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Objetivos OBJETIVO 1: Compreender as definições básicas da afetividade e os tipos de vivencias afetivas OBJETIVO 2: Diferenciar os tipos e classificações das emoções OBJETIVO 3: Conhecer os aspectos cerebrais e neuropsicológicos das emoções OBJETIVO 4: Discutir as alteracoes psicopatológicas da afetividade, das emoções e sentimentos OBJETIVO 5: Compreender as definições básicas e alteracoes psicopatológicas da vontade e do agir DEFINIÇÕES BÁSICAS DA AFETIVIDADE E TIPOS DE VIVÊNCIAS AFETIVAS Definições de Afetividade: A vida afetiva é a dimensão psíquica que dá cor, brilho e calor a todas as vivências humanas. “Afetividade” é um termo genérico, que compreende várias modalidades de vivências afetivas, como o humor, as emoções e os sentimentos. Tipos de Vivências Afetivas: Na tradição psicopatológica distinguem-se cinco tipos básicos de vivências afetivas: 1. Humor ou estado de ânimo 2. Emoções 3. Sentimentos 4. Afetos 5. Paixões 1. Humor ou estado de ânimo: É definido como o tônus afetivo do indivíduo; é o estado emocional basal e difuso em que se encontra a pessoa em um determinado momento. É uma disposição afetiva que penetra toda a experiencia psíquica de modo particular, ampliando ou reduzindo o impacto das experiencias reais, e muitas vezes, modifica a natureza e o sentido das experiências vivenciadas. No estado de ânimo (ou humor) há confluência entre a vertente somática e a vertente psíquica, que se unem de maneira indissolúvel para fornecer um colorido especial à vida psíquica momentânea. Em boa parte, o humor é vivido corporalmente e relaciona-se de forma considerável às condições corporais, vegetativas, do organismo. Enfim, o humor, ou estado de ânimo, é um dos transfundos essenciais da vida psíquica. O humor pode durar dias ou semanas, enquanto a emoção é fugidia, instável e dura pouco. 2. Emoções: São reações afetivas momentâneas, agudas, desencadeadas por estímulos significativos. É um estado afetivo intenso de curta duração, sendo originado por reações do indivíduo a certos estímulos externas ou internas, conscientes, não conscientes ou inconscientes. A afetividade e suas Alterações Módulo II - Neurologia As emoções são acompanhadas de reações somáticas, corporais (neurovegetativas, motoras, hormonais, viscerais e vasomotoras), mais ou menos específicas. O humor e as emoções são, ao mesmo tempo, experiencias psíquicas e somáticas e revelam a unidade psicossomática básica do ser humano. De acordo com Mira y López (1974), a emoção é uma alteração que comove e perturba o instável equilíbrio existencial. 3. Sentimentos: São estados e configurações afetivas estáveis; em relação as emoções são mais atenuados em sua intensidade e menos reativos a estímulos passageiros. Estão associados a conteúdos intelectuais, valores, representações e em geral, não implicam concomitantes somáticos. São fenômenos muito mais mentais do que somáticos, diferentemente das emoções e do humor. Os sentimentos dependem de cada língua e cultura de cada povo de palavras que possam codificar este ou aquele estado afetivo. Os diferentes idiomas apresentam, muitas vezes, sutis diferenças e nuanças de um sentimento em relação a outro próximo. Por exemplo, para o sentimento expresso em português como saudade, no espanhol utilizam- se termos como estrañar (no sentido de sentir a falta de algo ou alguém) ou nostalgia, que, apesar de próximos, não expressam exatamente o mesmo sentimento de saudade em português. Os sentimentos podem ser divididos em vários grupos. Os afetos e sentimentos são vivenciados de modo geral em duas esferas: agradável e desagradável, prazeroso e desprazível, mas ainda podem ser divididos em: • Sentimentos da esfera da tristeza: melancolia, saudade, tristeza, nostalgia, vergonha, impotência, aflição, culpa, remorso, autodepreciação, autopiedade, sentimento de inferioridade, infelicidade, tédio, desesperança etc. • Sentimentos da esfera da alegria: euforia, júbilo, contentamento, satisfação, confiança, gratificação, esperança, expectativa. • Sentimentos da esfera da agressividade: raiva, revolta, rancor, ciúme, ódio, ira, inveja, vingança, repúdio, nojo, desprezo. • Sentimentos relacionados a atração um pelo outro: amor, atração, tesão, estima, carinho, gratidão, amizade, apego, apreço, respeito, consideração, admiração etc. neste tipo de sentimento se enquadram amor e amizade • Sentimentos associados ao perigo: do, temor, receio, desamparo, abandono, rejeição. • Sentimentos narcísicos: vaidade, orgulho, arrogância, onipotência, superioridade, empáfia, prepotência. A emoção é uma reação enquanto o sentimento é uma construção. 