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Planejamento de Carreira Ciências Contábeis Autores: Suleimane Seidi / André de Faria Thomáz PLANEJAMENTO DEPLANEJAMENTO DE CARREIRASCARREIRAS ciÊncias contábeisciÊncias contábeis ReitoR: Prof. Cláudio ferreira Bastos Pró-reitor administrativo financeiro: Prof. rafael raBelo Bastos Pró-reitor de relações institucionais: Prof. Cláudio raBelo Bastos Pró-reitor acadêmico: Prof. HerBert Gomes martins direção ead: Prof. riCardo ZamBrano Júnior coordenação ead: Profa. luCiana rodriGues ramos Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, total ou parcialmente, por quaisquer métodos ou processos, sejam eles eletrônicos, mecânicos, de cópia fotostática ou outros, sem a auto- rização escrita do possuidor da propriedade literária. Os pedidos para tal autorização, especificando a extensão do que se deseja reproduzir e o seu objetivo, deverão ser dirigidos à Reitoria. expediente Ficha técnica autoria: suleimane seidi / andré de faria tHomáZ suPervisão de Produção ead: franCisCo Cleuson do nasCimento alves design instrucional: ana lúCia do nasCimento / emanoela de araúJo Projeto gráfico e caPa: franCisCo erBínio alves rodriGues diagramação e tratamento de imagens: dieGo Porto noJosa revisão textual: antonio Carlos vieira Ficha catalogRáFica catalogação na publicação biblioteca centRo univeRsitáRio ateneu SEIDI, Suleimane; THOMÁZ, André de Faria. Planejamento de Carreira - Ciências Contábeis. Suleimane Seidi e André de Faria Thomáz. – Fortaleza: Centro Universi- tário Ateneu, 2018. 140 p. ISBN: 978-85-5468-164-7 1. Administração de carreira. 2. Pilares da empregabilidade. 3. Planejamento de carreira . 4. Plano de carreira. Centro Universitário Ateneu. II. Título. SSeja bem-vindo!eja bem-vindo! Caro(a) estudante, é com grande satisfação que apresento o material di- dático da disciplina Planejamento de Carreira. Ao ler e estudar por este material, você terá condições de responder as atividades no Ambiente Virtual de Apren- dizagem – AVA. Este livro está dividido em quatro unidades de acordo com a ementa da disciplina. Iniciaremos com os primeiros passos que tratam sobre as dimensões do trabalho e o conceito de carreira. Posteriormente, falaremos sobre autoconhe- cimento e descobriremos quais habilidades o profissional de hoje deve ter para manter a sua empregabilidade. Por último, propomos um plano de ação para a construção do seu projeto de carreira. Não é nosso objetivo esgotar todo o assunto, ao contrário, você deverá procurar outras fontes além deste livro para aprofundar seu conhecimento e estar sempre atualizado sobre os temas estu- dados aqui. A partir da leitura, você estará apto a corresponder às exigências solicita- das nos trabalhos acadêmicos. Bons estudos! SSumárioumário UNIDADE 01: ADMINISTRAÇÃO DE CARREIRA - CONCEITOS E IMPORTÂNCIA 1. As dimensões contemporâneas do trabalho .................................................................8 1.1. Competitividade e espírito empreendedor .........................................................10 1.1.1. A concepção de carreira ..........................................................................14 1.1.2. Perspectivas e desenvolvimento de carreiras..........................................16 1.2. Visão global sobre planejamento e gestão de carreiras .....................................18 1.2.1. Tipos de carreiras ....................................................................................22 1.2.2. Carreira proteana .....................................................................................25 1.2.3. Carreira sem fronteira ..............................................................................26 2. Estudo de carreiras no Brasil .....................................................................................29 Referências .......................................................................................................................33 UNIDADE 02: EMPREGABILIDADE: COMO GERIR A SUA CARREIRA PROFISSIONAL 1. Pilares da empregabilidade .........................................................................................36 1.1. Conceitos de empregabilidade ...........................................................................37 1.2. O papel da empresa e o papel do indivíduo ......................................................39 1.2.1. A importância da network para a empregabilidade ..................................48 1.3. As atuais demandas das organizações para contratação e manutenção dos profissionais ............................................................................51 1.3.1. Habilidades e competências ....................................................................52 1.3.2. Articulação entre estratégias empresariais ecompetências individuais ....59 Referências ......................................................................................................................66 UNIDADE 03: PLANEJAMENTO PARA UMA CARREIRA DE SUCESSO ......................67 1. Objetivos e vantagens do planejamento de carreira para o profissional de Ciências Contábeis ............................................................................68 1.1. Estratégias para o desenvolvimento do plano de carreira ..................................70 1.2. Autoconhecimento e carreira do profissional de ................................................71 Ciências Contábeis .............................................................................................71 1.3. Conhecimento de mercado ................................................................................73 1.4. Objetivos da carreira ...........................................................................................77 1.5. O papel da pessoa na gestão de carreira ...........................................................78 1.6. Auto-organização ................................................................................................80 2. Mercado de trabalho e as perspectivas para o profissional de ciências contábeis ....83 2.1. Estruturas de carreira para o profissional de Ciências Contábeis .....................86 2.2. Áreas de atuação do profissional de Ciências Contábeis ..................................89 2.3. Remuneração e salários ....................................................................................90 2.4. Últimas tendências de mercado ..........................................................................96 Referências ......................................................................................................................98 