Logo Passei Direto
Buscar
Material
páginas com resultados encontrados.
páginas com resultados encontrados.

Prévia do material em texto

<p>Direitos Humanos</p><p>Direitos Humanos e saúde</p><p>mental - Curso permanente</p><p>Damião Ximenes Lopes</p><p>Enap, 2023</p><p>Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>Diretoria de Desenvolvimento Profissional</p><p>SAIS - Área 2-A - 70610-900 — Brasília, DF</p><p>Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>Diretoria de Desenvolvimento Profissional</p><p>Conteudista/s</p><p>Ana Raquel Torres Menezes (Conteudista, 2023).</p><p>Curso desenvolvido no âmbito da Diretoria de Desenvolvimento Profissional – DDPRO</p><p>3Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>Sumário</p><p>Módulo 1 – Introdução ao Direito Internacional dos Direitos</p><p>Humanos</p><p>1. Direitos humanos ................................................................................................ 6</p><p>1.1. Conceito de direitos humanos ................................................................................ 6</p><p>1.2. Histórico dos direitos humanos ............................................................................ 13</p><p>1.3 Direitos humanos e direitos fundamentais ......................................................... 21</p><p>2. Dimensões dos Direitos Humanos ................................................................... 26</p><p>2.1. Direitos civis e políticos ........................................................................................... 26</p><p>2.2. Direitos econômicos, sociais e culturais ............................................................... 30</p><p>3. Sistema ONU de Direitos Humanos e Sistemas Regionais de</p><p>Direitos Humanos .................................................................................................. 36</p><p>3.1. Os Sistemas Internacionais de Direitos Humanos .............................................. 36</p><p>3.2. Sistema ONU de Direitos Humanos ..................................................................... 41</p><p>3.3. Sistema Interamericano de Direitos Humanos ................................................... 48</p><p>3.4. Sistema Europeu de Direitos Humanos ............................................................... 58</p><p>3.5. Conclusão ................................................................................................................. 61</p><p>Módulo 2 – Saúde e Direitos Humanos</p><p>1. Os três campos de interação entre direitos humanos e saúde ...................63</p><p>1.1. Violações dos direitos humanos que resultam em problemas de saúde ........ 65</p><p>1.2. Redução da vulnerabilidade no processo saúde-doença por meio dos</p><p>direitos humanos ............................................................................................................ 69</p><p>1.3. Promoção ou violação dos direitos humanos por meio da saúde .................... 72</p><p>2. Direito à saúde ................................................................................................... 78</p><p>2.1. Direito à saúde: conteúdo, elementos e monitoramento .................................. 78</p><p>2.2. Direito à saúde mental ........................................................................................... 88</p><p>3. Direitos humanos aplicados às pessoas sob cuidados em saúde ................93</p><p>3.1. Direito à privacidade .............................................................................................. 93</p><p>3.2. Direito de não ser discriminado ............................................................................ 98</p><p>4Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>3.3. Direito de não ser submetido à tortura, nem a tratamento cruel,</p><p>desumano ou degradante ........................................................................................... 100</p><p>3.4. Direito à liberdade ................................................................................................. 104</p><p>3.5. Conclusão ............................................................................................................... 108</p><p>Módulo 3 – Direitos humanos aplicados às pessoas sob cuidados</p><p>em saúde</p><p>1. Direitos humanos no contexto da saúde mental.........................................109</p><p>1.1. Princípios para a Proteção das Pessoas com Transtorno Mental e para o</p><p>Melhoramento dos Cuidados em Saúde Mental da ONU ....................................... 110</p><p>1.2 Tortura, tratamento desumano e degradante no</p><p>contexto da saúde mental ........................................................................................... 122</p><p>1.3. Convenção sobre os Direitos das Pessoas com</p><p>Deficiência e saúde mental .......................................................................................... 125</p><p>1.4. Quality Rights........................................................................................................... 132</p><p>Módulo 4 – Jurisprudência internacional sobre direitos humanos e</p><p>saúde mental</p><p>1. Relatórios e decisões dos Sistemas ONU, Interamericano e Europeu de</p><p>Direitos Humanos ................................................................................................ 142</p><p>1.1. Relatórios e decisões do Sistema ONU .............................................................. 142</p><p>1.2. Relatórios e decisões do Sistema Interamericano de Direitos Humanos ..... 157</p><p>1.3. Relatórios e decisões do Sistema Europeu de Direitos Humanos ................. 160</p><p>1.4. Conclusão ............................................................................................................... 169</p><p>2. Casos julgados pelos Sistemas Internacionais de Direitos Humanos .......171</p><p>2.1. Caso Ximenes Lopes ............................................................................................ 171</p><p>2.2. Fact Sheet sobre Detenção e Saúde Mental ....................................................... 180</p><p>2.3. Conclusão ............................................................................................................... 185</p><p>Referências ........................................................................................................... 186</p><p>Glossário ............................................................................................................... 197</p><p>5Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>Olá!</p><p>Desejamos boas-vindas ao curso Direitos Humanos e saúde mental – Curso</p><p>permanente Damião Ximenes Lopes.</p><p>Este curso tem o objetivo de apresentar os princípios e as normas de direitos humanos</p><p>que devem reger os cuidados em saúde das pessoas com transtorno mental, bem</p><p>como a sua aplicação, de modo a alcançar as melhores práticas estabelecidas com</p><p>base nos padrões internacionais sobre a matéria.</p><p>Desejamos um excelente estudo!</p><p>6Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>Módulo</p><p>Introdução ao Direito Internacional</p><p>dos Direitos Humanos1</p><p>Olá, estudante!</p><p>Neste primeiro módulo, abordaremos os conceitos de direitos humanos e sua</p><p>perspectiva histórica e reconheceremos as dimensões dos direitos humanos, que</p><p>englobam os direitos civis, políticos, econômicos, sociais e culturais. Por fim, vamos</p><p>conhecer o Sistema ONU de Direitos Humanos e Sistemas Regionais de Direitos</p><p>Humanos.</p><p>1. Direitos humanos</p><p>Compreender o conceito de direitos humanos.</p><p>1.1. Conceito de direitos humanos</p><p>1.1.1. O que são direitos humanos?</p><p>De acordo com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), os direitos</p><p>humanos são normas que reconhecem e protegem a dignidade de todos os seres</p><p>humanos.</p><p>Os direitos humanos orientam o modo como os seres humanos vivem em sociedade</p><p>e entre si, assim como a relação deles com o Estado. Além disso, esses direitos</p><p>determinam obrigações do Estado em relação aos indivíduos. Os direitos humanos</p><p>são direitos que temos simplesmente por existirmos enquanto seres humanos. Eles</p><p>são inerentes a todas as pessoas, independentemente de sua origem nacional ou</p><p>étnica, nacionalidade, sexo, origem, cor, religião, idioma ou qualquer outro “status”.</p><p>7Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>Os direitos à vida, à alimentação adequada, à educação, ao trabalho, à saúde e à</p><p>liberdade são alguns exemplos de direitos humanos.</p><p>Figura 1 - Direito</p><p>à vida</p><p>Figura 2 - Direito à</p><p>alimentação adequada</p><p>e do Estado de direito.</p><p>A aplicação dos seus princípios é</p><p>fundamental para a promoção da</p><p>justiça social e da dignidade humana</p><p>É um instrumento essencial</p><p>na proteção dos direitos</p><p>humanos e na luta contra a</p><p>discriminação e a violência.</p><p>É um instrumento essencial na promoção</p><p>da justiça social, na luta contra a pobreza</p><p>e na garantia da igualdade social.</p><p>Fonte: Elaborado pela autora.</p><p>Além dos instrumentos que compõem a Carta Internacional de Direitos Humanos,</p><p>o conjunto normativo da ONU também contém sete Convenções Temáticas. São</p><p>elas:</p><p>• Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de</p><p>Discriminação Racial (1965)</p><p>• Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de</p><p>Discriminação contra as Mulheres (1979)</p><p>• Convenção contra a Tortura e outras Penas ou Tratamentos Cruéis,</p><p>Desumanos ou Degradantes (1984)</p><p>• Convenção sobre os Direitos da Criança (1989)</p><p>• Convenção Internacional sobre a Proteção dos Direitos de Todos os</p><p>Trabalhadores Migrantes (1990)</p><p>• Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (2006)</p><p>• Convenção Internacional para a Proteção de Todas as Pessoas contra os</p><p>Desaparecimentos Forçados (2006)</p><p>44Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>Cada uma dessas convenções possui um órgão de monitoramento, que supervisiona</p><p>seu cumprimento pelos Estados que ratificaram o tratado correspondente. Por</p><p>exemplo, o órgão que monitora o cumprimento da Convenção sobre os Direitos das</p><p>Pessoas com Deficiência é o Comitê sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência,</p><p>constituído por doze peritos.</p><p>Veja, a seguir, mais algumas informações acerca das duas Convenções mais</p><p>relevantes para o escopo desta unidade: a Convenção contra a Tortura e Outras</p><p>Penas ou Tratamentos Cruéis, Desumanos ou Degradantes e a Convenção</p><p>sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência:</p><p>+ Convenção contra a Tortura e Outras Penas ou Tratamentos Cruéis,</p><p>Desumanos ou Degradantes</p><p>Há diversas normativas no âmbito da ONU sobre o tema da tortura e de outras</p><p>penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes. A Convenção contra a</p><p>Tortura e Outras Penas ou Tratamentos Cruéis, Desumanos ou Degradantes foi</p><p>adotada em 1984.</p><p>De acordo com essa Convenção, tortura é qualquer ato pelo qual dores ou</p><p>sofrimentos agudos físicos ou mentais são infligidos intencionalmente a uma</p><p>pessoa, a fim de:</p><p>• Obter dela ou de uma terceira pessoa informações ou confissões;</p><p>• Castigá-la por ato que ela ou uma terceira pessoa tenha cometido ou</p><p>seja suspeita de ter cometido;</p><p>• Intimidar ou coagir esta pessoa ou outras pessoas por qualquer motivo</p><p>baseado em discriminação de qualquer natureza.</p><p>A tortura se configura quando tais dores ou sofrimentos são infligidos por um</p><p>funcionário público ou outra pessoa no exercício de funções públicas, ou</p><p>por sua instigação, ou com seu consentimento e aquiescência.</p><p>+ Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência</p><p>Assim como a tortura, o assunto dos direitos das pessoas com deficiência também</p><p>foi abordado em outros instrumentos normativos da ONU, como a Declaração</p><p>dos Direitos das Pessoas com Retardo Mental de 1971.</p><p>A definição de pessoa com deficiência, para essa Convenção, compreende as</p><p>pessoas que têm impedimentos de longo prazo de natureza:</p><p>• Física</p><p>• Mental</p><p>• Intelectual</p><p>• Sensorial</p><p>45Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>Em interação com diversas barreiras, esses impedimentos podem obstruir</p><p>a participação plena e efetiva dessa pessoa na sociedade em igualdade de</p><p>condições com as demais pessoas.</p><p>A Convenção defende o igual direito de todas as pessoas com deficiência de viver</p><p>na comunidade com a mesma liberdade de escolha que as demais pessoas.</p><p>Estes são os princípios da Convenção:</p><p>a) O respeito pela dignidade inerente, a autonomia individual, inclusive a</p><p>Liberdade de fazer as próprias escolhas, e a Independência das pessoas</p><p>b) A não discriminação</p><p>c) A plena e efetiva participação e inclusão na sociedade</p><p>d) O respeito pela diferença e pela aceitação das pessoas com deficiência</p><p>como parte da diversidade humana e da humanidade</p><p>e) A igualdade de oportunidades</p><p>f) A Acessibilidade</p><p>g) A igualdade entre o homem e a mulher</p><p>h) O respeito pelo desenvolvimento das capacidades das crianças com</p><p>deficiência e pelo direito das crianças com deficiência de preservar sua</p><p>identidade</p><p>Ainda, a Convenção trata do reconhecimento igual perante a lei, ou seja, as</p><p>pessoas com deficiência têm o direito de ser reconhecidas em qualquer lugar</p><p>como pessoas perante a lei. Isso quer dizer que elas têm capacidade legal e</p><p>igualdade de condições com as demais pessoas em todos os aspectos da vida.</p><p>A Convenção pede que os Estados adotem as medidas apropriadas e efetivas</p><p>para assegurar às pessoas com deficiência o direito de, como as demais pessoas:</p><p>• possuir ou herdar bens;</p><p>• controlar as próprias finanças;</p><p>• ter igual acesso a empréstimos bancários, hipotecas e outras formas de</p><p>crédito financeiro;</p><p>• não serem arbitrariamente destituídas de seus bens.</p><p>Como afirmado anteriormente, o Comitê sobre os Direitos das Pessoas com</p><p>Deficiência monitora essa Convenção.</p><p>3.2.2. Os sistemas de direitos humanos da ONU</p><p>O Sistema ONU de Direitos Humanos é estruturado em dois outros sistemas: o</p><p>Sistema Baseado na Carta da ONU e o Sistema Baseado nos Tratados. Veja a</p><p>seguir uma ilustração dos dois sistemas de direitos humanos da ONU posicionados</p><p>lado a lado, para a melhor compreensão, e consulte-a sempre que necessário:</p><p>46Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>Figura 21 - Os dois sistemas de direitos humanos da ONU</p><p>Fonte: Elaborada pela autora.</p><p>3.2.2.1. O Sistema Baseado na Carta</p><p>O Sistema Baseado na Carta é relacionado aos direitos protegidos pela Carta da</p><p>ONU. Esse sistema é composto pelo Conselho de Direitos Humanos, que é um</p><p>órgão da Carta. O Conselho é de natureza política, por isso não recebe comunicação</p><p>ou petição relacionada a caso singular de violação de direitos humanos, e é composto</p><p>por representantes dos Estados. Como o Conselho de Direitos Humanos se baseia na</p><p>Carta das Nações Unidas, todos os Estados membros se encontram submetidos a ele.</p><p>Na figura a seguir, observe como está estruturado o Sistema Baseado na Carta da</p><p>ONU:</p><p>Figura 22 - Sistema Baseado na Carta da ONU</p><p>Fonte: Elaborada pela autora.</p><p>Veja, a seguir, um resumo das atribuições de cada um desses mecanismos:</p><p>47Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>Quadro 9 – Atribuições dos mecanismos do Sistema Baseado na Carta da ONU</p><p>Mecanismos Funções</p><p>Revisão</p><p>Periódica</p><p>Universal</p><p>A proposta é realizar revisões periódicas universais baseadas</p><p>em informações objetivas e confiáveis sobre o cumprimento</p><p>das obrigações e compromissos de direitos humanos de</p><p>cada Estado, garantindo a universalidade e igualdade de</p><p>tratamento para todos os Estados membros da ONU.</p><p>Os Estados avaliam mutuamente a situação de direitos</p><p>humanos em seus respectivos países e têm a oportunidade</p><p>de demonstrar as ações desenvolvidas para melhorar essa</p><p>situação. O Grupo de Trabalho da RPU é composto pelos</p><p>47 Estados membros do Conselho de Direitos Humanos.</p><p>Procedimento</p><p>de Queixa</p><p>Qualquer pessoa, grupo ou organização pode apresentar</p><p>uma comunicação confidencial sobre violações graves e</p><p>sistemáticas de direitos humanos em qualquer parte do</p><p>mundo. Um grupo de trabalho verifica se a queixa preenche</p><p>os requisitos necessários para prosseguir e, em seguida,</p><p>um outro grupo analisa a comunicação e a resposta do</p><p>Estado denunciado, apresentando um relatório com</p><p>recomendações ao Conselho de Direitos Humanos.</p><p>Procedimentos</p><p>Especiais</p><p>Os procedimentos especiais consistem em especialistas</p><p>independentes que elaboram relatórios e orientações sobre</p><p>direitos humanos, seja a partir de uma perspectiva temática</p><p>ou de um país específico. Eles monitoram e informam sobre</p><p>violações de direitos humanos, recomendando soluções e</p><p>realizando missões para avaliar a situação em um país e</p><p>apresentando relatórios ao Conselho de Direitos</p><p>Humanos.</p><p>Fonte: Elaborado pela autora.</p><p>A seguir, veremos como é estruturado o Sistema Baseado nos Tratados.</p><p>3.2.2.2. O Sistema Baseado nos Tratados</p><p>Esse Sistema é composto por órgãos criados pelos tratados temáticos específicos</p><p>para monitorar o cumprimento desses tratados pelos Estados. O primeiro tratado</p><p>temático foi a Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de</p><p>Discriminação Racial, adotado em 1965.</p><p>Os Órgãos dos Tratados foram criados para monitorar as Convenções Temáticas a</p><p>que se referem. Esses Órgãos monitoram apenas os países que ratificaram aquele</p><p>tratado específico.</p><p>48Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>Os Órgãos são compostos por especialistas independentes que não são escolhidos</p><p>como representantes de Estados, mas sim pela sua expertise. Para realizar suas</p><p>atividades de monitoramento, eles empregam os meios elencados a seguir,</p><p>chamados de mecanismos.</p><p>Além das atividades de monitoramento realizadas, os Órgãos de</p><p>Tratados emitem Comentários Gerais que consistem em estudos</p><p>aprofundados sobre determinados direitos humanos. Esses</p><p>Comentários orientam os Estados sobre como cumprir o tratado</p><p>correlato.