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Módulo Tributo e Segurança Jurídica ALUNO: LEANDRO TAKEO ALVES WATANABE TURMA: 2023.01-TSJ-BSB SEMINÁRIO II - ESPÉCIES TRIBUTÁRIAS Questões 1. Efetue, de forma fundamentada, proposta de classificação jurídica dos tributos, evidenciando os critérios classificatórios adotados. A destinação do produto da arrecadação tributária é relevante para a classificação jurídica dos tributos e consequente definição das espécies tributárias? Considerar, na análise da pergunta, o art. 167, inciso IV, da CF/88, e o art. 4º do CTN. (Vide anexo I). A legislação tributária pode proibir a compensação de tributos entre diferentes espécies sob a justificativa de que a destinação das receitas são diferentes? (Vide REsp 1.449.713). Inicialmente, há de se elevar a atenção ao se propor uma classificação jurídica dos tributos, pois se trata de ato de valoração do intérprete das normas, de maneira que pode ser proposta de diferentes maneiras. Eurico Marcos Diniz de Santi1 traz o entendimento que é irrelevante o critério da utilidade para realização das classificações jurídicas, pois, para ele, o agente que efetua a classificação deve fugir ao máximo da atividade valorativa e ideológica, devendo se ater sempre aos critérios jurídicos. Ressalta ainda, que tais classificações precisam ser coerentes, sendo necessário, conforme a Teoria das Classes, refletir às regras lógicas e classificatórias. Nesse sentido, lógico se faz iniciar pela classe mais ampla, atravessando pelas subclasses, ao ponto que se possa extrair todas as características individuais e critérios que delimitam os elementos. Ademais, não se pode dispensar as proposições dispostas no Direito Positivo, vez que podem ser válidas ou inválidas, fazendo com que o cientista do direito permaneça atento quanto aos critérios elencados pelo legislador. Adiante, em análise ao art. 4º do CTN, percebe-se que tal dispositivo, no que tange à determinação da natureza jurídica do tributo, é imprescindível observar o fato gerador da respectiva obrigação, sendo irrelevantes a destinação legal da 1 Artigo: “O tributo e as classificações no sistema tributário brasileiro”, de Eurico Marcos Diniz de Santi. Módulo Tributo e Segurança Jurídica arrecadação e a denominação do tributo. Seguindo esse entendimento, filiamos a corrente tripartite, a qual julga Imposto, Taxa e Contribuição como espécie tributária. Isso porque o objetivo aqui é propor uma classificação com base nas naturezas jurídicas das espécies. Em que pese correntes diversas, discordamos da ideia que considera como espécies próprias os empréstimos compulsórios, as contribuições especiais e as contribuições previdenciárias. O professor Tárek Moysés Mousallem2, o qual dispõe do mesmo pensamento do professor Paulo de Barros Carvalho, explica que o empréstimo compulsório é especial, de maneira que tal empréstimo pode ser vinculado ou não-vinculado, tendo em vista que a Constituição Federal não particulariza sua hipótese de incidência e, assim, permitindo sua cobrança à sombra da forma de qualquer das espécies tributárias. Seguindo em diante, nos deparamos com as contribuições, talvez essas o caso mais complicado, levando em conta as diversas denominações criadas pelo legislador. Aqui, relembramos o disposto no art. 4º do CTN, o qual expressa a irrelevância da denominação legal para estipular sua natureza jurídica. Adiantando um pouco nossa proposta, conforme será descrita mais adiante, nela as contribuições que estão situadas, conforme nosso entendimento, na classe dos tributos não- vinculados, detêm, em verdade, caráter de imposto, isso justifica-se pelo fato de que não têm hipótese de incidência vinculada a uma ação estatal imediata. Entretanto, as contribuições classificadas como tributos vinculados, as contribuições legítimas, portam condição de incidência vinculada à atuação estatal, como por exemplo a contribuição de melhoria. Diante do exposto, propõe-se a seguinte classificação jurídica dos tributos: 1. Tributo, como sendo uma Classe Universal. 