UNIDADE 04: CONSTRUÇÃO DO PLANO DE AÇÃO E UM BOM CURRÍCULO 1. Construção do plano de ação ...................................................................................100 1.1. Planejamento de carreira na área de formação ................................................103 1.2. Modelos de plano de ação ................................................................................105 1.3. Execução por etapas ........................................................................................107 1.4. Ferramentas de plano de ação .........................................................................108 2. Elaboração de currículo lattes e profissional ............................................................122 2.1. Estratégias para montar currículo, conteúdos e ...............................................122 cuidados na elaboração ..................................................................................122 2.2. Conteúdo do currículo .......................................................................................124 2.3. Modelo de currículo ..........................................................................................130 2.4. Passo a passo para elaborar o currículo Lattes................................................131 2.5. Alinhando objetivos pessoais e profissionais ....................................................133Referências ....................................................................................................................138 AdministrAção de cArreirA - conceitos e importânciAAdministrAção de cArreirA - conceitos e importânciA ApresentaçãoApresentação Veremos nesta unidade os conceitos iniciais que dão base para nossos estudos. Como em toda área do conhecimento, é importante esta fase para que possamos nos embasar e assim podermos ter propriedade sobre nossa área e seguir bem nos nossos estudos. Temos como ponto de partida as dimensões contemporâneas de trabalho e a forma como a carreira é gerenciada. É preciso entendermos esses conceitos e suas relações de forma ampla, pois estamos inseridos nesse sistema. Também vamos falar sobre como se deu a evolução dos estudos de trabalho e carreira, algumas premissas sobre o planejamento e a gestão de carreiras e conhecer os tipos de carreiras existentes ao longo dos anos. 01 Uni 88 PLANEJAMENTO DE CARREIRAS – CIÊNCIAS CONTÁBEIS • Apresentar a evolução dos estudos sobre trabalho e carreira; • Discutir os conceitos de carreira e empregabilidade no contexto atual; • Discutir como o autoconhecimento pode ajudar no planejamento de carreira; • Descrever a história e a evolução dos tipos de carreiras. 1. As dimensões contemporâneAs do trAbAlho1. As dimensões contemporâneAs do trAbAlho As dimensões de trabalho e a forma como a carreira é gerenciada vem mu- dando nos últimos anos. De acordo com FERRARI (2016), essa mudança provocou um grande impacto nas nossas vidas e tem nos levado a refletir sobre o nosso papel na realização profissional e pessoal e na forma como vemos o trabalho hoje. Segundo FARIA (2014), o mundo corporativo de hoje, em relação ao de alguns anos atrás, mudou e algumas premissas para se alcançar o sucesso na carreira profissional também mudaram. O planejamento de carreira não está mais sujeito à empresa e sim ao próprio profissional e deve funcionar como uma organização que precisa de administração, investimento e empreendedorismo. O autor nos mostra algumas destas mudanças: • Trabalhar anos em uma única empresa: antes, ficar em uma empresa durante 10, 15 ou 20 anos era considerado conquistar sucesso profissio- nal e estabilidade, hoje é um bom sinal quando há progresso durante o tempo de empresa, mas também pode significar acomodação e falta de ambição profissional para os empregadores que valorizam profissionais com experiência e vivência em culturas diferentes que lhe permitem ver sobre vários ângulos os problemas das empresas. Problemas que são cada vez mais novos e por conta disso geram muitas vezes aos profis- sionais algumas dúvidas, mas que não devem ser desculpas para não assumir que não sabem e procurar pesquisar uma saída ou tomar uma atitude, mesmo correndo riscos. PLANEJAMENTO DE CARREIRAS – CIÊNCIAS CONTÁBEIS 99 • Ter diploma é suficiente para conquistar sucesso: no mundo do tra- balho de hoje, não basta ter um curso de graduação, é necessário se atualizar constantemente para não ter a carreira estagnada. Tudo muda muito rápido, é preciso flexibilidade e manter a mente aberta para novos desafios, além de ter foco na solução e não no problema. Um exemplo disso está em um experimento que a NASA decidiu fazer: uma caneta com material eficiente para escrever em diversos tipos de superfícies e temperaturas no espaço, enquanto os EUA faziam vários testes para criar uma supercaneta, os russos saíram na frente simplesmente por, ao invés da caneta, usarem um lápis. • Conhecimento é poder: técnica e conhecimento são fundamentais para o sucesso profissional, mas de nada valem se esse conhecimento não for repassado, pois essa atitude consiste no melhor caminho para ser visto pe- los melhores parceiros, além de abrir portas para boas oportunidades. Figura 01: Compartilhar conhecimento pode ser o seu cartão de visita. REDE SOCIAL Fonte: <https://goo.gl/L974mB>. • O funcionário deixa de ser apenas uma máquina para se tornar dono: o mercado procura hoje profissionais que tenham um sentimento de propriedade pela empresa, que tomem decisões baseadas no melhor para ela e não apenas cumpram ordens dos antigos modelos de trabalho. 1010 PLANEJAMENTO DE CARREIRAS – CIÊNCIAS CONTÁBEIS Com isso, pode-se concluir que as mudanças e a imprevisibilidade são as palavras-chave das novas dimensões do trabalho, e que o profissional deve ter flexibilidade e ser multifuncional frente ao novo mercado. Assim como o mercado, o profissional também mudou e hoje assume a responsabilidade por planejar sua carreira profissional, não dependendo mais do plano de carreira direcionado pelo RH como antigamente. Somos os principais condutores dessa carreira e só temos motivação para colaborar como funcionário de uma determinada empresa se esta estiver alinhada com nossas metas pessoais e profissionais (FERRARI, 2016). 