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UniAGES Centro Universitário Licenciatura em Educação Física LUZIA MAÍRES SILVA ALVES BRINCADEIRAS E JOGOS DE RAÍZES AFRICANA E INDÍGENA EM POÇO REDONDO (SE) Paripiranga 2021 LUZIA MAÍRES SILVA ALVES BRINCADEIRAS E JOGOS DE RAÍZES AFRICANA E INDÍGENA EM POÇO REDONDO (SE) Monografia apresentada no curso de graduação do Centro Universitário AGES como um dos pré-requisitos para obtenção do título de licenciada em Educação Física. Orientador: Prof. Me. Tiago de Melo Ramos Paripiranga 2021 LUZIA MAÍRES SILVA ALVES BRINCADEIRAS E JOGOS DE RAÍZES AFRICANA E INDÍGENA EM POÇO REDONDO (SE) Monografia apresentada como exigência parcial para obtenção do título de licenciada em Educação Física à Comissão Julgadora designada pelo colegiado do curso de graduação do UniAGES. Paripiranga, _____ de _____________ de ________. BANCA EXAMINADORA Prof. Me. Tiago de Melo Ramos UniAGES Prof._________________________ UniAGES Prof. ___________________________ UniAGES AGRADECIMENTOS A Deus, meu refúgio e fé, por sempre está comigo em todos os momentos, fortalecendo-me frente as dificuldades e durante toda a jornada, sem ele nada é possível. Aos meus pais, por tudo. E por todos ensinamentos que contribuíram para minha formação enquanto ser humano com princípios éticos e morais, tudo que sou devo a eles. A minha irmã, Marly Marta, por sempre está presente e apoiando. Ao meu namorado Lázaro, pelo seu amor e carinho, por todo apoio e paciência durante essa trajetória. Aos amigos que a faculdade proporcionou conhecer, não irei citar nomes, mas vocês sabem do quanto de carinho que tenho por cada um. Obrigada pelas vivências e trocas durante todo esse tempo. A todos os colegas de curso, que de algum modo contribuíram direta e indiretamente durante a minha trajetória acadêmica. Ao meu orientador, o prof. Me. Tiago de Melo Ramos por toda orientação, tornando possível a realização desse trabalho. A todos os professores do curso de Educação Física, aos que estão presentes e aos que não fazem mais parte da instituição, e a todos os outros professores que passaram durante minha jornada acadêmica. Obrigada a todos pela partilha de conhecimentos e saberes. E por fim, deixo meus agradecimentos a todos os funcionários da instituição, pois cada um contribuiu de forma relevante para a prestação de serviços aos estudantes. RESUMO O presente trabalho tem como tema: brincadeiras e jogos de raízes africana e indígena em Poço Redondo-SE. Dessa forma, Trata das brincadeiras e jogos como manifestações corporais culturais presentes nas diversas etnias e grupos sociais, que representam a cultura corporal de um povo, discorrendo sobre as brincadeiras e os jogos de raízes africana e indígena no ensino da Educação Física no supracitado município. Nota-se que levar para as aulas de Educação Física brincadeiras e jogos de raízes africana e indígena é uma forma de trabalhar a diversidade cultural, contribuindo, assim, para uma educação intercultural e nas relações étnicos-raciais, com isso, cumpre com a obrigatoriedade representada na Lei nº 10.639/2003 e na Lei 11.645/2008, que vem a ser orientado pelo currículo de Sergipe. Diante do exposto, a presente pesquisa tem como objetivo geral: analisar as brincadeiras e os jogos de raízes africana e indígena e sua importância como metodologia de ensino a ser concretizada no planejamento dos professores de Educação Física no município de Poço Redondo-SE. E enquanto objetivos específicos: identificar brincadeiras de raízes ou descendência africana e indígena presentes nas brincadeiras tradicionais/populares; discorrer sobre as brincadeiras, os jogos e o ensino na Educação Física; refletir sobre a utilização das brincadeiras e dos jogos de raízes africana e indígena como instrumento pedagógico para as relações étnicos-raciais; ponderar sobre o documento curricular de Sergipe no campo da Educação Física e do ensino da cultura africana e indígena. A pesquisa é do tipo bibliográfica e documental, tem como metodologia a natureza qualitativa, descritiva e exploratória. Perante os resultados, evidenciou-se que as brincadeiras e os jogos são tidos como tradicionais, universais e presentes em todas as culturas, inclusive, os africanos e indígenas deixaram traços marcantes nas brincadeiras e jogos praticados atualmente. Sendo assim, chega a conclusão que as brincadeiras e os jogos são instrumentos de ensino importante para trabalhar, por meio da cultura corporal, a história e a cultura desses povos, contribuindo para o conhecimento, a vivência, a valorização e o respeito à diversidade cultural existente, a qual faz parte da cultura nacional, sendo assim, um meio para a formação de sujeitos críticos e reflexivos perante a história dos povos africanos e indígenas. PALAVRAS-CHAVE: Brincadeiras e jogos de raízes africanas. Brincadeiras e jogos de raízes indígenas. Brincadeiras e jogos tradicionais. Cultura corporal. Interculturalidade. Educação Física. ABSTRACT This work has as a theme: plays and games with African and indigenous roots in Poço Redondo-SE. Thus, it brings plays and games as cultural bodily manifestations present in several ethnic and social groups, which represent the body culture of a people, discussing the plays and games with African and indigenous roots in Physical Education teaching in the aforementioned municipality. It is noted that taking plays and games of African and indigenous roots to Physical Education classes is a way of working with cultural diversity, thus contributing to an intercultural education and in ethnic-racial relations, thus it fulfills the obligation represented in Law 10.639/2003 and in Law 11.645/2008, which is guided by Sergipe’s curriculum. Front to these information, this research has as general objective: to analyze the plays and games with African and indigenous roots and their importance as a teaching methodology to be implemented in the Physical Education teachers’ planning in the city of Poço Redondo-SE. And as specific objectives: to identify plays of African and indigenous roots or descent present in traditional/popular games; to talk about plays, games and teaching in Physical Education; to reflect on the use of plays and games with African and indigenous roots as a pedagogical tool for ethnic-racial relations; to ponder on Sergipe’s curricular document in the field of Physical Education and the African and indigenous culture teaching. The research is bibliographical and documentary, with a qualitative, descriptive and exploratory methodology. In view of the results, it was evident that plays and games are seen as traditional, universal and present in all cultures, including the Africans and indigenous people left striking traces in the plays and games practiced today. Therefore, it comes to the conclusion that plays and games are important teaching tools to work, through body culture, these peoples’ history and culture, contributing to knowledge, experience, appreciation and respect for cultural diversity existing, which is part of the national culture, thus, a means for the formation of critical and reflective subjects before the African and indigenous peoples’ history. KEYWORDS: Plays and games with African roots. Plays and games with indigenous roots. Traditional plays and games. Body culture. Interculturality. Physical Education. LISTAS LISTA DE QUADROS 1: Brincadeiras destacada po Freyre(1990) ............................................................................. 45 2: Brincadeiras tradicionais das crianças africanas .................................................................. 46 3: Brincadeiras que fazem parte da cultura africana ................................................................. 46 4: Brincadeiras populares africanas .......................................................................................... 47 5: Brincadeiras do índio nos séculos XVI e XVII, Cascudo (2001) ........................................ 48 6: Jogos e brincadeiras indígenas da pesquisa de Grando, Xavante e Campos (2010) ........... 49 7: Jogos e brincadeiras na cultura indígena no Brasil .............................................................. 50 LISTA DE SIGLAS BNCC Base Nacional Comum Curricular DCNs Diretrizes Curriculares Nacionais LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional PCNs Parâmentros Currículares da Educação Nacional SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 8 2 MARCO TEÓRICO ............................................................................................................ 12 2.1 Jogos e brincadeiras, conceitos e aplicação nas aulas de Educação Física .................... 12 2.2 Jogos e brincadeiras regionais e locais .......................................................................... 19 2.3 Jogos e brincadeiras no Brasil e no mundo: em evidência matriz africana e indígena .. 26 2.4 Didática e metodologia: o uso das brincadeiras enquanto metodologia de ensino ........ 33 3 MARCO METODOLÓGICO ............................................................................................ 40 3.1 Tipo de pesquisa ............................................................................................................ 40 3.2 População e amostra ...................................................................................................... 41 3.3 Instrumento de coleta das informações .......................................................................... 42 3.4 Análise das informações ................................................................................................ 43 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................................ 