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CAPITULO 1

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Esta obra discute como a didática pode contribuir para os processos de ensino 
e aprendizagem, levantando reflexões sobre a não neutralidade do fazer educativo. 
O campo de estudo da didática propicia a reflexão sobre concepções e práticas 
realizadas nas escolas e possibilita rever e superar encaminhamentos que não 
contribuem com o sucesso dos alunos.
Nesse viés, esta obra permite ao futuro professor analisar as práticas pedagógicas 
e propor planejamentos e estratégias que corroborem com a visão de sujeito que se 
deseja formar: cidadãos reflexivos, críticos e autônomos. 
Com base em uma pedagogia crítica, de processos de ensino que garantam o 
direito à aprendizagem, são propostos, além dos métodos de ensino e de estratégias 
a serem utilizadas pelos docentes, encaminhamentos didático-pedagógicos que 
consideram cada um dos estudantes em sua integralidade.
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58083
Fundação Biblioteca Nacional
ISBN 978-85-387-6411-3
9 7 8 8 5 3 8 7 6 4 1 1 3
Regiane Laura Loureiro
Didática
D
idática
R
egiane Laura Loureiro
Didática
IESDE BRASIL S/A
2019
Regiane Laura Loureiro
Todos os direitos reservados.
IESDE BRASIL S/A. 
Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 
Batel – Curitiba – PR 
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO 
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
L931d Loureiro, Regiane Laura
Didática / Regiane Laura Loureiro. - 1. ed. - Curitiba [PR] : 
IESDE Brasil, 2019. 
114 p.
Inclui bibliografia
 ISBN 978-85-387-6411-3
1. Planejamento educacional. 2. Prática de ensino. I. Título.
19-57050
CDD: 370.71
CDU: 37.02
© 2019 – IESDE BRASIL S/A. 
É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito da autora e do detentor 
dos direitos autorais.
Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: BongkarnThanyakij/iStockphoto
Regiane Laura Loureiro
Mestre em Educação pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Pela mesma 
instituição, é especialista em Organização do Trabalho Pedagógico e graduada em Pedagogia. 
Possui experiência como professora na educação infantil, no ensino fundamental e no ensino 
médio, e como pedagoga em escolas que ofertam educação básica. Atua na formação continuada 
de professores e pedagogos em cursos, palestras e na elaboração de materiais que os subsidiem 
na melhoria dos processos pedagógicos.
1
A sociedade, a escola e a didática
Neste capítulo, situaremos a didática para além dos métodos e das técnicas de ensino, 
refletindo sobre a visão difundida no senso comum, que entende que, por exemplo, determinado 
professor não tem didática, ou ainda que aquela professora tinha um jeito diferente de passar o 
conteúdo, de modo que todos aprendiam.
Para ampliar e aprofundar o assunto, discutiremos o que é, afinal, a didática, contextuali- 
zando-a como uma área da pedagogia com objeto de estudo próprio: os processos de ensino. 
Enfatizaremos a não neutralidade desse fazer pedagógico, trazendo um histórico da construção 
desse campo de estudo, relacionando-o à visão de sociedade, de homem, de sujeito, de escola e de 
ensino e aprendizagem de acordo com o contexto político, econômico e social da época.
Para isso, além de destacarmos alguns fatos históricos da sociedade brasileira, traremos 
pensadores com seus ideários para discutirmos como o campo da didática foi se construindo e 
influenciando os processos de ensino no Brasil.
Com a finalidade de realizar uma síntese dessas reflexões, trataremos da importância 
de o professor realizar questionamentos sobre a sua própria prática, pois estes contribuem 
para a compreensão da não neutralidade do fazer pedagógico. As perguntas, fundamentadas 
em Libâneo (2002), permitem ao docente o entendimento da necessidade de se realizar 
encaminhamentos pedagógicos que contribuam para a construção de uma escola e de uma 
sociedade efetivamente democráticas.
Assim, neste capítulo buscaremos responder às seguintes questões: o que ensinar? Para que 
ensinar? Quem ensina? Para quem se ensina? Como ensinar? Sob que condições se ensina?
1.1 O que é didática?
Guardamos na memória, desde o início de nossa escolaridade, a lembrança de diversos 
professores que passaram por nossas vidas. Podemos nos lembrar de situações que nos fazem 
afirmar, por exemplo, que “aquela professora era muito boa, ela tinha um jeito especial de passar o 
conteúdo” ou “aquele professor sabia o conteúdo, mas não sabia ensinar”.