1.1. Vinculado: Taxa de Serviços ou de Polícia; Contribuição de Melhoria/Empréstimo Compulsório; 1.2. Não-vinculado: Imposto (Gerais; Empréstimo Compulsório; Contribuições). Nesse diapasão, reforço nosso posicionamento na corrente tripartite, em sua 2 MOUSSALLEM, Tárek Moysés. Classificação dos tributos: uma visão analítica. In: CONGRESSO NACIONAL DE ESTUDOS TRIBUTÁRIOS – IBET, v.4, 2007, São Paulo. Tributação e processo. São Paulo: Noeses, 2007, p. 601-637. Módulo Tributo e Segurança Jurídica perspectiva que admite como existente três as espécies de tributo, quais sejam: Imposto, Taxa e Contribuição de Melhoria. Perceba que em nossa classificação proposta, nosso posicionamento quanto a relevância da destinação legal para a classificação jurídica das espécies encontra-se de forma implícita. Quanto a compensação trazida no enunciado da questão, também conhecida como compensação cruzada, discordamos quanto ao argumento de que o fato da destinação das receitas ser diferente (desde que trate de competência do mesmo ente administrador do tributo) cause empecilho à compensação de tributos entre diferentes espécies, impedindo assim, aquela modalidade de extinção do crédito tributário. Ressalta-se que embora alguns órgãos e entidades detêm a responsabilidade de administrar os recursos das contribuições sociais e especiais, não são eles os titulares da competência tributária. Na verdade, possuem aquela responsabilidade em virtude da parafiscalidade. Sabe-se que ainda norteiam nosso ordenamento precedentes incompreensíveis, bem como as arbitrariedades executadas pelo Estado apenas com a finalidade exacerbada de aumento de arrecadação, operando- se por meio de argumentos sem fundamentos plausíveis para que impeça a restituição ao contribuinte. Dito isso, entende-se pela possibilidade quanto a compensação em comento, não importa se a destinação das receitas é diferente, ou seja, independentemente de sua destinação legal. O anexo I traz julgado sobre a vinculação da arrecadação no tocante a taxa, visto que Lei Estadual determinou a destinação desse tributo ao FUNDESP, porém, o produto de arrecadação são os emolumentos cobrados pelas serventias extrajudiciais e não oficializadas. Nesse caso, não há violação constitucional, pois a vedação imposta pelo art. 167, IV se remete a receita dos impostos, não contendo em nossa Carta Magna preceito conexo às taxas e, assim, não há ofensa ao dispositivo constitucional acima citado. 2. Que é taxa? Que se entende por o “serviço público” e “poder de polícia”? (Vide anexo II). Há necessidade de comprovação da efetiva fiscalização para cobrança da taxa de poder de polícia? (Vide anexos III, IV e V). Trata-se de tributo vinculado, o qual se divide em duas subespécies: Taxa de Poder de Polícia e Taxa de Serviço. Nesse tributo, tendo vista ser vinculado, a Módulo Tributo e Segurança Jurídica hipótese de sua incidência encontra-se diretamente ligada a atuação do Estado, de modo que nessa relação tributária é o sujeito passivo quem se beneficia diretamente com tal ação estatal. Seguindo, passamos ao estudo do que se entende por poder de polícia e serviço público, até mesmo para que possamos absorver melhor o fato a ser tributado. Vejamos o que dispõe o art. 78 do CTN sobre poder de polícia: Considera-se poder de polícia atividade da administração pública que, limitando ou disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou abstenção de fato, em razão de interesse público concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes de concessão ou autorização do Poder Público, à tranquilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos individuais ou coletivos. Resumindo, tal poder se refere à regulação por partedo ente público competente quanto à atos ou privação de fatos em virtude do interesse público atinente a variadas atividades. Importante ainda destacar, o entendimento do STF externalizado por meio do julgamento do RE 856.185 AgR, de relatoria do Ministro Barroso, no qual o Supremo expressa que pode ser presumido o poder de polícia, que imprescindível somente a existência de um órgão estruturado em efetivo funcionamento. Ora, data vênia o entendimento da Suprema Corte, tal compreensão é descabida, pois, com base nesse entendimento abre-se brecha para criação de inúmeros órgãos com a finalidade de justificar a criação de novas taxas e, consequentemente onerando o contribuinte. Relembro que o tributo em comento é vinculado, exigindo-se atuação legal e legítima do Estado interligada com seu fato gerador. Por sua vez, a definição de