</p><p>+ Relatórios</p><p>Os relatórios são enviados dentro de um ou dois anos após o tratado entrar em</p><p>vigor e, depois, seguem a periodicidade de quatro ou cinco anos, a depender do</p><p>tratado.</p><p>Nos relatórios, os Estados informam as medidas, em particular, legislativas,</p><p>judiciais e administrativas adotadas para assegurar a fruição dos direitos</p><p>constantes do tratado, bem como os fatores e as dificuldades que influenciam a</p><p>efetivação dos direitos humanos em seu território.</p><p>+ Comunicações Individuais</p><p>Os órgãos dos tratados podem também receber comunicações de indivíduos</p><p>que aleguem ter sofrido violações de direitos humanos. Para que a comunicação</p><p>seja aceita, alguns requisitos precisam ser atendidos:</p><p>3.3. Sistema Interamericano de Direitos Humanos</p><p>O Sistema Interamericano de Direitos Humanos está constituído no âmbito da</p><p>Organização dos Estados Americanos (OEA). A OEA é o organismo regional mais</p><p>antigo do mundo.. Sua origem remonta à Primeira Conferência Internacional</p><p>Americana realizada em Washington, Estados Unidos (1889-1890).</p><p>O Sistema Interamericano de Direitos Humanos é formado, fundamentalmente,</p><p>pela Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH) e pela Comissão</p><p>Interamericana de Direitos Humanos (CIDH). O Sistema apresenta duas sistemáticas:</p><p>uma baseada na Carta da OEA e outra baseada na Convenção Americana (daqui em</p><p>diante, esta será chamada de “Convenção”).</p><p>A Convenção Americana de Direitos Humanos entrou em vigor</p><p>em 1978 e estabelece as obrigações dos Estados de respeitar e</p><p>proteger os direitos humanos. Esse documento será detalhado</p><p>mais adiante.</p><p>49Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>O Sistema Interamericano de Direitos Humanos está dividido em duas partes:</p><p>1. Mecanismos aplicáveis aos Estados membros da OEA: aplicáveis aos</p><p>Estados que se submetem à Carta da OEA.</p><p>2. Mecanismos concernentes aos Estados que fazem parte da Convenção:</p><p>aplicáveis aos Estados que ratificaram a Convenção Americana e</p><p>reconheceram a jurisdição da Corte IDH.</p><p>3.3.1. Normas do Sistema Interamericano de Direitos Humanos</p><p>O Sistema Interamericano de Direitos Humanos possui dois tipos de instrumentos:</p><p>os gerais e os temáticos.</p><p>Os instrumentos gerais são:</p><p>• Declaração Americana de Direitos e Deveres do Homem</p><p>• Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de San José da</p><p>Costa Rica)</p><p>• Protocolo Adicional à Convenção Americana sobre Direitos Humanos</p><p>em Matéria de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (Protocolo de San</p><p>Salvador)</p><p>Veja, a seguir, algumas informações relevantes sobre esses instrumentos:</p><p>Quadro 10 – Instrumentos gerais do Sistema Interamericano de Direitos Humanos</p><p>Instrumento Ano Escopo Pontos principais</p><p>Declaração Americana</p><p>de Direitos e Deveres</p><p>do Homem</p><p>1948</p><p>Direitos civis,</p><p>políticos,</p><p>econômicos,</p><p>sociais e culturais</p><p>Proclamou o direito à</p><p>saúde. Embora não seja</p><p>legalmente vinculante,</p><p>suas disposições geram</p><p>obrigações legais</p><p>para os Estados</p><p>Convenção Americana</p><p>sobre Direitos</p><p>Humanos (Pacto de</p><p>San José da Costa Rica)</p><p>1969 Direitos civis</p><p>e políticos</p><p>Estabeleceu obrigações</p><p>para os Estados</p><p>respeitarem e protegerem</p><p>os direitos humanos, criou</p><p>a Corte Interamericana</p><p>de Direitos Humanos e</p><p>detalhou as funções da</p><p>Comissão Interamericana</p><p>de Direitos Humanos.</p><p>Também afirma o direito à</p><p>vida, à integridade pessoal</p><p>e à proteção judicial</p><p>50Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>Instrumento Ano Escopo Pontos principais</p><p>Protocolo Adicional</p><p>à Convenção</p><p>Americana sobre</p><p>Direitos Humanos em</p><p>Matéria de Direitos</p><p>Econômicos, Sociais</p><p>e Culturais (Protocolo</p><p>de San Salvador)</p><p>1988</p><p>Direitos</p><p>econômicos,</p><p>sociais e culturais</p><p>Define os direitos à</p><p>educação, saúde, trabalho,</p><p>seguridade social,</p><p>alimentação, cultura</p><p>e ambiente saudável,</p><p>entre outros. Estabelece</p><p>obrigações para os Estados</p><p>garantirem esses direitos</p><p>a todas as pessoas,</p><p>sem discriminação.</p><p>Fonte: Elaborado pela autora.</p><p>Os instrumentos temáticos são os listados a seguir:</p><p>• Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura (1987).</p><p>• Protocolo à Convenção Americana sobre Direitos Humanos Referente à.</p><p>Abolição da Pena de Morte (1990).</p><p>• Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência</p><p>Contra a Mulher (“Convenção de Belém Do Pará”) (1994).</p><p>• Convenção Interamericana para a Eliminação de todas as Formas</p><p>de Discriminação Contra as Pessoas Portadoras de Deficiência (1999)</p><p>• Carta Democrática Interamericana.</p><p>• Convenção Interamericana Contra o Racismo, a Discriminação Racial e</p><p>Formas Conexas de Intolerância (2013).</p><p>• Convenção Interamericana sobre a Proteção dos Direitos Humanos das</p><p>Pessoas Idosas (2015).</p><p>3.3.2. Órgãos do Sistema Interamericano de Direitos Humanos</p><p>Conforme vimos anteriormente, o Sistema Interamericano de Direitos Humanos</p><p>é formado essencialmente por dois órgãos: a CIDH e a Corte IDH. Veja, a seguir,</p><p>importantes informações sobre cada um desses órgãos.</p><p>3.3.2.1. Comissão Interamericana de Direitos Humanos - CIDH</p><p>A CIDH é um órgão principal e autônomo da OEA. Ela está sediada em Washington</p><p>e sua principal competência é a de promover e proteger os direitos humanos</p><p>no continente americano. Para isso, a CIDH conta com o mecanismo de petição</p><p>individual e o monitoramento da situação de direitos humanos nos Estados</p><p>membros da OEA. A Comissão é composta por sete especialistas independentes, ou</p><p>seja, eles não são representantes dos Estados. Os especialistas são escolhidos pela</p><p>Assembleia Geral da OEA.</p><p>51Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>A CIDH possui diversos mecanismos para cumprir o seu papel de monitoramento</p><p>dos direitos humanos pelos Estados membros da OEA. Esses mecanismos são: as</p><p>Visitas in loco, as Relatorias Temáticas, os Relatórios de País e Relatórios Temáticos,</p><p>as Comunicações Interestatais e o Mecanismo de Petição.</p><p>3.3.2.2. Corte Interamericana de Direitos Humanos – Corte IDH</p><p>A Corte IDH está sediada em São José, Costa Rica, e é o órgão judicial do Sistema</p><p>Interamericano de Direitos Humanos e autônomo da OEA. A Corte possui duas</p><p>competências:</p><p>• Competência contenciosa</p><p>• Competência consultiva</p><p>A competência contenciosa da Corte precisa ser reconhecida pelo Estado, no</p><p>momento da ratificação à Convenção Americana ou de adesão a ela, ou em qualquer</p><p>momento posterior. Os Estados que reconheceram a competência contenciosa da</p><p>Corte IDH são: Argentina, Barbados, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica,</p><p>Equador, El Salvador, Guatemala, Haiti, Honduras, México, Nicarágua, Panamá,</p><p>Paraguai, Peru, República Dominicana, Suriname, Trinidade e Tobago, Uruguai e</p><p>Venezuela. Note que os Estados Unidos e o Canadá não se submetem à jurisdição</p><p>contenciosa da Corte IDH.</p><p>É importante notar que os Estados possuem liberdade para se</p><p>submeterem ou não aos pactos internacionais. O Estado brasileiro</p><p>escolheu reconhecer a competência contenciosa da Corte IDH ao</p><p>ratificar a Convenção Americana de Direitos Humanos. Por causa</p><p>desse compromisso assumido internacionalmente, o Brasil</p><p>deverá se submeter às decisões e sentenças proferidas por essa</p><p>Corte.</p><p>A Corte IDH é composta por sete juízes, nacionais dos Estados membros da OEA,</p><p>eleitos pela Assembleia Geral da OEA a título pessoal para um período de seis anos,</p><p>e que só podem ser reeleitos uma vez. As audiências da Corte IDH são, geralmente,</p><p>públicas e podem ocorrer em qualquer Estado membro da OEA, se assim for</p><p>decidido.</p><p>52Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>Figura 23 - Corte Interamericana de Direitos Humanos</p><p>Fonte: https://www.flickr.com/photos/65759046@N07/39665090455</p><p>Na competência consultiva da Corte IDH não há partes ou caso a ser solucionado:</p><p>seu propósito é conferir uma interpretação à Convenção Americana ou outro tratado</p><p>Interamericano de direitos humanos. Sobre a competência consultiva da Corte IDH,</p><p>leia o trecho a seguir.</p><p>No que diz respeito à relação entre a CIDH e a Corte IDH, perceba</p><p>os pontos a seguir:</p><p>• A Corte IDH é a intérprete última da Convenção</p><p>Americana, pois é o único órgão judicial do Sistema</p><p>Interamericano de Direitos Humanos.</p><p>• A Corte IDH não é limitada pelas decisões que a CIDH</p><p>tenha adotado em determinado caso que lhe tenha sido</p><p>submetido anteriormente.</p><p>• A CIDH não é uma primeira instância da Corte IDH,</p><p>logo, a Corte não pode ser considerada uma corte de</p><p>apelação.</p><p>• A Corte IDH pode rever o procedimento adotado pela</p><p>CIDH quando a parte alega que houve grave erro da</p><p>CIDH que comprometeu o direito de defesa da parte.</p><p>https://www.flickr.com/photos/65759046@N07/39665090455</p><p>53Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>3.3.3. Processo Interamericano de Direitos Humanos</p><p>Para que uma demanda de violação de direitos humanos seja apreciada pelos órgãos</p><p>do Sistema Interamericano de Direitos Humanos, é necessário que esta percorra</p><p>um caminho processual.</p><p>A petição ao Sistema Interamericano de Direitos Humanos pode ser apresentada</p><p>por:</p><p>• Pessoa</p><p>• Grupo de pessoas</p><p>• Entidade não governamental legalmente reconhecida em um ou mais</p><p>Estados membros da OEA</p><p>O peticionário, ou seja, quem denuncia a violação de direitos humanos ao Sistema,</p><p>não precisa ser a mesma pessoa que sofreu a violação. Em outras palavras, o</p><p>peticionário não precisa ser a vítima.</p><p>Considerando que apenas pessoas ou grupos de pessoas podem</p><p>ser titulares de direitos humanos, somente estas duas categorias</p><p>podem ser consideradas vítimas no processo perante o Sistema.</p><p>Entidades não governamentais, como organizações da sociedade</p><p>civil, podem ser peticionárias perante o Sistema, porém não</p><p>podem ser vítimas.</p><p>Além disso, ressalta-se que não é necessário ser representado por um advogado</p><p>para apresentar petição ao Sistema.</p><p>O processo perante o Sistema Interamericano de Direitos Humanos será apresentado</p><p>a seguir de forma geral, com vistas a atender às necessidades deste estudo.</p><p>3.3.3.1. O Processo perante a CIDH</p><p>Veja, a seguir, uma tabela com as fases do processo perante a CIDH:</p><p>Quadro 11 - O processo perante a CIDH</p><p>Fase do Processo Descrição</p><p>Apresentação da petição O peticionário apresenta a</p><p>petição perante a CIDH.</p><p>Análise da petição A CIDH analisa a petição e solicita</p><p>informações ao Estado envolvido.</p><p>54Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>Fase do Processo Descrição</p><p>Avaliação dos requisitos</p><p>de admissibilidade</p><p>A CIDH avalia se a petição atende aos</p><p>requisitos de admissibilidade e o Estado</p><p>apresenta suas exceções preliminares.</p><p>Relatório de Admissibilidade/</p><p>Inadmissibilidade</p><p>A CIDH produz um relatório sobre a</p><p>admissibilidade ou inadmissibilidade</p><p>da petição, que é público.</p><p>Abertura do caso</p><p>Se a petição for admitida, o caso é aberto</p><p>e as partes apresentam observações</p><p>adicionais sobre as questões de conteúdo.</p><p>Solução amistosa</p><p>Se possível, os Estados e os peticionários</p><p>chegam a uma solução amistosa, que</p><p>é transmitida às partes e publicada.</p><p>Deliberação sobre o mérito</p><p>A CIDH deliberará sobre o mérito do</p><p>caso e elaborará um relatório com os</p><p>fatos alegados, as provas apresentadas,</p><p>as informações obtidas nas audiências</p><p>e nas investigações in loco.</p><p>Decisão sobre a violação</p><p>Se a CIDH decidir que houve violação, ela</p><p>elaborará um relatório preliminar com</p><p>recomendações ao Estado envolvido.</p><p>Implementação das</p><p>recomendações</p><p>O Estado deve informar as medidas adotadas</p><p>para cumprir as recomendações da CIDH.</p><p>Fonte: Elaborado pela autora.</p><p>É importante lembrar que o processo perante a CIDH pode variar de acordo com o</p><p>caso e as circunstâncias específicas envolvidas. As fases apresentadas na tabela são</p><p>uma síntese geral do processo.</p><p>3.3.3.2. O Processo perante a Corte IDH</p><p>A tramitação do caso na Corte IDH se divide em três fases:</p><p>1. Procedimento Escrito</p><p>2. Procedimento Oral</p><p>3. Procedimento Escrito Final</p><p>A CIDH submeterá um caso à Corte IDH por meio de relatório que contenha todos</p><p>os fatos supostamente violadores dos direitos humanos, inclusive a identificação</p><p>das supostas vítimas. Um Estado parte também poderá submeter um caso à Corte,</p><p>55Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>conforme disposto no artigo 61 da Convenção Americana.</p><p>A apresentação do caso será notificada à presidência da Corte e aos juízes, ao Estado</p><p>demandado, à suposta vítima e seus representantes, e à CIDH (se não tiver sido ela</p><p>quem apresentou o caso).</p><p>Na fase do procedimento escrito, uma vez notificada a vítima ou seus representantes,</p><p>esta deverá apresentar à Corte IDH, no prazo definido, seu escrito de petições,</p><p>argumentos e provas, também chamado de EPAP.</p><p>Na fase do procedimento final escrito, as vítimas (ou seus representantes) e o</p><p>Estado demandado (e, se for o caso, o Estado demandante) têm a oportunidade de</p><p>apresentar à Corte as alegações finais escritas, ou seja, suas observações quanto</p><p>ao conteúdo do processo, antes de ser proferida a sentença. A CIDH também pode,</p><p>se entender conveniente, apresentar as suas observações finais escritas.</p><p>A Corte irá, então, deliberar privadamente e aprovar a sentença, que será notificada</p><p>às partes.</p><p>Um ponto de destaque é que, em caso de extrema gravidade e urgência, quando for</p><p>necessário evitar danos irreparáveis às pessoas, a Corte IDH poderá, nos assuntos de</p><p>que estiver conhecendo, tomar as medidas provisórias que considerar pertinentes.</p><p>As medidas provisórias podem ser adotadas pela Corte por iniciativa própria ou a</p><p>pedido da suposta vítima ou de seus representantes. A Corte pode, ainda, atuar a</p><p>pedido da CIDH, quando se tratar de assuntos que ainda não estiverem submetidos</p><p>ao seu conhecimento. A supervisão do cumprimento dessas medidas será feita com</p><p>base nos relatórios do Estado e nas observações correlatas apresentadas pelos</p><p>representantes dos beneficiários, bem como nas observações da CIDH.</p><p>Uma vez proferida a sentença, cabe à Corte IDH assegurar que os</p><p>direitos proferidos na decisão se tornem realidade. Assim, a Corte</p><p>é competente para supervisionar o cumprimento da sentença.</p><p>A supervisão do cumprimento da sentença é feita por meio de:</p><p>• Relatórios elaborados pelo Estado indicando as medidas adotadas para</p><p>cumprir a sentença</p><p>• Observações apresentadas pelos representantes dos beneficiários às</p><p>medidas que o Estado afirme ter adotado</p><p>• Observações da CIDH aos Relatórios do Estado e aos apontamentos dos</p><p>beneficiários</p><p>A Corte IDH pode, quando entender conveniente, convocar as partes para uma</p><p>audiência de supervisão da sentença. A Corte IDH apontará à Assembleia Geral da</p><p>OEA os casos em que o Estado não tenha dado cumprimento à sua sentença com</p><p>as recomendações correlatas.</p><p>56Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>Quando a Corte IDH decidir na sentença que houve violação de direitos humanos,</p><p>fará três determinações:</p><p>1. Que se assegure à vítima a fruição do direito ou da liberdade que foi</p><p>violado;</p><p>2. Que sejam reparadas as consequências da situação</p><p>que tenha</p><p>configurado a violação de seus direitos, quando couber;</p><p>3. O pagamento de indenização justa à parte lesada.</p><p>Sobre isso, veja a seguir trechos da sentença do caso Ximenes Lopes vs. Brasil, de</p><p>2006. Na sentença, a Corte dispõe que:</p><p>6. O Estado deve garantir, em um prazo razoável, que o processo interno destinado</p><p>a investigar e sancionar os responsáveis pelos fatos deste caso surta seus devidos</p><p>efeitos, nos termos dos parágrafos 245 a 248 da presente Sentença. (CORTE IDH,</p><p>2006, p. 84)</p><p>No ponto nº 6, a Corte exige que o estado investigue os responsáveis pela violação</p><p>e os puna de acordo com a lei interna brasileira.</p><p>7. O Estado deve publicar, no prazo de seis meses, no Diário Oficial e em outro</p><p>jornal de ampla circulação nacional, uma só vez, o Capítulo VII relativo aos fatos</p><p>provados desta Sentença, sem as respectivas notas de pé de página, bem como</p><p>sua parte resolutiva, nos termos do parágrafo 249 da presente Sentença. (CORTE</p><p>IDH, 2006, p. 84)</p><p>Nesse ponto resolutivo, a Corte exige que o Estado publique no Diário Oficial da</p><p>União e em outro jornal trechos da sentença, visando dar publicidade ao caso.</p><p>8. O Estado deve continuar a desenvolver um programa de formação e capacitação</p><p>para o pessoal médico, de psiquiatria e psicologia, de enfermagem e auxiliares</p><p>de enfermagem e para todas as pessoas vinculadas ao atendimento de saúde</p><p>57Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>mental, em especial sobre os princípios que devem reger o trato das pessoas</p><p>portadoras de deficiência mental, conforme os padrões internacionais sobre a</p><p>matéria e aqueles dispostos nesta Sentença, nos termos do parágrafo 250 da</p><p>presente Sentença. (CORTE IDH, 2006, p. 84)</p><p>O ponto nº 8 da sentença estabelece uma garantia de não</p><p>repetição, ou seja, a Corte exige do Estado uma medida que</p><p>contribua para que as violações ocorridas no caso não voltem a</p><p>ocorrer no futuro. No caso do ponto nº 8, a medida exigida é a</p><p>capacitação dos profissionais da área da saúde sobre os princípios</p><p>e padrões internacionais que devem nortear os cuidados em</p><p>saúde das pessoas com transtornos mentais.