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RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS AULA 2 Profª Francielly Elizabeth de Castro Silva 2 CONVERSA INICIAL Nesta aula, faremos uma recapitulação sobre o diagrama de tensão x deformação e Lei de Hooke. Além disso, você aprenderá sobre o comportamento dos materiais dúcteis e frágeis, o conceito de energia de deformação, coeficiente de Poisson e diagrama tensão-deformação de cisalhamento. Boa parte desses assuntos serão abordados sobre o diagrama de tensão x deformação. Portanto, por meio do diagrama de tensão x deformação, é possível extrair muitas informações sobre o comportamento mecânico do material. TEMA 1 – DIAGRAMA TENSÃO X DEFORMAÇÃO Neste tema, vamos relembrar o assunto visto na disciplina Princípios de Mecânica e Resistência dos Materiais. Para isso, foi importante aprendermos o que é tensão normal e deformação, assuntos vistos em aulas anteriores. A resistência de um material depende de sua capacidade em resistir a uma força sem se deformar excessivamente ou sem se romper. Essa resistência é influenciada pelo tipo de material como: papel, madeira, polímero, alumínio, aço, entre outros materiais. Para entender como um material se comporta, o quanto ele deforma quando aplicamos uma força de tração sobre ele, aplicamos o ensaio de tração. Ou, de forma análoga, para compreender como o material se deforma mediante a aplicação de uma força de compressão, aplicamos o ensaio de compressão. O ensaio de tração/compressão consiste em aplicar uma carga progressiva sobre o material e analisar seu alongamento/encurtamento ou deformação. A carga é aplicada por uma máquina com um transdutor de força acoplado que mede a força aplicada (Figuras 1a e 1b) e a deformação pode ser medida por meio de extensômetros de resistência elétrica denominados Strain Gauge. Esse ensaio é realizado com um corpo de prova de tamanho padronizado (Figura 1c) a fim de caracterizar de forma padronizada os materiais. A Figura 1d mostra o diagrama de tensão-deformação de uma amostra de alumínio, obtido em laboratório, em Curitiba, pelos professores Dr. Marcos Proença e Dra. Francielly Castro. 3 Figura 1 – (a) Modelo representativo de máquina de ensaio de tração/compressão e (b) máquina real de ensaio de tração/ compressão, (c) corpo de prova e (d) diagrama tensão x deformação (a) (b) (c) (d) Fonte: (a) Hibbeler, 2018; (b) Funtay/Shutterstock; (c) Digital signal/Shutterstock; (d) Francielly Elizabeth de Castro Silva. A Figura 1d mostra um diagrama tensão-deformação real onde o eixo da ordenada corresponde à tensão aplicada ao corpo de prova e o eixo da abcissa corresponde à deformação devido à carga aplicada. Este ensaio é feito até o material se romper, assim, o engenheiro conseguirá compreender como o material se comporta mediante o aumento gradual da força. Para fins didáticos, podemos analisar o diagrama de tensão x deformação de um material dúctil apresentado na Figura 2. 4 Figura 2 – Exemplo didático de diagrama de tensão x deformação Fonte: Hibbeler, 2018. Note que há quatro regiões nesse diagrama: região elástica, escoamento, endurecimento por deformação e estricção. Vamos relembrar o que cada região nos fornece de informação sobre o material. • Região elástica – Essa região descreve o comportamento elástico do material. Note que nesse trecho o diagrama é representado por uma reta, logo, há uma proporcionalidade entre a tensão e a deformação, em outras palavras, o material é linearmente elástico. O limite superior de tensão nessa região é denominado tensão limite de proporcionalidade e é representado por 𝜎𝜎𝑙𝑙𝑙𝑙. Nesta região, se a carga for removida, o corpo de prova voltará à sua forma original, por isso, recebe o nome de região elástica. • Escoamento – Essa etapa ocorre logo após a tensão limite de proporcionalidade e é caracterizada por provocar uma deformação no material mantendo a tensão, ou seja, o material continua se deformando sem que haja um aumento da carga. As deformações que ocorrem a partir dessa etapa são do tipo plásticas (permanentes). A tensão que caracteriza esse comportamento é chamada de tensão de escoamento, 𝜎𝜎𝑒𝑒 e é muito empregada nos projetos estruturais, justamente por ser um valor ligeiramente acima da tensão limite de proporcionalidade. Essa tensão é extraída do diagrama, traçando uma reta paralela à linha elástica para uma deformação de 0,2%. Ela é frequentemente disponibilizada nas tabelas que apresentam o comportamento mecânico dos materiais. 5 • Endurecimento por deformação – Após o escoamento, pode-se aumentar a carga, o que resulta em uma curva que cresce continuamente até um certo limite denominado limite de resistência à tração, representado por 𝜎𝜎𝑢𝑢 (última), ou em algumas literaturas 𝜎𝜎𝑚𝑚á𝑥𝑥. Essa tensão pode variar desde aproximadamente 50 MPa para um alumínio até um valor tão elevado quando 30000 MPa para aços de alta resistência. A tensão limite de resistência à tração corresponde à tensão máxima suportada pelo material sob tração. Se essa tensão for aplicada e mantida, ocorrerá ruptura do material. Toda deformação até alcançar a tensão limite de resistência está uniformemente distribuída por toda a região estreita do corpo de prova. • Estricção – A partir do limite de resistência, a área da seção transversal começa a diminuir em uma certa região do corpo de prova e toda deformação subsequente fica confinada nesse pescoço, fenômeno denominado de estricção ou empescoçamento (Figura 3a). Ela é causada por planos deslizantes formados no interior do material, e as deformações reais produzidas são causadas por tensão de cisalhamento. Essa estricção aumenta, logo o corpo de prova é “estrangulado” até seu rompimento (Figura 3b). Nesse ponto de rompimento, é identificada a tensão de ruptura, representada por 𝜎𝜎𝑓𝑓 (final) ou em outras literaturas por 𝜎𝜎𝑟𝑟𝑢𝑢𝑙𝑙. A Figura 3c mostra um corpo de prova com seção retangular estriccionado. Figura 3 – (a) Estricção, (b) rompimento do corpo de prova e (c) (a) (b) 6 (c) Fonte: (a) e (b) Hibbeler, 2018 e (c) Silva, 2021. As três últimas etapas do diagrama demonstram um comportamento plástico, ou seja, após a retirada da força, o material não volta à sua configuração inicial e passa a assumir uma forma deformada “permanente”. A maioria das estruturas é projetada considerando apenas as deformações elásticas, pois uma estrutura que se deformou plasticamente, ou seja, que se deformou permanentemente, pode não ser capaz de funcionar de forma adequada como previsto no projeto. Na Figura 2, dois diagramas estão plotados. O primeiro é