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EMANUELA HANNOFF PILON 1 Tutorial 3 – mod XVI Flora vaginal, vaginites, vaginoses, cervicite, uretrite A terminologia Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST) passou a ser adotada em substituição à expressão Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST), porque destaca a possibilidade de uma pessoa ter e transmitir uma infecção, mesmo sem sinais e sintomas (MS, gov.br) Flora vaginal normal A flora vaginal de uma mulher normal, em idade reprodutiva, assintomática, tem várias espécies aeróbias ou facultativas, e anaeróbias obrigatórias. Anaeróbias predominam!!! - Na grande maioria das vezes predomina 1 ou 2 espécies de Lactobacillus (108-109), sendo mais frequentes inner, crispatus, gasseri ou jensenii, mas algumas mulheres assintomáticas e saudáveis podem predominar outras bactérias como Prevotella, Gardnerella, Atopobium e Megasphaera pH vaginal: dependente do estado hormonal da mulher. normal 4-4,5, pelo ácido lático, graxos e outros ácidos produzidos pelas espécies de Lactobacillus. - Candida albincans e Streptococcus aeróbio são tolerantes ao ph ácido - Estrogênio estimula depósito de glicogênio nas céls epiteliais vaginais, que depois é degradado em glicose e ácido lático pelos lactobacillus. Outra fonte de ácido lático vaginal são as céls da mucosa vaginal de mulheres em idade reprodutiva. (estrogênio-dependente) - Na menopausa o pH aumenta (6-7,5), pois diminui o glicogênio nas céls epiteliais vaginais, diminuindo substrato para produção de ácido: pela queda de estrogênio! - Lactobacillus produz também, além do ácido lático, peroxido de hidrogênio, bacteriocinas e outros microbicidas, inibindo crescimento de patógenos e outros microrganismos oportunistas. - Estudos mostram que ácido lático é componente ativo da defesa imune inata no trato genital, ativando linfócitos TH17, que atuam contra microrganismos extracelulares - Variação da flora vaginal depende de fatores endógenos e exógenos como diferentes fases do ciclo, gestação, uso de ACO, frequência sexual, uso de duchas ou produtos desodorantes, antibióticos, imunossupressores. Tudo isso pode aumentar ou diminuir as vantagens seletivas para microrganismos específicos. Vaginose bacteriana - Desequilíbrio da flora vaginal pela substituição da flora microbiana saudável (Lactobacillus) por microbiota variável (mistura de bactérias anaeróbias e facultativas), sendo as mais encontradas Gardnerella, Atopobium, Prevotella, Megasphaera, Leptotrichia, Sneatia, Bifidobacterium, Dialister, Clostridium e Mycoplasmas. - Até 40% dos casos de queixas vaginais no Brasil. É a mais frequente afecção do trato genital inferior feminino, 3x+ em mulheres inférteis, associação com HPV, aumento de 6x na taxa de aquisição de HIV, pode facilitar transmissão/aquisição de outros agentes de transmissão sexual como clamídia e gonorreia, mais intercorrências obstétricas (principalmente no início da gestação). - Fatores de risco: raça negra, uso de duchas vaginais, tabagismo, menstruação, estresse crônico, comportamentos sexuais (elevado n° de parceiros, sexo vaginal desprotegido, sexo anal receptivo antes do sexo vaginal, sexo com parceiro não circuncisado). QUADRO CLÍNICO - Corrimento de intensidade variável, com odor vaginal fétido (odor de peixe podre, amoniacal) que piora com intercurso sexual desprotegido e na menstruação (por alcalinidade do sêmen ou sangue menstrual, que deixa volatização de aminas aromáticas (cadaverina, putrescina, dimetilamina) pelo metabolismo das bac anaeróbicas) - Exame ginecológico: conteúdo vaginal homogêneo, quantidade variável (geralmente escassa), coloração geralmente esbranquiçada, branco-acinzentada ou amarelada, com vagina não eritematosa e colo sem anormalidades. - Vaginose bacteriana isolada não causa disúria ou dispareunia, pois não é acompanhada de processo inflamatório!!! DIAGNÓSTICO Critérios de Amsel: 3 dos 4 itens: • Corrimento vaginal branco-acinzentado homogêneo aderente as paredes vaginais • Medida do pH vaginal >4,5, • Teste das aminas + (desprendimento de odor fétido após adição de KOH 10% a uma gota de conteúdo vaginal) • Presença de Clue cells (cels epiteliais recobertas por cocobacilos gram variáveis na bacterioscopia) Escore