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filosofia do direito

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www.iesde.com.br
facebook.com/iesdebrasil
Código Logístico
58437
Fundação Biblioteca Nacional
ISBN 978-85-387-6260-7
9 788538 762607
Filosofia 
do Direito
Josemar Soares
FILO
SO
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Jo
sem
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ares
Filosofia do Direito
IESDE BRASIL S/A
2019
Josemar Soares
Todos os direitos reservados.
IESDE BRASIL S/A. 
Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 
Batel – Curitiba – PR 
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO 
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
S654f Soares, Josemar
Filosofia do Direito / Josemar Soares. - [2. ed.]. - Curitiba [PR] : 
IESDE Brasil, 2019. 
214 p.
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-387-6260-7
1. Direito - Filosofia. I. Título.
18-54466 
CDD: 469.15
CDU: 811.134.3’34
© 2009-2019 – IESDE BRASIL S/A. 
É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito do autor e do detentor dos 
direitos autorais.
Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: Woters/iStockphoto
Josemar Soares
Doutor em Filosofia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), com perío-
do sanduíche para pesquisas em universidades na Alemanha (Humboldt), França (Poitiers) e Itália 
(Padova). Mestre em Ciência Jurídica pela Universidade do Vale do Itajaí (Univali) e em Educação 
pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Bacharel em Filosofia e Direito. Professor nos 
cursos de graduação em Direito, no mestrado e doutorado em Ciência Jurídica, pela Univali, e nos 
cursos de graduação e pós-graduação da Antonio Meneghetti Faculdade (AMF). Atua há mais de 
20 anos como consultor empresarial, auxiliando instituições a realizarem suas metas por meio da 
formação de lideranças. É diretor da Kritérion Consultoria, especializada no desenvolvimento de 
pessoas e projetos empresariais por meio de metodologia filosófica e humanista.
Sumário
Apresentação 9
1 Introdução ao pensamento filosófico 11
1.1 A passagem do mito à Filosofia e a admiração ao saber 12
1.2 Os poetas Homero e Hesíodo 14
1.3 Filosofia e política na Grécia Antiga 26
1.4 A Justiça como questão filosófica 27
1.5 As principais disciplinas da Filosofia 31
1.6 A Filosofia do Direito 33
2 Justiça e Direito no teatro grego: tragédias e comédias 37
2.1 Ésquilo 38
2.2 Sófocles 40
2.3 Eurípides 46
2.4 Conclusões sobre a tragédia 47
2.5 A comédia de Aristófanes 48
3 Os primeiros filósofos pré-socráticos e sofistas 53
3.1 A Escola Jônica 54
3.2 Os pluralistas 56
3.3 A Escola Atomística 58
3.4 A Escola Pitagórica 59
3.5 A Escola Eleata 60
3.6 Heráclito de Éfeso 62
3.7 Os sofistas 65
4 A formação do homem e da sociedade grega em Sócrates e Platão 71
4.1 Sócrates e a importância do autoconhecimento 71
4.2 A justiça como paideia em Platão 75
5 Justiça em Aristóteles 85
5.1 Justiça e ética 86
5.2 Justiça na polis: a política 92
6 Helenismo e Idade Média 99
6.1 O pensamento filosófico no período helenístico 99
6.2 O epicurismo 100
6.3 O estoicismo 101
6.4 O ceticismo e o ecletismo 102
6.5 A Filosofia romana e o declínio da Filosofia antiga 103
6.6 Santo Agostinho 104
6.7 Tomás de Aquino 106
6.8 Duns Scott 109
6.9 Guilherme de Ockham 110
7 A fundação do pensamento moderno: do racionalismo ao Iluminismo 117
7.1 Francis Bacon 117
7.2 René Descartes 119
7.3 Espinoza 121
7.4 A filosofia iluminista 124
8 A fundamentação do estado moderno: os filósofos contratualistas 129
8.1 Thomas Hobbes 129
8.2 John Locke 133
8.3 Montesquieu 137
8.4 Rousseau 139
9 Liberdade interna e externa em Kant 147
9.1 A crítica kantiana – juízos a priori e a posteriori, analíticos e sintéticos 147
9.2 O pensamento político e jurídico de Kant 150
9.3 Os imperativos categóricos na metafísica dos costumes 152
9.4 Ética e Direito 154
9.5 O Estado 155
9.6 A justiça para Kant 156
10 Direito e Política na Dialética de Hegel 159
10.1 A Fenomenologia do Espírito 159
10.2 As linhas fundamentais da Filosofia do Direito 163
10.3 A família 166
10.4 A sociedade civil 167
10.5 O Estado 168
10.6 Visão geral sobre a Filosofia do Direito e o sistema hegeliano 169
11 O Direito e os dilemas da existência humana: de Marx aos filósofos 
existencialistas 175
11.1 Karl Marx 175
11.2 A filosofia de Marx 176
11.3 Søren Kierkegaard 178
11.4 Friedrich Nietzsche 180
11.5 Edmund Husserl 182
11.6 Justiça como intersubjetividade 184
11.7 Martin Heidegger 186
12 Correntes contemporâneas da Filosofia do Direito 191
12.1 Max Scheler 191
12.2 Carl Schmitt 193
12.3 Hans Kelsen 194
12.4 John Rawls 196
12.5 Habermas 198
12.6 Miguel Reale 200
Gabarito 207
Apresentação
Quem somos nós? Por que existimos? Por que nos organizamos em sociedade? Como deve 
se pautar a sociedade? Qual é o papel do Direito na sociedade? Essas e tantas outras indagações 
vêm sendo propostas pelos mais importantes pensadores desde o nascimento da Filosofia, na 
Grécia Antiga. Dos pré-socráticos aos contemporâneos, as questões da Ética e do Direito sempre 
estiveram presentes, ajudando a iluminar o caminho dos indivíduos que buscam critérios para agir 
e viver melhor, conduzindo com excelência a própria existência.
Mas, para viver melhor, além de compreender com mais funcionalidade o Direito, verificando 
quando as regras e instituições contribuem para o desenvolvimento e quando precisam ser atualizadas, 
é necessário antes aprofundamento ontológico (o que é o real) e epistemológico (como o homem 
conhece o real). Precisamos saber quem somos e o que é a realidade, para então começarmos a tomar 
decisões assertivas no cotidiano.
Buscar o real significa encontrar a dimensão do ser aqui e agora. Cada um de nós, enquanto 
indivíduo, tem uma lógica de base que nos atualiza a todo instante, sempre indicando as passagens 
existenciais e práticas que produzem crescimento e satisfação.
A Filosofia, quando utilizada com profundidade, é prática e visceral; vai no âmago de todas 
as questões que impactam nossa existência. Como devo me relacionar com os outros? Como devo 
conduzir meus pensamentos e emoções? Como devo interagir com as instituições? Como posso 
auxiliar o Direito a ser mais humanista e promotor de desenvolvimento? Para tudo isso, a Filosofia 
pode oferecer respostas adequadas, porque ela ensina o ser humano a pensar o real, separando 
aquilo que é essencial do que é acidental em cada situação. A Filosofia diz constantemente: busque 
o real (a ontologia), aprenda a identificar o real (epistemologia) e então poderá decidir com 
funcionalidade para si (ética) e para os outros (Direito).
A proposta desta obra é apresentar as concepções de Justiça na história da Filosofia, desde 
suas origens na mitologia até os pensadores contemporâneos. O diferencial é que cada autor, cada 
passagem, é aprofundado com reflexões existenciais, que ajudam o leitor a trazer os argumentos 
apresentados para os dias de hoje. A Filosofia, em sua busca incessante por respostas, traz intuições 
atemporais, que podem ser utilizadas com inteligência em qualquer contexto e período histórico. 
Da Grécia Antiga aos dias de hoje, a cada capítulo deste livro, você terá a oportunidade de 
conhecer os principais argumentos dos filósofos acerca da Justiça e do Direito. 
Trata-se de uma obra que interessa não somente às lideranças organizacionais, mas também 
àqueles que buscam uma compreensão mais profunda sobre a posição do homem na sociedade e 
o papel das organizações da sociedade civil e do Estado na criação de uma sociedade livre, justa e 
igualitária.
Boa leitura!
1
Introdução ao pensamento filosófico
Esta obra pretende apresentar fundamentos da Filosofia que depois podem ser utilizados de 
modo muito prático no dia a dia, da esfera econômica dos negócios ao cuidado com o corpo, da arte 
de cultivar amizades e relações superiores ao amor pelo conhecimento. Com a Filosofia, podemos 
entender melhor nossa posição no cosmos, na vida em geral, percebendo que cada indivíduo nasce 
com um potencial a expandir e, à medida que evolui, constrói o próprioprojeto. O homem é parte 
de uma grande sinfonia que estrutura toda a realidade.
Uma orientação prática importante na leitura deste livro é que, a cada capítulo, o leitor busque 
indagar a si mesmo o que pode mudar na própria vida a partir daqueles argumentos, quais aspectos 
abandonar, quais ações começar a implementar. Com isso, não apenas se estuda Filosofia, mas vive-
-se a Filosofia.
A Filosofia do Direito é uma parte da Filosofia. Assim, para entender adequadamente o 
movimento dos pensadores que articularam conceitos e ideias referentes a categorias como justiça, 
ética, direito, Estado, é importante esboçar algumas considerações preliminares acerca da Filosofia, 
para depois ser possível entrar com mais segurança no terreno da Filosofia do Direito.
Algumas indagações são essenciais: o que é Filosofia? A Filosofia é uma ciência? Qual é a sua 
função? Qual é o método que utiliza para analisar seus conteúdos? Como a Filosofia pode contribuir 
com o Direito? Essas são questões que tentaremos responder neste primeiro capítulo.
Veremos, no decorrer dos capítulos, que os filósofos possuem visões muitas vezes até opostas 
em relação à mesma matéria, o que poderia ser uma desvantagem à Filosofia, sob a argumentação de 
que ela não é exata e nem é capaz de ter unanimidade naquilo que se propõe a responder. Contudo, é 
justamente a partir dessa dialética contínua entre os pensadores que a humanidade foi aperfeiçoando 
sua capacidade de compreensão de si e do mundo.
Primeiro, para entendermos adequadamente o que seria a Filosofia, é preciso vê-la em sua 
totalidade de movimento, ou seja, em todo o seu percurso, sem se ater a este ou aquele filósofo. 