denominado diagrama de tensão x deformação de engenharia que termina na tensão de ruptura e o segundo é o diagrama tensão x deformação real que termina na tensão de ruptura real. A diferença entre os dois diagramas é a seguinte: O diagrama tensão x deformação de engenharia considera a área inicial do corpo de prova para o cálculo da tensão. Já o diagrama tensão x deformação real, considera a mudança de área durante todo ensaio, logo, a tensão é calculada de forma mais precisa, pois ao longo do experimento a área diminui até romper o corpo de prova. Apesar dos diagramas de engenharia e real serem diferentes, a maioria das estruturas são projetadas de forma que os materiais trabalhem na região elástica, pois a distorção do material não é severa dentro dessa faixa. Contanto que o material usado no projeto seja “rígido”, como a maioria dos metais, os erros associados entre usar os valores reais e de engenharia são muito baixos, da 7 ordem de 0,1%. Essa é uma das principais razões para a utilização dos diagramas tensão-deformação de engenharia. • Exemplo 1: analise com mais detalhe o diagrama tensão x deformação visto na Figura 2d e identifique suas respectivas regiões etensões. • Solução: as regiões e tensões do diagrama são representadas na seguinte figura: Alguns pontos a serem observados: a tensão de ruptura foi obtida por meio da análise do vídeo, em que há uma queda brusca na força quando a tensão alcançou o valor próximo de 160 MPa. Além disso, a tensão de escoamento é obtida a partir de uma deformação de 0,2%. Porém, como pode ser observado na figura, a rampa que representa o comportamento elástico começa num valor percentual de deformação de aproximadamente 0,5%. Por isso, não foi possível determinar esse valor nesse ensaio. Mais ensaios deveriam ser realizados a fim de caracterizar esse material. TEMA 2 – COMPORTAMENTO DE MATERIAIS DÚCTEIS E FRÁGEIS Os materiais podem ser classificados como dúcteis ou frágeis dependendo de como ele se deforma perante a aplicação de uma tensão. • Materiais dúcteis: os materiais que sofrem grandes deformações antes do rompimento são chamados de dúcteis. Um exemplo de material dúctil é o aço doce (Figura 4), que tem um baixo teor de carbono e não possui 8 elementos de liga em sua composição. Esse material não possui dureza elevada. Figura 4 – Diagrama tensão x deformação do aço doce Fonte: Hibbeler, 2018. É muito comum optar-se por materiais dúcteis em projetos estruturais, pois são capazes de absorver energia ou choque e, se forem sobrecarregados, apresentarão, em geral, grande deformação antes do rompimento. A Figura 5 mostra uma amostra de aço de baixo carbono após o rompimento. Observe que na região que foi rompida há uma estricção (afunilamento) da amostra, característica peculiar dos materiais dúcteis. Figura 5 – Amostra de aço de baixo carbono rompida Crédito: Thaweesak Thipphamon/ Shutterstock. Uma forma de especificar a ductilidade de um material é calcular a deformação longitudinal na ruptura, ou seja: 𝜀𝜀𝑙𝑙𝑟𝑟𝑟𝑟𝑟𝑟 = 𝐿𝐿𝑟𝑟𝑢𝑢𝑙𝑙 − 𝐿𝐿𝑖𝑖 𝐿𝐿𝑖𝑖 (100 %) (1) 9 em que 𝐿𝐿𝑟𝑟𝑢𝑢𝑙𝑙 corresponde ao comprimento do corpo de prova na iminência do rompimento e 𝐿𝐿𝑖𝑖 é o comprimento inicial do corpo de prova. Para o aço doce, esse valor é de aproximadamente 38%. Uma outra forma é por meio da porcentagem de redução de área. É definida dentro da região de estrição da seguinte forma: 𝜀𝜀𝑡𝑡𝑟𝑟𝑟𝑟𝑟𝑟 = 𝐴𝐴𝑖𝑖−𝐴𝐴𝑟𝑟𝑟𝑟𝑟𝑟 𝐴𝐴𝑖𝑖 (100 %) (2) em que 𝐴𝐴𝑟𝑟𝑢𝑢𝑙𝑙 corresponde à área da seção transversal do corpo de prova rompida e 𝐴𝐴𝑖𝑖 é a área inicial do corpo de prova. Para o aço doce, esse valor é de aproximadamente 60%. Outros materiais, como latão, molibdênio e zinco também podem exibir características semelhantes às do aço doce. Analisando a Figura 4, observe que as quatro regiões estão bem definidas no diagrama. Entretanto, na maioria dos metais, não ocorrerá a região do escoamento além da faixa elástica, como o ponto de escoamento bem definido. Nesse tipo de caso, utiliza-se o método da deformação residual, aplicando uma reta a 0,2% de deformação, como mencionado no tema anterior. O limite de escoamento não é uma propriedade física do material, visto que é uma tensão que causa uma deformação específica permanente no material, todavia, é muito comum considerar que a tensão de escoamento coincide com a tensão limite de proporcionalidade para fins de projeto, a menos que seja provado o contrário. Uma exceção é a borracha que não tem nem sequer uma tensão limite de proporcionalidade, pois o diagrama tensão x deformação não tem uma linear. As borrachas são materiais específicos que variam não somente com a carga aplicada, mas com a velocidade de aplicação da carga (frequência) e com a temperatura, ou seja, dependendo da frequência e temperatura, o material pode apresentar um comportamento mais rígido ou mais flexível. A Figura 6 mostra o diagrama tensão x deformação da borracha natural para uma temperatura e frequência fixa. Observe que esse tipo de material possui um comportamento elástico não linear, ou seja, não existe aquela região linear em que podemos extrair a tensão e deformação limite de proporcionalidade. 10 Figura 6 – Diagrama tensão x deformação da borracha natural Fonte: Hibbeler, 2018. A Figura 7 mostra o nomograma (gráfico que representa as propriedades desejadas do material) de dois materiais viscoelásticos considerando várias temperaturas e frequências. Figura 7 – Nomogramas com as propriedades mecânicas (a) da borracha natural e (b) do Neoprene (a) (b) Fonte: Silva, 2019. Esses materiais são muito utilizados no controle de vibração, pois possuem um elevado amortecimento que podemos associá-lo ao fator de perda, 𝜂𝜂. Observe na Figura 6a que para temperaturas de 243 K (0° C) seu fator de perda (amortecimento) é mais elevado. Observe os valores para uma frequência fixa de 40 Hz. Já na Figura 6b, para a mesma frequência, a temperatura que promove um maior amortecimento é a de 273 K (30° C). Obseve também que para essa frequência e suas respectivas temperaturas de maior amortecimento, 11 o módulo de cisalhamento (falaremos sobre esse parâmetro no Tema 5 desta aula) é menor, isso significa que a borracha é menos rígida nessas circunstâncias. • Materiais frágeis: materiais que apresentam pouco ou nenhum escoamento antes da falha são denominados frágeis. Para William e Callister (2008), os materiais frágeis, de uma maneira aproximada, possuem uma deformação de fratura inferior a 5%. Um exemplo é o ferro fundido cinzento que tem seu diagrama tensão x deformação representado na Figura 8. Pelo diagrama, observa-se a tensão de ruptura devido