serviço público encontra-se disposta no art. 79 do CTN, vejamos: Art. 79. Os serviços públicos a que se refere o artigo 77 consideram- se: I - utilizados pelo contribuinte: a) efetivamente, quando por ele usufruídos a qualquer título; b) potencialmente, quando, sendo de utilização compulsória, sejam postos à sua disposição mediante atividade administrativa em efetivo funcionamento; II - específicos, quando possam ser destacados em unidades autônomas de intervenção, de utilidade, ou de necessidades públicas; III - divisíveis, quando suscetíveis de utilização, separadamente, por parte de cada um dos seus usuários. Módulo Tributo e Segurança Jurídica O dispositivo acima elenca os requisitos indispensáveis para que a taxação do serviço seja legítima, estruturando que o serviço deve ser de utilização efetiva ou potencial, bem como específico e divisível, sendo esses dois últimos requisitos para agir na identificação do serviço prestado e sua individualização. Para responder a parte final da questão, aproveito para trazer os anexos mencionados e refletirmos sobre a necessidade de comprovação da efetiva fiscalização para cobrança da taxa de poder de polícia. Os anexos, em especial os que transmitem o AgRg no REsp n. 1.078.480/MG e o RE n. 554.951, respaldam a cobrança da referida taxa sem a efetiva comprovação. O primeiro julgado dispensa a comprovação da atividade fiscalizadora, face à notoriedade do exercício do poder de polícia pela Municipalidade. Já o segundo julgado destaca que a existência do órgão administrativo não é condição para o reconhecimento da constitucionalidade da cobrança da taxa de localização e fiscalização, porém, entende que constitui um dos elementos admitidos para se inferir o efetivo exercício do poder de polícia, exigido constitucionalmente. O poder de polícia é prerrogativa presumida da Administração Pública, a qual sobeja autorizada a reprimir direitos, propriedades e liberdades em vantagem do interesse coletivo e social. Todavia, em que pese o entendimento jurisprudencial contrário, verifico que não é todo e qualquer ato de poder de polícia que autoriza sua taxação, mas apenas aqueles que materializam em uma ação concreta e específica da Administração Pública, exercitado com fundamento em lei, ao passo que a legitimidade da tributação por meio de taxa é o efetivo desempenho da atividade direcionada ao administrado. 3. Que diferencia taxa de preço público? (Vide voto do Min. Carlos Velloso na ADI 447). Os serviços públicos de energia elétrica, água e esgoto, quando prestados diretamente pelas pessoas jurídicas de direito público, são remuneráveis por taxa? E no caso de concessão desses serviços? (Vide anexos VI e VII). E os serviços que, embora prestados pelo Poder Público, são suscetíveis de prestação pela iniciativa privada em regime concorrencial? (Vide anexo VIII). Preço público, também conhecido por tarifa, não possui natureza tributária, sendo essa uma das principais características que o diferencia da taxa. Hugo de Brito Módulo Tributo e Segurança Jurídica Machado3 explica que a tarifa tem natureza contratual, é “preço público, decorrente de contrato – expresso ou tácito – firmado entre usuário de um serviço público e o seu prestador”. Explica ainda o autor, que independentemente do serviço ser prestado diretamente pelo Estado, ou por terceiro mediante delegação, isso não mudará a não compulsoriedade da tarifa. Nesse sentido, diferentemente da taxa, o preço público constitui na consequente remuneração advinda da efetiva prestação de serviços de interesse público ou fornecimento de bens em regime contratual, onde não há compulsoriedade imposta. Nessa perspectiva, a Súmula 545 do STF (anexo VI do presente seminário) dispõe justamente que o critério que diferencia taxa e preço público está no elemento da compulsoriedade. Assim relata a referida Sumula: “Preços de serviços públicos e taxas não se confundem, porque estas, diferentemente daqueles, são compulsórias e têm sua cobrança condicionada à prévia autorização orçamentária, em relação à lei que as instituiu”. Em relação aos serviços públicos de energia elétrica, água e esgoto, quando prestados diretamente pelas pessoas jurídicas de direito público ou no caso de concessão desses serviços, entendo que independentemente do responsável pela sua