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cap 8 filosofia juridica

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FILOSOFIA 
GERAL E 
JURÍDICA 
Cássio Vinícius Steiner de Sousa
Direito Natural
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
 � Apontar as principais características do Direito Natural.
 � Relacionar a doutrina tradicional do Direito Natural com o 
jusnaturalismo.
 � Traçar um paralelo entre o Direito Natural e a racionalidade.
Introdução
A disputa acerca da existência do Direito Natural constitui um dos grandes 
temas de reflexão filosófica sobre Direito, pois é impossível responder a 
questões centrais como, por exemplo, “o que é o Direito?”, “qual é a origem 
do Direito?” e “qual é o fundamento de validade das normas jurídicas?”, 
sem se posicionar em relação à questão “existe o Direito Natural?”. Nesse 
contexto, ter uma noção clara do que significa o Direito Natural e das 
diversas acepções dadas no curso da história da filosofia do Direito é 
fundamental para que possamos compreender o que o Direito foi, o que 
ele é e o que ele pode ser.
Neste capítulo, você vai aprender sobre o Direito Natural e o jusna-
turalismo, as suas principais vertentes ao longo da história da filosofia e 
as suas características definidoras. 
Direito Natural e o jusnaturalismo
A distinção entre Direito Natural e Direito Positivo surge a proposto de um dos 
debates mais importantes de filosofia do Direito: o debate sobre as fontes do 
Direito. No seu cerne está a questão sobre qual é a origem ou o fundamento 
de validade das normas jurídicas. Em suma, os seres humanos se organizam 
em sociedades, que, por sua vez, dependem de uma série de normas de con-
vivência. Tais normas são positivadas por aqueles que possuem legitimidade 
para legislar. Assim, dado que o ordenamento jurídico é composto por um 
conjunto de normas positivadas pelo legislador, há ou não outro Direito que, 
por ser de ordem hierarquicamente superior, garanta e assegure a validade 
da legislação positiva?
Quanto a isso, existem duas respostas possíveis: sim ou não. De modo 
simplificado, dizer sim para a questão sobre um Direito de ordem superior 
ao Direito Positivo é o mesmo que estar comprometido com a posição jus-
naturalista, ao passo que responder tal questionamento de modo negativo é 
equivalente a adotar ou bem uma posição juspositivista ou bem uma posição 
historicista. 
Aqueles que defendem o jusnaturalismo adotam uma postura dualista, 
pois, de um lado, pressupõem a dicotomia entre lei positiva e uma lei de 
outra ordem — geralmente identificada como Direito Natural — e, de outro 
lado, tal lei é superior e o fundamento mesmo da validade da lei positiva. 
Assim, além do conjunto de normas que compõe o ordenamento jurídico de 
um dado Estado, há um Direito superior que não depende especificamente 
de positivação estatal e que garante, em alguma medida, a força normativa 
do ordenamento jurídico. 
Já aqueles que defendem o juspositivismo adotam uma posição monista 
com relação ao Direito. Isto é, na medida que não existe um Direito de ordem 
superior, o Direito não poderia e sequer precisaria buscar a sua validade em 
uma lei de tal ordem. Assim, há uma identificação entre as fontes do Direito e 
a própria norma positivada pelo legislador, não havendo espaço ou necessidade 
para se pensar em Direito de ordem superior.
Por fim, outro modo de recusar o dualismo jurídico sem recorrer ao jus-
positivismo vem da posição conhecida como historicismo. Para tal posição, 
o Direito Positivo é fruto do contexto social, político e histórico de determi-
nado Estado, não sendo possível encontrar algo que seja superior e perene 
que possa receber o título de Direito Natural. Assim, a validade jurídica não 
estaria fundamentada em um Direito Natural acima do Direito Positivo, mas 
no contexto histórico que engendra um certo ordenamento jurídico.
Deixando a posição juspositivista e o historicismo de lado para concentrar 
nossos esforços em esclarecer melhor a posição jusnaturalista, é importante 
que você saiba que, embora a defesa de tal posição tenha sido uma constante 
ao longo da história da filosofia do Direito até o final do período moderno, 
houve grande variação e flutuação na consideração da origem do Direito 
Natural, pois cada período histórico postulou um candidato distinto para 
ocupar o papel de fonte última do Direito Natural. Quanto a isso, a tradição 
interpretativa do tema classifica três grandes vertentes de jusnaturalismo 
(Quadro 1). 