4. Afetos: São o tônus emociona que acompanham uma ideia ou representação mental. Os afetos se associam a ideias e se juntam a elas como um colorido afetivo. É definido como o componente emocional de uma ideia. De um modo mais geral, o afeto pode designar, de modo inespecífico, qualquer estado de humor, sentimento ou emoção. 5. Paixões: Estado afetivo extremamente intenso que domina a atividade psíquica como um todo, dirigindo a atenção e o interesse do individuo em uma só direção e inibindo os demais interesses. A paixão impede que se tenha o exercício de uma logica imparcial. TIPOS E CLASSIFICAÇÕES DAS EMOÇÕES: Experiencias afetivas negativas e positivas: É um forma de classificar as emoções: • Emoções Positivas: promovem bem-estar, favorecem a socialização e resultam de gratificação quando um desejo é realizado. • Emoções Negativas: agressividade, repulsa, raiva, e resultam ou interferem nas desavenças em relações interpessoais Polos ou valências da afetividade: domínios e construtor do Research Domain Criteria Particularmente, no caso de sistemas com polaridade afetiva, o RDoC sugere que sejam organizados dois grandes grupos de construtos: os sistemas de valência negativa e os de valência positiva. • Valência negativa: incluem respostas a situações aversivas, como respostas a ameaças ou medos, ameaças potenciais oi ansiedades, ameaças constantes e experiencia de perda e não recompensa frustrante • Valência Positiva: abrangem respostas anímicas e comportamentais positivas como aproximação, avaliação de recompensas, aprendizado positivo de recompensa ou de hábitos que liberem recursos psíquicos como recursos cognitivos, por exemplo São as emoções das pessoas as mesmas em todo o mundo? Uma segunda grande forma de situar e ordenar as emoções humanas se baseia na hipótese do caráter universal, para toda a humanidade, todos os subgrupos culturais e todos os períodos históricos, de um pequeno grupo de emoções. Contra essa hipótese, tem-se teorias que enfatizam a relatividade culturasl das experiencias emocionais nas diferentes sociedades e culturas humanas. Para Charles Darwin, há um certo número de emoções e expressões corporais (sobretudo faciais) semelhantes nos animais e nos humanos, bem como nas diversas sociedades e culturas. Teriam para ele uma base biológica evolutiva e seriam importantes para a sobrevivência do individuo e da espécie. Na visão de Darwin, emoções e sentimentos como medo, raiva, ciúmes e amor materno seriam universais. Além, disso, a manifestação das emoções por expressões faciais foi sendo adquirida lentamente na evolução da espécie homo sapiens. Segundo sugestão do neurocientista António Damásio, os afetos e as emoções seriam divididos em três grandes grupos (Damásio, 2012): emoções básicas, ou primárias; emoções secundárias; e emoções de fundo. Vejamos, a seguir, cada uma delas. Emoções universais, primárias ou básicas: A concepção de emoções universais ficou conhecida pelos trabalhos de Paul Elman e Friesen. Ao final, concluíram que seriam seis as emoções humanas básicas e universais: alegria, tristeza, medo, raiva, nojo (aversão ou repugnância) e surpresa (Ekman; Friesen, 1971). Nos anos de 1990, Ekmanreavaliou sua teoria das seis emoções universais, ampliando-as para onze: culpa, orgulho, vergonha, desprezo, contentamento, constrangimento, diversão ou divertimento (amusement), excitação, satisfação, prazer sensorial e alívio (Ekman, 1999). Além disso, Ekman e Friesen acharam não apenas uma expressão facial para cada emoção, mas uma variedade de diferentes manifestações discretamente diferentes para cada uma delas. Haveria famílias de emoções; assim, encontraram 60 microvariações de expressões faciais para a emoção “raiva”, distintas do conjunto de microvariações da emoção “medo”, ou da família de emoção “nojo”, e assim por diante. O antropólogo norte-americano Donald E. Brown (1934-), em 1991, publicou seu livro Human Universals, que gerou respostas calorosas, positivas e negativas (Brown, 1991). Ele fórmula que uma série de aspectos do comportamento humano seriam universais na sua base. Em relação às expressões faciais das emoções, muitas delas seriam devidas ao aspecto universal das emoções. Emoções secundárias ou sociais (não universais): Diz respeito a um conjunto extenso de emoções mais complexos, mais aprendidas socialmente e mais variáveis entre os subgrupos de cada cultura. Elas