à tração em 152 MPa. Essa ruptura ocorreu devido a uma trinca microscópica que se propagou rapidamente devido à tensão aplicada até a ruptura. Como o aparecimento de trincas iniciais ocorre de forma aleatória, materiais frágeis não têm uma tensão de ruptura sob tração bem definida. Por isso, em vez de considerar a tensão de ruptura propriamente dita, é comum considerar uma tensão de ruptura média obtida por um conjunto de ensaios com amostras de tal material. Figura 8 – Diagrama tensão x deformação do ferro fundido cinzento Fonte: Hibbeler, 2018. Observe na Figura 9a que os materiais frágeis produzem um rompimento repentino, com deformações quase que imperceptíveis. Eles não apresentam 12 nenhum ou quase nenhum afunilamento da amostra no ensaio de tração. É o que acontece quando quebramos um giz, por exemplo (Figura 9b). Figura 9 – Ruptura (a) de corpo de prova de concreto e (b) de um giz (a) (b) Crédito: Nordroden/Shutterstock; lastbackup/Shutterstock. Os materiais frágeis possuem uma resistência muito maior quanto à compressão axial. É possível observar isso no diagrama tensão x deformação do ferro fundido cinzento, mostrado na Figura 8. Veja que as maiores tensões ocorrem no trecho AC. Como nesse trecho o corpo de prova está sujeito a uma força compressiva, qualquer trinca ou imperfeição no material tende a se fechar à medida que a carga é ampliada. A tendência é que o material tenha um abaulamento, ou tome a forma de um barrir, como mostra a Figura 10. Figura 10 – Corpo de prova sob compressão com abaulamento lateral Fonte: Hibbeler, 2018. O concreto também é classificado como um material frágil. As características do concreto no diagrama tensão x deformação dependem da mistura entre água, areia, brita e cimento e do tempo e temperatura de cura. Um 13 exemplo típico de diagrama é apresentado na Figura 11. Observe que a máxima resistência à compressão 𝜎𝜎𝑚𝑚á𝑥𝑥𝑐𝑐 = 34,5 𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀 é quase 12,5 vezes maior que a resistência máxima à compressão 𝜎𝜎𝑚𝑚á𝑥𝑥𝑡𝑡 = 2,76 𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀. Por isso, o concreto é quase sempre reforçado com barras de aço, a fim de melhorar sua resistência quanto à tração. Figura 11 – Diagramatensão x deformação de um concreto convencional Fonte: Hibbeler, 2018. A maioria dos materiais podem ter um comportamento dúctil e frágil, vai depender de algumas características particulares daquele material. Se o aço, por exemplo, for fabricado com um teor baixo de carbono, certamente será um material mais dúctil, porém, à medida que é adicionado mais carbono ao material, ele passa a exercer um comportamento frágil. Além disso, em temperaturas baixas, os materiais se tornam mais frágeis e, em temperaturas mais elevadas, tornam-se mais dúcteis. Esse efeito é mostrado na Figura 12 para um plástico metacrilato. Lembre-se desse efeito para as borrachas como mostrado nos nomogramas da Figura 7. 14 Figura 12 – Diagrama tensão x deformação de um plástico metacrilato para diferentes temperaturas Fonte: Hibbeler, 2018. A Figura 13 mostra um típico diagrama de tensão x deformação de um material dúctil e frágil e a Tabela 1 apresenta um comparativo entre esses dois tipos de materiais. Figura 13 – Diagrama tensão x deformação de um material dúctil e frágil Fonte: Callister; Retwisch, 2018. Tabela 1 – Características dos materiais dúcteis e frágeis Material dúctil Material frágil Grandes deformações antes do rompimento Pequenas deformações antes do rompimento Em geral: 𝜎𝜎𝑒𝑒 ≠ 𝜎𝜎𝑢𝑢 ≠ 𝜎𝜎𝑓𝑓 Em geral: 𝜎𝜎𝑒𝑒 = 𝜎𝜎𝑢𝑢 = 𝜎𝜎𝑓𝑓 Possui estricção Não possui estricção 15 Uma das desvantagens em se trabalhar com materiais frágeis é a manutenção de peças, pois como esses materiais não se deformam muito e nem possuem estricção é difícil para o manutentor identificar se a peça precisa ser trocada. Na maioria dos casos, a peça se rompe de forma repentina. Neste Tema, focamos em caraterísticas específicas de um material. No próximo, trabalharemos com outras informações importantes que descrevem o comportamento do material, como a lei de Hooke, energia de deformação, módulo de resiliência e módulo de tenacidade. TEMA 3 – LEI DE HOOKE E ENERGIA DE DEFORMAÇÃO No Tema 1 desta aula, falamos sobre o diagrama de tensão x deformação e sobre as informações que podemos extrair dele. A maioria das estruturas é projetada a fim de sofrer apenas deformações elásticas quando submetida a determinado carregamento. Uma estrutura ou componente deformado plasticamente, ou seja, que apresentou deformações permanentes devido ao carregamento aplicado, pode não satisfazer mais os requisitos de projeto. Torna- se, então, necessário conhecer o nível de tensão no qual a deformação plástica tem seu início, ou seja, onde ocorre o escoamento do material. Para os materiais que apresentam uma transição entre as deformações elásticas para as plásticas de forma gradual, como vimos no diagrama do alumínio (Figura 1d), o ponto de escoamento pode ser obtido través do ponto onde se inicia o afastamento da linearidade da curva, ou seja, a partir da tensão limite de proporcionalidade, 𝜎𝜎𝑙𝑙𝑙𝑙. Esse ponto é representado por P na Figura 14. Veja que o início da tensão de escoamento não pode ser determinado com precisão, por isso, foi estabelecida uma convenção traçando uma reta paralela, a do comportamento linear começando em uma deformação de 0,002 ou 0,2%. 16 Figura 14 – Comportamento típico de um metal, mostrando as deformações elásticas e plásticas, o limite de proporcionalidade P e o limite de escoamento Fonte: Callister; Retwisch, 2018. Neste tema, vamos abordar somente a região elástica do diagrama, ou seja, a região representada pelo comportamento linear (reta) até o ponto P da Figura 13. Veja também a Figura 2 para relembrar que região é essa. Essa região é delimitada entre o início da aplicação da carga até a tensão limite de proporcionalidade, 𝜎𝜎𝑙𝑙𝑙𝑙. Como o comportamento dentro dessa região é linear, significa que há uma proporcionalidade entre a carga/tensão aplicada e deformação. Isso foi observado por Robert Hook em 1676 usando molas, por isso, essa relação é chamada Lei de Hook e é definida por: 𝜎𝜎 = 𝐸𝐸𝜀𝜀 (1) em que 𝐸𝐸 corresponde ao módulo de elasticidade ou módulo de Young, cujo nome remete a Thomas Young, que publicou um trabalho sobre esse parâmetro em 1807. A inclinação da região elástica corresponde ao módulo de elasticidade, que é um dos parâmetros que influenciam na rigidez do material, ou seja, quanto maior for o módulo de elasticidade, maior será a inclinação da reta e, consequentemente, maior é a rigidez do material. A Figura 15 mostra uma ilustração desse parâmetro na região elástica de um diagrama tensão x deformação. 