44 4.1 Tema 1: brincadeiras e jogos de raízes africanas ........................................................... 44 4.2 Tema 2: brincadeiras e jogos de raízes indígenas .......................................................... 47 4.3 Tema 3: as brincadeiras e os jogos da cultura africana e indígena no ensino da Educação Física ........................................................................................................................ 51 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 54 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 56 ANEXOS ................................................................................................................................. 63 8 1 INTRODUÇÃO A nossa cultura é uma miscigenação de diferentes povos, dentre eles africanos e indígenas. Como traços dessa cultura miscigenada, destaco a presença das brincadeiras e jogos de origem africana e indígena, as quais de forma modificada ou reinventada esteve presente nas nossas brincadeiras e jogos de infância, e vez ou outra faz parte do brincar de muitas crianças. Porém, nos dias de hoje, com o avanço industrial e tecnológico, vem sendo deixadas de lado, ocasionando no esquecimento das origens e raízes culturais de um povo. Nota-se que as brincadeiras e os jogos são pedaços da nossa cultura, do nosso povo, logo, não podem cair no esquecimento. Perante a isso, corroborando com Barbosa et al. (2015), cultivar esses jogos e brincadeiras é essencial para manter viva a história de um povo. Isso proporciona reviver manifestações corporais e culturais. Diante disso, este presente trabalho tem como objeto de estudo as brincadeiras e os jogos de raízes africana e indígena em Poço Redondo – SE. Haja vista a predominância dos povos de descendência africana e indígena em Sergipe, como a comunidade quilombola Serra da Guia no povoado Santa Rosa do Ermírio, pertencente ao município supracitado, e os índios Xocó que habitam na Ilha de São Pedro em Porto da Folha, cidade da mesma região. Logo, propõe-se discorrer sobre as brincadeiras e os jogos de raízes africana e indígena no ensino da Educação Física no município. O ensino com brincadeiras e jogos permite que os alunos conheçam e vivenciem as manifestações corporais de diferentes etnias, da cultura de um povo e do lugar, que foram passadas de geração em geração, mas que vem sendo esquecidas pelos adultos e excluída da infância dos novos cidadãos, dessa forma, levar para as aulas de Educação Física brincadeiras e jogos de raízes africana e indígena é uma forma de trabalhar a diversidade cultural, contribuindo assim, para uma educação intercultural, a qual de acordo com Oliveira e Daolio (2011), é uma oportunidade para minimizar as desigualdades e preconceitos presentes na escola. Trabalhar com brincadeiras e jogos de raízes africana e indígena nas aulas vem a contribuir para e nas relações étnicos-raciais, com isso, necessita-se colocar em prática a obrigatoriedade trazida pelas Lei nº 10.639/2003 (Brasil, 2004). Torna-se obrigatório o ensino da história e da cultura afro-brasileira na educação básica (Lei 11.645 de 2008). Brasil (2008), deixa claro que é obrigatório o ensino da história e da cultura afro-brasileira e indígena nos 9 estabelecimentos de Ensino Fundamental e Ensino Médio público e privados. Frente a isso, a Educação Física enquanto componente curricular da educação básica, e por trabalhar com a cultura corporal do movimento, abre espaço para que as brincadeiras e os jogos de raízes africana e indígena sejam explorados nas aulas, fazendo valer as leis citadas. Diante do exposto, esse estudo vem relatar sobre o ensino das brincadeiras e dos jogos de raízes africanas nas aulas de Educação Física, como também discorre sobre as brincadeiras e os jogos de origem indígena que influenciaram e influenciam na nossa cultura, mas que são esquecidos nos dias atuais. Desse modo, o estudo permite compreender a importância dessas brincadeiras e jogos serem ensinados e vivenciados para que se preserve a nossa herança cultural. Assim, contribui na discussão e reflexão sobre a cultura africana e indígena presente nas brincadeiras e jogos, possibilitando e auxiliando as relações étnico-raciais. Logo, lança um olhar para o resgate cultural das identidades de um povo, sendo importante para conhecer novas manifestações corporais e, assim, aprender sobre outras culturas, respeitando a diversidade cultural existente. Ressalto que as brincadeiras e os jogos fazem parte da infância de todos e vêm de diferentes culturas e de vários grupos sociais. Essa é uma temática de ensino da Educação Física e está presente na BNCC, como conteúdo a ser trabalhado. Porém, sabemos que, majoritariamente, os professores acabam não levando as brincadeiras e os jogos culturais para as aulas, pois focam mais nos esportes. Daí surge a questão: qual a importância das brincadeiras e dos jogos de raízes africana e indígena como metodologia de ensino no planejamento dos professores para as aulas de Educação Física no município de Poço Redondo-SE? Frente a isso, essa pesquisa tem como objetivo geral: analisar as brincadeiras e jogos de raízes africana e indígena e sua importância como metodologias de ensino a serem presentes no panejamento dos professoresde Educação Física no município de Poço Redondo-SE. Apresenta enquanto objetivos específicos: identificar brincadeiras de raízes ou descendência africana e indígena presentes nas brincadeiras tradicionais/populares; discorrer sobre as brincadeiras e os jogos e o ensino na Educação Física; refletir sobre a utilização das brincadeiras e dos jogos de raízes africana e indígena como instrumento pedagógico para as relações étnicos-raciais; ponderar sobre o documento curricular de Sergipe no campo da Educação Física e do ensino da cultura africana e indígena. Esta pesquisa é do tipo bibliográfica e documental, tem como metodologia a natureza qualitativa, descritiva e exploratória. Foi utilizado como instrumento para a coleta de dados a documentação, bibliográfica e documental, a fim de coletar informações acerca das 10 brincadeiras e dos jogos de raízes africana e indígena e, assim, discorrer sobre a importância dessas manifestações corporais e culturais no ensino da Educação Física no município de Poço Redondo-SE. O interesse em discorrer sobre a presente temática foi para evidenciar as brincadeiras e os jogos como manifestação corporal e cultural das etnias africana e indígena os quais estão presentes nas brincadeiras tradicionais, fazendo parte da cultura regional, que vem sendo deixada de lado. Outro interesse é mostrar que no campo da Educação Física a orientação que o currículo de Sergipe apresenta para o ensino é também trabalhar com o objeto de estudo brincadeiras e jogos de matriz africana e indígena, inclusive, orientados pela BNCC. Como também, identificar a importância das brincadeiras africanas e indígenas no contexto educacional. As brincadeiras e jogos de raízes africana e indigina influenciaram nos Jogos/brincadeiras tradicionais ou populares brasileiras, os quais são chamados de tradicionais porque foram passados de geração em geração, sendo modificado ou reiventado, assim, fazendo com que muitos sequer saibam suas raízes. Frente a essa perspectiva, fica entendido em Rodrigues et al. (2019), que o jogo tradicional é aquele que garante a manutenção dos jogos e brincadeiras entre as gerações, em que os ancestrais fomentaram os primórdios dos jogos, e que no Brasil essa ancestralidade se expressa nas raízes indígenas e africanas. Sendo assim, as brincadeiras e os Jogos de raízes africana e indígena precisam ser resgatados para que não sejam esquecidas as identidades culturais de um povo e suas contribuições para o brincar e jogar de muitas infâncias. Diante do exposto, cabe salientar que as brincadeiras e os jogos são temáticas da Educação Física, que vêm ser afirmadas pela BNCC, Brasil (2017). Desse modo, por meio da Educação Física é possível fazer o resgate da teoria e da prática dos jogos, brinquedos e brincadeiras tradicionais e de herança africana e indígena, que hoje não são muito vivenciados pelas crianças. A Educação Física conforme destaca Brasil (1997), permite que se vivencie diferentes práticas corporais advindas das mais diversas manifestações culturais e se enxergue como essa variada combinação de influências está presente na vida cotidiana. Brasil (1997), salienta ainda que o conhecimento sobre as diferentes práticas corporais advindas das mais diversas manifestações culturais são conhecimentos que contribuem para a adoção de uma postura não preconceituosa e discriminatória diante das manifestações e expressões dos diferentes grupos étnicos e sociais e das pessoas que deles fazem parte. Portanto, esta pesquisa vem deixar claro que a Educação Física como componente currícular da educação básica precisa contemplar o ensino significativo referente à 11 diversidade cultural, e isso é possível por meio das brincadeiras e Jogos de raízes africanas e indígenas. Dessa maneira, possibilitará conhecer, reconhecer e valorizar a etnomotricidade e as diferentes manifestações culturais existente ao nosso redor. Como afirma Gonçalves Júnior (2010), é imprescindível o conhecimento e o reconhecimento nas aulas de Educação Física de manifestações (jogos, danças, lutas, cantos, entre outras) originárias dos povos africanos e indígenas, tendo como consequência a valorização e a preservação das nossas raízes interculturais. 