordenação
do processo produtivo e organizativo do trabalho tem nas últimas décadas
alterado profundamente a forma e sentido da organização sócio-econômica e
políticas da vida social.
Segundo Seligman (1986, p. 56)
“... no limite da sociedade industrial ocorre uma mudança na
base de transformação do processo produtivo, onde a
informação, e não mais a matéria prima, é o elemento essencial
da base produtiva”, desta forma o mundo do trabalho e a
organização do trabalho e produção, são os espaços de maior
impacto e evidência de uma sociedade gerida pela
informação.” [grifo nosso]
Segundo Prates (1994, p.40), este fato já pode ser constado decorrente e
principalmente, a evolução do uso da Informática na otimização de varias
tarefas, identificando o valor crescente e intrínseco da informação.
Constata-se que no período de 1880 a 1980 onde é analisado a evolução da
distribuição de empregos nos Estados Unidos, os empregos relativos à
informação foram de 10% em 1880, atinge o patamar de 50% em 1980, assim
como o de serviços foram de 25% para 30%, sendo que as atividades da
agropecuária caíram de 40% para 5% e o da indústria crescendo até a década
de 50 para 50% e a partir dai decaindo gradativamente até a marca de 20%.
Neste sentido afirma o autor,
“A tendência no sentido de se promover informações sobre a
descrição dos produtos nas fábricas automatizadas está
causando uma mudança na lógica dos negócios de serviços e
de manufatura, criando o que se denomina de ‘customização
em massa’, ou seja, o uso das técnicas de produção em massa
para a produção de serviços e produtos customizados.”
Um bom exemplo disto são os serviços de atendimento ao cliente-SIC e o
código de direito do consumidor e demais normas de qualidade existentes no
mercado atual.
No Brasil, ao que parece não há estudos profundos sobre esta evolução,
mas segundo Malin (1994, p. [8]16) com alguns dados do IBGE pode-se
constatar o crescimento deste processo em nosso contexto,
“... se tomarmos as grandes categorias que o IBGE usa para
classificar os grupos de informação no Brasil e simplesmente
somarmos as que evidentemente são atividades de
informação, sem tratamento metodológico especial,
poderíamos dizer que a força de trabalho brasileira envolvida
com atividades de informação está num patamar mínimo de
30% da população ativa.”
Outro ponto a ser destacado, quanto a reordenação dos espaços de
trabalho, foram os aumentos do setor de serviços, chegando a ordem de 45%
só na grande S.Paulo, e do setor informal com um crescimento, a partir da
década de 80, da ordem de 36 milhões de trabalhadores na América Latina até
ano de 1990, sendo que na grande S. Paulo isto é representado por cerca de
799 mil trabalhadores. (Rev. RH em Síntese, 1995:6-8)
A partir destas observações podemos constatar um reordenamento das
atividades profissionais, que assinalam uma nova configuração do trabalho,
como sendo a era dos serviços informacionais. Ou seja, cada vez mais,
seguindo o avanço da década de 80, cresce o setor de serviços
acompanhado/permeado pela informação, seja na manipulação como no
conteúdo dos produtose serviços prestados.
Neste sentido, o contexto atual aponta para um crescente aumento desta
característica da reordenação dos espaços de trabalho, onde a informação
assume papel preponderante, o que faz com que o assistente social, bem como
sua prática profissional, sejam afetados por este processo que se mostra
irreversível, tendo como principal efeito a influência e necessidade cada vez
maior, de conhecimentos sobre os processos de comunicação, linguagem e
aspectos subjetivos das relações dos novos processos de trabalho, como nos
alerta Bernades (1994, p. 41), quanto a alguns pontos que devem ser
analisados com maior cuidado quando analisamos as novas clivagens do
conceito, “trabalho”:
As condições prévias de intercompreensão: a construção de
um senso comum e comunicação simbólica mediatizada pela
linguagem; (... ) A dimensão psicológica e subjetiva,
considerando a psicopatologia e a psicodinâmica do trabalho,
ou a identificação dos obstáculos à nas relações intersubjetivas
onde a dimensão da linguagem é fundamental.
1.4.3. A EMERGÊNCIA PELA BUSCA DA QUALIDADE DE VIDA
Aliado aos avanços tecnológicos e intensificação dos serviços encontrou
outro fator de crescente preocupação de organizações empresariais e
governamentais, a qualidade de vida, e em específico no campo do trabalho.
Principalmente a partir da implantação dos programas de qualidade total,
tem se intensificado o foco de pesquisadores do comportamento
organizacional, bem como, da preocupação de empresas em estabelecer a
integração entre as perspectivas da gestão da qualidade total e a qualidade de
vida dos atores deste processo, proporcionando uma nova dinâmica no
processo produtivo e nas relações de trabalho e cidadania.
No entanto o termo qualidade de vida tem sido empregado em várias
áreas e em diversos momentos, entretanto percebe-se que não há consenso
quanto ao seu verdadeiro sentido. O que se pode notar é que ao falar em
qualidade de vida, geralmente se associa a uma abordagem econômica de
quantidade de bens, ou seja, uma relação mais estreita com o ter.
