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DIP UNIVERSIDADE DE VASSOURAS NAARA CRISTINA - MED106 PROFESSOR: VINICIUS MENEZES Malária Doença endêmica muito prevalente e potencialmente fatal. ASPECTOS HISTÓRICOS • Importante causa de morte entre os primatas precursores do Homo sapiens. • Doença endêmica muito prevalente e potencialmente fatal. • Relatos de civilizações antigas já mencionavam febres mortais semelhantes à malária: o Nei Ching (2700 a.c.), manuscritos do século VI a.C. da antiga Mesopotâmia e vários filósofos gregos como Homero, Aristóteles, Platão, Sócrates e outros. • A doença passou a ser descrita como ária cattiva ou mal’aria (ar ruim) pelos italianos no século XIV. O termo Paludismo, cuja raiz significa pântano, foi criado pelos franceses. Mas ainda não se havia descoberto até então os microorganismos, achava-se que era um ar podre que saia do pântano. • A malária foi introduzida nas américas pelos colonizadores espanhóis e escravos africanos. • No Brasil: a ocupação desordenada da Amazônia foi um fator preponderante para o aumento do número de casos: teve ciclos aonde muito casos e morte por malária foram relatados Ciclo da borracha (1879-1912), construção da ferrovia Madeira- Mamoré, regime militar, agronegócio e etc. • Algumas drogas para malária veia de algumas plantas: Cinchona (Peru), DDT, artemisinina (Tu Youyou- prémio nobel). AGENTE ETIOLÓGICO • Reino: Protista • Sub-reino: Protozoa • Filo: Apicomplexa • Classe: Sporozoasida • Ordem: Haemosporidia • Família: Plasmodiidae • Gênero: Plasmodium Espécies de importância médica: • P. falciparum - principal agente etiológico de casos da malária na África, responsável pelos casos mais graves. • P. vivax - principal agente etilógico no Brasil. • P. malariae -- raros casos no Brasil. • P. ovale -- não está presente no Brasil. • P. knowlesi - presente nos macacos e causando malária na Ásia, recentemente. • P. simium - causa malária nos macacos em regiões de mata atlântica. Esporozoitas: são as formas infectantes que vai ser transmitidas no inseto vetor para os seres humanos, e vão invadir os eritrócitos. Merozoita: Ele é o produto da reprodução dos esporozoítos no fígado humano. Esses merozoítos que vão atacar as hemácias e se reproduzirão, provocando a lise do glóbulo vermelho caracterizando os intervalos de febre e calafrio típicos da malária. Trofozoita: intracelulares, nas hemâcias mas pode atingir os hepatócitos. 1 DIP UNIVERSIDADE DE VASSOURAS NAARA CRISTINA - MED106 PROFESSOR: VINICIUS MENEZES Esquizontes: células multinucleadas cheias de merozoitas. Microgameta masculino e macrogameta feminino: sãs as formas sexuadas que vão formar os zigotos (oocineto, oocistos). VETOR DA MALÁRIA • O principal vetor no Brasil é o Anopheles Darlingi -- Também é conhecido como “Mosquito Prego” • O principal vetor no mundo é o Anopheles gambie. Ordem Diptera, familia Culicidae , Gênero Anopheles. Espécies: A. darlingi, A. albitarsis, A.aquasalis, A.cruzi, A.bellator, A. gambiae (principal vetor na África). ❖ Cria-se em grandes coleções de água: represas, lagos, lagoas e remansos de grandes rios, com sombra e Criadouros temporários-pós chuva. ❖ Endofílico (vivem dentro das casas) e antropofílico (as fêmeas se alimentam de sangue de humanos) ❖ Hábito crepuscular (o horário de maior transmissão é no amanhecer e no anoitecer). CICLO BIOLÓGICO Fase de esquizogonia exoeritrocitica (fígado): • O mosquito ao picar uma pessoa, ele secreta de sua glândula salivar os esporozoitos. • Na saliva do mosquito temos a presença de anticoagulantes. • Os esporozoítos rapidamente chegam aos hepatócitos e sofrem maturação, se transformando em trofozoítos e posteriormente por divisão binária simples, se transforma em esquizonte (célula multinuclear). • O esquizonte se rompe liberando vários merozoítos na corrente sanguínea. Fase esquizogonia eritrocítica (no sangue): • Os merozoítos invadem as hemácias, vão sofrer maturação se transformando em trofozoito (formas que parecem um anel). • Os trofozoitos formam os esquizontes, os quais se rompem liberando novos merozoítos na corrente sanguínea, formando novos heritrócitos (?) e assim prossegue o ciclo biológico do plasmódio. • Parte dos merozoítos que foram liberados na