Talvez a melhor maneira de compreender esse conceito seja voltando justamente ao momento de sua 
criação, no tempo dos filósofos pré-socráticos na Grécia Antiga, pois, como veremos, a tônica que 
gerou a Filosofia foi a mesma que atravessou os séculos: a Filosofia como admiração/amor ao saber.
Nossa pesquisa pretende apresentar a concepção de justiça na história da Filosofia, de forma que 
o princípio originário da Filosofia não se torna aqui tão fundamental. Partiremos do fato de que, mesmo 
em povos anteriores já tendo sido despertado o pensamento acerca da verdade e a busca pela explicação 
da estruturação do universo e da vida em geral, é somente com os gregos que a pesquisa pela verdade 
recebe seus maiores contornos racionais, isto é, um estudo que diga como, de onde e por que as coisas 
são como são. Essa forma de pensar é criação própria dos gregos (HIRSCHBERGER, 1969). Nas culturas 
anteriores aos gregos, como os egípcios, os indianos e os povos da antiga Mesopotâmia, o pensamento 
Filosofia do Direito12
e a verdade não eram refletidos e construídos pelo indivíduo comum, membro da comunidade, mas 
por sentenças irrefutáveis proferidas pelos grandes sacerdotes religiosos. Os gregos, por outro lado, 
trouxeram o estudo da verdade para a dimensão humana, para dentro da vida humana, incluída aqui 
a vida política.
Contudo, a passagem do pensamento religioso para o filosófico se dá também na passagem 
do mito à Filosofia. Antes da Filosofia, eram os mitos que traziam os grandes ensinamentos morais 
e de conhecimento, de forma que entender essa mudança é entender o nascimento da racionalidade 
filosófica.
1.1 A passagem do mito à Filosofia e a admiração ao saber
Precisar o limiar transitório entre o pensamento mítico e o pensamento filosófico é uma tarefa 
difícil. De fato, conforme atesta Aristóteles no primeiro livro da Metafísica, os mitos gregos já eram 
um modo de identificar o mundo racionalmente.
Sobre essa questão, Muñoz (2008) salienta:
[...] a fronteira entre o pensamento mítico e o pensamento racional nunca foi 
inteiramente clara. Muitos procuraram indicar que as explicações dos primeiros 
“cientistas” eram o prosseguimento, se não em termos de conteúdo, ao menos 
de forma, das explicações oferecidas pelos mitos. As aspas são necessárias, pois 
suas investigações diferem daquelas produzidas pela comunidade científica 
de nossos dias por um aspecto crucial: não havia uma pesquisa experimental 
sistemática e, em muitos casos, sequer rudimentar. Se as fronteiras entre o 
pensamento racional e o pensamento mítico que o precedeu não são nítidas, 
havendo inúmeros pontos de continuidade entre ambos, isso não significa, 
porém, que não haja ruptura entre eles. O pensamento racional, aplicado 
para oferecer explicações sobre o funcionamento da comunidade política e 
do cosmo, é algo totalmente novo, ainda que sob alguns aspectos avance as 
características do pensamento mitológico que o precedeu. A originalidade desse 
novo pensamento [...] é algo fundamentalmente grego, inexistente até então. 
(MUÑOZ, 2008, p. 57)
Entre os fatores que favoreceram os gregos a serem os protagonistas dessa importante 
passagem, destacamos que eles não possuíam um sistema religioso absolutamente definido, baseado 
em um livro de revelações ou com dogmas essenciais que somente eram dominados pela classe 
sacerdotal. Os principais escritos que fundamentavam sua religião eram os de Homero e Hesíodo, 
de onde extraíram seus modelos de vida, matéria de reflexão e estímulo à fantasia.
Ademais, conforme assevera Reale (1993), existem características que diferenciam os poemas 
homéricos daqueles que estão nas origens dos vários povos; nessas obras já se manifestam algumas das 
características do espírito grego que criaram a Filosofia. Os poemas gregos se estruturam segundo o 
sentido da harmonia, da eurritmia e da proporção, do limite e da medida, uma constante da filosofia 
grega que erigirá a medida e o limite até mesmo em princípios metafisicamente determinantes.
A arte da motivação também é uma constante, no sentido de que as ações, os acontecimentos, 
ocorrem porque tiveram um motivo, uma causa que lhes deu origem. Não relatamos somente uma cadeia 
Introdução ao pensamento filosófico 13
de fatos, mas buscamos em nível fantástico-poético as suas razões, buscamos determinar pelo mito a 
relação entre causa e efeito. Pelos mitos buscamos, por exemplo, explicar a passagem das estações, os 
fenômenos naturais, bem como os sucessos e insucessos humanos. Outra característica é o retrato da 
realidade em sua totalidade de forma mítica. A posição do homem no universo estava presente no mito 
e será assunto marcante do pensamento filosófico, dessa vez sob bases puramente racionais.
Considerado todo esse contexto favorável, a passagem do mito à Filosofia, operada por Tales de 
Mileto, é marcada pela substituição da crença nas explicações dos relatos míticos pela compreensão 
racional do homem e do mundo que o rodeia. Os mitos já eram explicações do homem e do mundo 
baseadas em um profundo saber, contudo suas explicações das causas que geravam todos os efeitos 
no mundo baseavam-se na crença em um modelo que representava aquela situação.
A Filosofia, avançando nessa estrada já aberta, apresentou de modo nítido desde seu nascimento 
as seguintes características: quanto ao conteúdo, busca explicar a totalidade das coisas, toda a realidade; 
quanto ao método, busca uma explicação puramente racional da totalidade, o que vale para a Filosofia 
é o argumento da razão, a motivação lógica, o logos; por fim, o escopo da Filosofia, seu caráter é 
puramente teórico, ou seja, contemplativo, visa simplesmente à busca da verdade por si mesma, por isso 
é livre, não está vinculada a qualquer utilização pragmática, apesar de que suas conclusões influenciam 
todo o mundo prático (REALE, 1993).
Buscar as explicações de modo racional não significa que a Filosofia dissocie-se por completo 
do divino, posto que, por meio dela, é possível alcançar a dimensão do divino racionalmente. 
Conforme Aristóteles (2002), “pode-se chamar a filosofia de ‘divina’, pois além de levar o homem a 
conhecer Deus, possui as mesmas características que deve possuir a própria ciência que Deus possui, 
a desinteressada, livre, total contemplação da verdade”.
Constatamos, portanto, que a busca da explicaçãodo mundo por meio do logos é o que há de 
revolucionário no nascimento da Filosofia, e quem pela primeira vez buscou conhecer a realidade 
desse modo, sendo, portanto, o primeiro filósofo, foi Tales de Mileto, o qual concluiu que a água é 
o elemento essencial de todas as coisas da natureza.
A Filosofia é uma atividade tanto teórica quanto prática, tanto especulativa quanto existencial. 
É teórica porque busca a verdade, a determinação das causas dos fenômenos, mas também 
essencialmente prática porque é dela que podemos extrair conceitos, ideias, orientações sobre como 
viver, como se relacionar com os outros, como interagir na sociedade, como exercer a dimensão 
política, como defender e construir os próprios direitos. O fato de se dizer que a Filosofia é atividade 
de busca pela verdade de modo desinteressado não quer dizer que ela pretenda ser inútil, mera 
reflexão teórica, e sim que busca a verdade se desprovendo de todo tipo de estereótipo, preconceito e 
modos inadequados de se pensar e viver. A busca desinteressada pela verdade quer dizer isto: buscar 
a verdade acima de todas as coisas, tendo a coragem de transcender cada modelo de pensar e viver 
que o sujeito identifica como não mais essencial para uma existência ordenada, feliz, satisfatória.
A Filosofia nasce da perplexidade. Portanto, são justamente os grandes questionamentos 
que suscitam o progresso filosófico, a íntima necessidade de penetrar cada vez mais a essência do 
problema, conforme explica Reale (2002):
Filosofia do Direito14
A Filosofia, por ser a expressão mais alta da amizade pela sabedoria, tende a 
não se contentar com uma resposta, enquanto esta não atinja a essência, a razão 
última de um dado “campo” de problemas. Há certa verdade, portanto, quando 
se diz que a Filosofia é a ciência das causas primeiras ou das razões últimas: 
trata-se, porém, mais de uma inclinação ou orientação perene para a verdade 
última, do que a posse da verdade plena. (REALE, 2002)
Essa paixão pela verdade se torna uma incansável busca por encontrar as causas primeiras 
de todas as coisas, aquelas causas que respondem os grandes questionamentos e ainda geram todos 
os outros.
A necessidade de responder com maior perfeição é aquilo que gera o caminho histórico 
percorrido pela Filosofia. A história nos coloca novas interrogações, seja por determinados eventos, 
mudanças culturais, avanços das ciências, seja por mudanças de concepções das próprias pessoas, e 
todo esse universo influencia o exercício do pensar filosófico, exigindo do filósofo novas respostas, 
novas indagações. Podemos nos arriscar a dizer que enquanto o homem não conhecer com plenitude 
a verdade última das coisas, a Filosofia prosseguirá sua marcha histórica.
A história da Filosofia tem o grande valor de mostrar que esta não pode se 
estiolar em um sistema cerrado, onde tudo já esteja pensado, muitas vezes 
antecipadamente resolvido. Quando um filósofo chega ao ponto de não ter mais 
dúvidas, passa a ser a história acabada das suas ideias, o que não quer dizer que 
não gere a Filosofia nos espíritos uma serenidade fecunda, apesar da incessante 
pesquisa. (REALE, 2002. p. 8-9)
Esse é o grande mérito da história da Filosofia: apresentar o panorama geral da estupefação 
diante do saber, da necessidade existencial, talvez até metafísica, de o homem conhecer, chegar mais 
próximo da verdade última das coisas, inclusive aquilo que é idêntico, útil e funcional.
Acompanhar o percurso histórico, o que nos ocupa aproximadamente 28 séculos de esforço 
intelectual em busca da verdade e do que é justo, adequado, de direito, ajuda-nos ainda a pensar 
melhor quais são as nossas grandes questões contemporâneas, em suas diversas esferas sociais, 
econômicas, políticas, culturais, jurídicas etc.
Talvez nenhuma frase seja tão ilustrativa para essa condição humana como aquela empregada 
por Aristóteles para abrir a obra que, para ele, era dedicada ao conhecimento do saber supremo: a 
Metafísica. “Todos os homens, por natureza, tendem ao saber” (ARISTÓTELES, 2002).
