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Pedagogia do Esporte

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Endereço da página:
https://novaescola.org.br/conteudo/246/a-pedagogia-
do-esporte-e-as-novas-tendencias-metodologicas
Publicado em NOVA ESCOLA Edição 273, 01 de Junho | 2014
Educação física
A Pedagogia do esporte e
as novas tendências
metodológicas
Alcides José Scaglia
Alcides José Scaglia Docente do curso de Ciências do Esporte e coordenador
do Laboratório de Estudos em Pegagogia do Esporte (Lepe), da Universidade
Estadual de Campinas (Unicamp), e pesquisador do Núcleo Interdisciplinar de
Pesquisas Sobre Futebol e Modalidades Lúdicas (Ludens), da Universidade de
https://novaescola.org.br/conteudo/246/a-pedagogia-do-esporte-e-as-novas-tendencias-metodologicas
São Paulo (USP). (Crédito: Arquivo Pessoal/ Alcides José Scaglia)
 
 
Há tempos destaco a necessidade de superar a hegemonia da abordagem
tradicional de ensino dos esportes. Para isso, é necessário levar em conta a
Pedagogia do esporte, que tem como objeto de estudo e intervenção o
processo de ensino, vivência, aprendizagem e treinamento do esporte. Com
ela, ocorre o acúmulo de conhecimento significativo a respeito da
organização, sistematização, aplicação e avaliação das práticas esportivas em
diversos sentidos e manifestações. 
A Pedagogia do esporte é compreendida como uma práxis educativa na qual
as ações e intervenções intencionais revestem-se de exigências pedagógicas,
assumindo a responsabilidade de resolver a relação entre teoria e prática. 
Nessa concepção, os movimentos esportivos não são meros gestos motores,
e sim ações carregadas de desejos, sentidos e significados, podendo ser
analisados somente no contexto mais amplo das ações humanas.
Assim, a Pedagogia do esporte assume o porquê, o para que, o que e o como
ensinar esporte, em diferentes cenários, para distintas faixas etárias. 
Neste artigo, focarei nas questões metodológicas dessa Pedagogia, mais
precisamente na constituição de duas metodologias de ensino diferentes e
divergentes (na verdade, opostas), na tentativa de auxiliar os professores no
desenvolvimento das aulas. A primeira é a analítica/tecnicista, também
chamada de método tradicional de ensino dos esportes, influenciada pelas
teorias empiristas e inatistas. A segunda, denominada novas tendências em
Pedagogia do esporte, é formada por diferentes caminhos construídos sobre
os pressupostos da teoria interacionista e suas abordagens do processo de
ensino (humanista, sociocultural, cognitivista e ecológica).
 