17 Figura 15 – Módulo de elasticidade no diagrama tensão x deformação Fonte: Callister; Retwisch, 2018. Neste contexto, vamos falar um pouquinho sobre os aços. Estes são materiais compostos por uma liga formada essencialmente por ferro e carbono. À medida que se aumenta a quantidade de carbono da liga, o material fica mais duro e sua tensão limite de resistência (ou tensão máxima) fica mais elevada. Porém, repare na Figura 16 que a inclinação dos diagramas de diferentes aços, com diferentes teores de carbono, permanece praticamente a mesma, ou seja, o módulo de elasticidade é aproximadamente o mesmo. Figura 16 – Diagramas parciais de diferentes tipos de aço com diferentes quantidades de carbono em sua liga Fonte: Hibbeler, 2018. 18 • Exemplo 2: ENADE 2019 Engenharia Civil – Na análise dos diagramas de tensão x deformação para três novos materiais (A, B e C), observou- se que os três apresentaram valores de módulo de deformação longitudinal similares. Considerando essas informações, assinale a opção em que as curvas de tensão x deformação melhor representam os três materiais (A, B e C). Fonte: ENADE Engenharia Civil, 2019. • Solução: módulo de deformação normal refere-se ao módulo de elasticidade. Portanto, o que temos que avaliar nesta questão é: qual dos diagramas apresenta o mesmo módulo de elasticidade para os três materiais, ou seja, a mesma inclinação (mesmo ângulo de inclinação) da reta que descreve a região elástica. A figura da alternativa (A) apresenta um diagrama com essa característica, em que os três materiais (A, B e C) estão sobrepostos com a mesma inclinação na região elástica, caracterizando o mesmo módulo de elasticidade ou módulo de deformação normal. Portanto, a alternativa A está correta. • Exemplo 3: ENADE 2017 Engenharia de Civil, Mecânica e de Produção – A Figura a seguir representa o diagrama de tensão 𝜎𝜎 versus deformação 𝜀𝜀 para diferentes materiais poliméricos. 19 Fonte: ENADE Engenharia, 2017. Assinale a opção que apresenta, respectivamente, o módulo de elasticidade e o nível de deformação de uma das curvas do diagrama apresentado. (A) Curva I – alto e grande (B) Curva II – baixo e grande (C) Curva III – baixo e pequeno (D) Curva IV – alto e grande (E) Curva V – baixo e pequeno • Solução: para responder a essa questão, vamos analisar cada curva do diagrama individualmente: Curva I – Observe que essa curva é bem inclinada na região elástica o que indica um módulo de elasticidade elevado, porém, sua deformação é pequena. É o comportamento típico de um material frágil que veremos no próximo tema. Portanto, a afirmação da alternativa A está incorreta, pois o material se deforma pouco. Curva II – A curva II também é bem inclinada na região elástica, o que indica um módulo de elasticidade elevado, porém, sua deformação é grande até o rompimento (a maior de todas as curvas). Portanto, a afirmação da alternativa B está incorreta, pois o material possui um módulo de elasticidade grande. Curva III – A curva III possui uma inclinação que podemos dizer que é pequena na região elástica, resultando em um módulo de elasticidade pequeno, contudo, sua deformação é grandeaté o rompimento. Portanto, a afirmação da alternativa C está incorreta, pois o material se deforma muito. 20 Curva IV – Observe que essa curva IV possui uma inclinação pequena da região elástica, resultando em um módulo de elasticidade pequeno e apresenta uma deformação relativamente grande até o rompimento. Portanto, a afirmação da alternativa D está incorreta, pois o módulo de elasticidade é um valor pequeno. Curva V – Na curva V, a inclinação da região elástica é pequena (a menor de todos os diagramas), resultando em um módulo de elasticidade pequeno e a deformação também é pequena até o rompimento, sendo praticamente o mesmo valor da Curva I. Portanto, a afirmação da alternativa E está correta, pois o módulo de elasticidade e o nível de deformação assumem um valor pequeno. • Exemplo 3: ENADE 2017 Engenharia de Civil – Em um ensaio de tração uniaxial de uma barra prismática de seção transversal constante, a barra é fixada à prensa por uma de suas extremidades, enquanto, na oposta, aplica-se uma força de tração concentrada, cujo valor aumenta lentamente de zero até o valor final na ruptura. A referida barra é feita de material isotrópico, homogêneo e o ensaio parte de tensão e deformação nulas. Sendo o material da barra o aço – material elastoplástico perfeito – obtém- se do ensaio uma curva tensão versus deformação que é descrita, no projeto de estruturas de concreto armado, por uma reta inclinada que descreve o regime elástico, seguindo-se uma reta horizontal, que descreve o regime plástico. Com base nessas informações, avalie as afirmações a seguir. I. Se o módulo de elasticidade for conhecido, para se determinar a tensão atuante na barra nos regimes elástico e plástico, basta multiplicar a deformação específica longitudinal medida no ensaio pelo módulo de elasticidade. II. Duas barras do mesmo material, uma com o dobro do diâmetro da outra, apresentarão tensões diferentes para o mesmo nível de força, sendo a tensão na barra de maior diâmetro igual a 25% da tensão na barra de menor diâmetro. III. Para uma força qualquer, a deformação específica longitudinal elástica do aço é obtida dividindo-se o alongamento correspondente a essa força pelo comprimento inicial da barra, sendo a força menor ou igual à força na qual se inicia a plastificação. É correto o que se afirmar em 21 (A) I, apenas. (B) II, apenas. (C) I e III, apenas. (D) II e III, apenas. (E) I, II e III. • Solução: vamos analisar cada informação para resolver este exemplo: I. A Equação 1 que relaciona a tensão com a deformação é válida somente para a região elástica. Como o texto fala que o regime plástico é descrito uma reta horizontal, logo, podemos entender que a tensão permanece a mesma, mas o material continua se deformando (algo parecido com a região do escoamento visto na Figura 1), portanto, a relação dada pela lei de Hooke não pode ser aplica. II. Para entender esta questão é necessário desenvolver um pequeno cálculo. A tensão para a barra de diâmetro menor e maior, é descrita, respectivamente, por meio da seguinte equação: 𝜎𝜎1 = 𝐹𝐹 𝐴𝐴1 = 4𝐹𝐹 𝜋𝜋𝑑𝑑2 𝜎𝜎2 = 𝐹𝐹 𝐴𝐴2 = 4𝐹𝐹 𝜋𝜋(2𝑑𝑑)² Isolando a força 𝐹𝐹 das equações acima, temos: 𝐹𝐹 = 𝜎𝜎1𝜋𝜋𝑑𝑑² 4 (Eq 1a) 𝐹𝐹 = 𝜎𝜎2𝜋𝜋(2𝑑𝑑)² 4 (Eq 2a) Igualando as equações 1a e 1b, ficamos com: 𝜎𝜎1𝜋𝜋𝑑𝑑² 4 = 𝜎𝜎2𝜋𝜋(2𝑑𝑑)² 4 Ou ainda 𝜎𝜎1𝑑𝑑² = 𝜎𝜎24𝑑𝑑² Podemos simplificar os 𝑑𝑑² ficando com 𝜎𝜎1 = 4𝜎𝜎2, ou seja, a tensão na barra de diâmetro menor é quatro vezes maior que a tensão na barra de diâmetro 22 maior, ou, ainda, 𝜎𝜎2 = 𝜎𝜎1/4 ou 𝜎𝜎2 = 0,25𝜎𝜎1, que significa que a tensão na barra de diâmetro maior é quatro vezes menor que a tensão na barra de diâmetro menor. Portanto, a segunda afirmação está correta. Em aulas anteriores, falamos sobre deformação normal média. A equação nos mostrou que a deformação longitudinal de um corpo é dada por: 𝜀𝜀𝑙𝑙 = 𝐿𝐿𝑓𝑓 − 𝐿𝐿𝑖𝑖 𝐿𝐿𝑖𝑖 ou 𝜀𝜀𝑙𝑙 = 𝛿𝛿 𝐿𝐿𝑖𝑖 em que 𝛿𝛿 corresponde ao alongamento do corpo quando submetido à uma força de tração. Essa equação é válida para qualquer região do diagrama tensão x deformação, ou seja, vale para região elástica e plástica. Portanto, a terceira afirmação também está correta. Analisando as alternativas apresentadas, concluímos que a alternativa D é a correta. 