1.1. Competitividade e espírito empreendedor 1.1. Competitividade e espírito empreendedor Segundo a Associação Brasileira de Estágios (ABRES), de 2002 a 2015, o número de alunos na Educação Superior passou de 3,5 para 8 milhões. Já o total de concluintes deu um salto de 269%, passando de 479.275 para 1.150.067. Com tantos novos profissionais capacitados tecnicamente para trabalhar, teria emprego suficiente? Assim, podemos concluir que cada vez mais temos que ter um diferen- cial no ambiente de trabalho, e a maior diferenciação hoje é a atitude. Segundo Faria (2014), hoje o profissional também escolhe a empresa que quer trabalhar, tendo foco no crescimento de sua carreira. Dessa forma, ele cria seu próprio caminho, preparando-se para as oportunidades sem se tornar escravo da má administração de tempo. Por outro lado, não é valorizado o profissional que não sabe para aonde vai e com isso pouco se importa com o caminho que está percorrendo. Figura 02: Importância do foco no planejamento de carreira. Fonte: <https://goo.gl/j4F99k>. PLANEJAMENTO DE CARREIRAS – CIÊNCIAS CONTÁBEIS 1111 Um profissional que não sabe aonde quer chegar, não tem foco e com isso não permanece motivado. Motivação e entusiasmo são competências muito valorizadas no mercado atual. Segundo o site conceitos.com, competitividade empresarial é o conjunto de ações que as entidades implantam com o objetivo de potencializar seus resul- tados e fazer com que sejam as mais importantes dentro do setor. Esse signifi- cado pode ser aplicado também à competitividade individual. Hoje, com uma facilidade maior de capacitação profissional, o candidato a uma vaga no mercado de trabalho tem que ter mais do que habilidades técnicas para, assim, conseguir se diferenciar. Uma qualidade que é considerada um diferencial no mercado de trabalho é a experiência em lidar com situações difíceis, ultrapassar obstáculos e se sentir fortalecido. Segundo Faria (2014), essa qualidade também é chamada de resi- liência, que na física é a capacidade que um objeto tem de resistir a choques e manter sua forma original rapidamente. Passando para o âmbito profissional, seria a capacidade de as pessoas passarem por crises, pressões ou imprevistos saindo fortalecidas. Outra vantagem da resiliência no meio profissional é ser menos pro- penso a doenças como o estresse. Outra qualidade que conta para aumentar suas chances de ser contratado é a disposição para ultrapassar as expectativas do empregador, além de transmitir confiabilidade para atingir o sucesso da organiza- ção como um todo. Figura 03: Competitividade no mercado de trabalho. Fonte: <https://goo.gl/hyZ2ii>. 1212 PLANEJAMENTO DE CARREIRAS – CIÊNCIAS CONTÁBEIS Uma das características que pode ser decisiva para sair na frente é o Capital Intelectual, que nada mais é que a vivência de fatos, habilidades e o potencial de conhecimentos que as pessoas adquirem ao longo da vida, e a Inteligência Social, que é a compreensão do próximo, a habilidade de lidar com as pessoas ao nosso redor, exercitando a empatia. Com isso, podemos concluir que os aspectos humanosnorteiam cada vez mais as habilidades que o profissio- nal deve ter na hora de driblar a concorrência. Faria (2014) cita alguns passos para aperfeiçoar o Capital Intelectual: • Desenvolva suas habilidades fazendo cursos de aperfeiçoamento acadêmico ou técnico; • Tenha foco e comprometimento com a função que você desempenha. Não adianta ter habilidade técnica se estiver com a cabeça em outro lugar; • Vá além do que lhe é pedido, marque seu espaço para que as pessoas saibam o que foi feito por você; • Esteja aberto ao mercado e a novas informações, mesmo que não seja da sua área no momento, você pode utilizá-las futuramente; • Leia jornais, livros, mantenha-se atualizado; • Tire um tempo para se dedicar aos relacionamentos e aumentar sua network.] O segredo está em adiantar-se às necessidades da empresa e do cliente. Se você sempre estiver trabalhando na manutenção e ges- tão de seu Capital Intelectual, quando a necessidade surgir, você estará pronto para agir, ao passo que outras pessoas terão de sair em busca de informação e formação (FARIA, 2014). Quem possui essas características pode ser chamado de empreendedor ou pessoas que tem espírito empreendedor, outra característica que o novo pro- fissional deve ter para se diferenciar no atual mercado competitivo. Para Chiavenato (2004), “o empreendedor é a pessoa que consegue fazer as coisas acontecerem, pois são dotados de sensibilidade para os negócios, tino financeiro e capacidade de identificar oportunidades”. PLANEJAMENTO DE CARREIRAS – CIÊNCIAS CONTÁBEIS 1313 As pessoas estão criando seus próprios negócios num ritmo sem prece- dentes. Isto está acontecendo no Brasil, na Índia, na Hungria, na Rússia ou qual- quer outro país. Nos EUA, o número de negócios passou de 90 mil, em 1950, para mais de dois milhões hoje, cita o autor. Geralmente, as pessoas relacionam a palavra empreendedorismo a uma empresa ou ao seu dono. Mas, na verdade, esse termo diz respeito muito mais à realização de sonhos e à vontade de explorar oportunidades que surgem diante de nós. É um estado de espírito vibrante. Faz-se necessário esclarecer que o seu objeto de estudo não é a empresa, mas sim o empreendedor, podendo abranger as seguintes dimensões: criador de empresas, autônomo, intraempreendedor, empreendedor comunitário e gestor de políticas públicas. O espírito empreendedor também está relacionado ao processo de dirigir o próprio negócio, organizar os recursos necessários e assumir seus respectivos riscos e recompensas. Empreendedor é alguém que busca soluções para os problemas, que transforma sonhos em realidade, decide por si e pela empresa a melhor estratégia de penetração e posicionamento no mercado, determina o produto e o público-alvo e se empenha para alcançar os objetivos e metas traçados. Pessoas empreendedoras são intuitivas, conseguem ver alguma coisa di- ferente das outras, são ousadas, obstinadas, criativas, são pessoas que têm uma inquietação constante em querer realizar coisas, são meio insatisfeitas. Esse dese- jo de mudar as coisas, fazer algo novo ou melhorar o que existe é a forma de agir e de se comportar de um empreendedor. O empreendedor é a pessoa que deseja realizar, executar, deixar sua marca e fazer a diferença. Na busca pelo quase im- possível, só quem supera o medo de ousar é capaz de conseguir sucesso. Figura 04: O bom profissional tem um espírito empreendedor. Fonte: <https://goo.gl/rNVm9c>. 