1.2 Os poetas Homero e Hesíodo
Homero é certamente o maior nome da literatura grega. As duas epopeias que a sua autoria 
são creditadas, Ilíada e Odisseia1, repercutiram na formação do espírito grego como nenhum outro 
autor tão longe alcançou. A Ilíada imortalizou-se como, possivelmente, a mais impressionante 
1 A discussão sobre se Homero de fato escreveu ambas as epopeias já alcança mais de um século. Entre os eruditos 
surgem as mais diversas opiniões, desde aqueles que afirmam que Homero sequer existiu até que as epopeias seriam 
compilações de autores posteriores de versos passados oralmente de geração a geração; outros afirmam que ele 
existiu, sim, mas que apenas escreveu ou compilou uma das poesias, já que ambas contêm construções e estilos 
literários diferentes; por fim, existem aqueles que creditam a real autoria de ambas as epopeias ao poeta Homero. Para 
este trabalho, tais questões não chegam a ser de vital importância, pois o essencial aqui é captar a influência dessas 
epopeias no espírito grego, como auxiliaram nas construções dos conceitos de ética, justiça, direito etc.
Introdução ao pensamento filosófico 15
guerra já retratada literariamente. A força com que o autor apresenta os emocionantes combates, 
as inesperadas e precisas intervenções divinas, os dramas dos heróis envolvidos, as grandes questões 
que movimentam ambos os exércitos combatentes (gregos e troianos), tudo isso a torna uma obra 
de caráter único na literatura universal.
Figura 1 – Estátua de Homero
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A Ilíada apresenta a narração da célebre Guerra de Troia2. Páris, príncipe troiano, rapta Helena, 
esposa de Menelau, famoso monarca grego, e leva-a para suas terras. Decidido a recuperar sua esposa, 
Menelau pede auxílio ao seu irmão Agamemnon. Em pouco tempo, a raiva que se apossa de Menelau 
toma conta de todo o povo grego e os grandes chefes e guerreiros de todos os reinos são convocados 
a participar da guerra contra os troianos. Entre esses ilustres guerreiros estão, além de Menelau e 
Agamemnon, o enorme e forte Ajax, o sábio e velho Nestor, o astuto e protegido dos deuses Ulisses e 
o célebre personagem principal da obra, Aquiles, filho da deusa Tétis.
A Ilíada inicia-se já no nono ano de combates, no famoso episódio da discussão entre 
Agamemnon e Aquiles, que resultou na retirada do segundo do campo de batalha. São 24 cantos, 
que terminam com os funerais de Heitor, o troiano que matou Pátroclo, melhor amigo de Aquiles, 
morto por este por vingança. A violência final de Aquiles é a explosão de sua ira, tema central de 
toda a obra. Aquiles estava fora das batalhas, foi apenas quando seu amigo morreu que violentamente 
retornou aos campos e vingou Pátroclo.
Já a Odisseia narra as proezas de Ulisses em seu retorno após a Guerra de Troia. Ulisses comete 
um grande erro, devido à soberba, ao declarar não necessitar da ajuda dos deuses, o que irritou 
2 Aqui também os estudiosos se dividem. Seria a Guerra de Troia apenas uma construção literária, uma epopeia 
elaborada para enaltecer o povo grego? Ou poderia de fato ter acontecido? Algumas descobertas arqueológicas desde o 
século passado alimentam a discussão, abrindo a possibilidade de as famosas muralhas de Troia se localizarem no que 
hoje é território turco.
Filosofia do Direito16
profundamente Posêidon, o deus dos mares. Diante disso, o deus decide causar o maior número 
possível de problemas ao herói, atrasando seu retorno em dez anos. Entre as aventuras enfrentadas 
por Ulisses e sua tripulação estão a ilha do Ciclope, gigante de um olho só, a ilha de Circe, a feiticeira 
que transforma todos em animais, as belíssimas sereias, que com seus cantos irresistíveis atraem 
todos os marinheiros à morte, o célebre estreito dos monstros de Posêidon, Cila e Caríbdes, entre 
outros problemas que envolvem fenômenos naturais. Ao término da saga, Ulisses ainda precisa 
enfrentar os pretendentes de sua esposa, Penélope, que tentavam forçaro casamento com ela para 
se apossarem do trono.
Expomos o resumo geral das obras. Agora, apresentaremos algumas análises de como esses 
versos influenciam a Filosofia e o Direito.
Para Schüler (2004), a Ilíada foi produzida numa época em que o homem ainda não havia 
tomado completamente consciência de si mesmo, de forma que mais lhe impressionam as façanhas de 
heróis e deuses, no campo externo, que os dilemas psicológicos que aterrorizam a dimensão interna 
do indivíduo. Para esse autor, seria um período histórico em que o homem ainda se maravilhava 
com o mundo que o rodeava, entusiasmava-se por participar dele3.
Isso não significa que contornos psicológicos e pessoais não estejam presentes na obra. Por 
exemplo, a epopeia se inicia e termina com a ira de Aquiles, a emoção que lhe impulsiona e dá 
a tônica dos relatos. A arrogância de Agamemnon nos primeiros cantos desperta preocupação 
e resistência em seus próprios aliados, ao verem como ele facilmente entrou em contenda com 
Aquiles, fazendo com que este último se retirasse do combate. Até mesmo os deuses, como já é 
frequente nas lendas gregas, não escapam de questões psicológicas, opiniões e preferências que por 
vezes os aproximam dos humanos. Logo no início, Apolo, o deus Sol, lança epidemia aos gregos, 
devido à rejeição de Agamemnon em devolver sua escrava Criseida, filha de Criseis, sacerdote de 
Apolo. Depois, vendo Aquiles, seu filho, sendo humilhado perante os gregos, Tétis implora a Zeus 
que dê a vitória aos troianos, até que se arrependam e peçam perdão a Aquiles. Também por várias 
vezes, Atena é enviada ao campo de batalha e aconselha um ou outro guerreiro. Logo no Canto II, 
inclusive, vemos Zeus com dificuldades para dormir diante das reflexões que lhe vinham à mente, 
provocadas pelo inesperado pedido de Tétis.
Contudo, é na Odisseia que vemos sinais mais evidentes dos dilemas humanos, vestígios 
de aspectos psicológicos que circundam aquela obra; na Ilíada, não obstante, ainda se presencia 
sobretudo o fascínio do homem pela descoberta de si mesmo e do mundo. Na Ilíada não se pensa em 
limites para a ação heroica, mas na vontade e no ato de conquistar por inteiro esse mundo. É nesse 
cenário que surge a figura do herói, a clássica imagem da poesia homérica. Em um primeiro momento, 
como Schüler observou, é importante notar que, no proêmio, o objeto principal da narração da 
Ilíada, a causa primeira da história heroica, é a ira de Aquiles, e somente secundariamente aparece 
3 Sintaticamente o objeto (ira, o herói, Ílion) precede o sujeito. A atenção, tanto do poeta como do ouvinte, está presa 
no objeto. O objeto mantém o sujeito oculto. Vive-se num período em que o homem ainda não tomou inteira consciência 
de si mesmo: entusiasma-se pelo grande espetáculo do mundo, é fascinado pelas obras dos deuses e dos heróis, sente 
prazer em nomear o mundo rico que se desdobra diante de seus olhos e não se apercebe de si. Não lhe ocorrem suas 
dúvidas, dores ou conflitos pessoais. Não olha para dentro de si mesmo. O mundo o absorve inteiro. Na cultura em que 
o homem só tem olhos e ouvidos para o mundo e para o outro, nasce a epopeia com as estupendas façanhas dos heróis 
e deuses.
Introdução ao pensamento filosófico 17
como causa a vontade de Zeus. O homem ainda não havia olhado para dentro de si completamente, 
de forma que seus limites não estavam completamente estruturados. Não tão dependente de Zeus, 
o homem aparecia a si mesmo como ilimitado, e nisso consistia a façanha heroica. O significado 
de colocar a causa principal do ciclo da Ilíada na ira humana, e não na vontade divina, revela que o 
destino, ainda que existente na cultura helênica, não absorvia de modo integral o homem, de forma 
que suas ações e seus resultados eram responsabilidades suas.
Também se situa aqui o episódio do Canto II, em que Zeus envia um sonho a Agamemnon, 
na forma do confiável Nestor, no qual este aconselha o herói a invadir imediatamente Troia, pois 
aí teria a vitória. Porém Agamemnon, após uma breve exaltação, deu-se conta da falsidade da 
mensagem, que na verdade tratava-se de uma armadilha. Zeus preferia Aquiles a Agamemnon, e o 
chefe dos gregos era consciente disso. Os deuses, sim, interferem, mas os humanos são livres para 
aceitar ou mudar seus destinos.
Na exaltação do herói, encontramos ainda outra característica marcante da poesia homérica, 
em especial a Ilíada: a presença do destino. Contudo a ideia homérica de destino não se confunde 
com um ciclo fechado, em que a vida do indivíduo está previamente estabelecida. Para Homero, 
o destino, as moiras4, assemelha-se a uma ordem superior à que não somente os humanos, mas 
inclusive os deuses submetem-se. É por isso que tanto na Ilíada como na Odisseia, nem os deuses 
podem criar o destino por suas próprias vontades, mas agem e criam caminhos. Na ideia de destino 
dos gregos está aberta a responsabilidade do indivíduo, da livre escolha, o homem pode criar uma 
nova via dentro do cenário predeterminado pelo destino, que não é, portanto, um roteiro inflexível. 
Esse destino possui relação com a ordem das coisas, e aqueles que adentram seus mistérios são, de 
fato, os homens mais corajosos, heroicos e sábios5.
Nesse sentido, os poemas homéricos não estão situados tanto no conhecimento do homem a 
si mesmo, mas no desvelar de seu espírito impetuoso e heroico. A Homero não interessam tanto os 
dilemas que afetam a vida humana, embora reconheça que existam, mas a necessidade de estender 
o domínio do homem nesse mundo que serve de palco e cenário para conquistas. É por isso que a 
figura que se glorifica é a do herói, que não pode temer o destino nem enfrentar a ordem natural das 
coisas, mas adentrá-la e ali criar a história. Homero cria um mundo limitado, mas que permite atitudes 
ilimitadas nesse círculo, ainda que o homem não possa tudo fazer, pode, dentro do seu possível, ter 
atitudes heroicas. Homero “louva e exalta o que no mundo é digno de elogio e de louvor. Assim como 
os heróis de Homero reclamam, já em vida, a devida honra e estão dispostos a conceder a cada um a 
estima que tem direito, assim todo o autêntico feito heroico é sedento de honra” (JAEGER, 2003, p. 68). 