3.1 Diagrama de tensão x deformação real Na Figura 2, dois diagramas estão plotados. O primeiro é chamado diagrama de tensão x deformação de engenharia que termina na tensão de ruptura, e o segundo é o diagrama tensão x deformação real, que termina na tensão de ruptura real. A diferença entre os dois diagramas é a seguinte: o diagrama tensão x deformação de engenharia considera a área inicial do corpo de prova para o cálculo da tensão, aplicando a Equação 1. Já o diagrama tensão x deformação real considera a mudança de área durante todo o ensaio, logo, a tensão é calculada de forma mais precisa, pois ao longo do experimento a área diminui até romper o corpo de prova. Apesar dos diagramas de engenharia e real serem diferentes, a maioria das estruturas são projetadas de forma que os materiais trabalhem na região elástica, pois a distorção do material não é severa dentro dessa faixa. Contanto que o material usado no projeto seja “rígido”, como a maioria dos metais, os erros associados entre usar os valores reais e de engenharia são muito baixos, da ordem de 0,1%. Essa é uma das principais razões para a utilização dos diagramas tensão-deformação de engenharia. 23 3.2 Recuperação elástica após deformação plástica Um ponto importante para refletirmos agora é com relação às deformações plásticas que ocorrem no material/estrutura. Reflita sobre a seguinte situação: Imagine que você está entortando (flexionando) uma barra metálica como mostra a Figura 17: Figura 17 – Pessoa aplicando uma determinada força para deformar uma barra metálica Crédito: Pavlo Lys/Shutterstock. Pense que a força que você está aplicando é suficientemente grande para provocar deformações plásticas nessa barra. A pergunta a ser feita aqui é: ao parar de aplicar essa força sobre a barra, ela ficará deformada na mesma posição de quando estava aplicando a carga ou ela retornará um pouco ao seu estado inicial? Você pode fazer o teste e, assim, observará que o material acaba retornando um pouquinho à sua configuração original, em outras palavras, o material recupera um pouco a deformação. Esse comportamento é mostrado na Figura 18a por meio de um diagrama de tensão x deformação esquemático. 24 Figura 18 – Diagrama esquemático de tensão-deformação (a), mostrando o fenômeno de recuperação da deformação elástica e (b) mostrando o efeito de encruamento ou endurecimento por deformação (a) (b) Fonte: Hibbeler, 2018. Neste diagrama, a tensão aplicada supera a tensão limite de proporcionalidade, ponto A, indo até o ponto A’, logo, há deformações plásticas presentes. Durante o ciclo de descarregamento, é como se a curva percorresse uma trajetória aproximadamente linear a partir do ponto de descarregamento, A’, onde sua inclinação é praticamente idêntica à do módulo de elasticidade, ou seja, é paralela à porção elástica, inicial da curva. A magnitude dessa deformação elástica, que é recuperada durante o descarregamento, corresponde à da deformação recuperada (recuperação elástica). Mediante o raciocínio descrito no parágrafo anterior, pergunto a você: E se reaplicarmos novamente uma carga sobre esse material, será que ele vai apresentar a mesma tensão limite de proporcionalidade em relação à sua configuração original? Pensando na barra da Figura 17, será que se você resolver aplicar mais uma força sobre ela a fimde entortá-la ainda mais, essa força terá de ser maior ou menor em relação à que você fez incialmente na configuração original dela? Certamente, a força terá de ser maior, isso ocorre porque, devido às deformações plásticas que o material sofreu, sua tensão limite de proporcionalidade aumentou. Pensando no diagrama esquemático da Figura 18b, veja que agora a tensão mínima para começar a provocar uma deformação plástica passou a ser a tensão do ponto A’. Esse fenômeno é chamado de 25 encruamento ou endurecimento por deformação. Embora a tensão limite de proporcionalidade passa a assumir um novo valor no ponto A’, em consequência do endurecimento por deformação o material, apresentará uma menor ductilidade, ou seja, uma região plástica menor que a do seu estado inicial. É como se o diagrama tensão x deformação fosse “encurtado” para o material que já sofreu deformações plásticas. 3.3 Energia de deformação Quando aplicamos uma força a um material e ele é deformado, essa carga vai realizar um trabalho externo que produzirá uma energia interna nesse material. Essa energia está associada às deformações do material e, por isso, é chamada de energia de deformação. Na engenharia, é conveniente formular a energia de deformação por unidade de volume, denominada densidade de energia de deformação. Matematicamente, podemos determiná-la por meio da seguinte equação: 𝑢𝑢 = 1 2 𝜎𝜎𝜀𝜀 (2) Se o material for linear elástico, então podemos aplicar a Lei de Hooke à equação acima, em que 𝜎𝜎 = 𝐸𝐸𝜀𝜀 ou ainda 𝜀𝜀 = 𝜎𝜎/𝐸𝐸. Portanto, a Equação 2 pode ser reescrita da seguinte forma: 𝑢𝑢 = 1 2 𝜎𝜎 𝜎𝜎 𝐸𝐸 = 1 2 𝜎𝜎² 𝐸𝐸 (3) Com essa informação, podemos descrever o conceito de módulo de resiliência, que é a densidade de energia de deformação dentro da região elástica, isto é, 𝑢𝑢𝑟𝑟 = 1 2 𝜎𝜎𝑙𝑙𝑙𝑙𝜀𝜀𝑙𝑙𝑙𝑙 = 1 2 𝜎𝜎𝑙𝑙𝑙𝑙² 𝐸𝐸 (4) em que 𝜎𝜎𝑙𝑙𝑙𝑙 e 𝜀𝜀𝑙𝑙𝑙𝑙 correspondem, respectivamente, a tensão e deformação limite de proporcionalidade. Graficamente, o módulo de resiliência corresponde à área da parte elástica abaixo do diagrama de tensão x deformação. Observe, na Figura 19, que essa área é representada por um triângulo. Sabemos que a área de um 26 triângulo é base vezes altura divididos por 2, isso justifica a equação acima onde a base corresponde à deformação limite de proporcionalidade, e a altura é a tensão limite de proporcionalidade. Figura 19 – Representação esquemática