12 2 MARCO TEÓRICO 2.1 Jogos e brincadeiras, conceitos e aplicação nas aulas de Educação Física Ao analisar o significado das palavras jogos e brincadeiras, verifica-se que o jogo vem a ser uma atividade para diversão e entretenimento, apresentado regras, para assim, estabelecer quem vence ou perde. E as brincadeiras se referem a um jogo, divertimento, um passatempo. Frente a isso, pode-se dizer que ambas apresentam significados semelhantes, e desse modo, muitos autores destacam que conceituar jogos e brincadeiras é uma tarefa complexa. Perante a isso, Kishimoto (2011) salienta que definir jogo, brincadeira e brinquedo não é tarefa fácil, pois esses conceitos variam de acordo com o contexto em que estão inseridos. O termo jogo e brincadeira são utilizados para apontar um mesmo fenômeno. Que nesse caso, ao se referir aos jogos e brincadeiras, alguns autores se referem ao lúdico. Segundo Raul (2007), lúdico vem do latim ludus e significa brincar. Os jogos e as brincadeiras se fazem presentes em todas as épocas e fases dos seres humanos, a presença das atividades lúdicas demonstradas pelos jogos e pelas brincadeiras são notórias em todas as culturas. Em cada época histórica, a cultura social dos jogos e as brincadeiras foram se formando; no inicio, como sendo atividade unicamente dos adultos, depois, ocorreu liberação dessas atividades também para as crianças, em seguida pela divisão entre esportes e as brincadeiras para crianças, e na Idade Contemporânea passa a enxergar o brincar como um ato infantil; e nos tempos modernos e atuais, os jogos e as brincadeiras passaram a ser apreciadas por todos, de todas as idades. Os aspectos lúdicos favorecem o ser humano como um todo, quando uma pessoa joga ou brinca, ela simplesmente entra em um mundo diferente, sendo um momento de lazer, mas também de aprendizado. Nessa perspectiva, Santos (1997) contribui ao afirmar que a ludicidade é uma necessidade do ser humano em qualquer idade. E o desenvolvimento do aspecto lúdico facilita a aprendizagem e o desenvolvimento pessoal, social, e cultural, colaborando para uma boa saúde mental, além de preparar para um estado positivo que facilita os processos de socialização, comunicação, expressão e construção do conhecimento. Ao conceituar o jogo e brincadeira, Crepaldi (2010) contribui que, a definição do que é jogo e/ou brincadeira é feita por quem joga e/ou brinca, estando diretamente ligada à ação do 13 indivíduo ou grupo de indivíduos que a realiza. Destaca ainda que as brincadeiras e os jogos se materializam por meio das culturas. A prática do brincar e do jogar é algo inerente aos seres humanos, é usado como momento de recreação no tempo livre, como forma de interação com o próximo, ou pelo fato de sentir o prazer proporcionado pelas atividades lúdicas, tornando a vida muito mais leve. De acordo com Silva e Pines (2013), as ações lúdicas mediante os jogos e as brincadeiras são essenciais para a descoberta de um mundo existente no imaginário e na realidade de cada pessoa, possibilitando uma vivência única, exclusiva e inédita, favorecendo o desenvolvimento humano daqueles que brincam. Perante o exposto, o jogo e a brincadeira vão ser percebidas como sinônimo, e sendo referido como jogo e/ou por meio do termo lúdico. A partir disso, Huizinga (1990) salienta que o elemento lúdico sempre esteve presente nas sociedades, em toda a parte, desde o início da civilização, exercendo um papel extremamente importante, criando cultura e permitindo ao homem desenvolver, em toda a sua plenitude, as necessidadeshumanas inatas de ritmo, harmonia, mudança, alternância, contraste, clímax, entre outros. Nesse viés, Kishimoto (1994) corrobora que em tempos passados, não se chegou a definir o jogo em si, e suas primeiras representações postularam o jogo como recreação, descanso do espírito para o duro trabalho intelectual. O jogo nos tempos passados, em que quase não se tinha tempo para descanso, passa a ser uma forma para o relaxamento frente a correria diária. É nesse sentido que se pode dizer em Aristóteles (1966) que o jogo é conceituado como atividade de relaxamento e entretenimento em contraponto do trabalho. Por meio do jogo em Aristóteles (1966), o movimento que o exercício transmite ao espírito livra-o e descansa-o pelo prazer que lhe confere. Frente a isso, Brougère (1995), traz que o conceito de jogo e o espaço que ocupa nas relações sociais estão diretamente ligados a cultura. Segundo ele, o jogo é uma atividade aprendida por meio de inter-relações sociais, e é ao mesmo tempo um aparato psicológico que assegura aos indivíduos a possibilidade de um certo afastamento da realidade para a recriação dessa realidade. O jogo assim como as brincadeiras são uns dos elementos centrais de representação de uma cultura corporal, de um determinado povo, de uma determinada época, são passados de geração em geração, por isso representa um pedaço de determinada cultura, sendo assim considerados como jogos e brincadeiras tradicionais. Essa cultura corporal por meio dos jogos e das brincadeiras se origina das ações corporais produzidas pelo povo no decorrer da sua história, através das suas representações simbólicas, sofrendo alterações ao longo de sua trajetória. 14 Em relação às brincadeiras, são atividades associadas ao brincar, o qual representa um ato que é lúdico por natureza, uma ação que é presente na infância de forma espontânea, nesse sentido, Friedmann (1998), vem descrever a brincadeira como sendo uma ação de brincar, ou seja, um comportamento espontâneo realizado por alguém resultante de uma atividade não estruturada. As brincadeiras, constituem-se numa atividade em que o indivíduo, sozinho ou em grupo, procura compreender o mundo e as ações humanas nas quais está inserido cotidianamente. Toda brincadeira possui regras que são definidas e respeitadas por aqueles que brincam e possui três características: a imaginação, a imitação e a regra (BROLESE et al., 2015). Assim como os jogos, as brincadeiras são manifestações culturais originárias de diferentes povos e épocas que são passadas de geração em geração, representando como símbolo de determinada cultura. A cultura lúdica representada pelo brincar, pelas brincadeiras, não se restinge apenas a criança, mas também a todos os adultos. Conforme Almeida (2003), não se limita apenas a criança, manifesta-se também em adolescentes e adultos de forma diferente para cada grupo, de acordo com as necessidades de cada um. Portanto, o termo brincadeira vem a ser conceituados como atividade livre, que desperta o prazer e que não é estruturado com finalidade em si própria, podendo ou não apresentar regras, proporcionando momentos de alegria e interação. Conforme Alves (2001) a brincadeira é qualquer desafio que é aceito pelo simples prazer do desafio, ou seja, confirma a teoria de que o brincar não possui um objetivo próprio e tem um fim em si mesmo. É nesse sentido que Brougère e Wajskop (1997), destacam que a brincadeira é simbólica. Contudo, as brincadeiras e o brincar é uma manifestação cultural que acompanha o indivíduo, e tanto os brinquedos como as brincadeiras trazem manifestações do seu tempo. Todavia, e conforme já foi citado aqui, muitos autores não diferenciam ou abordam como conceito diferente o jogo da brincadeira, pois usam ambas palavras para apontar o mesmo meio (atividade lúdica). Os jogos e as brincadeiras são classificadas em diferentes tipos por vários autores, cada um traz as classificações de cada tipo de jogos e brincadeiras. Dentre eles, Piaget (1976), contribui com a classificação dos jogos em quatro tipos: os jogos de exercício sensório-motor, os jogos de construção, os jogos simbólicos e os jogos de regras, sendo conceituados assim: os jogos de exercício sensório motor, são os de exercícios motores simples, que dependem de suas realizações para maturação do aparelho motor, ou seja, sua finalidade é somente o prazer do funcionamento, por isso se assemelha a ideia de jogo com prazer. O jogos de contrução, abordado pelo autor, é aquele que se situa a meio caminho entre o jogo e o trabalho inteligente, ou entre o jogo e a imitação, consiste na manipulação de 15 objetos para criar algo, mantendo-se ao longo do ciclo de desenvolvimento do indivíduo ao exercitar atos menos complicados; os jogos simbólicos referem-se a representação corporal do imaginário, são jogos que utilizam da imaginação e da fantasia para assimilar e compreender a realidade, tendem a reproduzir as relações e os valores que convivem em seu contexto, permitindo a exteriorização dos medos, conflitos, frustrações e descobertas; e por fim os jogos de regras, são os de combinações sensório-motoras, como corridas, jogos de bola entre outros, ou intelectuais, como jogos de cartas, xadrez, em que existe competição entre os indivíduos. Esse jogos em Piaget são voltados para o desenvolvimento infantil. Outro autor que vem a conceituar os tipos de jogos é Hurtado (1987), segundo o autor os jogos são classificados em: jogos motores, que são os que exigem a participação ativa do corpo, como exemplo o pega-pega, que depende de velocidade, reflexos, agilidade, visão, entre outras capacidades físicas; jogos sensoriais, são os que ajudam a desenvolver os órgãos dos sentidos (audição, olfato, paladar, tato e visão), como a cobra-cega, pois a criança depende do tato e da audição para o reconhecimento do colega; jogos criativos, são os que visam desenvolver a criatividade e a espontaneidade da criança, usando movimentos imitativos, gestuais, interpretativos e corporais, como siga o mestre, em que o aluno é o mestre e os demais devem imitá-lo; jogos recreativos, são aqueles que têm o objetivo apenas de recrear ou distrair as crianças por meio de uma atividade integradora, como batata quente, que vai passando um objeto rapidamente dizendo batata quente até parar em uma criança e dizer queimou (BROLESE et al., 2015). Hurtado (1987) destaca também, os jogos intelectivos, são os que visam desenvolver principalmente o raciocínio, a memória, a observação, a atenção, a coordenação, entre outras capacidades. Os jogos de mesa, como dominó, xadrez, dama e trilha são alguns exemplos; os jogos pré-desportivos individuais e coletivos são aqueles que, além de estimular as capacidades físicas (força, flexibilidade, velocidade, agilidade, resistência, equilíbrio e coordenação) estimula também as mentais (concentração e racicínio). Por fim, o autor apresenta os jogos cooperativos, que são aqueles que não existem a individualidade e sim o conjunto, requer desenvolvimento de estratégias e a cooperação. É necessário para que um determinado objetivo seja alcançado, como a corrente que começa com um pegador e, conforme vai pegando, dá as mãos e ajuda a pegar; e nos jogos teatrais o indivíduo possui a liberdade de criar e expressar o que pensa e sente, através da expressão corporal, facial, visual e fonética, podemos citar como exemplo a mímica (BROLESE et al., 2015). 