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SEGURANÇA ALIMENTAR NAS CADEIAS PRODUTIVAS E NA INDÚSTRIA DE ALIMENTOS PROFESSOR Dr. André Álvares Monge Neto ACESSE AQUI O SEU LIVRO NA VERSÃO DIGITAL! https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/1001 EXPEDIENTE C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância. NETO, André Álvares Monge. Segurança Alimentar nas cadeias produtivas e na Indústria de Alimentos. André Álvares Monge Neto. Maringá - PR.: UniCesumar, 2020. Reimpresso em 2022. 136 p. “Graduação - EaD”. 1. Segurança 2. Alimentar 3. Produtivas. EaD. I. Título. FICHA CATALOGRÁFICA NEAD - Núcleo de Educação a Distância Av. Guedner, 1610, Bloco 4Jd. Aclimação - Cep 87050-900 | Maringá - Paraná www.unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 Coordenador(a) de Conteúdo Maria Fernanda Francelin Carvalho Projeto Gráfico e Capa Arthur Cantareli, Jhonny Coelho e Thayla Guimarães Editoração Luciana Pinheiro Grandizoli Design Educacional Amanda Peçanha Dos Santos Revisão Textual Ariane Andrade Fabreti Cindy Mayumi Luca Ilustração Marta Sayuri Kakitani Fotos Shutterstock CDD - 22 ed. 363.192 CIP - NBR 12899 - AACR/2 ISBN 978-85-459-2052-6 Impresso por: Bibliotecário: João Vivaldo de Souza CRB- 9-1679 Diretoria Executiva Chrystiano Mincoff, James Prestes, Tiago Stachon Diretoria de Design Educacional Débora Leite Diretoria de Graduação Kátia Coelho Diretoria de Permanência Leonardo Spaine Diretoria de Pós-graduação, Extensão e Formação Acadêmica Bruno Jorge Head de Produção de Conteúdos Celso Luiz Braga de Souza Filho Gerência de Produção de Conteúdo Diogo Ribeiro Garcia Gerência de Projetos Especiais Daniel Fuverki Hey Supervisão do Núcleo de Produção de Materiais Nádila Toledo Supervisão de Projetos Especiais Yasminn Zagonel NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Reitor Wilson de Matos Silva Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva Pró-Reitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi DIREÇÃO UNICESUMAR BOAS-VINDAS Neste mundo globalizado e dinâmico, nós tra- balhamos com princípios éticos e profissiona- lismo, não somente para oferecer educação de qualidade, como, acima de tudo, gerar a con- versão integral das pessoas ao conhecimento. Baseamo-nos em 4 pilares: intelectual, profis- sional, emocional e espiritual. Assim, iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos de graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de 100 mil estudantes espalhados em todo o Brasil, nos quatro campi presenciais (Maringá, Londrina, Curitiba e Ponta Grossa) e em mais de 500 polos de educação a distância espalhados por todos os estados do Brasil e, também, no exterior, com dezenasde cursos de graduação e pós-graduação. Por ano, pro- duzimos e revisamos 500 livros e distribuímos mais de 500 mil exemplares. Somos reconhe- cidos pelo MEC como uma instituição de exce- lência, com IGC 4 por sete anos consecutivos e estamos entre os 10 maiores grupos educa- cionais do Brasil. A rapidez do mundo moderno exige dos edu- cadores soluções inteligentes para as neces- sidades de todos. Para continuar relevante, a instituição de educação precisa ter, pelo menos, três virtudes: inovação, coragem e compromis- so com a qualidade. Por isso, desenvolvemos, para os cursos de Engenharia, metodologias ati- vas, as quais visam reunir o melhor do ensino presencial e a distância. Reitor Wilson de Matos Silva Tudo isso para honrarmos a nossa mis- são, que é promover a educação de qua- lidade nas diferentes áreas do conheci- mento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária. P R O F I S S I O N A LT R A J E T Ó R I A Dr. André Álvares Monge Neto Doutor em Ciência de Alimentos pela Universidade Estadual de Maringá (2017). Mes- tre nessa área pela mesma instituição (2013). Graduado pela Universidade Estadual de Maringá (2010). Tem experiência na área de Ciência e Tecnologia de Alimentos, com ênfase em Engenharia de Alimentos. http://lattes.cnpq.br/4399676957675t920. A P R E S E N TA Ç Ã O D A D I S C I P L I N A SEGURANÇA ALIMENTAR NAS CADEIAS PRODUTIVAS E NA INDÚSTRIA DE ALIMENTOS A produção de alimentos envolve a transformação de matérias-primas em diferentes níveis até chegar ao produto final oferecido ao consumidor. Essas transformações envolvem etapas de aquecimento, resfriamento, diminuição de tamanho, peneiramento, separações diversas, entre outras. Dessa forma, é essencial para qualquer profissional que atua nessa área, o co- nhecimento de como as operações de processamento, chamadas de operações que alteram, alteram as características nutricionais, sensoriais e de segurança do alimento. Na Unidade 1, iniciaremos o estudo da morte térmica de microrganismos. É sabido que dife- rentes microrganismos têm diferentes resistências ao calor. Assim, é necessário planejar uma operação que objetiva remover microrganismos para garantir a segurança dos alimentos. Após conhecer os fundamentos básicos da morte térmica de microrganismos, apresenta- remos, na Unidade 2, os processos e equipamentos que envolvem transferência de calor; aquecimento que, em sua maioria, é utilizado para garantir a segurança de alimentos. Pri- meiramente, apresentaremos os trocadores de calor, equipamentos amplamente utilizados para realizar o aquecimento e o resfriamento de fluidos alimentícios (sucos, polpas, purês e xaropes, por exemplo). Em seguida, abordaremos o processo de pasteurização, tratamento muito útil para garantir a segurança de bebidas, tais como leite, sucos e cerveja. Ao final, apresentaremos o processo de esterilização comercial de alimentos, que garantem produtos com alto prazo de validade. Depois de trabalhar duas unidades com processos térmicos para que você, aluno(a), saiba como garantir a segurança microbiológica de alimentos, apresentaremos, na Unidade 3, os métodos que podem atuar na segurança do alimento mediante a redução de perigos físi- cos. Os métodos apresentados, nessa unidade, serão filtração, decantação e centrifugação, técnicas tradicionais amplamente utilizadas em unidades industriais. Ao final da Unidade 3, apresentaremos a técnica de separação por membranas, a qual se caracteriza pelo amplo potencial de utilização no processamento de alimentos. Na Unidade 4, trataremos de outras operações unitárias e as suas implicações na segurança do alimento. Como exemplo, podemos falar da destilação e dos cuidados para evitar a pre- sença de metanol em bebidas alcoólicas. Também, podemos discorrer sobre a secagem e a diminuição de microrganismos por meio da redução da atividade de água e por meio das operações de bombeamentos em empresas alimentícias. D A D I S C I P L I N AA P R E S E N TA Ç Ã O Na Unidade 5, falaremos do tratamento de água e de resíduos gerados em empresas alimentí- cias. Sobre o tratamento de água, devemos sempre nos lembrar: de nada adianta realizarmos um processo adequado, uma produção de alimentos com o mais alto padrão de processos, se a água utilizada, na produção e na higienização de equipamentos e utensílios, não possuir os padrões sanitários adequados. Além disso, esta unidade comentará a respeito dos resíduos industriais e dos melhores destinos e tratamentos para resíduos líquidos e sólidos e para efluentes gasosos. Ao final de todas as unidades, espera-se que o(a) aluno(a) do curso de Tecnologia em Seguran- ça Alimentar consiga entender diversos processos utilizados na transformação de alimentos e suas formas de atuação para reduzir perigos físicos, químicos e microbiológicos. Boa leitura! ÍCONES Sabe aquela palavra ou aquele termo que você não conhece? Este ele- mento ajudará você a conceituá-la(o) melhor da maneira mais simples. conceituando No fim da unidade, o tema em estudo aparecerá de forma resumida para ajudar você a fixar e a memorizar melhor os conceitos aprendidos. quadro-resumo Neste elemento,você fará uma pausa para conhecer um pouco mais sobre o assunto em estudo e aprenderá novos conceitos. explorando Ideias Ao longo do livro, você será convidado(a) a refletir, questionar e transformar. Aproveite este momento! pensando juntos Enquanto estuda, você encontrará conteúdos relevantes online e aprenderá de maneira interativa usando a tecno- logia a seu favor. conecte-se Quando identificar o ícone de QR-CODE, utilize o aplicativo Unicesumar Experience para ter acesso aos conteúdos online. O download do aplicativo está disponível nas plataformas: Google Play App Store CONTEÚDO PROGRAMÁTICO UNIDADE 01 UNIDADE 02 UNIDADE 03 UNIDADE 05 UNIDADE 04 FECHAMENTO TRATAMENTO TÉRMICO DE ALIMENTOS 10 OPERAÇÕES QUE ENVOLVEM TRANSFERÊNCIA DE CALOR 30 56 PROCESSOS DE SEPARAÇÃO 79 OUTRAS OPERAÇÕES UNITÁRIAS E SUAS IMPLICAÇÕES NA SEGURANÇA ALIMENTAR 104 OPERAÇÕES UNITÁRIAS APLICADAS AO TRATAMENTO DA ÁGUA, EFLUENTES E RESÍDUOS SÓLIDOS 130 CONCLUSÃO GERAL 1 TRATAMENTO TÉRMICO DE ALIMENTOS PLANO DE ESTUDO A seguir, apresentam-se as aulas que você estudará nesta unidade: Objetivos do tratamento térmico de alimentos • Resistência térmica dos microrganismos • Cinética de destruição térmica de microrga- nismos • Modificações nos alimentos pelo tratamento térmico OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Apresentar a importância do tratamento térmico em diversos tipos de alimentos • Relacionar a re- sistência térmica dos microrganismos com demais fatores intrínsecos e extrínsecos • Apresentar con- ceitos básicos para determinar o cálculo de morte térmica dos microrganismos • Avaliar as possíveis modificações nutricionais e sensoriais dos alimentos, as quais são decorrentes do tratamento térmico. PROFESSOR Dr. André Álvares Monge Neto INTRODUÇÃO O tratamento térmico de alimentos é uma importante ferramenta para ga- rantir a segurança e a qualidade dos alimentos processados durante toda a vida de prateleira do produto. Diversos alimentos utilizam esse tipo de pro- cessamento para