do módulo de resiliência determinado a partir do diagrama tensão x deformação de um material Fonte: Hibbeler, 2018. Neste contexto de densidade de energia de deformação, definimos o módulo de tenacidade que corresponde à área total abaixo do diagrama tensão x deformação (Figura 20). Figura 20 – Representação esquemática do módulo de tenacidade determinado a partir do diagrama tensão x deformação de um material Fonte: Hibbeler, 2018. O módulo de tenacidade, 𝑢𝑢𝑡𝑡, indica a densidade energia de deformação total que o material pode absorver até sua ruptura. Essa informação é importante no projeto de elementos estruturais que possam ser sobrecarregados 27 acidentalmente. Pelo uso de ligas metálicas, o projetista pode mudar a resiliência e tenacidade do material. Por exemplo, na Figura 21, podemos observar os diagramas tensão x deformação de aços com certas quantidades de carbono em sua composição. Observe que, quanto maior a quantidade de carbono, a região elástica é aumentada, logo, o módulo de resiliência também é aumentado. Note também que a área debaixo de cada diagrama também é alterada à medida que se adiciona mais carbono ao aço, portanto, há diferença na tenacidade de cada material. Figura 21 – Diagrama de tensão-deformação de diferentes aços Fonte: Hibbeler, 2018. • Exemplo 4: o diagrama tensão x deformação para uma liga de alumínio utilizada na fabricação de aeronaves é mostrado na Figura 21. Se um corpo de prova desse material estiver sujeito à tensão de 𝜎𝜎 = 600 𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀, determine o módulo de resiliência antes e depois da aplicação da carga. Fonte: Hibbeler, 2018 28 • Solução: Como a tensão limite de proporcionalidade e sua respectiva deformação foram fornecidas no enunciado, podemos determinar o módulo elasticidade aplicando a Lei de Hooke (Equação 1), assim temos: 𝐸𝐸 = 450. 106 0,006 , consequentemente, 𝐸𝐸 = 75. 109 𝑀𝑀𝑀𝑀 ou 𝐸𝐸 = 75 𝐺𝐺𝑀𝑀𝑀𝑀. Para determinar o módulo de resiliência inicial antes da aplicação da carga, vamos aplicar a Equação 4 olhando as informações do diagrama apresentado. Assim temos: 𝑢𝑢𝑟𝑟𝑖𝑖 = 1 2 𝜎𝜎𝑙𝑙𝑙𝑙𝜀𝜀𝑙𝑙𝑙𝑙 = 1 2 450. 106. 0,006 𝑢𝑢𝑟𝑟𝑖𝑖 = 1,35. 10 6 𝐽𝐽 𝑚𝑚³ O módulo de resiliência final após a aplicação da carga é obtido aplicando a mesma equação, porém considerando uma tensão de 600 MPa que é o novo limite de proporcionalidade devido às deformações plásticas do material. Vamos aplicar a segunda forma da Equação 4 para obter esse parâmetro, logo: 𝑢𝑢𝑟𝑟𝑓𝑓 = 1 2 𝜎𝜎𝑙𝑙𝑙𝑙² 𝐸𝐸 = 1 2 (600. 106)² 75. 109 = 1 2 3,6. 1017 75. 109 = 1 2 4,80. 106 𝑢𝑢𝑟𝑟𝑓𝑓 = 2,40. 10 6 𝐽𝐽 𝑚𝑚³ TEMA 4 – COEFICIENTE DE POISSON E DIAGRAMA TENSÃO-DEFORMAÇÃO DE CISALHAMENTO Quando aplicamos uma força de tração a um corpo, este se deformará na direção do seu eixo e na direção do seu raio como mostra a Figura 22b. Figura 22 – Barra (a) indeformada e (b) deformada Fonte: Silva, 2021. 29 em que: 𝐿𝐿𝑖𝑖 que corresponde ao comprimento inicial do corpo, 𝐹𝐹 é a força aplicada ao corpo, 𝐿𝐿𝑓𝑓 é o comprimento final do corpo após aplicação da força, 𝛿𝛿 é o deslocamento ou alongamento do corpo após aplicação da força, 𝐷𝐷𝑖𝑖 é o diâmetro inicial do corpo e 𝐷𝐷𝑓𝑓 é o diâmetro final do corpo. Como a força aplicada ao eixo da Figura 22 é uma força de tração, logo, ele é alongado na direção do seu comprimento e contraído na direção da sua seção transversal, ou seja, do seu raio. Em aulas anteriores, vimos que a deformação ao longo do comprimento é chamada deformação longitudinal e que a deformação ao longo da seção transversal é chamada de deformação transversal. Essas deformações são definidas, respectivamente, por: 𝜀𝜀𝑙𝑙 = 𝐿𝐿𝑓𝑓 − 𝐿𝐿𝑖𝑖 𝐿𝐿𝑖𝑖 ou 𝜀𝜀𝑙𝑙 = 𝛿𝛿 𝐿𝐿𝑖𝑖 e (5) 𝜀𝜀𝑡𝑡 = 𝐷𝐷𝑓𝑓 − 𝐷𝐷𝑖𝑖 𝐷𝐷𝑖𝑖 ou 𝜀𝜀𝑡𝑡 = 𝛿𝛿′ 𝐷𝐷𝑖𝑖 , (6) em que 𝛿𝛿 corresponde ao alongamento ou encurtamento do corpo e 𝛿𝛿′ à contração ou expansão da seção transversal do corpo. No início do século XIX, o cientista francês S. D. Poisson observou que dentro da região elástica existe uma relação constante entre essas duas deformações, visto que 𝛿𝛿 e 𝛿𝛿′ são proporcionais à mesma força aplicada. Essa constante recebeu nome de Coeficiente de Poisson e é representada pela letra grega nu, 𝜈𝜈, e definido como: 𝜈𝜈 = − 𝜀𝜀𝑡𝑡 𝜀𝜀𝑙𝑙 (7) O sinal negativo é devido a uma das deformações serem negativas, por exemplo, para uma força de tração ocorre um alongamento do corpo (deformação positiva) e uma contração da seção transversal (deformação negativa). Para uma força de compressão sobre o corpo, ocorre um encurtamento do comprimento do corpo (deformação negativa) e uma expansão da seção transversal (deformação positiva). O Coeficiente de Poisson é um parâmetro adimensional. Seu valor máximo é de 0,5 e mínimo de 0, assim temos que 0 ≤ 𝜈𝜈 ≤ 0,5. Para a maioria dos sólidos não porosos, o Coeficiente de Poisson está entre 0,25 e 0,355. 30 • Exemplo 5: a barra de aço A-36 mostradana figura está submetida a uma força axial 𝑀𝑀 = 80 𝑘𝑘𝑘𝑘. Determine a mudança em seu comprimento (alongamento) e nas dimensões da área de sua seção transversal (altura e largura da barra), sabendo que o material se comporta elasticamente. Fonte: Hibbeler, 2018. • Solução: o primeiro passo é calcular a tensão que está ocorrendo neste material. Para isto, vamos aplicar a equação vista anteriormente, em que a área da seção transversal da barra é definida pela base do retângulo que equivale a 100 mm (ou 0,1 m) e a altura de 50 mm (ou 0,05 m): 𝜎𝜎 = 𝑁𝑁 𝐴𝐴 = 80.10³ (0,1.0,05) → 𝜎𝜎 = 16 𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀. Para desenvolvermos esse exemplo, precisamos conhecer alguns parâmetros do aço A-36. No final do nosso livro-texto, é apresentada uma tabela com alguns parâmetros importantes de alguns materiais de engenharia. Podemos visualizá-la na Figura 23. Como o material do exemplo em tela é o aço A-36, temos que 𝐸𝐸 = 200 𝐺𝐺𝑀𝑀𝑀𝑀, 𝜎𝜎𝑒𝑒 = 250 𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀 e 𝜈𝜈 = 0,32. Como é afirmado no enunciado que o material se comporta elasticamente, sabemos que essa tensão está abaixo da tensão limite de proporcionalidade (𝜎𝜎𝑙𝑙𝑙𝑙 ≅ 𝜎𝜎𝑒𝑒 = 250 𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀), logo, podemos aplicar a Lei de Hooke (Equação 1) para obter a deformação longitudinal desse corpo: 𝜀𝜀𝑙𝑙 = 𝜎𝜎 𝐸𝐸 = 16. 106 200. 109 → 𝜀𝜀𝑙𝑙 = 8. 10−5 𝑚𝑚𝑚𝑚/𝑚𝑚𝑚𝑚 31 Figura 23 – Propriedades mecânicas de materiais típicos de engenharia Fonte: Hibbeler, 2018. Com a deformação longitudinal, podemos aplicar as Equação 5 para obter o alongamento do corpo analisado, logo: 𝛿𝛿 = 𝜀𝜀𝑙𝑙𝐿𝐿𝑖𝑖 = 8. 10−5. 1,5 → 𝛿𝛿 = 1,2. 