1414 PLANEJAMENTO DE CARREIRAS – CIÊNCIAS CONTÁBEIS O empreendedor é alguém que busca sua realização pessoal, de sua família, empresa ou comunidade e que sabe onde, quando e como chegar lá. E uma vez definidos os seus sonhos, ele os projeta em um horizonte futuro de aproximada- mente 15 anos. “O encontro da preparação com a oportunidade gera o rebento que chamamos sorte.” (Anthony Robbins). O mercado procura pessoas empreendedoras que tenham paixão pelo que fazem. Algo que só podemos conseguir se alinharmos prazer com aptidões. Mas o que explica a crescente popularidade da abertura do negócio próprio? As mudanças recentes na economia, como a redução de quadro de pessoal de grandes corporações, desempregou milhões de trabalhadores. Muitos desses funcionários passaram pelo trauma da demissão, porém transformaram-na em uma oportunidade de autoempregos. Outra força que impulsionou o espírito empreendedor foram as crescentes opções de franquias. Adquirir uma franquia do McDonald’s, Bob’s, Habib’s, O Boticário ou qualquer outra possibilita ao empreendedor gerir o seu próprio negócio, mas com um risco menor. As franquias possuem uma taxa de fracasso menor do que a abertura típica de um novo negócio, devido ao apoio fornecido pelo franqueador em termos de marketing, operações e administração. 1.1.1. A concepção de carreira A administração de carreiras é atualmente a resposta mais completa para as necessidades da empresa moderna na gestão de seus recursos humanos. De um lado, estimula e instrumentaliza as pessoas para pensar suas carreiras e seu desenvolvimento profissional e pessoal. De outro, oferece à empresa os conceitos e as ferramentas necessárias para pensar a gestão de recursos humanos de forma estratégica. A demanda por um sistema de administração de carreiras torna-se mais efe- tiva após a Segunda Guerra Mundial, com o aumento da complexidade organiza- cional das empresas. Os pilares da administração de carreiras, contudo, surgiram com a Escola de Administração Científica a partir da determinação de cargos e postos de trabalho e dos sistemas de diferenciação entre eles. Com o decorrer do tempo, estes mesmos conceitos transbordaram das atividades ligadas à fabricação para as atividades administrativas e comerciais das empresas (DUTRA, 1996). PLANEJAMENTO DE CARREIRAS – CIÊNCIAS CONTÁBEIS 1515 Para Dutra (2010), o estudo sobre como as pessoas e empresas lidam com as carreiras profissionais ganhou importância após a Segunda Guerra Mundial com o crescimento das organizações empresariais, mas só no início do século seguinte, criaram-se as bases para o estudo das carreiras com a Escola de Admi- nistração Científica, sendo competência exclusiva das empresas, sem nenhuma autonomia do empregado no desenvolvimento de sua carreira. Só a partir dos anos 60, com o aumento da complexidade técnica das empresas e uma maior abertura para a reflexão sobre os modos de vida, essas bases foram alteradas, surgindo as primeiras reflexões por alguns autores que pu- blicaram estudos sobre o tema em meados da década de 70, e aparecendo, enfim, nos anos 80, discussões sobre práticas de gestão de carreiras, cursos voltados para o planejamento de carreira e centros de carreira situados dentro das próprias empresas voltados para o planejamento de carreira e expectativas profissionais do trabalhador. Figura 05: Planejar a carreira é estabelecer metas. Sucesso Promoção Curso específico Promoção MBA Vaga Trainee Estágio Início Fonte: adaptado de <https://goo.gl/99QQER>. Hoje, não cabe somente às empresas a construção de uma carreira em um mercado cada vez mais incerto. O profissional é incentivado a pensar em sua vida profissional em circunstâncias totalmente diferentes do que há 40, 50 anos, em que a principal referência para o planejamento da carreira era a empresa, utili- zando, assim, ele próprio como principal referência, levando em conta as oportuni- dades oferecidas pelo mercado, com base nos seus projetos profissionais e suas aspirações pessoais para construção do seu futuro. Hall (2002) apud Dutra (2010) diz que o termo “carreira” pode ter vários significados: 1616 PLANEJAMENTO DE CARREIRAS – CIÊNCIAS CONTÁBEIS • Carreira como avanço: é a visão mais popular, no sentido de promoções de cargo; • Carreira como profissão: nesse conceito, “carreira” é somente para algumas profissões que periodicamente tem uma mudança de status progressivo; • Carreira como sequência de trabalhos durante a vida: a carreira pode ser qualquer ocupação que a pessoa desenvolva durante a sua vida;• Carreira como sequência de experiências adquiridas: representa a maneira como a pessoa experimenta a sequência de trabalho, consti- tuindo sua história de trabalho. Podemos concluir que, segundo o autor, carreira é uma sequência de atitudes e comportamentos decorrentes de sua experiência de trabalho e atividades em geral durante a vida. 1.1.2. Perspectivas e desenvolvimento de carreiras Segundo Peiperl (2000) apud Dutra (2010), na contemporaneidade, a ima- gem de segurança profissional está atrelada à empregabilidade em vez de es- tar garantida por um determinado emprego como antigamente, ou seja, os profis- sionais são incentivados a acumular conhecimento, experiência e a gerenciar suas carreiras. Para isso, é necessário autoconhecimento. De acordo com Martins (2000) apud Dutra (2010), além do autoconhe- cimento é necessário que a pessoa desenvolva um referencial próprio na sua escolha profissional, pois sem uma referência pessoal, ela tende a se perder na impessoalidade dos parâmetros externos e ser influenciada pela família, sociedade e cultura do local onde vive, e isso reduz as suas chances de autorrealização. Essa influência, segundo o autor, pode acontecer de várias formas: • Quando a família influencia a escolha inicial, seja direta ou indiretamente, nas escolhas ao longo da vida profissional ou nas mudanças de carreira, pode ser uma influência motivadora tanto quanto pode ser uma influência impeditiva se a pessoa não tiver certeza de qual careira quer seguir; • A influência da sociedade pode acontecer tanto pelas características da co- munidade onde se vive ou por interferências do grupo ou classe social que definem o que é um trabalho bem-sucedido ou não; PLANEJAMENTO DE CARREIRAS – CIÊNCIAS CONTÁBEIS 1717 • A influência cultural pode afetar as suas decisões através dos juízos de valor, que são opiniões pessoais, ou pelo significado que as pessoas atribuem a cada profissão. É necessário ter um referencial particular, apesar das influências exter- nas existirem, mesmo que não sejam percebidas, pois o não planejamento de um projeto de carreira leva a pessoa a não ter foco profissional, consequentemente suas oportunidades ficam restritas e sem possibilidade para o desenvolvimento de sua carreira. Outro aspecto fundamental para a compreensão do processo de planejamento individual de carreira é a análise da influência de valo- res, necessidades e habilidades no estímulo ou inibição de opções por carreiras. Essas influências não agem somente na escolha de carreiras, mas também afetam as decisões de movimentação entre empresas ou dentro de empresas, o peso dado aos vários aspectos de nossas vidas, a coloração que damos ao futuro, a construção de objetivos e projetos de vida (DUTRA, 1996, p. 42). O conhecimento das pessoas sobre as suas preferências profissionais habilita-as a fazer opções mais conscientes. A partir do momento que o indivíduo adquire esse conhecimento, ele consegue direcionar com mais clareza o caminho que deseja seguir em sua carreira. Essa clareza não afeta somente os aspectos da vida profissional, mas também todos os outros aspectos da vida do indivíduo. Figura 06: Perspectivas de carreiras: é preciso ter foco. Fonte: <https://goo.gl/v39eeC>. 