Esses comentários tão comuns são remetidos à didática, que, embora tenha como objeto 
de estudo os processos de ensino, metodologias e técnicas de transmissão dos conteúdos, 
não está isolada das concepções de estudante, escola, sociedade e sujeito que se deseja formar. 
Dessa maneira, não há didática sem objetivos educacionais mais amplos, pois, se há ensino, ele 
ocorre em determinado contexto sociopolítico.
De acordo com Libâneo (2006), a didática não é uma atividade restrita à sala de aula, ela 
tem por intuito investigar os objetivos, os métodos, os conteúdos e os contextos dessas formas 
de ensinar, considerando as intencionalidades educacionais, ou seja, não há neutralidade no 
Didática10
campo da didática. Portanto, essa área proporciona ao professor conhecimentos teóricos e práticos 
que o incentivam a não utilizar métodos e técnicas sem intenção, pois a didática diz respeito às 
intervenções pedagógicas do professor realizadas de modo a considerar qual sujeito se deseja 
formar para a sociedade.
Nesse sentido, quando o professor se debruça sobre os conhecimentos da didática para 
realizar seu planejamento e as mediações necessárias para que os estudantes aprendam, é necessário 
que também se insira nos campos da história da educação, da filosofia, da psicologia educacional 
e da sociologia, entre outros saberes da pedagogia e de outras ciências, como economia, direito e 
biologia. A Figura 1 ilustra isso.
Figura 1 – Didática e outras disciplinas da área da pedagogia
Currículo e 
Planejamento
Pedagogia
Sociologia 
Educacional
Didática
Psicologia 
Educacional
Biologia 
Educacional
Filosofia 
Educacional
História da 
Educação
Fonte: Elaborada pela autora com base em Libâneo, 2006.
Só assim, fundamentando-se em diversos campos do conhecimento, o professor terá um 
arcabouço teórico para questionar os rumos educacionais, o porquê de utilizar um encaminhamento 
metodológico em sala de aula em detrimento de outro, como trabalhar determinado conteúdo, 
considerando a fase do desenvolvimento dos estudantes e as marcas que serão deixadas na vida 
deles ao terem acesso a determinadas formas de ensinar.
Quando o professor considera esses saberes e busca na didática elementos para organizar o 
trabalho pedagógico, ele tem condições de se autoavaliar, de analisar os motivos da consolidação ou 
não das aprendizagens, de refletir sobre a organização de suas aulas, sua relação com os estudantes, 
suas formas de propor a organização dos grupos de alunos, se está atingindo os objetivos do 
planejamento e do Projeto Político Pedagógico (PPP) da escola. Isso porque a didática:
A sociedade, a escola e a didática 11
trata dos objetivos, condições e meios de realização do processo de ensino, 
ligando meios pedagógico-didáticos a objetivos sociopolíticos. Não há técnica 
pedagógica sem uma concepção de homem e de sociedade, como não há 
concepção de homem e sociedade sem uma competência técnica para realizá-la 
educacionalmente. (LIBÂNEO, 2002, p. 5)
Assim, as intervenções pedagógicas do professor se tornam mais conscientes, uma vez que 
as mediações realizadas com os estudantes são feitas de modo a considerar quem são eles, quais 
seus interesses, seus pontos de vista e seus contextos, levando em conta também de que forma 
atingir esse público, o que deve ser ensinado e em quanto tempo será ensinado.
Como afirma Libâneo (2006), muitas pessoas acreditam que, para ser professor, basta a 
pessoa “levar jeito” ou ter um dom, porém isso não é verídico, pois aformação profissional docente 
requer estudo teórico e também muita prática, o que permite se articular com as exigências da 
sociedade em formar sujeitos em sua dimensão cognitiva, mas também nos aspectos físico-motor, 
social, emocional, artístico e espiritual.
Se desejamos formar cidadãos em sua integralidade, precisamos também formar professores 
que busquem em si mesmos essa integralidade, relacionando teoria e prática em um movimento 
dialético entre agir-refletir-agir. Nesse viés, a didática orienta os professores a agir com base 
em situações concretas, na busca pela consolidação das aprendizagens de todos os estudantes 
(LIBÂNEO, 2002).