Direito Natural2
Jusnaturalismo
Período histórico Antiguidade 
Clássica
Idade Média Período Moderno
Fonte do Direito 
Natural
Cosmológica Teológica Antropológica
Via de acesso ao 
Direito Natural
Razão Fé Razão
Quadro 1. Vertentes do Direito Natural ao longo da história.
Vejamos como cada uma identifica a origem do Direito Natural, bem como 
o período histórico de cada uma.
Jusnaturalismo cosmológico. O jusnaturalismo cosmológico foi típico da 
Antiguidade Clássica. Tal concepção de Direito Natural o identifica com a 
ordem natural do cosmos. Isto é, a origem do Direito Natural repousa sob um 
conjunto de leis universais, eternas e imutáveis que são constitutivas da própria 
realidade. Quanto a isso, é importante que você saiba que tal ordem possui 
uma espécie de razão universal (logos) da qual a própria natureza humana 
participa, de modo que seria possível apreender o Direito Natural por meio 
de uma inspeção racional da natureza dos homens. Além disso, essa ordem 
natural não poderia ser equivalente às leis positivadas pelo Estado, pois, além 
de serem de ordem superior, também confeririam o critério de validade das 
normas postas pelos legisladores. 
Jusnaturalismo teológico. O jusnaturalismo teológico foi preponderante na 
Idade Média. Na base de tal concepção do Direito Natural está a figura de 
Deus. Nesse contexto, é fundamental destacar não apenas a importância da 
Igreja Católica como mediadora desse Direito de ordem superior como tam-
bém o papel preponderante da fé como via de acesso às revelações bíblicas e 
aos dogmas do cristianismo. Assim, enquanto o jusnaturalismo cosmológico 
considera que a razão é a principal via de acesso ao Direito Natural, o jusna-
turalismo teológico vincula a questão do acesso ao Direito de ordem superior 
com a fé. Tal passagem se justifica basicamente em função da ideia de que 
a natureza do homem é essencialmente impura, imperfeita e pecadora, pois 
se a natureza humana é marcada pelo pecado original, então não será nela 
que encontraremos o critério último de validação das normas. Além disso, 
3Direito Natural
em função da característica sobrevalorização da fé ante a razão, típica do 
período medieval, nada mais compreensível do que entender que a fé é a via 
de acesso do conhecimento dos desígnios divinos que constituem a essência 
do Direito Natural.
Jusnaturalismo antropológico/racional. O jusnaturalismo antropológico 
ou racional surgiu com força na Idade Moderna. Na base de tal concepção 
do Direito Natural está a figura do homem e da faculdade da razão. Nesse 
contexto, é possível traçar um paralelo entre tal espécie de jusnaturalismo e 
o cosmológico, com base na via de acesso ao Direito Natural, pois, diferen-
temente do jusnaturalismo teológico, que recorre à fé como guia do Direito 
Natural, tanto o jusnaturalismo cosmológico quanto o antropológico valem-se 
da razão como caminho para o conhecimento dos Direitos de ordem superior. 
Definição de Direito Natural
Embora cada uma das vertentes do Direito Natural surgidas ao longo da 
história da filosofia do Direito possua marcas distintivas, todas compartilham 
uma série de características. Em função de tais características compartilha-
das é possível definir a essência do Direito Natural por contraste ao Direito 
Positivo. A distinção entre o Direito Positivo e um Direito de ordem superior 
é tão antiga quanto os próprios mitos gregos. Se tomamos como referência 
a tragédia grega Antígona, escrita pelo poeta Sófocles (497 a.C.–406 a.C.), 
percebemos que o próprio desenrolar da trama depende da dicotomia entredois Direitos de ordens distintas.
Antígona, que tem mais três irmãos — Etéocles, Ismênia e Polinice —, é 
filha de Édipo e Jocasta. Por sua vez, Édipo, que era o rei de Tebas até descobrir 
que Jocasta, além da sua esposa, também era a sua própria mãe, fura os olhos 
e se exila. Após a decisão de que Etéocles seria o novo rei de Tebas, Polinice 
se revolta e alia-se ao rei de Argos para tomar o trono à força. Depois de uma 
série de eventos, Etéocles e Polinice acabam matando um ao outro em um duelo 
pelo trono. O tio Creonte, descendente de uma longa linhagem de regentes 
de Tebas, assume o trono e ordena que Etéocles seja enterrado com todas as 
pompas de um rei e proíbe que Polinice seja enterrado — estipulando a pena 
de morte para algum eventual transgressor. Antígona considera que enterrar 
o irmão é um dever do qual ela, enquanto familiar, não pode se eximir. Em 
função disso, ela se vê obrigada a enterrar o irmão, a despeito da lei criada 
por Creonte.
