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AFINAL, O QUE É AVALIAÇÃO? HELLEN CRISTINE GEREMIA Clique aqui e faça o download do material Assim como em estudos desenvolvidos sobre a avaliação da aprendizagem é possível observar cautela na abordagem do tema e relatos acerca da dificuldade dos profissionais para avaliar, é comum constatar a inquietação dos professores nos ambientes escolares sobre a avaliação de seus alunos e os desdobramentos que essa prática exige. Ainda que pareça existir um consenso acerca do que é avaliação, da razão da sua necessidade e o que fazer com seus resultados, o tema é controverso e repleto de lacunas entre o processo de avaliação e o cotidiano das aulas. A avaliação escolar só faz sentido se tiver o intuito de buscar caminhos para a melhoria da aprendizagem (HOFFMANN, 1996). 2 Afinal, o que é avaliação? Tal aspecto, muitas vezes, faz com que professores percebam a avaliação como um evento pontual, sem muita relevância e que consiste na verificação dos conteúdos ministrados em forma de prova. Direciona também, por outro lado, uma parcela de profissionais na busca por práticas que proporcionem mais coerência entre os processos e professores que desejam ressignificar sua metodologia para desenvolverem uma avaliação mais formativa. Nesta direção, vamos buscar esclarecer melhor o que é a avaliação da aprendizagem. Esse debate é importante, especialmente porque, no contexto educacional, a avaliação é costumeiramente associada diretamente aos resultados dos nossos alunos. O que é para ser compreendido como o acompanhamento de um processo tornou-se o fim do mesmo: a avaliação parece servir exclusivamente para verificar aprendizagem e classificar os alunos em “bons” e “ruins”. Contudo, a avaliação possui dimensões mais amplas: Conforme Haydt (2008, p. 7): A atividade educativa não tem por meta atribuir notas, mas realizar uma série de objetivos que se traduzem em termos de mudanças de comportamentos dos alunos. E cabe justamente à avaliação verificar em que medida esses objetivos estão realmente sendo alcançados, para ajudar o aluno a avançar na aprendizagem. 4 Afinal, o que é avaliação? Isto é, a avaliação deve ser contínua e mediadora do processo de aprendizagem de cada discente. Mas, para compreender melhor o que isto quer dizer, precisamos distinguir o que é avaliar do ato de examinar. A definição mais comumente utilizada em manuais conceitua a avaliação como um julgamento de valor sobre manifestações relevantes da realidade, tendo em vista uma tomada de decisão. Ou seja, a avaliação é caracterizada como [...] uma forma de ajuizamento da qualidade do objeto avaliativo, fator que implica uma tomada de posição a respeito do mesmo, para aceitá-lo ou para transformá-lo (LUCKESI, 2009, p. 33). Talvez não nos demos conta, mas fazemos avaliações o tempo todo no nosso cotidiano: quando vamos escolher uma roupa para vestir; quando decidimos entre a fruta ou o pão no café da manhã; quando olhamos que horas são e quanto tempo temos para chegarmos no trabalho; até mesmo quando nos questionam sobre como foi o nosso final de semana. Avaliar é uma operação mental que integra o pensamento do ser humano. Essa é pra registrar! No contexto educacional, a avaliação consiste em produzir a que medida estão sendo alcançados os objetivos de ensino. É por meio da avaliação que o professor percebe a evolução do aluno em relação à aprendizagem. Por tanto, seus resultados devem auxiliar professores e alunos a promoverem modificações no comportamento padrão do estudante na direção dos objetivos previstos. Mas é possível encontrar nas escolas os professores que afirmam avaliar, quando na verdade aplicam exames (LUCKESI, 2002). O exame não é capaz de determinar o verdadeiro grau de conhecimento do aluno, pois, geralmente, indica apenas o que está sendo respondido naquele momento, dividindo os estudantes entre os “aprovados” e “reprovados”, importando a nota final. Nesse sentido, Luckesi (2002, p. 83) afirma que: Avaliar é o ato de diagnosticar uma experiência, tendo em vista reorientá-la para produzir o melhor resultado possível; por isso, não é classificatória nem seletiva, ao contrário, é diagnóstica e inclusiva. O ato de examinar, por outro lado, é classificatório e seletivo e, por isso mesmo, excludente, já que não se destina à construção do melhor resultado possível; tem a ver, sim, com a classificação estática do que é examinado. O ato de avaliar tem seu foco na construção dos melhores resultados possíveis, enquanto o ato de examinar está centrado no julgamento de aprovação ou reprovação. Se essa distinção é confusa para nós, como será para os alunos? Como assimilam ou compreendem esse processo na escola? Não raras vezes, quando falamos em avaliação as pessoas pensam nas implacáveis provas que medem, julgam e classificam as pessoas. Efetivamente, trabalhar com avaliação não é tarefa fácil, pois exige mudanças de paradigmas há muito tempo construídos. Tratam-se de padrões de conduta históricos fundamentados na cultura de que a função da escola é preparar as pessoas para o mundo do trabalho, e que isso deve ser feito separando-se o bom do ruim (AMARAL, 2008). Nesse contexto, a seleção por meio de provas e exames é uma forma de legitimar a classificação já realizada no contexto educacional, método que muitas vezes é opressivo e excludente e que já está incorporado pelos alunos como uma lógica de que quem é bom ‘passa’ (de um ano letivo para outro) e quem não é, ‘fica’ (reprovado) (AMARAL, 2008). Nós, professores que crescemos nessa escola e nos formamos nessa lógica precisamos romper com essa cultura herdada, rever nossos conceitos e repensar a forma como elaboramos a experiência de avaliação e sua função na educação. Esse processo é gradativo, necessário e que exige disposição e estudo. 7 Dessa forma, a avaliação é um processo evolutivo onde o aluno é acompanhado durante todo o período letivo. A maior preocupação é a sua aprendizagem e não a nota. Ao compreendermos a avaliação desta forma, Haydt (2008) é enfática: ela deve fazer parte da rotina da sala de aula, sendo usada periodicamente como um dos aspectos integrantes do processo de aprendizagem e subsidiando outras ações educativas. 8 Afinal, o que é avaliação? Essa é pra registrar! A avaliação da aprendizagem, dada a sua importância para o processo de ensino, não deve ser vista como o ponto final, mas como uma oportunidade para observar se a trajetória que está sendo construída apresenta o aprendizado e a qualidade esperados para, quando necessário, a reelaboração da prática pedagógica. Diante do exposto, o primeiro passo para a mudança é dar um novo sentido à avaliação, transformando-a em um momento de reflexão e de aprendizado a partir do uso de procedimentos que assegurem o pleno desenvolvimento do aluno. 9 REFERÊNCIAS AMARAL, M. C. E. Julgar, medir, diagnosticar, formar... afinal, para que serve a avaliação? Mal-Estar e Sociedade, Barbacena, v. 1, n. 1, p.129-145, 2008. HAYDT, R. C. Avaliação do processo de Ensino Aprendizagem. 6. ed. São Paulo: Ática, 2008. HOFFMANN, J. M. L. Avaliação Mediadora. Porto Alegre: Mediação, 1996. LUCKESI, C. C. Avaliação da aprendizagem na escola e a questão das representações sociais. EccoS – Revista Científica, UNINOVE, São Paulo, v. 4, n. 2, p. 79-88, 2002. LUCKESI, C. C. Avaliação da aprendizagem escolar. 20. ed. São Paulo: Cortez, 2009.
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