1818 PLANEJAMENTO DE CARREIRAS – CIÊNCIAS CONTÁBEIS De acordo com o conceito âncoras de carreiras de Schein (1996) apud Dutra (2010), alguns elementos da realidade de uma pessoa determinam suas preferências, que resultam de um padrão de escolhas na sua vida profissional, influenciando escolhas, decisões para mudanças de carreiras e determinando as visões de futuro. São elas: • Competência técnica/funcional: pessoas que têm esse tipo de âncora se sentem realizadas quando enfrentam desafios em áreas técnicas e evitam áreas gerenciais caso tenham que abrir mão de sua área de es- pecialidade; • Competência gerencial geral: pessoas que têm responsabilidade ab- solutamente com os resultados da empresa envolvidos com a forma que realiza o seu trabalho; • Autonomia/independência: procuram flexibilidade, não toleram regras organizacionais; • Segurança/estabilidade: pessoas que estão preocupadas em se senti- rem bem-sucedidas, seguras e estáveis; • Criatividade empreendedora: estão focadas em uma nova criação para melhoria da empresa, dispostas a assumir riscos; o alvo é sempre a procura de uma nova oportunidade. A melhora na remuneração é en- carada como uma prova da sua capacidade profissional; • Serviço/dedicação a uma causa: são pessoas que se realizam em oportunidades de trabalho em que façam algo útil, por exemplo, ajudar pessoas, melhorar a harmonia entre elas, ou em causas ambientais; • Puro desafio: encontram desafios nos problemas insolúveis, não abrem mão de solucionar problemas de autorrisco; • Estilo de vida: nessa âncora, os profissionais não abrem mão de um equilíbrio entre família, necessidades pessoais e carreira profissional. A identidade está relacionada ao modo de vida do profissional. 1.2. Visão global sobre planejamento e gestão de carreiras1.2. Visão global sobre planejamento e gestão de carreiras Rocha (2007) apud Dutra (1996) sugere que as pessoas reflitam sobre suas carreiras de modo a buscarem um melhor aproveitamento de oportunida- des, pois quando planejam suas carreiras de acordo com a realidade dada pelo ambiente em que vivem, perdem a condição de atuar na própria realidade. Essa atuação mais forte no ambiente permite transformá-lo para melhor, de acordo com suas características pessoais e preferências. Essa reflexão permite o indivíduo PLANEJAMENTO DE CARREIRAS – CIÊNCIAS CONTÁBEIS 1919 olhar para o seu interior e identificar as oportunidades oferecidas no ambiente que o satisfaz e o entusiasma. Com isso, identificam uma melhor oportunidade de carreira, pois estão usando um padrão interior de avaliação. Tachizawa, Ferreira e Fortuna (2001) apud Dutra (2010) definem planeja- mento de carreira como: um processo contínuo que visa atender tanto ao empre- gado como à organização. No quadro a seguir, os autores explicam resumidamen- te os passos básicos para elaborar um plano de carreira. Quadro 01: Passos básicos para desenvolver um plano de carreira. AUTOCONHECIMENTO ANÁLISE DE VALORES E PERSONALIDADE Conhecimento de mercado Opções, tendências e limitações de alternativas no mercado profissional. Objetivos de carreira Deve-se definir objetivos de carreira e se perguntar: como posso estar mais feliz profissionalmente daqui a cinco anos? Estratégias de carreira Definição de estratégias para o plano proposto. Plano de ação Metas de curto período, indicadores de sucesso, pontos críticos e avaliação. Acompanhamento do plano Avaliação contínua. Fonte: adaptado de Rocha (2007) apud Dutra (2010). Quando falamos em plano de carreira, estamos nos referindo a algo formal e escrito como um documento. Segundo Oliveira (2013), plano de car- reira é a explicitação formal de um conjunto planejado, estruturado com uma sequência de estágios que legitima a realidade evolutiva de cada indivíduo de forma interativa e de acordo com as necessidades das empresas e da sociedade em que ele atua. Nesse contexto, podemos dizer que o plano precisa ser escrito para ser fi- xado e analisado a fim de se poder aprimorá-lo e seguir as etapas desse processo. Segundo Oliveira (2013), o plano de carreira tem como finalidades: • Dar foco de direcionamento profissional para as pessoas; • Facilitar a interligação entre conhecimentos diversos; • Facilitar, se necessário, a alteração do rumo profissional; • Dar maior segurança para as pessoas; • Propiciar amplo debate da vida profissional das pessoas. 2020 PLANEJAMENTO DE CARREIRAS – CIÊNCIAS CONTÁBEIS Quanto à forma de estratégia global para o plano de carreira, o autor cita: • Uma metodologia estruturada para o seu desenvolvimento e implemen- tação; • A possibilidade de se estabelecer uma situação futura desejada pelo indivíduo bem estruturada, sustentada e sequencial; • A interação entre os pontosfortes e fracos de cada indivíduo, além de capacitações, vocações e oportunidades e ameaças no mercado de trabalho. Segundo Dutra (2010), a discussão sobre carreira ainda é muito escassa no Brasil, tanto nas universidades como nas organizações, por estar atrelada significativa- mente à remuneração salarial, tendo assim um impacto sobre as empresas. Conforme o autor, a gestão de carreira, desde a década de 90, está pas- sando por transformações que são motivadas por um novo contrato psicológico entre as pessoas e as empresas que ocorre a partir de quanto os funcionários con- tribuem para o desenvolvimento organizacional. Esse novo contrato psicológico também é influenciado por algumas mudanças nas expectativas dos funcionários, pois, por conta do ambiente cada vez mais competitivo, eles percebem que o seu crescimento profissional está atrelado ao desenvolvimento contínuo, seja dentro ou em outros mercados fora da organização. Com isso, podemos concluir que as pessoas estão mais propícias a trocar remuneração por desenvolvimento profissional. Logo, as empresas mais abertas e participativas têm mais condições de criar nas pessoas um tipo de compromisso relacionado aos valores e objetivos da empresa, enquanto