Na didática voltada à formação para a cidadania e para as lutas democráticas, o docente busca 
estratégias metodológicas que sejam coerentes com essa concepção. Nesse sentido, ao organizar o 
trabalho pedagógico, lança mão de encaminhamentos que promovam a aprendizagem de todos 
os estudantes, acompanhando o processo de construção do conhecimento de cada um deles. Para 
aqueles que não atingiram os objetivos a serem consolidados no período planejado, o professor 
retoma as suas estratégias, revê suas ações e organiza atividades desafiadoras considerando as 
individualidades, a fim de que nenhum estudante seja excluído do seu direito de aprender.
A didática, portanto, tem um papel fundamental na luta contra o fracasso escolar, pois a 
permanência do estudante e seu sucesso têm uma intrínseca relação com a forma como os objetivos 
educacionais são delineados e com as concepções dispostas no PPP.
Exemplo:
No PPP de uma escola, verificou-se que havia uma concepção de 
aprendizagem voltada à discriminação daqueles que tinham menor 
poder aquisitivo. Ao ser observada tal situação, houve um retorno para 
a escola sobre a inconstitucionalidade desse aspecto considerando que 
isso afetava o direito de todos os estudantes. A escola precisou rever 
o documento, no entanto, após algum tempo, verificaram-se casos de 
estudantes que estavam sendo reprovados, mesmo tendo condições de 
serem aprovados, com o discurso de que determinadas famílias não 
eram merecedoras da aprovação.
Didática12
As concepções direcionam os encaminhamentos metodológicos, a visão de homem, 
sociedade, sujeito, cidadania, educação e da função social da escola. Nesse sentido, se escolhemos 
ser professores, não podemos compactuar com injustiças de qualquer natureza. Assim, quando o 
direito à aprendizagem é ferido de qualquer forma, precisamos nos posicionar e defendê-lo.
A escola tem uma função social a ser cumprida, que não cabe a nenhuma outra instituição. 
É ela que possibilita o acesso aos conhecimentos socialmente elaborados pela humanidade, que, 
segundo Saviani (2007), são os saberes científicos, históricos e culturais. Dessa forma, não se 
justifica repassar a sua função à família ou a outra instituição. Somos os profissionais e precisamos 
considerar que todos os alunos são capazes de aprender, independentemente de sua condição 
econômica ou social.
1.2 Reflexões sobre a didática no Brasil
Quando falamos que, no ato de ensinar, o professor leve em conta o respeito aos sentimentos 
da criança, valorize os interesses dos estudantes e que o trabalho pedagógico seja menos enfadonho 
e haja acesso de todos à escola, talvez pareça que nos referimos a um dos pensadores mais 
modernos da área da pedagogia. Entretanto, estamos nos referindo às ideias de Comenius (1592-
1670) surgidas ainda no século XVI.
Comenius foi um educador protestante que nasceu na Morávia (atual República Checa) e 
em 1649 publicou seu mais famoso livro, A didática magna, no qual destacava o papel do professor 
nos processos de ensino, bem como os métodos e as técnicas que levam à solidez do conhecimento. 
Para o autor, era possível ensinar tudo a todos, e ele questionava o uso da simples memorização 
dos conhecimentos (COMENIUS, 2001). Nessa concepção, a educação visa ao bem-estar do ser 
humano e da sociedade.
Porém, mesmo hoje esse pensamento não é realidade em algumas escolas brasileiras, uma 
vez que ainda há professores que reproduzem as formas tradicionais de ensino a que tiveram 
acesso na época em que eram estudantes. Permanecem ensinando com base na cópia do livro 
didático e na repetição, como se esse tipo de atividade levasse à aprendizagem, desconsiderando 
muitas vezes o que é previsto no PPP da escola e até o seu próprio discurso de que se deseja 
formar um estudante crítico, reflexivo e partícipe da vida em sociedade. Um questionamento 
ecoa diante dessa postura: como formar cidadãos críticos mantendo uma postura conservadora 
e silenciadora das vozes dos estudantes?
Muitas vezes, a prática pedagógica está mais próxima do que predominou no Brasil entre 1549 
e 1789, época da Ratio studiorum ou plano de estudos, que era o método pedagógico dos jesuítas, 
elaborado por Santo Inácio de Loyola em 1552, fundador da Companhia de Jesus. Essa companhia 
tinha como função a evangelização e o desenvolvimento de regras para a vida, promovendo um 
plano geral de ensino a ser utilizado nos colégios jesuíticos.
