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OA B N A M ED ID A | D IR EI TO P EN AL | RE SU M O PA RA A P RO VA D A OA B/ FG V DIREITO PENAL - RESUMO PARA A PROVA DA OAB/FGV 11 PARTE GERAL 1. PRINCIPAIS PRINCÍPIOS DE DIREITO PENAL PARA A PROVA DA OAB Princípio da Intervenção Mínima: a legislação penal deve se restringir a fatos graves relativos a bens jurídicos importantes, que não possam ser protegidos pelos outros ramos do Direito. Derivam desse princípio: PRINCÍPIO DE SUBSIDIARIEDADE PRINCÍPIO DA FRAGMENTARIEDADE O Direito Penal é utilizado apenas em caráter subsidiário (ultima ratio). Apenas quando os demais ramos do Direito não conseguirem resolver a contento o conflito gerado A intervenção do Direito Penal, além de subsidiária, deve ser restrita à lesão ou o perigo de lesão mais graves aos bens jurídicos selecionados Princípio da Legalidade (art. 1º do CP, art. 5º, XXXIX, da CF/88): para alguém ser condenado, o crime cometido deve ter previsão e cominação de pena expressa em lei escrita, anterior à prática da infração. Princípio da Anterioridade: a lei incriminadora deve ter sido elaborada e estar em vigência antes da prática criminosa. Por esse princípio, veda-se que a lei penal retroaja para prejudicar o réu (princípio da irretroatividade da lei penal). O princípio da irretroatividade não se aplica na esfera processual penal, mas sim o princípio da imediatidade da lei processual. NORMA PENAL EM BRANCO Possuem cominação de pena, mas têm o preceito primário indeterminado, dependendo de complementação de outra norma (norma penal em branco homogênea), ou ato administrativo (norma penal em branco heterogênea), sob pena de ofender o princípio da legalidade (ex: crimes previstos na Lei de Drogas - dependem de complementação em relação ao conceito de droga (portarias da Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Princípio da Responsabilidade Pessoal do Agente (art. 5º, XLV, da CF/88): nenhuma pena passará da pessoa do condenado, mas a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens podem ser estendidas aos sucessores até o limite do valor do patrimônio transferido. Princípio da Insignificância ou Bagatela: em que pese a conduta do agente se enquadre no tipo penal, o fato será materialmente atípico por não afetar o bem jurídico tutelado de modo relevante para justificar a intervenção do Direito Penal. Princípio da Culpabilidade: para que o sujeito ativo da infração penal seja responsabilizado, deve ter agido com dolo ou culpa. Se restar provado que o agente não tinha consciência de seus atos, não poderá ser penalizado. Também não haverá aplicação da pena em caso de existência de excludentes de culpabilidade (inimputabilidade, potencial consciência de ilicitude e inexigibilidade de conduta diversa). Princípio da Adequação Social: determina a necessidade de atualização da norma penal incriminadora apenas em face daquelas condutas socialmente reprovadas. OBS.: o princípio da adequação social, de acordo com a jurisprudência majoritária, não incide em relação aos crimes de exploração da prostituição e venda de CDS e DVDs piratas. 2. APLICAÇÃO DA LEI PENAL Lei Penal no Tempo: “considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado” (teoria da atividade). Regra geral, a lei penal a ser aplicada é aquela referente ao momento da prática do crime. São exceções: • Abolitio criminis: nova lei torna atípica uma conduta até então considerada proibida. A nova lei retroage para beneficiar o réu, extinguindo-se sua punibilidade (art. 107, inciso III, do CP). • Novatio legis in mellius: a lei posterior beneficia de alguma forma a situação do agente, sendo que a alteração legislativa deve retroagir para beneficiar o réu. LEI EXCEPCIONAL E LEI TEMPORÁRIA Nesses casos, ainda que mais favoráveis ao réu, essas leis não retroagirão. Cessado o tempo de vigência da lei temporária ou excepcional, elas continuarão produzindo efeitos, mesmo que prejudiciais ao réu (ultratividade), conforme art. 3º do CP Crimes continuados e permanentes: a lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência (Súmula n. 711 do STF). Lei Penal no espaço: o CP adotou a teoria da territorialidade mitigada: regra geral, deve-se aplicar a lei brasileira aos crimes cometidos no território nacional, mas é possível a aplicação de norma estrangeira ao crime praticado no território nacional, quando houver previsão em convenções, tratados e regras de direito internacional (art. 5º do CP). TERRITÓRIO NACIONAL a) embarcações e aeronaves estrangeiras privadas no território nacional b) embarcações e aeronaves brasileiras no território nacional c) embarcações públicas ou a serviço do Brasil onde quer que estejam Alto-mar: no crime praticado em alto-mar, deve-se aplicar a legislação do país de matrícula da embarcação (princípio do pavilhão ou da bandeira). Extraterritorialidade: o CP prevê situações em que a lei penal brasileira deve ser aplicada a crimes cometidos no estrangeiro. Existem duas espécies de extraterritorialidade: OA B N A M ED ID A | D IR EI TO P EN AL | RE SU M O PA RA A P RO VA D A OA B/ FG V DIREITO PENAL - RESUMO PARA A PROVA DA OAB/FGV 22 Extraterritorialidade incondicionada: o agente é punido pela lei brasileira mesmo que tenha sido absolvido ou condenado no estrangeiro pela prática de determinados crimes (p. ex.: contra a vida ou a liberdade do Presidente da República, dentre outros). Extraterritorialidade condicionada: o agente pode ser punido pela legislação brasileira no caso de certos crimes e preenchidos alguns requisitos, conforme segue: CRIMES a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir, b) praticados por brasileiro ou c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados REQUISITOS a) entrar o agente no território nacional; b) ser o fato punível também no país em que foi praticado; c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição; d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena; e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorável (§ 2º do art. 7º do CP). Extraterritorialidade hipercondicionada: o § 3º do art. 7º do CP permite a aplicação da lei penal brasileira ao crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil, se, reunidas as condições do § 2º do art. 7º CP, acima destacadas, e desde que: a) não seja pedida ou seja negada a extradição; b) haja requisição do Ministro da Justiça. Pena cumprida no estrangeiro: para evitar o bis in idem, o art. 8º do CP dispõe que a pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando diversas, ou nela é computada, quando idênticas. Lugar do crime: o Código Penal adotou a teoria da ubiquidade, considerando-se o crime praticado no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado (art. 8º do CP). Conflito aparente de normas penais: ocorre quando é possível a aplicação de duas ou mais normas a um mesmo fato. O conflito é meramente aparente e pode ser resolvido pela aplicação dos seguintes princípios: Princípio da especialidade: a norma especial prevalece sobre a norma geral, considerando-se especial aquela que, além de englobar os elementos da norma geral, possui elementos específicos, considerados “especializantes”. Princípio da subsidiariedade: a incidência do tipo penal mais grave afasta a do tipo penal menos grave, que só é aplicado de forma subsidiária, funcionando como um “soldado de reserva”. Princípio da Consunção: haverá a absorção do crime meio pela práticado crime fim (ex.: o crime de lesão corporal é absorvido pelo crime de homicídio doloso). 