são construídas de mescla de emoções de funcho, emoções primarias e outras emoções sociais. São elas: vergonha, culpa, remorso, simpatia, compaixão, embaraço, orgulho, ciúmes, inveja, gratidão, submissão, admiração, indignação e desprezo. Emoções de fundo: Segundo Damásio (2012) são estados basais (mais basais que o humor), que fazem parte de uma espécie de colorido do estado afetivo de uma pessoa. São elas: sensação de bem ou de mal-estar, sensação de fadiga, lassidão, de ter mais ou menos energia. De qualquer forma, é difícil notar as diferenças entre o construto “emoção de fundo” e o construto “humor”, ou “estado de ânimo” Emoções não conscientes (ENCs): Emoções não conscientes (ENCs) são aquelas cujos processamentos incluem fenômenos automáticos, não controlados e ultrarrápidos que ocorrem sem que haja tomada de consciência pelo indivíduo que as experimenta. As ENCs ativam algumas regiões cerebrais semelhantes às das emoções conscientes, mas ativam com mais intensidade outras regiões, como a amígdala, os colículos superiores e o córtex do hemisfério direito. Mesmo que os sujeitos se mantenham totalmente não conscientes da presença de estímulos com conteúdo emocionais, ocorrem também respostas psicológicas que indicam que houve mudanças no estado e no funcionamento mental das pessoas, decorrentes das ENCs. ASPECTOS CEREBRAIS E NEUROPSICOLÓGICOS DAS EMOÇÕES: O sistema Límbico e as Emoções: Papez-MacLean Segundo ele, as estruturas e os circuitos cerebrais das emoções incluiriam o hipotálamo conectado com estruturas da face medial dos lobos temporais e frontais (grande lobo límbico). Esse grande lobo límbico, descrito por Paul Broca, em 1877, incluía os giros do cíngulo e o giro para-hipocampal. Posteriormente, com James W. Papez, essas áreas relacionadas às emoções passaram a incluir também o hipocampo, o fórnice, os corpos mamilares e os núcleos talâmicos anteriores O hipocampo teria um importante papel na memória e na expressão emocional, e o giro do cíngulo seria uma região receptora da experiência emocional (Sanvito, 1982; Laks; Rozenthal; Engelgardt, 1996). As estruturas subcorticais desse sistema seriam: • Amígdala • Hipocampo • Núcleos septais/áreas septais • Núcleos anteriores do tálamo e hipotálamo • Parte dos núcleos da base • Córtex límbico frontotemporal • Giro cingulado Todas as estruturas relacionadas ao processamento emocional. Em tal sistema, está incluído o hipotálamo, que representa o elemento fundamental na expressão psicofisiológica Amígdala: A amígdala é considerada, atualmente, uma das principais estruturas neurais relacionadas às emoções. Situada na região temporal medial, juntamente com suas projeções aferentes (de chegada) e eferentes (de saída), ela tem grande importância nas reações de medo, particularmente no aprendizado do medo e no medo condicionado (fear conditioning), além de papel destacado na raiva e na resposta hormonal ao estresse (Ledoux, 2000; Rolls, 2000). A amígdala recebe muitas informações vindas do tálamo, das outras estruturas do sistema límbico (visto anteriormente) e de áreas corticais sensoriais. Além de estímulos auditivos, também chegam à amígdala estímulos visuais (principalmente relacionados à expressão facial emocional, vindos do giro fusiforme occipitotemporal), olfativos e gustativos, informando sobre o ambiente, sobretudo a respeito de estímulos afetivamente relevantes e importantes para a sobrevivência. Após tais estímulos serem rapidamente processados no interior da amígdala, saem dela eferências para o córtex cerebral (que vão processar o significado das emoções), o hipotálamo, o tronco cerebral e os núcleos da estria terminal, produzindo respostas mentais, comportamentais, fisiológicas e hormonais relacionadas a fuga ou luta, compatíveis com o padrão de medo desencadeado (Ledoux, 2000). A amígdala é, sobretudo, um sistema de alerta (warning system) do organismo, com 12 núcleos sensíveis diferencialmente para atenção, aprendizagem e memória. Em algumas circunstâncias, ela emite projeções para o tronco cerebral (principalmente para a substância cinzenta periaquedutal), desencadeando reações de raiva e agressividade, ou reações de imobilidade e congelamento (freezing, tonic immobility), em mamíferos, similares à catatonia e ao estupor em humanos (ver Cap. 19, sobre vontade). Além da função de alerta, sobretudo para mudanças ambientais, a amígdala tem um papel neuromodulador, integrativo de processos emocionais, atuando nas interfaces entre emoção e funções cognitivas, como em tomadas de