O jeito tecnicista de ensinar
Não é pecado seguir o método tradicional. Mas, é um grave equívoco
desenvolver o método sem compreender as bases teóricas que o sustentam
e também o que desencadeia ações e intenções. 
Valer-se do método tecnicista significa acreditar que o mundo é feito de
padrões e comportamentos manipuláveis. Ou seja, em raciocínio coerente ao
método, respaldado pelo behaviorismo e racionalismo, entende-se que o ser
humano veio ao mundo vazio e precisa ser preenchido de conhecimentos
(modelados e transmitidos) ou, então, precisa ter seus talentos descobertos,
revelados por um experiente observador. 
Se o professor é responsável pelo preenchimento, baseando-se em um
modelo ideal (padrão ouro), ele transmitirá as verdades (informações), de
modo a obter o comportamento que deseja. Ou, certo da existência de
predicados inatos, o professor provocará estímulos que despertem
comportamentos e vocações já interiorizadas. 
Quando denomino uma metodologia de ensino de esportes de tecnicista ou
analítica, quero dizer que, nesse caso, a preocupação principal está
concentrada no desenvolvimento e aperfeiçoamento das técnicas do jogo e
dos movimentos, muitas vezes estereotipados. 
O clássico e genuíno tecnicista, em meio ao desenvolvimento de sua
Pedagogia do esporte, fragmenta o todo (jogo) em partes (fundamentos
técnicos). Cada fração é trabalhada de forma descontextualizada da exigência
do jogo todo, tendo o objetivo do automatismo de um movimento. 
Um adepto da metodologia tecnicista sempre aplica treino de passe dois a
dois a uma modalidade qualquer de jogos coletivos de invasão, cobrando que
o gesto técnico seja executado com maestria e em consonância com os
padrões motores. Em uma aula de voleibol, ele inicia explorando o domínio
da manchete e do toque, além da distribuição espacial dos jogadores durante
o jogo determinada por marcas desenhadas no chão para reconhecimento
dos postos específicos. Na de basquete, começa pela clássica fila para
realização da bandeja, traçando arcos no chão para sincronizar as passadas.
Esse mesmo professor ainda desenvolve treinos de futebol com chutes a gol
em fila, cruzamentos sem defesa, treinos táticos com o time adversário
fazendo sombra etc. 
Nota-se com os exemplos que esse educador não leva em consideração o que
é imprevisível e, concomitantemente, ignora a complexidade existente nos
jogos, além do fato de todos os problemas fundamentais serem resolvidos
previamente pela ação docente. Logo, os alunos não precisam pensar,
somente executam movimentos nas aulas. O passe é reduzido a gesto
(fundamento técnico) que tem um fim em si mesmo, é adestrado. Não se
pensa nele como uma ação de natureza tática, que denota uma intenção não
necessariamente previsível, decorrente das circunstâncias apresentadas
durante a partida. 
O tecnicista assim procede, pois se baseia nas ideias de que com a
especialização das partes terá um todo (jogo) melhor e quanto menos
pensarem os participantes melhor poderão jogar. Basta seguir o que foi
ensinado (ensaiado), treinado e encenado. Esse procedimento didático-
metodológico é o mesmo que alfabetizar com cartilhas, gerando analfabetos
funcionais: eles identificam as letras (que equivalem a gestos técnicos), mas
apresentam grande dificuldade na interpretação de textos (que equivale à
leitura tática do jogo). Em consequência, dependem de um outro traduzir, a
seu modo, o texto (o que, por sua vez, tem relação no esporte com o fato de
o treinador ler o jogo para o jogador, narrar as ações e indicar suas tomadas
de decisão). 
No ensino tradicional, se aprende por modelação e transmissão de um
padrão a ser copiado de modo estereotipado. O melhor é o jogador mais
apto, pois ele mostra com perfeição o movimento que deve ser repetido à
exaustão pelos outros. E o ex-jogador é o mais bem preparado para ser
professor, dispensando até mesmo a necessidade da formação pedagógica. 
Uma característica marcante da abordagem tradicional é o fato de ela não
contemplar a possibilidade de desordem. Ela se baseia nos pressupostos de
ordem e progresso. Um tecnicista ortodoxo nunca imaginaria que o
progresso advém do processo de organização engendrado pela desordem do
sistema. 
Sob a ótica do modelo tecnicista de ensino, os esportes coletivos jamais
poderiam ser ensinados por meio de jogos e da ação tática. O que interessa é
o adestramento do movimento técnico. Mesmo porque jogo é jogo e treino é
treino.
 