16 Em relação às brincadeiras, Brosele et al. (2015), discorre e conceitua as seguintes: as brincadeiras tradicionais infantis, que são consideradas como parte da cultura popular. Esta modalidade de brincadeira guarda a produção espiritual de um povo em certo período histórico. Tem a função de perpetuar a cultura infantil, desenvolver formas de convivência social e permitir o prazer de brincar; as brincadeiras de faz-de-conta, também chamadas de simbólicas,são as que deixam mais evidente a presença da situação imaginária. Elas permitem não só a entrada no imaginário, mas a expressão de regras implícitas que se materializam nos temas das brincadeiras; e por fim, os autores citam as brincadeiras de construção, que enriquecem a experiência sensorial, estimulam a criatividade e desenvolvem as habilidades da criança. Construindo, transformando e destruindo a criança expressa sua imaginação e seus problemas, desta forma ela está expressando suas representações mentais. Para além do que foi abordado, os jogos e as brincadeiras vão além do simples divertimento, prazer, satisfação, são tidos como momento de reconhecimento e curiosidade que originam num processo criativo para assim modificar, imaginariamente, a realidade e o presente. Os jogos e as brincadeiras possibilitam momentos de descoberta, de construção e compreensão de si, de estímulos à criatividade e à expressão pessoal, faz-se presente no cotidiando das pessoas, principalmente entre as crianças. Diante disso, cabe salientar que o ato de brincar nos possibilita reinventarmos perante determinada situação, torna-nos mais leves, pois proporciona um momento de descontração e alegria, frente a isso, concorda-se com Vygotsky (1994) ao dizer que brincando nos reequilibramos, reciclamos nossas emoções e nossa necessidade de conhecer e reinventar, desenvolvendo atenção, concentração e muitas habilidades. É frente a isso, que os jogos e as brincadeiras se fazm presente no currículo da educação básica, pois verifica-se que são instrumentos de ensino importante para a aprendizagem, principalmente, para crianças. Assim, a aplicação dos jogos e das brincadeiras faz parte do ensino da Educação Física, haja vista que essa tem como objetivo trabalhar com a cultura comporal do movimento e com as diversas manifestações corporais e culturais. Porém, faz-se importante frisar que os jogos e as brincadeiras não tinham espaço no ensino da Educação Física, pois o que se permeava era o estímulo a resultados e o desenvolvimento das capacidades físicas e técnicas, tendo como favorito as ginásticas e os esportes. O conteúdo dos jogos e das brinacadeiras só passou a ser integrado como parte de aplicação da Educação Física a partir do surgimento das novas abordagens. Diante disso, Alves (2013) traz que uma abordagem nova para a Educação Física Escolar propõe, além do uso das ginásticas e dos esportes, utilizarem-se também das 17 lutas, dos jogos, das brincadeiras e das danças, proporcionando ao discente o maior acesso possível à cultura corporal do movimento. É a partir da abordagem contrutivista que entra o aspecto lúdico, os jogos e as brincadeiras, tendo como formulador o professor João Batista Freire. A proposta da abordagem contrutivista segundo Viana et al. (2019), possui como finalidade a construção do conhecimento, ancorada na cultura popular lúdica, a partir de brincadeiras populares, de jogos, de exercícios simbólicos e de regras ancoradas na cultura popular lúdica. Enfim, nas novas abordagens, que realmente percebem a cultura corporal do movimento, pedagogicamente, os jogos, as danças, a ginástica, as lutas, os esportes as brincadeiras, entre outros, são conteúdos de cunho pedagógico que constituem o conteúdo da Educação Física, sendo conhecimentos que possuem uma representação simbólica de realidades vividas pelo homem. A Educação Física como currículo obrigatório na educação básica, afirmado pela Lei n° 9.394/96, e a partir do documento que orienta a educação Básica, a Base Nacional Comum Curricular – BNCC, os jogos e as brincadeiras são integradas ao currículo da Educação Física para o ensino nos anos iniciais do Ensino Fundamental na BNCC. A referência central na Educação Física para a estruturação dos conhecimentos está nas manifestações da cultura corporal do movimento (brincadeiras, jogos, danças, esportes, ginásticas e lutas). Segundo Brasil (2017), a Educação Física tematiza as práticas corporais em suas diversas formas de codificação e significação social, entendidas como manifestações das possibilidades expressivas dos sujeitos, produzidas por diversos grupos sociais no decorrer da história. Salientando ainda que permite o acesso a um vasto universo cultural, que compreende saberes corporais, experiências estéticas, emotivas e lúdicas. Sendo assim, as experiências lúdicas citadas, materializam-se pela aplicação dos jogos e das brincadeiras nas aulas de Educação Física. Na educação infantil, a aplicação dos jogos e das brincadeiras tem como objetivo proporcionar maiores vivêncas aos alunos, contribuindo para o desenvolvimento cognitivo, motor, afetivo e social. Nessa vertente, Kishimoto (1993), afirma que o jogo é fundamental para a educação e o desenvolvimento infantil. Portadora de uma especificidade que se expressa pelo ato lúdico, a infância carrega consigo as brincadeiras que se perpetuam e se renovam a cada geração. Os jogos e as brincadeiras são instrumentos de aplicação importante para o processo didático-pedagógico na Educação Física, são ferramentas que auxiliam no desenvolvimento cognitivo, motor, afetivo, psicológico e social da crianças. 18 A aplicação dos jogos e das brincadeiras na educação infanitl possibilita a criança aprender de forma lúdica, pois como contribui Santos (1997), por meio das brincadeiras a criança aprende a conhecer a si própria, as pessoas que a cercam, as relações entre elas, e os papéis que assumem, e por meio dos jogos, as crianças aprendem sobre os eventos sociais, a estrutura e a dinâmica interna de seu grupo, como também explora as características dos objetivos físicos que a rodeiam e chega a compreender seu funcionamento. De forma expontânea, as crianças expressam suas emoções com a interação nas atividades, e por meio dos jogos e das brincadeiras as crianças evoluem no domínio corporal, desenvolvendo e aperfeiçoando as suas possibilidades de movimentos, conquistando novos espaços e superando suas limitações. Cabe frisar que nos documentos que regem e orientam a educação básica, em relação a Educação Física, não deixa explícito a aplicação dos jogos e das brincadeiras na educação infantil, entretanto, em todos os documentos é tratado do brincar na educação infantil. Segundo Brasil (2017), a aprendizagem na educação infantil tem como eixos estruturantes as interações e as brincadeira, assegurando-lhes os direitos de conviver, brincar, participar, explorar, expressar e conhecer. A partir disso a Educação Física tem como objetivo a cultura corporal do movimento e suas diversas manifestações culturais. No que tange à aplicação dos jogos e das brincadeiras na Educação Física no Ensino Fundamental, estas são temáticas propostas pela BNCC. Percebemos em Brasil (2017) que a aplicação da unidade temática (brincadeiras e jogos na Educação Física) tem como objetivo explorar atividades voluntárias exercidas dentro de determinados limites de tempo e espaço, caracterizadas pela criação e alteração de regras, pela obediência de cada participante ao que foi combinado coletivamente, bem como pela apreciação do ato de brincar em si. A aplicação de jogos e brincadeiras, como conhecimento e vivências de diferentes manifestações corporais culturais, como exemplo de aplicação conforme Brasil (2017), são: para o 1° e 2° ano, brincadeiras e jogos da cultura popular, presentes no contexto comunitário e regional; e para o 3° ao 5°, brincadeiras e jogos populares do Brasil e do mundo, brincadeiras e jogos de matriz indígena e africana. Faz-se necessário destacar que muitas vezes nas aulas de Educação Física, a aplicação dos jogos e das brincadeiras acontecem sem nenhuma finalidade, no sentido de resgate do fenômeno cultural, são apenas inseridas como atividades para trabalhar o aquecimento, para posteriormente adrentar ao conteúdo esportivo, perdendo assim, a sua essência e característicascomo fenômeno cultural e, assim, não proporciona um saber por meio de um olhar pedagógico. Frente a isso Gallardo (2003) diz que a forma como os jogos e as 19 brincadeiras são utilizadas na pré-escola e no Ensino Fundamental é muito discutível. Segundo o autor: Os jogos e brincadeiras são oferecidos de forma extemamente simplista, desvinculados do seu contexto