Como se vê, Homero enaltece e louva a atitude heroica, porque esta é digna de honra, de forma que o 
herói passa a constituir o ideal de homem para o grego em geral. As palavras de Homero ecoaram por 
4 Na mitologia grega, eram as três Parcas, divindades do mundo dos mortos, governado por Hades, que fiavam 
o destino dos homens e a qualquer momento poderiam extinguir a vida de qualquer mortal, bastando para isso que 
cortassem determinado fio.
5 A preocupação com o destino e com a ordem imanente do universo inspiraria vários fenômenos sociais e religiosos 
no mundo grego, como as famosas sentenças do Oráculo de Delfos, a religião dos Mistérios de Elêusis e a seita órfica. 
Era comum a compreensão de que havia uma ordem natural, da qual nem homens nem deuses poderiam escapar. 
O espírito grego aspirava a compreender essa realidade. Relembremos, também, que tanto Platão como Aristóteles 
situavam a máxima felicidade na contemplação da realidade, no pleno entendimento do mundo.
Filosofia do Direito18
toda a história helênica, transformando-o em um educador de toda a Grécia, e a educação homérica 
baseava-se justamente na educação do herói, de sua honra e coragem, da sua nobreza de espírito ao 
deixar-se guiar pelas virtudes e atitudes de louvor, que somente o homem ativo e criador é capaz de 
realizar, ao contrário do herói passivo, que somente deixa viver, conforme foi citado anteriormente. 
Jaeger, ao comentar a proposta pedagógica de Homero, assinala que “os mitos e as lendas heroicas 
constituem um tesouro inesgotável de exemplos e modelos da nação, que neles bebe o seu pensamento, 
ideais e normas para a vida” (JAEGER, 2003, p. 68).
Esse ideal de herói se tornaria, posteriormente, uma espécie de lei para o cidadão grego, pois 
a poesia e o mito, antes mesmo da lei, foram as primeiras manifestaçõesda educação. Antes de o 
membro da polis obedecer ao Direito, ele já havia se habituado a cultivar-se no ideal de homem 
difundido pela poesia homérica, que tem na ira de Aquiles sua mais alta representação.
A Ilíada celebra a glória da maior aristeia da guerra de Troia, o triunfo de 
Aquiles sobre o poderoso Heitor, em que a tragédia da grandeza heroica votada 
à morte se mistura com a submissão do homem ao destino e às necessidades da 
sua própria ação. É o triunfo do herói, não a sua ruína, que pertence à autêntica 
aristeia. (JAEGER, 2003, p. 75)
Nessa ação ousada e deliberada de colocar a própria vida em risco para elevar-se à glória 
heroica consiste toda a força educadora da Ilíada. Os gregos não viam em Aquiles um herói comum, 
realizador de grandes feitos, mas que perece no ato de tentar mais uma ação, mas o mais nobre 
dos heróis, aquele que é capaz de antecipadamente saber que o maior dos feitos exige também o 
maior dos sacrifícios. É essa moral, centrada essencialmente na figura heroica, no Aquiles da Ilíada 
homérica, que consolidará historicamente o ideal de homem da cultura grega. A moral homérica não 
estava preocupada com o cidadão comum, desejoso tão somente de uma vida prazerosa e tranquila, 
como teria sido a vida de Aquiles, mas com o herói, capaz de entregar a própria vida pelo ato heroico, 
de estar sempre pronto a arriscar sua existência desde que seja em prol de uma causa nobre.
O heroísmo e o destino do herói ligado à morte6 revelam ainda outro traço marcante de Homero, 
que influenciaria o pensamento grego em geral: a ideia de uma lei superior e universal. Há um ritmo 
uniforme, permanente, em que todo o movimento se realiza por ação própria, e nisso entram as ações 
de homens e deuses, heróis e não heróis. Trata-se de uma lei maior que governa a vida em geral e que 
se situa no limiar da Moral e da Ética. Homero preenche seus poemas com temas morais e naturalistas, 
descreve não somente as lutas, mas também a natureza, o cenário dos episódios, e a passagem dos 
tempos, demonstrando que além das façanhas humanas existe um limite imposto por uma lei universal. 
Dentro desse limite situa-se a Ética, como ciência que estuda a conduta humana.
6 Contudo, há uma passagem importante na Odisseia, de um diálogo entre Ulisses e a psykhé de Aquiles no mundo 
dos mortos. Nesse trecho, constante no Canto XI, a sombra de Aquiles declara, quase em um alento de saudade, que as 
honras e lembranças dos grandes feitos só possuem validade entre os vivos, e tudo não passaria de sombras entre os 
mortos. Por esse pensamento, qualquer vida, ainda que miserável, poderia ser entendida como superior à morte. Seria 
preferível uma vida longa e sem glórias a um reinado no mundo dos mortos. Tal interpretação modificaria a visão de um 
Aquiles resoluto por uma vida trágica. (ASSUNÇÃO, 2003).
polis: cidade-
estado na Grécia 
Antiga.
Introdução ao pensamento filosófico 19
Para Homero, como para os gregos em geral, as últimas fronteiras da Ética não 
são convenções do mero dever, mas leis do ser. É na penetração do mundo por 
esse amplo sentido da realidade, em relação ao qual todo “realismo” aparece 
como irreal, que se baseia a força ilimitada da epopeia homérica. (JAEGER, 
2003, p. 78)
Há uma ligação do humano com o divino que permeia os poemas homéricos, tanto nas 
inúmeras interferências dos deuses na Guerra de Troia como nas inspirações provocadas por 
Atena na viagem de Ulisses. Homero não está preocupado em invadir o mundo interior de suas 
personagens, explorando suas emoções, mas sim as ações, os movimentos do mundo exterior que 
constituem a realização heroica. Cada ação, mesmo a cólera de Aquiles, tem dois lados: um humano, 
a motivação psicológica da personagem, e outro divino, que em geral se baseia em vontades dos 
deuses ou na causa primeira de tudo, a vontade de Zeus, o deus supremo. Há, portanto, uma ordem 
estável, que na Ilíada chega inclusive a ser descrita na forma de concílios entre os deuses, que, ainda 
que em alguns momentos se revele conflituosa entre as próprias figuras divinas, demonstra como 
além do protagonista existe sempre outra ordem a julgar e decidir o futuro.
Também a Odisseia é repleta delas. Toda a saga de Ulisses é permeada tanto pelo dilema 
psicológico, a sua soberba contra os deuses, como pela vontade divina, de Posêidon, em prejudicar 
o herói. Contudo, nesse limiar do humano com o divino, existe uma ordem que supera inclusive tal 
ligação. Por exemplo, mesmo Posêidon desejando aniquilar Ulisses por sua soberba, assim não pode 
fazê-lo, pois o destino do herói já estava traçado, já estava determinado que ele deveria retornar à sua 
terra natal. Nesse contexto, Posêidon poderia apenas causar-lhe mais problemas e atrasar sua viagem.
Tal situação poderia parecer ao leitor contraditória, pois para que Posêidon provocaria tantos 
problemas se Ulisses estava destinado a triunfar? Porém, somente quando alcançou o limite de 
seu sofrimento existencial, Ulisses compreendeu que era sua soberba quem lhe provocava tantos 
problemas. Ao realizar a passagem de humildade tornou-se novo homem, mais preparado para 
os novos desafios. Há uma justiça superior em Homero, que liga o humano ao divino e inclusive 
apresenta consequências além dessa dimensão. Tal justiça surge ainda em sua mais profunda acepção, 
aquela em que a Ética se preocupa com a formação do homem.
É nesse sentido espiritual, que inclusive antecipa muitas ideias da filosofia grega em geral, 
que se encontra a ideia de justiça em Homero. A justiça homérica está estabelecida em um patamar 
elevado em que se liga o humano ao divino, nos limites éticos da ação humana que, embora motivada 
a expandir-se ao infinito e à arete do herói, chega sempre a um momento em que a ordem natural e 
superior das coisas, a lei universal, põe um fim. A ação ética não pode ser separada do movimento 
natural do universo, da fluidez do mundo exterior. O homem grego cultuado por Homero é aquele 
que, dentro desse cenário aparentemente limitado, é capaz de, por meio das virtudes do herói, 
realizar e construir uma vida sublime. A justiça está nesse agir ético, é uma concepção de justiça que 
se define a partir de um ideal de homem formado pelo cultivo das virtudes do herói, tendo a coragem 
arete: na poesia 
homérica, é a virtude 
heroica, a excelência 
na realização de 
atos corajosos e 
vitoriosos.
Filosofia do Direito20
como cerne. Nesse sentido, a justiça é uma virtude interna, e sua prática não é uma obediência às leis, 
mas o ato de se guiar pelas virtudes éticas do herói e do ideal de homem grego, do homem nobre.
Depois de Homero, houve outro grande poeta que influenciou bastante a formação do ideal 
grego de homem justo e ético: Hesíodo. Contudo, havia diferenças marcantes entre os dois. Hesíodo 
vivia em um tempo que não era tão dourado quanto o de Homero. Se em Homero era essencial 
cantar as façanhas dos heróis, em Hesíodo era mais importante cantar mensagens que ajudassem 
o povo agricultor e trabalhador a levar uma vida mais digna. Em Hesíodo se vê o segundo grande 
educador, agora não dos heróis e nobres, mas do povo e dos cidadãos comuns. O ideal de heroísmo 
trazido por Homero persiste, mas agora não revelado apenas nas lutas e guerras grandiosas, mas 
também no árduo trabalho cotidiano.
Figura 2 – Retrato de Hesíodo
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De Hesíodo nos chegaram duas poesias: a Teogonia e Os trabalhos e os dias. A primeira narra, 
em forma de mitos, a origem genealógica dos deuses, desde os deuses primordiais, que participaram 
da criação do universo, segundo a visão religiosa da Grécia Antiga, e depois as gerações seguintes de 
deuses, até os deuses olímpicos, como Zeus, Posêidon, Hades, Hera, Atena, entre outros. Também 
apresenta a lenda que dá origem aos humanos: o roubo do fogo sagrado por Prometeu e a criação 
de Pandora, a primeira mulher.