3. TEORIA DO CRIME Infração penal é o gênero, do qual crime e contravenção penal são espécies, sendo ambas abarcadas pela teoria geral do crime. Teoria finalista tripartida: consideramos esta a teoria mais adequada para definir o conceito de crime. De acordo com ela, existem três elementos principias para a caracterização do delito: FATO TÍPICO ILICITUDE CULPABILIDADE 4. FATO TÍPICO O fato típico é composto por conduta, dolo ou culpa, resultado e relação de causalidade (nexo causal). Conduta: todo ato humano voluntário, omissivo ou comissivo, que produziu resultado penalmente relevante. Assim, se a conduta não tiver sido praticada em decorrência da vontade do agente, não haverá crime. Conduta comissiva: o crime é praticado em razão de um agir. Conduta omissiva: o crime é praticado porque o agente deixou de praticar uma conduta, conforme a lei penal exigia, sendo divido em crime omissivo próprio e crime omissivo impróprio (ou comissivo por omissão). Crime doloso: aquele que foi praticado com a intenção livre e consciente do agente, ou seja, com a intenção de praticar a conduta tipificada. O dolo pode ser: a) direto, b) indireto (dividido em alternativo e eventual), c) genérico ou d) específico (intenção adicional). Crime culposo: deriva de conduta voluntária que gera um delito não querido pelo agente, mas que era previsto (culpa consciente) ou ao menos previsível (culpa inconsciente). Decorre da inobservância de um dever de cuidado por imprudência, negligência e imperícia do agente. A culpa ainda pode ser classificada como própria ou imprópria. Crime preterdoloso (crime híbrido): praticado com dolo, mas que, posteriormente, há uma conduta culposa do agente que agrava o resultado (resultado agravador culposo). Não há tentativa no crime preterdoloso, pois o resultado mais gravoso é cometido de forma culposa. Resultado: pode ser classificado em jurídico (própria ofensa à norma penal) ou naturalístico (alteração do mundo exterior). Com base no resultado naturalístico, é possível a existência de 3 tipos de crime: a) crime material (depende do resultado naturalístico), b) crime formal (a consumação do crime independe da obtenção do resultado), e c) crime de mera conduta (consuma- se pela simples prática da conduta ilícita, não havendo resultado naturalístico possível). Nexo causal: ligação de causa e efeito entre a conduta e o resultado. O CP adotou, como regra geral, a teoria da equivalência dos antecedentes causais (conditio sine qua non), analisada em conjunto com dolo e a culpa (causalidade psíquica), a fim de se evitar o regressus ad infinitum. OA B N A M ED ID A | D IR EI TO P EN AL | RE SU M O PA RA A P RO VA D A OA B/ FG V DIREITO PENAL - RESUMO PARA A PROVA DA OAB/FGV 33 Teoria da imputação objetiva: o agente apenas será responsabilizado pela prática de um crime se ele criou ou incrementou um risco proibido ao bem penalmente tutelado. Concausas: são causas paralelas à conduta do agente, que concorrem para a produção do resultado. Podem ser dependentes ou independentes. Concausas dependentes: encontram-se no desdobramento normal e previsível da conduta, sendo esperadas. Concausas independentes: são aquelas não desejadas e imprevisíveis que acabam produzindo um resultado penalmente relevante. Podem ser relativamente ou absolutamente independentes e, em ambos os casos, ainda podem ser classificadas como preexistentes, concomitantes ou supervenientes. Tipicidade: é o enquadramento do fato concreto ao tipo penal, que representa a descrição do crime em abstrato (tipicidade legal). O tipo penal é composto pelo núcleo do tipo (verbo), bem como por elementares e circunstâncias, objetivas (que se comunicam aos demais coautores ou partícipes do crime que delas sabiam) ou subjetivas (que não se comunicam, salvo quando elementares do crime). Erro de tipo: o agente tem uma percepção equivocada da realidade em relação a algum elemento constitutivo do tipo legal, sendo excluído o dolo, mas sendo possível a punição por crime culposo, se previsto em lei. O erro de tipo é dividido em “erro de tipo essencial” e “erro de tipo acidental”. Erro sobre o objeto (error in re): existe uma falsa percepção sobre o objeto do crime, já que o agente pretende atingir determinada coisa, mas atinge coisa diversa, respondendo pelo crime como se tivesse atingido a coisa realmente desejada. Erro sobre a pessoa (error in persona): existe uma falsa percepção sobre a vítima do crime, sendo atingida terceira pessoa diversa daquela realmente pretendida. O agente responde pelo crime como se tivesse matado a pessoa desejada. Erro na execução (aberratio ictus): o agente, por acidente ou erro no uso dos meios de execução, ao invés de atingir a pessoa que pretendia ofender, atinge pessoa diversa, respondendo como se tivesse praticado o crime contra a pessoa desejada. Atingida a pessoa desejada e pessoa diversa (resultado duplo), aplica-se a regra do concurso formal próprio. Resultado diverso do pretendido (aberratio criminis): o agente desejava cometer um crime, mas por erro na execução, acaba por cometer outro. Se o crime cometido em erro de execução não possuir a modalidade culposa, o agente responderá por tentativa do crime que queria praticar. Erro no nexo causal (aberratio causae): o agente acredita ter cometido um crime de um modo, quando na verdade foi outro o meio por ele empregado que causou o delito. A aberratio causae não possui muita relevância prática, devendo o agente responder pelo seu dolo genérico. 5. ILICITUDE (ANTIJURIDICIDADE) É a ofensa da conduta típica ao ordenamento jurídico, sendo considerada elemento essencial para a caraterização do crime. Algumas condutas, apesar de serem típicas, não caracterizam crime, porque acobertadas por excludentes de antijuridicidade ou de ilicitude: a) estado de necessidade, b) legítima defesa, c) estrito cumprimento de dever legal ou d) exercício regular de direito (art. 23 do CP). Estado de necessidade: situação de perigo atual de determinado bem, cuja preservação depende do sacrifício inevitável de outro bem (colisão de bens protegidos) de igual valor ou de valor inferior (teoria unitária). Requisitos: a) perigo atual, b) situação de perigo não causada voluntariamente pelo agente, c) ação deve ocorrer para salvar direito próprio ou alheio, d) inexistência do dever legal de enfrentar o perigo, e) inevitabilidade do comportamento lesivo. Estado de necessidade putativo: o agente imagina uma situação de perigo que caracterizaria o estado de necessidade, mas ele de fato não acontece. Se o erro for escusável exclui-se o dolo/culpa, se inescusável, responde pelo crime culposo se houver previsão. Legítima defesa: entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem. Requisito: a) agressão injusta; b) atualidade ou iminência da agressão; c) direito próprio ou alheio; d) uso dos meios necessários; e) uso moderado. Pacote Anticrime (Lei n. 13.964/19): inseriu o parágrafo único no art. 15 do CP, dispondo oque “o agente de segurança pública que repele agressão ou risco de agressão a vítima mantida refém durante a prática de crimes.” O novo parágrafo único apenas deixou expressa uma hipótese que já era considerada legítima defesa. Legítima defesa putativa: o agente se defende de uma agressão acreditando que está em legítima defesa, mas sua percepção é falsa. Se o erro for escusável, exclui- se o dolo/culpa, se inescusável, o agente será condenado por crime culposo, se houver previsão. Legítima defesa sucessiva: ocorre quando o próprio agressor se defende do excesso praticado em legítima defesa. Havendo excesso, permite-se a legítima defesa sucessiva. Legítima defesa subjetiva: o agente comete um excesso na sua reação, por meio deum erro escusável (“excesso acidental”). Legítima defesa preordenada: para a FGV, os ofendículos caracterizam legítima defesa preordenada. Ofendículos são obstáculos ou instrumentos utilizados proposital e moderadamente para a proteção de bens jurídicos, geralmente patrimoniais (ex.: cerca elétrica, cacos de vidro, etc.). Estrito cumprimento do dever legal: excludente de antijuridicidade em que o agente pratica fato típico em razão do exercício de uma obrigação imposta pela lei. O agente, além de cumprir o seu dever legal, deverá agir com proporcionalidade/razoabilidade. Exercício regular do direito: quem exerce regularmente um direito não pode ser punido pela prática de infração penal (ex.: lesões ocorridas dentro da prática regular desportiva, intervenções cirúrgicas autorizadas pelos pacientes, etc.). Tais condutas devem ser utilizadas OA B N A M ED ID A | D IR EI TO P EN AL | RE SU M O PA RA A P RO VA D A OA B/ FG V DIREITO PENAL - RESUMO PARA A PROVA DA OAB/FGV 44 com moderação e nos termos autorizados pela legislação. 