social, sendo apena explorada uma forma de jogar ou brincar, sem inorporar a elas outras formas de se jogar ou brincar. Dito de outra forma, nessa instituições, os jogos e brincadeiras são oferecidos de forma regulamentada e rígida, com fim em si mesmo, cosiderando-os apenas como um passo para a quisição de habilidades esportivas (GALLARDO, 2003, p. 50-51). Frente a isso, existem várias formas para aplicar os jogos e as brincadeiras como conteúdo das aulas de Educação Física, e é de acordo com isso, que Darido e Rangel (2005), afirma que o jogo jogado, o jogo transformado e o jogo criado, estes apresentam três possibilidades de trabalhar com o conteúdo jogo na Educação Física, sendo: reproduzir, transformar e criar. O reproduzir (jogo jogado), é no sentido de resgatar e trabalhar com os jogos tradicionais e culturais, como exemplo, xadrez, pega-pega, entre outros. Em relação a transformação (jogo transformado), estes podem sofrer alterações na prática para adequar ao espaço, materiais e aos praticantes, para que não tenha exclusão. Como salienta Freire (1994), o jogo pode ser transformado para que os alunos possam desenvolver a criatividade e a cognição e, assim, resolver os problemas do jogo, para que assim, ao se apropriar do conteúdo favoreça a possibilidade de agir sobre ele. E o criar (jogo criado), são as invenções, as novas formas de jogar, apresentando novos objetivos e novas regras. Contudo, os jogos e as brincadeiras são instrumentos de ensino e aprendizagem importante para conhecer, reconhecer, valorizar e vivenciar a cultura corporal dos jogos e das brincadeiras de diferentes culturas e que fazem parte de uma cultura tradicional ou popular, passadas de geração em geração, representando parte de uma história. Perante a isso, e por meio da aplicação na Educação Física, os alunos podem estudar os jogos e as brincadeiras, compreendendo a origem das mesmas como parte da cultura e da história da humanidade. 2.2 Jogos e brincadeiras regionais e locais Os jogos e as brincadeiras regionais e locais seguem traços históricos da cultura tradicional ou popular presente no Brasil, fazendo parte da cultura como um todo. Mas, é 20 preciso destacar que muitos desses jogos e brincadeiras tradicionais ou populares, vão apresentando mudanças no que tange aos nomes e às regras no decorrer dos anos, diferenciando da sua cultura tradicional, porém tem a mesma finalidade. Nesse sentido, esses jogos e essas brincadeiras passam a receber novos conteúdos, como contribui Schwartz (2004), os jogos, as brincadeiras e os brinquedos populares são parte da cultura, habitualmente transmitidos de geração para geração, por meio da oralidade, muitos preservam sua estrutura inicial já outros se modificam, recebendo novos conteúdos. Os jogos e as brincadeiras regionais dialogam territorialmente com a cultura brasileira, dentre elas: amarelinha; esconde-esconde; pega-pega; elefante colorido; elástico; pula corda; o mestre mandou; baralho; dominó; queimada e brincadeiras cantadas, como ciranda- cirandinha, atirei o pau-no-gato, dentre outras que as crianças cantam. Aqui, os jogos e as brincadeiras regionais e locais são praticamentes iguais, o que muda é o nome, que em alguns locais são chamados de outra forma, sem falar que as regras são ditas na hora do jogo, podendo assim, irem se modificando. Dentre os jogos e as brincadeiras regionais, destaco: o jogo de dominó; baralho; jogo de damas; jogo dos sete cacos; queimada; pular corda; elástico; boto; pique-congela; pique bandeira; amarelinha; polícia-ladrão. Cabe destacar que a maioria dos jogos não foram criados, isto é, já vem de gerações, são jogos e brincadeiras tradicionais e que fazem parte da cultura popular. Desse modo, Friedmann (2015), salienta que o jogo tradicional é memória, mas também presente. E que a amarelinha, pião, papagaio, barra-manteiga, esconde-esconde e inúmeras outras brincadeiras estão hoje presentes na atividade lúdica, muitas vezes sob uma outra forma ou com outra denominação, mas o conteúdo continua sendo o mesmo (FRIEDMANN, 2015). A maioria dos jogos e das brincadeiras tanto regionais como locais foram vivenciadas pelas gerações mais velhas e que ainda faz parte da cultura local, por isso que podemos descrever como sendo jogos populares, porque se fez presente em várias culturas, sendo populares da nossa cultura como um todo. Palma et al. (2008), afirma que existe apenas os jogos populares, pois não existe jogo que não seja popular, que não seja conhecido e jogado por uma parte majoritária da sociedade em diversos lugares e de diversas maneiras. Uns dos jogos regionais, que são considerados antigos, é o baralho, damas e dominó, estão presentes na sociedade há muitos anos, e são agregados na vida de alguns adultos como forma de distração e interação nos momentos de descanso, representam uma forrma de lazer daqueles que jogam (geralmente nas praças públicas). Esses jogos são históricos e estão 21 presentes em várias partes do mundo, chegam a ser oniderados como patrimônio cultural, são jogados em duplas ou mais, tirando o jogo de damas que é jogado, exclusivamente, em dupla. Entre os jogos e as brincadeiras locais, destaco os jogos de baralho, dama e dominó, que ainda se fazem presentes nas praças, nos grupos dos senhores; tem também as brincadeiras que ainda são vivenciadas pelas crianças nas ruas, como o pega-pega, polícia- ladrão, elefante colorido, amarelinha; e tem as que se fazem presentes na educação infantil, como o mestre-mandou e as brincadeiras cantadas, como: atirei o pau no gato, ciranda- cirandinha, dentre outras. Falando nos jogos e nas brincadeiras locais, cabe destacar que em outros tempos se fazia presente também o jogo de rouba-bandeira, brincadeira de elástico, pular corda, queimado, este só se faz presente nas aulas de Educação Física. A partir disso, é nítido que os jogos e brincadeiras regionais e locais estão sendo extintas, pois não se ver mais como antigamente as crianças e os jovens se apropriando desses jogos culturais e populares. E esse fato, como salienta Franchi (2013), por exemplo, a perda da prática acarreta no esquecimento e perda dos valores culturais que são construídos a partir desses jogos. A maioria dos jogos e das brincadeiras são realizadas com os amigos nas ruas, sendo consideradas assim como brincadeiras de rua. Existem diversas versões desses jogos e dessas brincadeiras. Segundo Darido e Rangel (2005) as brincadeiras de rua variam conforme a região, porém a essência e a forma são mantidas. O Jogo dos sete cacos, é jogado com duas equipes, em que os jogadores têm que derrubarem os sete caquinho no meio, a equipe que derruba corre para tentar colocar os cacos do jeito que estavam, e o objetivo da equipe adversária é não deixar que cumpram a tarefa, e assim pontua a equipe que conseguir. Esse jogo era um jogo local, mas hoje em dia só é presente no contexto regional. O jogo de queimada faz parte dos dois contextos (regional e local), esse jogo é muito presente nas aulas de Educação Física, é jogado com uma bola e com duas equipes, o objetivo desse é queimar todos da outra equipe, ou a maioria, levando eles para o fundo, chamado de cemitério, vence ou pontua a equipe com mais componentes sem serem queimados. Outro jogo que é do contexto regional e que era vivenciado no contexto local pelos jovens nas brincadeiras de rua, é o jogo que apresenta variação no seu nome, sendo chamado de pique-bandeira, pega-bandeira e rouba-bandeira,como se chama no contexto local. O objetivo desse jogo é passar pelo lado da equipe adversária sem ser tocado, pegar a “bandeira”, ou o objeto que estiver como bandeira, e voltar para o seu lado sem ser pego. Uma brincadeira que tem variação no nome é esconde-esconde, também chamada de pique- 22 esconde, em várias partes da região, essa brincadeira ocorre da seguinte forma: uma pessoa é escolhida para contar de 1 a 10, enquanto os outros se escondem. Se o contador achar, fala: 1,2,3, o nome da pessoa e o local onde ela se encontra. Para se salvar, a pessoa tem que correr, sem ser topado pelo contador, até o local que o contador estava contando e fala: 1,2,3 salve eu. Quem ficar por último pode falar: 1,2,3 salve todos. Depois, a mesma pessoa que contou volta a contar. O contador tem como objetivo encontrar uma pessoa para contar na próxima rodada da brincadeira (CRUZ; PEREIRA, 2017). A brincadeira “boto” presente no contexto regional é o mesmo que o pega-pega local. Nessa brincadeira é definida uma pessoa para iniciar a brincadeira, o objetivo é pegar qualquer participante, e quem for pego passa a pegar. Na outra versão, a do boto, a pessoa que pegar alguém, diz a palavra boto. Outra brincadeira é a de polícia e ladrão, sendo regional e local, semelhante ao pega-pega. Forma dois grupos: o da polícia e dos ladrões. O papel da polícia é pegar os ladrões e prendê-los, o papel dos ladrões é salvar os companheiros e se proteger da polícia. Se a polícia prender todos, invertem-se os papéis (CRUZ; PEREIRA, 2017). O pique-congela, é uma brincadeira regional, semelhante ao “boto”, nessa brincadeira o pegador quando pega alguém (topa) que está correndo, diz a palavra “congela”, e a pessoa congela deve ficar no local que foi congelado para que alguém venha descongelar (salvar), para descongelar a pessoa tem que falar “descongela”, assim quem tava congelado volta a correr. Nessa brincadeira o pegador fica por um tempo, mas quando quiser pode pedir para não ser mais o pegador, passando a ser outra pessoa. A amarelinha é uma brincadeira tradicional que esteve presente em muitas gerações e se encontra no contexto regional e local. A brincadeira consiste em pular sobre um desenho riscado com giz no chão, o