Já Os trabalhos e os dias possui conotação bastante diversa. Aqui, é o próprio poeta, falando 
em primeira pessoa,com o dom da palavra e da verdade inspirado pelas musas7, que procura dizer 
algumas verdades ao seu irmão Perses, com quem o poeta discute alguns bens a serem distribuídos 
em sucessão. Hesíodo procura demonstrar ao seu irmão como Zeus deseja a justiça e pune os 
7 Na mitologia grega, as musas eram as nove filhas da união de Zeus com Mnemósina, que personifica a memória. 
Nasceram logo após a grande vitória dos deuses olímpicos contra os titãs, para justamente cantar as enormes façanhas 
dos vencedores. “As musas são apenas as cantoras divinas, cujos coros e hinos alegram o coração dos Imortais, já 
que sua função era presidir ao pensamento sob todas as suas formas: sabedoria, eloquência, persuasão, história, 
matemática, astronomia. Para Hesíodo, são as musas que acompanham os reis e ditam-lhes as palavras de persuasão, 
capazes de serenar as querelas e restabelecer a paz entre os homens. (BRANDÃO, 1997, p. 150-151)
Introdução ao pensamento filosófico 21
injustos, de como a justiça está pautada na medida, e a hýbris (excesso) é aquilo que os deuses não 
aceitam. O poeta também fala a seu irmão do valor do trabalho, que representa a vitória pessoal 
dentro de um caminho honesto. Tudo isso traz o poeta por meio de relatos míticos: as duas lutas, 
Prometeu e Pandora e o mito das cinco raças.
É, portanto, em Os trabalhos e os dias que concentraremos os nossos estudos, sobretudo na 
importância que o poeta dedicou às categorias justiça e trabalho e em como elas se entrelaçam numa 
conotação pedagógica para seu povo.
Em Hesíodo revela-se a segunda fonte de cultura: o valor do trabalho. O título 
de Os Trabalhos e os Dias dado pela posterioridade ao poema rústico didático de 
Hesíodo, exprime isso perfeitamente. O heroísmo não se manifesta só nas lutas 
em campo aberto, entre os cavaleiros nobres e seus adversários. Também a luta 
silenciosa e tenaz dos trabalhadores com a terra dura e com os elementos tem o 
seu heroísmo e exige disciplina, qualidades de valor eterno para a formação do 
Homem. Não foi em vão que a Grécia foi o berço de uma humanidade que põe 
acima de tudo o apreço pelo trabalho. A vida despreocupada da classe senhorial 
em Homero não deve induzir-nos em erro: a Grécia exige dos seus habitantes 
uma vida de trabalho. (JAEGER, 2003, p. 85)
Hesíodo centra seus esforços na formação do cidadão comum, o cidadão de seu tempo, ligado 
a uma época ainda agrária da história helênica. A região grega não possui um solo rico, os benefícios 
que podem ser tirados dele somente surgem se arrancados mediante o trabalho árduo, uma verdadeira 
luta do homem com a natureza. Hesíodo narra a “idade do ferro”, um período distante dos tempos 
dourados, que em sua passagem cronológica teve como resultado a “subversão do direito, da moral e da 
felicidade humana nos duros tempos atuais” (JAEGER, 2003, p. 87). A passagem da história das cinco 
idades do mundo, que Hesíodo narra em Os trabalhos e os dias, revela esse sentimento pessimista que 
tem na idade do ferro seu ápice8. Existiram cinco raças de humanos: a raça de ouro, a raça de prata, a 
raça de bronze, a raça dos heróis e a raça de ferro. Cada raça possui uma vida mais breve e mais sofrida, 
mais abalada pelas misérias do mundo do que a raça anterior (na ordem apresentada).
Ainda assim, esses camponeses a quem Hesíodo se dirigia de modo algum devem ser 
confundidos com sujeitos incultos. Na Grécia hesiódica, em particular na Beócia, região onde vivia 
o poeta, ainda não existiam as grandes metrópoles. As cidades eram ainda bastante rurais, o que 
não impediu que a população já cultivasse o espírito político, ético e jurídico. Na região da Beócia, 
os cidadãos reuniam-se em grande número nas cidades para discutir as questões políticas e impedir 
a opressão das classes mais elevadas da sociedade. Exemplo disso está no poema de Hesíodo em 
8 Um rápido resumo das cinco raças é importante também para compreender a diferença de “eras” que Hesíodo via na 
sua era, em comparação àquela narrada por Homero. A primeira raça é a de ouro, nela os homens viviam com os deuses, 
e por isso não conheciam miséria nem dor. A segunda raça é a de prata, bastante inferior à primeira, pois aqui os homens 
vivem 100 anos como crianças junto às mães, e logo quando alcançam a adolescência morrem porque não conseguem 
conter a louca hýbris dentro de si, o excesso provocado pelas paixões arrebatadoras. A terceira raça é a de bronze, 
dedicada às práticas de guerra e à violência; trabalham o bronze na confecção de armas, e vivem e morrem lutando; a 
quarta raça é a dos heróis, dos semideuses, que perecem como heróis mas depois suas almas habitam tranquilas a Ilha 
dos Bem-Aventurados; aqui se situam os heróis da Ilíada, por exemplo, e por isso a poesia homérica situa-se nessa era; 
por fim, a quinta raça é a do ferro, aquela em que vive Hesíodo, quando os homens são obrigados a trabalhar durante 
toda a vida para não morrerem de fome e miséria. (HESÍODO, 1996, p. 79-80).
Filosofia do Direito22
que o autor critica severamente o seu irmão Perses, que entregava a vida à preguiça, à inveja e às 
reclamações9.
Em outra passagem, não menos incisiva, o poeta denuncia os corruptos juízes de seu tempo, 
utilizando-se de uma fábula, a do gavião e do rouxinol. Essa fábula abre a seção de seu texto intitulada 
A justiça:
Agora uma fábula falo aos reis mesmo que isso saibam. Assim disse o gavião 
ao rouxinol de colorido colo no muito alto das nuvens levando-o cravado nas 
garras; ele miserável varado todo por recurvadas garras gemia enquanto o outro 
prepotente ia lhe dizendo: “Desafortunado, o que gritas? Tem a ti um bem mais 
forte; tu irás por onde eu te levar, mesmo sendo bom cantor; alimento, se quiser, 
de ti farei ou até te soltarei. Insensato quem com mais fortes queira medir-se, 
de vitória é privado e sofre, além de penas, vexame. (HESÍODO, 2002, p. 39-40)
Essa é uma crítica feroz de Hesíodo, que, ao se tornar porta-voz de seu tempo, denuncia a 
opressão que vivia grande parte da população diante daqueles que mantinham os poderes políticos 
e econômicos. A denúncia é pontual, direta aos corruptos. Tal crítica não pode ser resumida a uma 
classe da comunidade, mas a todos aqueles indivíduos que detêm mais poder e representação, sejam 
posições sociais, jurídicas, econômicas, políticas, e por essa vantagem se aproveitam da vida dos 
demais indivíduos e brincam com ela, tal como o gavião brinca com o rouxinol. Outra mensagem 
importante nessa citação é que Hesíodo aconselha a não se medir com aqueles considerados mais 
fortes, pois, assim como o rouxinol nada pode fazer com o gavião, um homem comum só tem a 
perder se decidir enfrentar alguém de maior poder e influência social. Hesíodo reprova o caminho 
dos conflitos e das intrigas e aconselha a todos a percorrerem o caminho do trabalho, que é mais 
digno, honesto, e os frutos são merecidos, pois são conquistados pelo próprio esforço e mérito, além 
de não exigir se medir com indivíduos mais poderosos.
Percebemos, então, como a ética de Hesíodo distancia-se da ética homérica por tentar situá-
-la em um plano mais terreno, material, diferente da grandiosidade da Ilíada e da Odisseia, que 
buscam um ideal elevado de homem, talvez difícil de ser alcançado. O ideal de Hesíodo relaciona-se 
diretamente à situação histórica de seu povo, tem efeitos práticos imediatos, é a luta cotidiana contra 
o solo, contra a natureza, contra a opressão, é a luta dos cidadãos comuns pela aplicação do Direito. 
Nesse sentido, Hesíodo diferencia-se ainda mais de Homero, sua poesia abandona a objetividade 
da epopeia e encarna o ideal de seu povo, passando a defender o Direito e atacar a injustiça em 
primeira pessoa.
Em Hesíodo introduz-se pela primeira vez o ideal que serve como ponto de 
cristalização a todos esses elementos e adquire uma elaboração poética em 
forma de epopeia: a ideia do Direito. A propósito da luta pelos próprios Direitos, 
contra as usurpações do seu irmão e a venalidade dos nobres, expande-se no 
mais pessoal dosseus poemas, “Os Erga”, uma fé apaixonada pelo Direito. A 
grande novidade dessa obra está em o poeta falar na primeira pessoa. Abandona 
a tradicional objetividade da epopeia e torna-se porta-voz de uma doutrina que 
maldiz a injustiça e bendiz o direito. É o enlace imediato do poema com a disputa 
9 Vejamos um trecho de Hesíodo: “trabalha, ó Perses, divina progênie, para que a fome te deteste e te queira a bem 
coroada e veneranda Deméter, enchendo-te de alimentos o celeiro; pois a fome é sempre do ocioso companheira; deuses 
e homens se irritam com quem ocioso vive”. (HESÍODO, 2002, p. 45)
Introdução ao pensamento filosófico 23
jurídica sustentada contra o seu irmão Perses, que justifica essa ousada inovação. 
Fala com Perses e dirige a ele admoestações. Procura convencê-lo de mil maneiras 
de que Zeus ampara a justiça, ainda que os juízes da Terra a espezinhem, e de que 
os bens mal adquiridos nunca prosperam. (JAEGER, 2003, p. 91)
Tal como o poeta da Ilíada e da Odisseia, Hesíodo também concebe o Direito e a Justiça como 
bens divinos, relacionados a Zeus, e as injustiças terrenas como meros fatos existenciais humanos. 
Hesíodo se põe como interlocutor das musas, e não como o autor propriamente dito, de forma que 
em várias partes de seu poema há prodigiosas preces a Zeus e argumentos tentando convencer Perses 
da condição divina da Justiça, por ser esta obra do senhor do Olimpo.
O fato de se pôr ainda em primeira pessoa revela esse caráter apelativo, de compreender Os 
trabalhos e os dias não somente como poema didático, mas também como clamores de todo um povo 
por justiça. A veemência com que Hesíodo maldiz a injustiça e as condutas de Perses corroboram 
essa ideia.