6. CULPABILIDADE A culpabilidade está relacionada à reprovabilidade da conduta do agente, ou seja, a existência de circunstâncias capazes de influenciar a liberdade do agente entre adotar uma conduta lícita ou ilícita. A culpabilidade é formada pelos seguintes elementos: a) imputabilidade, b) potencial consciência da ilicitude e c) exigibilidade de conduta diversa. Imputabilidade: como regra geral, é verificada de acordo com o critério biopsicológico: aspecto biológico (doença mental ou desenvolvimento mental incompleto) e aspecto psicológico (capacidade de entendimento ou de autodeterminação do agente no momento da conduta). O agente pode ser considerado inimputável ou semi- imputável. INIMPUTÁVEL SEMI-IMPUTÁVEL Inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato Sujeito à medida de segurança Não era inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato Redução da pena de um a dois terços, podendo ser substituída por medida de segurança nos casos do art. 98 do CP. OBS.: o CP adotou o critério biológico em relação ao menor de 18 anos (a inimputabilidade é presumida de forma absoluta, independentemente do entendimento do agente sobre a ilicitude do fato). Embriaguez: a embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool ou substância de efeitos análogos não exclui a culpabilidade (teoria da actio libera in causa). No caso embriaguez completa, proveniente de caso fortuito ou força maior, dependendo do grau de consciência do agente, pode haver a exclusão da culpabilidade. Emoção e paixão: a emoção ou a paixão não são capazes de excluir a culpabilidade, mas podem possuir efeitos diferentes sobre a pena: a) emoção: sentimento abrupto e passageiro, pode atenuar a culpabilidade; b) paixão: sentimento duradouro e profundo, que pode caracterizar torpeza ou vingança, aumentando a reprovação da conduta. Potencial consciência de ilicitude: embora o conhecimento da lei seja obrigatório para todas as pessoas, existem situações em que o agente atua conscientemente, mas acreditando que não há qualquer ilicitude na sua conduta (sabe o que está fazendo, mas acredita que não é crime), o que se denomina de erro de proibição. Duas situações são possíveis: Erro de proibição inevitável (escusável): haverá exclusão da culpabilidade e o agente será isento de pena. Erro de proibição evitável (inescusável): haverá redução da pena de 1/3 a 1/6, conforme art. 21 do CP. Inexigibilidade de conduta diversa: se, no caso concreto, não se puder exigir, do agente, conduta diferente daquela que ele tomou, ele não poderá ser censurado pelo que fez, excluindo-se sua culpabilidade. Há duas hipóteses: Coação moral irresistível: o coagido realiza conduta delituosa em razão de pressão psicológica irresistível feita pelo coator. Coação física irresistível: a coação moral irresistível exclui a culpabilidade, enquanto a coação física irresistível exclui o fato típico. Obediência hierárquica: o agente realiza a conduta delituosa em cumprimento a uma ordem de um superior hierárquico. São exigidos dois requisitos: a) relação de hierarquia pública, e b) ordem não pode ser manifestamente ilegal. 7. CLASSIFICAÇÃO DOS CRIMES QUANTO AO RESULTADO Crime material: aquele que exige resultado naturalístico (ex.: homicídio). Crime formal: o resultado material é previsto, mas não é exigido para a consumação do crime (ex.: extorsão, conforme Súmula n. 96 do STJ). Crime de mera conduta ou de simples atividade: o tipo penal não faz nenhuma referência a um resultado naturalístico (ex.: crime de porte ilegal de armas). QUANTO À INTENÇÃO DO AGENTE Crime de dano: aquele em que há efetiva “destruição” do bem protegido (ex.: homicídio e lesão corporal). Crime de perigo: exige apenas a probabilidade de dano. É subdividido em: a) crime de perigo concreto (ex.: homicídio) e b) crime de perigo abstrato (perigo presumido pela lei, como por ex.: tráfico ilícito de drogas). QUANTO AO MOMENTO DA CONSUMAÇÃO Crime instantâneo: a consumação tem momento definido (ex.: morte da vítima no crime de homicídio). Crime permanente: a conduta e a consumação se alongam no tempo por vontade do agente (ex.: sequestro). Crime a prazo: exige o decurso de um tempo para a sua caracterização (Ex.: crime de lesão corporal grave pela incapacidade das ocupações habituais por mais de 30 dias). QUANTO AO SUJEITO ATIVO Crime comum: aquele que pode ser praticado por qualquer pessoa (ex.: furto e roubo). Crime próprio: exige-se qualidade especial do sujeito ativo (ex.: no infanticídio, o sujeito ativo deve ser a mãe). Crime de mão própria: o que somente pode ser praticado pessoalmente pelo agente designado no tipo, não se admitindo coautoria (ex.: falso testemunho e bigamia). Crime vago: o sujeito passivo é destituído de personalidade jurídica, ou seja, a vítima é indeterminada OA B N A M ED ID A | D IR EI TO P EN AL | RE SU M O PA RA A P RO VA D A OA B/ FG V DIREITO PENAL - RESUMO PARA A PROVA DA OAB/FGV 55 (ex.: crimes de ato obsceno e tráfico). QUANTO AOS VESTÍGIOS DEIXADOS Crime transeunte: aquele que não deixa vestígios (ex.: ato obsceno). Crime não transeunte: aquele que deixa vestígios, sendo obrigatória a elaboração de exame de corpo de delito (ex.: lesão corporal). QUANTO À ESTRUTURA DA CONDUTA Crime simples: aquele formado por um único fato típico (ex.: furto). Crime complexo: aquele formado por dois ou mais fatos típicos, que se transformam em elementares, qualificadoras ou causas de aumento do crime (ex.: extorsão mediante sequestro e latrocínio). QUANTO À AUTONOMIA DO CRIME Crime principal: não depende de outro crime (ex.: estupro). Crime acessório, parasitário ou delito de fusão: depende de outro crime, chamado de crime antecedente ou pressuposto (ex.: receptação). OUTRAS CLASSIFICAÇÕES Crime habitual: exige reiteração da mesma conduta para a sua caracterização, já que a prática de um ato isolado é considerada fato atípico (Ex.: curandeirismo). O crime habitual não admite tentativa. Crime remetido: aquele que faz menção a outro tipo penal em sua descrição, que passa a integrá-la (ex.: crime de uso de documento falso). Crime inominado: aquele que afronta a moral, mas não está tipificado em lei como crime (ex.: incesto que, apesar de imoral, não é crime). Crime de atentado ou empreendimento: aquele em que consumação e tentativa são apenadas da mesma maneira (adotada a teoria voluntarista ou subjetiva. Pune- se a intenção do agente, independentemente do resultado (ex.: crime de evasão de preso mediante violência). Quase-crime: nome doutrinário do crime impossível. 8. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA Consumação: crime consumado é aquele que reúne todos os elementos de sua definição legal. Para tanto são necessárias 4 etapas (iter criminis): a) cogitação (não punível), b) preparação (em regra, não é punível), c) execução(pune-se a tentativa), e d) consumação (punição pelo crime). Tentativa (“conatus”): o crime é considerado tentado quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente. Em regra, o agente é punido com a pena correspondente ao crime consumado, diminuída de um a dois terços. OBS.: quanto mais próximo o infrator chegar à consumação, menor a redução, e vice-versa. Infrações penais que não admitem tentativa: Crime culposo: nesse caso o agente causa o resultado involuntariamente, enquanto que na tentativa, o agente quer causar o resultado (exceção: culpa imprópria quando o erro é evitável). Crime preterdoloso ou preterintencional: não admite tentativa, porque o resultado mais gravoso é involuntário. Crime omissivo puro ou próprio: não há tentativa no caso de omissão. Crime habitual: como exige reiteração da mesma conduta para a sua caracterização, impossível a tentativa nesses casos. Contravenção penal: existe tentativa de contravenção, mas não é punida por questões de política criminal (art. 4º da LCP). Classificações: Tentativa branca ou incruenta: a vítima não é atingida; Tentativa vermelha ou cruenta: a vítima é atingida. Tentativa perfeita, acabada ou crime falho: o infrator consegue esgotar os meios de execução possíveis, embora não consiga consumar o crime. Tentativa imperfeita ou inacabada: o infrator não consegue esgotar os meios de execução por circunstâncias alheias à sua vontade. Desistência voluntária: na desistência voluntária, o infrator, sem esgotar os meios de execução (tentativa imperfeita), desiste voluntariamente de prosseguir na execução do crime, ainda que influenciado por terceiro. Responderá apenas pelos atos praticados. Arrependimento eficaz: o agente esgota todos os meios disponíveis para executar o crime (tentativa perfeita), mas, posteriormente, toma providências para que o crime não seja consumado. O agente responderá apenas pelos atos praticados. FÓRMULA DE FRANK Na tentativa, o agente quer consumar o crime, mas não pode Na desistência voluntária e no arrependimento eficaz, o agente pode consumar o crime, mas não quer Arrependimento posterior: nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, se o dano for reparado ou se for restituída a coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato voluntário do agente, a pena será reduzida de um a dois terços (não confundir com o arrependimento eficaz, no qual o crime não se consuma). Crime impossível: aquele que não pode ser consumado em razão da ineficácia absoluta do meio (ex.: furtar algo com o poder da mente), por absoluta impropriedade do objeto (ex.: matar um cadáver) ou em razão de obra do agente provocador (delito de ensaio). Súmula 145 do STF: Não há crime, quando a preparação do flagrante pela polícia torna impossível a sua consumação. OA B N A M ED ID A | D IR EI TO P EN AL | RE SU M O PA RA A P RO VA D A OA B/ FG V DIREITO PENAL - RESUMO PARA A PROVA DA OAB/FGV 66 9. CONCURSO DE PESSOAS Quando mais de uma pessoa concorre para a prática do mesmo crime, devendo ser preenchidos os seguintes requisitos: a) pluralidade de agentes, b) liame subjetivo, c) relevância causal e d) unidade de crime. AUTORIA: autor do crime, para a teoria restritiva, é aquele que pratica as elementares do tipo penal ou, para a teoria do domínio do fato, é aquele tem o domínio sobre a ação criminosa. Autoria mediata: o autor mediato não realiza diretamente a conduta típica, valendo-se de terceira pessoa como um instrumento para a prática delitiva (ex.: coação moral irresistível). Não se trata de concurso de pessoa, uma vez que o executor não deseja praticar o crime. Autoria colateral: o crime é praticado ao mesmo tempo por mais de um agente, sem, entretanto, haver liame subjetivo entre eles. Autoria incerta: no caso de autoria colateral, quando não for possível determinar qual dos agentes foi responsável pelo crime, ambos respondem por tentativa, em virtude do princípio in dubio pro reo. Coautoria: ocorre quando duas ou mais pessoas exercem elementares do tipo penal, segundo a teoria restritiva, ou têm o controle da ação criminosa, segundo teoria do domínio do fato. Participação: ocorre quando alguém, de qualquer modo, concorre para o crime sem exercer elementares do tipo (teoria restritiva) ou sem ter o domínio da ação criminosa (teoria do domínio do fato). A participação pode ser: a) moral (induzimento ou instigação) ou b) material (auxílio prático). O código penal adotou a teoria monista, unitária ou igualitária para o concurso de pessoas: todos respondem pelo mesmo crime e com as mesmas penas, salvo no caso de: Cooperação dolosamente distinta: quando o agente quis participar de crime menos grave do que aquele efetivamente praticado. Previsão especial em sentido contrário: quando o legislador prevê crimes diferentes para aqueles que atuaram em concurso de agentes, como nas hipóteses dos crimes de corrupção ativa (art. 333 do CP) e passiva (art. 317 do CP). Comunicabilidade das circunstâncias e elementares no concurso de pessoas: no concurso de pessoas (I) as circunstâncias objetivas comunicam-se entre os agentes, (II) as circunstâncias subjetivas não se comunicam entre os agentes, e (III) as elementares do crime comunicam-se entre os agentes 10. CONCURSO DE CRIMES No concurso de crimes uma pessoa pratica, por meio de uma ou mais condutas, dois ou mais crimes. As espécies de concurso de crimes são: Concurso material (ou concurso real): ocorre quando o agente, mediante duas ou mais condutas, pratica dois ou mais crimes. Pode ser: a) concurso material homogêneo (resultados dos crimes são idênticos) ou b) concurso material heterogêneo (resultados são distintos). As penas são aplicadas para cada um dos crimes cometidos e, posteriormente, somadas (sistema do cúmulo material de penas). Concurso formal: no concurso formal o agente, mediante uma única conduta, pratica dois ou mais crimes. Também apresenta duas espécies: a) concurso formal próprio ou perfeito (delitos decorrem de uma única vontade ou desígnio do agente) ou b) concurso formal impróprio ou imperfeito (decorrem de desígnios autônomos). CONCURSO FORMAL PERFEITO CONCURSO FORMAL IMPERFEITO Único desígnio Pena do crime mais grave é aumentada de 1/6 até a metade (sistema da exasperação da pena), salvo se resultado obtido for maior do que aquele obtido pela soma das penas (concurso material benéfico) Mais de um desígnio As penas são somadas, assim como no concurso material Crime continuado: o agente, mediante duas ou mais condutas, pratica crimes da mesma espécie que, em razão da semelhança de tempo, lugar e modo de execução, são considerados atos de continuação do crime principal. Há duas espécies: a) crime continuado comum (crimes sem violência ou grave ameaça à pessoa) e b) crime continuado específico (crimes dolosos, cometidos com violência ou grave ameaça à pessoa). CRIME CONTINUADO COMUM CRIME CONTINUADO ESPECÍFICO Sem violência ou grave ameaça Aplica-se a pena mais grave, que poderá ser aumentada de 1/3 a 2/3 Com violência ou grave ameaça. Aplica-se a pena mais grave, que poderá ser aumentada até o triplo 11. SANÇÕES PENAIS Reação do Estado em face do agente que cometeu uma infração penal, subdividindo-se em medida de segurança e pena. MEDIDA DE SEGURANÇA: sanção penal cabível ao inimputável e, excepcionalmente, ao semi-imputável. Há duas espécies: a) detentiva (internação em hospital de custódia e tratamento psicológico) ou b) restritiva (tratamento ambulatorial sem restrição da liberdade do agente). A medida de segurança tem prazo mínimo de 1 a 3 anos, mas perdura por tempo indeterminado, até a cessação de periculosidade. O tempo de duração da medida de segurança não deve ultrapassar o limite máximo da pena abstratamente cominada ao delito praticado (Súmula n. 527 do STJ. Fase de Execução: se a inimputabilidadefor verificada OA B N A M ED ID A | D IR EI TO P EN AL | RE SU M O PA RA A P RO VA D A OA B/ FG V DIREITO PENAL - RESUMO PARA A PROVA DA OAB/FGV 77 na fase de execução da pena, esta poderá ser substituída por medida de segurança. Recuperado o condenado, ele deverá voltar a cumprir a pena imposta na sentença. PENA: o CP prevê 3 espécies de pena: Pena privativa de liberdade: representa a restrição do direito de locomoção do condenado, podendo assumir uma das seguintes espécies: a) reclusão (regime fechado, semiaberto ou aberto), b) detenção (regime semiaberto ou aberto, sendo o fechado possível apenas em caso de regressão de regime) e c) prisão simples (reservada às contravenções penais, devendo ser cumprida, sem rigor penitenciário). Progressão de regime: o sistema