decisão, aprendizado e atenção (Bzdok et al., 2013). A amígdala também está relacionada às funções sexuais. Lesões em sua porção lateral podem desencadear comportamento hipersexual. Lesões nessa estrutura se relacionam principalmente a perda ou diminuição das respostas de medo (a pessoa não se assusta com vozes, corpos ou faces assustadoras, não tem medo quando exposta a cobras e aranhas) e de agressão. A amígdala geralmente está hiperativada em condições clínicas psicopatológicas relacionadas a ansiedade, fobias e estresse crônico. Redução da conectividade dessa estrutura com o lobo frontal foi identificada na depressão grave, tanto em crianças como em adultos OBS: a amígdala é ativada por estímulos ambientais afetivos (geralmente relacionados a medo, perigo, raiva ou alegria) mesmo quando tais estímulos não são percebidos conscientemente (Diano et al., 2017). Lobos Frontais: Córtex orbitofrontal (COF) e córtex ventromedial (CVM) De modo geral, os lobos frontais utilizam informações oriundas da amígdala para monitorar o estado interno e afetivo do organismo e regular as respostas apropriadas. O COF exerce ação de modulação sobre a amígdala e está intimamente relacionado a respostas emocionais e aprendizado rápido (memória de trabalho) após estímulos emocionalmente carregados, como a visão de faces expressivas e a audição de vozes com tonalidades emocionalmente marcantes. Embora o COF seja uma grande estrutura, com funções neuropsicológicas complexas, experiências emocionais de raiva se relacionam, em estudos de neuroimagem funcional, com hiperativação do COF. Lesões nessa estrutura em primatas podem, por sua vez, reduzir a agressividade. Quando o COF é disfuncional ou lesado, o indivíduo passa a não identificar os estímulos de forma correta e tende a responder de modo socialmente inadequado a estímulos faciais e vozes, sobretudo quando envolvem frustração e evitação de comportamentos prejudiciais a si mesmo ou a terceiros (Rolls, 2000). Pacientes com lesões importantes no COF podem apresentar impulsividade, agressividade e perda do tato social (inadequaçãoem comportamentos sociais). O CVM também tem importância na modulação da amígdala. Ele é componente relevante no circuito das emoções. Essa área apresenta importantes eferências para a amígdala e as zonas do mesencéfalo. Além disso, é parte do sistema modulador cardiovascular e de respostas dopaminérgicas e de corticotrofina/corticosterona a estímulos aversivos. Lesões nas áreas do CVM dificultam o ajuste de respostas a estímulos afetivamente significativos, o que explica a resistência à extinção de determinados padrões comportamentais e emocionais em indivíduos com disfunções no CVM. Pacientes com lesões importantes nessa estrutura podem apresentar apatia, diminuição da iniciativa e prejuízo na motivação. Ínsula: Trata-se de uma estrutura relativamente recente na evolução filogenética, não existindo em animais não sociais. Pesquisas revelaram que a ínsula é uma área fundamental que lê o estado fisiológico de todo o corpo, gerando sentimentos subjetivos-corporais desagradáveis e agradáveis. Quando uma pessoa percebe um cheiro de coisa podre, sentindo marcante nojo, a ínsula é ativada. Entretanto, experiências emocionais relacionadas a repugnância ou aversão (disgust) por uma situação ou por uma pessoa ativam a ínsula da mesma forma. A ínsula é importante para “colocar o corpo em uma atitude de expectativa”, quando um comportamento possa gerar consequências ruins. Também se correlacionou experiência emocional de alegria e ativação da ínsula. Enfim, essa estrutura parece estar intimamente relacionada a alguns aspectos daquilo que Fuchs e Koch (2014) apresentam com dimensão corporificada das emoções Giro do cíngulo (sobretudo anterior): Envolvido com o controle das emoções. Lesoes nessa área estão associadas a hipersensitividade e aumento da tendencia e chorar. A relação do cíngulo anterior com a experiência de tristeza surgiu da ativação dessa estrutura em filhotes quando separados das mães (Lindquist et al., 2012). De toda forma, parece que o cíngulo anterior é uma estrutura importante nos comportamentos de cuidados (p. ex., cuidados parentais) e para a ressonância afetiva no contato interpessoal. As respostas afetivas de uma mãe humana a seu bebê podem ser muito prejudicadas por lesões no cíngulo anterior. Também a deterioração do cíngulo anterior pode reduzir a expressão emocional, a empatia e a motivação para comunicação. O cíngulo posterior, por sua vez, foi associado a experiência emocional