Àqueles que a forasteiros e nativos dão sentenças retas, em nada se apartando 
do que é justo, para eles a cidade cresce e nela floresce o povo; sobre esta terra 
está a paz nutriz de jovens e a eles não destina penosa guerra o longevidente 
Zeus: nem a homens equânimes a fome acompanha nem a desgraça: em festins 
desfrutam dos campos cultivados; a terra lhes traz muito alimento; nos montes, 
o carvalho no topo traz bálanos e em seu meio, abelhas; [...] Àqueles que se 
ocupam do mau excesso, de obras más, a eles a Justiça destina o Cronida, Zeus 
longevidente. Amiúde pega a cidade toda por um único homem mau que se 
extravia e que maquina desatinos. Para eles do céu envia o Cronida grande 
pesar: fome e peste juntas, e assim consomem-se os povos [...]. (HESÍODO, 
2002, p. 39-41)
Um governante corrupto, portanto, atrai sozinho toda a desgraça para o seu povo, pois pratica 
atos injustos que são odiados por Zeus. Hesíodo pontua aqui a responsabilidade maior dos líderes, 
que, por representarem interesses de toda uma população, não devem pensar somente em si mesmos, 
mas na coletividade, pois o fracasso deles é também fracasso de muitas outras pessoas. Hesíodo 
lamenta ter nascido em um momento histórico em que vigora unicamente o direito do mais forte, 
e não a justiça em seu sentido pleno e divino.
Essa passagem também pode ser transportada para a esfera jurídica da contemporaneidade, 
como crítica aos juízes que não exercem suas profissões com a devida ética que deles se espera. Em 
muitos casos impera o direito do mais forte, dos juízes que, comandando o Direito, fazem da Justiça 
um instrumento para alcançar seus interesses e satisfações. O gavião não está preocupado com a 
vida e o destino do rouxinol, assim como muitos juízes não se interessam pela vida das partes que 
chegam até ele querendo resolver um conflito. Essa atitude autoritária reduz o Direito a um simples 
instrumento, longe de sua antiga acepção divina e nobre que tanto foi sustentada por Homero 
ao enaltecer as virtudes do herói. Salienta-se, porém, que o objetivo de Hesíodo é pedagógico, é 
demonstrar a fraqueza do Direito de seu tempo, ensinando aos indivíduos comuns como interagir 
no processo judicial e tentando romper com o autoritarismo dos juízes e senhores do poder. Ao 
mesmo tempo que critica os poderosos senhores corruptos, orienta o cidadão a não travar essa 
guerra, a seguir sua vida trabalhando arduamente dia a dia.
Filosofia do Direito24
Ainda na temática Justiça, Hesíodo trabalha a questão do Direito na ideia de um processo. 
Nesse sentido, a luta divina dos heróis em Homero converte-se na luta pelo Direito em Hesíodo, 
representada na forma do processo. Porém a luta divina em Hesíodo é diferente daquela em Homero, 
no que concerne à participação dos deuses nos grandes eventos. Se na Ilíada e na Odisseia os deuses 
faziam intervenções no decorrer da história, favorecendo esse ou aquele personagem, Hesíodo se 
limita a rogar a Zeus para que se faça a justiça, pois sua condição humana, pertencente à raça de 
ferro, não lhe garante acesso a esse nível de conhecimento, o das ações e intenções divinas. Os heróis 
podiam recorrer e pedir auxílio aos deuses, os homens da raça de ferro, não, por se situarem em 
uma posição inferior, se comparada à das raças anteriores.
Entretanto, a ação judicial também pode ser compreendida como um conflito divino. Ainda 
que de fato um processo não receba dos deuses a mesma atenção que merece uma epopeia, a ação 
judicial envolve a aplicação humana da Justiça, ou seja, a aplicação daquilo que deseja Zeus para os 
humanos. A poesia desenvolve-se na história de um processo resultante de uma herança, em que 
Perses, após subornar o juiz, consegue contrair para si mais da metade dos bens a que tinha direito. 
Hesíodo desfere severas críticas a Perses, devido à sua cobiça, assinalando ainda que o único caminho 
aceitável para a obtenção de riquezas é pelo trabalho. “O trabalho é, de fato, uma necessidade dura para 
o Homem, mas uma necessidade. E quem por meio dele provê sua modesta subsistência recebe bênçãos 
maiores do que aquele que cobiça injustamente os bens alheios” (JAEGER, 2003, p. 93). O trabalho 
não constitui por si só uma benção, mas seus resultados consentem realização e paz. Ainda que árduo 
e cansativo, é somente o trabalho que possibilita ao homem conquistar seus bens sem ferir a justiça 
divina implementada por Zeus. Esse caráter aparentemente contraditório, de sofrimento de um lado 
e tranquilidade de outro, revela-se em Hesíodo também de forma religiosa e mítica, por meio do mito 
de Prometeu. Para Hesíodo, o sofrimento advindo do labor não pode ser algo natural ao homem, pois 
a dor e o sofrimento não condizem com a natureza divina nem com a ordem das coisas. Sendo assim, 
o trabalho e o sofrimento só podem ter surgido em algum dado momento da história da humanidade.
Hesíodo aplica a forma “causal” de pensar, própria da Teogonia, à história de 
Prometeu, nos Erga, e aos problemas éticos e sociais do trabalho. O trabalho e 
os sofrimentos devem ter aparecido algum dia no mundo. Não podem ter feito 
parte, desde a origem, da ordem divina e perfeita das coisas. Hesíodo assinala-
-lhes que encara do ponto de vista moral. Como castigo, Zeus criou a primeira 
mulher, a astuta Pandora, mãe de todo o gênero humano. Da caixa de Pandora 
saíram os demônios da doença, da velhice, e outros males mil que hoje povoam 
a Terra e mar. (JAEGER, 2003, p. 85)
Como se percebe, o sofrimento provocado pelo trabalho advém desse fato anterior cometido, 
que possui também relação com o mundo jurídico – o roubo do fogo sagrado cometido por Prometeu. 
É devido a esse espírito religioso que o trabalho recebe a conotação de ser exaltado; para o homem 
comum, trabalhar não significa somente o árduo esforço de se livrar de uma vida preguiçosa e 
desviante, mas também vivenciar a humildade dos mortais perante os deuses do Olimpo. Aqui 
clareia-se ainda mais o ideal pedagógico da poesia hesiódica. O primeiro mito narrado nos Erga, a 
narração das cinco idades do mundo, com suas cinco raças, demonstra o processo de degeneração do 
Introdução ao pensamento filosófico 25
homem através dos tempos, passando de uma raça feliz e sem a necessidade de recorrer ao trabalho 
até a raça de ferro, a humanidade do período emque vive Hesíodo. Esse mito depois é seguido pelo 
mito de Prometeu, que narra o início do trabalho e do sofrimento do homem.
Como síntese, então, Hesíodo vê o trabalho como uma condição sofrida e árdua aos humanos, 
mas que é a única via aberta pelos deuses à riqueza justa. Concluindo essa análise, temos o final da 
primeira parte da obra:
Não faças maus ganhos, maus ganhos granjeiam desgraça.
Ama a quem te ama e frequenta quem te frequenta;
Dá a quem te dá e a quem não te dá, não dês.
Ao que dá se dá e ao que não dá, não se dá.
Doar é bom, roubar é mau e doador de morte;
Pois o homem que dá de bom grado, mesmo doando muito,
Alegra-se com o que tem e em seu ânimo se compraz.
Confiando na impudência, quem para si próprio furta,
Mesmo sendo pouco, deste se enrijece o coração,
Pois se um pouco sobre um pouco puseres
E repetidamente o fizeres logo grande ficará.
Quem acrescenta ao que já tem ardente fome afastará;
O armazenado em caso desassossego ao homem não traz;
Melhor é o de casa, o de fora danoso é.
Bom é pegar do que se tem; para o ânimo é provação
Precisar do que não há; convido-te a nisto pensar!
[...]
Facilmente imensa fortuna forneceria Zeus a muitos:
Quanto maior for o cuidado de muitos, maior o ganho.
Se nas entranhas riqueza desejar teu ânimo,
Assim faze: trabalho sobre trabalho trabalha. 
(HESÍODO, 2002, p. 49-51)
Segundo o autor, aquele que enriquece pelo próprio esforço é agraciado por Zeus, e aquele 
que procura enriquecer com base na injustiça é desgraçado pelo senhor dos deuses.
Quadro 1 – Distinções entre Homero e Hesíodo
Homero Hesíodo
• Viveu em uma época de glórias do povo grego
• Exaltava façanhas dos heróis
• Educador dos heróis e nobres
• Heroísmo provém de lutas e guerras 
grandiosas
• Época menos afortunada para a sociedade 
grega
• Mensagens para ajudar o povo agricultor e 
trabalhador a levar uma vida mais digna
• Educador do povo e do cidadão comum
• Heroísmo provém de guerras, mas também do 
árduo trabalho cotidiano
Fonte: Elaborado pelo autor.
No quadro apresentado, podemos notar como as mudanças sociais entre as épocas vividas 
por Homero e Hesíodo influenciaram sua produção literária, alterando o alvo de suas obras e, 
principalmente, o ideal de herói a ser perseguido pela população.
Filosofia do Direito26
1.3 Filosofia e política na Grécia Antiga
A admiração pelo saber tornou-se maior, sobretudo, com os gregos antigos, que viviam um 
período de profunda busca pelo saber. Da Teologia à Política, passando pelas várias artes e ciências, tudo 
era objeto de grandes investigações e reflexões. Fervilhava o espírito crítico, reflexivo e investigador da 
natureza no mundo grego. Esse momento, talvez único na história humana, surge juntamente com a 
figura do homem político. O fato de tanto a Filosofia como a Política terem nascido no mesmo período 
e no mesmo lugar merece algumas reflexões, pois ajuda a demonstrar que, no fundo, os gregos viviam 
uma época de liberdade de pensamento.
O primeiro pensador a empregar o termo filosofia foi Pitágoras, que juntou as palavras philos 
(amor) e sophia (saber), ou seja, o amor ao saber, à sabedoria. “O termo é deveras expressivo. Os 
primeiros filósofos gregos não concordaram em ser chamados sábios, por terem consciência do 
muito que ignoravam. Preferiam ser conhecidos como amigos da sabedoria, ou seja, filósofos” 
(REALE, 2002, p. 5).