de Nugent: elementos avaliados na bacterioscopia com coloração Gram, particularmente os morfotipos de Lactobacillus, Gardnerella vaginalis e Mobiluncus sp: avaliação traduz em escores, sendo 0-3 normal, 4-6 flora vaginal intermediaria, 7-10 vaginose bacteriana. TRATAMENTO - Tenta eliminar sintomas e reequilibrar flora vaginal fisiológica, reduzindo anaeróbios, esquemas abaixo, com efeitos colaterais dos imidazólicos sendo náuseas, EMANUELA HANNOFF PILON 2 vômitos, cefaleia, insônia, tontura, boca seca e gosto metabólico, recomendado abstinência de álcool 24h após tratamento e abstenção de atividade sexual (ou uso de preservativo corretamente no tratamento). • Metronizadol 500mg VO 2x/dia por 7dias • Metronidazol gel 0,75%-5g (1 aplicador) intravaginal ao deitar por 5 dias • Clindamicina creme 2%- 5g (1 aplicador) intravaginal ao deitar por 7 dias: base oleosa, pode enfraquecer preservativos e diafragmas até 5 dias após o uso Tratamentos alternativos: tinidazol 2g VO 2x/dia por 2d OU tinidazol 1g VO 1x/dia por 5d OU clindamicina 300mg VO 12/12h por 7d. Quando usa tinidazol recomenda abstinência de álcool por 72h - Recidivas acontecem em mais de 30% dos casos, aproximadamente 3m depois do termino do tratamento, possibilidade é usar outra terapia ou repetir o mesmo, se múltiplas recorrências: metronizadol VO 500mg 2x/dia por 10-14d, se não resolver usa gel intravaginal 2x/semana por 4-6 meses. - Relatos de melhora com tinidazol 2g VO dose única seguida de óvulos vaginais de acido bórico e supressão com metronidazol gel Candidíase vulvovaginal - Cerca de 75% das mulheres em idade reprodutiva apresentarão pelo menos um episódio de vulvovaginite por Candida sp. Importante pelos sintomas e por facilitar aquisição/transmissão de outras IST’s, inclusive o HIV. - Candida albincans é a mais prevalente (85-95% dos casos)!!! Outras importantes são glabrata e tropicalis em 5-10%. Albicans tem o dimorfismo, altera sua forma habitual para a forma de micélio, mais invasiva. - Ainda não se sabe mecanismos que impedem ou favorecem a passagem da candida albicans do estado de comensal para patogênico, mas estão relacionados a atuação do sistema imune do hospedeiro. - Colonização vaginal por fungos parece ser hormônio dependente, por ser raro na infância e pós menopausa, acontecendo mais na idade reprodutiva ou em mulheres com TH. - Gravidez e aco de alta dosagem facilitam proliferação de fungos por alteração hormonal. Antibióticos alteram flora protetora lactobaciliar!!! - Quando sistema imune não consegue inibir proliferação dos fungos tem a passagem de estado saprófito para patogênico, com aparecimento de sinais e sintomas (não dependem da concentração). Baixa [ ] pode levar a aparecer sintomas em uma mulher, enquanto outra, mesmo com [ ] elevada, não apareça sintomas. - Lectina ligadora de manose (tem na secreção vaginal) é importante no combate a infecções fúngicas, pois reconhece e se liga ao polissacarídeo manose de microrganismos como candida sp, e desencadeia cascata do complemento, fazendo lise celular e fagocitose. Existe um polimorfismo que diminui concentração dessa proteína, levando a + frequencias de candidíase recorrente; QUADRO CLÍNICO - Prurido, intensidade variável, com corrimento esbranquiçado (fluido ou leite talhado), podendo ter desconforto, dor, disúria e dispareunia. - Exame ginecológico: frequente hiperemia vulvar, edema e fissuras. - EE: hiperemia da mucosa vaginal, conteúdo vaginal esbranquiçado, espesso ou flocular, aderido ou não as paredes vaginais.- pH geralmente < 4,5, teste das aminas – na candidíase. CLASSIFICAÇÃO Não complicada: episódios esporádicos ou infrequentes, intensidade leve ou moderada, agente provavelmente cândida albicans e acontece em mulheres imunocompetentes Complicada: recorrente ou severa ou por espécies não albicans ou em diabéticas, imunocomprometidos (HIV, imunossupressores). 