prestação, serão remunerados via taxa, tendo em vista que a relação estipulada entre prestador e contribuinte compreende todos os requisitos necessários para que atinja a figura de tributo. Mais ainda, ressaltamos que o critério determinante para determinar a natureza jurídica da remuneração (se taxa ou preço público), não é o caráter estipulado ente o usuário e o fornecedor ou prestador do serviço ou do bem, mas a compulsoriedade, o âmago da atividade realizadora. Nesse mesmo entendimento, o anexo VII, por meio do REsp n. 167.489/SP, aduz que o fornecimento de água e esgoto é cobrado do usuário pela entidade fornecedora como sendo taxa, “quando tem compulsoriedade”, assim, compactuo com tal posicionamento, pelos motivos anteriormente explanados. Já nos casos de serviços prestados pelo Estado, porém, em regime de concorrência, certo é a cobrança por meio de preço, considerando que o usuário não pode ser compelido a pagar por aquele serviço que é disponibilizado pelo Estado, devendo ficar à sua escolha de qual serviço usufruir entre os prestadores disponíveis. Destaca-se ainda, que independe de sua instituição em lei, a cobrança de preço. Ora, 3 MACHADO SEGUNDO, Hugo de Brito. Direito Tributário e financeiro. 2ª edição. São Paulo: editora atlas, 2007, p. 191. Módulo Tributo e Segurança Jurídica não instituída por lei, bem como não compulsória, nesse caso a cobrança não se encaixaria como tributo. Forte nesses argumentos, aproveito para assentir com o julgado trazido no anexo VIII, REsp n. 1.452.956/PR, o qual reflete o tema em discussão. 4. Há necessidade do valor exigido a título de taxa referir-se ao custo do serviço prestado? Caso essa referibilidade não seja verificada, é possível a restituição? No caso de excessiva dificuldade de mensurar o custo do serviço prestado, como fixar a base de cálculo da taxa? (considerar em sua resposta o exemplo das taxas judiciais – vide anexos IX, X e XI). Primeiramente, ressalta-se que a taxa não possui intuito arrecadatório, seja ela de polícia ou de serviço, devendo-se lastrear a sua instituição na finalidade de custear as despesas adquiridas com o serviço prestado ao contribuinte. Nessa esteira, o valor arcado pelo usuário do serviço à título de pagamento da taxa deve corresponder à retribuição pecuniária pelo reconhecimento daquele serviço público que utilizou, justificando assim, a razoabilidade entre o custo do serviço prestado e o valor exigido como taxa. O professor Paulo de Barros4 assim ensina sobre o tema “(...) princípio da ‘retributividade’, mediante o qual o pagamento da taxa pelo sujeito passivo haveria de corresponder à retribuição pecuniária pelo reconhecimento do serviço públicoutilizado”. Assim, verifica-se que existe, mesmo que implicitamente, um princípio retributivo em relação a cobrança da taxa, devendo o valor exigido corresponder ao custo do serviço prestado. Assim também é o entendimento jurisprudencial, conforme se denota no julgamento pelo STF do ARE 990.914, exposto no anexo IX, no entendimento de que “as taxas comprometem-se tão somente com o custo do serviço específico e divisível que as motiva, ou com a atividade de polícia desenvolvida”. Nesse sentido, verifica-se plausível o direito do contribuinte de restituição quando não verificada referibilidade entre o valor exigido à título de taxa e o custo do serviço prestado, pois, a taxa é um tributo vinculado à atuação do Estado, conforme se verifica pelo art. 77 do CTN, ou seja, o seu valor deve corresponder ao custo da 4 CARVALHO, Paulo de Barros. Direito Tributário: Linguagem e Método. 8. ed. São Paulo: Noeses, 2021. p. 807-808. Módulo Tributo e Segurança Jurídica atividade de polícia ou serviço específico que a motiva, de modo que é uma contraprestação ao serviço prestado. No tocante a fixação da base de cálculo quando ocorrer excessiva dificuldade de mensurar o custo do serviço prestado, o objeto discutido na ADI 2696 e RE 582.340 AgR, anexos X e XI, respectivamente, os quais firmaram o entendimento no sentido da legitimidade da cobrança das custas com parâmetro no valor da causa ou dos bens postos em litígio, desde que fixadas alíquotas mínimas e máximas para elas, entendo que deve-se utilizar parâmetros ou critérios, referências que estejam interligadas ao serviço prestado, porém, assim como no entendimento jurisprudencial apresentado, a base de cálculo ser estabelecida respeitando alíquotas com valores mínimos e máximos. 