Os jesuítas foram os principais educadores do Brasil no período colonial, em uma sociedade 
baseada na economia agrário-exportadora e explorada pela metrópole: Portugal. A tarefa 
A sociedade, a escola e a didática 13
educacional era fundamentada na catequização dos indígenas, mas, segundo Veiga (2011), para a 
elite colonial havia uma educação de outro tipo, voltada para o ensino geral e enciclopédico.
Na Ratio studiorum, as verificações avaliativas eram realizadas por provas escritas e orais, nas 
quais os alunos deveriam demonstrar o que aprenderam (VEIGA, 2011). A metodologia explícita 
no plano continha o trinômio: estudar, repetir e disputar.
Em 17591, o Marquês de Pombal (primeiro-ministro de Portugal de 1750 a 1777) expulsou 
os jesuítas do Brasil, com o objetivo de abolir o domínio desses religiosos sobre os indígenas, 
principalmente nas fronteiras do país (MACIEL; NETO, 2006).
Pombal pretendia que os indígenas libertos da escravidão e do domínio dos religiosos se 
miscigenassem e fossem utilizados na mão de obra do Brasil Colônia. Com ideias iluministas, 
o marquês estabeleceu, com base no Alvará de 28 de junho de 1759,
total destruição da organização da educação jesuítica e sua metodologia de 
ensino, tanto no Brasil quanto em Portugal; instituição de aulas de gramática 
latina, de grego e de retórica; criação do cargo de “diretor de estudos” – 
pretendia-se que fosse um órgão administrativo de orientação e fiscalização do 
ensino; introdução das aulas régias – aulas isoladas que substituíram o curso 
secundário de humanidades criado pelos jesuítas; realização de concurso para 
escolha de professores para ministrarem as aulas régias; aprovação e instituição 
das aulas de comércio. (MACIEL; NETO, 2006, p. 470)
Assim, com ideias iluministas, que se difundiam por toda a Europa, o marquês acreditava que 
a educação exigia um novo homem que poderia ser formado apenas por intermédio da educação. 
E esta deveria ser laica, ou seja, livre dos pensamentos religiosos, tanto que instituiu professores 
régios, que eram pagos com honorários vindos da Coroa portuguesa, ocorrendo pela primeira vez 
uma educação custeada pelo Estado.
Quanto aos métodos utilizados, o marquês pretendia substituir aqueles tradicionais de 
ensino, instituindo os que considerassem a formação desse novo homem que utilizava a razão para 
resolver as questões do cotidiano. No entanto, conforme Maciel e Neto (2006), a reforma foi mais 
no conteúdo do que no método, e continuavam as formas de ensinar por meio da memorização e 
da repetição.
Em meados de 1870, suprime-se o ensino religioso confessional das escolas públicas do 
Brasil, após a reforma de Benjamin Constant, sob a influência do positivismo2, definindo-se 
assim a laicidade3 das escolas públicas. Segundo Zanatta (2005), essa reforma utilizava-se 
do método intuitivo, inspirado em Pestalozzi (1746-1827). Esse educador, nascido na Suíça, 
retomou os pressupostosdefendidos por Rousseau (1712-1778), que tinham a educação como 
processo, considerando que seria o contato da criança com o mundo o que despertaria suas 
potencialidades naturais.
1 Nessa época, o Brasil ainda era colônia de Portugal.
2 Auguste Comte (1798-1857) é o principal nome do positivismo. Essa doutrina filosófica afasta a teologia 
definitivamente do conhecimento científico. O único conhecimento verdadeiro seria o científico.
3 Diz respeito à imparcialidade do Estado em assuntos religiosos, sem apoiar ou discriminar qualquer crença religiosa.
Didática14
Outra preocupação colocada por Pestalozzi em seu método era o de aprender fazendo, 
pois era a atividade que levaria ao desenvolvimento das habilidades cognitivas e físicas. Para o 
educador, era necessário o contato dos alunos com os objetos, precedendo o uso de figuras para 
que ocorresse a aprendizagem.
Conforme Veiga (2011), o professor era o centro dos processos de ensino e de aprendizagem 
e o responsável por transmitir o conhecimento enciclopédico aos estudantes.
Essa concepção de ensino tradicional seguia os passos delineados pelo educador alemão 
Johann Friedrich Herbart (1776-1841), que entendia o estudante como uma tábula rasa e delegava 
ao professor o governo, a instrução e a disciplina (VEIGA, 2011).