10-20% dos casos. DIAGNÓSTICO - Sempre confirma pela presença de fungos, pelo exame a fresco (avalia hifas e/ou esporo, se – com sintomas continua pesquisa com bacterioscopia) e bacterioscopia (com Gram, permite identificar fungo, espécie e antifungigrama nos casos recorrentes) - Diferencial com sintomas alérgicos e vaginose citolitica, mas nesses casos pesquisa da – para fungos TRATAMENTO e prevenção de novos episódios - Controle/eliminação de fatores predisponentes (DM, imunossupressão, tabagismo, excesso de hidratos de carbono na alimentação, higiene, vestuário, estresse excessivo...) - Não complicada: antifúngicos via vaginal (cremes, óvulos ou cp), como derivados de imidazólicos (fenticonazol, clotrimazol, miconazol, econazol, butaconazol, terconazol, tioconazol) e polienicos (nistatina). Uso sistêmico como fluconazol (150mg dose EMANUELA HANNOFF PILON 3 única: é o indicado pelo uptodate), cetoconazol (200mg 2x/dia 5 dias) e itraconazol (100mg um pela manhã e um noite por 1 dia), com efeitos de náusea, dor abdominal e cefaleia. Não recomendado tratamento de parceiro sexual nos episódios simples, se tiver balanite pode usar antifúngico tópico para aliviar sintomas. - Complicada: confirma diagnostico para identificar cepa, na recorrente (>4 episódios/ano confirmado por labs), pode usar mesmos medicamentos acima, mas em tempo prolongado (agente tópico 7-14 dias ou VO fluconazol 150mg 3 doses com intervalos de 3 dias, depois de remissão de quadro agudo faz esquema de supressão com fluconazol 150mg 1x/semana por 6 meses). Quando por não cândida albicans pode usar 7-14 dias com outros medicamentos que não fluconazol, 600mg de ácido bórico ou óvulos de anfotericina B ou flucitosina 17% tópico (esses 2 não tem no Brasil). Nos casos recorrentes não tem confirmação que adiante tratar o parceiro. - Imunodeficientes usa 7-14 dias de terapia. Na gestação só recomenda uso de azolicos por via vaginal Vaginite por Trichomonas vaginalis ?? - É a IST não viral mais comum no mundo. 1/3 das infectadas são assintomáticas e a infecção pode persistir por meses ou anos. 2,6-20% no Brasil, sexo feminino. - Homens geralmente tem menos sintomas que as mulheres, servindo de vetores assintomáticos!!! Transmissão predominantemente sexual. - Por possuir flagelos, tem muita mobilidade. Ele adquire nutrientes pelo meio externo e consegue fagocitando micoplasma, clamídia e gonorreia, transportando ao trato genital superior e facilitando DIP. Importante cofator na transmissão e aquisição de HIV - Quando ele penetra na vagina ele se cobre com proteínas do hospedeiro, permitindo evasão dos mecanismos de defesa locais, tem também capacidade de sobreviver no meio vaginal ácido por longos períodos de tempo - Homem: infecta uretra inferior, podendo atingir próstata, vesícula seminal e epidídimo. - Mulher: além da vagina e exocervice, pode acometer uretra, bexiga, glândulas de Skenne e bartholin e endocérvix. Relação com prematuridade na gravidez, além disso a infecção do trato genital feminino pelo protozoário não da imunidade duradoura, podendo ter infecções recorrentes. QUADRO CLÍNICO - Corrimento profuso, amarelado ou amarelo-esverdeado, geralmente com ardor genital, sensação de queimação, disuria e dispareunia. - Pioram no período pós-menstrual por elevação do pH vaginal e aquisição de ferro da hb pelo parasita, que aumenta a virulência. DIAGNÓSTICO - Método mais utilizado pelo baixo custo e praticidade é a bacterioscopia a fresco (coloca em lâmina de vidro uma gota de conteúdo vaginal e uma gota de solução salina, morna ou temperatura ambiente, pois gelada pode paralisar parasita, e olha no microscópio), com movimentação pendular, se usa o gram associado a bacterioscopia pode dificultar identificação do parasita pela falta de movimentos. - Cultura tem mais sensibilidade e especificidade, mas demora uns dias, só faz se sintomas com – no exame a fresco. - Exame ginecológico: hiperemia dos genitais externo, corrimento espesso, purulento, exteriorizando na fenda vulvar. EE com aumento do conteúdo vaginal, amarelada ou amarelo-esverdeada, com pequenas bolhas. - Paredes vaginais e Ectocérvice hiperemiadas, colo uterino com aspecto de morango (pequenas sufusoes hemorragicas). - pH >4,5 e teste das aminas pode ser + pela presença de germes anaeróbios associados a vaginose bacteriana - Se Papanicolau (não considerado teste diagnostico pela baixa sensibilidade) referir presença de T vaginalis deve chamar paciente a consulta para confirmar, se teste + trata. TRATAMENTO - Metronidazol 2g VO DU OU tinidazol 2g VO DU. Alternativo metronizadol 500mg VO 12/12h 7d (recorrência, ou usa tinidazol 7 