empresas mais controladoras têm dificuldade de obter esse mesmo comprometimento. A partir dos anos 2000, com o aumento da longevidade, as pessoas per- ceberam novas possibilidades e novos caminhos para manterem-se úteis, inde- pendentes financeiramente e com qualidade de vida. Em contrapartida, houve um encurtamento das carreiras, pois as pessoas fecham ciclos profissionais em um período mais curto, sentindo, assim, a necessidade de ter várias carreiras ao longo da vida. PLANEJAMENTO DE CARREIRAS – CIÊNCIAS CONTÁBEIS 2121 O mercado deseja hoje um profissional que se aprofunde em uma es- pecialidade, mas que também tenha uma visão ampla sobre o seu mercado de trabalho. Outra situação que segundo Dutra (2010) ajudou na necessidade de mudança de carreira foi a faixa de idade para aposentadoria proposta por grandes empresas: acima de 60 anos, ou seja, as pessoas nessa faixa etária ainda têm muita vitalidade e procuram novas carreiras, como negócio próprio, docência etc. Logo, são pressionadas a fazer uma transição de carreira. Figura 07: Transição de carreiras: uma oportunidade para um novo sucesso. Multitarefa Fonte: <https://goo.gl/oK8Up7>. O autor ainda diz que o que é esperado para as próximas décadas são pro- fissionais que escolhem cada vez mais a carreira subjetiva, pautada de acordo com os seus valores e os de sua família, e outras questões éticas ao invés da carreira objetiva com cargos e salários definidos. Já se vê hoje, nos EUA, a ten- dência de alguns jovens de diminuírem o ritmo no trabalho para se dedicarem à família e quando os filhos crescem, voltam em um ritmo mais acelerado em relação a suas carreiras. 2222 PLANEJAMENTO DE CARREIRAS – CIÊNCIAS CONTÁBEIS Figura 08: Equilíbrio entre família e carreira. Fonte: <https://goo.gl/wXzZwC>. 1.2.1. Tipos de carreiras Segundo Dutra (2010), alguns autores dividem as teorias de carreira em tradicional e não tradicional. A chamada tradicional procura conectar carreira e realização pessoal, dando ênfase à interdependência entre empresa e carreira. Podemos chamar de teoria tradicional de carreira a noção de emprego herdada na sociedade industrial, na qual o empregado fazia um acordo tácito com a orga- nização ao se dedicar e ser fiel a ela em troca de estabilidade e segurança. Nes- sa época, ter sucesso era ter um crescimento hierárquico na empresa. Nesse sentido, Dutra (2010) afirma que após a Segunda Guerra Mundial, com o aumento do mercado de trabalho, as grandes empresas investiram em planos de carrei- ra para conseguir lealdade. Surgiu, então, a profissão de gerente de recursos humanos, que tinha como função fazer com que as empresas alcançassem seus objetivos, cultivando uma força de trabalho estável. Vejamos as abordagens das carreiras tradicionais: • Abordagem do aconselhamento vocacional: são usados testes vo- cacionais com a finalidade de conseguir a pessoa certa para a vaga de trabalho; procuram identificar as principais âncoras presentes na experi- ência profissional; • Abordagem da gestão de recursos humanos: mostra o uso dos ta- lentos de cada um no desenvolvimento da carreira e prevê níveis de hierarquia em empresas paternalistas, ou seja, empresas nas quais o chefe acompanha o liderado o tempo todo, sem dar a ele a chance de solucionar problemas por si só. PLANEJAMENTO DE CARREIRAS – CIÊNCIAS CONTÁBEIS 2323 Podemos identificar nesses dois tipos de abordagem que o funcionário é inerte e o seu desenvolvimento profissional depende dos interesses da empresa. • Abordagem desenvolvimentista: trata a carreira como uma entidade orgânica formada por ciclos de vida que se desenvolvem de acordo com escolhas pessoais e circunstâncias organizacionais e econômicas. De acordo com Dutra (2010), em meados dos anos 70, as teorias sobre carreira começam a mudar, surgindo estudos sobre as teorias não tradicionais que dão ênfase a outras perspectivas, contrapondo as teorias tradicionais, tais como: • Psicologia: as pessoas são vistas como construtoras de sua própria carreira, dando significado a sua vida; • Ciências Sociais: dá ênfase a auto-organização de elementos ligados à carreira, buscando adaptar-se ao seu ambiente; • Escola de Chicago: estudos focados em situações flexíveis e dinâmi- cas ao invés de estudos burocráticos das teorias tradicionais e de sim- ples cargos de trabalho para abranger a vida individual, familiar e social do trabalhador. Conforme Dutra (2010), nos anos 90, os estudos sobre carreira ainda prio- rizavam o movimento intracompanhia em detrimento do movimento intercom- panhia, enfatizando, principalmente, as grandes organizações, ou seja, a carreira organizacional valorizava o ambiente estável que ela proporcionava. Dutra (2010) ainda enfatiza algumas características das carreiras tradicionais ou organiza- cionais pautadas na organização: Quadro 02: Características da Teoria Tradicional/Organizacional. AMBIENTE DE TRABALHO ESTÁVEL E NÃO DINÂMICO Economia É subordinada às grandes empresas que geram mais empregos. Interdependência entre funcionário e empresa Mudanças dentro da empresa causam mudanças nas carreiras das pessoas. Estabilidade A carreira em uma só empresa durava toda uma vida. Espírito empreendedor Não era incentivado como um comportamento essencial para o funcionário. Diferença entre empregado/ clientes/fornecedores Somente os funcionários eram considerados parte da empresa. Estrutura de carreira planejada pela empresa A empresa decide como quer dirigir os rumos das carreiras de seus empregados. Fonte: adaptado de Dutra (2010). 2424 PLANEJAMENTO DE CARREIRAS – CIÊNCIAS CONTÁBEIS Figura 09: Carreira na Teoria Tradicional/Organizacional. Dono Diretores Gerentes Supervisores Trabalhadores de base Fonte: Arte FATE. Segundo Artur e Rousseau (1996) apud Dutra (2010), apesar desse tipo de carreira ter predominado nos anos 80 e 90, as grandes empresas hierárquicas continuaram influenciando as pessoas e suas carreiras, entretanto, a maioria das organizações não puderam oferecer cargos vitalícios e as pessoas não tinham perspectivas profissionais de longo prazo dentro de uma única empresa, surgin- do, assim, as carreiras sem fronteiras, com a proposta de dar uma nova visão para os estudos sobre carreira. No início dos anos 1980, os chamados baby boomers (pessoas que nasceram no período do pós-guerra, no qual houve uma explosão de nascimentos nos Estados Unidos e na Europa) começaram a ocupar as posições de média gerência, fazendo com que as gerações seguintes ficassem sem espaço no mercado de trabalho (FLEURY, 2002). PLANEJAMENTO DE CARREIRAS – CIÊNCIAS CONTÁBEIS 2525 As teorias não tradicionais enfatizam a necessidade do indivíduo de gerenciar sua própria carreira. Podemos identificar dois tipos de abordagemdas teorias não tradicionais de carreira. A carreira proteana e a carreira sem fronteiras. 