No governo, o professor agiria para controlar a agitação natural das crianças, formando-as 
para o mundo adulto e possibilitando a instrução, esta é o foco da educação e é por meio dela que o 
docente verifica qual é o interesse dos estudantes. Grande importância também é dada à disciplina, 
que ensina os estudantes a permanecerem no caminho da virtude e da moral. É uma escola com 
disciplina e métodos de ensino rígidos.
Para Herbart, o aluno é um ser passivo que apenas recebe as informações do professor. 
A didática centra-se no intelecto e é fundamentada em regras lógicas, instrucionais. Ao estudante 
cabe o silêncio e por meio da disciplina se mantém a atenção ao conteúdo transmitido (VEIGA, 2011).
De acordo com Marzari (2011), no final da década de 1930 a disciplina de didática começa a 
ser ministrada em cursos de formação de professores, constituída, ainda, de métodos e técnicas de 
ensino descolados de outras discussões sobre contextos históricos, políticos e econômicos, como 
se houvesse neutralidade na ação pedagógica.
Entre 1930 e 1945, houve um cenário de mudanças no campo educacional brasileiro 
decorrente da reorganização dos aspectos econômico e político do país. Após a Revolução de 1930, 
liderada por Getúlio Vargas, que permaneceu no poder até 1954, é criado o Ministério da Educação 
e da Saúde Pública e em 1931 é implantada a Reforma Francisco Campos.
É na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo que se tem 
a didática como disciplina em cursos de graduação, cujo foco era a qualificação do ensino 
(MARZARI 2011).
O discurso liberal escolanovista começa a chegar ao Brasil em meados de 1920, mas é em 
1932, no Manifesto da Escola Nova, que esse movimento se consolida. Na Escola Nova, diferente 
da escola tradicional, cujo foco era o professor, o centro é o estudante. Essa bandeira também foi 
levantada pelo Manifesto dos Pioneiros, de Lourenço Filho, Anísio Teixeira, Fernando de Azevedo 
e outros.
Nesse manifesto, a educação científica é estabelecida como método, fundamentando-se em 
Pestalozzi, Froebel, Dewey, entre outros educadores que defendiam a expansão do ensino público, 
a laicidade e a valorização do estudante como centro do processo educativo.
Segundo Gadotti (1996), na Escola Nova a aprendizagem deveria ser ativa, pois assim a 
criança aprenderia a aprender. Nessa pedagogia, a didática ocorre pela ação do estudante e não pela 
instrução, como na escola tradicional.
A sociedade, a escola e a didática 15
Conforme Veiga (2011), a maior dificuldade da Escola Nova foi a não consideração da 
realidade e da influência econômica, política e histórica nos processos educativos, pois para essa 
pedagogia os problemas e as dificuldades da escola deveriam ser sanados por ela mesma, visto que 
os desafios a serem enfrentados eram técnicos.
De 1945 a 1960, a economia brasileira passou por uma fase de aceleração advinda da 
substituição das importações e da inserção do capital internacional no país. O modelo político 
esteve fundamentado nos pressupostos democráticos e era crescente a participação da população 
na sociedade. Mesmo nesse contexto, a didática perdeu espaço e foi introduzida a disciplina de 
Prática de Ensino, que tinha uma concepção menos abrangente dos processos (VEIGA, 2011).
No período posterior a 1964, os rumos políticos do país se alteraram. Buscava-se a aceleração 
do crescimento econômico e a educação tinha um papel fundamental nesse processo. Nesse viés, o 
tecnicismo assumido pelo grupo militar e burocrático foi instaurado como concepção de trabalho 
(VEIGA, 2011).
Assim, a pedagogia tecnicista via a didática sob a perspectiva ingênua de que os métodos 
e as técnicas utilizados no contexto educacional eram neutros. Diante dessa concepção, o mais 
importante eram os planos, os objetivos instrucionais. O professor era considerado um mero 
executor do que já tinha sido previamente determinado.
Na década de 1980, instala-se a Nova República e com ela a ascensão do governo civil ao 
poder, pondo fim ao governo militar. A luta pela democracia atinge todas as instâncias da sociedade, 
inclusive a escola.
A partir da Constituição de 1988 e da LDB n. 9.394/1996, garante-se ao cidadão brasileiro o 
direito não apenas à matrícula em uma escola, mas também a nela permanecer.