O historiador Diôgenes Laêrtios, que viveu a antiguidade helenista, mostra que para os gregos 
a sabedoria era considerada algo supremo, e que somente os deuses eram capazes de possuí-la em 
sua completude. Os homens nunca conseguiriam alcançar o completo entendimento do mundo, das 
coisas, do universo, da vida, dos deuses ou de si mesmos (LAÊRTIOS, 1987, p. 15). Contudo, isso 
não era desmotivador, pois a exigência de aprender, aliada à humildade de reconhecer que pouco 
se sabe, era a força que impulsionava aqueles pensadores ao desconhecido, a tentar chegar cada vez 
mais próximo da sabedoria. Essa noção de humildade e necessidade de conhecer nasceu da incrível 
estupefação que os pensadores sentiam diante das maravilhas que a natureza apresentava.
Não por acaso, essa estupefação conduzia os filósofos a pesquisarem a Matemática, a 
Ética, a Teologia, a Astronomia, a Música, e tantas outras matérias do conhecimento. O completo 
entendimento de todo esse universo que nos rodeia é possível somente aos deuses, de forma que 
buscarmos avançar cada vez mais nesse anseio é também trilhar um caminho divino.
Na Metafísica, Aristóteles afirma que a “Filosofia era a admiração pelo saber, e por isso 
mesmo aqueles que amavam os mitos eram filósofos, porque nutriam nos mitos essa admiração pelo 
saber” (ARISTÓTELES, 2002). Os mitos não eram, para os gregos, apenas um conjunto de crenças, 
aspectos culturais e religiosos de um povo, eram manifestações do íntimo humano na tentativa de 
explicar os fenômenos naturais, sociais, o cosmos, os deuses. Portanto os mitos também exprimiam 
a admiração ao saber e, por isso, é imprescindível que partamos deles para depois explorarmos a 
história do pensamento filosófico.
Para compreendermos o percurso histórico da Filosofia do Direito, acompanhando a 
construção de conceitos como Direito, Justiça, liberdade, cidadania, Ética, igualdade, é importante 
partir do momento que lançou as bases para a formação da racionalidade ocidental: o mundo 
grego. Foi na Grécia que surgiram os primeiros filósofos do Ocidente, que influenciam inclusive 
os pensadores contemporâneos.
Os primeiros filósofos foram os chamados pré-socráticos, que se tornaram célebres por 
realizarem grandiosas argumentações sobre a ordem e o princípio das coisas, pela tentativa de 
Introdução ao pensamento filosófico 27
explicar a natureza, a existência humana, e mesmo questões divinas e transcendentais. É com os 
pré-socráticos que a Ontologia se origina.
Antes, é importante compreender os movimentos que influenciaram a criação do pensamento 
filosófico e contribuíram enormemente para isso, pois os pré-socráticos não poderiam conceber 
seus grandes conceitos sem a influência dos poetas, em especial Homero e Hesíodo. Depois houve 
outros poetas que também foram importantes, como Tirteu, Arquíloco, Alceu, Safo e inclusive o 
grande Sólon, que também foi célebre político ateniense10.
Para compreendermos a origem da filosofia grega, é preciso, além de recorrer aos poetas, 
buscar também entender o processo cultural e político enfrentado pelos gregos, conforme vimos 
durante a explicação das obras dos poetas. Não há como separar: a filosofia grega, em sua forma 
racional e sistemática mais bem acabada, surge juntamente com as cidades-Estado.
O filósofo surge junto com o político. As culturas anteriores possuíam a figura do político e 
suas organizações político-jurídicas, mas não eram analisadas sistematicamente e racionalmente tal 
como faziam os gregos. A Política como ciência, que concebia as formas de organização social, de 
governo, do problema da validade e da imposição das leis, de quem e como deve governar, tudo isso 
é criação grega. Não há entre os hebreus, egípcios, chineses ou indianos um estudo tão sistemático 
da Política como aquele realizado por Aristóteles, nem uma preocupação da união indissolúvel entre 
política e educação como faz Platão na República.
Os gregos se atreveram a trazer o conceito de Justiça para o âmbito público, social, do cidadão 
da polis, situação impensável no mundo anterior, que remetia a uma divindade transcendente toda a 
problemática da verdade e da Justiça, de forma que o homem, como adorador dos deuses, existia para 
praticá-la e aperfeiçoá-la no mundo terreno, sem contudo ter poder para contestá-la ou mesmo modificá-
-la. No mesmo período e no mesmo lugar nasceram a Filosofia e a Ciência Política. Vejamos agora como 
se dá esse processo e a que ponto o político contribui com o surgimento do pensamento filosófico.
1.4 A Justiça como questão filosófica
Com a explosão do comércio marítimo e a expansão dos domínios gregos, a vida públicatornou-se progressivamente mais importante, com as discussões políticas e jurídicas ocupando 
grandes centros de debate da polis. O novo cenário ampliou os horizontes dos gregos e foi propício 
para o surgimento de novas ideias e discussões sobre questões éticas, jurídicas e políticas. Embora 
a esfera religiosa jamais tenha deixado de influenciar a sociedade grega, vivia-se um momento em 
que o homem cada vez mais ousava contrair para si diversos assuntos.
Entre essas ideias ousadas está a alta estima tanto pelos poetas como depois também pelos 
filósofos acerca dos conceitos de Direito e Justiça e a atribuição da importância dessas categorias para 
a organização da comunidade. A grande novidade trazida pelos gregos está no fato de conceber a 
comunidade como uma organização essencialmente humana, tendo suas concepções e determinações 
político-jurídicas como materialização da vontade de seus próprios cidadãos.
10 Para maiores informações sobre esses outros poetas, é interessante observar o capítulo dedicado a eles na Paideia, 
de Jaeger, e também a obra de Donaldo Schüler, Literatura Grega (SCHÜLER, 1985).
Filosofia do Direito28
Ainda que nos séculos seguintes a administração do Direito permanecesse nas mãos dos 
nobres, que controlavam leis não escritas e aplicadas a toda a população, a nova concepção humanista 
de Direito permitiu aos cidadãos em geral contestar esse abuso político por parte dos magistrados. 
A oposição entre nobres e cidadãos livres acabou gerando o movimento de positivação dos direitos, 
em que as leis passaram de não escritas a escritas, de forma que poderiam valer igualmente para 
todos. “Direito escrito era direito igual para todos, grandes e pequenos” (JAEGER, 2003, p. 134). 
Nesse processo, os grandes porta-vozes da violência causada pelos magistrados foram justamente 
os poetas, em particular Hesíodo. A luta pela diké seria então a luta pela aplicação do Direito, o 
que envolveria, inclusive, a luta de classes. “Hoje, como outrora, podem continuar a ser os nobres, 
e não os homens do povo, os juízes. Mas estão submetidos no futuro, nas suas decisões, às normas 
estabelecidas na diké” (JAEGER, 2003, p. 134). Contudo, inclusive antes de Hesíodo, a vontade de 
conceber a Justiça como uma fonte indispensável para a organização social já se via nos poemas 
homéricos.
Homero representa ainda o início desse longo processo que é a passagem do Direito de sua 
condição essencialmente divina para uma construção humana. Em Homero, o Direito é designado 
com o termo themis, um “compêndio da grandeza cavaleiresca dos primitivos reis e nobres senhores. 
Etimologicamente significa ‘lei’” (JAEGER, 2003, p. 134). A themis era concedida por Zeus aos reis 
nos tempos homéricos. Tão antigo quanto o conceito de themis é também o de diké.
O conceito de diké não é etimologicamente claro. Vem da linguagem processual 
e é tão velho quanto themis. Dizia-se das partes contenciosas que “dão e recebem 
diké”. Assim se compendiava numa só palavra a decisão e o cumprimento da 
pena. O culpado “dá diké”, o que equivale originariamente a uma indenização, 
ou compensação. O lesado, cujo direito é reconduzido pelo julgamento, “recebe 
diké”. O juiz “reparte diké”. Assim, o significado fundamental de diké equivale 
aproximadamente a dar a cada um o que lhe é devido. Significa ao mesmo tempo, 
concretamente, o processo, a decisão e a pena. (JAEGER, 2003, p. 134-135)
Nesse sentido, enquanto a themis está relacionada à autoridade da lei, à sua validade e 
aplicabilidade a todos os cidadãos, a diké se refere à sua própria aplicação. Na themis observa-se 
muito mais um princípio primeiro da fundamentação jurídica, da qual provém a legitimidade para 
imposição da lei, enquanto na diké vemos o próprio movimento de realização do Direito e, por 
isso, abrange na mesma palavra as ideias de processo, sentença e pena. Ademais, a aproximação 
da diké a uma ideia de equidade, em que o Direito se reparte de forma justa a todos os cidadãos, 
tornou-se o fundamento principal para as lutas de todos em nome de seus direitos. Como cada um 
tem parte nessa ideia de Justiça, possui também o direito de lutar por seu direito. Dessa forma, a 
diké representa também o direito de cada cidadão a lutar contra a hybris, que por sua vez equivale 
à ação contrária ao Direito.
Significa que há deveres para cada um e que cada um pode exigir, e, por 
isso, significa o próprio princípio que garante essa exigência e no qual se 
poderá apoiar quem for prejudicado pela hybris – palavra cujo significado 
original corresponde à ação contrária ao Direito. Enquanto themis refere-se 
principalmente à autoridade do Direito, à sua legalidade e à sua validade, diké 
significa o cumprimento da Justiça. Assim se compreende que a palavra diké 
se tenha convertido necessariamente em grito de combate de uma época em 
hybris: violação 
dos limites que o 
homem deve manter 
na relação consigo 
e com os outros, a 
perda do equilíbrio 
nas ações.
Introdução ao pensamento filosófico 29
que se batia pela consecução do Direito a uma classe que até então o recebera 
apenas como themis, quer dizer, como lei autoritária. O apelo à diké tornou-se 
de dia para dia mais frequente, mais apaixonado e mais premente. (JAEGER, 
2003, p. 135)
Na diké o cidadão encontrava o fundamento para poder reclamar a Justiça, o que significa 
enfrentar o próprio Direito estabelecido naquele momento. O Direito dessa forma já não era algo 
consolidado como uma manifestação divina, que não podia ser contestado pelo cidadão comum, mas 
um movimento formado, também, pela luta pelo Direito11. Como síntese, o Direito entre os gregos 
tornou-se um processo de formação, o homem desenvolvia-se ao mesmo tempo que desenvolvia 
a ideia de Direito.