progressivo para cumprimento de pena privativa de liberdade determina que o condenado, cumpridas determinadas condições legais ou estabelecidas pelo juízo, tenha o direito de progredir do regime mais rigoroso para o regime imediatamente menos rigoroso (é vedada a progressão “por salto”). OBS.: nos crimes contra a administração pública, a progressão é condicionada, além dos requisitos legais, à reparação do dano ou à devolução do produto do ilícito praticado. Requisitos (Pacote Anticrime): Primário que praticou infração comum sem violência ou grave ameaça: 16% da pena. Primário que praticou infração comum com violência ou grave ameaça: 20% da pena. Reincidente que praticou infração comum sem violência ou grave ameaça: 25 % da pena. Reincidente que praticou infração comum com violência ou grave ameaça: 30% da pena. Primário que praticou crime hediondo sem resultado morte: 40% da pena. Primário que praticou crime hediondo com resultado morte: 50% da pena, sendo vedado livramento condicional. Reincidente específico que praticou crime hediondo ou equiparado sem resultado morte: 60% da pena. Reincidente específico que praticou crime hediondo ou equiparado com resultado morte: 70% da pena. Primário ou reincidente que praticou crime de organização criminosa destinada a prática de crimes hediondos ou equiparado: 50% da pena vedado o livramento condicional. Remição: o condenado em regime fechado ou semiaberto poderá remir, por trabalho ou por estudo, parte do tempo de execução da pena: Cada 12 horas de frequência escolar = 1 DIA DE PENA Cada 3 três dias de trabalho Trabalho do preso: o trabalho é um dever do preso e a negativa injustificada de prestá-lo representa falta grave (o preso que, por acidente, não puder prosseguir no trabalho/ estudos continua a beneficiar-se com a remição). Detração: cálculo que computa, na pena privativa de liberdade e na medida de segurança, (i) o tempo de prisão provisória, no Brasil ou no estrangeiro, (ii) o de prisão administrativa e (iii) o de internação em hospital de custódia, tratamento psiquiátrico ou outro estabelecimento semelhante. Regressão de regime: passagem de regime menos rigoroso para um mais rigoroso, podendo ser “por salto” (ex.: do aberto para o fechado). Ocorre em caso de (i) prática de falta grave ou (ii) condenação, por crime anterior, cuja pena, somada à anterior, torne incabível o regime atual. Pacote Anticrime (Lei n. 13.964/19): Houve alteração do art. 75 do CP, ampliando o prazo máximo de cumprimento da pena privativa de liberdade de 30 anos para 40 anos. Unificação das penas: quando o agente for condenado a penas privativas de liberdade cuja soma seja superior a 40 anos, devem elas ser unificadas para atender a esse limite máximo. Prazo máximo e demais benefícios: a jurisprudência majoritária entende que o prazo máximo de 40 anos não se aplica para a concessão dos demais benefícios previstos em lei, conforme disposto na Súmula n. 715 do STF. Penas restritivas de direito: representam restrições ou supressão de um ou mais direitos do condenado e são aplicadas em substituição à pena privativa de liberdade. Existem 5 espécies de penas restritivas de direito: 1) Prestação pecuniária, 2) Perda de bens e valores, 3) Prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas, 4) Interdição temporária de direitos e 5) Limitação de fim de semana. REQUISITOS PARA A SUBSTITUIÇÃO DA PENA QUANTIDADE DE PENA Crime culposo: qualquer pena imposta admite a substituição, Crime doloso: para que haja a substituição, o crime deve ser cometido sem violência ou grave ameaça à pessoa e a pena imposta deve ser inferior a 4 anos REINCIDÊNCIA O réu não pode ser reincidente em crime doloso, salvo se a reincidência não for específica no mesmo tipo penal e a medida for socialmente recomendável, A reincidência em crime culposo não impede a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direito CIRCUNSTÂNCIAS FAVORÁVEIS Culpabilidade, antecedentes, conduta social, personalidade do condenado, motivos e circunstâncias devem indicar que a substituição é suficiente. Violência e Grave Ameaça: Nos crimes dolosos praticados com violência ou grave ameaça não é possível a substituição por pena restritiva de direitos. OA B N A M ED ID A | D IR EI TO P EN AL | RE SU M O PA RA A P RO VA D A OA B/ FG V DIREITO PENAL - RESUMO PARA A PROVA DA OAB/FGV 88 CRITÉRIOS PARA A SUBSTITUIÇÃO DA PENA CONDENAÇÃO IGUAL OU INFERIOR A 1 ANO Multa ou uma pena restritiva de direito CONDENAÇÃO SUPERIOR A 1 ANO Uma pena restritiva de direito e multa ou Duas penas restritivas de direito Prestação pecuniária: pagamento em dinheiro à vítima, seus dependentes ou a entidade pública ou privada com destinação social, valor este deduzível de eventual condenação em ação de reparação civil. Prestação de outra natureza: se houver aceitação do beneficiário, a prestação pecuniária pode consistir em prestação de outra natureza (ex.: doação de cestas básicas), salvo nos casos de violência doméstica e familiar contra a mulher, onde essa substituição é vedada. Perda de bens e valores: bens e valores pertencentes aos condenados revertidos em favor do Fundo Penitenciário Nacional, no montante do prejuízo causado ou do provento obtido. Prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas: aplicável no caso de penas superiores a seis meses de privação da liberdade, consiste na atribuição, ao condenado, de tarefas gratuitas em entidades assistenciais, hospitais, escolas, orfanatos e outros estabelecimentos congêneres, em programas comunitários ou estatais. PENA DE ATÉ 1 ANO A pena restritiva de direito deve ser cumprida no mesmo tempo da pena privativa de liberdade substituída PENA SUPERIOR A 1 ANO A pena restritiva de direitos de prestação de serviços pode ser cumprida em menor tempo, desde que não inferior à metade da pena privativa de liberdade substituída. Interdição temporária de direitos: são as seguintes: 1) proibição do exercício de cargo, função ou atividade pública, bem como de mandato eletivo, 2) proibição do exercício de profissão, atividade ou ofício que dependam de habilitação especial, de licença ou autorização do poder público, 3) suspensão de autorização ou de habilitação para dirigir veículo, 4) proibição de frequentar determinados lugares e 5) proibição de inscrever-se em concurso, avaliação ou exame públicos. Limitação de fim de semana: obrigação de o condenado permanecer, aos sábados e domingos, por 5 horas diárias, em casa de albergado ou outro estabelecimento adequado, quando poderão ser ministrados cursos e palestras ou atribuídas atividades educativas. A pena restritiva de direitos pode ser revogada, de forma obrigatória ou facultativa, convertendo-se novamente em pena privativa de liberdade: CONVERSÃO OBRIGATÓRIA CONVERSÃO FACULTATIVA Quando ocorrer descumprimento injustificado da restrição imposta Deduzido o tempo cumprido da pena restritiva de direitos, respeitado o saldo mínimo de trinta dias Sobrevindo nova condenação a pena privativa de liberdade, o juizda execução penal decidirá sobre a conversão Se o cumprimento da nova pena for compatível com o da restritiva de direitos, esta não será convertida. Multa: fixada em sentença com base em dois critérios: a) fixada em dias-multa e b) atribui-se um valor para cada dia multa, conforme a situação econômica do condenado. Pacote Anticrime (Lei 13.964/19): Transitada em julgado a sentença condenatória, a multa será executada perante o juiz da execução penal e será considerada dívida de valor, aplicáveis as normas relativas à dívida ativa da Fazenda Pública, inclusive no que concerne às causas interruptivas e suspensivas da prescrição (art. 51). Lei Maria da Penha: em crimes abarcados pela Lei Maria da Penha, a multa não pode ser aplicada de forma isolada. 