dias). - Uptodate fala em tratamento inicial com metronidazol por 7 dias VO 500mg 12/12h, pois dose única tem taxa de cura menor. - Metronidazol via vaginal não recomendado, pois não atinge níveis terapêuticos na uretra e glândulas de Skene e Bartholin EMANUELA HANNOFF PILON 4 - Recomenda abstinência sexual durante tratamento, deve tratar também os parceiros. Restringe consumo de álcool 24h após metronidazol e 72hrs após tinidazol. - Reavaliação 3m depois do termino do tratamento pela alta taxa de reinfecção. Pode fazer teste de biologia molecular 2 semanas após tratamento Vaginose citolítica - Proliferação excessiva de Lactobacillus, que danifica epitélio vaginal e diminui pH. - Causa de vulvovaginite clínica na idade reprodutiva, 1,8- 7,1%. - Fatores metabólicos tornam meio vaginal propicio a proliferação excessiva de lactobacillus, que danificam céls da camada intermediaria vaginal e induzem a citólise (morte celular). Os produtos liberados dessa morte + acidez excessiva resultam nos sintomas abaixo. QUADRO CLÍNICO - Corrimento abundante, prurido, sensação de queimação, desconforto e dispareunia. - Exacerbação de sintomas na fase lútea do ciclo e no período pré-menstrual. DIAGNÓSTICO - EF: conteúdo vaginal aumentado, aspecto flocular, fluido ou em grumos, aderente ou não as paredes vaginais, podendo ter sinais inflamatórios por irritação da mucosa pelos detritos celulares e acidez excessiva. pH <4 - Não é necessário teste das aminas, pois é útil só para diagnostico de Vaginose bacteriana e tricomoníase - Bacterioscopia tem aumento de lactobacilos (>1000 por campo de imersão), raros leucócitos ou ausentes, núcleos celulares desnudos e restos celulares pela lise de céls epiteliais. - Não encontra elementos fúngicos como hifas e/ou esporos, mas sempre que possível manda para cultura de fungos, que quando negativa com achados de Bacterioscopia acima confirma diagnostico de Vaginose citolitica. TRATAMENTO - Não há TTO específico, pois não se sabe etiologia. Usa- se medidas que alcalinizem o meio vaginal, como as duchas vaginais com bicarbonato de sódio, particularmente no período pré-menstrual. Vaginite inflamatória descamativas (exsudativa) - Forma pouco frequente, mas severa, de vaginite purulenta crônica, acontece mais em mulheres na peri e pós-menopausa. Tem intensa inflamação vaginal com eritema e corrimento vaginal purulento, causando desconforto e dispareunia. ETIOLOGIA - Desconhecida, alguns casos identificam Streptococcus do grupo B e Escherichia coli. Tem hipótese de fator genético permite que sistema imune reaja a componentes da mucosa vaginal, desencadeando processo inflamatório. - Talvez deficiência de estrogênio pode estar relacionadaao processo. QUADRO CLÍNICO - Sintomas inespecíficos e frequentemente de longa duração, podendo confundir com tricomoníase aguda ~90% dos casos, raramente assintomática. - Queixa de corrimento profuso ou em moderada quantidade, com desconforto e dispareunia. - Exame ginecológico mostra processo inflamatório, com eritema, podendo ter petéquias ou equimoses na mucosa do trato genital, pode envolver cérvix. Pode precisar tirar conteúdo vaginal para ver melhor inflamação da mucosa. - Meio vaginal fica com aumento acentuado de cels inflamatórias, predominantemente de leucócitos. Na microscopia tem aumento nos polimorfonucleares e nas cels parabasais. Perda de flora de lactobacillus e presença de outras bactérias. pH vaginal >4,5. - Quando possível faz cultura para clamídia, gonorreia e Trichomonas para excluir infecção. TRATAMENTO - Tenta reduzir população bacteriana e o processo inflamatório - Clindamicina creme vaginal 2%, 5g (um aplicador) por 14 dias (uptodate fala 4-6 semanas) OU hidrocortisona 10% intravaginal 2-4 semanas (uptodate fala 4-6 semanas) OU creme combinado clindamicina e hidrocortisona (casos refratários, ou nesse caso usa a outra droga que não usou no 1° tratamento) Vaginite aeróbia - Alteração do meio vaginal por microflora com bactérias aeróbias entéricas, níveis variados de inflamação (que não tem na Vaginose bacteriana) e maturação epitelial deficiente. Predominam Streptococcus sp, sthapylococcos aureus e escherichia coli, que passam de comensais para agressores, mas não se sabe desencadeantes SINTOMAS - Corrimento vaginal