Nesse contexto, a didática contribui para que o professor se politize, não reproduza métodos 
e técnicas em sala de aula desvinculados de contextos. Procura-se refletir sobre os contextos 
histórico, político e culturais da sociedade, da comunidade educativa e dos estudantes, buscando 
analisar as contradições de forma dialética, ou seja, a escola é influenciada pela sociedade, mas 
também a influencia (SAVIANI, 2007).
Já a contemporaneidade, segundo Gadotti (2013), é marcada pelo projeto neoliberal, que 
se consolida nacional e internacionalmente, ampliando a exclusão social e cultural. O centro da 
política neoliberal é o mercado e a não interferência do Estado na economia, assim, abre-se mão de 
um projeto social transformador para formar um sujeito para o mercado de trabalho.
A escola, nessa concepção, forma o homem com competências para se adequar ao mercado 
e não para o trabalho. A didática, nesse contexto, não é reflexiva, mas reproduz métodos e técnicas 
empresariais que visam à qualidade total e não à qualidade educacional dos processos de ensino e 
de aprendizagem. De acordo com Veiga (2011), essa didática prepara para o fazer, para o executar, 
e não para que o sujeito questione a ordem vigente.
Na atualidade, várias são as concepções e também vários os encaminhamentos que decorrem 
dos modos de se conceber a educação, o sujeito, o estudante, os métodos de ensino e as formas de 
aprender. Logo, a didática comprometida com a transformação social, segundo Candau (2012), 
Didática16
procura contextualizar o processo de ensino e de aprendizagem, explicitando pressupostos e a 
visão de homem, sociedade e sujeito que se deseja formar.
Esse autor estabelece diferenças entre a didática instrumental, que tem como pressuposto as 
pedagogias tradicionais, e a didática reflexiva, conforme demonstra o Quadro 1.
Quadro 1 – Diferenças entre a didática instrumental e a didática reflexiva
Didática instrumental Didática reflexiva
Professor Executor Mediador
Estudante Mão de obra futura Sujeito partícipe, cidadão.
Método/técnica Pretensa neutralidade
O método considera o contexto histórico-cultural do sujeito. 
Não há neutralidade. Utiliza o método ou a técnica tendo em 
vista a visão de estudante, de aprendizagem, de sociedade, 
entre outros.
Conteúdo Instrucional e tem utilidade
O professor contextualiza os saberes a que o estudante tem 
direito.
Escola Forma indivíduoscompetentes.
Garantia do direito à aprendizagem, não apenas do acesso 
ao espaço escolar.
Fonte: Elaborado pela autora com base em Candau, 2012.
Assim, é de máxima importância que os professores estejam cientes do papel da didática 
no processo de ensino e de aprendizagem e que a compreendam como elemento essencial na 
construção de uma escola e de uma sociedade mais democráticas. Uma didática reflexiva permite 
ao professor analisar sua prática pedagógica, fornecendo-lhe elementos para uma autoavaliação e 
também para replanejamento de ensino, de aula, bem como possibilidades de buscar novos saberes 
sobre a profissão docente.
1.3 Contextos histórico-culturais e a didática
Como vimos, o campo da didática não é neutro, mas permeado pelos avanços e pelas 
contradições da sociedade. Nesse viés, desmistificar os pressupostos das ações educacionais 
permite ao professor tomar consciência sobre seu trabalho, o que lhe respalda na (re)tomada das 
suas decisões em prol do processo de ensino e de aprendizagem.
Assim, quando o docente toma consciência de que as suas decisões no contexto de sala de 
aula não estão isoladas do contexto macro da sociedade, tem a possibilidade de planejar de maneira 
que o conhecimento socialmente construído e sistematizado seja acessível a todos os estudantes.
Nessa perspectiva, segundo Libâneo (2002; 2006), a didática tem o grande valor de garantir 
aos sujeitos da aprendizagem a consolidação e a apropriação do conhecimento. Não está, portanto, 
isolada, mas inter-relacionada à visão de homem, de sociedade, de sujeito, de criança, de processo 
de ensino e de aprendizagem.
Logo, se objetivamos formar um sujeito autônomo, reflexivo e participativo, os enca- 
minhamentos metodológicos precisam coadunar com o sujeito que se deseja formar. O PPP da 
escola deve ser o norte do professor, pois é nele que estão sistematizadas as concepções a serem 
colocadas em prática nas diferentes ações pedagógicas no cotidiano da instituição.