12. APLICAÇÃO DA PENA O CP adotou, para aplicação da pena, o sistema trifásico: PRIMEIRA FASE: pena-base Fixada observando-se os limites mínimos e máximos cominados em abstrato pelo tipo penal, levando- se em consideração eventuais qualificadoras e as circunstâncias judiciais do art. 59 do CP (culpabilidade, antecedentes, conduta social, personalidade do agente, motivos, circunstâncias e consequências do crime e comportamento da vítima). SEGUNDA FASE: pena intermediária Agravantes e atenuantes: o juiz leva em consideração as atenuantes e as agravantes previstas em lei, que vão atenuar ou agravar a pena-base, não podendo, entretanto, extrapolar o limite mínimo e máximo da pena em abstrato do crime (Súmula n. 231 do STJ). OBS.: 1) a circunstância que prepondera sobre todas as demais é a circunstância atenuante da menoridade (menor de 21 anos na data dos fatos) ou da senilidade (maior de 70 anos na data da sentença); 2) a agravante da reincidência, salvo no caso das atenuantes da menoridade ou da senilidade, prepondera sobre todas as demais atenuantes; 3) o STJ pacificou entendimento de que a agravante da reincidência se compensa com a atenuante da confissão espontânea, salvo se o réu for multirreincidente; 4) atenuantes e agravantes subjetivas prevalecem sobre atenuantes e agravantes objetivas ATENÇÃO: a agravante não agrava a pena: 1) se já constitui ou qualifica o crime, 2) se a pena base já foi fixada no máximo e 3) se houver concurso de agravante OA B N A M ED ID A | D IR EI TO P EN AL | RE SU M O PA RA A P RO VA D A OA B/ FG V DIREITO PENAL - RESUMO PARA A PROVA DA OAB/FGV 99 com atenuante que seja preponderante. Reincidência: ocorre quando (i) o agente comete novo crime e (ii) depois de transitar em julgado a sentença que, no país ou no estrangeiro, o tenha condenado por crime anterior. Não há reincidência quando o agente é condenado por decisão irrecorrível pela prática de contravenção penal e depois pratica novo crime, pois não há previsão legal nesse sentido. ATENÇÃO: crime militar próprio e crime político não geram reincidência. CRIME CRIME REINCIDÊNCIA CRIME CONTRAVENÇÃO REINCIDÊNCIA CONTRAVENÇÃO CONTRAVENÇÃO REINCIDÊNCIA CONTRAVENÇÃO CRIME NÃO HÁ REINCIDÊNCIA CRIME MILITAR OU POLÍTICO CRIME NÃO HÁ REINCIDÊNCIA PERDÃO JUDICIAL PERDÃO JUDICIAL NÃO HÁ REINCIDÊNCIA Prescrição da reincidência: não haverá reincidência se entre a data do cumprimento ou extinção da pena e a infração posterior tiver decorrido período de tempo superior a 5 anos, computado o período de prova da suspensão ou do livramento condicional, se não ocorrer revogação. TERCEIRA FASE: pena definitiva Causas de aumento e diminuição: o juiz não está atrelado aos limites abstratos da pena, podendo aumentar ou diminuir a pena além do máximo ou do mínimo previstos para o crime. Havendo concurso de causas de aumento e de diminuição, o juiz deverá observar que: DUAS OU MAIS CAUSAS DE AUMENTO Deve aplicar todas, salvo se as causas de aumento estiverem previstas na parte especial do CP, podendo aplicar apenas uma causa, desde que seja a causa que mais aumenta a pena DUAS OU MAIS CAUSAS DE DIMINUIÇÃO DE PENA Deve aplicar todas, salvo se as causas de diminuição estiverem previstas na parte especial do CP, podendo aplicar apenas uma causa, desde que seja a causa que mais diminua a pena CAUSA DE AUMENTO E CAUSA DE DIMINUIÇÃO O juiz deve primeiro aplicar a causa de aumento e depois a de diminuição 13. SUSPENSÃO CONDICIONAL DA PENA (SURSIS) ATENÇÃO: Não confundir suspensão condicional da pena com a suspensão condicional do processo prevista na Lei n. 9.099/95. O sursis, ou suspensão condicional da pena, representa o direito do condenado de ter suspensa a execução da sua pena privativa de liberdade por um determinado período (período de prova), em que ficará sujeito a determinadas condições que, se cumpridas, acarretarão a extinção da punibilidade do agente. REQUISITOS: Pena privativa de liberdade: condenação a pena privativa de liberdade não superior a 2 anos (salvo sursis etário, sursis humanitário ou em se tratando de crimes ambientais). Não ser reincidente em crime em doloso: salvo se a condenação anterior for a pena de multa. Circunstâncias favoráveis: a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias devem autorizar a concessão do benefício. Não indicada ou incabível a substituição prevista no art. 44 do CP: se for possível a substituição da pena privativa de liberdade por pena restritiva de direito não haverá aplicação do sursis. Reparação do dano: no caso de sursis especial, além dos requisitos anteriores, o condenado deve reparar o dano, salvo impossibilidade de fazê-lo. Pena Restritiva de Direito e de Multa: A pena restritiva de direitos e a de multa não admitem sursis. PERÍODO DE PROVA: tempo em que o condenado será submetido a certas condições para que a suspensão da sua pena privativa de liberdade seja considerada válida. O período de prova será de 2 a 4 anos, salvo nos casos de sursis etário e sursis humanitário (período de prova de 4 a 6 anos). CONDIÇÕES DO SURSIS: as condições impostas no período de prova são classificadas em (i) legais, quando expressamente previstas em lei e (ii) judiciais, quando determinadas pelo juiz. Em todas as espécies de sursis, o juiz tem liberdade para fixar as condições que entender necessárias, desde que sejam razoáveis e proporcionais. ESPÉCIES: Sursis simples: é o mais rigoroso, sendo imposto ao condenado que podia ter reparado o dano causado, mas não o fez. No primeiro ano do período, é condição obrigatória a prestação de serviços à comunidade ou limitação de fim de semana. Sursis especial: menos grave porque o condenado reparou o dano ou não podia repará-lo. O juiz fixará as seguintes condições: a) proibição de se ausentar da Comarca sem autorização judicial; b) proibição de frequentar determinados lugares e c) comparecimento mensal à juízo para comprovar e justificar atividades. Sursis etário: condenado maior de 70 anos de idade, desde que a sua pena privativa de liberdade não seja superior a 4 anos. O período de prova será 4 a 6 anos. OA B N A M ED ID A | D IR EI TO P EN AL | RE SU M O PA RA A P RO VA D A OA B/ FG V DIREITO PENAL - RESUMO PARA A PROVA DA OAB/FGV 1010 Sursis humanitário: previsto para os casos em que as condições de saúde do condenado justificam a suspensão da pena, podendo ser beneficiado o condenado a pena não superior a 4 anos e o período de prova será de 4 a 6 anos. REVOGAÇÃO: REVOGAÇÃO OBRIGATÓRIA REVOGAÇÃO FACULTATIVA Se, durante o período de prova, o beneficiário: 1) é condenado, em sentença irrecorrível, por crime doloso; 2) frustra a execução de pena de multa ou não efetua, sem motivo justificado, a reparação do dano; 3) descumpre a condição de prestar serviços à comunidade ou de limitação de fim de semana no sursis simples Se, durante o período de prova, o beneficiário descumpre qualquer outra condição imposta ou é condenado por sentença irrecorrível, por crime culposo ou por contravenção,a pena privativa de liberdade ou restritiva de direitos PRORROGAÇÃO DO PERÍODO DE PROVA: se o beneficiário do sursis passa a responder a novo processo pela prática de outro crime ou contravenção, considera-se prorrogado o prazo do sursis até o julgamento definitivo. 