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Infecções virais Herpes-vírus • O herpes genital é uma doença sexualmente transmissível causada pelos vírus Herpes simplex tipo 1 (HSV-1) e tipo 2 (HSC-2), este mais comum. Corresponde a um DNA-vírus de transmissão sexual. A infecção se manifesta clinicamente por febre, indisposição, mialgia e vesículas na pele ou mucosas da região genital. Essas lesões se rompem na sua evolução com o aparecimento de úlceras rasas que curam espontaneamente dentro de duas a quatro semanas. É comum a recorrência da infecção depois de um período de latência onde o vírus permanece inativo nas raízes dos nervos dorsais da medula espinhal. Os fatores responsáveis pela reativação do vírus são pouco conhecidos, atribuindo-se o estresse e a consequente queda do estado imunitário, um Herpes Características citológicas: as alterações desencadeadas pelo vírus afetam as células escamosas parabasais, metaplásicas imaturas e endocervicais. Inicialmente se evidenciam citomegalia e cariomegalia. A seguir, devido à degeneração, a cromatina se torna rarefeita e os núcleos assumem um aspecto fosco, homogêneo. Simultaneamente, restos persistentes de cromatina se depositam contra o folheto interno da membrana nuclear, resultando na aparência de borda nuclear espessada. É frequente a multinucleação onde os núcleos se amoldam uns aos outros. Em alguns casos, inclusões intranucleares grandes podem ser observadas, não devendo ser confundidas com nucléolos, estes últimos geralmente menores e esféricos. O citoplasma das células acometidas é denso, opaco, devido a alterações da estrutura do citoesqueleto e à necrose por coagulação das proteínas. a - Desenho representando a ultraestrutura do herpes-vírus. b - Desenho mostrando as alterações citopáticas do herpes- vírus. A célula maior exibe citomegalia e cariomegalia. Há multinucleação, rarefação da cromatina e inclusões (setas). a; b - Esfregaços cervicovaginais. Na figura A célula multinucleada, com amoldamento nuclear, rarefação da cromatina e marginação periférica da cromatina, conferindo espessamento às bordas nucleares. Em B, células multinucleadas, com amoldamento nuclear, rarefação da cromatina e algumas inclusões (setas). Citologia Inflamatória e Alterações Reativas Alterações Reativas Reparação Mecanismos e fases: Vários tipos de agressão podem resultar na morte celular e perda de tecido (erosão ou ulceração). Os agentes agressores compreendem infecções, irradiação, traumas mecânicos ou térmicos. A reparação é o processo de reconstituição do tecido lesado, em que as células mortas são substituídas por células viáveis. A reparação se dá através de dois mecanismos: • Regeneração - há substituição de células por outras do mesmo tipo, restabelecendo-se a integridade anatômica e funcional do tecido. • Fibrose - quando há maior perda de tecido, ultrapassando a capacidade de regeneração. Neste caso, há um aumento do tecido conjuntivo (fibroblastos e colágeno). Elementos inflamatórios que preenchem inicialmente a área de perda de tecido e o desenvolvimento posterior do tecido de granulação Características citológicas • Nos esfregaços cervicais, o “fundo”, especialmente nas fases iniciais do processo de reparação, pode conter exsudato inflamatório. Contudo, habitualmente não são vistas hemácias lisadas, associadas a câncer invasivo. • As células de reparação epiteliais representam células em regeneração (em multiplicação) e têm boa coesão, aparecendo predominantemente em agrupamentos monoestratificados, algumas vezes amplos, com orientação nuclear na mesma direção (polaridade nuclear conservada). Células de reparação isoladas são raras. Na maioria dos casos, o citoplasma é pálido a basofílico, refletindo a produção de RNA e proteínas. As bordas citoplasmáticas são geralmente indistintas. • Os núcleos são arredondados, sem irregularidades das suas bordas. Apresentam-se aumentados de volume (1 a 2,5 vezes o tamanho do núcleo de uma célula intermediária) e mostram, às vezes, leve variação do tamanho. a - Células de reparação de origem epitelial. Esfregaço cervicovaginal. Agrupamentos monoestratificados de células com citoplasma abundante (seta). b - Células de reparação de origem epitelial. Esfregaço cervicovaginal. As células são coesas, com citoplasma abundante, mal delimitado, núcleos volumosos, às vezes múltiplos, e frequentes nucléolos proeminentes. c - Células de reparação de origem epitelial. Esfregaço cervicovaginal. Há uma figura de mitose (seta) e infiltração neutrofílica (seta vermelha). Células de reparação a - Células de reparação de origem epitelial provavelmente de origem endocervical. Esfregaço cervicovaginal. As células exibem núcleos volumosos, com bordas nucleares lisas, cromatina finamente