garantir a estabilidade durante a comercialização: leites, sucos, conservas e enlatados em geral são grandes exemplos de alimentos tratados termicamente para garantir a segurança do consumidor. O tratamento térmico é responsável pela eliminação de microrganis- mos e pela inativação de enzimas que podem alterar a qualidade sensorial e nutricional dos alimentos destinados ao consumo e, além disso, esse tipo de tratamento pode causar alterações no produto. Muitas dessas alterações são desejadas, como a gelatinização de amidos e a permeabilização de tecidos, com consequente melhora da textura. No entanto o tratamento térmico pode provocar algumas alterações indesejáveis: mudança na coloração por reações de escurecimento não-enzimático (caramelização e Maillard), sur- gimento de gosto cozido em sucos e amolecimento excessivo de vegetais. Dessa forma, é essencial, para o profissional que atuará na produção de alimentos, o conhecimento dos seguintes aspectos: os parâmetros que intervêm na efetividade do tratamento térmico de alimentos, os efeitos do calor nas fontes alimentícias, a relação existente entre os microrganismos e os fatores que afetam a sua morte térmica. A Unidade 1 tem, como função, apresentar o conhecimento básico necessário para a atuação profissional na área de tratamento térmico de alimentos, a fim de garantir a estabilidade microbiológica dos alimentos com a mínima alteração sensorial e nutricional e, assim, entregar ao con- sumidor um produto agradável e seguro. U N ID A D E 1 12 1 OBJETIVOS DO TRATAMENTO TÉRMICO de alimentos Caro(a) aluno(a), o conceito de tratamento térmico de alimentos tem, como base, o seu aquecimento. A consequente elevação da temperatura destrói microrganis- mos deteriorantes e patogênicos, além de inativar enzimas que podem provocar alterações dos produtos alimentícios. O tratamento térmico é uma operação unitária que engloba o conhecimen- to de aspectos relativos à transferência de calor e aos microrganismos para, dessa forma, ocorrer a compreensão do processamento e dos equipamentos utilizados a tal finalidade. O texto a seguir objetiva apresentar os princípios do processamento térmico, assim como a relação do processamento com as características físico-químicas do alimento e as condições ambientais onde ele está alocado. Outro objetivo é apresentar algumas relações matemáticas que auxiliam no planejamento de um processamento de alimentos. OBJETIVOS E DIFICULDADES DO TRATAMENTO TÉRMICO DOS ALIMENTOS O tratamento térmico de alimentos tem, como objetivo, “destruir parcial ou to- talmente os agentes deterioradores e/ou patogênicos existentes no alimento por meio de alta temperatura” (TADINI et al., 2016, p. 444). U N IC ES U M A R 13 A elevação de temperatura do alimento é um método muito eficiente para a eliminação de microrganismos. No entanto ela tem de ser feita adequadamente para ser efetiva na segurança e na qualidade nos alimentos e, ainda, eficiente quanto ao gasto de energia, minimizando as alterações alimentares. Para que o tratamento térmico seja efetivo, não basta elevar a temperatura de um alimento. Deve-se elevar e, ainda, manter essa temperatura por deter- minado tempo. Dessa forma, o gasto de energia em processos que envolvem o aquecimento de um alimento, geralmente, seguidos por resfriamento, tendem a ser um importante fator financeiro em empresas. Consequentemente, cabe ao profissional responsável por projetar esse tipo de processo, reduzir ao máximo o custo com energia para obter um alimento com preço acessível ao consumidor. Além disso, o aquecimento dos alimentos pode provocar diversas mudanças nas suas características sensoriais e nutricionais. A seguir, apresentaremos algumas delas: ■ Modificações na coloração: o tratamento térmico pode alterar de forma indesejada a coloração de alguns alimentos. Isso ocorre porque alguns pigmentos, presentes em vegetais, por exemplo, podem sofrer degradação pela temperatura. Além disso, ao aquecer de forma inadequada alguns alimentos, como leites e sucos de frutas, pode ocorrer reações de escure- cimento não enzimático (reação de caramelização e reação de Maillard), o que afeta a qualidade dos produtos. ■ Modificações no sabor e no aroma: o aquecimento pode afetar muito o sabor de alguns alimentos e provocar a eliminação de aromas, natural- mente, presentes em diversos produtos. Um bom exemplo desse fator é o suco de laranja industrializado. Esse tipo de produto, após passar por processo térmico, é classificado, por muitas pessoas, com “sabor de laranja passada” e/ou “sabor de laranja cozida”, afetando as características tradi- cionais da fruta fresca. ■ Diminuição do valor nutricional: diversos componentes benéficos à saúde do consumidor podem ser encontrados naturalmente nos alimen- tos, no entanto, muitos deles são, extremamente, sensíveis ao calor. Dessa forma, ao realizar tratamento térmico em um produto alimentício, mui- tos desses componentes podem ser perdidos. Como exemplo frequente, pode-se citar a vitamina C, que é muito importante para a saúde humana mas, também, facilmente degradada em altas temperaturas. U N ID A D E 1 14 ■ Alteração da estrutura química dos componentes dos alimentos: alguns componentes podem ser alterados de forma irreversível com ele- vadas temperaturas, o que afeta a qualidade e a utilização dos produtos. Como exemplo, pode-se citar o leite UHT (sigla inglesa que significa “Temperatura Ultra Alta”). Tal produto é aquecido a temperaturas eleva- das que alteram a estrutura das proteínas do leite. Essas alterações tornam inviável a utilização desse leite na produção de queijos, por exemplo. Figura 1 - Alterações ocorridas devido ao processamento térmico: (a) apresenta ervilhas fres- cas, mais verdes e firmes; (b) apresenta ervilhas enlatadas, mais escurecidas e moles Não bastassem todas as dificuldades já apresentadas, ainda é necessário citar o formato dos alimentos,o que afeta muito o processo de elevação da temperatura. Para exemplificar isso, pensaremos em uma situação cotidiana: uma batata muito grande e uma batata muito pequena cozinhando em água fervente. É claro que a segunda cozinhará mais rapidamente que a primeira. Isso ocorre porque o calor demora mais para chegar no interior da batata maior. Essa situação, simples de ser resolvida em casa (basta deixar a batata de dimensões maiores cozinhando por mais tempo), pode ser um problema em grandes processos. Dessa forma, ao projetar o processamento térmico de um alimento, deve-se sempre considerar a temperatura mais fria, localizada, geralmente, no interior desse alimento. A B U N IC ES U M A R 15 2 RESISTÊNCIA TÉRMICA DOS MICRORGANISMOS Diversos tipos de microrganismos podem estar presentes nos alimentos; levedu- ras, bolores e bactérias são os principais causadores de degradação dos produtos alimentícios. Vírus, fungos (bolores e leveduras) e bactérias podem se desenvolver no produto e, quando ingeridos (os microrganismos ou as suas toxinas), podem provocar doenças, os chamados microrganismos patogênicos. Assim, conhecer a capacidade de tais microrganismos resistirem ao tratamento térmico é impor- tante para programar essa operação. Os microrganismos podem ser classificados de acordo com a faixa de tem- peratura em que eles têm o seu crescimento ótimo: ■ Psicrófilos: microrganismos que crescem na faixa de temperatura entre -10 e 10 °C. Eles são os principais responsáveis pela deterioração de ali- mentos mantidos em geladeira, por exemplo. ■ Mesófilos: apresentam temperatura ótima de crescimento entre 10 e 40 °C. A maioria dos microrganismos existentes se classificam nessa categoria. ■ Termófilos: esses microrganismos sobrevivem e, frequentemente, con- seguem crescer na faixa de temperatura entre 40 e 80 °C. Essa classe de microrganismos é considerada preocupante durante o tratamento térmi- co, visto que pode sobreviver em elevadas temperaturas. U N ID A D E 1 16 Além da presente classificação, os microrganismos podem se dividir entre for- madores de esporos (esporuláveis) e não-esporuláveis. Os esporos são estruturas especiais formadas no interior da célula de alguns gêneros de bactérias (Bacillus e Clostridium) que as protegem de condições adversas do ambiente, por exemplo, as elevadas temperaturas. As células esporuladas ficam em estado “dormente”, no entanto, ao conseguir, novamente, as condições ideais de desenvolvimento, essa célula volta à sua forma vegetativa. Por permitirem que as bactérias tenham maior resistência às elevadas temperaturas, os esporos, também, são considerados preocupantes ao tratamento térmico. Além das características dos microrganismos, o ambiente no qual ele se en- contra é importante e influencia diretamente no seu crescimento. A atividade de água de um alimento, por exemplo, é um fator essencial para o desenvolvimento de microrganismos. Dessa forma, alimentos com maior teor de água livre estão mais propensos à degradação microbiana que os desidratados. Outro fator intrínseco ao alimento que, por sua vez, é importante para o desenvolvimento de microrganismos, é o pH. Os alimentos considerados ácidos (pH inferior a 4,6) apresentam condições inadequadas para o desenvolvimento dos esporos de microrganismos. Por exemplo, uma conserva de palmito com pH inferior a 4,6 apresenta-se como segura após o tratamento térmico adequado, pois os esporos de Clostridium botulinum, microrganismo que produz a toxina que causa o botulismo, não conseguirão se desenvolver nessas condições. Figura 2 - Conserva de palmito A Figura 2 apresenta um bom exemplo de ali- mento cujo baixo pH é obrigatório. A conser- va de palmito, segundo a legislação brasileira, deve ter pH inferior a 4,5 (ANVISA, 1999). Tal exigência se deve às questões de segurança alimentar, visto que, nessas condições, caso os esporos do microrganismo Clostridium bo- tulinum sobrevivam ao tratamento térmico, não conseguirão se desenvolver no alimento e, consequentemente, não ocorrerá a produção de toxina botulínica. U N IC ES U M A R 17 Vamos imaginar que um alimento apresenta 10.000 células microbianas no início de um tratamento térmico. Após determinado período sob tratamento, há a redução de 1 log da carga microbiana, ou seja, 9.000 células microbianas morreram (90%). Isso significa que sobraram apenas 1.000 microrganismos vivos. Fonte: adaptado de Tortora, Funke e Case (2012). explorando Ideias MORTE TÉRMICA DOS MICRORGANISMOS A alta temperatura é letal aos microrganismos e inativa diversas enzimas. Como visto no tópico anterior, cada microrganismo e cada enzima apresenta uma to- lerância diferente e variável ao tratamento térmico. No entanto, independente- mente da resistência térmica dos microrganismos, a morte térmica apresenta-se como uma função linear em escala logarítmica. Apesar de a matemática parecer um pouco complicada, a Figura 3 auxiliará você, aluno(a), de forma simples, a saber o porquê de essa escala logarítmica ser tão importante. 