</p><p>9. O Estado deve pagar em dinheiro para as senhoras Albertina Viana Lopes</p><p>e Irene Ximenes Lopes Miranda, no prazo de um ano, a título de indenização</p><p>por dano material, a quantia fixada nos parágrafos 225 e 226, nos termos dos</p><p>parágrafos 224 a 226 da presente Sentença.</p><p>10. O Estado deve pagar em dinheiro para as senhoras Albertina Viana Lopes</p><p>e Irene Ximenes Lopes Miranda e para os senhores Francisco Leopoldino Lopes</p><p>e Cosme Ximenes Lopes, no prazo de um ano, a título de indenização por dano</p><p>imaterial, a quantia fixada no parágrafo 238, nos termos dos parágrafos 237 a</p><p>239 da presente Sentença. (CORTE IDH, 2006, p. 84)</p><p>Os pontos nº 9 e nº 10 ordenam o pagamento das indenizações devidas aos familiares</p><p>da vítima.</p><p>12. Supervisionará o cumprimento íntegro desta Sentença e dará por concluído</p><p>este caso uma vez que o Estado tenha dado cabal cumprimento ao disposto nesta</p><p>Sentença. No prazo de um ano, contado a partir da notificação desta Sentença,</p><p>o Estado deverá apresentar à Corte relatório sobre as medidas adotadas para o</p><p>seu cumprimento. (CORTE IDH, 2006, p. 84)</p><p>Nesse ponto, a Corte informa que irá supervisionar o cumprimento da sentença, e</p><p>que só considerará o caso como concluído quando todos os dispositivos tiverem sido</p><p>cumpridos. O ponto também exige que o Estado apresente um relatório informando</p><p>as atividades que realizou no sentido de cumprir a sentença.</p><p>58Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>A obrigação do Estado de cumprir imediatamente as decisões</p><p>judiciais da Corte é parte intrínseca da sua obrigação de cumprir</p><p>de boa-fé as disposições da Convenção Americana, e vincula</p><p>todos os Poderes e órgãos desse Estado, incluindo os membros</p><p>do Poder Legislativo, seus juízes e os órgãos vinculados à</p><p>administração de justiça. Por isso, não cabe a tais agentes</p><p>públicos invocar disposições do direito interno (as leis do país)</p><p>para se esquivar de cumprir as sentenças da Corte IDH, conforme</p><p>falamos anteriormente.</p><p>O Estado brasileiro executa a sentença da Corte IDH espontaneamente, ou seja,</p><p>sem a necessidade de homologação pelo Superior Tribunal de Justiça ou de que seja</p><p>proposta qualquer medida judicial.</p><p>3.4. Sistema Europeu de Direitos Humanos</p><p>O Sistema Europeu de Direitos Humanos iniciou-se por meio da adoção da</p><p>Convenção para a Proteção dos Direitos Humanos e das Liberdades Fundamentais,</p><p>no ano de 1950, pelo Conselho da Europa. O Conselho da Europa é uma organização</p><p>internacional com sede em Estrasburgo.</p><p>3.4.1. Órgãos do Sistema Europeu</p><p>A disposição dos órgãos de direitos humanos do Conselho da Europa se baseia em</p><p>três temas. A cada um desses temas estão vinculados órgãos do Sistema Europeu</p><p>de Direitos Humanos:</p><p>1. Proteção dos Direitos Humanos</p><p>• Corte Europeia de Direitos Humanos</p><p>• Comitê Europeu para a Prevenção da Tortura e Outros Tratamentos ou</p><p>Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes</p><p>2. Promoção dos Direitos Humanos</p><p>• Comissário para os Direitos Humanos</p><p>• Grupo de Peritos sobre a Luta contra o Tráfico de Seres Humanos</p><p>• Comissão Europeia contra o Racismo e a Intolerância</p><p>• Comitê de Peritos da Carta Europeia das Línguas Regionais e Minoritárias</p><p>• Comitê Consultivo da Convenção Quadro para a Proteção das Minorias</p><p>Nacionais</p><p>3. Garantia dos Direitos Sociais</p><p>• Comitê Europeu dos Direitos Sociais</p><p>59Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>O Sistema Europeu possui um órgão judicial: a Corte Europeia de Direitos Humanos.</p><p>Os demais órgãos são políticos, porque não solucionam casos por meios alternativos</p><p>ao julgamento, e a eles cabe avaliar a situação dos direitos humanos nos Estados</p><p>membros do Conselho da Europa.</p><p>A Corte Europeia de Direitos Humanos foi instituída em 1959. O órgão funciona</p><p>de forma permanente e possui competência para decidir todas as questões</p><p>relacionadas à interpretação e à aplicação da Convenção Europeia e dos seus</p><p>respectivos protocolos.</p><p>A Corte possui competência contenciosa e consultiva, pois pode emitir pareceres</p><p>sobre questões jurídicas relacionadas à interpretação da Convenção e de seus</p><p>protocolos. O número de juízes da Corte Europeia é igual ao número de Estados</p><p>partes: 47 juízes.</p><p>3.4.2. Normas do Sistema Europeu</p><p>O Sistema Europeu de Direitos Humanos possui instrumentos gerais e instrumentos</p><p>temáticos.</p><p>Instrumentos gerais:</p><p>• Convenção Europeia de Direitos Humanos</p><p>• Carta Social Europeia de Direitos Humanos</p><p>Instrumentos Temáticos:</p><p>• Convenção Europeia sobre o Status Legal dos Trabalhadores Migrantes</p><p>(1977)</p><p>• Convenção para a Prevenção da Tortura e das Penas ou Tratamentos</p><p>Desumanos ou Degradantes (1987)</p><p>• Convenção sobre a Participação de Estrangeiros na Vida Pública (1992)</p><p>• Convenção Quadro para a Proteção das Minorias Nacionais (1994)</p><p>• Convenção de Oviedo (Convenção para a Proteção dos Direitos</p><p>Humanos e Dignidade do Ser Humano em Relação à Aplicação na</p><p>Biologia e Medicina) (1997)</p><p>• Convenção Europeia sobre o Exercício dos Direitos das Crianças (2000)</p><p>• Convenção Europeia sobre Nacionalidade (2000)</p><p>• Convenção sobre o Cibercrime (2001) e seu Protocolo sobre Xenofobia e</p><p>Racismo (2003)</p><p>• Convenção sobre a Ação Contra o Tráfico de Pessoas (2005)</p><p>• Convenção do Conselho da Europa para a Proteção da Criança Contra a</p><p>Exploração Sexual e Abuso Sexual (Convenção Lanzarote) (2007)</p><p>• Convenção sobre a Prevenção e Combate à Violência Contra a Mulher e</p><p>Violência Doméstica (Convenção de Istambul) (2011)</p><p>60Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>Veja a seguir informações sobre os instrumentos normativos gerais do Sistema</p><p>Europeu.</p><p>+ Convenção Europeia de Direitos Humanos</p><p>A Convenção Europeia de Direitos Humanos (CEDH), de 1950, foi o primeiro</p><p>tratado de direitos humanos adotado no mundo. A CEDH, adotada por</p><p>doze Estados membros do Conselho da Europa foi o primeiro instrumento a</p><p>possibilitar que os indivíduos usassem instrumentos de petição individual para</p><p>responsabilizar</p><p>os Estados no plano Internacional.</p><p>Entre os direitos e liberdades protegidos pela CEDH, podemos citar o direito à</p><p>vida (art. 2º) e a proibição de discriminação (art. 14).</p><p>+ Carta Social Europeia de Direitos Humanos</p><p>A Carta Social Europeia de Direitos Humanos foi adotada em 1961 e revista em</p><p>1996. Por meio desse instrumento, o Conselho da Europa proclamou os direitos</p><p>econômicos e sociais.</p><p>3.4.3. Processo perante a Corte Europeia de Direitos Humanos</p><p>A petição perante a Corte pode ser apresentada por qualquer pessoa singular,</p><p>organização não governamental ou grupo de pessoas que se considere vítima de</p><p>violação dos direitos reconhecidos na Convenção ou nos seus protocolos, que tenha</p><p>sido cometida por qualquer Estado parte. Os Estados também podem submeter à</p><p>Corte Europeia violações das disposições da Convenção que acreditem que outro</p><p>Estado tenha cometido.</p><p>Em resposta, a Corte pode conceder medidas provisórias, decidir sobre a</p><p>admissibilidade da petição e proferir sentenças, que geralmente ordenam uma</p><p>reparação razoável ou “satisfação equitativa”. Os Estados, por sua vez, deverão</p><p>respeitar as sentenças definitivas da Corte Europeia.</p><p>3.4.4. Mecanismos do Sistema Europeu de Direitos Humanos</p><p>O Sistema Europeu adota, de modo similar aos Sistemas ONU e Interamericano,</p><p>mecanismos para monitorar o cumprimento das normas de direitos humanos pelos</p><p>Estados. Entre eles, destacam-se, além do mecanismo judicial executado pela Corte</p><p>Europeia:</p><p>+ Mecanismos no âmbito do Comitê Europeu de Direitos Sociais</p><p>O Comitê de Direitos Sociais monitora o cumprimento da Carta Social Europeia</p><p>por meio dos mecanismos de petições coletivas, que são apresentadas por</p><p>61Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>parceiros sociais e organizações não governamentais (procedimento de petição</p><p>coletiva), e através de relatórios nacionais elaborados pelos Estados (sistema</p><p>de relatórios).</p><p>+ Mecanismos no âmbito do Comitê Europeu para a Prevenção da Tortura e</p><p>Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes</p><p>O Comitê Europeu para a Prevenção da Tortura e Outros Tratamentos ou Penas</p><p>Cruéis, Desumanos ou Degradantes “realiza visitas a lugares de detenção de</p><p>pessoas para verificar como estão sendo tratadas. Após a visita, o Comitê elabora</p><p>relatório detalhado ao estado envolvido com recomendações, comentários e</p><p>pedidos de informação” (ALBUQUERQUE; BARROSO, 2021, p 315).</p><p>3.5. Conclusão</p><p>Os Sistemas Internacionais de Direitos Humanos são responsáveis por promover a</p><p>proteção dos direitos humanos em todo o globo. Esses Sistemas são formados por</p><p>normas, que os conduzem; órgãos, que monitoram o cumprimento das normas; e</p><p>mecanismos, que são as ferramentas usadas pelos órgãos no monitoramento.</p><p>Estudamos três Sistemas de Direitos Humanos, o sistema global (ONU) e os sistemas</p><p>regionais (Interamericano e Europeu). Esses sistemas são independentes entre si</p><p>e atuam de forma não hierárquica. Cada um desses órgãos possui seus próprios</p><p>elementos e estruturas de funcionamento.</p><p>O Sistema Interamericano de Direitos Humanos conta com a Convenção Americana</p><p>de Direitos Humanos, e a Corte Interamericana de Direitos Humanos julga as petições</p><p>individuais que denunciam descumprimentos aos dispositivos da Convenção.</p><p>Nesse contexto, o caso Ximenes Lopes vs. Brasil consistiu em uma demanda</p><p>apresentada à Corte IDH contra o Estado brasileiro pela violação aos artigos 4 (Direito</p><p>à Vida), 5 (Direito à Integridade Pessoal), 8 (Garantias Judiciais) e 25 (Proteção Judicial)</p><p>da Convenção Americana. O Estado brasileiro foi condenado, em 2006, pela violação</p><p>desses artigos e vem desde então adotando medidas para cumprir o disposto na</p><p>sentença. Uma dessas medidas é o desenvolvimento de:</p><p>(...) um programa de formação e capacitação para o pessoal médico, de psiquiatria</p><p>e psicologia, de enfermagem e auxiliares de enfermagem e para todas as pessoas</p><p>vinculadas ao atendimento de saúde mental, em especial sobre os princípios que</p><p>devem reger o trato das pessoas portadoras de deficiência mental, conforme os</p><p>62Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>padrões internacionais sobre a matéria. (CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS</p><p>HUMANOS, 2006, p. 84)</p><p>O estudo dos Sistemas de Direitos Humanos é relevante para que possamos</p><p>compreender o caminho percorrido pelas demandas de direitos humanos até que</p><p>os Estados sejam internacionalmente compelidos a tomar medidas para a promoção</p><p>desses direitos.</p><p>63Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>Olá, estudante!</p><p>Neste módulo, trabalharemos os três campos de interação entre direitos humanos</p><p>e saúde. A seguir, trataremos do direito à saúde e, particularmente, do direito à</p><p>saúde mental. Por fim, entenderemos de que forma os direitos humanos se aplicam</p><p>às pessoas sob cuidados em saúde.</p><p>1. Os três campos de interação entre direitos</p><p>humanos e saúde</p><p>Identificar a aplicação dos direitos humanos no contexto da</p><p>saúde mental.</p><p>Os direitos humanos são universais. Eles foram criados com a finalidade de proteger</p><p>a dignidade e o inerente e igual valor de todas as pessoas. Esses direitos são</p><p>inalienáveis, interdependentes e se relacionam entre si.</p><p>Para fins didáticos, os direitos humanos foram divididos em direitos civis, culturais,</p><p>econômicos, políticos e sociais.</p><p>Os direitos humanos se definem e são garantidos por meio do direito estabelecido</p><p>pelos instrumentos internacionais. Com base no Direito Internacional, os Estados</p><p>assumem a obrigação de respeitar, proteger e cumprir os direitos humanos:</p><p>• A obrigação de respeitar esses direitos quer dizer que os Estados</p><p>precisam se abster de interferir ou limitar o seu usufruto.</p><p>• A obrigação de proteger os direitos humanos exige dos Estados que</p><p>protejam os indivíduos e grupos contra uma interferência indevida no</p><p>gozo dos direitos humanos por parte de outras pessoas ou entidades.</p><p>• A obrigação de cumprir significa que os Estados precisam adotar</p><p>medidas positivas para garantir a fruição dos direitos humanos.</p><p>Módulo</p><p>Saúde e Direitos Humanos2</p><p>64Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>Entre os direitos humanos reconhecidos em diversos instrumentos normativos está</p><p>o direito à saúde. Esse direito está afirmado diretamente em documentos de direitos</p><p>humanos internacionais e regionais, como a Declaração Universal dos Direitos</p><p>Humanos, o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, entre</p><p>outros documentos.</p><p>Alguns direitos humanos estão relacionados à saúde de forma indireta, o que nos</p><p>mostra que há um relacionamento complexo entre a saúde e o campo dos direitos</p><p>humanos. Para ilustrar essa ligação, as conexões entre saúde e direitos humanos</p><p>são muitas vezes descritas como os três campos de interação entre direitos</p><p>humanos e saúde, que compreendem:</p><p>• Proteção contra violações dos direitos humanos que resultam em</p><p>problemas de saúde;</p><p>• Redução da vulnerabilidade relacionada a problemas de saúde por</p><p>meio dos direitos humanos; e</p><p>• Promoção ou proteção contra violação dos direitos humanos.</p><p>Figura 24 - Os três campos de interação entre direitos humanos e saúde</p><p>Fonte: Elaborada pela autora, com base em ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Direitos</p><p>humanos e saúde. [S.l.]: OMS, 2022. Disponível em: https://www.who.int/news-room/</p><p>fact-sheets/detail/human-rights-and-health#:~:text=The%20right%20to%20health%2C%20</p><p>as,consensual%20medical%20treatment%20and%20experimentation). Acesso em: 17 mar. 2023.</p><p>Você verá, a seguir, o detalhamento de cada um desses campos.</p><p>https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/human-rights-and-health#</p><p>https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/human-rights-and-health#</p><p>65Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>1.1. Violações dos direitos humanos que resultam</p><p>em problemas de saúde</p><p>Violações de direitos humanos como práticas tradicionais prejudiciais, tortura,</p><p>escravidão ou violência contra mulheres e crianças podem resultar em sérios</p><p>problemas de saúde.</p><p>Figura 25 - Violações de direitos humanos</p><p>e problemas de saúde</p><p>Fonte: Elaborada pela autora.</p><p>+ Práticas tradicionais prejudiciais</p><p>São procedimentos persistentes e formas de comportamento fundamentados</p><p>na discriminação com base em sexo, gênero e idade, entre outros aspectos,</p><p>além de múltiplas formas de discriminação que comumente envolvem violência</p><p>e causam sofrimento e dano físico e/ou psicológico. Essas práticas tradicionais</p><p>podem ser novas ou regressas, e são prescritas e/ou mantidas por normas sociais</p><p>que perpetuam a dominação masculina e a desigualdade de mulheres e crianças</p><p>com base em sexo, gênero, idade e outros fatores.</p><p>Um exemplo de prática tradicional prejudicial é a mutilação genital feminina,</p><p>que consiste em qualquer procedimento que implique a remoção, parcial</p><p>ou total, dos órgãos genitais das mulheres, ou qualquer dano provocado aos</p><p>66Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>órgãos genitais, seja por razões culturais ou por outras razões não terapêuticas.</p><p>Entre os danos à saúde causados pela mutilação genital feminina, incluem-se</p><p>a maior vulnerabilidade a diferentes tipos de infecções, como as sexualmente</p><p>transmissíveis e ao HIV, visto que o procedimento é normalmente feito sem</p><p>condições de higiene, com instrumentos rudimentares e não esterilizados.</p><p>A mutilação genital feminina é praticada em mais de 40 países, o que inclui regiões</p><p>na América do Sul, no continente Africano, Arábia Saudita, Paquistão e Índia.</p><p>A proibição de práticas tradicionais nocivas contra as mulheres está articulada</p><p>na Declaração sobre a Eliminação da Violência Contra as Mulheres e na</p><p>Recomendação Geral 24 sobre Mulheres e Saúde do Comitê para a Eliminação</p><p>de Todas as Formas de Discriminação Contra as Mulheres (1999).</p><p>+ Tortura</p><p>Há diversas normativas no âmbito da Organização das Nações Unidas (ONU)</p><p>sobre o tema da tortura e de outras penas ou tratamentos cruéis, desumanos</p><p>ou degradantes. A Convenção contra a Tortura e Outras Penas ou Tratamentos</p><p>Cruéis, Desumanos ou Degradantes foi adotada em 1984.</p><p>De acordo com essa Convenção, tortura é qualquer ato pelo qual dores ou</p><p>sofrimentos agudos físicos ou mentais são infligidos intencionalmente a uma</p><p>pessoa a fim de:</p><p>• Obter dela ou de uma terceira pessoa informações ou confissões;</p><p>• Castigá-la por ato que ela ou uma terceira pessoa tenha cometido ou</p><p>seja suspeita de ter cometido;</p><p>• Intimidar ou coagir esta pessoa ou outras pessoas ou por qualquer</p><p>motivo baseado em discriminação de qualquer natureza.</p><p>A tortura se configura quando tais dores ou sofrimentos são infligidos por um</p><p>funcionário público ou outra pessoa no exercício de funções públicas, ou por sua</p><p>instigação, ou com o consentimento e aquiescência desses agentes.</p><p>É importante destacar que não se consideram tortura as dores ou sofrimentos</p><p>que são consequência unicamente de sanções legítimas ou que são inerentes a</p><p>tais sanções, ou delas decorram. Além da Convenção contra a Tortura e Outras</p><p>Penas ou Tratamentos Cruéis, Desumanos ou Degradantes, a proibição contra</p><p>a tortura está articulada em outros instrumentos de direitos humanos, incluindo</p><p>o Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos: o artigo sétimo afirma</p><p>que ninguém deve ser submetido a tortura ou a outros tratamentos ou penas</p><p>cruéis desumanos ou degradantes. Em particular, ninguém pode ser submetido</p><p>sem seu livre consentimento a experimentos médicos ou científicos.