5. Sobre a contribuição de melhoria pergunta-se: (i) Quais os requisitos e limites à cobrança da contribuição de melhoria? (ii) A Lei que a institui deve ser produzida antes do início da obra ou pode ser posterior à sua conclusão e à valorização imobiliária? Se for apresentado laudo comprovando a perspectiva de gastos, poderia ser exigido o tributo antes da conclusão da obra e da valorização imobiliária? (Vide anexos XII e XIII). Trata-se a contribuição de melhoria de uma espécie tributária, que conforme defendido no início deste trabalho é elemento da classe universal Tributo, sendo assim, indispensável sua observância aos princípios constitucionais tributários, como por exemplo devendo se submeter ao princípio da legalidade, de maneira que a sua instituição se dará por lei específica que respeite o disposto em nossa Carta Maior. Em nossa legislação, essa espécie tributária encontra guarida no art. 145, III da CF/88, arts. 81 e 82 do CTN, bem como no Decreto-Lei nº 195/67. Tais dispositivos dispõem sobre os requisitos e limites quanto a cobrança da contribuição de melhoria. Sua natureza tributária é consecutiva da vinculação estatal à hipótese de incidência do tributo, qual seja, a valorização do imóvel face à realização de obra pública, isto é, trata-se de tributo arrecadado de quem é proprietário de imóvel circunvizinho a obras públicas que venham a acarretar valorização daquele imóvel. Nesse sentido, dois requisitos devem ser observados para a cobrança da contribuição de melhoria: a existência de obras públicas e a valorização dos imóveis dos proprietários frente a realização dessas obras públicas. Entretanto, bem ressalta Módulo Tributo e Segurança Jurídica o professor Paulo de Barros quanto a observância para cobrança desse tributo: Há algo, todavia, que deverá respeitar: o quantum de acréscimo patrimonial individualmente verificado. Ninguém pode ser compelido a recolher, a esse título, quantia superior à vantagem que sobreveio a seu imóvel, por virtude da realização da obra pública. Extrapassar esse limite representaria ferir, frontalmente, o princípio da capacidade contributiva, substância semântica sobre que se funda a implantação do primado da igualdade, no campo das relações tributárias.5 No que tange ao valor a ser arrecado dos contribuintes, a Administração Pública deverá observar os seguintes limites: a) limite do custo total da obra, também chamado de limite global, o qual a soma dos valores despendidos pelos contribuintes não pode ser maior do que o custo atingido para a realização da obra; b) limite individual, neste o contribuinte não pode pagar acima da valorização imóvel obtida com a realização da obra pública e; c) limite fiscal, neste o valor anual a ser pago pelo contribuinte não pode ser superior a 3% do novo valor fiscal do imóvel, obtido face à valorização. Adiante, para que possamos responder quanto ao momento em que deve ser produzida a Lei instituidora da contribuição de melhoria, devemos destacar o art. 150, III, “a”, da CF/88: Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: III - cobrar tributos: a) em relação a fatos geradores ocorridos antes do início da vigência da lei que os houver instituído ou aumentado; Ora, se o fato gerador da contribuição de melhoria é a valorização do imóvel situado nas áreas afetadas direta ou indiretamente pela obra pública realizada, como poderá a Lei ser instituída após tal valorização, ou seja, após já ter ocorrido o fato gerador do tributo? Estaria ferindo de morte o dispositivo constitucional acima exposto. Ademais, reza o art. 82, I do CTN que a Lei relativa à contribuição de melhoria deverá observar o requisito mínimo de publicação prévia de vários elementos, como por exemplo orçamento do custo da obra. O art. 5º do Decreto-Lei nº 195/67 também dispõe desse mesmo entendimento. Mais uma vez, mostra-se cristalino que a instituição da Lei posterior à conclusão da obra e à valorização imobiliária não 5 CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributário. 