1.000.000 750.000 6,0 5,0 4,0 3,0 2,0 1,0 0 500.000 250.000 1.000 Redução de um log= morte de 90% da população Escala logarítmica Escala aritmética Tempo (min) 10 2 3 4 5 6 lo g1 0 d o nú m er o de cé lu la s so br ev iv en te s N úm er o ar itm ét ic o de cé lu la s so br ev iv en te s Figura 3 - Curvas de destruição térmica de microrganismos: (a) curva de destruição em escala térmica; (b) curva de destruição em escala logarítmica Fonte: adaptada de Tortora, Funke e Case (2012). Como já foi dito, apesar da possível aversão ao logarítmico, essa escala é mui- to útil para estudar a morte térmica de microrganismos, pois ela nos traz uma informação importante: a redução de 1 log significa que 90% da população mi- crobiana, presente em um alimento, morreu graças ao seu tratamento térmico. U N ID A D E 1 18 Como já apresentado, os microrganismos são resistentes ao calor por uma série de razões: o tipo de microrganismo (gênero, espécie, idade da cultura, existência ou não de esporos); características do alimento (presença de sólidos em suspensão, composição, pH, atividade de água, conteúdo (concentração) de sal, característi- cas da embalagem, quando aplicável) e condições presentes durante o tratamento térmico (relação tempo-temperatura). Figura 4 - Células de Clostridium botulinum visualizadas no microscópio O Clostridium botulinum é um microrganismo patogênico esporulável que produz a toxina botulínica que, por sua vez, pode levar à morte. Este MO ocorre espontamente na natureza, no en- tanto, em condições adequadas de anaero- biose, ou seja, na ausência de oxigênio, ele pode produzir a toxina botulínica. Além disso, como os esporos do C. botulinum são muito resistentes ao calor, eles podem ser considerados indicadores biológicos do processamento térmico. Esporos de microrganismos deteriorantes são mais termorresistentes que o C. botulinum, portanto, podem ser considerados no momento de dimensionar o processo e garantir a inocuidade dos alimentos em relação ao botulismo. CINÉTICA DE DESTRUIÇÃO TÉRMICA DE MICROR- GANISMOS Estudos cinéticos são utilizados para analisar a velocidade de acontecimentos de um fenômeno. No caso, ao falar de “cinética de destruição térmica de microrga- nismos”, deseja-se realizar o estudo da velocidade de morte desses seres. Anteriormente, vimos que a taxa de destruição térmica de um microrganismo é uma função logarítmica (Figura 3). No entanto, para deixar esse conceito ainda mais claro, consideraremos o seguinte exemplo: U N IC ES U M A R 19 Figura 5 - Gráfico da redução logarítmica do número de microrganismos em função do tempo Fonte: Schmidell et al. (2001). Pela análise da Figura 5, podemos perceber que existe uma relação entre o tempo e a temperatura do processo na morte de microrganismos: quanto maior a tempe- ratura do processamento térmico, menor o tempo gastopara reduzir determinada população de microrganismos. Além disso, pode-se perceber que a redução do número desses seres, em escala logarítmica, é linear em função do tempo. Dessa forma, pode-se escrever a seguinte equação: Equação 1: ln lnN N k t( )= ( )− ⋅0 Nessa equação, o valor k é a constante de velocidade de destruição térmica dos MO. Tal valor varia em relação ao tipo de microrganismo, às características do alimento e à temperatura do processo. Ele, também, pode ser obtido por experi- mentos ou, ainda, por pesquisas em livros e artigos científicos. A equação 1 tem uma importância muito grande, pois, a partir dela, conhecendo a constante k , o número inicial de microrganismos e o número de microrganismos desejado, no produto final, pode-se calcular o tempo necessário de tratamento térmico. Além disso, para estudos cinéticos, costuma-se definir outro parâmetro im- portante: o tempo de redução decimal ou valor D: Exemplo 1: células de determinado microrganismo que se deseja eliminar encontra-se presente em um alimento. Para a eliminação, realiza-se um teste em que esse alimento será exposto a temperaturas elevadas capazes de matar os microrganismos presentes. Durante o teste, são realizadas contagens do número de células viáveis (vivas) no alimento. Esses resultados seriam similares aos apre- sentados na Figura 5. In N0 In N t T3>T2 T2>T1 T1 U N ID A D E 1 20 ■ Valor D: é o tempo necessário para reduzir o número de microrganismos a 1/10 do valor inicial (ou morte dos 90% dos MO vivos existentes). Esse valor é uma medida importante da resistência térmica de um microrga- nismo (ou de uma enzima). Os processos térmicos de esterilização comercial baseiam-se, geralmente, num conceito de redução de 12D, ou seja, redução de 12 ciclos logarítmicos em relação à população inicial dos microrganismos presentes. Esse valor D pode ser determinado experimentalmente pela construção de um gráfico similar ao apresentado na Figura 5, ou, ainda, ser calculado pela equa- ção 2 a seguir, caso o valor da constante de velocidade de destruição térmica k( ) seja conhecido. Equação 2: D k = 2 303, É importante destacar que o valor D do microrganismo é válido apenas para processos com temperaturas constantes, ou seja, processos isotérmicos. Quando ocorrem processos cuja temperatura varia, como a esterilização de alimentos enlatados em autoclave, deve-se conhecer como o valor de D varia com a tem- peratura. Uma maneira de avaliar isso é pelo parâmetro Valor Z (°C): ■ Valor Z: é o intervalo de temperatura requerido para uma mudança do valor D por um fator de 10. Ele pode ser quantificado pela equação a seguir. Equação 3: log Re ReD D T T Zf f =− −( ) Onde: ■ T fRe = Uma determinada temperatura de referência. ■ D fRe = O valor D na temperatura de referência . Na prática, valores de Z pequenos (5 a 10 °C) indicam forte dependência do in- dicador biológico em relação à temperatura, ou seja, o tempo de redução decimal de determinado microrganismo é muito afetado por mudanças na temperatura. Já valores maiores (20 a 25 °C) indicam que grandes mudanças de temperatura são necessárias para alterar o tempo de redução decimal D. Um valor de 10 °C é típico para bactérias formadoras de esporos, ou seja, são, fortemente, afetados por mudanças de temperaturas. A Figura 6 apresenta um gráfico do T (°C) x Log D. U N IC ES U M A R 21 Figura 6 - Variação do valor D em função da temperatura, indicando o valor de Z igual a 10 Fonte: adaptada de Tadini et al. (2016). Na Figura 6, na região acima da reta, a letalidade é maior e, na região abaixo da reta, a letalidade é menor, portanto, tais condições devem ser evitadas. 100 10 1 0,1 100 105 110 115 120 125 130 135 � [m in ] �[ºC] ���10,0ºC ou K A Figura 7 apresenta uma imagem de autoclave utilizada no tratamento térmico. Nesse tipo de equipamento, a temperatura não é mantida constante, existe uma curva. Dessa forma, ela representa um importante processo em que é necessário conhecer o Valor Z da esterilização de microrganismos. Figura 7 - Imagem de autoclave utilizada para tratamento térmico U N ID A D E 1 22 Existem outros parâmetros estudados na morte térmica dos microrganismos que se relacio- nam fortemente com o tempo de redução decimal (Valor D): o Valor de Esterilização e o Valor F: O Valor de Esterilização VE( ) pode ser determinado pela seguinte equação: VE N N =− log 0 ( ( Onde N é o número desejado de microrganismos ao final do processo de esterilização, e N0é o número de microrganismos no início do processo. Por exemplo, um VE =12 pode, também, ser representado como 12D, ou seja, redu- ção de 12 ciclos logarítmicos do microrganismo que se deseja reduzir. O valor F é o valor do tempo necessário de tratamento térmico para atingir dado valor de esterilização, representado por: F N N D=− log 0 ( (. Fonte: Tadini et al. (2016). explorando Ideias Figura 8 - Curva de aquecimento de autoclaves industriais em processos do tipo batelada Fonte: adaptada de Schmidell et al. (2001). O gráfico da Figura 8 apresenta a curva de aquecimento de uma autoclave utili- zada em processos industriais. Como é possível perceber, existe uma mudança na temperatura durante o tempo de processo e, por esse motivo, existe a necessidade do cálculo do Valor Z. θ Te Tm Tf Ti II I III Te m pe ra tu ra Tempo Algumas horas Legenda: I = Aquecimento; II = Esterilização; III = Resfriamento; Te = Temperatura de esterilização; Ti = Temperatura inicial; Tf = Temperatura final do meio esterilizado (temperatura de fermentação); Tm = Temperatura mínima de esterilização; θ = Tempo de esterilização U N IC ES U M A R 23 �[ m in ] �[ºC] 1000 100 10 1 0,1 0,01 75 80 85 90 95 100 105 110 115 120 125 Destruído Não destruído Vitamina (z=25ºC) Patogênico (z=10ºC) MODIFICAÇÕES NOS ALIMENTOS PELO TRATAMENTO TÉRMICO Figura 9 - Diferença da coloração do tomate in natura e do molho de tomate após processo em alta temperatura Ao projetar um processo de tratamento