</p><p>A tortura provoca severas consequências na saúde da vítima. É comum que</p><p>sobreviventes de tortura apresentem estresse pós-traumático, comorbidades</p><p>67Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>psicológicas e deficiências físicas. As respostas à experiência de tortura podem</p><p>ser complexas, envolvendo alterações na capacidade de regular as emoções,</p><p>prejuízo no processamento das relações interpessoais, percepção reduzida</p><p>de controle e perda de identidade. Ademais, sobreviventes de tortura podem</p><p>enfrentar desafios no ajuste pós-trauma, como conflito interno contínuo e, no</p><p>caso de pessoas deslocadas e migrantes, estresse pós-migração, incluindo as</p><p>questões relacionadas à separação familiar, preocupações socioeconômicas,</p><p>incerteza de visto e discriminação.</p><p>Assim, as necessidades dos sobreviventes de tortura apresentam desafios</p><p>substanciais às abordagens tradicionais de tratamento. O conhecimento</p><p>relacionado a outros grupos afetados por traumas não pode ser generalizado</p><p>para essa população.</p><p>De acordo com a Convenção sobre a Escravatura ou Convenção sobre a Escravidão</p><p>de 1926, a escravidão é o estado ou condição de uma pessoa sobre a qual são</p><p>exercidos todos ou alguns dos poderes inerentes ao direito de propriedade.</p><p>O artigo 1.2 da Convenção afirma que:</p><p>O tráfico de escravos inclui todos os atos que envolvam a captura,</p><p>aquisição ou alienação de uma pessoa com a intenção de reduzi-la à</p><p>escravidão; todos os atos que envolvam a aquisição de um escravo</p><p>com vistas a vendê-lo ou trocá-lo; todos os atos de alienação por</p><p>venda ou troca de um escravo adquirido com o objetivo de ser</p><p>vendido ou trocado e, em geral, todo ato de comércio ou transporte</p><p>de escravos. (CONVENÇÃO SOBRE A ESCRAVATURA, 1926, Art. 2.1,</p><p>tradução nossa)</p><p>Sobre esse assunto, a Declaração Universal dos Direitos Humanos afirma que</p><p>“ninguém será mantido em escravidão ou servidão; a escravidão e o tráfico de</p><p>escravos serão proibidos em todas as suas formas” (DECLARAÇÃO UNIVERSAL</p><p>DOS DIREITOS HUMANOS, 1948).</p><p>Em alguns países, o estigma associado ao tráfico sexual pode ser reforçado por</p><p>sistemas legais que criminalizam a prostituição. O tráfico sexual pode também</p><p>levar a consequências em saúde, como HIV/AIDS, e ao abuso de substâncias,</p><p>que estão associados a mais estigma. É importante perceber que fatores gerais</p><p>de risco de estresse pós-traumático incluem condições da vítima, como ser</p><p>do sexo feminino, ter baixo nível educacional e transtornos de saúde mental</p><p>preexistentes, que são fatores comumente percebidos em vítimas de tráfico.</p><p>No que diz respeito às crianças, formas de trabalho infantil, como a servidão</p><p>doméstica, constituem formas contemporâneas de escravidão. As crianças</p><p>submetidas a essas violações normalmente não têm acesso efetivo à educação e</p><p>68Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>a serviços básicos de saúde.</p><p>No caso de trabalhadores migrantes, sua vulnerabilidade à escravidão aumenta,</p><p>já que ficam relegados à economia informal para contornar as vias legais de</p><p>trabalho e estão sujeitos ao pagamento de taxas de contratação e a práticas</p><p>fraudulentas de intermediários de mão de obra. Isso os leva à baixa participação</p><p>na sociedade, à saúde precária e à falta de rede de segurança, fatores condutores</p><p>da escravidão.</p><p>+ Violência contra as mulheres</p><p>A Declaração sobre a Eliminação da Violência Contra as Mulheres (1993) define a</p><p>violência contra as mulheres como:</p><p>Qualquer ato de violência baseado no gênero do qual resulte, ou</p><p>possa resultar, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico para</p><p>as mulheres, incluindo as ameaças de tais atos, a coação ou a privação</p><p>arbitrária de liberdade, que ocorra, quer na vida pública, quer na</p><p>vida privada”. (DECLARAÇÃO SOBRE A ELIMINAÇÃO DA VIOLÊNCIA</p><p>CONTRA AS MULHERES, 1993, Art. 1)</p><p>Além dessa Declaração, a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de</p><p>Discriminação contra a Mulher (1979) também se refere ao assunto, pois afirma</p><p>que os Estados partes devem tomar todas as medidas apropriadas para eliminar</p><p>a discriminação contra as mulheres no campo dos cuidados em saúde e para</p><p>assegurar, com base na igualdade entre homens e mulheres, o acesso a serviços</p><p>de cuidado em saúde, incluindo aqueles relacionados ao planejamento familiar.</p><p>A violência contra as mulheres se manifesta de diversas formas, entre as quais</p><p>podemos citar a violência obstétrica. De acordo com a Comissão Interamericana</p><p>de Direitos Humanos (CIDH), a violência obstétrica é definida como:</p><p>“Apropriação do corpo e dos processos reprodutivos das mulheres</p><p>pelos profissionais de saúde, através do tratamento</p><p>desumanizado,</p><p>abusivo, intervencionista, discriminatório e sem base em evidências</p><p>científicas, e inclui a recusa de atenção obstétrica e neonatal” (CIDH,</p><p>2019, p. 1).</p><p>As consequências desse tipo de violência afetam a saúde física e mental da vítima.</p><p>No quesito da saúde mental, são consequências o aparecimento de quadros</p><p>de tristeza, episódios psicóticos e probabilidade de surgimento de transtornos</p><p>psiquiátricos durante o período pós-parto, o que interfere na formação de um</p><p>vínculo afetivo saudável entre a mãe e o bebê.</p><p>69Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>1.2. Redução da vulnerabilidade no processo saúde-</p><p>doença por meio dos direitos humanos</p><p>A observância de diversos direitos tem o potencial de reduzir a vulnerabilidade a</p><p>problemas de saúde. Alguns desses direitos são: o direito à informação, à educação,</p><p>à comida e à nutrição, e à água.</p><p>A vulnerabilidade e o impacto dos problemas de saúde podem ser reduzidos se</p><p>forem tomadas medidas para proteger, respeitar e cumprir os direitos humanos.</p><p>Figura 26 - Direitos humanos e vulnerabilidade em relação a problemas de saúde</p><p>Fonte: Elaborada pela autora.</p><p>O direito à informação é protegido pelo artigo 19 do Pacto Internacional sobre</p><p>Direitos Civis e Políticos, e pode ser definido como a liberdade de buscar, receber</p><p>e difundir informações de qualquer natureza. A informação é importante</p><p>ferramenta no desenvolvimento de uma cultura de responsabilização e realização</p><p>dos direitos humanos.</p><p>No âmbito da saúde, o respeito ao direito à informação afeta diretamente a saúde</p><p>das pessoas sob cuidados em saúde, na medida em que a falta de conhecimento da</p><p>população sobre informações em saúde as torna mais vulneráveis em relação à sua</p><p>própria condição. Sobre isso, assista ao vídeo a seguir, que explica a vulnerabilidade</p><p>da pessoa sob cuidados em saúde internada:</p><p>70Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>Vídeo 2 - A vulnerabilidade da pessoa sob cuidados em saúde na</p><p>internação hospitalar</p><p>Nesse sentido, ganha importância o conceito do consentimento informado, que</p><p>pode ser definido como:</p><p>Uma decisão voluntária e suficientemente informada</p><p>capaz de promover autodeterminação, integridade</p><p>física e bem-estar da pessoa sob cuidados em saúde</p><p>(ALBUQUERQUE, 2016).</p><p>Desse modo, o consentimento informado é a</p><p>concretização do respeito da autonomia da pessoa</p><p>sob cuidados em saúde para decidir sobre aquilo que</p><p>lhes é mais íntimo: o corpo. (ELER; ALBUQUERQUE,</p><p>2020, p. 121)</p><p>Por meio do direito à informação, é possível reduzir a vulnerabilidade em relação a</p><p>problemas de saúde, como pode ser observado no exemplo a seguir:</p><p>[...] em 2015, no Caso Montgomery versus Lanarkshire</p><p>Health Board no qual uma mulher diabética sofreu</p><p>complicações obstétricas ao optar pelo parto normal,</p><p>que gerou redução severa da oxigenação no cérebro</p><p>do feto. Esse problema, frequente em mulheres</p><p>diabéticas que têm fetos maiores, ocorreu em razão da</p><p>dificuldade de passagem do feto pelo canal vaginal. A</p><p>pessoa sob cuidados em saúde alegou que se soubesse</p><p>do risco, teria optado por fazer uma cesárea. A médica</p><p>obstetra, por sua vez, defendeu-se dizendo que não</p><p>havia informado tal risco por ser a probabilidade de</p><p>ocorrência pequena (ELER; ALBUQUERQUE, 2020, p.</p><p>120).</p><p>O direito à educação é protegido pelo artigo 13 do Pacto Internacional sobre</p><p>Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (1966). Esse direito inclui o acesso à</p><p>educação em apoio aos conhecimentos básicos de saúde e nutrição infantil, as</p><p>https://youtu.be/s_z9JxBgErg</p><p>https://youtu.be/s_z9JxBgErg</p><p>71Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>vantagens do aleitamento materno, higiene e saneamento ambiental e prevenção</p><p>de acidentes. A adoção de medidas relacionadas a esses conhecimentos diminui a</p><p>vulnerabilidade a problemas de saúde: diversos estudos e pesquisas demonstram</p><p>a relação entre a escolaridade materna e a mortalidade infantil. De acordo com</p><p>um estudo realizado por Victora et al. (2003), o aumento do nível de escolaridade</p><p>das mães está associado à redução na mortalidade infantil. Os autores afirmam</p><p>que a educação e a informação para as mães são fundamentais para promover a</p><p>equidade social e reduzir as desigualdades na saúde infantil.</p><p>O direito à alimentação adequada está previsto no artigo 11 do Pacto Internacional</p><p>sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais. De acordo com a Organização</p><p>Mundial da Saúde (OMS), o direito à informação em saúde é fundamental para</p><p>prevenir doenças relacionadas à nutrição, tais como a desnutrição e a obesidade.</p><p>Por exemplo, o acesso à informação sobre os benefícios de uma dieta equilibrada e</p><p>variada pode ajudar a prevenir o diabetes, o colesterol elevado e o câncer causado</p><p>por práticas alimentares inadequadas (OMS, 2021). Além disso, a falta de informação</p><p>também pode contribuir para o desenvolvimento de transtornos alimentares, como</p><p>a anorexia nervosa e a bulimia.</p><p>A Resolução das Nações Unidas A/RES/64/292 declarou que a água limpa e segura,</p><p>bem como o saneamento, são direitos humanos essenciais para que se possa gozar</p><p>plenamente a vida e todos os outros direitos humanos. O respeito ao direito à água</p><p>reduz a vulnerabilidade a diversos problemas de saúde:</p><p>São vários os problemas relacionados à desigualdade e</p><p>à precariedade no acesso à água potável, dentre estes</p><p>estão as doenças ligadas à falta de higiene pessoal</p><p>e doméstica, em decorrência do déficit no acesso;</p><p>as causadas pela ingestão de água com qualidade</p><p>sanitária insatisfatória; as relacionadas ao contato</p><p>com a água contaminada; e as transmitidas por meio</p><p>de transmissores aquáticos. Nessa conjuntura, está</p><p>a pandemia da Covid-19, que surgiu em 2020, com</p><p>uma significativa desigualdade social, onde pessoas</p><p>sobrevivem em condições precárias de habitação ou</p><p>não a tem, e sem acesso a serviço de abastecimento</p><p>de água adequado, o que intensifica os problemas e</p><p>dificulta o enfrentamento da crise sanitária. (SILVA et</p><p>al., 2022, p. 115)</p><p>Assim, verifica-se que respeitar os direitos humanos é uma forma de diminuir a</p><p>vulnerabilidade dos indivíduos a problemas de saúde. Nesse sentido, cabe aos</p><p>72Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>Estados promover o cumprimento desses direitos como medida de saúde para os</p><p>seus jurisdicionados.</p><p>Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos –</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/d0592.</p><p>htm</p><p>Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais</p><p>– http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/d0591.</p><p>htm</p><p>Resolução das Nações Unidas A/RES/64/292 – https://daccessods.</p><p>un.org/access.nsf/Get?OpenAgent&DS=A/RES/64/292&Lang=E</p><p>1.3. Promoção ou violação dos direitos humanos</p><p>por meio da saúde</p><p>Políticas e programas em saúde podem promover os direitos humanos ou violá-</p><p>los, a depender da forma como são formulados ou implementados. Alguns dos</p><p>direitos humanos que podem ser afetados pelos programas e políticas em saúde</p><p>são o direito à participação, o direito a não discriminação, o direito à privacidade e o</p><p>direito à liberdade de movimento.</p><p>Por exemplo, se uma prática ou política em saúde discriminar um grupo de pessoas,</p><p>isso constitui uma violação de direitos humanos. Por outro lado, assegurar o direito</p><p>a não discriminação por meio de uma política em saúde promoveria os direitos</p><p>humanos.</p><p>Nesse sentido, é importante ter em mente que grupos vulneráveis e marginalizados</p><p>em sociedades costumam sofrer com problemas de saúde de forma desproporcional</p><p>com relação à maioria. A discriminação aberta ou implícita é comumente a causadora</p><p>de Estados de saúde deficitários. Na prática, a discriminação pode se manifestar por</p><p>meio de programas de saúde direcionados inadequadamente e do acesso restrito</p><p>aos serviços de saúde.</p><p>Assim, de acordo com a OMS:</p><p>A proibição da discriminação não significa que as diferenças não devam ser</p><p>reconhecidas, mas apenas que o tratamento diferenciado – e a falta de tratamento</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/d0592.htm</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/d0592.htm</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/d0591.htm</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/d0591.htm</p><p>https://daccessods. un.org/access.nsf/Get?OpenAgent&DS=A/RES/64/292&Lang= E</p><p>https://daccessods. un.org/access.nsf/Get?OpenAgent&DS=A/RES/64/292&Lang= E</p><p>73Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>igualitário de casos iguais – deve ser baseado em critérios objetivos e razoáveis</p><p>destinados a corrigir os desequilíbrios dentro de uma sociedade. Em relação</p><p>à saúde e aos cuidados de saúde, os fundamentos para a não discriminação</p><p>evoluíram e podem agora ser resumidos na proibição de “qualquer discriminação</p><p>no acesso aos cuidados de saúde e aos determinantes subjacentes da saúde,</p><p>bem como aos meios e direitos para a sua aquisição, motivos de raça, cor, sexo,</p><p>idioma, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social,</p><p>riqueza, nascimento, deficiência física ou mental, estado de saúde (incluindo HIV/</p><p>AIDS), orientação sexual, orientação civil, política, social ou outro status, que</p><p>tenha a intenção ou o efeito de anular ou prejudicar o igual gozo ou exercício do</p><p>direito à saúde”. (OMS, 2002, p. 11, tradução nossa)</p><p>Nesse ponto, é relevante destacar o tema do racismo estrutural e institucional.</p><p>Essas são formas de discriminação que estão enraizadas nas estruturas e instituições</p><p>da sociedade, afetando negativamente grupos específicos, especialmente as pessoas</p><p>negras. O jurista e professor Silvio Almeida, atual Ministro de Estado dos Direitos</p><p>Humanos e da Cidadania, é um dos principais pesquisadores e teóricos brasileiros</p><p>sobre o tema.</p><p>Segundo Almeida, o racismo estrutural é um tipo de racismo que está presente nas</p><p>estruturas e instituições da sociedade, perpetuando a desigualdade racial. Essas</p><p>desigualdades não são resultado de ações individuais, mas sim de uma estrutura</p><p>social que perpetua o racismo e a exclusão. No que diz respeito à saúde mental,</p><p>o racismo estrutural se manifesta, por exemplo, na falta de acesso equitativo a</p><p>serviços de saúde mental para grupos raciais historicamente marginalizados: a</p><p>falta de recursos para tratamentos em áreas de baixa renda, a falta de profissionais</p><p>de saúde mental em comunidades negras e a estigmatização da saúde mental em</p><p>algumas comunidades.</p><p>O racismo institucional é uma forma de discriminação que ocorre em instituições</p><p>sociais, prejudicando ou favorecendo grupos raciais de forma indireta: “O racismo</p><p>institucional, por sua vez, é resultado do funcionamento das instituições, que passam</p><p>a atuar em uma dinâmica que confere, ainda que indiretamente, desvantagens e</p><p>privilégios com base na raça” (ALMEIDA, 2019, p. 26).</p><p>O racismo institucional pode ser relacionado à saúde mental quando há falta de</p><p>acesso a serviços de saúde mental de qualidade para grupos raciais marginalizados.</p><p>Isso pode se manifestar através de políticas e práticas de saúde que desconsideram</p><p>as necessidades e experiências desses grupos, além de perpetuar estereótipos e</p><p>preconceitos em relação a eles.</p><p>É importante reconhecer a existência do racismo institucional na área da saúde</p><p>mental para que se possa agir para combatê-lo, promovendo a diversidade e a</p><p>74Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>inclusão na equipe de saúde mental e desenvolvendo políticas que garantam o</p><p>acesso equitativo a serviços de saúde mental de qualidade para todos.</p><p>Você pode saber mais sobre o tema racismo, acessando:</p><p>Racismo Estrutural — Djamila Ribeiro e Silvio</p><p>Almeida</p><p>https://www.youtube.com/watch?v=0TpS2PJLprM e</p><p>https://www.youtube.com/watch?v=uIJGtLJmD8w;</p><p>https://www.youtube.com/watch?v=ZADKtsNnx74 ou</p><p>https://www.youtube.com/watch?v=PD4Ew5DIGrU;</p><p>Racismo estrutural:</p><p>https://www.youtube.com/watch?v=0TpS2PJLprM</p><p>Racismo institucional:</p><p>https://www.youtube.com/watch?v=Xdq9eiZO8Mw.</p><p>No que diz respeito ao direito à participação, a abordagem de direitos humanos</p><p>aplicada à saúde envolve o exercício desse direito, na medida em que os beneficiários</p><p>das políticas de saúde devem participar de forma livre, significativa e efetiva dos</p><p>processos que os afetam. O direito à participação está previsto na Declaração</p><p>sobre o Direito ao Desenvolvimento, de 1986, e em outros instrumentos de direitos</p><p>humanos. Nesse sentido, destaca-se a disposição presente no Pacto Internacional</p><p>sobre os Direitos Civis e Políticos:</p><p>Art. 25. Todo cidadão terá o direito e a possibilidade, sem qualquer das formas</p><p>de discriminação mencionadas no artigo 2 e sem restrições infundadas:</p><p>a) De participar da condução dos assuntos públicos, diretamente ou por meio de</p><p>representantes livremente escolhidos;</p><p>(PACTO INTERNACIONAL SOBRE OS DIREITOS CIVIS E POLÍTICOS, 1966, Art. 25)</p><p>Assim, quando a formulação e implementação políticas públicas e práticas em</p><p>saúde envolvem a contribuição da população afetada, pode-se dizer que acontece a</p><p>promoção do direito à participação. Por outro lado, tais políticas podem violar o direito</p><p>à participação quando excluem de seu processo de formulação e implementação os</p><p>beneficiários dessas medidas.