mesmo apresenta quadrados ou retângulos numerados de 1 a 10, e o topo é chamado de céu, em formato oval ou meia-lua. Após jogar uma pedrinha em uma casa, em que não poderá pisar, a criança vai pulando com um pé só até o fim do trajeto. Ao chegar, deve retornar, apanhar a pedrinha e recomeçar, dessa vez, atirando a pedra na segunda casa e depois nas seguintes até passar por todas. O participante que errar o alvo ou perder o equilíbrio passa a vez para outro. O objetivo é passar por todas as casas e voltar sem pisar na casa em que a pedrinha esteja (CRUZ; PEREIRA, 2017). Pular corda também é uma dos dois contextos, porém no local não se ver mais a presença desta como brincadeira. Essa bincadeira precisa de dois para segurarem as pontas da corda em quanto o/os outro/s indivíduos pulam. A Corda propicia às crianças inúmeras brincadeiras e jogos. Entre as formas mais tradicionais destacam-se: “o corridinho”, 23 “foguinho-fogão” e o “homem bateu em minha porta” (SILVA; GONÇALVES, 2010). São músicas cantadas durante a brincadeira. Na região local, o que mais usava era o “homem bateu em minha porta”, onde quem está pulando deve seguir o que se pede na música: o homem bateu em minha porta e eu abri / senhoras e senhores ponham a mão no chão / senhoras e senhores pulem com um pé só / senhoras e senhores deem uma rodadinha / e vão pro olho da rua (SILVA; GONÇALVES, 2010). A brincadeira de elástico, era uma brincadeira tanto regional como local, mas hoje só se faz presente no contexto regional. Esta brincadeira ocorre da seguinte forma: dois participantes seguram o elástico em volta dos tornozelos, formando um retângulo e um terceiro pula. Quem errar passa a vez para o outro. O elástico geralmente começa no tornozelo, depois sobe para o joelho e para o quadril. Alguns pulam com o elástico na altura dos ombros e da cabeça; os pulos são alternados de acordo com a sequência estipulada pelos participantes e com a movimentação do elástico. A primeira sequência é bem simples: a criança se posiciona ao lado do elástico e deve pular com os dois pés juntos para dentro dele. Depois, pula novamente abrindo as pernas, de modo que um pé caia para cada lado de fora do elástico (MENIN, 2016). No terceiro movimento, ela deve fazer um giro, deixando as tiras se enrolarem em seus tornozelos. Por fim, deve pular para o lado externo do elástico enquanto gira o corpo para soltar-se da amarração. Cada vez que o participante acerta a sequência toda, o elástico sobe; passa do tornozelo para o joelho, por exemplo. Uma canção, ou até mesmo o cantar de uma palavra, dividida em sílabas, pode determinar os movimentos de quem pula. Para cada sílaba, uma sequência no elástico. Existem muitas variações como exemplo: chocolate e coca-cola (MENIN, 2016). Outra brincadeira da cultura regional e local é o elefante colorido, a qual é semelhante ao pega-pega. É jogado em grupo, onde o pegador fala: elefante colorido, e os outros respondem: que cor? O pegador então grita o nome de uma cor e os jogadores correm para tocar em algo que tenha aquela tonalidade. É pego quem não achar a cor, tornando-se o próximo pegador. Essas brincadeiras abordadas são de ruas e estão presente na cultura popular infantil, típico no contexto social, histórico e cultural. Marinho (2007), afirma que as brincadeiras são consideradas como atividades que assumem características peculiares no contexto social, histórico e cutural. Faz-se presente também as brincadeiras que são usadas na educação infantil, como: o mestre-mandou, e as brincadeiras cantadas, como: atirei o pau no gato, ciranda-cirandinha, dentre outras que seguem o comando presente nas músicas infantis. Nos dias de hoje não se 24 ver mais a interação dos adultos com as crianças, realizando essas brincadeiras em seus lares, nem sendo usadas em outros níveis escolares. Podemos perceber que muitos enxergam apenas como parte do mundo infantil, que só são vivenciadas na educação infantil. Nesse viés, Darido e Rangel (2005), destacam que existe um falso pressuposto de que, jogos e brincadeiras infantis só se trabalham na educação infantil, e isso não é verdade, pois são atividades que podem ser ressignificadas de acordo com o nível de ensino e idade dos alunos, o brincar é eminentemente educativo e, as brincadeiras populares são um fenômeno histórico e social de grande significação cultural. Contudo, faz-se necessário alencar que os jogos e as brincadeiras regionais e locais são deixados de lado em decorrência dos jogos tecnológicos, habitualmente o jogar e o brincar ocorre por meio dos aparelhos tecnológicos, os quais são vistos como os mais interessantes do que aqueles que são vinculados ao convívio social e às vivências corporais. Diante disso, Gallardo (2003) deixa claro que os jogos e as brincadeiras são partes fundamentais da cultura corporal, e através deles nos apropriamos de diferentes manifestações culturais de forma lúdica, vindos da nossa cultura de origem, e que integram em nossa personalidade e identidade nacional. Sem contar que os indivíduo que não tem a oportunidade ou que não se habitua as diversas manifestações culturais presentes nos jogos e brincadeiras, de certo modo, são privados de um desenvolvimento natural do ser humano, pois o jogar e o brincar possibilita conhecimentos sobre os aspectos culturais e contribui para o desenvolvimento pessoal, tanto nos aspectos físico, motor e cognitivo, quanto no social. O importante das brincadeiras e jogos é que possibilitam conhecer e se apropriar das culturas existentes de forma lúdica e prazerosa, por meio da interação com outros indivíduos e outros grupos.Os jogos e as brincadeiras não são apenas pura diversão, estes são de grande importânca para aqueles que vivenciam, e também para manter viva a cultura popular. Segundo Silva e Schneider (2010) as brincadeiras e os jogos estimulam a curiosidade, a criatividade, a ação por meio da representação e da imaginação do ser humano, auxiliando a superar barreiras proporcionando-lhes novas descobertas a cada momento, refletindo diretamente no contexto social onde está inserido. Cabe destacar que os jogos e as brincadeiras, que em outras gerações eram vivenciadas sempre pelas crianças e jovens, nos dias atuais são raros na vida dos mesmos, seja pelo desenvolvimento urbano, com maior circulação de carros e motocicletas, ou devido a influência da tecnologia e dos jogos eletrônicos que vêm crescendo cada vez mais na sociedade. Como destaca Kishimoto (1999), os jogos populares infantis, parlendas e brincadeiras cantadas foram sendo perdidos (ou transformados) nos últimos tempos, 25 possivelmente como consequência dos processos de crescimento das tecnologias, da urbanização e da industrialização. Outro motivo, é o consumo desenfreado das crianças e dos jovens pelos produtos industriais que são difundidos pela mídia, por meios de suas propagandas que vêm atraindo esse público cada vez mais nos dias de hoje. Percebemos que a real infância está sendo deixada de lado, conforme corrobora Oliveira (2012), os brinquedos estão sendo deixados de lado e abrindo espaço para roupas, aparelhos, jogos eletrônicos, produtos de beleza, que hoje estão em primeiro lugar na preferência desses pequenos grandes consumidores, contribuindo para o encurtamento da infância. Mediante a isso, os jogos e as brincadeiras que antes eram vivenciados nas ruas, acabam no esquecimento das crianças e jovens de hoje, haja vista que se não é vivenciado e nem lembrado, fica para trás. Quase não se ver crianças sendo crianças, brincado livremente, com jogos e brincadeiras que estiveram presentes na cultura popular, e que foram passada de geração em geração. Mas, cabe salientar que essa situação pode ser amenizada, pois é possível resgatar tais brincadeiras trazendo no atual contexto em que a criança está inserida sem deixar perder a essência do real significado do brincar, onde ela de forma lúdica aprende brincando, e nesse momento cria laços de amizade e interage com outras crianças, o que, por conseguinte, possibilita seu real desenvolvimento sem perder a essência de ser acima de tudo criança (OSANAI; OLIVEIRA, 2014). Além de que, os jogos e as brincadeiras regionais e locais são uma forma de lazer, de ocupação de espaço, que se faz presente nas vivências de prazer e desprazer, e desse modo constitui uma fonte de conhecimentos sobre o mundo e sobre si mesmo, contribuindo para o desenvolvimento dos aspectos cognitivos e afetivos que melhora o raciocínio, tomada de decisões, solução de problemas e o desenvolvimento do potencial criativo, como também contribui para o resgate histórico-cultural. Portanto, os jogos e as brincadeiras sendo consideradas como tradicionais e ou populares, quando apreciadas pelos indivíduos pode ocorrer o resgate, assim, Santos (2014) salienta que com as brincadeiras tradicionais e populares aprende-se mais sobre a cultura e a diversão que elas carregam. 