térmico, deve-se considerar um proces- samento que garanta a segurança dos alimentos pela morte dos microrganismos e, também, deve-se garantir boas características sensoriais e nutricionais. Assim, o processo deve ser conduzido em condições capazes de eliminar os microrga- nismos e manter as alterações dos alimentos em índices mínimos. Sabe-se que o Valor Z de mudanças induzidas pelo calor, como degradação de vitaminas e pigmentos, é, geralmente, superior ao Valor Z dos microrganismos. Desse modo, é observado o comportamento conforme o gráfico da Figura 10. Veja que a reta tracejada representa a curva de destruição das vitaminas, e a reta comum representa a destruição de microrganismos. Figura 10 - Variação do Valor D em função da temperatura / Fonte: adaptada de Tadini et al. (2016). U N ID A D E 1 24 Conforme observado na Figura 7, e de maneira similar ao apresentado anterior- mente, um processo de tratamento térmico deve ser realizado na zona apresenta- da como Zona Ideal. Nesta faixa, ocorre a destruição térmica dos microrganismos sem significativas perdas de vitaminas e pigmentos. CONSIDERAÇÕES FINAIS Esta unidade focou na introdução do conteúdo de tratamento térmico dos ali- mentos com vistas à segurança dos alimentos pela destruição dos microrganis- mos. O aquecimento é uma forma importante (e muito simples) de conservação, que garante, assim, maior durabilidade a produtos alimentícios. Essa forma de tratamento está envolvida em diversos tipos de processamento: de processos industriais avançados até preparos de alimentos caseiros para alimentação fa- miliar, garantindo, assim, a segurança dos produtos fabricados nos mais diversos ambientes de produção/manipulação. Ao elevar a temperatura de um alimento, no entanto, diversas modificações podem acontecer, provocando alterações sensoriais e nutricionais indesejadas: mudanças na coloração,na textura, no sabor e odor e, ainda, perda de nutrientes, como vitaminas e outros compostos bioativos. Além disso, apresentamos, nessa unidade, algumas dependências do tipo de microrganismos e das características dos alimentos no tratamento térmico. O processo de aquecimento de alimentos varia com a composição do alimento: pH, atividade de água, presença de sólidos em suspensão e, ainda, com características dos microrganismos que podem ser encontrados nesse alimento: contagem do número de microrganismos e presença ou ausência de esporos, por exemplo. Frente a tantas dificuldades ao projetar esse tipo de processo, apresentamos ferramentas matemáticas para auxiliar você, aluno(a), a projetar um tratamento térmico: conceito e cálculo do Valor D e do Valor Z. Dessa forma, com todas essas informações, entende-se que você está apto(a) para realizar procedimentos iniciais de tratamentos térmicos e para seguir os estudos neste tema, incluindo outras operações que envolvem o tratamento térmico de alimentos. 25 na prática 1. O tratamento térmico deve ser projetado para eliminar ou reduzir a carga microbiana dos alimentos. Em relação ao fator que afeta o projeto do tratamento térmico de alimentos, assinale a alternativa correta: a) Todos os microrganismos presentes nos alimentos devem ser destruídos por altas temperaturas, visto que todos eles podem causar doenças se ingeridos. b) Os esporos microbianos são estruturas termorresistentes que alguns tipos de microrganismos podem desenvolver quando em condições adversas, como ele- vadas temperaturas. c) Todos os alimentos apresentam pH próximos ao neutro, desse modo, a com- posição de determinado produto alimentício não afeta o tratamento térmico. d) A temperatura é o fator mais importante em um tratamento térmico. Assim, atin- gir a temperatura do processo é suficiente para garantir a segurança do produto, independentemente do tempo de processo. e) O tratamento térmico é utilizado apenas para eliminar microrganismos patogê- nicos presentes em uma amostra de produto alimentício. 2. A respeito do microrganismo Clostridium botulinum, leia as afirmações a seguir: I - É um microrganismo, facilmente, encontrado na natureza. II - O Clostridium botulinum é um microrganismo esporulável e, em condições de anaerobiose, produz a toxina botulínica. III - Esse microrganismo é encontrado apenas em conservas vegetais, como o palmito. É correto o que se afirma em: a) Apenas I e II. b) Apenas II e III. c) Apenas I. d) Apenas I e III. e) I, II e III. 26 na prática 3. São apresentadas, a seguir, algumas afirmações sobre a cinética de destruição térmica de microrganismos. Assinale as afirmações como Verdadeiro (V) ou Falso (F): ( ) A redução de dois logaritmos do valor inicial de células de um microrganismo é equivalente à redução de 2D. ( ) O Valor Z representa o número de reduções decimais necessárias a uma popu- lação de microrganismos para o alimento ser considerado estéril. ( ) A cinética de destruição térmica de microrganismos tem, como objetivo, avaliar a velocidade da morte de microrganismos em condições de altas temperaturas. A sequência correta para a resposta da questão é: a) V; V; F. b) F; F; V. c) V; F; V. d) F; F; F. e) V; V; V. 4. O microrganismo Geobacillus stearothermophillus é um importante indicador de tratamentos térmicos. Em determinado meio de cultura, ele apresenta constante de velocidade de destruição térmica (k) a 110 °C, igual a 0,21 min-1. A partir desses dados, calcule o tempo de redução decimal (Valor D) do Geobacillus stearothermo- phillus a 100 °C. 5. O Coxiella burnetii é um importante microrganismo patogênico presente no leite. Um laticínio contratou você para realizar estudos cinéticos da destruição térmica desse microrganismo e, ao realizar diversos experimentos, você determinou que ele apresenta um Valor Z de 23 °C. O que este valor diz sobre o seu microrganismo? 27 aprimore-se Como visto, o tratamento térmico pode alterar a qualidade nutricional e sensorial dos produtos. Dessa maneira, diversas pesquisas têm sido realizadas com técnicas alternativas para garantir a manutenção das propriedades dos alimentos. A revista Aditivos e Ingredientes apresenta um texto muito interessante sobre uma nova tec- nologia: tratamento a alta pressão. Acompanhe a leitura de alguns trechos do artigo: “A preferência dos consumidores por produtos frescos e com sabor de fresco tem levado ao desenvolvimento de tecnologias de conservação mais brandas. Os produtores de alimentos têm procurado soluções que previnem o crescimento de microrganismos sem comprometer a qualidade e sabor natural dos produtos. No- vos processos estão sendo avaliados e assim, novas técnicas e produtos vêm apa- recendo no mercado. Os processos de conservação que mais chamam a atenção, e o interesse, são aqueles nos quais os produtos são sujeitos a um tratamento físico, ou seja, onde não há adição de nenhum ingrediente conservante, e a temperaturas inferiores àquelas normalmente empregadas na pasteurização”. O primeiro relato do uso de alta pressão como um método de tratamento de ali- mentos foi em 1899, na West Virginia University, nos Estados Unidos, onde os estu- dos foram realizados utilizando alta pressão hidrostática para conservar leite, suco de frutas, carnes e uma variedade de frutas. Foi demonstrado que os microrganismos nesses produtos podem ser destruídos por pressões de 658 MPa (6500atm) por 10 minutos. No início do século XX, pesquisas mostraram que a estrutura proteica na clara do ovo pode ser alterada por altas pressões. No entanto essas pesquisas consta- taram que o potencial era limitado, porque as enzimas não foram, praticamente, afe- tadas, particularmente no leite. Os pesquisadores tiveram dificuldades na fabricação de unidades de alta pressão e nos materiais de embalagem, inadequados para conter os alimentos durante o processamento, e a pesquisa foi interrompida. Os avanços no design de novos sistemas de alta pressão, juntamente com os rápidos avanços em materiais de embalagem durante os anos 1970, permitiram o reinício das pesquisas sobre o tratamento por alta pressão no final de 1980, principalmente no Japão. 28 aprimore-se Em 1990, os primeiros produtos comerciais utilizando o processo de alta pressão foram colocados à venda no Japão. Uma empresa apresentou geleias processadas por alta pressão, incluindo maçã, kiwi, morango e framboesa, em embalagens fle- xíveis de plástico selado; outras duas empresas iniciaram a produção de suco de laranja e de toranja a granel. As geleias apresentaram vida útil de dois meses sob armazenamento refrigerado, tempo considerado necessário para impedir a ativida- de da enzima. Outros produtos foram incluídos, como geleias, molhos, iogurtes de frutas e molhos para salada. A título de curiosidade, caro(a) leitor(a), atualmente, podemos encontrar sucos processados a alta pressão no Brasil, como os oferecidos pela empresa Green People. Fonte: adaptado de Aditivos Ingredientes ([s. d.]). 