</p><p>https://www.youtube.com/watch?v=0TpS2PJLprM</p><p>https://www.youtube.com/watch?v=uIJGtLJmD8w</p><p>https://www.youtube.com/watch?v=ZADKtsNnx74</p><p>https://www.youtube.com/watch?v=PD4Ew5DIGrU</p><p>https://www.youtube.com/watch?v=0TpS2PJLprM</p><p>https://www.youtube.com/watch?v=Xdq9eiZO8Mw</p><p>75Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>Por outro lado, um Estado que encarcera ou restringe os movimentos de pessoas</p><p>com HIV/AIDS, se recusa a permitir que médicos tratem pessoas que se acredita</p><p>serem opostas a um governo, ou deixa de fornecer imunização contra as principais</p><p>doenças infecciosas da comunidade por motivos como segurança nacional ou</p><p>a preservação da ordem pública, tem o ônus de justificar medidas tão graves.</p><p>(OMS, 2002, p. 19, tradução nossa)</p><p>Essas medidas podem violar o direito humano à liberdade de movimento.</p><p>O direito à privacidade é protegido pelo artigo 17 do Pacto Internacional sobre os</p><p>Direitos Civis e Políticos:</p><p>ARTIGO 17</p><p>1. Ninguém poderá ser objeto de ingerências arbitrárias ou ilegais em sua vida</p><p>privada, em sua família, em seu domicílio ou em sua correspondência, nem de</p><p>ofensas ilegais às suas honra e reputação.</p><p>2. Toda pessoa terá direito à proteção da lei contra essas ingerências ou ofensas.</p><p>(PACTO INTERNACIONAL SOBRE OS DIREITOS CIVIS E POLÍTICOS, 1966, Art. 17)</p><p>Em respeito a esse direito, os dados pessoais de saúde devem ser tratados com</p><p>confidencialidade:</p><p>A coleta de informações pessoais de indivíduos sobre seu estado de saúde (por</p><p>exemplo, infecção por HIV, câncer ou distúrbios genéticos) ou comportamento</p><p>(por exemplo, orientação sexual ou uso de álcool ou outras substâncias</p><p>potencialmente nocivas) têm o potencial de uso indevido pelo Estado, seja</p><p>diretamente ou porque esta informação é intencionalmente ou inadvertidamente</p><p>disponibilizada a outros. (OMS, 2002, p. 19, tradução nossa)</p><p>76Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>Ainda, a existência de normas e padrões de direitos humanos deve estimular</p><p>a coleta de evidências, indicando os dados que são necessários para enfrentar</p><p>complexos desafios de saúde:</p><p>Mais amplamente aceita é a noção de que os direitos humanos são relevantes</p><p>para a maneira como os dados de saúde devem ser coletados. Isso inclui a</p><p>escolha dos métodos de coleta de dados que devem incluir considerações sobre</p><p>como garantir o respeito aos direitos humanos, como privacidade, participação</p><p>e não discriminação. Em segundo lugar, os instrumentos internacionais podem</p><p>ser úteis na definição de vários grupos populacionais. Por exemplo, a Convenção</p><p>da OIT sobre Povos Indígenas e Tribais fornece uma base oficial para identificar</p><p>e diferenciar os povos indígenas e tribais de outros grupos populacionais. (OMS,</p><p>2002, p. 19, tradução nossa)</p><p>Embora saibamos que os direitos humanos são muitas vezes violados por políticas e</p><p>medidas de saúde, alguns direitos humanos não podem ser restritos em</p><p>nenhuma</p><p>circunstância, como o direito a não ser torturado e a não ser escravizado, e a</p><p>liberdade de pensamento, de consciência e de religião. As cláusulas de limitação e</p><p>de derrogação nos instrumentos de direitos humanos reconhecem a necessidade</p><p>de limitar direitos humanos em algumas situações. A saúde pública é, muitas vezes,</p><p>usada pelos Estados como base para limitar o exercício de direitos humanos.</p><p>Um fator chave para determinar se as proteções necessárias existem quando os</p><p>direitos são restringidos é que cada um dos cinco critérios dos Princípios de Siracusa</p><p>deve ser atendido. Mesmo em circunstâncias em que as limitações por motivos de</p><p>proteção da saúde pública são basicamente permitidas, elas devem ser de duração</p><p>limitada e sujeitas a revisão.</p><p>Somente como último recurso é que os direitos humanos podem sofrer</p><p>interferências para atingir uma meta de saúde pública. Tal interferência só</p><p>pode ser justificada quando todas as circunstâncias estritamente definidas</p><p>estabelecidas na lei de direitos humanos, conhecidas como Princípios de Siracusa,</p><p>forem atendidas. (OMS, 2002, p. 18, tradução nossa)</p><p>77Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>São os critérios dos princípios de Siracusa:</p><p>• A restrição ao direito é prevista e realizada de acordo com a lei;</p><p>• A restrição atende a um objetivo legítimo de interesse geral;</p><p>• A restrição é estritamente necessária, em uma sociedade</p><p>democrática, para atingir o objetivo;</p><p>• Não existem meios menos intrusivos e restritivos disponíveis</p><p>para atingir o mesmo objetivo;</p><p>• A restrição não é redigida ou imposta arbitrariamente, ou seja,</p><p>de forma irracional ou discriminatória.</p><p>Assim, percebemos que, a depender da forma como políticas e programas em saúde</p><p>são implementados, eles podem causar a promoção dos direitos humanos ou a sua</p><p>violação. Sendo assim, cabe aos Estados verificar seus compromissos internacionais</p><p>de direitos humanos ao formular medidas em saúde, com vistas a evitar práticas</p><p>violadoras de direitos humanos.</p><p>Nesse sentido, cabe destacar que a implementação de políticas de saúde para</p><p>combater a propagação do vírus da Covid-19 e tratar seus efeitos tem impacto</p><p>significativo nos direitos humanos. Por exemplo, medidas como quarentenas e</p><p>lockdowns limitam o direito de liberdade de movimento, enquanto a falta de acesso</p><p>a tratamentos e equipamentos de proteção individual pode afetar o direito à saúde</p><p>e à vida. Dessa forma, é fundamental que os Estados garantam que suas medidas de</p><p>saúde durante a pandemia estejam em conformidade com os padrões internacionais</p><p>de direitos humanos e evitem violações desses direitos.</p><p>https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/508144/</p><p>000992124.pdf</p><p>https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/508144/000992124.pdf</p><p>https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/508144/000992124.pdf</p><p>78Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>2. Direito à saúde</p><p>Reconhecer a saúde e a saúde mental enquanto direitos.</p><p>O direito à saúde é um direito humano. Sendo assim, ele está protegido em diversos</p><p>documentos, como o Pacto Internacional sobre os Direitos Econômicos, Sociais e</p><p>Culturais, no artigo 12:</p><p>ARTIGO 12</p><p>1. Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem o direito de toda pessoa de</p><p>desfrutar o mais elevado nível possível de saúde física e mental.</p><p>2. As medidas que os Estados Partes do presente Pacto deverão adotar com o fim</p><p>de assegurar o pleno exercício desse direito incluirão as medidas que se façam</p><p>necessárias para assegurar:</p><p>a) A diminuição da mortinatalidade e da mortalidade infantil, bem como o</p><p>desenvolvimento são das crianças;</p><p>b) A melhoria de todos os aspectos de higiene do trabalho e do meio ambiente;</p><p>c) A prevenção e o tratamento das doenças epidêmicas, endêmicas, profissionais</p><p>e outras, bem como a luta contra essas doenças;</p><p>d) A criação de condições que assegurem a todos assistência médica e serviços</p><p>médicos em caso de enfermidade.</p><p>(Pacto Internacional sobre os Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, 1966, art.</p><p>12).</p><p>A seguir, estudaremos o direito à saúde, abordando o seu conteúdo, os seus</p><p>elementos e as formas de monitoramento desse direito. Por fim, trataremos do</p><p>direito à saúde mental.</p><p>2.1. Direito à saúde: conteúdo, elementos e</p><p>monitoramento</p><p>Para compreender o direito à saúde, é necessário estudar o seu conteúdo, os seus</p><p>elementos e as formas de monitoramento pelos órgãos internacionais de direitos</p><p>humanos. Vejamos a seguir esses fatores.</p><p>79Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>2.1.1. Conteúdo do direito à saúde</p><p>Conforme disposto no artigo 12 do Pacto Internacional sobre os Direitos Econômicos,</p><p>Sociais e Culturais, mencionado anteriormente, toda pessoa tem o direito de</p><p>desfrutar o mais elevado nível possível de saúde física e mental, ou seja, o direito à</p><p>saúde. Esse direito é definido pelo Comitê da ONU sobre os Direitos Econômicos,</p><p>Sociais e Culturais como o direito ao desfrute de:</p><p>• Bens</p><p>• Serviços</p><p>Determinantes sociais da saúde</p><p>Para que se possa alcançar o mais alto nível possível de saúde física e mental.</p><p>Para o Comitê, o direito à saúde não consiste somente no cuidado em saúde</p><p>oportuno e apropriado, mas também envolve os principais fatores determinantes</p><p>da saúde, como:</p><p>• O acesso à água potável</p><p>• Condições sanitárias e habitação adequada</p><p>• Condições sadias de trabalho e meio ambiente</p><p>• Acesso à educação e à informação sobre questões relacionadas à saúde</p><p>O direito à saúde inclui, ainda, serviços de proteção e prevenção no campo da</p><p>saúde.</p><p>Assim, é importante compreender que o direito à saúde não</p><p>consiste no direito de estar saudável. Ele consiste no direito a</p><p>um conjunto de bens, serviços e instalações que devem estar</p><p>disponíveis, acessíveis e ser aceitáveis e de qualidade.</p><p>80Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>Figura 27 - Direito à saúde</p><p>Fonte: Elaborada pela autora.</p><p>O direito à saúde é guiado por cinco princípios:</p><p>1. Igualdade</p><p>2. Não discriminação</p><p>3. Accountability</p><p>4. Participação</p><p>5. Proteção dos vulneráveis</p><p>Os princípios da igualdade e da não discriminação demandam dos Estados que</p><p>abordem a discriminação em leis políticas e práticas, assim como na distribuição e</p><p>provisão de recursos e serviços de saúde.</p><p>A discriminação pode ser indireta e ocorrer, por exemplo, por</p><p>meio de políticas e ações que ignorem questões de gênero e que,</p><p>por isso, levem a desigualdades no acesso e usufruto de direitos</p><p>a bens e serviços de saúde.</p><p>O funcionamento dos sistemas nacionais de informação sanitária e a disponibilidade</p><p>de dados são essenciais para que se possa identificar os grupos mais vulneráveis e</p><p>suas diversas necessidades. Grupos comumente marginalizados incluem: crianças</p><p>e adolescentes; mulheres; pessoas com deficiências; povos indígenas, minorias</p><p>81Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>étnicas, religiosas ou linguísticas; deslocados internos e refugiados; migrantes,</p><p>particularmente indocumentados; e pessoas vivendo com HIV ou AIDS.</p><p>A seguir, observe alguns trechos do Comentário Geral número 14 de 2000, do Comitê</p><p>de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais da ONU, que tratam dos princípios da</p><p>igualdade e da não discriminação:</p><p>12 b (i) Não discriminação: os estabelecimentos, bens e serviços de saúde têm de</p><p>ser acessíveis a todos, em especial os sectores mais vulneráveis e marginalizados</p><p>da população, nos termos da lei e de facto, sem discriminação alguma por</p><p>quaisquer dos motivos proibidos – p 152</p><p>(iii) Os pagamentos por serviços de cuidados de saúde, bem como serviços</p><p>relacionados com os factores determinantes subjacentes à saúde, têm de se basear</p><p>no princípio da equidade, a fim de assegurar que esses serviços, sejam públicos</p><p>ou privados, estejam ao alcance de todos, incluindo dos grupos socialmente</p><p>desfavorecidos. A equidade exige que não recaia uma carga desproporcionada</p><p>nos lares mais pobres, no que se refere a gastos de saúde, em comparação com</p><p>os lares mais ricos. (COMITÊ DE DIREITOS ECONÔMICOS, SOCIAIS E</p><p>CULTURAIS,</p><p>2000)</p><p>19. [...] No que respeita ao direito à saúde, é necessário realçar a igualdade</p><p>de acesso aos cuidados de saúde e serviços de saúde. Os Estados Partes têm</p><p>uma obrigação especial de proporcionar a quem não tenha meios suficientes,</p><p>o necessário seguro médico e acesso a centros de saúde e impedir qualquer</p><p>discriminação com base em motivos internacional respeita às obrigações</p><p>fundamentais do direito à saúde. Uma atribuição inapropriada de recursos de</p><p>saúde pode dar lugar a uma discriminação que poderá não ser manifesta. Por</p><p>exemplo, os investimentos não devem favorecer desproporcionadamente os</p><p>serviços curativos caros que muitas vezes são apenas acessíveis a uma pequena</p><p>fracção privilegiada da população, em detrimento da atenção primária e</p><p>preventiva da saúde que beneficie uma parte maior da população. (COMITÊ DE</p><p>DIREITOS ECONÔMICOS, SOCIAIS E CULTURAIS, 2000).</p><p>Sobre o princípio da participação, o Comitê estabelece que os Estados precisam</p><p>respeitar o direito dos indivíduos e grupos de participar nos processos de tomada</p><p>de decisão que possam lhes afetar. Para o Comitê, o respeito a esse direito precisa</p><p>ser um fator integrante de toda estratégia, política ou programa desenvolvido</p><p>com o objetivo de cumprir as obrigações estatais que foram estabelecidas no Pacto</p><p>Internacional sobre os Direitos Econômicos, Sociais e Culturais. “Uma prestação</p><p>82Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>efetiva de serviços de saúde pode apenas ser garantida se a participação das pessoas</p><p>for assegurada pelos Estados” (COMITÊ DE DIREITOS ECONÔMICOS, SOCIAIS E</p><p>CULTURAIS, 2000).</p><p>O Comentário Geral nº 14 de 2000 possui vários trechos relacionados ao princípio</p><p>da proteção dos vulneráveis:</p><p>12 b) Acessibilidade. Os estabelecimentos, bens e serviços de saúde têm de se</p><p>encontrar num alcance geográfico seguro por parte de todos os setores da</p><p>população, em especial os grupos vulneráveis ou marginalizados da população,</p><p>como as minorias étnicas e populações indígenas, as mulheres, as crianças, os</p><p>adolescentes, os idosos, pessoas com incapacidades e pessoas com VIH/ SIDA.</p><p>37. [...] A obrigação de realizar (promover) o direito à saúde requer que os</p><p>Estados Partes realizem ações que criem, mantenham e restabeleçam a saúde da</p><p>população. Entre essas obrigações figuram as seguintes: (...) (ii) assegurar que os</p><p>serviços de saúde sejam culturalmente apropriados e que o pessoal responsável</p><p>pelos cuidados de saúde receba formação de modo a reconhecer e a dar resposta</p><p>às necessidades concretas dos grupos vulneráveis ou marginalizados.</p><p>65. O papel da OMS, do Gabinete do Alto Comissariado das Nações Unidas para os</p><p>Refugiados, do Comité Internacional da Cruz Vermelha/Crescente Vermelho e do</p><p>UNICEF, bem como de organizações não governamentais e associações médicas</p><p>nacionais, é de particular importância no que respeita à prestação de auxílio</p><p>em casos de desastre e de assistência humanitária em casos de emergência,</p><p>incluindo assistência a refugiados e a deslocados internos. Ao proporcionar</p><p>ajuda médica internacional e ao distribuir e gerir recursos como água limpa e</p><p>potável, alimentos e equipamento médico, bem como ajuda financeira, há que</p><p>dar prioridade aos grupos mais vulneráveis ou marginalizados da população.</p><p>19. O Comitê recorda o nº 12 do Comentário Geral nº 3, que afirma que mesmo</p><p>em alturas de limitações graves de recursos é preciso proteger os membros</p><p>vulneráveis da sociedade mediante a adoção de programas especiais de relativo</p><p>baixo custo. (COMITÊ DE DIREITOS ECONÔMICOS, SOCIAIS E CULTURAIS, 2000).</p><p>Pelo princípio da accountability, os Estados devem ser transparentes sobre seus</p><p>processos de tomada de decisão, suas ações ou omissões, e devem implementar</p><p>mecanismos de reparação de falhas. Existem muitas formas de aplicar o princípio</p><p>83Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>da accountability do Estado, por exemplo:</p><p>• Quando o Estado ratifica tratados e incorpora as normas internacionais</p><p>na legislação nacional;</p><p>• Por meio de mecanismos judiciais e quase judiciais, como decisões</p><p>judiciais, revisões constitucionais, comissões nacionais de direitos</p><p>humanos;</p><p>• Por meio de mecanismos administrativos e de política, como revisões de</p><p>políticas e estratégias de saúde, auditorias e avaliações de impacto sobre</p><p>direitos humanos;</p><p>• Por mecanismos políticos, por exemplo, processos parlamentares,</p><p>monitoramento e advocacia por ONGs.</p><p>Você pode saber mais sobre os princípios norteadores do direito</p><p>à saúde por meio da leitura do Comentário Geral nº 14 de 2000,</p><p>do Comitê de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais da ONU.</p><p>O documento, que possui linguagem simples e acessível, é a</p><p>referência internacional do conteúdo do direito à saúde. Para isso,</p><p>acesse o link https://acnudh.org/wp-content/uploads/2011/06/</p><p>Compilation-of-HR-instruments-and-general-comments-2009-</p><p>PDHJTimor-Leste-portugues.pdf e inicie sua leitura na página 150</p><p>do documento.</p><p>2.1.2. Elementos do direito à saúde</p><p>Considerando que os conteúdos do direito à saúde (serviços, bens e instalações de</p><p>saúde) devem ser disponíveis, acessíveis, de qualidade e aceitáveis, podemos dizer</p><p>que o direito à saúde compreende quatro elementos:</p><p>• Disponibilidade</p><p>• Acessibilidade</p><p>• Qualidade</p><p>• Aceitabilidade</p><p>Esses elementos são essenciais e inter-relacionados, e sua aplicação dependerá</p><p>das condições predominantes no Estado. Os elementos possuem uma função</p><p>diagnóstica, pois direcionam a atenção para o que ainda precisa ser feito, à medida</p><p>que os governos nacionais avançam para a cobertura de saúde. Os governos podem</p><p>proteger o direito à saúde por meio do aumento da capacidade e da qualidade de</p><p>saúde, assegurando que esses serviços permaneçam acessíveis a todos.</p><p>A seguir, veja o detalhamento de cada um dos elementos do direito à saúde, definidos</p><p>pelo Comentário Geral nº 14/2000 no parágrafo nº 12.