purulento, com odor desagradável, teste das aminas – (diferente da Vaginose bacteriana), sinais de inflamação, irritação vulvar e dispareunia. EMANUELA HANNOFF PILON 5 DIAGNÓSTICO - Exame ginecológico: inflamação do vestíbulo e da mucosa vaginal - Microscopia de conteúdo vaginal avalia flora microbiana e presença de leucócitos (tóxicos por serem ativados a apresentarem granulações específicas): classifica em 4 graus, sendo o grau IV o mais intenso (alguns consideram como a vaginite inflamatória descamativa). TRATAMENTO - Não tem normatização ainda, estudos com antissepticos locais (ainda não disponíveis no Brasil), de maneira geral aborda de acordo com os principais achados microscópicos. - Predomínio de inflamação usa hidrocortisona 10% via vaginal, se atrofia usa estrogênio via vaginal, se macroscopia mostra excesso de bactérias usa atb (grau IIb ou III: clindamicina 2% local) - Estudos com probióticos para prevenção de recidivas Cervicite - Febrasgo - Colo do útero tem epitélio escamoso (ectocervice) e colunar (endocervice). - Ectopia é processo fisiológico da fase reprodutiva da mulher, que tem epitélio glandular na ectocervice, expondo epitélio colunar ao meio vaginal, diminuindo barreiras contra infecções e favorecendo DST’s. - Cervicite ou endocervicite é inflamação da mucosa endocervical, geralmente de causa infecciosa, podendo ser gonocócicas ou não gonocócicas - Maioria dos casos é assintomática, descobrindo apenas em investigação diagnostica. Ausência de sintomas dificulta diagnostico e favorece complicações com quadros de endometrite, DIP... ETIOLOGIA - Principais agentes são clamídia (Chlamydia trachomatis) e gonorreia (Neisseira gonorrhoeae) Clamídia: bactéria gram -, intracelular obrigatória, é a causa mais comum de IST causada por bactéria em todo mundo. Mais frequente na população feminina. 70% assintomático. QC: colo edemaciado, hiperemiado, mucorreia, friável (sangra fácil ao toque), macula rubra, dispareunia e dor à mobilização do colo uterino Gonorreia: prevalência menor que clamídia. Diplococo gram -. Mais exuberante e sintomática, tendo exsudato purulento ou mucopurulento, sangramento endocervical induzido facilmente por cotonete ou escovinha no OCE... o Fatores de virulência: fimbrias, OMP, OPA, Por-B, LOS, IgA protease o Etapas da patogênese: adesão (mediadas pelo Pili, OPA, proteínas de superfície), invasão (da mucosa ao espaço subepitelial), endotoxina (LOS: prejudica motilidade ciliar, forma abscesso), disseminação do gonococo (incapacidade de anticorpos e falha do sistema) Mycoplasma: bactérias que a maioria dos tipos são apenas comensal, mas o mycoplasma hominis é um micoplasma genital patogênico, QC com dispareunia, disuria, polaciuria, infecção urinaria e genital, corrimento vaginal incaracterístico. Exame clínico com descarga uretral de material purulento, graus variados de cervicite HSV e CMV: família herpesviridae, vírus DNA, HSV tipo 1 mais lesões periorais e 2 genitais, sendo o quadro de recorrências menos intenso que da 1° infecção, com sintomas como prurido, mialgias, sensibilidade local. CMV é raro no colo do útero. Trichomonas vaginalis: protozoário que infecta vagina, sendo a IST não viral mais frequente no sexo feminino. Inflamação cervical. DIAGNÓSTICO - Frequentemente assintomáticas (70-80%), se sintomático tem queixa de corrimento vaginal, sangramento intermenstrual, dispareunia e disuria. - EF pode ter dor a mobilização do colo uterino, material mucopurulento no OCE, sangramento ao toque da espátula ou swab. - Labs: biologia molecular (clamídia e gonorreia), cultura meio de mccoy (clamídia, raramente utilizado, demora), bacterioscopia de secreção endocervical (procura diplococo gram -), cultura em meio de Thayer-Matin (anaerobiose), imunofluorescência direta (clamídia), métodos imunoenzimaticos (clamídia), detecção de anticorpos (não usa como uretrite e cervicite). TRATAMENTO - Clamídia: Recomendação do MS 2016 • Azitromicina 500mg, 2cp VO e DU • Doxiciclina 100mg VO 2xdia por 7d • Amoxicilina 500mg VO 3x dia por 7d - Gonorreia: Recomendação 2016 (considerando que pode haver gonorreia e clamídia e dificuldade prática de dx, trata-se ambas • Ciprofloxacino 500mg VO DU + Azitromicina 500mg 2cp VO DU ou Ceftriaxona 500mg IM DU + Azitromicina 