Direito Natural4
Figura 1. Antígona sepulta Polinice (Sebastian Norlbun, 1825).
Fonte: Sébastien Norblin Antigone et Polynice (2013).
Dito isso, torna-se possível compreender que o conflito entre lei natural de 
ordem superior e lei humana serve tanto como pano de fundo do embate entre 
Antígona e Creonte quanto como o dilema trágico de Antígona, pois enquanto 
Antígona representa o dever dos homens de cumprir as obrigações naturais, 
isto é, o dever de ter que enterrar os familiares, Creonte representa a lei dos 
homens e o poder de legislar inclusive contra os costumes e as obrigações 
naturais dos familiares. Além disso, Antígona é colocada na posição ingrata de 
escolher entre morrer pela lei dos homens, mas ser absolvida pela lei divina, ou 
viver marcada pela desonra, ao descumprir os desígnios da lei da natureza. E 
se é verdade que a história acaba — como já era de se esperar — em tragédia 
para todos os envolvidos, o próprio debate que ela suscita vai muito além do 
destino infeliz dos seus personagens. 
Tendo a tragédia em mente, é possível definir o Direito Natural com base 
nas seguintes características:
Superior — Além de o Direito Natural ser de ordem distinta do Direito Positivo, 
ele é superior. Isto é, além haver uma espécie de hierarquia entre o Direito 
Natural e o Direito Positivo, o Direito Natural é hierarquicamente superior ao 
Direito Positivo. Em função disso, em caso de conflito entre ambos, o Direito 
Natural sempre prevalecerá. Se tomamos o caso da tragédia como exemplo, 
o Direito de enterrar os familiares seria superior ao Direito do legislador 
5Direito Natural
de proibir que os familiares sejam enterrados. Assim, dada a superioridade 
hierárquica de um Direito sobre o outro, a própria lei positiva que contraria 
a lei — rigorosamente falando — sequer pode ser considerada lei, pois é 
inválida. Tal característica comparece à sua maneira nas três formulações do 
jusnaturalismo apresentadas na sessão anterior. No caso do jusnaturalismo 
cosmológico, o Direito Natural é superior ao Direito Positivo por se derivar 
diretamente da ordem natural do cosmos da qual o ser humano é uma parte. No 
caso do jusnaturalismo teológico, a origem divina é suficiente para considerá-lo 
superior ao Direito Positivo. Por fim, o jusnaturalismo antropológico defende 
a superioridade do Direito Natural sobre o Direito Positivo em função por se 
derivar do uso da reta razão.
Incondicionado — Diferentemente do Direito Positivo, que, por ser hierarqui-
camente inferior, deve estar em conformidade com o Direito Natural, o Direito 
Natural não está condicionado ou se subordina a qualquer outro Direito. Pois 
não existe Direito que esteja acima do Direito Natural. Assim, se o Direito a 
enterrar os familiares é uma lei natural, então, na medida em que tal Direito não 
exige qualquer fundamento ulterior, ele é algo válido por si mesmo. Do mesmo 
modo que a característica anterior, todas as formulações de jusnaturalismo 
da sessão anterior assumem que o Direito Natural é incondicionado, seja por 
fazer parte do cosmos, dos desígnios divinos ou da reta razão.
Universal — Dizer que o Direito Natural é universal significa que ele é o 
mesmo para todos os indivíduos e todos os povos. Assim, enquanto o Direito 
Positivo pode vir a ser, em alguma medida, diferente em cada Estado, o Di-
reito Natural tem validade universal. Nesse caso, se retornamos novamente 
ao exemplo de Antígona e é dado que o Direito de enterrar os familiares é 
de ordem natural, por seu caráter universal ele possui validade para todo e 
qualquer Estado. No que tange à característica da universalidade no contexto 
das vertentes de jusnaturalismo, embora postulem origens distintas para o 
Direito Natural, todas compartilham da ideia de que ele vale para todos os seres.