A sociedade, a escola e a didática 17
Nesse contexto, o objeto de estudo da didática diz respeito à intencionalidade pedagógica 
nos processos de ensino, podendo estar relacionado:
• a uma disciplina de formação que permite ao docente organizar seu trabalho pedagógico 
em sala de aula, discutindo a intencionalidade do processo de ensino;
• ao estudo dos processos de ensino, abrangendo os métodos, as técnicas, as estratégias, 
o conteúdo a ser ensinado, considerando quem é o sujeito da aprendizagem;
• aos contextos históricos, políticos e econômicos que trazem o pano de fundo para que 
o professor, de forma crítica, reflita sobre a função social da escola, tendo em vista o 
sujeito que se quer formar. A didática trará ao docente possibilidades de desvelar a não 
neutralidade do ato educativo: as ações que realiza em sala de aula não estão desvinculadas 
de um contexto maior;
• ao papel do professor na educação contemporânea, de mediador dos processos de 
aprendizagem, uma vez que, se não houve aprendizagem, não houve ensino;
• a possibilitar ao docente condições técnicas de não apenas dominar o conteúdo a ser 
ensinado, mas encontrar as melhores estratégias de ensinar os estudantes de forma que 
eles aprendam. Como afirma Libâneo (2002, p. 12): “para saber História, não basta saber 
História.”;
• “à didática como teoria e como processo de ensino” (LIBÂNEO, 2002, p. 19).
Libâneo (2002) sintetiza os propósitos da didática por meio de perguntas, as quais trazem 
elementos para a compreensão do que essa disciplina significa para a formação do professor, 
conforme exposto na Figura 2.
Figura 2 – Categorias do objeto de estudo da didática
Didática
 Para que ensinar?
O que ensinar?
Quem ensina?
Para quem 
se ensina?
Como ensinar?
Sob que 
condições se 
ensina?
Fonte: Elaborada pela autora com base em Libâneo, 2002.
Didática18
Essas reflexões fornecem ao professor condições de contextualizar os processos de ensino, 
dirimindo qualquer dúvida sobre a não neutralidade da ação pedagógica no ambiente educativo, 
o que amplia a responsabilidade do fazer docente.
Exemplo: 
O professor verifica que no PPP de sua escola a concepção de formação 
humana busca a integralidade do sujeito. Nesse sentido, ao propor 
atividades para o desenvolvimento da habilidade compreensão leitora, 
referente à língua portuguesa, ele deve decidir de que forma organizará 
em seu planejamento estratégias a fim de que o estudante realize leituras 
não apenas fluentes, mas que vão além do texto lido. Para desenvolver 
a habilidade, que é direito de aprendizagem do estudante, o professor 
tem a possibilidade de não apenas utilizar os conteúdos referentes ao 
componente curricular de Língua Portuguesa, mas de relacionar outros 
saberes e outras leituras referentes a outras linguagens e outras áreas 
do conhecimento.
Dessa forma, a didática proporciona ao docente uma leitura ampliada dos contextos de 
aprendizagem, não limitando os processos de ensino a uma suposta neutralidade e ao uso de 
métodos e técnicas. O que não quer dizer que o professor não lance mão de múltiplas estratégias 
que contribuam para a consolidação da aprendizagem dos estudantes.
Considerações finais
Em síntese, o campo da didática é o ensino, porém, este não se resume a estratégias 
metodológicas e técnicas isoladas de um contexto histórico, cultural e econômico.
Assim, quando o professor organiza seu planejamento de ensino e seu plano de aula (que 
trataremos nos próximos capítulos) e escolhe os melhores caminhos para a consolidação dos 
processos de aprendizagem, não está isolado das ideologias, dos conflitos, das tensões e dos 
propósitos da sociedade em que está inserido.
Quando ciente de que seus encaminhamentos metodológicos podem coadunar ou não 
na formação de sujeitos autônomos, críticos e partícipes da vida em sociedade, o professor tem 
mais condições de escolher as melhores formas de ensinar os conteúdos aos quais os estudantes 
têm direito.
Nesse sentido, não há neutralidade na ação do professor e no campo da didática, 
considerando que a ação de ensinar se faz com algum propósito, pois a escola é lugar de planejar, 
de aprender, de partilhar conhecimentos, de interagir, de questionar e de contribuir para a 
formação de sujeitos integrais.

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