500mg 2cp VO DU EMANUELA HANNOFF PILON 6 • Cipro não se faz em gestante e <18a, faz ceftriaxona - Tratamento de infecções por Micoplasma • Doxiciclina 100mg 2xdia por 7d • Tetraciclina 500mg 4xd por 7d • Eritromicina 500mg 4xd por 7d • Levofloxacino ou cipro 500mg/dia por 7d • Azitromicina 1g DU ou 500mg/dia por 5d RASTREIO - Todas as parcerias dos pacientes devem ser tratadas para gonococo e clamídia se o ultimo contato foi antes do diagnostico. - Pacientes de risco e viventes em área de alta prevalência devem fazer triagem de rotina, na gravidez, homens com sexo com homens rastreia anualmente Uretrite - São caracterizadas por inflamação e corrimento uretral (aspecto mucoide a purulento, volume variável, podendo ser associado a dor uretral, disuria, estranguria, que é a micção lenta e dolorosa, prurido uretral e eritema de meato uretral), sendo que os agentes são transmitidos por relação sexual vaginal, anal e oral. Fatores associados: idade jovem, baixo nívelsocioeconômico, múltiplas parcerias ou nova parceria sexual, histórico de IST e uso irregular de preservativos Etiologia: os agentes mais frequentes são Neisseria gonorrhoeae e Clamydia trachomatis! Outros são tricomonas, ureaplasma, enterobactérias (relações anais insertivas), mycoplasma genitalium, HSV, adenovírus e cândida. URETRITE GONOCÓCICA - Processo infecciosos e inflamatório da mucosa uretral, por Neisseria gonorrhoeae (diplococo gram - intracelular), 50% de chance de transmissão por ato sexual. - Sinais e sintomas pelos locais primários de infecção: uretrite, cervicite, proctite (reto), faringite, conjuntivite. Nos casos sintomáticos tem corrimento (mucopurulento ou purulento) em >80% e disuria em >50%. Incubação de 2- 5 dias após infecção. Nas mulheres é frequentemente assintomática. - Complicações no homem por infecção ascendente pela uretra, como orquiepididimite,prostatite e estenose de uretra. URETRITE NÃO GONOCÓCICA - Quando Bacterioscopia, cultura e material genético por biologia molecular são – para gonococo. Chlamydia trachomatis, Mycoplasma genitalium, Ureaplasma urealyticum, Mycoplasma hominis, Trichomonas vaginalis. - Clamídia: 50% dos casos de uretrite não gonocócica, transmissão por contato sexual (20% de chance por ato), período de incubação 14-21 dias no homem. 2/3 de homens com a doença não gonocócica hospedam clamídia na endocervice, podendo reinfecção parceiros sexuais e levar a DIP se permanecer sem tratamento. - Corrimento mucoides, discretos, com disuria leve e intermitente. URETRITES PERSISTENTES - Paciente com diagnostico de uretrite deve retornar 7-10 dias após acabar o tratamento. - Fatores relacionados a uretrites persistentes: reexposição a parceria sexual não tratada, infecção adquirida de outra parceria sexual, medicamentos tomados incorretamente, infecção por outros patógenos, presença de organismos resistentes, outras causas (ITU, prostatite, fimose, irritação química, estenoses uretrais, tumores) - Importante pesquisar agentes não suscetíveis ao tratamento anterior, como Mycoplasma genitalium, Trichomonas vaginalis e Ureaplasma urealyticum, além de considerar causas não infecciosas como trauma, inserção de corpos estranhos intrauretrais (piercings) e irritação química (alguns lubrificantes) - Mycoplasma genitalium: em mulheres aumenta risco de cervicite, DIP, parto prematuro, infertilidade e aborto espontâneo, não tem parece celular então betalactamicos não resolvem (atb como penicilinas e cefalosporinas). Azitromicina em dose única no tratamento de clamídia levou a depuração desse M genitalium, eliminando patógeno sem evolução para doença, mas alguns casos já tem resistência a macrolídeos, tendo como outra opção o moxifloxacino (não tem no SUS) INFECÇÃO POR CLAMÍDIA E GONOCOCO EXTRAGENITAL - Infecção retal geralmente é assintomática, mas pode ter proctite ou desconforto perianal ou anal, acontecendo mais em homens que fazem sexo com homen. - Infecção de faringe é assintomático em >90% dos casos, com diagnostico pelo histórico sexual. - Conjuntivite gonocócica é mais em RN de mães infectadas ou em adultos por autoinoculação e fômites, tendo secreção purulenta e edema periorbital. DIAGNÓSTICO - Assintomáticas: quando risco de IST e exclusão de sinais e sintomas clínicos, faz rastreio