31 ed. rev. São Paulo: Noeses, 2021. p. 44. Módulo Tributo e Segurança Jurídica encontra respaldo em nosso ordenamento jurídico. Forte nesses argumentos e no princípio da irretroatividade, entende-se que instituidora da contribuição de melhoria deve ser produzida antes do início da obra. Ainda, mesmo que apresentado laudo comprovando a perspectiva de gastos, entende-se que não poderia ser exigida a cobrança do tributo em discussão antes de verificadas a conclusão da obra, bem como a valorização imobiliária decorrente dela, pois, conforme já explanado anteriormente, o fato gerador da contribuição de melhoria é a valorização do imóvel do qual o contribuinte é proprietário, ou enfiteuta, desde que tal valorização tenha decorrido da obra pública. Ressalta-se que a obrigação só surge quando confirmada a efetiva valorização do imóvel que tenha ocorrido necessariamente da conclusão da obra pública. Por fim, com base nos argumentos trazidos, corroboro com os julgados REsp 766.107/PR e ARE 1.123.627, expostos nos anexos XII e XI respectivamente, pois, a obrigação só nasce se da obra pública decorrer valorização, devendo ocorrer a incidência da contribuição de melhoria sobre o quantum da valorização imobiliária. 6. Os adicionais ao IPI, ICMS e ISS sobre supérfluos destinados ao Fundo de Combate a Erradicação da Pobreza, constantes do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (art. 79, introduzido pela EC n. 31/00), se enquadram em qual espécie? Pode o “adicional” de imposto ter destinação específica? E ser de natureza tributária diversa do tributo adicionado? (Vide anexos XIV, XV e XVI). Inicialmente, deve-se considerar que os adicionais de IPI, ICMS e ISS se enquadram na classe dos tributos não-vinculados, de modo que intimamente estão ligados à RMIT do tributo originário. Dessa forma, tais adicionais se encaixam na mesma espécie que se enquadram os próprios impostos originários, qual seja, imposto. Parece claro, que os referidos adicionais, em verdade,tratam-se de mero acréscimo de alíquota, não configurando como tributos diferentes, o que geraria uma distinção em suas materialidades. Acendemos o alerta ao relembrarmos do art. 4º do CTN, quando das denominações em relação aos tributos, ao passo que tal dispositivo afirma a irrelevância dos nomes para análise da natureza tributária dos tributos. Importante nos atentarmos a hipótese de incidência e sua base de cálculo, nos direcionando sempre ao centro da norma tributária. Em que pese o art. 167, IV da CF/88 vedar a vinculação de receita de impostos Módulo Tributo e Segurança Jurídica a órgão, fundo ou despesa, no caso em tela nos deparamos com uma exceção ao princípio da não-vinculação insculpido no dispositivo acima, exceção que foi inserida em nosso ordenamento pelo próprio constituinte por meio da EC nº 31/2000, alterando o Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, mais especificamente em seu art. 80, § 1º, vejamos: “Aos recursos integrantes do Fundo de que trata este artigo não se aplica o disposto nos arts. 159 e 167, inciso IV, da Constituição, assim como qualquer desvinculação de recursos orçamentários”. Nesse sentido, nos encontramos diante de uma verdadeira vinculação extraordinária. O STF, ratificando o entendimento exarado pelo TJRJ, por meio do RE 581.688, exibido no anexo XIV, explica de forma objetiva e clara que o adicional sobre a alíquota de ICMS sobre produtos e serviços supérfluos se trata de uma exceção inserida pelo próprio constituinte reformador, dando-se como vinculação extraordinária. Portanto, reforço o entendimento de que os adicionais em discussão têm caráter de imposto, todavia, por se tratar de uma exceção ao princípio geral tributário insculpido no artigo 167, IV da CF/88, inaplicável o princípio da não- vinculação. Após a ADI 627, anexo XVI, julgada em 1993, declarar a inconstitucionalidade da Lei n. 5.500, de 28.12.1988, do Estado do Pará ante a instituição do adicional de imposto de renda, entendendo que não pode ser instituído pelos Estados e Distrito Federal, sem que, antes, a lei complementar nacional, prevista no “caput” do art. 146, disponha sobre as matérias referidas em seus incisos e alíneas, o Supremo, por meio de RE 571.968, exposto no anexo XV, trouxe o entendimento de que o art. 4º da EC 42/2003 validou os adicionais instituídos pelos Estados e pelo Distrito Federal para financiar os Fundos de Combate à Pobreza.
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