A igualdade é o conteúdo principal da diké, o objetivo de se dar a cada um o que é seu, uma 
prerrogativa de fazer todos os cidadãos livres iguais perante o Direito. A partir daí a igualdade 
ocuparia sempre lugar central nas discussões jurídicas e políticas, chegando a influenciar os grandes 
filósofos Platão e Aristóteles: “A exigência de um Direito igualitário constitui a mais alta meta para 
os tempos antigos” (JAEGER, 2003, p. 136).
Nessa nova concepção de Direito, os nobres tiveram que também se submeter à igualdade 
de todos. Essa igualdade, contudo, não poderia ser resumida em uma igualdade de todos perante 
a lei, mas sim da própria acepção de Direito. O Direito assemelha-se a uma medida para decidir as 
questões entre o “‘meu’ e o ‘teu’” (JAEGER, 2003, p. 136), de tal forma que se possa fixar o Direito, 
atribuindo a cada um o que é seu. Essa mudança, visando a uma igualdade jurídica e política, 
operou-se ao mesmo tempo em que se delimitava, na esfera econômica, a fixação de medidas e pesos 
para o intercâmbio de mercadorias. Assim como a economia fixava a medida e o peso, o Direito 
fixava as normas. Logo, trata-se de um movimento amplo no qual o que se apresenta é a própria 
formação do povo grego, um desenvolvimento cultural sem o qual seria impensável o surgimento, 
por exemplo, da democracia, que para ser instituída depende do princípio de que todos são iguais 
perante a lei. “Procurava-se uma ‘medida’ justa para a atribuição do Direito e foi na exigência de 
igualdade, implícita no conceito de diké, que se encontrou essa medida” (JAEGER, 2003, p. 136).
A delimitação de medidas foi essencial para a construção do Direito, não somente no sentido 
positivo, da produção e aplicação de normas, mas também na própria esfera moral, na delimitação 
e fixação de condutas que não poderiam ser praticadas. Desde os tempos primitivos encontram-se 
na literatura e na mitologia menções a delitos, como o assassínio, o adultério, o furto e o rapto.12 
Essa delimitação de condutas, de limites às ações humanas, inclusive anteriores à fixação de normas, 
provém de um conceito ligado à ideia de diké, o termo díkayosine, que não possui uma tradução 
moderna equivalente. A dikayosine representa a medida abstrata, mas amplamente efetiva,que 
constituía o conteúdo essencial das primeiras leis escritas.
11 Percebe-se já entre os gregos o fundamento principal para a luta pelo Direito como condição para a existência do 
próprio Direito, antecipando em muitos séculos a concepção do Direito como luta, de Jhering.
12 Ésquilo narra em Prometeu Acorrentado a história do furto do fogo dos deuses por Prometeu, que o entregou aos 
mortais, assim como na Ode a Deméter vemos o relato do rapto de Perséfone por Hades, e inclusive a conclusão do 
Direito como uma medida justa, em que a vítima permaneceria metade do ano na Terra e a outra metade no mundo dos 
mortos, gerando as quatro estações. Percebe-se como as noções de medida e delimitação já estavam desde sempre 
presentes na mentalidade grega.
Filosofia do Direito30
O novo termo proveio da progressiva intensificação do sentimento da Justiça 
e da sua expressão num determinado tipo de homem, numa certa arete. 
Originariamente, as aretai eram tipos de excelência que se possuíam ou não. 
Nos tempos em que a arete de um homem equivalia à sua coragem, colocava- 
-se no centro esse elemento ético, e todas as outras excelências que um homem 
possuísse se subordinavam a ele, e deviam pôr ao seu serviço. A nova dikayosine 
era mais objetiva. Tornou-se a arete por excelência, desde o instante em que se 
julgou ter na lei escrita o critério infalível do justo e injusto. Pela fixação escrita 
do nomos, isto é, do direito consuetudinário válido para todas as situações, 
ganhou conteúdo palpável. Consistia na obediência às leis do Estado, como 
mais tarde a “virtude cristã” consistiria na obediência às ordens do divino. 
(JAEGER, 2003, p. 137-138)
A dikayosine, nesse sentido, era a expressão positiva e mesmo ética de um ideal de homem, 
de um elevado tipo de homem dotado de certas virtudes, tal como o guerreiro antigo que deveria 
guiar-se pela coragem. As leis do Estado não seriam obedecidas simplesmente por sua autoridade 
coercitiva, mas por serem a expressão desse sentimento de Justiça, dessa fixação do justo e do 
injusto ao qual o homem grego se submetia. As leis escritas refletiam os costumes, que por sua 
vez representavam esse critério criado em um processo histórico e espiritual da Justiça como uma 
virtude. Nessa perspectiva, o Direito era resultado da Justiça, da medida e do critério que delimita 
o justo e o injusto, e seguir o Direito significaria viver conforme esse ideal virtuoso de homem. 
Delineia-se aqui o essencial papel que cumpre o ideal de formação de homem na cultura grega, em 
que mesmo o Direito deveria ser utilizado para a formação do homem, do cidadão, do membro da 
polis. Com a Justiça sendo inserida como virtude central da polis, abandonou-se a concepção anterior 
da valentia como arete máxima, advinda da sociedade espartana, voltada principalmente às guerras, 
mas surgiu a necessidade de cultivar um novo tipo de homem, aquele relacionado essencialmente 
às atividades públicas, sejam elas jurídicas, políticas, artísticas ou intelectuais em geral. Não era 
mais a guerra o centro das disposições de vontade do homem grego, mas a cultura e a organização 
social. “O conceito de Justiça, tida como a forma de arete que engloba e satisfaz todas as exigências 
do perfeito cidadão, supera naturalmente todas as formas anteriores” (JAEGER, 2003, p. 139).
A Justiça como virtude cardeal, que resume todas as demais, tal como afirmariam 
posteriormente Platão e Aristóteles, apresenta essa nova forma de pensar criada pelo homem grego, 
derivada do crescimento tanto econômico como cultural da polis. Desse processo advém todo o valor 
de o homem grego sentir-se parte de seu Estado; seu sentimento pátrio estava em viver conforme 
aquelas virtudes preceituadas por ele e inseridas no espírito da constituição. Também por esse 
motivo, o Estado deveria promover a educação a todos os jovens, com ensino público, porque 
somente assim teria a certeza de que a juventude seria formada dentro do seu ideal de homem, 
conforme as virtudes que determinavam o conteúdo de sua constituição. O ensino público não 
existia simplesmente por ser uma obrigação estatal, mas por essa necessidade pedagógica (JAEGER, 
2003, p. 141). É por essa razão que Platão e Aristóteles afirmam que cada Estado, pela lei, expressa e 
interioriza nos seus cidadãos o seu ideal de homem. Para os gregos, como vemos, a legislação possuía 
por conteúdo sua mais elevada condição. Sua existência não estava apenas na regulamentação da 
sociedade, mas essencialmente na educação, no cultivo de seu tipo ideal de homem.
Introdução ao pensamento filosófico 31
A herança de normas jurídicas e morais do povo grego encontrou na lei a sua 
forma mais universal e permanente. Platão culminou a sua obra, de Filosofia 
Pedagógica com a sua conversão em legislador, na última e maior das suas obras; 
e Aristóteles conclui a Ética com o apelo a um legislador que lhe realize o ideal. 
A lei é também uma introdução à Filosofia, na medida em que, entre os Gregos, 
a sua criação era obra de uma personalidade superior. Com razão, o legislador 
era considerado educador de seu povo, e é característico do pensamento grego 
que ele seja frequentemente colocado ao lado do poeta, e as determinações da lei 
junto das máximas da sabedoria poética. Ambas as atividades são estreitamente 
afins. (JAEGER, 2003, p. 143)
Ética e Direito entrelaçam-se a tal maneira que quase passam a entender-se como sinônimos. 
Pela Ética, o Estado tinha a garantia à educação de seu Direito, de suas leis; e pelas leis, pelo Direito, 
o Estado garantia também a formação do seu ideal de homem, cultivado naquelas virtudes que 
sua Ética consagrou. Nessa comunidade ética, o cidadão vivia conforme a vida política, cívica, 
em que ele próprio existia no Estado e participava do bem comum, dos interesses gerais da polis. 
Essa existência pública e política imprimia no espírito do cidadão um dever ético de realizar e 
viver também para a evolução do Estado, da comunidade. Como o Estado lhe concedia inúmeros 
direitos, oriundos da antiga diké e do seu princípio da igualdade, entre eles a educação pública, 
era seu dever contribuir com o crescimento do Estado. Dessa necessidade resultou o crescimento 
intelectual, profissional e espiritual do homem grego. Em sentido prático, isso inclui a grande 
transformação na sociedade grega, a passagem da antiga sociedade rural dos tempos hesiódicos a 
uma polis urbana, voltada essencialmente aos interesses citadinos. A habilitação profissional não 
era apenas dever por ser o trabalho uma atividade que desenvolve a si próprio, mas também para 
contribuir com a polis. Se o cidadão recebia a educação, sentia-se no dever de tornar-se cada vez 
mais um melhor profissional. O Estado é a essência do cidadão grego para onde dirigem todas 
as suas atividades espirituais. Para esse modelo de homem, fazer parte do Estado era sentimento 
de felicidade, de viver conforme o ethos.
É um cosmos legal segundo esse velho modelo helênico – onde o Estado seria o 
próprio espírito e a cultura espiritual visaria o Estado como seu fim último – o 
que Platão esboça nas Leis. Ali ele define como oposta ao saber especializado 
dos homens de ofícios, negociantes, merceeiros, armadores, a essência de toda a 
verdadeira educação ou paideia, a qual é educação na arete que enche o homem 
do desejo e da ânsia de se tornar um cidadão perfeito, e o ensina a mandar e 
obedecer, sobre o fundamento da Justiça. (JAEGER, 2003, p. 146-147)
A educação política, ou ainda a techné política, não pode ser ensinada como se faz com o 
ensino das profissões especializadas em uma atividade, porque nesses casos exige-se sobretudo a 
parte técnica, enquanto na arte política não basta o caráter técnico, os saberes teóricos e práticos, mas 
a educação do ethos, da arete. Não se pode medir o cidadão pelo seu conhecimento, mas pelo seu 
caráter, pelo cultivo que fez das virtudes e da educação político-humanista concedida pelo Estado.
1.5 As principais disciplinas da Filosofia
Após estudarmos o surgimento

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