correte sanguínea vão se diferenciar em macro e micro gametócito. • O mosquito ao ingerir o sangue da pessoa infectada, vai ingerir o macro e micro gametócito prosseguindo o ciclo dentro do mosquito. No caso de plasmodium vivax e ovale, no ciclo Exoeritrocitico (fígado), parte desses trofozoítos vão se diferenciar em uma forma denominada hipnozoíto (formas parasitárias latentes, ou seja, ficam dentro do fígado por volta de 28 dias e após isso, se ativam dando prosseguimento ao ciclo. Devido a isso, o paciente apresenta uma recaída da doença). O tratamento padrão e adequado, 2 DIP UNIVERSIDADE DE VASSOURAS NAARA CRISTINA - MED106 PROFESSOR: VINICIUS MENEZES destrói os hipnozoítos, mas se o paciente não seguir adequadamente o tratamento, tal situação pode ocorrer. Nos mosquitos, os micro e macro gametócitos irão dar origem aos gametas, os quais irão gerar o oocineto (ovo móvel), este chegará até o intestino do mosquito, dando origem ao oocisto. Dentro dos oocistos teremos a formação dos esporozoítos que chegaram até a glândula salivar do mosquito. A partir do momento que o mosquito fizer a hematofagia ele irá inocular no hospedeiro os esporozoítos, infectando a pessoa. EPIDEMIOLOGIA Em 2018: 228 milhões de casos no mundo (93% na África subsaariana) e 405 mil mortes. (67% em crianças menores de 5 anos de idade). Desde 2010: Incidência e mortalidade vem diminuindo no mundo. No Brasil: 99% na região da Amazônia Legal (Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima, Norte do Mato Grosso, Tocantins e Oeste do Maranhão). Região extra-amazônica – maioria dos casos autóctones (adquiridos fora da região da Amazônia legal): Espírito Santo, Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia e Paraná. • A malária permanece em um ciclo silvestre, nessa região de mata atlântica com várias espécies de macacos. • Os criadores são as bromélias. • O ser humano ao entrar na mata pode se infectar acidentalmente. IMUNOPATOGÊNESE O hospedeiro: Susceptibilidade: Todas as pessoas. Mais vulneráveis: indivíduos sem imunidade contra a malária, como crianças, os não expostos e etc. Resistência: Ausência do antígeno Duffy (África ocidental), pessoas heterozigotas para anemia falciforme (protegidas para formas graves), Talassemia e deficiência de glicose-6-fosfatodesidrogenase (G6PD): fatores protetores. Imunidade: • Resposta humoral pouco efetiva. • Não se faz diagnóstico de malária por sorologia (pesquisa de anticorpos), devido ao fato de os anticorpos serem pouco efetivos. • O que se sabe é que a destruição das hemácias, liberação de glicolipidíos e produto dos parasitas mortos na corrente sanguínea irá produzir uma resposta inflamatória -- produção de citocinas (IL1 e TNF e outras) pelos macrófagos - Paroxismo, que são os períodos de febre da malária. Maior virulência do Plasmodium falciparum: • Maior capacidade de produzir hiperparasitemia: menor duração do ciclo tecidual (A fase pré-eritrocítica ocorre de forma mais rápida), produção de maior número de merozoítas em cada ciclo e capacidade de invadir hemácias de qualquer idade. • Obstrução microvascular: • Citoaderência : desenvolvimento de protuberâncias (Knobs) na superfície dos eritrócitos infectados que ajudam na aderência das células no endotélio vascular. (PfEMP1- Proteína 1 da membrana do eritrócito de P. falciparum) -- Obstrui os vasos sanguíneos, principalmente, pequenos capilares. 3 DIP UNIVERSIDADE DE VASSOURAS NAARA CRISTINA - MED106 PROFESSOR: VINICIUS MENEZES • Formação de rosetas: aderência dos eritrócitos infectados com os não infectados. MALÁRIA POR P.vivax E P. ovale Período de incubação: 13 a 17 dias Paroxismo: febre alta INTERMITENTE, precedida de calafrios. Outros sintomas: cefaleia, náusea, vômitos, hiporexia, mialgia e artralgia, esplenomegalia e icterícia - malária de febre terçã benigna. Complicações: • Anemia grave (principalmente gestantes e crianças) - A serie vermelha está muito diminuída na Malária, pois ela destrói os eritrócitos. • Hemorragia por plaquetopenia (rara). • Ruptura esplênica (complicação rara e tardia). • Malária cerebral, edema pulmonar e óbitos são raros. Recaída: É o reinicio das manifestações clínicas devido a sobrevivência após o tratamento de formas exoeritrocitárias (hipnozoítas no fígado). Geralmente após 28 dias do início do tratamento. MALÁRIA POR P. falciparum Antigamente era conhecida como febre terça maligna. Período de incubação: 8 a 12 dias. Paroxismo: Menos delimitado e marcado do que na infecção pelo P. vivax e pode ter uma duração maior (até 24h). A esplenomegalia e a icterícia são mais comuns. Recrudescência: reinício da infecção por persistência de formas eritrocíticas. (Até 28 dias após o início do tratamento) -- Fenômeno de falha terapêutica. MALÁRIA GRAVE • Malária cerebral: irritabilidade, confusão, torpor, convulsão e coma. • Anemia grave (Hemoglobina < 7 g/dl ou Hematócrito, 20%). • Insuficiência Renal Aguda: oligúria e anúria. Aumento de creatinina e ureia. (Creatinina > 3,0 mg/dl). • Edema agudo de pulmão e SARA: angustia respiratória, estertores bolhosos. • Hipoglicemia (< 40mg/dl). • Malária álgida: colapso vascular e choque. • Coagulopatia e trombocitopenia: hemorragias, CIVD. • Hiperparasitemia: > 250.000/mm3, presença de esquizonte. • Comprometimento hepático: icterícia intensa (>3 mg/dl). • Disfunções metabólicas: acidose lática, hipoglicemia. FISIOPATOGENIA DA MALÁRIA GRAVE Malária cerebral: • Sequestro eritrocitário e lentidão do fluxo sanguíneo cerebral por hiperlactatemia. • Produção de óxido nítrico. Anemia: destruição dos eritrócitos e diminuição de sua produção. Disfunção renal: • necrose tubular aguda provocada pela vasoconstrição e obstrução vascular. • P. malariae pode causar síndrome nefrótica por depósito de imunocomplexo. Síndrome da insuficiência respiratória: • obstrução vascular, hipóxia, acidose láctica. 4 DIP UNIVERSIDADE DE VASSOURAS NAARA CRISTINA - MED106 PROFESSOR: VINICIUS MENEZES • Edema agudo por aumento da permeabilidade dos capilares pulmonares. Hipoglicemia: • esgotamento do glicogênio hepático devido à hiporexia. • aumento da demanda periférica de glicose e redução da produção hepática. Disfunção hepática: • Icterícia por hemólise, colestase e destruição de hepatócitos. • Sequestro eritrocitário contribuindo para falha na glicogênese. Disfunção esplênica: Depuração das hemácias infectadas. Coagulopatia e trombocitopenia: • Cascata de coagulação acelerada com consumo de fibrinogênio e protrombina III. • Plaquetopenia pela depuração esplênica e produção de anticorpos antiplaquetários. Alterações hidroeletrolíticas e metabólicas: acidose láctica MALÁRIA POR P. malarie • Febre quartã • Período de incubação: 18 a 30 dias • Paroxismo: é tipicamente moderado. • Complicações: síndrome nefrótica por deposição de imunocomplexo e recrudescencia. MALÁRIA Malária e gravidez: maior letalidade, anemia, hipoglicemia, edema agudo de pulmão, feto com baixo peso ao nascer Malária e HIV: maior incidência de malária grave, anemia, densidade parasitária Infecção assintomática: Áreas endêmicas DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Doenças febris aguda e doença febris hemorrágicas: Influenza e outras viroses respiratórias, leptospirose, febre amarela, hepatites infecciosas agudas, febre maculosa, calazar, esquistosomose aguda, doença de chagas agudo, febre tifoide, Oropouche, chikungunia, mayaro, hantavírus, infecções urinárias, tuberculose miliar, endocardite, sepse, Babesiose. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL Gota espessa (Padrão-ouro): • Coloração por Giensa, wright • É possível visualizar o parasita na microscopia óptica. • Altamente sensível: 20 a 30 x mais sensível que a distensão sanguínea • Consegue caracterizar a espécie circulante, o estágio evolutivo e densidade parasitária • Consegue detectar concentrações baixas como 5 a 10 parasitas/mm3 . • Baixo custo Distensão sanguínea: 5 DIP UNIVERSIDADE DE VASSOURAS NAARA CRISTINA - MED106 PROFESSOR: VINICIUS MENEZES Morfologia do parasita e da hemácias preservadas. PCR • Alta sensibilidade e especificidade • Importante na detecção de portadores assintomáticos • Alto custo Testes rápidos para detecção de antígenos de Plasmodium: • Optimal®, paraSight®: l imiar de detecção de 40 a 60 parasitas/mm3 TRATAMENTO DA MALÁRIA VIVAX Objetivos: • Interrupção da esquizogonia sanguínea. • Destruição de formas latentes do parasita: hipnozoítas. • Interrupção da transmissão. Uso de drogas gametocidas O tratamento da