de alegria em estudos de neuroimagem funcional. Lobo parietal direito: Pacientes com lesões nessa área apresentam agnosia do dimídio esquerdo com heminatenção visual à esquerda. Respondem com indiferença quando são constatados seus déficits (anosognosia) e podem apresentar também humor expansivo, alegre, em contraposição ao humor triste ou apático dos indivíduos com lesões nas áreas frontais anteriores esquerdas. O lobo parietal direito recebe projeções da amígdala, permitindo que os estímulos emocionais sejam integrados a aspectos objetivos da consciência e da memória declarativa (consciente). As lesões parietais à direita dificultam o processamento cortical multimodal dos estímulos proprioceptivos e exteroceptivos, gerando desconhecimento afetivo da situação. Circuito septo-hipocampal: Esse circuito tem sido implicado nas experiências de ansiedade. ALTERAÇÕES PSICOPATOLÓGICAS: Da Afetividade: 1. Alterações do Humor: Distimia, em psicopatologia, é o termo que designa a alteração básica do humor, tanto no sentido da inibição como no sentido da exaltação. • Depressão: tristeza patológica, vem substituindo os termos de distimia hipotímica e melancolia. Muito frequentemente com o estado de humor depressivo, tem-se ideias associadas a morte, ideias suicidas, planos suicidas, atos e tentativas de suicídio. • Mania: A psicopatologia utiliza, nessa mesma linha, os termos “distimia hipertímica”, “expansiva” ou “eufórica” para nomear a exaltação patológica do humor, ou seja, as bases afetivas dos quadros maníacos. • Disforia: diz respeito à distimia acompanhada de uma tonalidade afetiva desagradável, mal-humorada. Quando se fala em depressão disfórica ou mania disfórica, está sendo designado um quadro de depressão ou de mania acompanhado de forte componente de irritação, amargura, desgosto ou agressividade. • Euforia: ou alegria patológica define humor exagerado, em que há predomínio de alegria intensa, desproporcional a experiencia vivida. • Puerilidade: caracteriza-se pelo aspecto infantil, simplória e regredido. Ex: rir e chorar por motivos banais; sua vida afetiva é superficial, sem afetos profundos, consistentes e duradouros. Verifica-se a puerilidade especialmente em alguns pacientes com esquizofrenia (antigamente denominada esquizofrenia hebefrênica), em indivíduos com déficit intelectual, em algumas pessoas com transtorno da personalidade histriônica e em personalidades imaturas, de modo geral. • Moria: semelhante a puerilidade; é uma forma de alegria muito pueril, ingênua, boba, que ocorre principalmente em pacientes com lesões extensas dos lobos frontais, em pessoas com deficiência mental e naquelas com quadros demenciais acentuados. • Estado de Êxtase: há uma experiência de beatitude, uma sensação de dissolução do Eu no todo, de compartilhamento íntimo do estado afetivo interior com o mundo exterior, está frequentemente associada a experiências circunscritas a um contexto religioso ou místico, não sendo, então, considerado fenômeno psicopatológico, mas cultural. Entretanto, o êxtase também pode estar presente em condições psicopatológicas, como no transe histérico, na esquizofrenia ou na mania. • Irritabilidade patológica: há hiper-reatividade desagradável, hostil e, eventualmente, agressiva a estímulos (mesmo leves) do meio exterior. Qualquer estímulo exterior ou ruido se torna perturbador e a pessoa reage de forma disfórica. É sintoma bastante frequente e inespecífico, indicando, não raramente, quadro de natureza orgânica, com disfunção cerebral identificável. Muitas vezes, está associada a experiências e transtornos de ansiedade. Também é frequente em pacientes com síndromes depressivas, quadros maníacos e esquizofrenia. Pode ser dividida em primária (oriunda de transtorno mental como depressão, esquizofrenia, ansiedade) ou secundária (transtorno neurocognitico ou lesões/disfunções cerebrais) OBS: Os dois polos básicos das alterações do humor, ou timopatias, são o depressivo, ou hipotímico, e o maníaco, ou hipertímico. Assim, hipotimia refere-se à base afetiva de todo transtorno depressivo. Por sua vez, o termo hipertimia (ou distimia hipertímica) refere-se a humor patologicamente alterado no sentido da exaltação e da alegria. 