10−4 𝑚𝑚 ou 𝛿𝛿 = 0,12 𝑚𝑚𝑚𝑚 Aplicando a Equação 7 vista neste tema, podemos descobrir a respectiva deformação transversal para 𝜈𝜈 = 0,32, assim temos que: 𝜀𝜀𝑡𝑡 = −𝜈𝜈𝜀𝜀𝑙𝑙 = −0,32.8. 10−5 → 𝜀𝜀𝑡𝑡 = −2,56. 10−5 Com a deformação transversal, podemos aplicar a Equação 6 para obter a contração da base , 𝑏𝑏𝑖𝑖 = 100 𝑚𝑚𝑚𝑚, e da altura, ℎ𝑖𝑖 = 50 𝑚𝑚𝑚𝑚, da seção transversal do corpo analisado: 𝛿𝛿′𝑏𝑏 = 𝜀𝜀𝑡𝑡𝑏𝑏𝑖𝑖 = −2,56. 10−5. 100 → 𝛿𝛿′𝑏𝑏 = −2,56. 10−3 𝑚𝑚𝑚𝑚 ou 𝛿𝛿′𝑏𝑏 = −2,56 𝜇𝜇𝑚𝑚 𝛿𝛿′ℎ = 𝜀𝜀𝑡𝑡ℎ𝑖𝑖 = −2,56. 10−5. 50 → 𝛿𝛿′ℎ = −1,28. 10−3 𝑚𝑚𝑚𝑚 ou 𝛿𝛿′ℎ = −1,28 𝜇𝜇𝑚𝑚 32 4.1 Diagrama tensão x deformação de cisalhamento No primeiro tema desta aula, falamos sobre diagrama de tensão x deformação obtido por meio de um ensaio de tração. Mas existe também o diagrama de tensão x deformação de cisalhamento obtido via ensaio de torração pura ou cisalhamento puro. O ensaio de torção pura consiste em prender uma das extremidades da amostra e rotacionar a outra extremidade como mostra a Figura 24. Se o torque e o ângulo de torção forem medidos, é possível descrever o diagrama de tensão x deformação por cisalhamento do material em função da tensão de cisalhamento e a deformação cisalhante. Figura 24 – Torção de um eixo Fonte: Hibbeler, 2018. O ensaio de cisalhamento puro consiste em transpassar um pino do material que se deseja analisar por duas chapas rígidas a fim de que as chapas deslizem com sentidos opostos e cisalhe o pino até o rompimento, como mostra a Figura 25. 33 Figura 25 – Cisalhamento puro Fonte: Silva, 2021. Um exemplo de diagrama de tensão x deformação por cisalhamento é apresentado na Figura 26. Observe que, assim como ocorre no ensaio de tração, o material possui um comportamento linear elástico até uma tensão limite de proporcionalidade, 𝜏𝜏𝑙𝑙𝑙𝑙. Também ocorrerá o endurecimento por deformação até a tensão máxima de cisalhamento, 𝜏𝜏𝑚𝑚á𝑥𝑥, e, por fim, o material apresentará uma tensão de ruptura por cisalhamento, 𝜏𝜏𝑟𝑟𝑢𝑢𝑙𝑙. Figura 26 – Diagrama esquemático de tensão x deformação por cisalhamento Fonte: Hibbeler, 2018. Dentro da região linear elástica, podemos aplicar a Lei de Hooke que, para o cisalhamento, é definido como: 𝜏𝜏 = 𝐺𝐺𝐺𝐺 (8) 34 em que 𝐺𝐺 corresponde ao módulo de elasticidade transversal, ou módulo de cisalhamento, ou ainda módulo de rigidez e 𝐺𝐺 é a deformação por cisalhamento, como visto na anteriormente. O módulo de cisalhamento pode ser obtido considerando a tensão e deformação limite de proporcionalidade, ou seja: 𝐺𝐺 = 𝜏𝜏𝑙𝑙𝑙𝑙 𝐺𝐺𝑙𝑙𝑙𝑙 (9) O módulo de elasticidade e o coeficiente de Poisson estão relacionados com o módulo de cisalhamento por: 𝐺𝐺 = 𝐸𝐸 2(1 + 𝜈𝜈) (10) • Exemplo 6: um corpo de prova de uma liga de titânio é testado em torção. A figura mostra o diagrama tensão x deformação por cisalhamento desse material. Fonte: Hibbeler, 2018. Sabendo que o corpo de prova tem um diâmetro igual a 25 mm e um comprimento equivalente a 250 mm e que uma força normal de 165 kN é aplicada a este, provocando um alongamento de 0,69 mm em seu comprimento, determine: (a) o módulo de elasticidade desse material, (b) a contração do diâmetro, 𝛿𝛿′. • Solução: (a) o primeiro passo é obter os parâmetros da Lei de Hooke (Equação 5) faltantes para determinarmos o módulo de elasticidade desse material, ou seja, precisamos descobrir a tensão que está ocorrendo no corpo de prova proveniente da carga normal de 150 kN e sua respectiva deformação. 35 Para isso, vamos aplicar a Equação 3 de aulas anteriores, e a Equação 5 que recapitulamos nesta aula, sabendo que o raio do corpo de prova é 12,5 mm (ou 0,0125 m) e que o comprimento é de 250 mm: 𝜎𝜎 = 𝑘𝑘 𝐴𝐴 = 165.10³ (𝜋𝜋. 0,01252) → 𝜎𝜎 = 336,14 𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀 𝜀𝜀𝑙𝑙 = 𝛿𝛿 𝐿𝐿𝑖𝑖 = 0,69 250 → 𝜀𝜀𝑙𝑙 = 2,76. 10−3 𝑚𝑚𝑚𝑚/𝑚𝑚𝑚𝑚 Aplicando a Lei de Hooke vista na Equação 1 desta aula, temos: 𝐸𝐸 = 𝜎𝜎 𝜀𝜀𝑙𝑙 = 336,14. 106 2,76. 10−3 → 𝐸𝐸 = 121,79 𝐺𝐺𝑀𝑀𝑀𝑀 (b). Agora precisamos determinar a contração do diâmetro do corpo de prova para essa força aplicada. Para isso, vamos aplicar a Equação 6. Portanto, precisaremos da deformação transversal do corpo de prova. Podemos obter esse parâmetro aplicando a Equação 7, mas como ainda não temos o valor do Coeficiente de Poisson, devemos calculá-lo aplicando a Equação 10. O que nos falta para resolvermos esse problema é obter o valor do módulo de cisalhamento deste material e isso pode ser feito aplicando a Equação 9 ao problema, olhando os dados fornecidos pelo diagrama tensão x deformação por cisalhamento desse material, assim temos: 𝐺𝐺 = 𝜏𝜏𝑙𝑙𝑙𝑙 𝐺𝐺𝑙𝑙𝑙𝑙 = 360. 106 0,008 → 𝐺𝐺 = 45 𝐺𝐺𝑀𝑀𝑀𝑀 Aplicando a Equação 10, calculamos o Coeficiente de Poisson: 𝐺𝐺 = 𝐸𝐸 2(1 + 𝜈𝜈) → 𝜈𝜈 = 𝐸𝐸 2𝐺𝐺 − 1 = 121,79. 109 2.45. 109 − 1 → 𝜈𝜈 = 0,353 Agora aplicamos a Equação 7 para obter a deformação transversal do corpo de prova: 𝜈𝜈 = − 𝜀𝜀𝑡𝑡 𝜀𝜀𝑙𝑙 → 𝜀𝜀𝑡𝑡 = −𝜈𝜈𝜀𝜀𝑙𝑙 = −0,353.2,76. 10−3 → 𝜀𝜀𝑡𝑡 = −9,749. 10−4 𝑚𝑚𝑚𝑚/𝑚𝑚𝑚𝑚 Por fim, aplicamos a Equação 6 para determinarmos a contração do diâmetro, logo: 36 𝜀𝜀𝑡𝑡 = 𝛿𝛿′ 𝐷𝐷𝑖𝑖 → 𝛿𝛿′ = 𝜀𝜀𝑡𝑡𝐷𝐷𝑖𝑖 = −9,749. 10−4. 25 → 𝛿𝛿′ = −0,0244 𝑚𝑚𝑚𝑚 TEMA 5 – FALHA DE MATERIAIS DEVIDO À FLUÊNCIA E À FADIGA Até aqui consideramos que a carga aplicada sobre o objeto/estrutura é do tipo estática, ou aplicada de forma lenta a uma velocidade constante sem influência da temperatura. Entretanto, muitos elementos estruturais são aplicados em ambientes para o qual devem suportar cargas em temperaturas elevadas por longo período, como é o caso de uma turbina de avião (Figura 27a), ou outros que suportam cargas cíclicas, como é o caso das engrenagens de uma caixa transmissão deum automóvel (Figura 27b). Figura 27 – (a) Turbina de um avião e (b) caixa de transmissão (a) (b) Crédito: Sopotnicki/Shutterstock; ER_09/Shutterstock. Esse assunto é abordado com maior detalhe nos livros: Ciência e Engenharia de Materiais: Uma Introdução, dos autores Callister Junior e Retwisch (2018); e Elementos de Máquina de Shigley, dos autores Budynas e Nisbett (2016). O objetivo aqui é apresentar este tema e mostrar brevemente como se determina a resistência de um material para essas condições. 