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capoeira cultura coorporal

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GINGA E ESTUDO Durante a sequência 
didática sobre a capoeira, as crianças da 
4ª série da EMEF Professor Anézio Cabral
intercalaram momentos de pesquisa a 
rodas de luta. As diferenças foram 
relativizadas: meninos jogavam com 
meninas, negros com brancos e crianças 
maiores com as menores
Endereço da página:
https://novaescola.org.br/conteudo/1218/capoeira-
para-estudar-a-cultura-corporal
Publicado em NOVA ESCOLA Edição 241, 01 de Abril | 2011
Prática Pedagógica
Capoeira para estudar a
cultura corporal
Explorar essa manifestação na escola possibilita vivenciar
e investigar a tradicional prática brasileira e aprofundar
os saberes sobre ela
Camila Monroe
A capoeira permite o estudo de três conteúdos
curriculares diferentes, já que é ao mesmo
tempo uma luta, um jogo e uma dança.
"Prática da cultura corporal brasileira com
longa tradição histórica, pode facilmente ser
incorporada ao planejamento das aulas de
Educação Física", explica Marcos Neira,
professor de Metodologia do Ensino de
Educação Física da Faculdade de Educação da
Universidade de São Paulo (USP). 
Na EMEF Professor Anézio Cabral, em Osasco,
na região metropolitana de São Paulo, a
capoeira fazia parte da rotina dos estudantes.
Por isso, a professora de Educação Física Cindy
Siqueira decidiu trabalhá-la com a turma da 4ª
série. No mapeamento para identificar o que
as crianças já conheciam sobre o tema, no
entanto, a docente identificou uma série de
equívocos e preconceitos. Elas acreditavam, por exemplo, que a luta era
sobretudo praticada por homens negros, como ocorria em sua origem. 
Ela ouviu os argumentos da turma e propôs uma discussão sobre os
praticantes da capoeira (veja a sequência didática). Com base
nessediagnóstico, definiu seu objetivo. "Pretendia desenvolver um trabalho
que não valorizasse apenas a diversidade cultural em termos folclóricos mas
https://novaescola.org.br/conteudo/1218/capoeira-para-estudar-a-cultura-corporal
/educacao-fisica/pratica-pedagogica/vivenciando-capoeira-624762.shtml
que também questionasse a construção dos estereótipos e dos
preconceitos." Para começar, a turma foi dividida em grupos, que simularam
movimentos conhecidos em uma apresentação para os demais colegas.
Quem não sabia nenhum movimento observou os colegas e tentou seguir.
Depois de anotar tudo, Cindy classificou o que foi mostrado pelos alunos em
uma série de listas, como a de conhecimentos ligados a gestos e técnicas
corporais específicos da capoeira, de informações históricas e de
curiosidades diversas. 
Num segundo momento, a professora mostrou para o grupo imagens de
crianças, idosos, homens, mulheres e pessoas com deficiências em rodas de
capoeira. Muitas discussões surgiram. Quando uma aluna afirmou que, para
ela, negros e brancos não poderiam jogar juntos, os colegas a questionaram.
Os argumentos eram bons. Eles citaram exemplos ligados à prática corporal,
como jogos de futebol, esporte em que brancos e negros jogam juntos em
todo o mundo.
Debates mediados aprofundam o aprendizado 
Uma boa ideia para ampliar o conhecimento sobre a capoeira é propor
pesquisas em diversas fontes, como livros e filmes. Cindy usou o curta-
metragem Maré Capoeira, que conta a história de um garoto filho de
capoeiristas ao mesmo tempo em que mostra informações a respeito da
atividade praticada por eles. 
Antes da exibição, ela pediu que os alunos registrassem cenas que lhes
chamassem a atenção durante a exibição do filme. Terminado o filme, foi
proposta uma roda de conversa para a leitura das anotações. Os resultados
foram positivos. "Eles haviam articulado as reflexões feitas durante as aulas
com as novas ideias trazidas pelo filme. Com base nisso, unir as listas
construídas anteriormente com as informações recentes foi fácil", diz Cindy.