por biologia molecular para detecção de clamídia e gonococo. - Sintomáticas: biologia molecular, Bacterioscopia (gram, diplococos gram – intracelulares em leucócitos polimorfonucleares, baixa sensibilidade em baixo n° de gonococos), cultura de amostras de corrimento uretral (gonorreia). Teste positivo de esterase leucocitária na urina de primeiro jato ou microscopia de sedimento urinário de 1° jato com >10 leucócitos polimorfonucleares por campo sugere infecção, mas não qual agente infeccioso. MANEJO CLÍNICO EMANUELA HANNOFF PILON 7 Doença inflamatória pélvica (DIP) - DIP é um conjunto de processos inflamatórios da região pélvica por propagação de microrganismos a partir do colo do útero e vagina para o endométrio, tubas, peritônio e estruturas adjacentes - Geralmente se manifesta com padrão clinico subagudo e olissintomatico, obrigatório dor abdominal em intensidade variável. + em mulheres jovens, que não fazem sexo seguro, o que aumenta chance de contrair agentes causais das cervicite, que são os mais importantes para desencadear DIP. - Principal agente é Chlamydia trachomatis. Classificação no CID-10 entra nas doenças inflamatórias dos órgãos pélvicos femininos, sendo códigos N74.3 e 4 de DIP associada com gonococo ou clamídia. COMPLICAÇÕES - Emergência no caso de pelviperitonite ou ruptura de abscesso tubovariano, em longo prazo pode causar infertilidade, gravidez ectópica e dor pélvica crônica FATORES DE RISCO - Adolescência e comportamento sexual aumenta suscetibilidade à DIP, levando em conta que adolescentes se submete a mais fatores como múltiplos parceiros e sexo desprotegido, além de terem maior superfície passível de ser infectada. Múltiplos parceiros sexuais. Parceiro com uretrite. História passada ou atual de IST. Uso de DIU aumenta 3-5x risco para DIP se paciente tiver cervicite na época de inserção. ETIOLOGIA - Antigamente o mais comum era Neisseria gonorrhoeae (gonococo), atualmente é a Chlamydia trachomatis, além desses dois principais pode ter também mycoplasma genitalium. Vaginose bacteriana aumenta 2x risco de DIP. - Com evolução do processo vai diminuindo oxigênio local e aumentando anaeróbios, como Bacteroides fragilis, - Peptostreptococcus spp. e Prevotella spp, o que relaciona a doença mais grave. FISIOPATOLOGIA - Inicialmente tem agentes fazendo cervicite no colo uterino, sendo o estagio pré DIP (zero), com chance de 20-30% de infecção superior, importante detectar nessa fase para tratar e prevenir DIP. - Na fase menstrual ou pós menstrual imediato (modificação do muco cervical facilita processo, além de sangue ser alcalino e propiciar meio de cultura) esses organismos ascendem e passam pelo endométrio, provocando endometrite, podendo ter sangramento discreto ou prolongar menstruação. - Microrganismos do meio vaginal também ascendem pela cervicite, via canalicular, instalando na tuba uterina, onde forma conteúdo purulento que pode se desprender e passar pelas fimbrias, indo para peritoneo pélvico e causando pelviperitonite: acúmulo maior no fundo de saco de Douglas, então é local com mais sensibilidade, desencadeando dispareunia, dor ao toque vaginal - Alças intestinais e epiplon (omento) tendem a bloquear o processo purulento formando complexo tubo-ovariano: à medida que aumenta viscosidade desse conteúdo, pode ter fusão das fimbrias tubarias, fazendo aprisionamento de pus dentro das tubas (piossalpinge): esse conteúdo aprisionado faz diminuição dos níveis de oxigênio e aumento da proliferação de anaeróbios. - Conteúdo purulento pode se propagar para ovários, constituindo ATO, que pode formar hidrossalpinge ou romper pela tensão intra-abscesso (que pode levar a choque séptico e óbito) - Dor é desencadeada pela entrada dos agentes pélvicos na cavidade uterina, doendo mais quando conteúdo purulento contamina a cavidade pélvica. EMANUELA HANNOFF PILON 8 - Quando tem fusão das fimbrias que pode ter diminuição da sensação dolorosa e se torna máxima quando tem ruptura do ATO. Estadiamento da DIP em função do tempo de evolução • 0: cervicite (agentes presentes no colo uterino) • 1a: endometrite • 1b: Salpingite com peritonite • 2: Salpingite com peritonite • 3: Piossalpinge/abscesso tubo-ovariano • 4a: abscesso tubo-ovariano roto • 4b: hidrossalpinge/hidrooforossalpinge