Imutável/eterno — O Direito Natural é sempre o mesmo, independentemente 
de tempo e do lugar. Assim, diferentemente do conjunto de leis positivas de 
um Estado, que podem variar e ser alteradas com o passar dos tempos, as leis 
naturais são invariavelmente sempre as mesmas. No caso do Direito de enterrar 
os familiares, além de ser hierarquicamente superior e universalmente válido, 
ele também seria imemorial e eterno. A noção de imutabilidade ou eternidade 
do Direito Natural é evidente em todas as formulações do jusnaturalismo. 
Direito Natural6
Pois dado que o cosmos, os desígnios divinos e a razão humana não mudam, 
o Direito Natural também não pode mudar. 
Subentendido — Enquanto as leis positivas precisam ser formalmente expres-
sas para que possam gerar Direitos ou obrigações, as leis do Direito Natural 
não dependem de qualquer formalização. Disso resulta a ideia de que ainda que 
não sejam escritas, a lei natural confere Direitos ou impõe obrigações ainda 
que de modo tácito. Assim, mesmo que não haja previsão legal ou mesmo que 
a lei positivada negue o Direito de enterrar os familiares, por ser superior e 
estar subentendido, isso não impede que tal Direito seja exercido. 
Do mesmo modo como todas as características anteriores, a ideia de que 
o Direito Natural é subentendido encontra respaldo em todas as formulações 
da posição jusnaturalista apresentadas anteriormente. 
A propósito das características definidoras do Direito Natural, da ideia de que o Direito 
Natural é hierarquicamente superior ao Direito Positivo, extrai-se uma nítida noção de 
escalonamento das normas jurídicas, de modo que uma lei positiva só será considerada 
válida se, e somente se, não estiver em conflito com os desígnios da lei natural. Além 
disso, por não existir nenhuma lei hierarquicamente superior ao Direito Natural, ele tem 
validade por si mesmo. No mais, por ser universal, imutável e subentendo, ele constitui 
uma espécie de núcleo duro que deve ser observado por todo e qualquer ordena-
mento jurídico. Nesse contexto, as próprias normas do Direito Positivo encontram-se 
subposicionadas e retiram o seu fundamento de validade da lei natural.
Direito Natural e racionalidade
Se é verdade que a posição jusnaturalista — com suas variações — reinou 
soberana entre filósofos e juristas por mais de dois mil anos, isso não significa 
que ela não tenha sido severamente criticada por juspositivistas e historicistas, 
sobretudo no século passado. Em função de tais críticas, é possível dizer que 
inclusive perdeu tanto espaço que, no período contemporâneo que antecede a 
Segunda Guerra Mundial, chegou a ser considerada uma concepção filosófica 
absolutamente ultrapassada acerca do Direito. Porém, a despeito das críticas, 
é inegável que o jusnaturalismo tem um apelo um tanto quanto intuitivo 
e de fácil compreensão, pois, se o ordenamento jurídico Positivo precisa 
7Direito Natural
fundamentar a sua validade em algo e existe um Direito de ordem superior, 
universal e imutável, nada mais apropriado do que fundamentar o Direito 
Positivo no Direito Natural.
Isso fica ainda mais evidente quando nos atentamos para a correlação 
entre o Direito Natural e a racionalidade humana, sobretudo nas vertentes dojusnaturalismo cosmológico e antropológico. Nesse contexto, Paulo Nader 
(2012, p. 193) afirma:
O homem, ser eminentemente racional, sonda a razão de ser das coisas, não se 
submetendo passivamente a qualquer ordenamento. Procura-se o fundamento 
ético das leis e das decisões. O espírito crítico apela para a busca de orientação, 
de referência, na ordem natural das coisas. O Direito, como instrumento de 
promoção da sociedade, há de estar adequado à razão, há de se apresentar em 
conformidade com a natureza humana.
Assim, o Direito Natural de origem racional serve tanto como um critério 
norteador que orienta a construção do Direito Positivo quanto para fundamentar 
a própria validade das leis. Na base de tal consideração está certa a correlação 
entre a noção de Direito Natural e a de bem comum, pois, se tomamos por 
referência o jusnaturalismo antropológico e a tese segundo a qual o Direito 
Natural se origina da razão humana, de um ponto de vista puramente formal, é 
possível extrair a ideia de que o ordenamento jurídico deve visar ao bem comum. 