29 eu recomendo! O link a seguir apresenta uma reportagem em que você encontrará um breve his- tórico dos alimentos enlatados e algumas curiosidades sobre o assunto. Web: https://super.abril.com.br/mundo-estranho/como-e-quando-surgiu-a-comi- da-enlatada/. conecte-se O link a seguir apresenta um pequeno vídeo produzido pelo Discovery Channel sobre a produção de sardinha enlatada. Fique atento(a) aos tratamentos térmicos inseridos nesta produção! Web: https://www.youtube.com/watch?v=Jid4zXBQJmQ. conecte-se Biotecnologia Industrial - Engenharia Bioquímica (volume 2) Ano: 2001 Sinopse: esta edição, revista e ampliada, da série Biotecnologia Industrial, é uma contribuição de grande importância teórica e prática para os múltiplos temas abrangidos pelo assunto. É uma obra elaborada por autores nacionais, coordenados por quatro professores de vasta experiência, representando a condição atual dos estudos e aplicaçõessubordinados ao campo que dá o título à série. O estudo da Biotecnologia Industrial não deve ser enten- dido como apenas uma descrição, mais ou menos pormenorizada, de processos biotecnológicos de interesse prático. Em que pesem a necessidade e a importân- cia dessa descrição, não é ela suficiente para formar a almejada estrutura mental do futuro profissional. Dentro dessa ideia geral, o presente volume, constituído por 22 capítulos, aborda os aspectos relacionados à engenharia dos processos biotecnológicos. filme https://super.abril.com.br/mundo-estranho/como-e-quando-surgiu-a-comida-enlatada/ https://super.abril.com.br/mundo-estranho/como-e-quando-surgiu-a-comida-enlatada/ https://www.youtube.com/watch?v=Jid4zXBQJmQ 2 PLANO DE ESTUDO A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • Trocadores de calor • Pasteurização • Esterilização. OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Apresentar detalhes da transferência de calor e alguns tipos de equipamentos e de processos que utilizam trocadores de calor • Apresentar os fatores que afetam a pasteurização de alimentos: binômio tempo-temperatura • Definir o conceito de esterilização comercial e apresentar as esterilizações contí- nua e em batelada nos equipamentos estáticos e agitados. OPERAÇÕES QUE ENVOLVEM TRANSFERÊNCIA de calor PROFESSOR Dr. André Álvares Monge Neto INTRODUÇÃO Após compreender, na Unidade 1, os conceitos fundamentais da mor- te térmica de microrganismos, a presente unidade tem, como objetivo principal, apresentar operações ocorridas na indústria de alimentos que visem a troca térmica. Essas operações têm, como objetivo principal, o aquecimento (e, algumas vezes, o resfriamento) de produtos alimentícios para garantir a qualidade microbiológica desses. Como consequência da carga microbiana, o alimento apresenta mais durabilidade e encontra-se seguro para o consumo. Nesta unidade, apresentaremos três operações unitárias que focam na alteração da temperatura do alimento: trocadores de calor, pasteu- rização e esterilização. Os trocadores de calor são um tipo de equipamento básico que permite a troca térmica entre dois fluidos circulando sem que eles se misturem. Esse tipo de equipamento pode ser utilizado em diversos processos que envolvam alimentos: pasteurização, resfriamento, destilação, entre outros. Dessa forma, o profissional da área deve compreender os tipos existentes e a forma básica de operação para garantir a segurança alimentar de vários produtos. A pasteurização é uma técnica que visa a eliminar microrganismos pa- togênicos e a reduzir a carga microbiana dos alimentos. Para isso, ela utiliza a combinação de tempo e temperatura (que são relativamente brandos) para garantir a segurança de alimentos, tais como sucos, ovos, leite e cerveja. Por último, a esterilização é um processo que almeja eliminar, inclu- sive, os esporos de microrganismos patogênicos presentes em produtos alimentícios, garantindo, assim, o que se chama de esterilidade comercial. Cada um dos processos relatados aqui, na Unidade 2, é essencial ao desenvolvimento do trabalho de profissionais na área de alimentos. Então, recomendamos uma boa leitura para todos os alunos! U N ID A D E 2 32 1 TROCADORES DE CALOR Muitos processos que acontecem na produção de alimentos, as chamadas opera- ções unitárias, baseiam-se no aquecimento (ou resfriamento) de fluidos − líqui- dos, sólidos particulados e gases − como ponto central de sua ocorrência. Quando se trata de aquecimento dos alimentos com vistas ao processo de produção de um alimento microbiologicamente estável, os trocadores de calor se destacam como importantes equipamentos para essa finalidade. A troca térmica, cuja força motriz é a diferença de temperatura de duas regiões (diferença entre a temperatura de um fluido quente e um fluido frio), tem extrema importância na obtenção dos mais diversos produtos alimentícios. Quanto maior a diferença das temperaturas dos fluidos quente e frio, maior será o potencial térmico e mais eficiente será o processo de troca de calor. O equipamento utilizado com a finalidade de permitir a troca térmica entre duas correntes sem que elas se misturem é chamado de trocador de calor. A pasteu- rização, o aquecimento e o resfriamento de bebidas, como suco e leite, são exemplos da aplicação de trocadores de calor na rotina de uma indústria alimentícia. U N IC ES U M A R 33 TIPOS DE TROCADORES DE CALOR UTILIZADOS NA INDÚSTRIA DE ALIMENTOS Existem disponíveis diversos tipos construtivos de trocador de calor. A escolha do mais adequado depende de vários fatores: custo global, requisitos de processo, características dos fluidos quente e frio, perda de carga e facilidade de manuten- ção e limpeza. Esses fatores devem ser considerados na escolha de um trocador. Trocador de calor de duplo tubo O trocador de calor de duplo tubo é um dos equipamentos de configuração mais simples: dois tubos circulares concêntricos. No tubo interno, circula um dos flui- dos, e o outro fluido circula no espaço intertubos (Figura 1). Esse equipamento é adequado para o escoamento de fluidos em elevadas pressões, com baixa ou média viscosidade (purês, molhos, polpas de frutas e sucos). Por ser uma região mais fácil para limpar, o fluido alimentício circula, geralmente, no tubo central. Consequentemente, o fluido de trabalho – vapor, água aquecida e fria − circula na região de limpeza mais difícil (espaço entre os tubos). Figura 1 - Trocador de calor com duplo tubo. O exterior do tubo central possui aletas para aumentar a troca térmica U N ID A D E 2 34 Esse tipo de equipamento tende a ser pouco com- pacto e, assim, costuma ocupar grandes espaços em plantas industriais que beneficiam alimentos. Desse modo, curvas de ligação podem ser utilizadas para unir vários tubos e alcançar a área de troca térmica desejada. A Figura 2 apresenta o detalhe de uma curva de ligação em um trocador de calor de duplo tubo. Mesmo com essas curvas de ligação, tal equi- pamento é recomendado apenas quando a área de troca térmica é inferior a 20 m². Áreas superiores a isso tornam inviável a sua montagem, pois ocupam espaços muito grandes. Figura 2 - Detalhe das curvas de ligação em trocadores de calor de duplo tubo Trocador de calor de superfície raspada Esse tipo de trocador é muito similar ao apresentado anteriormente, o trocador de calor de duplo tubo. No entanto ele se diferencia pelo fato de possuir um eixo rotativo com lâminas que raspam a superfície do tubo interno. Essa raspagem é contínua e remove a região do fluido alimentício que “já trocou calor” e libera a região do trocador para uma área fria do fluido (Figura 3). Tal característica é benéfica porque evita o superaquecimento de regiões do alimento que po- dem provocar degradação de determinados componentes e causar alterações sensoriais indesejáveis. Saída ânulo Entrada ânulo Entrada tubo Rotação do eixo Superfície de troca de calor Saída tuboLâmina raspadora Produto no tubo Figura 3 - Esquema de partes de trocador de calor tipo superfície raspada Fonte: adaptada de Tadini et al. (2016). U N IC ES U M A R 35 Trocador de calor de casco e tubos Nesse tipo de trocador, um feixe de tubos é preso a um disco denominado es- pelho e todo o sistema é envolto em um corpo cilíndrico denominado casco. Um fluido escoa no interior dos tubos, e o outro, no espaço entre casco e tubo. Para aumentar a eficiência da troca térmica, no interior do casco, há anteparos denominados chicanas, placas que dificultam a passagem do fluido, o que causa mais turbulência no escoamento e força o fluido a mudar de direção. A Figura 4 apresenta o esquema de um trocador de casco e tubos. Trocador de calor de casco e tubo Dois passos no lado dos tubos Entrada do �uido no lado dos tubos Saída do �uido no lado dos tubos Saída do �uido no lado do casco Entrada do �uido no lado do casco Placa de �xação dos tubos Casco Chicanas Figura 4 - Esquema de um trocadorde casco e tubo No escoamento, denomina-se passe ou passo cada vez que um fluido passa pelo trocador de calor. Na figura apresentada, o fluido passa uma única vez pelo casco, ou seja, passo único nesse casco. No lado dos tubos, o fluido realiza duas passa- gens no comprimento do trocador, ou seja, dois passos nos tubos. É comum que haja número par de passos ao lado dos tubos, assim, as tubulações de entrada e saída do trocador de calor ficam na mesma região. U N ID A D E 2 36 Devido à dificuldade de limpeza no interior do casco, é comum que o ali- mento circule pelos tubos, região mais fácil de ser higienizada. Dessa forma, há a garantia de segurança do alimento produzido no momento. A Figura 5 apresenta um trocador de calor casco tubo industrial. Figura 5 - Trocadores de calor: (a) trocador de calor casco tubo industrial; (b) detalhe dos tubos em um trocador de casco tubo desmontado Trocador de calor de placas Esse tipo de equipamento é formado por placas metálicas muito finas e dis- postas, paralelamente, entre si e, assim, canais de escoamento são formados, o que possibilita o escoamento alternado dos fluidos quente e frio por esses canais. As placas devem ser bem vedadas para evitar a contaminação do fluido alimentício com o de utilidade. A Figura 6 apresenta uma imagem do trocador de calor de placas. Figura 6 - Trocador de calor de placas A B U N IC ES U M A R 37 Em geral, as placas apresentam ranhuras para melhorar a troca térmica entre os fluidos e aumentar a sua rigidez (Figura 7). Esse tipo de trocador apresenta uma série de vantagens e, consequentemente, ampla utilização na área de ali- mentos, por exemplo, em processos de pasteurização de leite e bebidas: ■ Equipamento de fácil desmontagem e, por con- sequência, a sua higienização é facilitada. ■ Baixa área metálica devido às boas característi- cas de troca térmica. ■ É recomendado para produtos que podem sofrer degradação pela temperatura, visto que permite o processo com pequena diferença de temperatura entre os lados quente