26 2.3 Jogos e brincadeiras no Brasil e no mundo: em evidência matriz africana e indígena Com a presença miscigenada no Brasil, a sua cultura incorpora herança de diferentes povos, e não é atoa que os jogos e as brincadeiras são consideradas como tradicionais, pois o brincar e o jogar das crianças brasileiras vem de gerações passadas e que foram ensinadas pelos mais velhos, e pelas crianças que vieram para o Brasil. Essas influências têm origem do português, dos negros africanos e dos índios (nativos do país). Os jogos e as brincadeiras desses povos acabaram moldando a cultura lúdica brasileira. Moura (2011) contribui que as crianças africanas que chegaram no Brasil, no século XVI encontraram as condições necessárias para reproduzirem seus jogos e brincadeiras. Os jogos e as brincadeiras da cultura infantil que predominaram no Brasil fazem parte da cultura popular, estas foram determinadas pelos índios, portugueses e africanos, três raças com culturas diferentes (KISHIMOTO, 1999). Porém, autores como Câmara Cascudo (1958), fala que é muito difícil descobrir quais jogos e brincadeiras são de origem africana, devido o desconhecimento do brinquedo dos negros anteriores ao século XIX. A maioria dos negros que vieram para o Brasil já vinham de uma geração de negros que conviveram por centenas de anos com os europeus, sofrendo assim fortes influências. E nesse sentido, Câmara Cascudo (1958) coloca como questão se as criaças africanas que vieram para o Brasil junto com seus pais escravizados, se possuíram espaços para reproduzirem os jogos e as brincadeiras de origem do seu continente, ou se tiveram que deixar sua cultura típica de lado e adotar as brincadeiras locais. Frente a isso, o mesmo autor, salienta que as crianças negras se apropriavam rápido do lúdico, proposto por um ambiente que favorecia, e com isso Cascudo (1958) diz ainda que a criança negra servia-se do material mais próximo e brincava, talvez conservando a técnica africana ou adotando a técnica local, mas a sua marca era deixada pela literatura oral. E mesmo que as crianças africanas não pudessem compartilhar e vivenciar a cultura de sua terra, estes sempre a carregam consigo, sempre eram lembradas e ensinadas pelas mães. Segundo Cascudo (1958) a mãe-preta nunca deixava de transmitir para as crianças às histórias de sua terra, os contos, as lendas, os mitos, os deuses e os animais encantados, e essa cultura oral evoluiu, e aglutinou-se com outros elementos, mas permaneceu deixando traços marcantes do africano. 27 Alguns estudos mostram que desde a época dos engenhos de açúcar, os jogos e as brincadeiras se faziam presentes, os negros brincavam com os filhos dos senhores de engenho. As crianças negras, filhos dos escravos, eram apontadas para ficarem a disposição dos filhos dos senhores como companheiros de brincadeiras. Mas cabe frisar que nem sempre as crianças africanas era objeto de dominação de criança branca, muitos eram maltratados, e isso era a forma do branco se divertir, era o que se chamava de brincadeira, como destacou Freyre (1990), as crianças negras passavam a serem o objeto das brincadeiras dos menino e das meninas brancas. Nessas brincadeiras de dominação que ocorria entre o menino branco e o moleque, como se referia Freyre (1984), o menino branco e o moleque brincavam de brincadeiras de roda, jogo do pião, soltar papagaio. As meninas brincavam de jogos de faz-de-conta, este sendo destacado por Kishimoto como jogo simbólico. Conforme Kishimoto (1999), o jogo simbólico auxiliava as meninas, tanto brancas como negras, a compreenderem a trama de relações de dominação na época e funcionou como mecanismo auxiliador para a incorporação dessas relações. Estes jogos e brincadeiras se fundiram a cultura brasileira, e faz parte do acervo de jogos e brincadeiras populares e tradicionais que fizeram e faz parte da infância de muitas gerações. Essses jogos e brincadeiras, de acordo com Kishimoto (1993) se detaca mais no Brasil a partir de 1990, nas ruas de cidades como São Paulo. Na rua as crianças brincavam à vontade, e dentre as brincadeiras, o autor traz o esconde-esconde, jogo de roda, bolinhas de gude, pipas, cantigas de roda, bonecas, dentre outras que preenchiam o cotidiano de diversos grupos infantis naquela época. No tempo de escravidão no Brasil as crianças negras brincavam com as situações presentes em suas vidas, e uns dos exemplos dos jogos e das brincadeiras, que até hoje é presente no Brasil, são Escravos de Jó e Chicotinho qureimado/pegador. Frente a isso, Vieira(2010), traz a sua sugestão para falar sobre a origem de Escravo de Jó, em que Jó era um personagem da bíblia, que tinha riqueza e perdeu tudo, mas conseguiu recuperar porque tinha muita fé em Deus, e os negros aproveitaram dessa história para adentrar a realidade em que viviam por meio do jogo, eles imaginavam que Jó tinha escravos que jogavam um jogo chamado Cachangá, e os gurreiros seriam os escravos fugitivos que corriam para os quilombos, fazendo o movimento de zingue-zague dentro da mata para despistar o capitão-do- mato. Já a brincadeira Chicotinho queimado/pegado, é o mesmo que pega-pega ou polícia e ladrão, brincadeira que apresenta várias versões no Brasil, esta brincadeira representa a fuga 28 dos escravos, em que o pegador é o capitão-do-mato, ou na brincadeira também chamado de caçador. Diante disso, Kishimoto (2004) fala que até hoje a cultura infantil preserva essa brincadeira apresentada com as denominações de chicotinho queimado, cinturão queimado, cipozino queimado, quente e frio e peia quente. Para além disso, o jogar e o brincar das crianças africanas no Brasil acontecia nas ruas. As brincadeiras de pega-pega, pique-esconde e queimado aconteciam com qualquer objeto que viesse nas mãos, e assim era a forma de preencher o dia de trabalho dessas crianças Dentre outros jogos e brincaderias presentes no Brasil e que vêm de matriz africana são queimado, barra-manteiga, esconde-esconde, pular corda, pular elástico, passa-passa, caça ao tesouro, estátua, polícia e ladrão, macaco disse, cabra cega. Alguns autores relatam que é difícil dizer qual a origem verdadeira dos jogos e das brincaderias presentes na cultura brasileira se é de origem africana, porque os africanos quando vieram já tinham tido contato com a cultura europeia. Nesse sentido, Bernardes (2008) retrata que com a miscigenação de índios, brancos e africanos e também a falta de documentos sobre os jogos dos meninos negros no período colonial, acaba dificultando a especificação da influência africana no folclore infantil. Frente a isso, ao analisar os jogos e as brincadeiras no Brasil, vemos que alguns jogos e brincadeiras foram trazidas pelos portugueses, tais como a amarelinha, o pião, pipa, ciranda, jogos de pedrinhas, entre outros. Segundo Kishimoto (1993) não se conhece a origem desses jogos, a tradicionalidade e a universalidade dos jogos, apoia-se no fato de que povos distintos e antigos como os da Grécia e do Oriente brincavam de amarelinha, de empinar papagaios, jogar pedrinhas, e até hoje as crianças fazem quase da mesma forma. E estas trazidas pelos portugueses para o Brasil que já carregavam influência dos asiáticos, assim os portugueses carregavam traços dos povos asiáticos. Em outras palavras o autor Kishimoto (1993) contribui com o exemplo da pipa, também conhecida como papagaio ou arraia, que embora divulgada pelos portugueses, teve sua origem em terras asiáticas. Uma das certezas que se tem, como jogo de raiz africana são os jogos de tabuleiro, ou jogo de mancala, esse jogo apresenta diversas variáveis. Barbosa et al. (2015) destacam que o jogo de Mancala, tem sua origem comprovada, esse jogo tem o objetivo de desenvolver o raciocínio lógico do participante, é preciso ficar atento para não perder. São jogos também chamados de semeadura e colheita, por se tratar de uma dinâmica que captura as sementes dos buracos do tabuleiro. De acordo com Foganholi et al. (2016) os jogos de Mancala têm mais de 200 variações, conforme seu lugar de origem, e apresentam diferentes simbologias, regras e nomes. Encontramos traços dos jogos de Mancala nos jogos de tabuleiro em vários cantos do 29 Brasil, em que se utiliza de feijão para colher ou pegar durante o jogo, isto é, o feijão é usado como moeda de troca, sendo principalmente usado pelos senhores que jogam nas praças. Existe também a herança e presença da cultura indígena nos jogos e nas brincadeiras no Brasil, estes já habitavam o território, e sofreram também influência do homem branco, mas os jogos e as brincadeias se fez e faz parte do jogar e do brincar dos indivíduos. Muito antes dos outros povos chegarem ao Brasil, já tinha o povo nativo, os índios, e as crianças já brincavam. Como corrobora Costa (2013) ao fazer parte da cultura em que vive, as crianças indígenas desempenham o papel do adulto no seu mundo lúdico. Suas brincadeiras tornam-se uma preparação para as funções que serão desempenhadas na vida adulta. Cascudo (2001) verificou que entre os séculos XVI e XVII, os meninos indígenas, desde cedo, brincavam de arcos, flechas, tacapes, propulsores que compunham o arsenal guerreiro dos adultos. Brinacavam de jogos de imitação, onde imitava os pais e também os animais, de jogo de peteca, objeto feito de palha de milho e com pena de aves, outra brincadeira é a cama de gato. Ao tratar das crianças indígenas no Brasil e dos jogos e das brincadeiras destas, Kishimoto (1999) relata da não separação entre o adulto e a criança, conforme este autor, mesmo os comportamentos descritos como jogos infantis, não era fechado apenas para a infância, sendo assim, os adultos também brincam de peteca, de jogo de fio e imitam animais. Cabe destacar que no Brasil existe diferentes povos indígenas de várias etnias, desse modo os jogos e as brincadeiras são observadas no viés das diferentes culturas. Dentre os jogos e as brincadeiras indígenas no Brasil, tem-se a brincadeira mais conhecida dos índios, o arco e flecha, perna-de-pau, brincadeira de imitar, contações de história, pião, matraca e ioiô. A ludicidade pelas brincadeiras e jogos indígenas é presente nas diversas etnias de modo que vem a ser determina de acordo com os aspectos culturais da infância. Perante a isso, Costa (2013) vem salientar que: Cada etnia determina os aspectos culturais que formam a infância de suas crianças a partir do que julga útil e legítimo para a comunidade em que estão inseridas, procurando fazer a orientação e socialização dos saberes que lhes possibilitará