Para compreender isso, basta perceber que é típico da razão humana estabelecer 
cadeias de meios e fins com vistas ao bem. Quando esse bem é tomado sob o aspecto 
individual, ele é chamado de bem individual; já quando é tomado sob o aspecto 
coletivo, ele é chamado de bem comum. Nesse contexto, ao identificar o Direito Natural 
abstratamente com a noção de bem comum, torna-se possível justificar a adequação 
ou inadequação de um dado ordenamento jurídico aos desígnios racionais do homem. 
Isto é, se o Direito Positivo segue os ditames do Direito Natural, ele é considerado válido; 
caso contrário, quando o Direito Positivo de um Estado não tem como fundamento 
o bem comum, ele é inválido.
Vinculado à questão da racionalidade e do bem comum, outra consideração 
que fortalece a ideia jusnaturalista de que há um Direito Natural consiste em 
uma série de aspectos materiais compartilhados pelos mais diversos orde-
namentos jurídicos. Quanto a isso, Paulo Nader (2012, p. 193) afirma que: 
Direito Natural8
[...] quando o filósofo chega à conclusão de que nem tudo é contingente e 
variável no Direito e que alguns Direitos pertencem aos homens por sua 
condição de humano, alcança-se a ideia do Direito Natural, que deve ser a 
grande fonte a ser consultada pelo legislador. 
Assim, se existe uma espécie de núcleo duro do Direito que todo e qualquer 
ordenamento jurídico deve observar, sob pena de restar ilegítimo, e é possí-
vel acessá-lo via investigação da própria razão humana, não é nada forçado 
identificar isso com o Direito Natural. Quanto a isso, você poderia estar se 
perguntando qual seria o conteúdo que constitui o núcleo duro do ordenamento 
jurídico que é característico do Direito Natural.
Um caminho para responder tal questionamento vem daquilo que — em 
função da nossa própria natureza — tomamos como fundamental para a 
realização do bem comum. Quanto a isso, Paulo Nader apresenta uma corre-
lação entre o Direito Natural e princípios muito gerais da razão nitidamente 
aplicáveis ao Direito como a preservação da vida e a liberdade:
A natureza humana, de modo geral, é apontada pelos jusnaturalistas como 
selecionadora dos fins humanos e fonte do Direito Natural [...]. Pensamos que a 
natureza humana se define pela gama de instintos comuns aos seres racionais, 
como o da preservação da vida, da liberdade. A observação revela-nos que a 
generalidade das pessoas tem ânsia de liberdade e que sem esta não é capaz 
de se realizar nos planos físico e espiritual. Em consequência, a liberdade é 
valor fundamental à espécie humana e se erige em princípio básico do Direito 
Natural (NADER, 2012, p. 193–4).
Com efeito, torna-se possível compreender que o ordenamento jurídico Positivo 
deve contemplar uma série de “valores fundamentais da espécie humana” e que 
tais valores, segundo a tradição jusnaturalista, são originados do Direito Natural. 
Entre eles, além do Direito à vida e do Direito à liberdade, também poderíamos 
considerar o Direito à igualdade de oportunidade para a realização do bem indivi-
dual. Em suma, tudo aquilo que — no limite — justificaria a própria razão de ser 
de um ordenamento jurídico que tem como objetivo a promoção do bem comum.
Tópicos de Direito Natural
Em função das características do Direito Natural, é muito comum que o Direito 
Natural seja confundido com duas outras coisas:
 � os ditames da moralidade; 
 � a noção de Direito Costumeiro. 
9Direito Natural
Tendo isso em mente, como é possível distinguir o Direito Natural de tais 
coisas? 
Distinção entre Direito Natural e moral: Embora o Direito Natural e a moral 
estejam intimamente relacionados, é incorreto dizer que ambos são uma e a 
mesma coisa. A propósito da diferença entre Direito Natural e moral, Paulo 
Nader (2012, p. 192) afirma que: 
Mais abrangente, a Moral visa à realização do bem, enquanto o Direito Natural 
se coloca em função de um segmento daquele valor: o resguardo das condi-
ções fundamentais da convivência. O homem isolado mantém-se portador de 
deveres morais sem sujeitar-se aos emanados do Direito Natural, pois estes 
pressupõem vida coletiva.
Assim, se seguimos a lição de Paulo Nader, torna-se possível compreender 
que, na base da distinção entre Direito Natural e moral, está, de um lado, a 
ideia de que o Direito Natural seria a parcela da moral e, de outro lado, que o 
Direito Natural trata especificamente das relações que envolvam os interesses 
da coletividade. 