e frio (2 a 3 °C). ■ Curto tempo de retenção do produto no interior do equipamento, diminuindo a degradação tér- mica de determinados tipos de alimentos. Figura 7 - Detalhe das ranhuras das placas de um trocador de calor Apesar das vantagens, os trocadores do tipo placa não são recomendados para líquidos com sólidos suspensos, devido ao alto risco de entupimento. Além disso, a sua utilização com líquidos muito viscosos exigiria elevado custo com o bom- beamento dos fluidos. TIPOS DE ESCOAMENTO Um trocador de calor pode ser classificado de acordo com o tipo de escoamento dos dois fluidos que realizarão a troca térmica. Dessa forma, pode-se classificar o escoamento em dois tipos básicos: ■ Escoamento concorrente: os dois fluidos escoam no mesmo sentido, como mostra a Figura 8 (a). ■ Escoamento em contracorrente: os dois fluidos escoam em sentidos opostos, conforme a Figura 8 (b). U N ID A D E 2 38 Figura 8 - Representação de um trocador de calor de tubos concêntricos com fluxo: (a) con- corrente; (b) contracorrente Fonte: adaptada de Tadini et al. (2016). Trocadores de calor do tipo casco e tubo e do tipo placa podem apresentar es- coamento misto, ou seja, ora os dois fluidos estão em contracorrente, ora estão concorrentes. O potencial térmico no trocador de calor, ou seja, a diferença de temperatura entre fluido quente e frio varia conforme a configuração utilizada (contracorrente ou concorrente), como apresenta a Figura 9. Entrada fria Entrada quente Saída quente Entrada fria Entrada quente Saída quente Figura 9 - Perfis de temperatura ao longo de um trocador de calor: (a) escoamento contracor- rente; (b) escoamento concorrente Fonte: adaptada de Tadini et al. (2016). Ao observar a Figura 9, seja na (a), seja na (b), observa-se que o potencial térmico dos fluidos, no escoamento contracorrente, varia menos ao longo do trocador do que no escoamento concorrente. Por esse motivo, a troca térmica em trocadores de calor que operam em contracorrente é mais efetiva e, por isso, esse arranjo é o preferido em indústrias de alimentos. FQ FF FQ FF LL T T Te Ts ts te Correntes paralelas Correntes opostas U N IC ES U M A R 39 Quando uma indústria precisa trocar calor com fluidos de alta viscosidade, prefere-se a configuração em concorrente. Nesse escoamento, há maior elevação da temperatura do fluido frio no início do equipamento. Com a temperatura mais elevada, ocorre a redução da viscosidade do fluido, o que facilita o processo de troca térmica e reduz os custos com bombeamento dos fluidos. Fonte: adaptado de Tadini et al. (2016). explorando Ideias Na Figura 9, a legenda apresentada é: L = Comprimento do tubo, Te = Tempe- ratura do fluido quente na entrada, Ts = Temperatura do fluido quente na saída, te = Temperatura do fluido frio na entrada, ts = Temperatura do fluido frio na saída. POTENCIAL TÉRMICO MÉDIO Vimos que a diferença de temperatura é a força motriz para a troca térmica em um trocador de calor. Dessa forma, esse parâmetro deve ser considerado no mo- mento de dimensionar esse tipo de projeto. No entanto, como pode-se visualizar na Figura 9, a diferença de temperatura varia ao longo do trocador. Assim, há duas equações para calcular o potencial térmico médio em trocadores de calor. A seguir, são apresentadas as equações para a obtenção da Média Logarítmica da Temperatura (MLDT), muito útil para projetar processos de troca térmica: ■ Para escoamento em contracorrente: (1) ■ Para escoamento concorrente: (2) MLDT T t T t T t T t s e e s s e e s = −( )− −( ) − − ln MLDT T t T t T t T t e e s s e e s s = −( )− −( ) − − ln U N ID A D E 2 40 Onde: T – Temperatura do fluido quente. t – Temperatura do fluido frio. e – Entrada no trocador de calor. s – Saída do trocador de calor. Para trocadores de calor com escoamento misto, utiliza-se uma correção do MLDT. Para fazer essa correção, são utilizadas tabelas para determinar um fator de correção f( ) , que é sempre menor que 1(TADINI et al., 2016). EQUACIONAMENTO PARA DIMENSIONAMENTO DO TROCADOR DE CALOR As operações matemáticas para dimensionamento de trocadores de calor são complexas e baseadas em conhecimentos aprofundados relativos à transferência de calor, à mecânica dos fluidos e à termodinâmica. Para a compreensão básica de como dimensionar um trocador de calor, pensa- remos na Figura 10: Saída do �uido de aquecimento Entrada do �uido de aquecimento Entrada do alimento frio 21 ��� �� �� �� �� ��� ��� ��� �� �� Metal � Entrada do alimento quente Figura 10 - Esquematização simplificada de um trocador de calor e apresentação das condi- ções dos fluidos na entrada e saída Fonte: adaptada de Tosi ([s. d.]). U N IC ES U M A R 41 Como pode ser observado no detalhe da Figura 10, existe uma quantidade de calor trocada entre o fluido quente e o alimento, chamada de Carga Térmica (q). Esta pode ser calculada de três maneiras: ■ Balanço de energia considerando o lado do fluido frio: Q m H m Hf fe s fs+ = (3) ■ Balanço de energia considerando o lado do fluido quente: m H m H Qq qe q qs= + (4) Onde: m = Vazão mássica do fluido quente na entrada (índice e) e saída (índice s). H = Entalpia, Hqe é a entalpia do fluido quente na entrada, e Hqs , a entalpia do fluido quente na saída. ■ Equação envolvendo a determinação do coeficiente global de troca tér- mica U( ) . Q U A MLDT= ⋅ ⋅ (5) Onde: U = Coeficiente global de troca térmica. A = Área de troca térmica. MLDT = Média Logarítmica da Diferença de Temperatura. Sobre as equações, anteriormente, apresentadas, vale ressaltar que elas já estão simplificadas em seu máximo. Além disso, caro(a) aluno(a), devido ao foco prá- tico do perfil profissional que esperamos ao final do curso, aconselhamos que você não fique preocupado(a) com a aplicaçãoprática das equações citadas. No entanto seguem alguns pontos que justificam a apresentação delas: ■ Por se basear em uma operação de troca de calor, é necessária a compreen- são da necessidade de calcular a carga térmica do sistema. ■ É necessário entender que, ao calcular a carga térmica para o fluido frio, deve-se obter um resultado igual à carga térmica para o fluido quente. U N ID A D E 2 42 A presença de incrustações pode facilitar a formação de biofilmes microbianos, compro- metendo a segurança do alimento produzido. (Carmen Cecília Tadini et al.) pensando juntos Isso se baseia no fato de que todos os cálculos referem-se à operação ocorrida simultaneamente no mesmo equipamento. Resumindo: o calor que sai do fluido quente irá para o fluido frio. ■ A equação 3 pode ser chamada equação base do trocador de calor, visto que ela relaciona à carga térmica e à área de troca térmica necessária para o trocador de calor. ■ O coeficiente global de troca térmica U( ) é a soma de todos as resistên- cias do sistema ao processo de troca térmica. Ao iniciar a operação de um trocador de calor, ele se encontra limpo. No entan- to, com o uso constante desse equipamento, ocorre a formação de incrustações, devido ao depósito de matéria orgânica (coagulação de proteínas, caramelização de açúcares). Assim, com o decorrer do processo, a resistência à troca de calor aumenta e altera, também, o coeficiente global dessa troca. Por esse motivo, ao dimensionar um trocador de calor, costuma-se levar em conta o fator de incrustação para cada tipo de alimento e, dessa forma, obter um va- lor de coeficiente global de troca térmica para o equipamento sujo. Esse coeficiente é tabelado para cada tipo de alimento (água, leite, óleos vegetais, xaropes de açúcar). Ao utilizar o coeficiente global de troca térmica sujo, pode-se dimensionar um trocador de calor mais eficiente e que consiga atender às necessidades do processo. Sabe-se que as incrustações, nos equipamentos, representam, no proces- so de troca térmica, um prejuízo para a eficiência energética. Mas esse é um problema que vai além! U N IC ES U M A R 43 CUIDADOS NO DIMENSIONAMENTO E NAS CONDI- ÇÕES DE PROCESSO DE TROCADORES DE CALOR NA INDÚSTRIA DE ALIMENTOS Muitos fatores devem ser avaliados no momento da escolha e do dimensiona- mento de um trocador de calor. A negligência de um deles pode comprometer a eficiência de um processo. Natureza e características dos fluidos Antes de projetar um trocador de calor, deve-se compreender algumas caracte- rísticas dos fluidos que estarão presentes no processo. Viscosidade, condutividade térmica, risco de explosão e aplicação final do fluido na produção dos alimentos são fatores que devem ser avaliados. Pode-se citar alguns exemplos importantes para tais aplicações: ■ Não é recomendada a utilização de trocadores do tipo placas com fluidos de alta viscosidade. ■ Fluidos alimentícios escoam, geralmente, na região mais fácil de higieni- zar: interior do tubo interno. No caso de trocadores do tipo duplo tubo e, também, no interior dos tubos em trocadores do tipo casco-tubo. Temperaturas de operação A diferença de temperatura dos fluidos quente e frio é a força motriz do processo de troca térmica: quanto maior a diferença de temperatura, mais eficiente a troca térmica. Contudo grandes diferenças de temperatura entre os fluidos acarre- tam mais cuidados no projeto do trocador de calor. Nesses casos, deve-se estar atento(a) aos materiais utilizados e usar juntas de expansão. Ainda, na área de alimentos, deve-se prestar atenção às alterações sensoriais e nutricionais causadas por elevadas temperaturas. U N ID A D E 2 44 Pressões de operação No caso da indústrias de alimentos, é necessário que a pressão do fluido alimen- tício no trocador seja maior que a pressão do fluido de trabalho. Dessa forma, caso haja vazamentos, o alimento não será contaminado, detalhe esse muito im- portante na área de segurança alimentar. Velocidades de escoamento A velocidade de escoamento em um trocador de calor influencia alguns aspectos: ■ Eficiência de troca térmica e perda de carga: quanto maior a velocida- de