14. LIVRAMENTO CONDICIONAL Benefício legal concedido na fase de execução da pena, consistente no direito público subjetivo do agente, que cumpre alguns requisitos objetivos e subjetivos, de ter e sua liberdade antecipada. REQUISITOS OBJETIVOS • Pena privativa de liberdade igual ou superior a 2 anos, sendo considerada, para tanto, a somatória das penas decorrentes de outras condenações; • Reparação do dano, salvo motive justificado • Não cometimento de falta grave nos últimos 12 (doze) meses (pacote anticrime) • Cumprimento de parte da pena: 1/3, 1/2 ou 2/3, dependendo dos antecedentes e de eventual reincidência do condenado (OBS.: condenado reincidente específico em crime hediondo ou assemelhado, ou com com morte da vítima nesses crimes, não tem direito ao livramento condicional). ATENÇÃO: a) não cabe livramento condicional para penas restritivas de direito nem de multa e b) Com a Lei 13.964/19 (pacote anticrime), aquele que cometeu falta disciplinar grave nos últimos 12 meses não terá direito ao livramento condicional. REQUISITOS SUBJETIVOS • Comportamento carcerário satisfatório; • Bom desempenho no trabalho que lhe foi atribuído; • Aptidão para prover a sua subsistência, mediante trabalho honesto; • Em se tratando de crime doloso praticado com violência ou grave ameaça, é necessário exame para constatação que não voltará a delinquir. Condições: a manutenção do livramento condicional depende do cumprimento, por parte do beneficiário, de determinadas condições: CONDIÇÕES OBRIGATÓRIAS • Obter ocupação lícita, dentro de prazo razoável se for apto para o trabalho; • Comunicar periodicamente ao Juiz sua ocupação; • Não mudar do território da comarca do Juízo da execução, sem prévia autorização deste. CONDIÇÕES FACULTATIVAS • Não mudar de residência sem comunicação ao Juiz e à autoridade incumbida da observação cautelar e de proteção; • Recolher-se à habitação em hora fixada; • Não frequentar determinados lugares. REVOGAÇÃO DO LIVRAMENTO A revogação do livramento condicional pode ser obrigatória ou facultativa: REVOGAÇÃO OBRIGATÓRIA REVOGAÇÃO FACULTATIVA Se o liberado vier a ser condenado a pena privativa de liberdade, em sentença irrecorrível: a) por crime cometido durante a vigência do benefício; b) por crime anterior, caso a soma das penas impeça a concessão do livramento; O liberado deve ser ouvido antes da decisão de revogação. Se o liberado deixar de cumprir obrigações impostas na sentença, ou se for irrecorrivelmente condenado, por crime ou contravenção, a pena que não seja privativa de liberdade; Em caso de condenação, por prática de contravenção penal, a pena de prisão simples, a revogação será facultativa, por falta de previsão legal; O liberado deve ser ouvido antes da decisão de revogação. ATENÇÃO: em todos os casos, se a condenação OA B N A M ED ID A | D IR EI TO P EN AL | RE SU M O PA RA A P RO VA D A OA B/ FG V DIREITO PENAL - RESUMO PARA A PROVA DA OAB/FGV 1111 ocorrer por delito praticado antes do benefício, será descontado o tempo do livramento, ao passo que, se a condenação se referir a delito cometido na vigência do benefício, não haverá o desconto. PRORROGAÇÃO DO PERÍODO DE PROVA: o período de prova será prorrogado se, ao término do seu prazo, o beneficiado estiver sendo processado por crime cometido durante sua vigência, sendo que o beneficiado não fica sujeito a cumprir as obrigações impostas para o livramento condicional: se houver condenação pela prática do crime, o livramento será revogado; caso haja absolvição, a pena será extinta. EXTINÇÃO DA PENA: se até o seu término o livramento não é revogado, considera-se extinta a pena privativa de liberdade. 15. EFEITOS DA CONDENAÇÃO Efeito primário: é a aplicação da sanção penal pelo Estado (medida de segurança ou pena). Efeitos secundários: podem possuir natureza penal ou extrapenal: NATUREZA PENAL a) reincidência; b) impede, em regra, o sursis e causa a sua revogação; c) causa a revogação do livramento condicional; d) aumenta o prazo da prescrição da pretensão executória e e) causa a revogação da reabilitação. NATUREZA EXTRAPENAL GENÉRICOS a) torna certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime e b) confisco dos instrumentos e produtos do crime NATUREZA EXTRAPENAL ESPECÍFICOS a) perda de cargo, função pública ou mandato eletivo, b) incapacidade para o exercício do poder familiar, da tutela ou da curatela nos crimes dolosos sujeitos à pena de reclusão cometidos contra outro titular do mesmo poder familiar, contra filho, filha, outro descendente, contra tutelado ou curatelado e c) inabilitação para dirigir veículo, se utilizado como meio para a prática de crime doloso. Efeitos extrapenais específicos: os efeitos extrapenais específicos não são automáticos, devendo ser motivadamente declarados na sentença. Lei 13.964/19 (Pacote Anticrime) - O art. 91-A do CP passou a prever um novo efeito extrapenal para os crimes com pena máxima superior a 6 anos, como forma de tentar combater a corrupção. O efeito extrapenal previsto é a perda dos bens do condenado incompatíveis com os valores de seus rendimentos, mesmo que esses bens não estejam diretamente relacionados com a prática do crime. 16. REABILITAÇÃO REQUISITOS • Decurso de 2 anos a partir do cumprimento da pena ou da extinção da punibilidade por qualquer outra forma (o tempo do período de prova do sursis e do livramento condicional, sem revogação, devem ser computados); • Domicílio no Brasil durante esse período de 2 anos; • Bom comportamento público e privado; • Reparação do dano, salvo impossibilidade de fazê-lo ou inexigência. REVOGAÇÃO: a reabilitação será revogada, de ofício ou a requerimento do Ministério Público, se o reabilitado for condenado, como reincidente, por sentença definitiva, salvo se a pena imposta for de multa. Com a revogação, os efeitos extrapenais que estavam suspensos voltam a incidir. Reabilitação e Reincidência: a reabilitação não extingue a reincidência, cujos efeitos desaparecem apenas decorridos 5 anos do cumprimento da pena. 17. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE Morte do agente: como a pena não pode passar da pessoa do condenado, havendo a morte do agente, comprovada pela certidão de óbito, e após a oitiva do Ministério Público, sua punibilidade será extinta. Anistia, graça e indulto: formas de clemência soberana que extinguem a punibilidade do agente, salvo no caso dos crimes hediondos e assemelhados, em que não podem ser concedidas. ANISTIA É o esquecimento jurídico de determinada infração penal mediante lei específica. Refere-se apenas a fatos, não interferindo na previsão genérica do tipo penal. Compete ao Congresso Nacional. GRAÇA Ato espontâneo dado um grupo de pessoas, mediante decreto do Presidente da República, que pode ser delegado a Ministro de Estado, Advogado Geral da União e Procurador Geral da República. INDULTO Medida de caráter individual, por isso é denominada de indulto individual, concedida por decreto do Presidente da República, que pode delegar esse poder ao Ministro de Estado, Advogado Geral da União e Procurador Geral da República. Abolitio criminis: ocorre quando uma lei posterior deixa de considerar uma conduta como crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória anteriormente proferida. A lei posterior que deixa de prever o fato como típico deve retroagir, beneficiando o réu e extinguindo a sua punibilidade. Decadência: representa a perda do direito de representação (ação penal pública condicionada) ou queixa (ação penal privada) pelo decurso do tempo, em regra 6 meses, sem o seu exercício. Importante lembrar queo OA B N A M ED ID A | D IR EI TO P EN AL | RE SU M O PA RA A P RO VA D A OA B/ FG V DIREITO PENAL - RESUMO PARA A PROVA DA OAB/FGV 1212 prazo decadencial não se interrompe nem é se suspende. Perempção: sanção processual aplicada ao querelante inerte, que tem como consequência a extinção da punibilidade do agente (ex.: querelante que deixa de promover o andamento do processo durante 30 dias seguidos). A perempção causa a extinção da punibilidade apenas na ação penal privada, pois na ação penal privada subsidiária da pública o Ministério Público assume a titularidade da ação em caso de inércia do querelante. Renúncia: representa o ato unilateral de vontade do ofendido de não ingressar com ação penal privada, podendo ser expressa ou tácita (prática de ato incompatível com a vontade de exercer o direito de ação). Aplica-se apenas à ação penal privada, salvo no Juizado Especial Criminal, onde aplica-se também à ação penal pública condicionada à representação. Perdão aceito: o perdão é um ato bilateral, dependendo de aceitação do querelado. Ocorre após iniciada a ação penal privada e antes do trânsito em julgado da sentença