1.2.2. Carreira proteana A força motora dessa carreira é o sucesso pessoal e psicológico (oposto de sucesso exterior). Dentro de tal contexto, os profissionais mudam a aparência de acordo com as circunstâncias, ou seja, possuem capacidade de adaptação de conhecimentos, habilidades e competências em relação ao contexto econômico, social e tecnológico. Características que apresentam um profissional flexível, que valoriza a liberdade e acredita no aprendizado constante, buscando recompensas com seu trabalho, bem como benefícios entre empregado e organização. Hall (2002) apud Dutra (2010) cita algumas características do novo contrato proteano de carreira: Quadro 03: Características do novo contrato proteano de carreira. GERENCIAMENTO DE CARREIRA A CARREIRA É GERENCIADA MAIS PELO FUNCIONÁRIO DO QUE PELA EMPRESA Definição de carreira A carreira é uma soma das experiências ao longo da vida (qualificações, aprendizados etc.). O desenvolvimento da carreira É alcançado através do aprendizado contínuo, é relacional e encontrado em desafios de trabalho. E a escolha da carreira e autorrealização são integrados diretamente à vida da pessoa. Treinamento e estabilidade hierárquica. O treinamento é sempre informal e nem sempre a mobilidade hierárquica é para cima. A definição de sucesso Antes, segurança no emprego. Agora, empregabilidade; de ser humano do trabalho para ser humano integral. A empresa fornece Tarefas desafiadoras, desenvolvimento das relações, informações e recursos para o desenvolvimento do funcionário. Mudança na carreira A carreira pode ser redirecionada o tempo todo, seja por necessidades pessoais ou ambientais. Fonte: adaptado de Veloso e Dutra (2010). Conforme Dutra (2010), o profissional que adota a carreira proteana desenvolve um alto senso de identidade e adaptabilidade pessoal, e essa iden- tidade é vista como uma supercompetência profissional. Isso porque estimula o profissional a adquirir novas habilidades, formando, assim, um sólido senso de identidade pessoal, o que dá os elementos necessários para que o indivíduo encontre o caminho do coração, o caminho do sucesso psicológico necessário para ter êxito na carreira proteana. 2626 PLANEJAMENTO DE CARREIRAS – CIÊNCIAS CONTÁBEIS Figura 10: Autoconhecimento e identidade pessoal. Fonte: <https://goo.gl/AVJd6T>. “O termo proteana vem de Proteus, que na mitologia grega podia mudar de forma conforme a sua própria vontade. Isso explica muito sobre o que é a nova carreira proteana: a própria pessoa passa a gerenciar a sua carreira ao seu modo, tirando a organização de foco. Se as carreiras tradicionais eram lineares e previsíveis, a carreira proteana é multili- near ou multidirecional.” Fonte: <https://goo.gl/ds73jP>. 1.2.3. Carreira sem fronteira No atual contexto social, variações de carreira são formadas influenciando o comportamento das pessoas e empresas. É nesse cenário, no qual o profissional toma decisões por si só e busca oportunidades além de um único empregador, que esse tipo de carreira surge. Os profissionais desse tipo de carreira optam pela troca de emprego, às vezes trabalhando em várias empresas, criando uma rede de relacionamentos além da fronteira da empresa, aumentando a network e sen- tindo-se motivados por novas experiências. De acordo com Veloso e Dutra (2010), a construção de uma carreira necessita de escolhas e comportamentos que se espelham em outros aspectos da vida das pessoas. A carreira profissional é formada hoje por escolhas e adapta- ções sociais, envolvendo não só aquele que trabalha, mas também a sua família. Algo que leva o funcionário a sofrer muita pressão, fazendo com que as escolhas relacionadas ao trabalho ganhem mais importância para ele. PLANEJAMENTO DE CARREIRAS – CIÊNCIAS CONTÁBEIS 2727 Mas como hoje os trabalhos não são mais como antigamente, ou seja, ter um emprego fixo em uma empresa estruturada, vários outros contextos de trabalho são formados, influenciando, assim, o comportamento de indivíduos e empresas. As carreiras sem fronteiras originaram-se não só por conta dessa mudança de comportamento dos trabalhadores, mas também como uma estratégia das empresas de competição e em busca de uma maior funcionalidade e flexibilidade de trabalho. Arthur, Inkson e Pringle (1999) apud Dutra (2010) afirmam que os principais estudos sobre o planejamento de carreira foram escritos baseados na economia industrial, na qual as empresas eram burocráticas com uma rígida hierarquia. Apenas após a Segunda Guerra Mundial, com o crescimento econômico das econo- mias ocidentais, deu-se o aumento do número de organizações, oferecendo emprego e aumentando a chance do trabalhador de construir uma carreira nas empresas. Como resposta às teorias tradicionais e às mudanças sociais, as carreiras sem fronteiras surgem tendo como principais características: a) A possibilidade de o trabalho ser comercializado de forma autônoma, por exemplo, um funcionário de uma empresa prestar serviço como professor para outra or- ganização ou ministrar aulas particulares; b) Uma carreira pode ser formada por uma rede de network ou por informações externas, como corretor de imóveis; c) Outra característica de quebra de fronteiras dessa carreira se dá quando, por exemplo, profissionais técnicos são estimulados a aumentar sua rede de rela- cionamentos com a comunidade científica; d) Ou ainda quando a pessoa coloca as questões pessoais ou de família a frente da empresa, rejeitando oportunidades dentro dela. 2828 PLANEJAMENTO DE CARREIRAS – CIÊNCIAS CONTÁBEIS O autor identifica, dentre essas características, uma independência dos tipos de carreiras tradicionais, pois nas carreiras sem fronteiras o indivíduo é responsável por sua carreira futura, que ocorre com o cultivo de network e buscando sempre o conhecimento e recursos de outros indivíduos. Para Weick (1996) apud Dutra (2010), as carreiras sem fronteiras são um meio para fazer trocas de interrupções de carreira em adaptações e ressalta que as experiências de trabalho são cada vez mais separadas de empresas específicas, tornando-se mais proativas. O autor se baseia em dois termos: atuação e auto-orga- nização. Atuação, sugerindo que as pessoas sejam autores do seu próprio desti- no profissional, e auto-organização, referindo-se ao aprendizado contínuo em um mundo sem fronteiras, gerando cada vez mais a procura de continuidade a fim de gerar novas aprendizagens. O autor cita algumas características