</p><p>https://acnudh.org/wp-content/uploads/2011/06/Compilation-of-HR-instruments-and-general-comments-2009-PDHJTimor-Leste-portugues.pdf</p><p>https://acnudh.org/wp-content/uploads/2011/06/Compilation-of-HR-instruments-and-general-comments-2009-PDHJTimor-Leste-portugues.pdf</p><p>https://acnudh.org/wp-content/uploads/2011/06/Compilation-of-HR-instruments-and-general-comments-2009-PDHJTimor-Leste-portugues.pdf</p><p>84Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>+ Disponibilidade</p><p>Para que seja identificado o elemento da disponibilidade, os bens, os serviços e</p><p>as instalações de saúde precisam existir em número suficiente e incluir fatores</p><p>determinantes de saúde:</p><p>Cada Estado Parte tem de ter disponível um número suficiente</p><p>de estabelecimentos, bens e serviços públicos de saúde e centros</p><p>de atendimento de cuidados de saúde, assim como programas. A</p><p>natureza precisa dos estabelecimentos, bens e serviços irá depender</p><p>de inúmeros fatores, incluindo o nível de desenvolvimento do Estado</p><p>Parte. Estes serviços irão, no entanto, incluir os fatores determinantes</p><p>básicos da saúde, como água limpa e potável e condições sanitárias</p><p>adequadas, hospitais, clínicas e outros estabelecimentos relacionados</p><p>com a saúde, pessoal médico e profissional capacitado e com</p><p>salários competitivos a nível doméstico, assim como medicamentos</p><p>essenciais definidos no Programa de Acção sobre Medicamentos</p><p>Essenciais da OMS [Organização Mundial da Saúde]. (COMITÊ DE</p><p>DIREITOS ECONÔMICOS, SOCIAIS E CULTURAIS, 2000)</p><p>+ Acessibilidade</p><p>Os estabelecimentos, bens e serviços de saúde têm de ser acessíveis a todos,</p><p>sem discriminação, no âmbito do Estado parte. A acessibilidade consta de quatro</p><p>dimensões sobrepostas:</p><p>(i) Não discriminação: Os estabelecimentos, bens e serviços de saúde têm de ser</p><p>acessíveis a todos, em especial os sectores mais vulneráveis e marginalizados da</p><p>população, nos termos da lei e de facto.</p><p>(ii) Acessibilidade física: Os estabelecimentos, bens e serviços de saúde têm de</p><p>se encontrar num alcance geográfico seguro por parte de todos os setores da</p><p>população, em especial os grupos vulneráveis ou marginalizados,</p><p>Figura 3 - Direito</p><p>à educação</p><p>Figura 4 - Direito</p><p>ao trabalho</p><p>Figura 5 - Direito</p><p>à saúde</p><p>Figura 6 - Direito</p><p>à liberdade</p><p>Fonte: https://www.flaticon.com/br</p><p>Uma característica importante dos direitos humanos é a sua essência ética. Além</p><p>desse aspecto, esses direitos são normas jurídicas estabelecidas em diferentes</p><p>fontes de direito internacional.</p><p>Assim, pode-se dizer que os direitos em questão são demandas sociais que buscam</p><p>realizar bens éticos que permitem que os indivíduos desfrutem de uma vida digna,</p><p>e que sejam reconhecidos pela sociedade. Os direitos humanos desempenham</p><p>a função de concretizar a dignidade humana para que todos os seres humanos</p><p>possam desenvolver suas capacidades pessoais.</p><p>1.1.2. Quais são as características dos direitos humanos?</p><p>O conceito adotado pela Organização das Nações Unidas (ONU) atribui aos direitos</p><p>humanos as seguintes características:</p><p>https://www.flaticon.com/br</p><p>8Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>Figura 7 - Características dos direitos humanos</p><p>Fonte: elaborada pela autora.</p><p>O conceito de direitos humanos pode ser aplicado ao âmbito da saúde da seguinte</p><p>forma:</p><p>Na esfera da saúde, todos os pacientes,</p><p>independentemente do status pessoal e da relação</p><p>travada com o profissional de saúde ou o provedor</p><p>privado de saúde, ou seja, se de consumo ou de</p><p>usuário de serviço público, são detentores de direitos</p><p>humanos, o que, obviamente, os diferencia dos</p><p>direitos do consumidor, que pressupõe a existência</p><p>de uma relação de consumo (ALBUQUERQUE, 2016, p.</p><p>27).</p><p>9Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>Figura 8 - Direitos humanos e saúde</p><p>Fonte: “A young patient has his vital signs checked” by World Bank Photo</p><p>Collection is licensed under CC BY-NC-ND 2.0. To view a copy of this license, visit</p><p>https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/2.0/?ref=openverse.</p><p>1.1.3. Conteúdo dos direitos humanos</p><p>Conforme você viu anteriormente, os direitos humanos consistem em normas</p><p>jurídicas com essência ética que se encontram em diferentes fontes de direito</p><p>internacional. Assim, entendemos que esses direitos possuem duplo conteúdo:</p><p>ético e jurídico. Se não estiverem presentes em dispositivos legais internacionais, os</p><p>enunciados serão apenas exigências éticas, sem configurar direitos.</p><p>Sobre isso, é importante destacar que apenas fontes de direito internacional podem</p><p>originar direitos humanos: normas constitucionais ou leis nacionais não geram</p><p>direitos humanos.</p><p>https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/2.0/?ref=openverse</p><p>10Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>Figura 9 –Duplo conteúdo dos direitos humanos</p><p>Fonte: elaborada pela autora.</p><p>Conforme falamos anteriormente, os direitos humanos estão dispostos em</p><p>documentos jurídicos internacionais. Porém, no que diz respeito ao texto, a forma</p><p>como esses direitos estão descritos nos referidos documentos é relativamente</p><p>vaga. Por esse motivo, é necessário pormenorizar o conteúdo dos direitos humanos</p><p>para que possam ser aplicados. A jurisprudência internacional é quem explora e</p><p>demarca esse conteúdo.</p><p>1.1.4. Titulares e sujeitos de direitos humanos</p><p>Os titulares de direitos humanos são os indivíduos (ou grupos de indivíduos)</p><p>que podem exigir do Estado e de seus agentes que seus direitos humanos sejam</p><p>respeitados, protegidos e colocados em prática. Quando um titular do direito</p><p>humano tem uma demanda, existe do outro lado o sujeito responsável por atender</p><p>a essa exigência, que é o Estado.</p><p>O Estado é o sujeito que tem obrigações para com os indivíduos no plano do Direito</p><p>Internacional dos Direitos Humanos. Por esse motivo, a relação de direitos humanos</p><p>se estabelece exclusivamente entre o Estado e os indivíduos.</p><p>11Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>Figura 10 - Titulares e sujeitos de direitos humanos</p><p>Fonte: elaborada pela autora.</p><p>Como exemplo, temos a importante situação da primeira condenação do Brasil no</p><p>âmbito do Sistema Interamericano de Direitos Humanos, no caso Ximenes Lopes vs.</p><p>Brasil (2006):</p><p>O Sr. Damião Ximenes Lopes foi internado na Casa de Repouso</p><p>Guararapes em outubro de 1999. A Casa era um centro de</p><p>atendimento psiquiátrico privado que operava no âmbito do</p><p>Sistema Único de Saúde (SUS), em Sobral, Ceará. O Sr. Ximenes</p><p>Lopes veio a falecer na Casa de Repouso três dias após a sua</p><p>internação.</p><p>A Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH)</p><p>entendeu que o Sr. Damião Ximenes Lopes foi submetido a</p><p>condições desumanas e degradantes durante sua hospitalização,</p><p>tendo sofrido violação da sua integridade pessoal por parte dos</p><p>funcionários da Casa de Repouso Guararapes.</p><p>Como falamos acima, no âmbito do Direito Internacional dos</p><p>Direitos Humanos, o Estado é quem tem obrigações para com</p><p>os indivíduos. Sendo assim, a Corte IDH estabeleceu, no caso</p><p>Ximenes Lopes vs. Brasil, que os Estados têm o dever de garantir</p><p>atendimento médico eficaz aos pacientes com transtorno</p><p>mental. Ademais, ressaltou, entre outros aspectos, que o lugar e</p><p>as condições físicas em que o tratamento se desenvolve devem</p><p>estar de acordo com o respeito à dignidade humana.</p><p>Segundo a Corte, o Estado brasileiro violou, com relação ao</p><p>Sr. Damião Ximenes Lopes, o direito de não ser torturado ou</p><p>submetido a pena ou tratamento desumano ou degradante,</p><p>que é um direito absoluto. O Estado é o sujeito da obrigação</p><p>12Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>de atender à demanda de direitos humanos e, portanto, é ele</p><p>quem tem o dever de alocar recursos suficientes para satisfazer</p><p>às necessidades básicas dos pacientes e de mover a máquina</p><p>administrativa no sentido de implantar políticas, programas e</p><p>legislações que evitem a prática de tais condutas por parte dos</p><p>profissionais da saúde.</p><p>Por esse motivo, o Estado (e não os profissionais da saúde</p><p>envolvidos no caso Ximenes Lopes vs. Brasil) foi punido no âmbito</p><p>internacional: ele é o responsável por assegurar o cumprimento</p><p>dos direitos humanos com relação aos seus indivíduos.</p><p>Sobre isso, citamos o seguinte trecho do livro “Direitos Humanos dos Pacientes”, da</p><p>especialista e pós-doutora em Direitos Humanos Aline Albuquerque:</p><p>Na esfera dos cuidados em saúde, a responsabilização</p><p>internacional pela violação dos direitos humanos</p><p>recairá sobre o Estado e não sobre os profissionais da</p><p>saúde, embora a prática do ato violador possa ter sido</p><p>efetivada pelos últimos. Sendo assim, o Estado tem o</p><p>dever de adotar medidas legislativas, administrativas</p><p>ou de outra natureza que impeçam a violação dos</p><p>direitos humanos dos pacientes. Contudo, se a</p><p>despeito de tais medidas, houver o desrespeito a</p><p>determinado direito humano, o Estado não pode</p><p>permanecer passivo, pois tem o dever de prover os</p><p>remédios legais efetivos ao paciente para reparar a</p><p>violação ocorrida, assegurando a reparação do dano e</p><p>a responsabilização dos agentes violadores com base</p><p>na legislação nacional. (ALBUQUERQUE, 2016, p. 27)</p><p>É importante esclarecer que as relações entre os indivíduos, entre estes e entidades</p><p>privadas e as relações entre Estados não constituem relações de direitos humanos:</p><p>13Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>Figura 11 - Não são relações de direitos humanos</p><p>Fonte: elaborado pela autora</p><p>1.2. Histórico dos direitos humanos</p><p>1.2.1. Introdução</p><p>Estudaremos a seguir alguns fatos relevantes na história dos direitos humanos e</p><p>como se deu a evolução desses direitos ao longo do tempo por meio de diferentes</p><p>documentos. O estudo da história está dividido por séculos, para facilitar a</p><p>compreensão do todo.</p><p>1.2.2. Antes do século XVIII</p><p>Durante a idade média, a concepção sobre a igualdade dos seres humanos era</p><p>fundada em concepções religiosas. A nobreza possuía maior status moral do que o</p><p>chamado Terceiro Estado, o poder político era ilimitado e a relação política da época</p><p>era desigual, pois um dos sujeitos da relação se encontrava “no alto”, enquanto o</p><p>outro estava “em baixo”.</p><p>Os seguintes documentos desse período são considerados importantes</p><p>como as minorias</p><p>étnicas e populações indígenas, as mulheres, as crianças, os adolescentes, os</p><p>idosos, pessoas com incapacidades e pessoas com HIV/AIDS. A acessibilidade</p><p>também implica que os serviços médicos e os determinantes sociais da saúde,</p><p>como a água limpa e potável e os serviços sanitários adequados, se encontrem</p><p>a uma distância geográfica segura e razoável, inclusive no que se refere a zonas</p><p>rurais. Além disso, a acessibilidade também inclui acesso adequado aos edifícios</p><p>por parte de pessoas com deficiência.</p><p>(iii) Acessibilidade econômica: Os estabelecimentos, bens e serviços de saúde</p><p>devem estar ao alcance de todos. Os pagamentos por serviços de cuidados de</p><p>saúde, bem como serviços relacionados com os fatores determinantes subjacentes</p><p>à saúde, têm de se basear no princípio da equidade, a fim de assegurar que esses</p><p>serviços, sejam públicos ou privados, estejam ao alcance de todos, incluindo dos</p><p>85Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>grupos socialmente desfavorecidos. A equidade exige que não recaia uma carga</p><p>desproporcionada sobre a camada mais pobre da população, no que se refere a</p><p>gastos de saúde, em comparação com as mais ricas.</p><p>(iv) Acesso à informação: Este acesso inclui o direito de solicitar, receber e difundir</p><p>informações e ideias relativas a questões de saúde. No entanto, o acesso à</p><p>informação não deve comprometer o direito de que os dados pessoais relativos</p><p>à saúde sejam tratados com confidencialidade.</p><p>+ Qualidade e Aceitabilidade</p><p>A qualidade dos cuidados em saúde impacta diretamente no gozo dos outros</p><p>direitos humanos, como o direito à vida e o direito ao respeito pela vida privada,</p><p>pois cuidados em saúde sem qualidade, como os providos por profissionais de</p><p>saúde e peritos, baseados em tecnologia insegura ou não centrados na pessoa</p><p>sob cuidados em saúde podem causar danos à pessoa sob cuidados em saúde e</p><p>desrespeitar seus valores e crenças privadas. (ALBUQUERQUE, 2016, p.174)</p><p>A aceitabilidade, por sua vez, pode ser definida como o respeito pela ética</p><p>médica e pelos padrões culturais por parte dos serviços de saúde.</p><p>2.1.3. Monitoramento do direito à saúde</p><p>Os Estados, ao se comprometerem com instrumentos internacionais de direitos,</p><p>passam a ter obrigações com relação a esses direitos. Nesse sentido, podemos dizer</p><p>que o Estado possui três tipos de obrigações com relação aos direitos humanos:</p><p>1. Obrigação de respeitar</p><p>A obrigação de respeitar corresponde à chamada obrigação negativa, que é</p><p>a obrigação de deixar de fazer algo. Nesse caso, os Estados devem abster-se</p><p>de negar ou limitar o acesso de todas as pessoas a bens e serviços de saúde.</p><p>Além disso, devem deixar de impor práticas discriminatórias.</p><p>2. Obrigação de proteger</p><p>A obrigação de proteger envolve uma atuação do Estado. Essa atuação deve</p><p>acontecer no sentido de evitar que terceiros violem o direito à saúde dos seus</p><p>jurisdicionados. Por exemplo, o Estado deve estabelecer requisitos para a</p><p>formação de profissionais de saúde e controlar a produção, distribuição e</p><p>venda de medicamentos para garantir que o atendimento em saúde e os</p><p>medicamentos ofertados sejam aceitáveis e de qualidade.</p><p>3. Obrigação de realizar</p><p>A obrigação de realizar está relacionada a ações de “garantir” por parte</p><p>do Estado. Um status deve garantir os cuidados em saúde, bem como os</p><p>serviços de promoção e a prevenção em saúde.</p><p>86Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>Quanto à obrigação de realizar, indaga se qual é a</p><p>amplitude dessa obrigação, ou seja, qual é a cesta de</p><p>bens e serviços que os Estados devem prover, direta</p><p>ou indiretamente, na medida em que o direito à saúde</p><p>é um direito de realização progressiva, pois depende</p><p>de recursos orçamentários. Quanto a tal aspecto,</p><p>embora se reconheça as implicações financeiras</p><p>concernentes à efetivação do direito à saúde, os</p><p>Estados têm a obrigação de avançar constantemente</p><p>o mais rápido e eficazmente até a plena realização do</p><p>direito. (ALBUQUERQUE, 2016, p. 172)</p><p>O Estado possui, ainda, de acordo com o Comitê sobre os Direitos Econômicos Sociais</p><p>e Culturais da ONU, as chamadas obrigações básicas, que dizem respeito ao mínimo</p><p>de cumprimento do direito à saúde. Algumas dessas obrigações básicas são:</p><p>• A atenção à saúde primária</p><p>• O acesso a bens e serviços sobre base não discriminatória</p><p>• Medicamentos essenciais</p><p>• Alimentação essencial mínima</p><p>Assim, podemos concluir que, sob a perspectiva do direito à</p><p>saúde, os Estados precisam assegurar a disponibilidade e a</p><p>acessibilidade a bens e serviços de saúde de qualidade, aceitáveis</p><p>sob o ponto de vista ético e cultural.</p><p>+ Quais bens e serviços devem ser proporcionados pelo Estado?</p><p>Apesar de haver alguns parâmetros, como os serviços de emergência e a atenção</p><p>primária à saúde, a jurisprudência internacional não define a cesta de bens e</p><p>serviços que os Estados devem prover para todos.</p><p>Como foi dito anteriormente, os Estados devem cumprir as obrigações com as</p><p>quais se comprometeram por meio de normas internacionais de direitos humanos.</p><p>Para avaliar se e como os Estados têm cumprido essas obrigações, os órgãos</p><p>internacionais de direitos humanos possuem ferramentas de monitoramento</p><p>chamadas mecanismos.</p><p>Os mecanismos são os meios pelos quais os órgãos realizam o</p><p>monitoramento da aplicação dos tratados pelos Estados.</p><p>87Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>No que diz respeito ao direito à saúde, o cumprimento desse direito pelos Estados é</p><p>monitorado, no âmbito da ONU, por um órgão chamado Comitê sobre os Direitos</p><p>Econômicos, Sociais e Culturais. Para realizar esse monitoramento, o Comitê usa</p><p>o mecanismo de Procedimentos Especiais.</p><p>O procedimento especial que monitora o direito à saúde se materializa por meio de</p><p>uma pessoa, que é o Relator Especial sobre o Direito à Saúde. É importante destacar</p><p>que os Estados têm a obrigação internacional de cooperar com os Procedimentos</p><p>Especiais.</p><p>O Relator Especial sobre o Direito à Saúde é um especialista independente que elabora</p><p>relatórios e orientações sobre o direito à saúde. Além disso, ele pode realizar visitas</p><p>aos Estados, contribuir para a produção de padrões internacionais relacionados</p><p>ao direito à saúde, atuar em casos singulares de violação de direitos humanos e</p><p>pode, ainda, enviar comunicações aos Estados em contextos de sistemática e ampla</p><p>violação do direito à saúde.</p><p>O Relatório do Relator Especial sobre o Direito à Saúde Dainius Pūras, publicado em</p><p>junho e julho de 2020, mencionou o Brasil. Em relação ao tema “modelos alternativos</p><p>de serviços de saúde mental como direitos humanos na prática: conceitos-chave e</p><p>princípios de apoio baseado em direitos”, o relator afirmou que:</p><p>Tais práticas alternativas com potencial transformador existem há décadas, com</p><p>muitos se mostrando eficazes. Eles assumem muitos formatos, desde o louvável</p><p>trabalho global da OMS com sua iniciativa Quality Rights para melhorar a qualidade</p><p>dos cuidados e serviços de saúde mental, passando por reformas de saúde</p><p>comunitária em nível de sistemas no Brasil e na Itália, e até inovações altamente</p><p>localizadas em diferentes configurações de recursos ao redor o mundo, como</p><p>Soteria House, Open Dialogue, centros de descanso entre pares desenvolvimento,</p><p>enfermarias livres de medicamentos, comunidades de recuperação e modelos de</p><p>desenvolvimento comunitário. Uma revolução silenciosa vem ocorrendo em bairros</p><p>e comunidades em todo o mundo. Na raiz dessas alternativas está um profundo</p><p>compromisso com os direitos humanos, a dignidade e as práticas não coercitivas,</p><p>que continuam sendo um desafio indescritível nos sistemas tradicionais de saúde</p><p>mental que dependem muito de um paradigma biomédico. (HUMAN RIGHTS</p><p>COUNCIL, 2020, p. 13, tradução nossa).