2. Catatimia: É uma influência que a vida afetiva exerce, principalmente o estado de humor, (mas também a emoções, sentimentos e paixões) nas demais funções psíquicas. A atenção é captada, dirigida, desviada ou concentrada em função do valor afetivo de determinado estímulo; a vivência do tempo oscila segundo o colorido afetivo do estado emocional no qual estamos; a memória é altamente detalhada ou muito pobre dependendo do significado afetivo dos fatos ocorridos; a sensopercepção pode se alterar em função de estados afetivos intensos, desencadeando, inclusive, alucinações em pessoas com psicoses. Nossos pensamentos e decisões tendem a seguir os imperativos de emoções e sentimentos, sejam eles conscientes, sejam não conscientes. 3. Ansiedade, angústia e medo: Ansiedade: é definida como estado de humor desconfortável, apreensão negativa em relação ao futuro, inquietação interna desagradável. Inclui manifestações somáticas e fisiológicas (dispneia ou desconforto respiratório, taquicardia, vasoconstrição ou vasodilatação, tensão muscular, parestesias, tremores, sudorese, tontura etc.) e manifestações psíquicas (inquietação interna, apreensão desagradável, desconfortomental, expectativa ruim em relação ao futuro etc.) Angústia: relaciona-se diretamente à sensação de aperto no peito e na garganta, de compressão, de sufocamento. Assemelha-se muito à ansiedade, mas tem conotação mais corporal e mais relacionada ao passado. Do ponto de vista existencial, a angústia tem significado mais marcante; é algo que define a condição humana, é um tipo de vivência mais “pesada”, mais fundamental que a experiência da ansiedade. Das emoções e sentimentos: 1. Medo: O medo não é uma emoção patológica, mas uma característica universal de muitas espécies animais e do ser humano. Nos humanos, o medo é um estado de progressiva insegurança e angústia, de impotência e invalidez crescentes, ante a impressão iminente de que sucederá algo que o indivíduo quer evitar, o que progressivamente se considera menos capaz de fazer. O medo é dividido em 6 fases de acordo com o grau de extensão e intensidade que nele alcançam as manifestações de inativação: I. Prudência II. Cautela III. Alarme IV. Ansiedade V. Pânico (medo intenso) VI. Terror (medo intensíssimo) 2. Fobias: São medos determinados psicopatologicamente, desproporcionais e incompatíveis com as possibilidades de perigo real oferecidas pelos desencadeantes, chamados de objetos ou situações fobígenas. Assim, o indivíduo tem um medo terrível e desproporcional de entrar em um elevador, de gatos ou de contato com pessoas desconhecidas. No indivíduo fóbico, o contato com os objetos ou situações fobígenas desencadeia, muito frequentemente, intensa crise de ansiedade. • Fobia simples: medo intenso a objetos, geralmente pequenos animais (barata, sapo, cachorro) • Fobia social: medo de contato e interação social com pessoas pouco familiares e em situações na qual a pessoa possa se sentir examinada/criticada. • Agorafobia: medo de espaços amplos e aglomerações (ex: estádios, mercados, cinema) • Claustrofobia: medo de entrar e ficar preso em espaços fechados. Há, além dessas quatro formas mais comuns de fobia, um número enorme de subtipos de fobia, classificados de acordo com o objeto ou a situação fobígenos. 4. Pânico: Crises e Transtorno de Pânico: O pânico se manifesta praticamente sempre como crises de pânico. Estas são crises agudas e intensas de ansiedade, acompanhadas por medo intenso de morrer ou de perder o controle e de acentuada descarga autonômica (taquicardia, sudorese etc.). As crises caracterizam-se pelo início abrupto de uma sensação de grande perigo e desejo de fugir ou escapar da situação. Ocorrem sintomas somáticos autonômicos, decorrentes da ansiedade intensa, como palpitações, sudorese fria, tremores, parestesias (principalmente formigamentos nos lábios e/ou ponta dos dedos), sensação de falta de ar, desconforto respiratório, dor ou desconforto no peito, náusea, sensação de cabeça leve, medo de perder o controle ou enlouquecer, medo de morrer ou de ter um infarto e, em alguns casos, despersonalização e/ou desrealização. O paciente frequentemente relata que teve a nítida sensação de que iria morrer, perder o controle ou ter um ataque do coração. As crises duram alguns minutos e tendem a repetir-se com periodicidade variável. Podem ocorrer após a exposição a desencadeantes (contato com situações ou objetos fobígenos, morte de pessoa próxima e/ou significativa, estresse intenso etc.), mas, em muitos casos, não se consegue identificar o fator que provocou a crise. Alguns sentimentos e emoções considerados normais podem ter implicações psicopatológicas conforme a intensidade e o contexto no qual surgem e se desenvolvem. Vale ressaltar, aqui, a inveja e o ciúme. • Ciúme: fenômeno emocilan no qual o individuo sente receio, medo, tristeza ou raiva na ideia ou sensação de que a pessoa amada gosta mais de outra pessoa e pode abandoná-la. • Inveja: sensação de desconforto ao constar que outra pessoa possui objetos, qualidades e relações que o indivíduo gostaria de ter mas não tem. • Condição de rigidez afetiva: o indivíduo não deseja, tem dificuldade ou impossibilidade tanto de sintonização como de irradiação afetiva; ele não produz reações afetivas nos outros nem reage afetivamente diante da situação existencial cambiante. 