DIAGNÓSTICO - Pode ser difícil pela variação de sinais e sintomas, podendo ter até dor abdominal intensa. Na suspeita clinica começa tratamento antes de confirmação laboratorial ou de imagem. - Suspeita: mulheres 15-44 anos, com dor abdominal baixa ou dor pélvica à mobilidade da cérvice, mesmo se sintomas leves Quadro clínico: Pacientes podem ser assintomáticas ou terem sintomas como dor abdominal ou pélvica (geralmente bilateral), febre, corrimento vaginal ou cervical, coceira ou odor, sangramento vaginal (aumento ou prolongamento da menstruação), dispareunia (por inflamação), disuria (principalmente se uretrite), dor lombar, náuseas e vômitos - Diagnóstico diferencial: gravidez ectópica, tumor/torsão/cisto ovariano, aborto séptico incompleto, endometriose, adenomiose, leiomioma, endometrioma roto, nefrolitíase, pielonefrite, cistite, litíase urinaria, apendicite, SII... - Exames complementares: • Hemograma completo que sugira processo inflamatório, como leucocitose e/ou bastonetes • Urina tipo 1 e uroculturapara excluir ITU • Provas inflamatórias (VHS e PCR) • Bacterioscopia para avaliar Vaginose bacteriana • Biologia molecular para diagnostico de clamídia e gonococo, e possível cultura para gonococo com antibiograma e determinação de resistência • Teste de gravidez para afastar gravidez ectópica - USTV é método escolha para avaliação inicial de dor pélvica, podendo ter espessamento da parede tubaria >5mm, septos incompletos intratubários, sinal da roda dentada, espessamento e liquido tubário, ATO. Se inconclusiva pode considerar TC da pelve, RM, laparoscopia - Todas as mulheres com DIP aguda precisa rastrear clamídia e gonococo, além de HIV - Critérios específicos que definem presença de DIP sozinhos: USTV ou RM sugerindo ATO ou complexo tubo-ovariano, biopsia endometrial com endometrite, laparoscopia com sinais de infecção tubaria ou tuboperitoneal Para dx, ter 3 critérios mínimos + pelo menos um dos adicionais • Obrigatórios (maiores) o Dor em baixo ventre espontanea o Dor à palpação anexial o Dor à mobilização cervical • Adicionais (menores) o Temperatura oral > 38,3° o Secreção vaginal/cervical anormal o VHS ou PCR aumentados o Isolamento de gonococo ou clamídia endocervical TRATAMENTO - Tenta resolver quadro infeccioso atual e prevenir complicações futuras. Começa o mais cedo possível, mesmo com diagnostico só presumível. - Sempre pede testes sorológicos HIV, sífilis e hepatites, além de rastrear neoplasias associadas ao HPV. - Parceiro também deve ser tratado. Se for retirar o DIU associado ao quadro tem que ser no mínimo depois de 6h de atb. - Indicações de internação: emergências cirúrgicas não podem ser excluídas como apendicite, presença de ATO ou peritonite, HIV+ ou imunossuprimidas, DIU, atb oral não tolerada ou não efetiva, estado tóxico e grave início, gravidez. TTO ambulatorial - Ceftriaxona 250 IV DU ou Cipro 500mg VO DU - Azitromicina 1g VO DU + 500mg por 7d (ou 1g/sem por 2sem) ou Doxiciclina 100mg VO 12/12 14d com ou sem metro 250mg 2cp VO 12/12 por 14d TTO hospitalar - Ceftriaxone 1g EV12/12 + Metro500mg 8/8 ou Clinda 900mg 8/8 - Cipro 400mg 12/12 + Metro 500mg 8/8 ou Clinda 900mg 8/8 - Clinda 900mg 8/8 + Genta 2mg/kg EV ou IM +1,mg/kg 8/8h SEGUIMENTO EMANUELA HANNOFF PILON 9 - Nos casos de tratamento ambulatorial acompanha paciente a cada 2 dias e instrui a retornar ao serviço a qualquer tempo se piorar os sintomas. - Se internado avalia clinicamente 2x/dia. 48-72h depois atb avalia resposta ao tratamento vendo melhora no estado geral, térmico, dor, provas inflamatórias, eco mostrando ausência de aumento nos casos de ATO (no mínimo a cada 2 dias). Se não houver evidencia de melhora avalia cirurgia. - Complicações tardias: gravidez ectópica, infertilidade, DIP crônica com dor pélvica e maior chance de recorrência. PREVENÇÃO - Rastreio e tratamento de mulheres sexualmente ativas reduzem risco para DIP. - Rastreio de infecção por clamídia nos casos de mulheres <25a sexualmente ativas, múltiplos parceiros (>2/ano), parceiro com múltiplas parceiras, novo parceiro sexual (<90 dias), parceiro com secreção uretral, sinais e sintomas de cervicite. Fontes: Febrasgo, Manual MS sobre IST, Williams, UpToDate
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