Distinção entre Direito Natural e Direito Costumeiro: Embora existam 
algumas semelhanças entre o Direito Natural e o Direito Costumeiro, isso não é 
suficiente para considerá-los como sendo uma e a mesma coisa. O que justifica 
a eventual confusão entre ambos é o fato de que eles são subentendidos e não 
dependem de qualquer formalização. Além disso, ambos não são gerados em 
função das determinações do Estado. Porém, enquanto o Direito Costumeiro 
às vezes é dito natural, por ser uma manifestação que surge espontaneamente 
do fato de os homens se agruparem para viver em sociedade, o Direito Natural 
constitui a própria essência da natureza racional do homem.
A propósito de tal diferença crucial entre ambos, Paulo Nader (2012, p. 
192) afirma que: 
[...] o Direito Costumeiro tende a ser uma expressão do natural que existe no 
homem e na sociedade, enquanto o Direito Natural não é uma tendência do 
natural que existe no homem, mas a própria expressão da natureza humana 
e não resulta do modus vivendi da sociedade.
Nesse sentido, na medida em que o Direito Costumeiro surge apenas 
como uma consequência da vida em sociedade, ele está sujeito a uma série 
Direito Natural10
de variações acidentais e dependentes do tempo e do espaço. Já o Direito 
Natural, por ser algo que existe por si mesmo e independentemente de tempo 
e espaço, é algo universal, eterno e imutável.
Como dito anteriormente, a ideia de que existe um Direito Natural sofreu duras críticas 
pelas tradições juspositivista e histórica. Com base nelas, a própria tese jusnaturalista, 
que foi predominante por quase toda história da filosofia, acabou sendo relegada 
ao esquecimento no período contemporâneo. Apenas com o advento da Segunda 
Guerra Mundial encontramos certo movimento, ainda que tímido, de retorno ao 
jusnaturalismo clássico.
Gilmar Antônio Bedin (2014, p. 250), no artigo “A doutrina jusnaturalista ou do Direito 
Natural: uma introdução”, sumariza as três principais críticas ao jusnaturalismo do 
seguinte modo:
a) falta clareza na sua proposta, pois um de seus elementos fundamentais 
(natureza) é plurívoco, não possuindo densidade semântica suficiente 
para ser objetivamente analisado;
b) a expressão Direito não possui os três elementos definidores deste 
fenômeno (caráter Positivo da coação, determinabilidade semântica 
de suas prescrições e suporte político estatal para sua efetividade); 
c) seu ideal e justiça é sempre relativo, pois deveria ser igual para 
todos os povos e em todas as épocas,o que não tem sido possível de 
ser objetivamente demostrado.
BEDIN. G. A. A doutrina jusnaturalista ou do direito natural: uma introdução. Revista 
Direito em Debate, v. 23, n. 42, jul./dez., 2014. Disponível em: <https://www.revistas.
unijui.edu.br/index.php/revistaDireitoemdebate>. Acesso em: 5 fev. 2018.
NADER. P. Filosofia do Direito. 21. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2012.
SÉBASTIEN NORBLIN ANTIGONE ET POLYNICE. In: Wikipédia. 2013. Disponível em: 
<https://commons.wikimedia.org/wiki/File:S%C3%A9bastien_Norblin_Antigone_
et_Polynice.JPG>. Acesso em: 5 fev. 2018.
11Direito Natural
Leituras recomendadas
NADER, P. Introdução ao estudo do direito. 24. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2004.
BITTAR, E. C. B., ALMEIDA, G. A. de. Curso de filosofia do direito. 11. ed. São Paulo: Atlas, 
2015.
FERRAZ JÚNIOR, T. S. Introdução ao estudo do direito: técnica, decisão dominação. 
São Paulo: Atlas: 1990.
MASCARO, A. L. Filosofia do direito. São Paulo: Atlas, 2016.
MORRIS, C. Os grandes filósofos do direito: leituras escolhidas em direito. São Paulo: 
Martins Fontes, 2002.
REALE, M. Introdução à filosofia. São Paulo: Saraiva, 2015. 
REALE, M. Lições preliminares de direito. 27. ed. São Paulo: Saraiva, 2012.
VILLEY, M. Filosofia do direito. São Paulo: Martins Fontes, 2008.
Direito Natural12

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