o desenvolvimento físico, sócio, afetivo e cognitivo (p. 12). Kshimoto (1993) relata sobre Koch-Grünber, este diz que viu o indiozinho menor brincar de cavalinho, montava no irmão maior, enquanto meninos maiores de pião e matraca. Ainda discorre sobre o brinquedo ioiô, este vem a ser caracterizado como sendo uma pequena mangueira, trançada elasticamente, como uma prensa para mandioca, e aberta por um lado, a 30 outra extremidade desemboca em um aro trançado e a ele ligado, quando se põe o dedo na abertura e se estica a mangueira pelo aro, esta se contrai e o dedo fica enroscado no trançado, e o dedo só fica livre quando a mangueira se dilata. O outro jogo tratado refere-se a cama de gato ou fio como é chamado pelos índios, esse jogo consiste em fazer o maior número de figuras com o fio. O Jogo citado faz parte dos jogos tradicionais brasileiros e está presente até nos dias de hoje nas brincadeiras de infância, principalmente, entre as crianças indígenas. E dentre outros jogos e brincadeiras de matriz indígena e que foi incorporada a cultura lúdica do povo brasileiro e que se faz presente são os jogos de peteca e o arco. Em relação aos jogos e às brincadeiras indígenas no Brasil, o Programa Escola da Família (2015), que discorre sobre um manual, traz relatos de uma pesquisa na qual aborda jogos e brincadeiras pesquisadas sobre os diferentes povos indígenas em alguns cantos do Brasil. Os jogos e as brincadeiras presentes são: peteca, cama de gato, quebra-cabeça, bilboquê, estilingue, jogo de bola de gude. Brincadeiras essas que já eram praticadas pelas crianças na cidade. Outros jogos e brincadeiras indígenas no Brasil, são as corridas, as corridas de tora, cabo de guerra, corrida do saci, jogo da onça. Os jogos e as brincadeiras indígenas no Brasil, seja por meio do jogo faz-de-conta representa a cultura de um povo, e é por meio dessesjogos e brincadeiras que se aproxima de sua cultura, pois grande parte dos jogos e das brincadeiras reproduzem o que ocorre no cotidiano das aldeias, e é por meio do lúdico que se propaga a cultura do seu povo. Perante a isso, Brougère (1998) discorre que qualquer cultura é produzida pelos indivíduos que dela participa, e existe na medida em que é ativada por operações concretas que são as próprias atividades lúdicas, produzidas por movimento interno e externo, desse modo, a criança constrói sua cultura brincando. O autor fala ainda que o brincar e o jogar contribui para a aprendizagem e a sociabilidade. Os jogos e as brincadeiras estão presente no decorrer da infância e da vida de todos os seres humanos em todos os lugares do mundo. Por meio da ludicidade, jogos e brincadeiras, é possível descobrir um mundo existente no imaginário e na realidade do sujeito, possibilitando assim uma vivência única e exclusiva, e desse modo, favorece o desenvolvimento humano daqueles que brincam, proporcionando a aquisição de novos conhecimentos. Ao trazer as brincaderias presentes no Brasil e que são tradicionais, é precisso frisar que muitas estão presente no mundo todo, ocorrendo algumas modificações e adaptações. De acordo com Kishimoto (1993) muitas são praticadas no mundo todo, da mesma forma ou com pequenas alterações nas versificações ou regras do brincar. 31 Nota-se que os jogos e as brincadeiras tradicionais resultam de práticas antigas passadas de geração em geração por meio da oralidade e que se faz presente na contemporaneidade, fato ratificado por Kishimoto (2014) as brincadeiras tradicionais são transmitidas da antiguidade, persistência, anonimato e oralidade. E como foi explanado em momentos anteriores a cultura brasileira tem influência dos jogos e das brincadeiras dos portugueses (que trouxeram jogos e brincadeiras adquiridas do contato com asiáticos), assim como dos africanos, que tiveram contato com os povos europeus. Muitos jogos e brincadeiras presentes na cultura africana e indígena como amarelinha, empinar papagaio, jogar pedrinhas, são considerados tradicionais e universais, pois são jogos já existentes na antiguidade, exitem registros de estas estavam presentes entre os povos antigos com da Grécia e do Oriente. Segundo Kishimoto (2000), essas brincadeiras foram transmitidas de geração em geração através de conhecimentos empíricos e permanecem na memória infantil. Os jogos e brincadeiras como pião, pular corda, pular elástico, queimado, ciranda, soltar pipa, amarelinha, peteca, cobra cega, perna-de-pau entre outras passam de gerações em gerações e representam o brincar e o jogar dos indíviduos no Brasil e no mundo. Diante disso, Zatz et al. (2006), corroboram que essas brincadeiras tradicionais vêm sendo transmitidas de uma geração à outra, de um país a outro, há centenas e milhares de anos. Nesse viés, Grando, Xavante e Campos (2010) em pesquisa feita sobre os jogos e as brincadeiras entre etnias indígenas, mostra-nos que os jogos e as brincadeiras entre os índios também são presentes entre os não índios. Os autores destacam que alguns dos jogos e das brincadeiras são relatadas como os nomes que podemos identificar na cultura infantil em todo o Brasil, outros são jogos que são adaptados por cada povo para o brincar com as coisas da cultura e da natureza onde vivem. Nesse repertório de jogos lúdicos vivenciados pelas comunidades indígenas, uma grande ampliação da cultura corporal de movimento, principalmente entre os mais jovens (GRANDO; XAVANTE; CAMPOS, 2010, p. 94). Perante a isso, cabe discorrer sobre os jogos e as brincadeiras da cultura africana e indígena presentes ao redor do mundo. Começando pelos jogos e pelas brincadeiras que vêm a ser descrito por autores como sendo de matriz africana, trago como exemplo o jogo de queimada no Brasil, que tem semelhança ao kannonball, doedbold, dodgebal e dochibal, estas vem ser apresentadas por Kishimoto (2014). A autora aborda que acertar a bola em crianças do time adversário, como ocorre no jogo de queimada no Brasil, kannonball na Noruega, 32 doedbold na Dinamarca, dodge ball no Reino Unido e dochiball no Japão, são muito similares, mostrando aspectos da universalidade dos jogos. Outro jogo é o de pedrinhas, que pode ser jogado com saquinhos de fejão, arroz ou com as pedrinhas, este jogo acontece acompanhado de versinhos de cantiga, e é praticado em vários países, por exemplo, no Brasil tem as cinco marias e as três pedrinhas, e como cantiga Escravos de Jó. As brincadeiras de pega-pega e esconde-esconde que remete a perseguição dos escravos pelo capitão-do-mato, nessas brincadeiras deve-se correr e se esconder para não ser pego. Frente a isso, segundo Kishimoto (2014) o confronto desse jogo, leva a imaginação infantil buscar personagens em sua cultura, como exemplo na Inglaterra, a perseguição entre baleias e golfinhos, na Dinamarca, entre mulheres casadas e viúvas. Como exemplo de outras variações presentes nos dias de hoje, Kishimoto (2014) salienta que as crianças brincam com personagens do mundo fantástico ou de traficantes e polícia, a chamada polícia e ladrão em algumas partes do Brasil. Tem também as variações em que o pegador indica uma cor para a pessoa correr e tocar, e assim ser salvo de ser pego, chamada no Brasil de elefante colorido, e de stregacomanda colore na Itália. Em relação aos jogos e às brincadeiras da cultura indígena no mundo, encontra-se as brincadeiras de corrida, fazer fila, como exemplo arrancar mandioca e brincar com pernas, pés e mãos. Tem também os jogos e as brincadeiras que apresentam traços da cultura africana e indígena em alguns lugares do mundo, como exemplo do jogo abordado por Silva e Silva (2015), o rapa, jogo infantil tradicional em portugal. Esse jogo utiliza de um pião, rapa ou um saquinho com as letras do pião em pequenos papéis para sorteio, e 5 feijões para cada jogador. É muito difícil discorrer sobre os jogos e as brincadeiras de matriz indígena no mundo, pois quase não se encontra materiais nem teóricos que falam sobre. Para além do que foi exposto, cabe frisar também sobre a brincadeira presente em vários cantos do mundo e que também faz parte do brincar das crianças da cultura africana e indígena, é considerada como brincadeira tradicional e universal, sendo ela: a amarelinha. Conforme Kishimoto (2014), a amarelinha, tem inúmeras variantes, denominadas no Brasil como maré, sapata, avião, academia, macaca na Dinamarca, hinke, na França marelle e na Grã-Bretanha hopscot. Pontes e Magalhães (2002) trazem o exemplo da brincadeira de “cabra-cega”, entre os romanos, com o nome de murinda; na Espanha tem o nome de “galinha-cega”; na Alemanha, de “vaca-cega”; nos Estados Unidos, de “Blindman´s buff”; na França, de “Colinmaillard”, e também a peteca ou jogo de peteca, no mundo do inglês é conhecida como “game of marble”. Portanto, é perceptível a presença de forma semelhate dos jogos e das brincadeiras africanas e indígenas nos vários cantos do mundo. 33 2.4 Didática e metodologia: o uso das brincadeiras enquanto metodologia de ensino Assim como em qualquer metodologia para o ensino de determinado conteúdo é importante que se tenha uma finalidade no que será ensinado e vivenciado, com as brincadeiras não é diferente, estas enquanto metodologia de ensino precisa ter como finaldade desenvolver por meio de ações espontâneas o conhecimento sobre o que se está por trás de determinada brincadeira, com conteúdo específicos a serem atingidos. Faz-se necessário que as brincadeiras como metodologia de ensino, tenham um significado, ou seja, é preciso que seja contextualizada com o objetivo de contribuir para a aprendizagem significativa dos alunos enquanto sujeitos, para serem tranformadores da realidade. Nesse sentido, a didática é a ação do professor frente ao que vai ensinar, é a forma