das carreiras sem fronteiras: • O indivíduo é o principal responsável pelas ações que determinam a carreira; • Mobilidade além das fronteiras organizacionais e valor do seu trabalho independente da empresa ou empregador; • Ser auxiliado por informações sobre o mercado de trabalho e por ne- twork; • Reconhecer outras formas de progresso e continuidade na carreira sem depender da hierarquia tradicional; • Conciliar as necessidades pessoais e familiares com as necessidades profissionais; • Se organizar como indivíduo para novas possibilidades de carreira sem esperar pelas possibilidades da empresa; • Saber reconhecer possíveis campos de atuação em pequenos projetos ou participar de um projeto simultaneamente a outros como forma de mobilidade e definição da carreira profissional; • Ter como principal meta de desenvolvimento profissional a aprendiza- gem contínua na carreira; • A participação e a ação sem um contrato definido como elemento para o desenvolvimento da carreira. PLANEJAMENTO DE CARREIRAS – CIÊNCIAS CONTÁBEIS 2929 As carreiras sem fronteiras surgem como resposta às mudanças no mundo do trabalho ocasionadas por alterações no contexto econômico, social e organizacional que influenciam a gestão de carreira. Considera-se que tal gestão é permeada pelo papel da pessoa no planejamento da sua vida profissional e pelo papel da organização em sua res- ponsabilidade por definir um sistema de gestãode carreiras. Figura 11: Mobilidade profissional. Fonte: <https://goo.gl/TMQ6tX>. Conforme Dutra (2010), a partir das considerações sobre as carreiras sem fronteiras, é possível ressaltar as tendências que gradualmente transformam as carreiras ao longo do tempo. 2. estudo de cArreirAs no brAsil 2. estudo de cArreirAs no brAsil O estudo da evolução das teorias de carreira mostra as transformações no cenário econômico mundial que resultam em mudanças na gestão de pessoas e no modo dos trabalhadores encararem as carreiras. Segundo Dutra (2010), no Brasil, as mudanças econômicas e organiza- cionais acompanharam as tendências mundiais, porém, o tempo destas mudan- ças nem sempre foi similar ao de países desenvolvidos. O quadro abaixo ilustra a evolução da carreira no Brasil. 3030 PLANEJAMENTO DE CARREIRAS – CIÊNCIAS CONTÁBEIS Quadro 04: Evolução da carreira no Brasil. Anos 70 Esta década foi marcada pela ditadura e repressão aos sindicatos. Com o acelerado crescimento e investimento na indústria de base, as organizações recebiam mão de obra com baixa qualificação. Segundo Dutra (2010), havia foco da gestão de pessoas em treinamento e controle, a remuneração tinha como base o tempo de serviço e a carreira era vista como “vida na empresa”. Anos 80 Marcada pela paralisia econômica, retração da produção industrial, inflação, planos econômicos e diminuição de postos de trabalho. As organizações sofriam influência dos sindicatos fortalecidos e a gestão de pessoas era con- centrada em descrição, requisitos e avaliação de cargos. A remuneração era marcada por reajustes constantes, que ocorriam através de “gatinhos” salariais, e os estudos focavam a gerência participativa. A carreira podia ser ilustrada como uma árvore de sequência de cargos (DUTRA, 2010). Anos 90 O avanço tecnológico marcou essa década, além do desemprego e da crise do sindicalismo, provocando a abertura dos mercados e a necessidade de com- petitividade nas organizações, com isso, a carreira passou a ser representada por novas possibilidades e empregabilidade. Anos 2000 Essa época foi marcada pela globalização. A responsabilidade social e a ideia de sustentabilidade influenciaram as empresas que tinha seu ambiente marcado por fusões e privatizações. O salário era baseado em competências e com um forte incentivo à gestão participativa. Conforme Dutra (2010), busca-se o alinhamento entre vida pessoal e profissional, considerando o indivíduo res- ponsável e cidadão. As carreiras gradativamente tornaram-se sem fronteiras. Fonte: adaptado de Dutra (2010). Com isso, podemos compreender que o estudo sobre as carreiras no mercado de trabalho nos permite tanto enxergar problemas na gestão de pessoas como nos ajuda a construir um planejamento de carreira mais eficaz e de acordo com nossa identidade. 1. Liste alguns exemplos de mudanças nos aspectos determinantes para o sucesso profissional atualmente. PLANEJAMENTO DE CARREIRAS – CIÊNCIAS CONTÁBEIS 3131 2. Explique a diferença entre Capital Intelectual e Inteligência Social. 3. Defina Capital Intelectual e espírito empreendedor e diga como podemos de- senvolvê-los. 4. Quais as diferenças entre carreira tradicional, proteana e carreira sem fronteiras? 5. Segundo Dutra (2010), alguns autores dividem as teorias de carreira em tradi- cional e não tradicional. Disserte sobre a carreira tradicional sem esquecer da sua importância. 3232 PLANEJAMENTO DE CARREIRAS – CIÊNCIAS CONTÁBEIS 6. Qual é a diferença que podemos notar entre abordagem do aconselhamento vocacional e abordagem da gestão de recursos humanos. 7. O que compreendemos sobre abordagem desenvolvimentista? 8. Escolha três características das carreiras sem fronteiras citadas por Weick (1996) apud Dutra (2010) e explique-as. PLANEJAMENTO DE CARREIRAS – CIÊNCIAS CONTÁBEIS 3333 9. Disserte sobre a evolução das teorias de carreira no Brasil durante os anos 80 e 90. 10. Disserte sobre competitividade e espírito empreendedor. Na primeira parte desta unidade, você descobriu o conceito de carreira e como esse conceito mudou. Pôde perceber que o profissional de hoje deve ter mais autonomia na construção da sua carreira. Também estudou sobre quais as qualidades para se construir a empregabilidade no mercado atual; desta forma, pôde perceber a importância do Capital Intelectual e do espírito empreendedor para manter a empregabilidade. Aprendeu como surgiram os estudos sobre carreira e o seu planejamento, como também a importância do autoconhecimento na construção do planejamento de carreira, e ainda de que forma a influência de fatores externos pode prejudicar essa construção. Conheceu os elementos básicos e as principais estratégias para executar um plano de carreira; e, por fim, tomou conhecimento sobre os primeiros estudos sobre carreira, além dos tipos de carreira existentes ao longo dos anos e como se deram esses estudos no Brasil. 3434 PLANEJAMENTO DE CARREIRAS – CIÊNCIAS CONTÁBEIS referênciAsreferênciAs ABRES. Estatísticas. Disponível em: <http://www.abres.org.br/v01/dados-estagia- rios-estudantes-no-brasil/>. Acesso em: 10 nov. 2017. CHIAVENATO, I. Carreira e competência: Você é aquilo que faz! 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