Paralelamente à pesquisa, a turma arriscava-se nos movimentos da capoeira
com a orientação da professora. 
Na etapa seguinte, instruídas previamente e com caderno em mãos, as
crianças entrevistaram um mestre de capoeira convidado, Marcos Moreira,
que respondeu a uma série de perguntas e demonstrou movimentos
diferentes dos que conheciam. "Trouxe um profissional que ensina a prática a
crianças com deficiência intelectual. Para a minha turma, isso foi uma grande
descoberta, o que aumentou ainda mais o interesse pelo convidado", afirma
a docente. 
A oportunidade serviu também para aprofundar o conhecimento sobre a
relevância cultural e histórica da manifestação, uma recomendação prevista
nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs). "É importante conhecer e
compreender os contextos das manifestações populares, pois quase sempre
elas estão ligadas a importantes momentos da história de um país", explica
Fabio D?Ângelo, selecionador do Prêmio Victor Civita - Educador Nota 10.
Antes de assistirem ao filme e à entrevista com o convidado, muitas crianças
acreditavam que a capoeira era apenas uma diversão para os escravos vindos
da África. Descobriram, depois, que ela era um instrumento de resistência e
de protesto e que foi proibida pelo governo de 1890 a 1935. 
A participação de Moreira também permitiu à educadora rever suas ações
durante a realização do projeto. "A entrevista desencadeou modificações
significativas no conteúdo do meu planejamento para a execução dos
próximos trabalhos com a capoeira, além de ter sido uma boa forma de
avaliar o que eu havia tratado", diz ela. Na avaliação final, Cindy retomou
questões já problematizadas, leu com os estudantes os registros feitos e
relembrou oralmente algumas das informações tratadas. 
Uma roda de capoeira, da qual participaram todos os alunos, também foi
organizada. Com a ajuda de Moreira, eles compreenderam as letras das
ladainhas (nome que recebem as canções utilizadas) e elaboraram novas
composições. Todas elas eram baseadas em exemplos de canções
apresentadas pela professora e pelo capoeirista. A discussão sobre pares,
que ocorreu inicialmente, foi retomada e ficou decidido que meninos
lutariam com meninas, negros com brancos e crianças maiores com as
menores. As diferenças foram minimizadas e, ao fim, as canções foram
apresentadas em outras rodas de capoeira da comunidade, em que todos
aprenderam que a manifestação deve ser feita sem barreiras.
Reportagem sugerida por 3 leitores: Antonio Damada, Sabará, MG, Geisa Lizana, Santo André, SP, e Mauricio
Priess da Costa, Curitiba, PR
O conteúdo do 6º ao 9º ano
De acordo com os PCNs, o trabalho varia em função do contato anterior dos
alunos com a prática. Caso os jovens do 6º ao 9º já tenham estudado algo sobre
a capoeira, é possível propor outras vertentes, como suas diferenças regionais,
sua transformação ao longo do tempo e outros marcadores sociais que a
influenciam - o caráter religioso, por exemplo. Você também pode organizar uma
visita a uma academia a fim de aproximar os estudantes de rituais que a
envolvem, como o batismo, a roda e as relações hierárquicas.
Quer saber mais?
CONTATOS 
EMEF Professor Anézio Cabral, tel. (11) 3591-7690 
Fabio D'Ângelo 
Marcos Neira 
BIBLIOGRAFIA 
Pedagogia da Cultura Corporal, Marcos Neira e Mario Luiz Ferrari Nunes, 296 págs., Ed. Phorte, 
tel. (11) 3141-1033, 33 reais 
mailto:dangelo.tln@terra.com.br
mailto:mgneira@usp.br
INTERNET 
Íntegra do filme Maré Capoeira.
http://www.abr.io/video-capoeira

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