5. Apatia: É a diminuição da excitabilidade emocional. O paciente não se sente nem feliz nem triste, nem com raiva, nem nada. O paciente torna-se hiporreativo; é um “tanto faz quanto tanto fez” para tudo na vida. Como uma síndrome específica, a apatia também é definida como o conjunto de déficits ou redução motivacional em comportamentos dirigidos a objetivos. Há perda da motivação emocional para buscar e alcançar objetivos desejados. Trata-se de um estado afetivo próprio dos quadros depressivos, apesar de poder ocorrer de forma inespecífica em outros transtornos mentais. A apatia está presente também, podendo ser de relevante gravidade, na esquizofrenia, na doença de Parkinson e na demência de Alzheimer. 6. Sentimento de falta de sentimento: É a vivência de incapacidade para sentir emoções, experimentada de forma muito penosa pelo indivíduo. Trata-se de um sentimento claramente percebido pelo paciente, que se queixa de sentir-se intimamente morto ou em estado de vazio afetivo. Diferentemente da apatia, o sentir o “não sentir” é vivenciado com muito sofrimento, como uma tortura. Pode ocorrer em quadros depressivos graves. 7. Anedonia: É a incapacidade total ou parcial de obter e sentir prazer com determinadas atividades e experiências da vida. O indivíduo relata que, diferentemente do que ocorria antes de adoecer, agora não consegue mais sentir prazer sexual, não consegue desfrutar de um bom papo com os amigos, de um almoço gostoso com a família, de um bom filme etc. Os pacientes dizem: “Agora não vejo mais graça em nada, as coisas perderam o sabor, não vibro com mais nada...”. A anedonia é um sintoma central das síndromes depressivas, podendo ocorrer também em quadros esquizofrênicos e em transtornos da personalidade. A apatia (incapacidade de sentir afetos) e a anedonia (incapacidade de sentir prazer) são fenômenos muito próximos, que ocorrem, na maioria das vezes, de forma simultânea (Tradway; Zald, 2011). 8. Indiferença afetiva e “bela diferença”: No passado, foi descrita particularmente na histeria como uma “bela indiferença” (belle indifférence). Trata-se de certa frieza afetiva incompreensível diante dos sintomas que o paciente apresenta (p. ex., paralisia psicogênica das pernas, somatizações, perdas psicogênicas da voz, da visão etc.), uma frieza e uma indiferença que parecem indicar que, no fundo (de forma inconsciente), o paciente sabe que seus sintomas são psicogênicos e potencialmente reversíveis (Ramadan, 1985). Não é uma indiferença profunda, sendo mais aparente e teatral que real (daí “bela”). A bela indiferença da histeria contrapõe-se à triste indiferença do paciente depressivo com apatia marcante e à pálida indiferença do indivíduo com esquizofrenia crônica, que perdeu aspectos fundamentais de sua vida afetiva em virtude dos sintomas negativos do transtorno (Porot, 1967). 9. Labilidade afetiva e incontinência afetiva: A labilidade e incontinência afetiva são os estados nos quais ocorrem mudanças súbitas e imotivadas de humor, sentimentos ou emoções. Na labilidade afetiva, o indivíduo oscila de forma abrupta, rápida e inesperada de um estado afetivo para outro. O paciente está falando de algo ameno e começa a chorar, passando, logo a seguir, a sorrir de forma tranquila, e daí a pouco volta a chorar. Na incontinência afetiva, o indivíduo não consegue conter de forma alguma sua reação afetiva. A resposta afetiva ocorre geralmente em consequência a estímulos apropriados, mas é sempre muito desproporcional. A labilidade e a incontinência afetiva são consideradas formas de hiperestesia emocional, indicando exagero e inadequação da reatividade afetiva. Podem ocorrer em quadros de depressãoou mania, estados graves de ansiedade e esquizofrenia. DEFINIÇÕES BÁSICAS E ALTERAÇÕES PSICOPATOLÓGICAS DA VONTADE E DO AGIR: Definições Básicas da Vontade e do Agir: A vontade, ou volição, é uma dimensão complexa da vida mental, relacionada intimamente com as esferas instintiva, afetiva e intelectiva (que envolve avaliar, julgar, analisar, decidir), bem