O que há de novo
Ao apontar que existem novas tendências em Pedagogia do esporte,
evidentemente, afirmo, ao mesmo tempo, que a Pedagogia tradicional já está
superada. As novas tendências não vêm ajustar o modo de trabalho
tradicional. Elas nascem sob uma nova ótica, ou melhor, sob um emergente
paradigma influenciado diretamente pelas teorias interacionistas. E, quando
se evidencia uma mudança de paradigma como essa, está se afiançando uma
ruptura com um determinado modo de pensar e fazer. 
Se o problema metodológico é de ordem paradigmática, não é possível
modificar a metodologia sem alterar a forma de pensar o processo. Sob essa
perspectiva, os princípios ditam que o processo de ensino do esporte na
escola deve ser centrado na lógica que aproxima as diferentes modalidades.
Por exemplo, analisar o processo com base nas competências para o jogo, na
inteligência interpretativa e na tomada de decisão. 
Assim, os jogos coletivos, levando em conta as metodologias interacionistas,
primam pela exploração das ações do jogo (não dos movimentos ou dos
gestos). O jogo, por sua vez, orientado para ampliar o acervo de
possibilidades de ações(condutas motoras), é um processo aberto a todos,
que não necessita de pré-requisitos para sua prática. Logo, o aluno é
observado como sujeito ativo em seu desenvolvimento, influenciando o
ambiente (que deve ser rico em possibilidades) e sendo influenciado por ele.
Aprende a tomar decisões, busca autonomia aliada à emancipação,
principalmente à medida que toma consciência de suas ações e da
manifestação da lógica do esporte (jogo) em nosso contexto cultural e social. 
As diferentes (não divergentes) propostas metodológicas concebidas em meio
às influências advindas das novas tendências em Pedagogia do esporte
tendem a valorizar o jogo, principalmente quando metodologicamente se
baseiam na constatação de que, de acordo com João Batista Freire, o esporte
é nada mais do que um jogo na sua forma mais socializada. 
Pensar o esporte como jogo permite, assim, conceber uma metodologia
construída com a interação entre diferentes jogos. Trata-se de uma complexa
teia de conhecimentos, o que justifica e respalda a existência de uma grande
família de jogos, com ramificações muito peculiares (por exemplo, os
chamados bola-mão e bola-pé e os intermediados, individuais, de rede, de
campo, de invasão...). Eles, por sua vez, se constroem exponencialmente por
intercâmbios e ressiginificações da cultura lúdica. 
Os procedimentos didático-metodológicos são, nessa perspectiva, pautados
na dinâmica e funcionalidade do jogo e estão baseados nas relações de
cooperação e oposição, individuais e coletivas. A aprendizagem do jogo é
guiada pela compreensão de seus princípios e de sua lógica imanente e da
elaboração dos mecanismos de gestão e regras de ação (ações táticas
intencionais) perante o caráter situacional. O estudante, vivenciando sua
autonomia, é ativo no processo de desenvolvimento. Ele regula as ações e
elabora intencionalmente seus projetos de ação (reescrita do jogo) diante do
processo organizacional do jogo/esporte. Faz isso em consonância com os
referenciais funcionais - princípios operacionais e regras de ação (ataque e
defesa) - e os referenciais estruturais do jogo (invariantes estruturais, tais
como regras, parceiros, adversários, espaço e alvos). 
Um professor influenciado pelos princípios e metodologias interacionistas
tende a ensinar os diferentes esportes por meio de jogos semelhantes,
agrupando-os em blocos que levam em conta a lógica de cada um. Entende
que a tática do passe no basquete é a mesma do polo aquático e dos demais
esportes coletivos. Dessa maneira, se o aluno entende a lógica do passe, mais
facilmente construirá as ações motoras específicas para cada jogo. Ou seja, a
razão de fazer (tática) determinará o modo de fazer (técnica). E, dessa
maneira, ensina-se a jogar certo esporte jogando. 
Logo, no esporte educacional, a prioridade deve ser o ensino das lutas (não
especificamente do judô ou da capoeira), da "nadação" (para só depois
chegar à natação propriamente dita e ao polo aquático), de todos os esportes
com raquetes (não apenas do tênis), dos coletivos de invasão ou daqueles
com rede (em vez da exploração de modalidades separadamente) e dos que
envolvem corridas, saltos e arremessos variados (para só depois abordar o
atletismo). 
Portanto, de acordo com as novas tendências em Pedagogia do esporte, não
é mais valorizado o desenvolvimento das habilidades técnicas fechadas
(como o tecnicismo anuncia), mas, sim, das habilidades reconhecidas como
abertas, em que o padrão motor cede espaço ao contexto do jogo
(ambiente). O professor, nessa situação, é responsável por criar estratégias
didático- metodológicas no jogo e pelo jogo (ambiente de aprendizagem) e
também por guiar os estudantes pelo processo de construção dos
conhecimentos sobre o esporte em suas múltiplas dimensões possíveis.
 
Resumo
Na escola, o trabalho com Educação Física deve ser centrado na técnica
da prática esportiva ou na aprendizagem de esportes por meio de jogos?
Do ponto de vista tradicional, a primeira opção faz mais sentido. Já para
professores com princípios interacionistas, é a segunda que faz a turma
construir saberes sobre diversos esportes. A direção para que apontam
as novas tendências da Pedagogia do esporte também indica que o
ensino deve ser orientado pela segunda ideia.
 
Referências bibliográficas
FREIRE, J. B., SCAGLIA, A. J. Educação como Prática Corporal. São Paulo:
Scipione, 2003.
REVERDITO, R. S., SCAGLIA, A. J. Pedagogia do Esporte. São Paulo: Phorte,
2009.
SCAGLIA, A. J. O Futebol e as Brincadeiras de Bola. São Paulo: Phorte,
2011.
TANI, G., BENTO, J. O., PETERSEN, R. D. S. Pedagogia do Desporto. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan, 2006.
	O jeito tecnicista de ensinar
	O que há de novo
	Resumo
	Referências bibliográficas

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