condenatória, podendo ser expresso ou tácito e ocorrer dentro ou fora do processo. Retratação: será considerada causa extintiva da punibilidade quando a lei expressamente admitir (ex.: crimes de calúnia e difamação). Perdão judicial: causa extintiva da punibilidade, ocorre quando, apesar de comprovada a prática da infração penal culposa pelo agente, o juiz deixa de aplicar a pena para evitar um mal injusto ao agente, uma vez que a própria prática do crime já serviu de pena para o agente (ex.: pai que atropela o filho ao manobrar o carro na garagem). Cabível nas hipóteses expressamente previstas em lei, como no homicídio culposo, na lesão corporal culposa e na receptação culposa (art. 180, § 3º), não gerando efeitos para fins reincidência. Natureza da sentença: natureza declaratória da extinção da punibilidade, não subsistindo qualquer efeito condenatório (Súmula n. 18 do STJ). Prescrição: representa a perda do direito de o Estado punir (prescrição da pretensão punitiva – PPP) ou executar punição imposta (prescrição da pretensão executória – PPE), em razão do decurso do tempo. Crimes Imprescritíveis: a Constituição Federal prevê dois crimes imprescritíveis: 1) racismo e 2) as ações de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o estado democrático. Em direito penal, há duas espécies de prescrição: 1) prescrição da pretensão punitiva (PPP) e 2) prescrição da pretensão executória (PPE). PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA (PPP): ocorre antes do trânsito em julgado e impede qualquer feito de eventual condenação (efeitos penais e extrapenais), que se subdivide em 4 subespécies: a) prescrição da pretensão punitiva em abstrato (PPPA), b) pretensão da prescrição punitiva retroativa (PPPR), c) prescrição da pretensão punitiva superveniente (PPPS) e d) prescrição da pretensão punitiva virtual (PPPV). Prescrição da pretensão punitiva em abstrato (PPPA) ou prescrição propriamente dita: como não se sabe qual será a pena imposta na sentença, o Estado adotou o critério da pior hipótese possível, ou seja, a pena máxima imposta em abstrato para o crime, conforme abaixo: PENA MÁXIMA PREVISTA EM ABSTRATO PRAZO DA PPP Superior a 12 anos 20 anos Superior a 8 anos e não excedente a 12 anos 16 anos Superior a 4 anos e não excedente a 8 anos 12 anos Superior a 2 anos e não excedente a 4 anos 8 anos Igual ou superior a 1 ano, não excedendo a 2 anos 4 anos Inferior a 1 ano 3 anos Crimes do art. 28 da Lei de Drogas 2 anos Para o cálculo da pena máxima deve ser observado o seguinte: ENTRAM NO CÁLCULO NÃO ENTRAM NO CÁLCULO • Qualificadoras • Causas de aumento e de diminuição, prevalecendo a fração que mais aumenta e a que menos diminui. • Atenuantes da menoridade e da senilidade • Agravantes e atenuantes (salvo as atenuantes da menoridade e senilidade) • Circunstâncias judiciais • Concurso de crimes Termo inicial da PPPA: em regra, começa a correr do dia em que o crime se consumou (teoria do resultado), variando nas seguintes situações: a) tentativa (dia em que cessou a atividade criminosa); b) crimes permanentes (dia em que cessou a permanência); c) crimes de bigamia e nos de falsificação ou alteração de assentamento do registro civil (data em que o fato se tornou conhecido), e d) crimes contra a dignidade sexual de crianças e adolescentes (data em que a vítima completar 18 anos, salvo se a esse tempo já houver sido proposta a ação penal). Há situações que suspendem ou interrompem o prazo prescricional. OA B N A M ED ID A | D IR EI TO P EN AL | RE SU M O PA RA A P RO VA D A OA B/ FG V DIREITO PENAL - RESUMO PARA A PROVA DA OAB/FGV 1313 CAUSAS SUSPENSIVAS CAUSAS INTERRUPTIVAS • Enquanto não resolvida, em outro processo, questão de que dependa o reconhecimento da existência do crime; • Enquanto o agente cumpre pena no estrangeiro; • Réu citado por edital que não comparece nem constitui advogado; • OBS.: no caso de suspensão, cessada a hipótese suspensiva, o prazo retoma o seu curso normalmente. • Recebimento da denúncia ou da queixa; • Pronúncia; • Decisão confirmatória da pronúncia; • Publicação da sentença ou acórdão condenatórios recorríveis. • OBS.: na hipótese de interrupção, o prazo prescricional começa a correr do zero, ou seja, inicia- se novo prazo. Lei n. 13.964/19 (Pacote Anticrime): Duas novas causas impedtivas ou suspensivas da prescrição: a) na pendência de embargos de declaração ou de recursos aos Tribunais Superiores, quando inadmissíveis; e (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019); b) enquanto não cumprido ou não rescindido o acordo de não persecução penal. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) Prescrição da pretensão punitiva retroativa (PPPR): leva em conta a pena fixada na sentença irrecorrível para a acusação, quando não é mais possível aumenta-la por recurso da defesa (non reformatio in pejus). Chama-se retroativa porque é um cálculo “para trás”, levando-se em conta a pena fixada na decisão irrecorrível para a acusação, tendo como termo inicial a denúncia ou queixa (ex.: fixada uma pena de 6 anos, a PPPR será de 8 anos, assim, se entre a denúncia e a sentença transcorreu período superior a 8 anos, o processo estará prescrito). Prescrição da pretensão punitiva superveniente (PPPS): assim como a prescrição retroativa (PPPR), possui como base a pena concreta, mas, ao invés de ser contada “para trás”, será contada “para frente”, durante o período de tempo necessário para a análise dos recursos interpostos, até o trânsito em julgado da decisão para a defesa. O prazo da PPPS, portanto, é o mesmo da PPPR, aplicando-o, entretanto, “para a frente” (ex.: fixada uma pena de 6 anos, a PPPS será de 8 anos, ou seja, o Estado terá o prazo de 8 anos para julgar todos os recursos da defesa, sob pena de prescrição). Prescrição da pretensão punitiva virtual (PPPV): também chamada de hipotética, ideal ou antecipada, a PPPV não possui previsão legal, sendo criada pela doutrina e jurisprudência. É uma espécie de antecipação do cálculo da prescrição retroativa (PPPR) antes da condenação do réu: o juiz, analisando o tempo já transcorrido no processo e as circunstâncias que seriam levadas em conta para graduar a pena no caso de condenação, percebendo que haverá a incidência da prescrição retroativa, por economia processual, já poderia extinguir a punibilidade do agente. A prescrição virtual, entretanto, não é aceita pelos Tribunais Superiores, conforme previsto na Súmula n. 438 do STJ. PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO EXECUTÓRIA (PPE): tem como pressuposto o trânsito em julgado da decisão para as duas partes, levando em conta a pena imposta na decisão definitiva, sendo que o transcurso do seu prazo implica na perda do direito de o Estado executar a pena imposta. Oprazo prescricional será aumentando de 1/3 em caso de reincidência, ou reduzido pela metade quando o criminoso era, ao tempo do crime, menor de 21 anos, ou, na data da sentença, maior de 70 anos. Termo inicial: a PPE começa a correr: a) do dia em que transita em julgado a sentença condenatória, para a acusação, ou a que revoga a suspensão condicional da pena ou o livramento condicional, e b) do dia em que se interrompe a execução, salvo quando o tempo da interrupção deva computar-se na pena. ATENÇÃO: evadindo-se o condenado, ou revogado o livramento condicional, a prescrição é regulada pelo tempo que resta da pena. Interrupção da PPE: são causas que interrompem o prazo da PPE: a) o início ou continuação do cumprimento da pena e b) a reincidência. PRESCRIÇÃO DA PENA DE MULTA: a prescrição da pena de multa obedece às seguintes regras: a) prescreve em 2 anos, quando a multa for a única cominada ou aplicada e b) prescreve no mesmo prazo estabelecido para prescrição da pena privativa de liberdade, quando a multa for alternativa ou cumulativamente cominada ou cumulativamente aplicada.
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