como com o conjunto de valores, princípios, hábitos e normas éticas socioculturais do indivíduo. Não é ponto pacífico se ela depende mais da esfera instintiva, de forças inconscientes, do âmbito afetivo, de valores culturais ou de componentes intelectuais conscientes. A “vontade para a vida” (Wille zum Leben) é o princípio universal do esforço instintivo pelo qual todo ser realiza o tipo central de sua espécie e luta contra os outros seres para manter a forma de vida que é a sua O ato Volitivo ou Ato de Vontade: O ato volitivo é traduzido pelas expressões típicas do “eu quero” ou do “eu não quero”, que caracterizariam a vontade humana sensu stricto. O ato volitivo se dá, de forma geral, como um processo, o chamado processo volitivo, no qual se distinguem quatro etapas ou momentos fundamentais e, em geral, cronologicamente seguidos. 1. Intenção ou propósito: é onde se encontram as tendencias basicas do individuo, suas inclinacoes e interesse. Aqui são encontrados impulsos, desejos e temores da vontade de agir 2. Deliberação: é a fase em que o individio analisa os pontos positivos e negativos, favoraveis e desfavoraveis de uma determinada decisao 3. Decisão propriamente dita: é o instante que demarca o inicio do ato volitivo 4. Execução: é a etapa final do processo volitivo, na qual os atos psicomotores simples e complexos realizam o que foi decidido pelo indivíduo Alterações da Vontade: • Hipobulia/abulia: trata-se da diminuicao ou abolição da volição. É a falta de vontade de agir. O indivíduo refere que “não tem vontade para nada”, sente-se muito desanimado, sem forças, sem energia. Geralmente, a hipobulia/abulia encontra-se associada à apatia, à fadiga fácil e à dificuldade de decisão, tão típicas dos pacientes com depressão grave. • Ato impulsivo: pula as fases de deliberação e decisao do ato de agir, em funcao da intensidade dos desejos ou temores (conscientes ou inconscientes). São realizados de forma egossintonica, ou seja, o individuo não percebe tal ato como inadequado. É um impulso patologico de natureza inconsciente, associado a incapacidade de tolerancia a frustracao e a adaptacao à realidade objetiva. • Ato compulsivo: são reconhecidos pelo indivíduo como indesejaveis ou inadequados e há tentativa de freá-los ou adiá-los. Há desconforto do individuo que o realiza, são egodistonicos, ou seja, são indesejaveis e contrarios aos valores do paciente. Há tentativa de resistencia entretanto há sensacao de alivio ao realiza-lo. Estao associados a ideias obssesivas. Tipos de impulso e compulsões patológicas: Compulsões agressivas: • Automutilação • Frangofilia: impulso de destruir objetos que circundam o indivíduo(ex: psicoses como esquizofrenia e mania, intoxicacao por psicotrópicos, etc) • Piromania: impulso de atear fogo a objetos, predios, lugares (ex: transtorno de personalidade, borderline, narcisita ou antissocial) Compulsões associadas a ingestão de substancias ou alimentos: • Bulimia: ingerir rapidamente grande quantidade de alimentos e após a ingestão provocar vômitos ou tomar laxantes • Dipsomania: Ocorre como impulso ou compulsão periódica para ingestão rápida de grandes quantidades de álcool. • Potomania: compulsao em beber agua ou outros líquidos sem que haja sede exagerada Compulsões associadas ao desejo/comportamento sexual: • Pedofilia: desejo de atividades sexuais voltados a criancas ou puberes • Gerontofilia: desejo sexual por pessoas mais velhas • Exibicionismo: impulso de mostrar orgaos genitais, geralmente contra vontade da pessoa a quem o ato é direcionado • Voyeurismo: impulso de obter prazer observando uma pessoa que está tenod relação sexual ou se depsindo • Fetichismo: imulso e desejo sexual em partes do corpo/vestimenta da pessoa desejada • Sadismo/masoquismo: excitacao em atos sexuais que causem dor, humilhação e dominação no parceiro. • Zoofilia: desejo sexual direcionado a animais • Ninfomania: desejo sexual quantitativamente aumentado na mulher • Satiríase: desejo sexual aumentado no homem Outros impulsos e compulsões: • Poriomania: impulso de andar ou viajar • Cleptomania ou roubo patológico: é ato impulsivo ou compulsivo de furtar • Jogo patológico: é a compulsao em se envolver em jogos de azar, fazer apostas, especular com dinheiro • Compulsão por compras • Compulsão e dependencia de internet/videogames Referências: • Dalgalarrondo, Paulo. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais . Disponível em: Minha Biblioteca, (3ª edição). Grupo A, 2019.
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