de escoamento, mais eficiente será a troca térmica. Altas velocidades de escoamento, porém, exigem um sistema de bombeamento mais eficiente, visto que se exige mais pressão no fluido. ■ Erosão: a presença de particulados nos fluidos que trocarão calor, prin- cipalmente a altas velocidades de escoamento, pode aumentar a erosão do equipamento, em especial, nas regiões curvas (cotovelos e ligações). ■ Formação de depósitos: é desejável que um fluido alimentício circule no trocador de calor com velocidade, suficientemente, elevada para evitar a decantação de sólidos. Esses depósitos podem facilitar a contaminação microbiológica do produto produzido. U N IC ES U M A R 45 2 PASTEURIZAÇÃO Louis Pasteur foi um cientista francês que dedicou muitos esforços nos estudos da microbiologia. Um dos seus mais importantes trabalhos aconteceu a pedido de mercadores franceses: eles queriam saber por que o vinho e a cerveja aze- davam e, consequentemente, queriam desenvolver um método que impedisse a deterioração das bebidas quando transportadas por longas distâncias. Dessa forma, Pasteur descobriu a causa microbiana da degradação do vinho e solu- cionou o problema ao aquecer as bebidas o suficiente para matar a maioria dos microrganismos que estragavam o produto. Esse processo, hoje, é denominado de pasteurização (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012). A pasteurização é um tratamento térmico que envolve o aquecimento do ali- mento em temperaturas menores que 100 °C e pode ser realizado com o auxílio de um trocador de calor. O seu principal foco é destruir microrganismos pato- gênicos não esporulados dos alimentos e reduzir a carga microbiana do produto. Esse tratamento é recomendado quando a utilização de temperaturas mais elevadas pode interferir nas características sensoriais e nutritivas e quando os agentes microbianos de alterações não são muito termorresistentes. No geral, os alimentos obtidos do processo de pasteurização devem ser consumidos em curto espaço de tempo e necessitam de outros métodos complementares para a sua conservação, como a refrigeração (ex.: leite e sucos pasteurizados). A cerveja, nesse caso, apresenta-se como exceção, pois não necessita de refrigeração para ser conservada por mais tempo (seis meses). U N ID A D E 2 46 A diferença no processamento da cerveja e do chope, é justamente, a etapa de pasteuriza- ção. A cerveja é pasteurizada, e o chope, não. Isso se reflete na durabilidade do produto, enquanto os produtores de cerveja garantem a qualidade, geralmente, por seis meses, o chope dura, no máximo, um mês. Fonte: adaptado de Morado (2017). explorando Ideias A pasteurização pode ser dividida em dois tipos de tratamento, considerando o binômio tempo-temperatura: ■ LTLT ⇒ É uma sigla do inglês que significa baixa temperatura e tempo longo (low temperature, long time). Ex.: 63 °C e 30 minutos, na pasteu- rização do leite. ■ HTST ⇒ É uma sigla do inglês que significa alta temperatura e tempo curto (high temperature, short time). Ex.: 72 °C e 15 segundos, na pas- teurização do leite. O tratamento UHT no leite é feito de forma similar, utilizando temperaturas entre 140 e 150 °C, além de tempos muito curtos (~2 segundos). No entanto ele é considerado um método de esterilização e, por esse motivo, abordaremos em um próximo tópico. PASTEURIZAÇÃO DE ALIMENTOS EMBALADOS Os alimentos podem ser pasteurizados já embalados e o maior exemplo desse tipo de processo é o da cerveja. Quando o alimento é embalado em vidro, geralmente, utiliza-se água quente para reduzir o risco de choque térmico na embalagem e, consequentemente, reduzir quebras. Nesse caso, as diferenças da temperatura entre a embalagem e a água são de 20 °C, durante o aquecimento, e de 10 °C durante o resfriamento. Alimentos embalados em metal ou emplástico podem ser processados com maiores diferenças de temperatura entre a embalagem e a água quente ou, ainda, com uma mistura de ar e vapor. Após a pasteurização, o alimento deve ser resfriado em temperatura ambien- te para diminuir riscos com a corrosão do exterior da embalagem e facilitar a colocação de rótulos. U N IC ES U M A R 47 PASTEURIZAÇÃO DE LÍQUIDOS A GRANEL No caso de pasteurização de líquidos a granel, o equipamento mais utilizado para líquidos com baixa viscosidade, como leite, produtos lácteos, vinho e sucos de frutas, é o trocador de calor de placas. As principais vantagens dos trocadores de calor em relação ao processamento do alimento já embalado são: ■ Tratamento térmico mais uniforme. ■ Equipamento mais simples e menor custo de manutenção. ■ Menos necessidade de espaço. ■ Flexibilidade para diferentes produtos. ■ Maior controle das condições de pasteurização (temperaturas de entrada e saída dos fluidos, por exemplo). U N ID A D E 2 48 3 ESTERILIZAÇÃO Este tipo de processo tem, como objetivo, destruir os microrganismos, inclusive, em suas formas esporuladas, atingindo, assim, a denominada esterilidade co- mercial. No processamento de alimentos, a esterilização pode ser feita de duas formas: em embalagens já preenchidas, como em vegetais enlatados, ou por meio do aquecimento do alimento sem o embalar. Como dito anteriormente, o tratamento UHT é um processo de esterilização em que um trocador de calor é utilizado para o aquecimento de um líquido a temperaturas muito elevadas (até 150 °C) e tempos muito curtos (dois a cinco segundos). Após o tratamento, o alimento deve ser embalado assepticamente, ou seja, evitando a recontaminação. Nos processos de esterilização em batelada, os alimentos são embalados (geralmente, em latas) em temperatura, relativamente, fria após a exaustão do espaço de topo, ou seja, a remoção do ar contido no interior da embalagem. No início do processo, o vapor é aplicado na parte externa da lata. O produto é aque- cido e, no interior da embalagem, cada região terá uma temperatura diferente. Assim, o processo deve prosseguir até que a temperatura mais fria da embalagem atinja a de esterilização. A Figura 11 apresenta a indicação do ponto mais frio (de aquecimento mais lento) em alimentos enlatados. U N IC ES U M A R 49 BA Figura 11 - Ilustração esquemática do ponto mais frio em alimentos enlatados Fonte: adaptada de Tadini et al. (2016). Como exemplo de produtos esterilizados enlatados, pode-se citar carne enlatada e extrato de tomate, como apresentados na Figura 12, (a) e (b), respectivamente. Alimento sólido: transferência de calor por condução Alimento líquido: transferência de calor por convecção natural Ponto mais frio durante o aquecimento Figura 12 - Exemplos de alimentos esterilizados em autoclave: (a) carne; (b) extrato de tomate U N ID A D E 2 50 Conhecer a forma que o calor se transfere por meio do alimento que será proces- sado é essencial para escolher o tipo mais adequado para realizar a esterilização: ■ Em alimentos sólidos, como a carne enlatada (Figura A), o principal me- canismo de transferência de calor é a condução. Dessa forma, pode-se utilizar uma autoclave sem movimentação interna, ou seja, uma autoclave estática. ■ Em alimentos líquidos, como o extrato de tomate (Figura B), o principal mecanismo de transferência de calor é a convecção. Assim, é comum uti- lizar autoclaves agitadas para facilitar o processo de esterilização. O ciclo de esterilização de alimentos processados embalados em autoclave é com- posto pelas seguintes etapas: 1. Purga: essa etapa tem a função de eliminar o ar presente dentro da auto- clave no início do processo. Introduz-se vapor na autoclave, mantendo a válvula de saída aberta. A purga é extremamente importante, visto que a presença de ar diminui a eficiência na transferência de calor para as latas. Portanto, se esta etapa for mal realizada, ocorrerão prejuízos na segurança do alimento produzido. 2. Elevação da temperatura: nessa etapa, o equipamento é, totalmente, fe- chado, a temperatura é controlada e aumenta por meio da injeção de vapor. 3. Manutenção da temperatura: ao atingir a temperatura de processo (geralmente, 121 °C a 1 atm), ela deve ser mantida por todo o período de esterilização. Nessa etapa, cuidados devem ser tomados quando são processados alimentos em embalagens frágeis, como polietileno ou emba- lagens cartonadas, pois a alta pressão pode provocar danos aos recipientes. 4. Resfriamento: nessa fase, ocorre a entrada de água, o que resfria o con- teúdo e provoca a condensação de vapor, diminuindo a pressão dentro do equipamento. Essa é uma fase crítica para a manutenção da qualidade da embalagem, pois há o risco de choque térmico em alimentos embalados em vidros e de inchamento das latas. Para evitar esse tipo de problema, é comum a injeção de ar comprimido no equipamento para compensar a rápida diferença de pressão durante o resfriamento. U N IC ES U M A R 51 CONSIDERAÇÕES FINAIS Como visto em todos os conteúdos estudados até o momento, a segurança de um alimento é atributo essencial para a comercialização de qualquer produto comer- cializado. Umas das formas de garantir os padrões microbiológicos exigidos para a produção de um alimento é a elevação de temperatura e a manutenção dela por determinado período de tempo. Para isso, algumas operações podem ser reali- zadas, como a utilização de trocadores de calor, a pasteurização e a esterilização. Dessa forma, o conhecimento adequado do conteúdo apresentado é essencial para o trabalho do tecnólogo em segurança alimentar. Vimos que os trocadores de calor são equipamentos muito versáteis, que podem ser utilizados em diversos tipos de processos. Além disso, permitem a troca de calor entre fluidos sem que se misturem. Para a utilização desse tipo de equipamento, em indústrias alimentícias, há a necessidade de uma série de cuidados, como: material em aço inox, escoamento do fluido alimentício em regiões de limpeza mais simples e cuidados para que o alimento não se conta- mine com o fluido de trabalho. Pasteurizadores, também, são equipamentos amplamente utilizados no pro- cessamento de diversos alimentos (leite, sucos, polpas, molhos, ovos e cerveja). Essa técnica utiliza temperaturas relativamente brandas e tempos variáveis de processo para garantir a segurança do alimento produzido. A esterilização é um processo destinado a produtos de maior durabilidade, como leite UHT, enlatados e conservas no geral. Essa operação mata, inclusive, esporos de microrganismos patogênicos, garantindo um alimento estéril comercial- mente e, consequentemente, uma longa vida de prateleira para esse tipo de produto. Concluindo, essas operações que se baseiam na troca térmica de produtos alimentícios são essenciais para diversos ramos da produção de alimentos e o conhecimento em relação a essa área é essencial para a segurança dos produtos oferecidos aos consumidores. 