Malária Vivax no adulto é feita com Cloroquina (150 mg) por 3 dias e Primaquina (15 mg) durante 7 dias. A cloroquina irá atuar interrompendo a esquizogonia sanguínea, ou seja, irá matar os trofozoitos, esquizontes. A primaquina é direcionada para matar os gametócitos e hipinozoítos. Gestantes, puérperas até um mês de lactação e crianças menores de 6 meses não podem usar a primaquina — Devido a problemas com hemólise. O tratamento para as gravidas é cloroquina durante 3 dias e posteriormente, cloroquina semanal até 1 mês de aleitamento, afim de se evitar as recaídas, pois como ela não pode utilizar primaquina, pode estar presentes em seu organismo os hipinozoítos. Caso o paciente volte a apresentar malária por P. vivax do Dia 5 (D4) ao Dia 60, após início de tratamento, pode ter havido falha tanto da cloroquina quanto da primaquina, ou de ambos. Nesses casos, o ideal é utilizar um novo esquema que seja mais eficaz. O tratamento recomendado • é o uso de artemeter/lumefantrina ou artesunato/ mefloquina durante três dias (opção em caso de falha da cloroquina), • Primaquina (0,5 mg/kg/dia) por 14 dias, esquema com maior eficácia na ação antihipnozoítos. TRATAMENTO DA MALÁRIA P. MALARIE Cloroquina por 3 dias, sem o uso de primaquina pois não tem hipinozoítos. 6 DIP UNIVERSIDADE DE VASSOURAS NAARA CRISTINA - MED106 PROFESSOR: VINICIUS MENEZES TRATAMENTO DA MALÁRIA P. FALCIPARUM O tratamento deve incluir • artemerter/lumefantrina ou artesunato/ mefloquina durante 3 dias, que são drogas esquizonticidas sanguíneas eficazes para todas as espécies. • associando-as à primaquina 2 comprimidos no primeiro dia para se eliminar os gametócitos. Os gametócitos apresentam apenas uma questão epidemiológica, eles não causam manifestações clínicas, ele está associado a perpetuação do ciclo epidemiológico. TRATAMENTO DA MALÁRIA MISTA POR P. FACIPARUM E P. VIVAX (OU P. OVALE) O tratamento deve incluir artemerter/ lumefantrina ou artesunato/mefloquina, que são drogas esquizonticidas sanguíneas eficazes para todas as espécies, associando- as à primaquina por sete dias (para o tratamento radical de P. vivax). No caso de falha de tratamento após o uso de artemeter/lumefantrina em até 28 dias após o início do tratamento, recomenda- se o uso do esquema terapêutico com artesunato/mefloquina. Em caso de falha de tratamento após o uso de artesunato/ mefloquina em até 42 dias após o início do tratamento, recomenda-se o uso do esquema terapêutico com artemeter/lumefantrina TRATAMENTO DA MALÁRIA GRAVE • Artesunato como primeira opção • Artemether como segunda opção • Clindamicina TRATAMENTO: EFEITOS COLATERAIS • Cloroquina: prurido (mais comum), intolerância gástrica, arritmia cardíaca e diplopia. • Primaquina: hemólise em pessoas com deficiência de G6PD. • Artemisinina e derivados: cefaleia, náusea, vômito, dor abdominal, diarreia. • Quninino:zumbido, perda transitória da audição e turvação visual (cinchonismo). Ainda: náusea, vômito, bradicardia, asma, hipoglicemia, plaquetopenia, hemólise (febre hemoglobinúrica). 7 DIP UNIVERSIDADE DE VASSOURAS NAARA CRISTINA - MED106 PROFESSOR: VINICIUS MENEZES • Mefloquina: tontura, náusea, vômito, diarreia, surtos psicóticos, alucinações, convulsão. SEGUIMENTO DO TRATAMENTO PARA O CONTROLE DE CURA Realizar lâmina de verificação de cura (gota espessa), nos seguintes períodos: P. falciparum: em 3, 7, 14, 21, 28 e 42 dias após o início do tratamento. P. vivax: 3,7,14,21,28, 42 e 63 dias após o início do tratamento. PROFILAXIA E CONTROLE • Controle vetorial. • Mosquiteiros impregnados com piretróides. • Construção de casas que ofereçam a possibilidade de menor contato com o mosquito vetor. Proteção para viajantes: Uso de roupas adequadas, uso de repelentes, permetrina. Quimioprofilaxia: não recomendada pelo Ministério da Saúde do Brasil, para viagens em território nacional. Considerar para viajantes com destino para locais com transmissão de P. falciparum, por período maior que o tempo de incubação da doença e inferior a 6 meses, quando o acesso ao diagnóstico e tratamento esteja a mais de 24h. Drogas utilizadas: Cloroquina (não indicada para P. falciparum), doxiciclina, mefloquina, atovaquone/ proguanil. 8
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