</p><p>O Comitê sobre os Direitos Econômicos, Sociais e Culturais elabora comentários</p><p>gerais, ou seja, estudos aprofundados sobre seus temas, que visam guiar os</p><p>88Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>Estados no cumprimento das disposições do Pacto</p><p>Internacional sobre os Direitos</p><p>Econômicos, Sociais e Culturais.</p><p>Os Comentários Gerais relacionados ao direito à saúde são:</p><p>+ E/C.12/2000/4: Comentário Geral Nº 14 sobre o mais alto padrão de saúde</p><p>alcançável (2000)</p><p>Nesse Comentário, o Comitê discorreu sobre questões substanciais decorrentes</p><p>da implementação do Pacto Internacional sobre os Direitos Econômicos, Sociais</p><p>e Culturais. O Comentário definiu o conteúdo normativo do artigo 12 do Pacto,</p><p>que trata do direito à saúde, detalhou as obrigações dos Estados e de outros</p><p>atores, mencionou as violações ao direito à saúde e estabeleceu diretrizes para</p><p>a implementação do direito em nível nacional.</p><p>+ Comentário Geral nº 22 (2016) sobre o Direito à Saúde Sexual e</p><p>Reprodutiva (artigo 12 do Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos,</p><p>Sociais e Culturais)</p><p>Considerando as graves violações do direito à saúde sexual e reprodutiva, o</p><p>Comitê decidiu por emitir um Comentário Geral em separado sobre o tema, já</p><p>que o Comentário Geral anterior, de 2000, havia abordado apenas em parte a</p><p>questão da saúde sexual e reprodutiva.</p><p>2.2. Direito à saúde mental</p><p>Começaremos definindo o que é direito à saúde mental.</p><p>No relatório de 2017 para a Assembleia Geral da ONU (A/HRC/35/21), o então</p><p>Relator Especial sobre o Direito de Todos à Fruição do Mais Alto Padrão Atingível de</p><p>Saúde Física e Mental, Dainius Pūras, afirmou que há evidências de que não pode</p><p>haver saúde sem saúde mental. Apesar disso, em nenhum lugar do mundo a saúde</p><p>mental tem paridade com a saúde física em termos de orçamento ou educação e</p><p>prática médica.</p><p>O Pacto Internacional sobre os Direitos Econômicos, Sociais e Culturais reconhece,</p><p>no artigo 12, que a saúde mental é uma parte integral da saúde, e que, portanto,</p><p>a saúde mental é igualmente uma parte integral do direito à saúde.</p><p>89Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>Nesse sentido, os Princípios para a Proteção das Pessoas com Transtorno Mental</p><p>e para o Melhoramento dos Cuidados em Saúde da ONU apresentam importantes</p><p>diretrizes a serem adotadas em prol do direito à saúde mental.</p><p>O parágrafo 1 desse documento afirma que “todas as pessoas têm direito aos</p><p>melhores cuidados de saúde mental disponíveis, que devem fazer parte do sistema</p><p>de saúde e assistência social” (GENERAL ASSEMBLY, 1991, tradução nossa).</p><p>Assim podemos identificar quatro características do direito à</p><p>saúde mental:</p><p>• Esse é um direito de todas as pessoas;</p><p>• Os cuidados de saúde mental a que os titulares fazem</p><p>jus devem ser os de maior qualidade dentre aqueles</p><p>disponíveis;</p><p>• Os cuidados de saúde mental devem fazer parte do</p><p>sistema de saúde e assistência social;</p><p>• Todas as pessoas têm direito aos cuidados de saúde</p><p>que forem oferecidos no sistema de saúde e assistência</p><p>social.</p><p>Perceba que os direitos à igualdade e a não discriminação, que se encontram</p><p>presentes no direito à saúde, também podem ser identificados no direito à saúde</p><p>mental, na medida em que esse é um direito de todas as pessoas. Sobre isso, o</p><p>relatório de 2019 do Relator Especial sobre o Direito de Todos à Fruição do Mais</p><p>Alto Padrão Atingível de Saúde Física e Mental afirma que a discriminação por</p><p>qualquer motivo, dentro e fora do contexto da saúde mental, é tanto causa quanto</p><p>consequência de uma saúde mental precária.</p><p>Para que o direito à saúde mental seja atendido, deve haver cuidados e instalações</p><p>de apoio e bens e serviços disponíveis, acessíveis, aceitáveis e de boa qualidade.</p><p>Conforme o parágrafo 1 dos Princípios para a Proteção das Pessoas com Transtorno</p><p>Mental e para o Melhoramento dos Cuidados em Saúde da ONU, que mencionamos</p><p>anteriormente, “todas as pessoas têm direito aos melhores cuidados de saúde</p><p>mental disponíveis” (GENERAL ASSEMBLY, 1991 - tradução nossa). Nesse sentido,</p><p>veja, no Quadro a seguir, o que o relatório A/HRC/35/21 de 2017 afirma sobre a</p><p>qualidade e a disponibilidade dos serviços de saúde mental:</p><p>90Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>Quadro 12 - Qualidade e disponibilidade dos serviços de saúde mental</p><p>Tema Conteúdo</p><p>Serviços de</p><p>saúde mental</p><p>adequados</p><p>Devem abranger um amplo pacote de serviços integrados e</p><p>coordenados de promoção, prevenção, tratamento, reabilitação,</p><p>atenção e recuperação, incluindo serviços de saúde mental</p><p>integrados aos cuidados de saúde primários e gerais. Os</p><p>serviços devem apoiar os direitos das pessoas com deficiência</p><p>intelectual, cognitiva e psicossocial e com autismo a viver de</p><p>forma independente e serem incluídas na comunidade.</p><p>Qualidade</p><p>dos serviços</p><p>Requer o uso de práticas baseadas em evidências para</p><p>apoiar a prevenção, promoção, tratamento e recuperação.</p><p>A colaboração eficaz entre os diferentes prestadores de</p><p>serviços e as pessoas que utilizam os serviços e suas famílias</p><p>e parceiros de cuidados também promove a melhoria</p><p>da qualidade dos cuidados. O abuso de intervenções</p><p>biomédicas e o uso de coerção e internações forçadas</p><p>comprometem o direito à assistência de qualidade.</p><p>Usuários como</p><p>titulares ativos</p><p>de direitos</p><p>Os Estados devem repensar a forma como prestam assistência</p><p>e apoio à saúde mental, considerando os usuários como</p><p>titulares ativos de direitos. É necessário acabar com as</p><p>práticas discriminatórias e priorizar a ampliação dos serviços</p><p>psicossociais baseados na comunidade e a mobilização de</p><p>recursos sociais que possam apoiar todos ao longo de sua vida.</p><p>Fonte: Elaborado pela autora, com base em HUMAN RIGHTS COUNCIL, 2017, p. 13-14.</p><p>A saúde mental, assim como a saúde de forma geral, possui</p><p>estreita relação com os direitos humanos: essa é uma relação</p><p>integral e interdependente.</p><p>A relação entre direitos humanos e saúde mental é fundamental para entendermos</p><p>a importância do acesso universal aos serviços de saúde mental. A violação dos</p><p>direitos humanos pode afetar negativamente a saúde mental das pessoas, causando</p><p>traumas, depressão, ansiedade, entre outros problemas. Por exemplo, em situações</p><p>de conflito armado, as pessoas podem ser submetidas a torturas e violências que</p><p>afetam diretamente sua saúde mental.</p><p>Da mesma forma, as práticas de tratamento coercitivo podem violar os direitos</p><p>humanos e prejudicar a saúde mental das pessoas. Por exemplo, quando as pessoas</p><p>são internadas em instituições psiquiátricas sem seu consentimento, isso pode</p><p>causar traumas e aumentar a estigmatização social.</p><p>Por outro lado, a convergência entre direitos humanos e determinantes da saúde é</p><p>91Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>crucial para promover a saúde mental. A pobreza, a desigualdade, a discriminação e a</p><p>violência são determinantes sociais que podem afetar negativamente a saúde mental</p><p>das pessoas. Por exemplo, a falta de acesso à educação e ao emprego pode levar ao</p><p>isolamento social e à exclusão, afetando negativamente a saúde mental das pessoas.</p><p>Assim, é essencial que os Estados invistam em políticas públicas que promovam a</p><p>igualdade social, a justiça e a garantia dos direitos humanos. A saúde mental é um</p><p>direito humano, e a promoção da saúde mental é essencial para garantir a dignidade</p><p>e a qualidade de vida das pessoas. Além disso, investir em saúde mental pode trazer</p><p>benefícios clínicos e econômicos para a sociedade, reduzindo o custo do tratamento</p><p>de transtornos mentais e melhorando a produtividade e o bem-estar dos indivíduos.</p><p>O direito ao mais alto padrão possível de saúde mental está protegido pelo Pacto</p><p>Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais. Por estar previsto nesse</p><p>documento, o respeito a esse direito é obrigatório pelos Estados partes. Padrões legais</p><p>complementares são estabelecidos em outros instrumentos de direitos humanos,</p><p>como a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, a Convenção para</p><p>a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher e a Convenção</p><p>sobre os Direitos da Criança. Ainda, os Estados partes têm a obrigação de respeitar,</p><p>proteger e cumprir o direito à saúde mental nas leis, nos regulamentos, nas políticas,</p><p>nas medidas</p><p>orçamentárias, nos programas e em outras iniciativas nacionais.</p><p>Os Estados têm a obrigação tripartida de respeitar, proteger e cumprir o direito</p><p>à saúde mental. Veja, a seguir, como o Relator Especial sobre o Direito de Todos à</p><p>Fruição do Mais Alto Padrão Atingível de Saúde Física e Mental definiu cada tipo de</p><p>obrigação do Estado no Relatório de 2019.</p><p>Podcast 2 - Obrigações dos Estados quanto à saúde mental</p><p>No Brasil, a Lei nº 10.216, de 6 de abril de 2001, é o principal</p><p>instrumento legal de proteção aos direitos das pessoas com</p><p>transtorno mental. Assim, o respeito aos seus direitos pode</p><p>consolidar a efetivação do direito à saúde mental.</p><p>Acesse o texto da lei pelo link: http://www.planalto.gov.br/</p><p>ccivil_03/leis/leis_2001/l10216.htm</p><p>Podemos perceber que o direito à saúde e o direito à saúde mental são direitos</p><p>humanos, sendo o segundo parte importante do primeiro. Afinal, aprendemos</p><p>que não há saúde sem saúde mental. Esses direitos não consistem somente no</p><p>https://podcasters.spotify.com/pod/show/enap/episodes/EV-G-Obrigaes-dos-Estados-quanto--sade-mental-e21qvpu</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10216.htm</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10216.htm</p><p>92Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>alcance do bem-estar físico ou mental, mas também envolvem os principais fatores</p><p>determinantes da saúde, como discriminação, violência, acesso à água potável e</p><p>condições sadias de trabalho e meio ambiente. Para que se possa alcançar os direitos</p><p>à saúde e à saúde mental, é necessário que os bens, os serviços e as instalações</p><p>relacionados a eles sejam disponíveis, acessíveis, aceitáveis e de qualidade.</p><p>Para monitorar o comportamento dos Estados com relação ao direito à saúde, a</p><p>ONU usa o mecanismo de Procedimentos Especiais do Comitê sobre os Direitos</p><p>Econômicos, Sociais e Culturais. Esse mecanismo se materializa na figura de uma</p><p>pessoa, a Relatora sobre o Direito de Todos à Fruição do Mais Alto Padrão de</p><p>Saúde Física e Mental.</p><p>93Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>3. Direitos humanos aplicados às pessoas sob</p><p>cuidados em saúde</p><p>Os direitos humanos são aplicáveis de diversas formas à esfera dos cuidados em</p><p>saúde. Entre esses direitos, destacam-se direito à privacidade, o direito de não ser</p><p>discriminado, o direito de não ser submetido à tortura, nem a tratamento cruel,</p><p>desumano ou degradante e o direito à liberdade.</p><p>A seguir, vamos apresentar o conteúdo geral desses direitos de acordo com</p><p>a jurisprudência internacional e com a literatura produzida por especialistas.</p><p>Abordaremos também as definições, as obrigações decorrentes desses direitos e</p><p>sua conexão com o tema dos cuidados em saúde.</p><p>Ademais, você verá a aplicação desses direitos em uma ou mais temáticas relevantes</p><p>na atualidade e, ao final de cada tópico, uma tabela contendo direitos da pessoa sob</p><p>cuidados em saúde decorrentes do direito humano que foi analisado.</p><p>3.1. Direito à privacidade</p><p>O direito ao respeito da vida privada envolve questões relativas à privacidade da</p><p>pessoa sob cuidados em saúde e a confidencialidade de seus dados pessoais,</p><p>sendo largamente aplicado na esfera dos cuidados em saúde. Como consequência</p><p>do direito ao respeito da vida privada, o Estado tem o dever de proteger a pessoa</p><p>sob cuidados em saúde de interferências de profissionais de saúde e provedores</p><p>públicos ou privados de saúde.</p><p>Assim, o Estado deve adotar medidas legislativas e outras para</p><p>concretizar a proibição contra essas interferências, garantindo a</p><p>proteção da vida privada da pessoa sob cuidados em saúde.</p><p>O direito ao respeito da vida privada designa que a pessoa sob cuidados em saúde</p><p>tem o direito de conduzir a sua própria vida sem interferência:</p><p>• Em seu corpo;</p><p>• Em suas escolhas pessoais;</p><p>Salvo em situações excepcionais e definidas pela lei.</p><p>O direito à vida privada é um direito relativo, ou seja, ele pode ser restringido</p><p>(diferentemente do direito de não ser submetido à tortura ou a tratamento desumano</p><p>ou degradante, que é um direito absoluto e, por isso, não pode ser restringido).</p><p>Para que o direito à vida privada seja restringido, é necessário que alguns critérios</p><p>94Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>estejam presentes:</p><p>1. Quando houver uma lei que preveja a restrição</p><p>2. Quando essa limitação tiver fundamento legítimo sob o ponto de vista</p><p>do direito Internacional dos Direitos Humanos</p><p>3. Quando a interferência no direito for proporcional</p><p>De acordo com a Convenção Europeia, o direito à privacidade envolve:</p><p>• A confidencialidade dos dados de saúde</p><p>• O direito de recusar cuidados em saúde</p><p>Para a Corte Interamericana de Direitos Humanos, o direito à vida privada é amplo</p><p>e, portanto, não pode ter a sua abrangência definida de forma rígida. Ele inclui, entre</p><p>outras áreas protegidas, o direito de estabelecer e desenvolver relações com outros</p><p>seres humanos e de definir a maneira com que o indivíduo percebe a si mesmo.</p><p>Um exemplo de jurisprudência internacional da aplicação do direito à vida privada</p><p>na esfera da saúde mental é o caso X e Y v. Países Baixos, julgado pela Corte Europeia</p><p>de Direitos Humanos em 1985. Nesse caso, a Corte considerou que a internação</p><p>involuntária em um hospital psiquiátrico sem o consentimento da pessoa viola o</p><p>direito à privacidade.</p><p>Os requerentes, um casal, foram internados involuntariamente em um hospital</p><p>psiquiátrico pelos serviços de saúde mental dos Países Baixos. Eles alegaram que</p><p>essa internação foi ilegal e violou seus direitos à liberdade e à privacidade. A Corte</p><p>concordou com os requerentes e afirmou que a internação involuntária constitui</p><p>uma interferência na vida privada e familiar, devendo ser justificada de acordo com</p><p>os princípios do artigo 8 da Convenção Europeia de Direitos Humanos.</p><p>A Corte considerou que a internação involuntária só poderia ser justificada se fosse</p><p>feita de acordo com a lei, se fosse necessária para a proteção da saúde física ou</p><p>mental do paciente e se fosse realizada de acordo com procedimentos adequados</p><p>e com a supervisão de um juiz independente. Além disso, a Corte destacou a</p><p>importância do consentimento informado e da participação ativa do paciente na</p><p>tomada de decisões sobre seu tratamento.</p><p>Esse caso é um exemplo importante da aplicação do direito à vida privada na esfera</p><p>da saúde mental e reforça a necessidade de garantir a proteção dos direitos das</p><p>pessoas com transtornos mentais.</p><p>95Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>Quadro 13 - Direito de recusar cuidados em saúde</p><p>Direito de recusar cuidados em saúde</p><p>1. Direito de não realizar exames, testes e</p><p>outros procedimentos terapêuticos.</p><p>2. Direito de buscar outra opinião médica.</p><p>3. Direito de ter tempo suficiente para tomar</p><p>decisões, salvo em situações de emergência.</p><p>4. Direito de ter suas diretivas antecipadas</p><p>respeitadas pela família e pelos médicos.</p><p>Fonte: ALBUQUERQUE, 2016, p. 130.</p><p>3.1.1. Participação de estudantes de Medicina em tratamentos e</p><p>procedimentos médicos da pessoa sob cuidados em saúde</p><p>A pessoa sob cuidados em saúde tem o direito de negar a presença de pessoas</p><p>estranhas ao seu tratamento em seus exames físicos e em outros procedimentos</p><p>médicos.</p><p>No âmbito dos casos clínicos, é preciso seguir as seguintes condutas:</p><p>• Preservar a identificação da pessoa sob cuidados em saúde, salvo nas</p><p>hipóteses em que esta consentir com a sua divulgação final.</p><p>• Quando a discussão do caso clínico revelar a identidade da pessoa sob</p><p>cuidados em saúde em razão de sua particularidade, o consentimento</p><p>daquela deve ser dado para que o profissional de saúde possa divulgar</p><p>o caso.</p><p>• O direito ao respeito da vida privada da pessoa sob cuidados em saúde</p><p>envolve qualquer informação relativa à sua identidade pessoal e à sua</p><p>imagem, como nome, fotografia, identidade física, e se estende a</p><p>qualquer informação que se possa legitimamente esperar que não seja</p><p>exposta ao público sem o consentimento da pessoa a quem se refere.</p><p>Assim, os profissionais</p><p>de saúde devem se preocupar em não</p><p>identificar a pessoa sob cuidados em saúde quando tornarem</p><p>público o caso clínico, para evitar a ofensa à sua privacidade.</p><p>96Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>Quadro 14 - Direito da pessoa sob cuidados em saúde hospitalizada de ter sua vida</p><p>privada respeitada</p><p>Direito da pessoa sob cuidados em saúde hospitalizada</p><p>de ter sua vida privada respeitada</p><p>1. Direito de não ter estudantes e outros profissionais</p><p>de saúde presentes quando for examinado.