Mas se analisarmos com maior propriedade, a questão da qualidade, é
mais do que ‘fazer bem feito da primeira vez’, é antes de tudo uma marca da
essência do toque humano, como bem assinalado por Demo (1994),
qualidade
“... aponta para a dimensão da intensidade. Tem a ver com
“... aponta para a dimensão da intensidade. Tem a ver com
profundidade, perfeição, principalmente com participação e
criação. Está mais para o ser do que para o ter, ou seja, o
toque humano é que é o diferencial quanto a relação
qualidade e quantidade.”
A partir desta compreensão, empresas e governos tem investido em
pesquisas, programas e serviços que venham de encontro ao processo de
facilitação e acesso a informações socialmente relevantes para melhoria da
qualidade de vida de trabalhadores (empresas) e de cidadãos (governos).
Desta forma, mesmo face a um contexto paradoxal, as perspectivas de
ação do assistentes social são cada vez mais urgentes e necessários, nota-se
que a tendência é de um maior crescimento da área de serviços, bem como,
da necessidade de uma maior habilidade de tratamento de informações, dos
relacionamentos e processos de decisão, e capacidade de melhor negociação,
seja pela necessidade constante de criar novas ações que atendam as
expectativas e necessidades dos clientes/usuários e das organizações, bem
como, das novas dimensões dos problemas sociais decorrentes de fenômenos
marcantes deste final de século, como o da urbanização, globalização, do
neoliberalismo, do desemprego estrutural entre outros, o que requer novas
estratégias de enfrentamento.
1.4.4 A EMERGÊNCIA PELA GESTÃO DA INFORMAÇÃO.
Os anos de 1980 foram profundamente marcados pelo o impulso decisivo
do avanço da área de serviços, o que para o assistente social tem grande
relevância dada a especificidade de sua prática ser efetuada a partir da
prestação de serviços sociais, nesta perspectiva aponta o estudo de Ursula
Karsch (1986, p.57) “... a assistência é, de fato, uma tarefa dos serviços, e a
assistência organizada nas instituições constitui um espaço de trabalho do
assistente social“ e podemos afirmar que um dos elementos fundamentais na
prestação destes serviços é a informação principalmente quanto a perspectiva
de construção de cidadania.
Karsch destaca algumas características do espaço de ação do assistente
social, ressaltando a assistência social organizada como principal
característica e a mesma se configurando como um conjunto de serviços,
desta forma “os conhecimentos dos assistentes sociais são usados para
aperfeiçoar a administração: ajudam a eliminar os elementos que possam pôr
em risco os fins desejados pela empresa [instituições] e fornecem informações
sobre tudo o que se refere aos mínimos pormenores do trabalho.” (Ibid, p.51-
grifo nosso).
Na perspectiva do avanço da área de serviços, a aurora aponta alguns
elementos constitutivos da articulação cotidiana da prática profissional dos
assistentes sociais, que estão relacionados a este desenvolvimento.
Vejamos resumidamente estes elementos articuladores da prática dos
assistentes sociais:
a) O cliente:
Historicamente o cliente do Serviço Social é a pessoa que esta em situação
de necessidade, esta com “problemas”, com carência. “ Só é cliente do Serviço
Social o indivíduo desprovido das condições mínimas de vida na sociedade.
Ressalta como exemplo o caso da empresa, onde: “O Serviço Social procura
ajuda-lo na busca de soluções para aqueles problemas que, embora não tenham
origem na empresa, tais como, problemas de saúde, situação econômica,
questões familiares e outros, afetam a seu bem-estar, refletindo negativamente
sobre seu trabalho.“ (Ibid, p.89)
O cliente tem um papel decisivo neste processo. “Nesse jogo, em que
burocracia e eficácia se confundem, o elemento mais importante -aquele que
legitima a inespecificidade do assistente social e ao mesmo tempo garante suas
diferentes utilidades- é o cliente. “(ibid, p.89).
b) O negócio:
Decorrente as configurações, tanto das organizações/instituições, do
contexto competitivo, assim como da realidade da prática profissional junto a
sua clientela, podemos sem dúvida concordar com a afirmação de Karsch
quanto ao que vem a ser o negócio do assistente social, ou seja, prestar
serviços:
d) Ações e atividades de articulação profissional:
i) A organização e administração: há entre os assistentes sociais uma
histórica rejeição quanto aos processos burocráticos, no entanto no processo
da sociedade da informação e dos serviços, esta atividade é substancial para
uma prática efetiva, a negação desta atividade faz com que muitos discursos
neguem a prática. No entanto, este espaço é indiscutivelmente, um dos
elementos de grande importância na articulação da ação profissional e em
específico na prestação de serviços de qualidade, bem como dos processo de
tratamento de informação. Como já assinalava Karsch. “O que ocorre é que a
simplificação que o assistente social faz de suas atribuições o transformam em
agente verdadeiramente burocrático. Com efeito, como também cabe a ele
“executar tarefas de ordem administrativa, indispensáveis ao controle e
avaliação do seu trabalho e apresentar sugestões para melhoria do serviço, as
práticas profissionais tornam práticas de organização.” (Ibid,p.99- grifo nosso)
ii) Os relacionamentos: Como já identificamos um dos elementos
fundamentais da prática profissional é a relação direta como seu
cliente/usuário na busca do enfrentamento aos problemas apresentados.
Neste sentido o relacionamento é um dos elementos
articuladores/constitutivos de sua prática cotidiana.
“O conhecimento especifico dos assistentes sociais não é
predominatemente técnico, nem científico. O saber profissional
do assistente social comporta as fontes principais de sua ética
profissional, seus segredos que, durante o exercício

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