52 na prática 1. Em relação a trocadores de calor, leia as seguintes afirmações: I - Nos trocadores de calor tipo casco e tubo, é comum que o fluido alimentício circule no lado do casco por apresentar menor risco de contaminação com óleos lubrificantes. II - A força motriz de um processo de troca térmica é a diferença de temperatura entre fluidos quente e frio. Dessa forma, quanto menor a diferença de tempe- ratura, maior a eficiência do processo. III - O trocador de calor de placas é um equipamento muito versátil. A sua utilização é recomendada para todos os tipos de líquidos, incluindo os viscosos e aqueles com sólidos em suspensão. É correto o que se afirma em: a) Apenas I e II. b) Apenas II e III. c) Apenas II. d) Apenas III. e) Nenhuma das alternativas anteriores está correta. 2. O processo de pasteurização pode ocorrer com o alimento já embalado e com o alimento líquido a granel. Apresente as vantagens da pasteurização de produtos fora das embalagens.53 na prática 3. Sobre o processo de esterilização em autoclave, leia as afirmações a seguir: I - Existem autoclaves agitadas que auxiliam no processo de esterilização de ali- mentos líquidos embalados. II - A principal forma de transferência de calor, no interior de embalagens de ali- mentos sólidos, é a condução. III - Processos de esterilização podem ser realizados unicamente em autoclaves, sejam elas estáticas ou agitadas. É correto o que se afirma em: a) Apenas I e II. b) Apenas II e III. c) Apenas II. d) Apenas III. e) I, II e III. 4. Apresente semelhanças e diferenças entre os trocadores de calor de duplo tubo e os de superfície raspada. 5. Apresente as vantagens da utilização do escoamento em contracorrente, em troca- dores de calor, em comparação ao escoamento concorrente. 54 aprimore-se Os alimentos fornecidos a qualquer consumidor devem estar, microbiologicamente, seguros para garantir o consumo sem prejuízos à saúde humana. No entanto, para determinados públicos, esse cuidado deve ser redobrado. Por exemplo, para os bebês recém-nascidos que, por algum motivo, não podem ser amamentados pelas mães. Assim, os bancos de leite realizam procedimentos variados para garantir a segu- rança dos bebês. Por meio do processo de pasteurização, geralmente, realizado a 62,5 °C por 30 minutos, o leite torna-se seguro para crianças que necessitam con- sumi-lo, tais como recém-nascidos prematuros. Além do tratamento térmico, o leite passa por outros procedimentos, como seleção, classificação e análise microbiológi- ca, capazes de assegurar a qualidade sanitária do material. Além disso, o site VivaBem, hospedado no portal UOL, em 26 de maio de 2019, apresenta uma entrevista muito esclarecedora com uma pesquisadora da área: “As mães que ainda não conseguem ordenhar o próprio leite podem recorrer aos mais de 200 Bancos de Leite Humano distribuídos em todo o País. ‘Mas ainda há muitos mitos a serem derrubados em relação à qualidade do leite doado’, relata Carla [Carla Taddei, Pesquisadora do Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP], ‘Por isso, decidimos abrir outra frente de trabalho e analisar se o leite das doadoras também traz benefí- cios aos bebês’. O que os cientistas queriam entender era se a pasteurização - proces- so térmico que inativa bactérias nocivas à saúde - mantinha as propriedades nutricio- nais do colostro. ‘Os resultados foram surpreendentes’”, comemora a pesquisadora. Como pode ser visto nos trechos apresentados, a pasteurização pode ser realiza- da em diversos ambientes para garantir a segurança alimentar dos indivíduos que consumirão o alimento. Além disso, torna-se uma operação de extrema importância para assegurar a qualidade de alimentos destinados à população com baixa imuni- dade, como é o caso dos bebês recém-nascidos e prematuros. Fonte: o autor. 55 eu recomendo! O link a seguir apresenta um vídeo curto e bem didático sobre trocadores de calor do tipo placa. Nese vídeo, você compreenderá que esse tipo de equipamento é mui- to simples de montar e desmontar e, ainda, compreenderá o seu funcionamento. Web: https://www.youtube.com/watch?v=Jpx_GstLHHM. conecte-se O link a seguir apresenta o processo de produção de ovos pasteurizados. Perceba a importância econômica desse processo para a recuperação de ovos trincados e fissurados e, também, para a segurança alimentar. Web: http://g1.globo.com/am/amazonas/amazonia-rural/videos/v/veja-como-e- -feita-producao-de-ovo-pasteurizado-no-am/4713127/. conecte-se O processo de esterilização garante a conservação de alimentos durante longos períodos de tempo, sem a necessidade de adição de conservantes químicos. O link a seguir apresenta o processo de produção de sardinha enlatada, que exem- plifica muito bem a esterilização aplicada a alimentos. Web: https://www.youtube.com/watch?v=C5Tw8Vni6Ac. conecte-se https://www.youtube.com/watch?v=Jpx_GstLHHM http://g1.globo.com/am/amazonas/amazonia-rural/videos/v/veja-como-e-feita-producao-de-ovo-pasteurizado-no-am/4713127/ http://g1.globo.com/am/amazonas/amazonia-rural/videos/v/veja-como-e-feita-producao-de-ovo-pasteurizado-no-am/4713127/ https://www.youtube.com/watch?v=C5Tw8Vni6Ac 3 PROCESSOS DE SEPARAÇÃO PLANO DE ESTUDO A seguir, apresentam-se as aulas que você estudará nesta unidade: • Sedimentação, decantação e centrifugação • Processos de separação por filtração • Processos de separação por membranas. OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Conhecer aplicações úteis, na indústria de alimentos, das operações unitárias de sedimentação, decantação, centrifugação, filtração e da separação por membranas • Compreender como alguns processos de separação podem influenciar a qualidade de um produto alimentício • Instigar os alu- nos a buscarem mais informações de como as operações unitárias podem produzir alimentos com finalidades específicas. PROFESSOR Dr. André Álvares Monge Neto INTRODUÇÃO A indústria alimentícia deve oferecer produtos seguros a seus consumido- res, que apresentem alta qualidade nutricional e atendam, adequadamente, às necessidades da população. Diante da demanda significativa por pro- dutos altamente específicos, cabe a essa indústria investir, continuamente, em processos tecnológicos (em especial, nos processos de separação) que possibilitem a diversificação do mercado. Os alimentos são compostos por misturas complexas de componentes que, durante o processamento, podem ter as suas propriedades físicas, quí- micas e sensoriais alteradas, por isso, é tão importante o estudo de como os processos de separação influenciam o produto final desejado. Tais processos apresentam ampla gama de aplicações nos alimentos. Em suma, podem ser utilizados para a separação de matérias-primas a partir da recuperação de compostos de alto valor agregado provenientes de resíduos alimentícios. Podem ser aplicados, também, na padroniza- ção das dimensões de um alimento, ou, ainda, utilizados como etapa de pré-tratamento para a obtenção de um produto que possa ser utilizado em outros processos. Os processos de separação consistem em diferentes operações unitá- rias, tais como: destilação, cristalização, peneiramento, filtração, decan- tação, centrifugação, permeação em membranas, entre outras. A escolha do processo a ser utilizado deve ser realizada com base em uma análise prévia do problema que se deseja resolver, levando em consideração as características do alimento, a disponibilidade de equipamentos e os custos envolvidos. O foco da Unidade 3 consiste em fornecer os conceitos básicos de como são realizados alguns processos de separação, em especial, a sedimentação, a decantação, a centrifugação, a filtração e a separação por membranas. De que modo eles influenciam a qualidade do produto produzido, bem como as aplicações mais comuns de cada um deles na área alimentícia. U N ID A D E 3 58 1 SEDIMENTAÇÃO, DECANTAÇÃO e centrifugação Caro(a) leitor(a), na produção de alimentos, por vezes, é necessário separar sus- pensões de sólidos em líquidos ou de líquidos imiscíveis, com vistas a isolar uma das fases e utilizá-la em outras etapas do processo de produção de alimentos. Dentre as muitas operações unitárias para a separação sólido-líquido ou líquido- -líquido se sobressaem as operações de sedimentação, decantação e centrifugação. Essas operações se baseiam em princípios que envolvem os conhecimentos de diversas áreas da física, da química e da matemática, são, relativamente, simples e muito utilizadas na área de alimentos. A maior complexidade deve-se à parte do projeto dos equipamentos a serem utilizados (etapa que, normalmente, cabe ao engenheiro projetista) e não à sua aplicação em si. O objetivo desse tópico consiste em compreender os fundamentos básicos de funcionamento dessas três operações unitárias, apresentando alguns dos equipa- mentos mais comumente utilizados e as principais aplicações a que se destinam. CRITÉRIOS PARA CLASSIFICAR OS MÉTODOS DE SEPARAÇÃO Os métodos de
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