granular e nucléolos proeminentes. b - Células de reparação de provável origem mesenquimal. Esfregaço cervicovaginal. Essas células são alongadas, com núcleos volumosos exibindo frequente nucléolo. c - Células de reparação de origem mesenquimal. Esfregaço cervicovaginal. Correspondem a fibroblastos reativos comuns no tecido de granulação Células de reparação atípica • Em algumas situações, as células de reparação podem exibir anisocariose mais marcada, cromatina mais grosseira, hipercromasia, nucléolo atípico (em tamanho, número e/ou forma), além de se apresentarem mais frequentemente isoladas ou em conjuntos mais desorganizados. É o que se conhece como reparação atípica e que é incluída na categoria ASC (atipia de células escamosas) no Sistema Bethesda, versão 2001. a;b - Esfregaços cervicovaginais. Agrupamentos de células com citoplasma abundante, núcleos volumosos com variação significativa do tamanho, cromatina granular e nucléolos às vezes múltiplos e de forma anormal. Radioterapia • A irradiação é frequentemente utilizada no tratamento do câncer, sendo particularmente eficaz na destruição do carcinoma escamoso do colo uterino. As alterações celulares submicroscópicas induzidas pela radioterapia incluem: destruição ou lesão do DNA nuclear, inibição da síntese de proteínas e desnaturação/coagulação das proteínas. As células normais também são comprometidas, resultando na sua morte ou em alterações nucleares e citoplasmáticas que podem permanecer durante longos anos. • OBS: O exame do esfregaço cervical é considerado um excelente método no seguimento das pacientes submetidas à radioterapia por câncer de colo. O encontro de células malignas que persistem após o tratamento ou que reaparecem tempos depois possibilita a imediata intervenção clinica e/ou cirúrgica antes mesmo da manifestação de qualquer sintoma. Características citológicas Fase aguda: • Após dois ou seis meses do início da radioterapia, o esfregaço citológico se apresenta mais “limpo”, mas ainda contém restos celulares e inflamação, sendo comum o aparecimento de vários histiócitos, muitos deles multinucleados. • Uma das características mais comuns induzidas pela irradiação é a citomegalia (macrócitos). Essas células exibem aumento concomitante do citoplasma e do núcleo, de modo que não há alteração ou a alteração da relação nucleocitoplasmática é mínima. As células podem assumir uma forma anormal e o citoplasma geralmente mostra uma coloração bifásica (rosa e azul). • Os vacúolos citoplasmáticos são frequentes e podem conter neutrófilos degenerados ou outras células. Há frequentes alterações degenerativas nucleares sob a forma de cromatina de aspecto “borrado”, cromatólise ou vacuolização. Células de reparação também são comuns e apresentam alterações radiógenas concomitantes, como coloração citoplasmática bifásica e multinucleação. Fase Crônica: • São as alterações que persistem seis meses depois da exposição à irradiação. Essas alterações podem permanecer durante anos e às vezes por toda a vida. É comum o encontro de macrócitos, células pleomórficas e células com citoplasma anfofílico ou policromático. A multinucleaçãoe a vacuolização citoplasmática são menos proeminentes. O esfregaço apresenta um padrão atrófico, desaparecendo geralmente a inflamação e as células de reparação. Carcinoma persistente e carcinoma recorrente: • O carcinoma persistente é diagnosticado no esfregaço cervicovaginal, quando células malignas são identificadas no curso do tratamento radioterápico ou imediatamente após o seu término. Indica radiorresistência das células neoplásicas, sendo assim relacionado a um pior prognóstico para a paciente. As células malignas persistentes exibem, além das alterações relacionadas à irradiação, outras que são associadas à malignidade. Assim, aliados ao pleomorfismo e hipercromasia comuns nas células afetadas pela irradiação, há espessamento das bordas nucleares e uma cromatina bem preservada grosseira e irregularmente distribuída. Identifica-se também aumento da relação nucleocitoplasmática. A presença de células queratinizadas, pleomórficas, pode indicar malignidade. O critério mais confiável para estabelecer a viabilidade das células neoplásicas é o encontro de mitoses. Diferenciação entre células irradiadas benignas e malignas persistentes O carcinoma recorrente é representado no esfregaço cervical pela identificação de células malignas, seis meses após o término da radioterapia. Essas células não exibem os efeitos da radioterapia. Alterações associadas à radioterapia. a; b; c; d - Esfregaços cervicovaginais. a, vacuolização citoplasmática. b, pseudocanibalismo. c exibe citomegalia, policromasia e binucleação, enquanto c revela citomegalia, núcleos pleomórficos, com cromatina borrada.