5.1 Fluência A fluência consiste no acúmulo lento e progressivo de deformação plástica quando estão sujeitos a tensões ou temperaturas constantes por um longo período, ou também a temperaturas elevadas. Pense que alguns projetos precisam de materiais capazes de suportar grandes cargas a uma temperatura elevada, como é o caso das turbinas de avião. Os componentes de uma turbina são frequentemente inspecionados a fim de se evitar falhas. Outro exemplo são 37 as tubulações a vapor (Figura 28a), que devem ser projetadas a fim de resistirem à passagem do gás em temperatura elevada sem perder suas características estruturais e os reatores nucleares, em que os materiais presentes devem manter-se íntegros mesmo trabalhando em altas temperaturas, uma vez que um acidente com esse tipo de estrutura pode provocar danos irreparáveis, como o caso da planta de Chernobyl (Figura 28c). Figura 28 – (a) Tubulações a vapor, (b) reatores nucleares e (c) planta nuclear de Chernobyl (a) (b) (c) Créditos: engineer story/Shutterstock; SpaceKris/Shutterstock; DimaSid/Shutterstock. Neste contexto, uma importante propriedade mecânica é a resistência à fluência. Essa propriedade representa a maior tensão que o material pode suportar por um tempo pré-estabelecido, sem exceder uma deformação de fluência admissível. Em projetos estruturais, a temperatura, o tempo de aplicação da carga e da deformação de fluência permitida devem ser especificados. Existem vários métodos para estabelecer a resistência à fluência de um material. Um deles é aplicar um teste simultâneo a vários corpos de prova a uma temperatura constante, porém, cada um com uma tensão axial diferente. Mede- se o tempo necessário para se produzir uma deformação por fluência admissível 38 para cada corpo e plota-se uma curva de tensão x tempo. Em geral, esses ensaios são realizados durante 1000 horas no máximo. Um exemplo dessa curva é apresentado na Figura 29 para o aço inoxidável a temperatura de 650 °C e deformação por fluência prescrita de 1%. Figura 29 – Diagrama tensão x tempo para aço inoxidável a 650° C e 1% de deformação por fluência Fonte: Hibbeler, 2018. Observe que a curva do diagrama converge para um valor de tensão igual a 138 MPa. Esse valor corresponde à resistência à fluência do aço inoxidável para as circunstâncias mencionadas. Uma vez que essa tensão é determinada, aplica-se um fator de segurança a fim de estabelecer uma tensão admissível adequada para o projeto. 5.2 Fadiga Elementos estruturais sujeitos a cargas cíclicas de tensão ou deformação podem se romper devido ao comportamento denominado fadiga. Sabe-se que 80 a 90% das falhas em estruturas ou elementos estruturais são devido à fadiga. Ela é responsável por boa parte das falhas em eixos rotativos, parafusos, uniões soldadas, elos de correntes, molas, hélices de turbina a vapor etc. Em todos esses casos, a tensão que romperá o material será menor que a tensão de escoamento do material. Essa falha ocorre em detrimento de imperfeições microscópicas, em geral, na superfície do objeto, em que a tensão concentrada nessas microimperfeições tornam-se muito elevadas do que a média nas demais regiões da seção transversal da peça. Como o elemento está submetido a uma carga cíclica, essa tensão elevada faz com que essa imperfeição fique maior, tornando- 39 se uma microtrinca. À medida que o elemento trabalha ciclicamente, essa microtrinca tende a aumentar até um estágio que ocorre o rompimento da peça. Esse rompimento é repentino, de modo que, mesmo se o material for dúctil, ele terá um comportamento do tipo frágil. A Figura 30a apresenta esse tipo de falha para um eixo de transmissão estriado, a Figura 30b para um parafuso e a Figura 30c para a mola de um carro. Figura 30 – Falha por fadiga (a) de um eixo de transmissão estriado, (b) de um parafuso e (c) de uma mola de carro (a) (b) (c) Créditos sfoto-rs/Shutterstock; lbrumf2/Shutterstock; Kim Christensen/Shutterstock. Uma resistência segura deve ser especificada para um material metálico sob carga cíclica a fim de definir um limite abaixo do qual nenhuma falha possa ser detectada. Essa tensão limite é chamada limite de resistência ou limite de fadiga. Para determiná-la, realiza-se um ensaio com vários corpos de prova submetendo-os a uma tensão cíclica até falharem, ou seja, até o rompimento das amostras. Os resultados são plotados em um gráfico de tensão x n. de ciclos até a falha. Esse diagrama é denominado diagrama 𝑆𝑆 − 𝑘𝑘 e, na maioria das vezes, o valor do número de ciclos, 𝑘𝑘, é plotado na escala logarítmica, por ser um valor muito elevado. Um exemplo de diagrama 𝑆𝑆 − 𝑘𝑘 é mostrado na Figura 31 para o aço e alumínio. O limite de fadiga é a tensão no qual o gráfico torna-se horizontal ou assintótico, ou seja, converge para determinado valor. 40 Figura 31 – Diagrama 𝑆𝑆 − 𝑘𝑘 para ligas de aço e alumínio com eixo 𝑘𝑘 em escala logarítmica Fonte: Hibbeler, 2018. Observe que para o aço esse valor é bem definido e corresponde a 𝑆𝑆𝑙𝑙𝑓𝑓 = 186 𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀, porém, para o limite de fadiga não está bem definido, por isso, é especificado com o valor de 𝑆𝑆𝑙𝑙𝑓𝑓 = 131 𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀 para 500 milhões de ciclos. Definido o limite de fadiga do material, considera-se que a vida útil em relação à fadiga é infinita para qualquer tensão abaixo desse valor, o que significa que o número de ciclos não é mais levado em consideração até a falha do material. FINALIZANDO Nesta aula, relembramos o que é o diagrama de tensão x deformação e vimos as principais diferenças entre um material dúctil e frágil, falamos sobre a Lei de Hooke e o conceito de energia de deformação, vimos o que é o Coeficiente de Poisson e a relação dele com o módulo de cisalhamento obtido por meio do diagrama tensão x deformação por cisalhamento e, finalmente, falamos sobre falha de materiais devido à fluência e à fadiga. Ao final desta aula, você terá um bom conhecimento sobre as propriedades mecânicas dos materiais, conhecimento este que te permitirá projetar estruturas. Além das propriedades e ensaios vistos aqui nesta aula, existem outros que são mais detalhadas na disciplina de Tecnologia dos Materiais, por exemplo: dureza, tratamento térmico, tratamento de superfície etc. No Capítulo 3 do nosso livro (Resistência dos Materiais, do autor Hibbeler). você encontrará mais exemplos resolvidos sobre os assuntos vistos nesta aula. Não deixe de conferir esses exemplos resolvidos e, se possível, faça alguns exercícios do livro para praticar. 41 REFERÊNCIAS HIBBELER, R. C. Resistência dos materiais. 7. ed. Pearson, 2010. _____. Resistência dos materiais. 12. ed. Pearson, 2018. SILVA, F. E. C. Projeto ótimo de neutralizadores dinâmicos com múltiplos graus de liberdade considerando os parâmetros físicos, localização e material viscoelástico. Tese de doutorado, Curitiba – PR, 2019. CALLISTER JUNIOR, W. D.; RETWISCH, D. G. Ciência e engenharia de materiais: uma introdução. 9. ed. LTC, 2018. BUDYNAS, R. G.; NISBETT, J. K. Elementos de máquinas de Shigley. 10. ed. Porto Alegre: AMGH, 2016. Conversa inicial FINALIZANDO REFERÊNCIAS
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