</p><p>2. Direito de ser examinado em lugar privado, salvo em</p><p>situações de emergência ou de cuidados intensivos.</p><p>3. Direito de recusar qualquer visita.</p><p>4. Direito de ser informado em momento adequado</p><p>acerca da presença de estudantes de Medicina</p><p>em seu tratamento ou procedimento.</p><p>Fonte: ALBUQUERQUE, 2016, p. 132.</p><p>3.1.2. Confidencialidade das informações relacionadas à saúde da</p><p>pessoa sob cuidados em saúde</p><p>As informações sobre as condições de saúde de uma pessoa são confidenciais em</p><p>razão da própria natureza da informação. Essa confidencialidade também permeia</p><p>a relação médico-pessoa sob cuidados em saúde.</p><p>Confidencialidade quer dizer manter protegida toda informação</p><p>a respeito da pessoa sob cuidados em saúde e não divulgar para</p><p>terceiros sem que esta consinta. Assim, o direito ao respeito da</p><p>vida privada confere à pessoa sob cuidados em saúde o controle de</p><p>qualquer dado sobre sua condição de saúde. Nenhuma condição</p><p>sobre a pessoa sob cuidados em saúde, inclusive sua condição de</p><p>pessoa sob cuidados em saúde, resultados de exames, história</p><p>de vida ou histórico clínico, podem ser revelados sem o seu</p><p>consentimento.</p><p>A quebra da confidencialidade pode ser considerada violação de direitos humanos,</p><p>afinal o acesso à informação sobre a pessoa sob cuidados em saúde precisa ser</p><p>controlado pelo profissional responsável pela sua guarda. Em geral, o acesso aos</p><p>dados só deve ser permitido àqueles profissionais que estiverem diretamente</p><p>envolvidos nos cuidados de saúde e no pagamento de seu tratamento, exames</p><p>e outros procedimentos médicos. Outras pessoas que não estejam legalmente</p><p>autorizadas precisam requerer anuência específica, incluindo familiares, já que</p><p>97Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>as informações sobre o estado de saúde ou qualquer outra informação de cunho</p><p>pessoal só podem ser reveladas aos familiares caso haja o consentimento da pessoa</p><p>sob cuidados em saúde.</p><p>Para a Corte Europeia, o respeito à confidencialidade da informação de saúde é</p><p>essencial também por preservar a confiança nos profissionais e nos serviços de</p><p>saúde em geral. O respeito à privacidade da pessoa sob cuidados em saúde e a</p><p>confidencialidade de seus dados impactam a relação e a condução do tratamento,</p><p>já que a falta de confiança no profissional de Medicina pode desmoralizar a prática</p><p>médica e afetar as políticas e os programas de saúde pública.</p><p>Assim, de acordo com a jurisprudência internacional, os requisitos que precisam ser</p><p>atendidos para que se possa revelar as informações sobre a saúde de determinada</p><p>pessoa sob cuidados em saúde são:</p><p>a) Lei</p><p>b) Necessidade de prevenção da ocorrência de crime, a proteção da saúde</p><p>ou da moral ou a proteção dos direitos e das liberdades de terceiros,</p><p>entre outros</p><p>c) Proporcionalidade da medida</p><p>Quadro 15 - Direito de respeito à confidencialidade das informações relacionadas</p><p>à saúde</p><p>Direito de respeito à confidencialidade das</p><p>informações relacionadas à saúde</p><p>1. Direito de ter seus dados e registros devidamente manuseados</p><p>e arquivados de modo a preservar sua confidencialidade.</p><p>2. Direito de consentir ou não com a revelação de informações</p><p>relacionadas à saúde para terceiros não autorizados,</p><p>incluindo familiares, salvo as exceções consentâneas com as</p><p>normas legais e consentâneas com os direitos humanos.</p><p>3. Direito de ser ouvido previamente em procedimento</p><p>que vise à quebra da confidencialidade das</p><p>informações relacionadas à saúde.</p><p>Fonte: ALBUQUERQUE. 2016, p. 137.</p><p>98Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>3.1.3. Consentimento informado da pessoa sob cuidados em saúde</p><p>no âmbito dos cuidados em saúde</p><p>O consentimento informado é um aspecto fundamental do direito à saúde. Ele</p><p>consiste em uma decisão voluntária e suficientemente informada, que deve</p><p>promover a autonomia, a autodeterminação, a integridade física e o bem-estar da</p><p>pessoa sob cuidados em saúde, e se abre para duas dimensões:</p><p>1. Dimensão geradora do direito da pessoa sob cuidados em saúde de</p><p>participar da adoção de decisões</p><p>2. Dimensão ensejadora de obrigações aos provedores dos serviços de</p><p>saúde</p><p>A informação transmitida à pessoa sob cuidados em saúde precisa abranger os</p><p>benefícios associados ao procedimento, os riscos e as alternativas existentes, e deve</p><p>ser acessível e adequada às circunstâncias em que a pessoa sob cuidados em saúde</p><p>se encontra. Além disso, o consentimento informado deve ser obtido sem coerção</p><p>e influência indevida.</p><p>As informações sobre questões de saúde precisam ser acessíveis, de acordo com</p><p>as necessidades de comunicação de cada pessoa, incluindo suas particularidades</p><p>culturais e físicas. A divulgação de informações deve considerar os diferentes níveis</p><p>de compreensão e, dessa forma, a informação não deve ser demasiadamente</p><p>técnica e complexa.</p><p>O consentimento informado se conecta com outros direitos humanos:</p><p>• O direito a não discriminação</p><p>• A liberdade de pensamento e de expressão</p><p>• O reconhecimento diante da lei</p><p>Assim, os profissionais e provedores precisam estar conscientes dos níveis de</p><p>desigualdade relacionados ao conhecimento técnico detido por eles e pelas pessoas</p><p>sob cuidados em saúde.</p><p>3.2. Direito de não ser discriminado</p><p>Entre os elementos do direito à saúde, encontramos a acessibilidade. Nesse sentido,</p><p>é importante destacar que a não discriminação é uma dimensão da assessibilidade,</p><p>daí a sua importância na esfera dos cuidados em saúde.</p><p>Todos têm direito de acesso a bens e serviços de saúde sobre</p><p>bases não discriminatórias.</p><p>99Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>Cabe aos Estados adotar medidas em prol da igualdade para impedir a discriminação</p><p>vedada pelas normas de direitos humanos. Essas medidas podem conferir, durante</p><p>certo tempo, a determinados grupos, o trato preferencial em questões concretas</p><p>para corrigir a discriminação. Nesse aspecto, é importante compreender que nem</p><p>toda diferenciação de trato constitui discriminação:</p><p>[...] se os critérios para tanto, são razoáveis, objetivos</p><p>e se pretende-se com eles alcançar uma finalidade</p><p>legítima perante as normas de direitos humanos. A</p><p>Corte Europeia de direitos humanos, similarmente,</p><p>assentou que a proibição da discriminação não</p><p>impede qualquer diferença de tratamento baseada</p><p>em características ou status pessoais, pois a</p><p>diferença de tratamento pode ser justificada, ou seja,</p><p>apresentar objetivo legítimo e proporcionalidade</p><p>quanto aos meios empregados e o alvo que se almeja.</p><p>(ALBUQUERQUE, 2016, p. 165)</p><p>Assim, existe uma margem de discricionariedade para se estabelecer distinções entre</p><p>pessoas. Porém, quando a distinção envolve grupos historicamente vulneráveis,</p><p>essa margem se mostra mais restrita e os Estados devem fundamentar solidamente</p><p>o tratamento diferenciado. A avaliação da distinção será feita caso a caso.</p><p>O direito da pessoa sob cuidados em saúde de não ser discriminada</p><p>quer dizer que, em situações similares, esta não deve ser tratada</p><p>distintamente, a não ser que o trato diferenciado se justifique</p><p>pelas exceções citadas anteriormente.</p><p>Um exemplo de jurisprudência internacional da aplicação do direito de não ser</p><p>discriminado na esfera da saúde mental é o caso Stanev vs. Bulgária, julgado pela</p><p>Corte Europeia de Direitos Humanos em 2012.</p><p>Nesse caso, o Sr. Stanev, que sofria de esquizofrenia e outras doenças mentais,</p><p>foi mantido em instituições psiquiátricas pelo governo da Bulgária por mais de dez</p><p>anos, sem nenhuma perspectiva de ser libertado. Ele argumentou que sua detenção</p><p>prolongada e a falta de medidas alternativas violavam seus direitos à liberdade e a</p><p>não discriminação.</p><p>100Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>A Corte Europeia de Direitos Humanos considerou que a detenção prolongada de</p><p>Stanev em instituições psiquiátricas sem nenhuma perspectiva de libertação violou</p><p>seus direitos à liberdade e a não discriminação. A Corte também destacou que as</p><p>autoridades búlgaras não haviam fornecido a Stanev uma avaliação e um tratamento</p><p>adequados às suas condições de saúde mental, o que também representava uma</p><p>forma de discriminação.</p><p>Portanto, o caso Stanev vs. Bulgária é um exemplo de jurisprudência internacional</p><p>que destaca a importância do direito a não discriminação na esfera da saúde mental</p><p>e a necessidade de tratamento e avaliação adequados às pessoas com transtornos</p><p>mentais.</p><p>Quadro 16 – Direito de não ser discriminado</p><p>Direito de não ser discriminado</p><p>1. Direito de não ser tratado com distinção, exclusão, restrição</p><p>ou preferência baseadas em raça, orientação sexual, religião,</p><p>deficiência, identidade de gênero, origem nacional ou</p><p>étnica, renda, de modo que provoque restrições em seus</p><p>direitos humanos na esfera dos cuidados em saúde.</p><p>2. Direito de não ser tratado com distinção, exclusão, restrição</p><p>ou preferência nos serviços de saúde em razão de sua</p><p>enfermidade ou deficiência, de modo que provoque restrições</p><p>em seus direitos humanos na esfera dos cuidados em saúde.</p><p>3. Direito de ser chamado pelo nome de sua preferência.</p><p>4. Direito de ter suas especificidades consideradas quando fizer</p><p>parte de grupos vulneráveis, como mulheres, pessoas idosas,</p><p>pessoas com deficiência, crianças e povos indígenas.</p><p>Fonte: ALBUQUERQUE, 2016, p. 169.</p><p>3.3. Direito de não ser submetido à tortura, nem a</p><p>tratamento cruel, desumano ou degradante</p><p>O direito de não ser submetido à tortura nem a penas ou tratamentos cruéis</p><p>desumanos ou degradantes é um direito absoluto da pessoa sob cuidados em</p><p>saúde. Isso significa que esse direito não pode ser derrogado ou restringido em</p><p>nenhuma situação.</p><p>101Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>Esse direito impõe ao Estado o dever de proteger as pessoas sob cuidados em</p><p>saúde de atos dessa natureza praticados por profissionais ou provedores de saúde,</p><p>públicos ou privados, o que deve ser feito por meio de medidas legislativas, entre</p><p>outras. De acordo com a Comissão de Direitos Humanos da ONU, os profissionais de</p><p>saúde devem receber formação e instrução adequadas sobre a proibição da tortura</p><p>e de penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes, segundo os padrões</p><p>de direitos humanos.</p><p>Ainda nesse sentido, a Corte Interamericana afirmou, na sentença do Caso Ximenes</p><p>Lopes vs. Brasil, que:</p><p>Nos ambientes institucionais em hospitais públicos ou</p><p>privados, o pessoal médico encarregado do cuidado da</p><p>pessoa sob cuidados em saúde exerce forte controle</p><p>ou domínio sobre as pessoas que se encontram</p><p>sujeitas à sua custódia. Este desequilíbrio intrínseco</p><p>de poder entre uma pessoa internada e as pessoas</p><p>que detêm a autoridade se multiplica muitas vezes nas</p><p>instituições psiquiátricas. A tortura e outras formas de</p><p>tratamento cruel, desumano ou degradante, quando</p><p>infringidas a essas pessoas, afetam sua integridade</p><p>psíquica, física e moral, supõem uma afronta a sua</p><p>dignidade e restringem gravemente sua autonomia,</p><p>o que poderia ter como consequência o agravamento</p><p>da doença. (CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS</p><p>HUMANOS, apud Albuquerque, 2016, p. 108)</p><p>A tortura é definida com base na intenção específica de quem a pratica:</p><p>• Obter da vítima ou de uma terceira pessoa informações ou confissões</p><p>• Castigar, intimidar ou coagir a vítima ou outras pessoas</p><p>O tratamento considerado desumano é aquele que causa intenso sofrimento</p><p>físico ou psíquico, e o tratamento degradante provoca na vítima sentimentos de</p><p>medo, angústia e humilhação ou retira-lhe a possibilidade de resistir moral ou</p><p>fisicamente a uma situação adversa.</p><p>No caso dos cuidados em saúde, a classificação de um tratamento como desumano</p><p>ou degradante depende de alguns fatores:</p><p>102Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>a) Natureza, gravidade e duração do tratamento;</p><p>b) Se o tratamento afeta a vítima, física e mentalmente;</p><p>c) Idade, sexo e estado de saúde da pessoa com transtorno mental.</p><p>Também pode-se dizer que há tratamento desumano quando ocorre uma falha em</p><p>prover cuidados em saúde, por meio da negativa desses cuidados ou da demora</p><p>em fazê-lo, ou na sua supressão, quando a pessoa sob cuidados em saúde vem</p><p>recebendo determinado tratamento e este é interrompido.</p><p>O tratamento degradante pode também ser caracterizado</p><p>quando uma pessoa sob cuidados em saúde é internada em um</p><p>hospital e medicada de forma ultrajante, ou seja, sem respeito</p><p>às suas decisões, à sua higiene pessoal e ao seu direito de visita,</p><p>situação que não é incomum em hospitais psiquiátricos.</p><p>Sobre isso, vejamos o que diz a Corte Europeia de Direitos Humanos em um caso</p><p>concreto.</p><p>+ Caso Herczegfalvy vs. Áustria (Sistema Europeu)</p><p>[A Corte] entendeu que a pessoa com transtorno mental poderia</p><p>ser forçada a receber cuidados em saúde, incluindo o emprego</p><p>de contenção física, se presente a necessidade terapêutica, não</p><p>se caracterizando a violação do direito de não ser submetido a</p><p>tratamento desumano ou degradante. Importante ressaltar que a</p><p>necessidade terapêutica deve estar fartamente provada, as condições</p><p>do procedimento médico não devem ser degradantes ou desumanas,</p><p>bem como a intervenção médica não pode se fundamentar apenas</p><p>em atitude paternalista do médico, ou seja, que desconsidere os</p><p>direitos do paciente sob cuidados em saúde mesmo acreditando</p><p>que lhe está fazendo o bem. (ALBUQUERQUE, 2016, p. 109)</p><p>Como dito anteriormente, o direito de não ser torturado ou submetido a pena ou</p><p>tratamento desumano ou degradante é absoluto, o que significa que os Estados</p><p>devem agir no sentido de implantar políticas, programas e legislações que evitem</p><p>a prática dessas condutas por profissionais de saúde. A submissão de uma pessoa</p><p>indefesa, que é a situação da pessoa sob cuidados em saúde, a esse tipo de</p><p>condição, tem efeitos arrasadores na vida da pessoa sob cuidados em saúde e de</p><p>seus familiares. Por isso, é importante frisar que:</p><p>• A escassez de recursos humanos e financeiros não justifica qualquer</p><p>tratamento desumano ou degradante;</p><p>• Os Estados têm a obrigação de destinar recursos suficientes para</p><p>103Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>satisfazer as necessidades básicas das pessoas sob cuidados em saúde;</p><p>• É dever do Estado proteger as pessoas sob cuidados em saúde contra o</p><p>sofrimento causado pela falta de alimentos, roupas, recursos humanos,</p><p>higiene e outras condições desumanas ou degradantes.</p><p>Vamos ver, no vídeo a seguir, como se deu a violação do direito de não ser submetido</p><p>à tortura, nem a tratamento cruel, desumano ou degradante no caso Ximenes Lopes</p><p>vs. Brasil.</p><p>Vídeo 3 - Identificando a violação ao direito de não ser submetido</p><p>à tortura ou a tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes</p><p>no Caso Ximenes Lopes vs. Brasil</p><p>Além do Caso Ximenes Lopes vs. Brasil, um exemplo de jurisprudência internacional</p><p>da aplicação do direito de não ser submetido à tortura na esfera da saúde mental</p><p>é o caso Aggerholm vs. Dinamarca, julgado perante a Corte Europeia de Direitos</p><p>Humanos em 2020.</p><p>Nesse caso, a Corte Europeia de Direitos Humanos decidiu que o direito do</p><p>demandante de não ser submetido a tratamento desumano ou degradante foi</p><p>violado. Niels Lund Aggerholm, pessoa com transtorno psiquiátrico (esquizofrenia),</p><p>foi condenado em 2005 a ser internado em um hospital psiquiátrico após ter</p><p>cometido cinco episódios de violência contra funcionários públicos.</p><p>Durante sua internação, Aggerholm ficou amarrado a uma cama de contenção</p><p>em um hospital psiquiátrico por quase 23 horas, um dos períodos mais longos</p><p>de imobilização já examinados pelo Tribunal Europeu. O tribunal considerou que</p><p>a contenção física prolongada</p><p>do demandante foi desnecessária e não justificada,</p><p>apesar do histórico de violência contra os funcionários.</p><p>Embora o tribunal reconhecesse a necessidade de restringir o paciente para evitar</p><p>danos imediatos à equipe e aos pacientes, criticou a equipe médica e os tribunais</p><p>domésticos por não abordarem a continuidade e a duração da medida de contenção</p><p>física. Essa medida foi considerada uma violação do artigo 3 da Convenção Europeia</p><p>dos Direitos Humanos, que proíbe tortura e tratamento desumano ou degradante.</p><p>A decisão destaca a importância de garantir que as restrições físicas sejam usadas</p><p>apenas quando estritamente necessárias e que sua duração e continuidade sejam</p><p>cuidadosamente monitoradas, para garantir que não haja violação dos direitos</p><p>humanos dos pacientes.</p><p>https://youtu.be/q8GYfts4KNA</p><p>https://youtu.be/q8GYfts4KNA</p><p>https://youtu.be/q8GYfts4KNA</p><p>104Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>Quadro 17 – Direito de Pessoas com transtorno mental</p><p>Direito de Pessoas com transtorno mental</p><p>1. Direito a cuidados em saúde individualizados que</p><p>considerem os bens particulares da pessoa sob cuidados</p><p>em saúde, como crenças, valores e cultura.</p><p>2. Direito a tratamentos menos restritivos o possível e</p><p>menos alteradores de sua capacidade mental.</p><p>3. Direito a ser submetido a qualquer terapia apenas</p><p>após seu consentimento informado.</p><p>4. Direito a receber cuidados em saúde mental em locais</p><p>salubres e de ter sua higiene pessoal assegurada.</p><p>Fonte: ALBUQUERQUE, 2016, p. 115.</p><p>3.4. Direito à liberdade</p><p>O direito à liberdade se refere à restrição física, não abarcando uma liberdade</p><p>geral de ação. Esse direito engloba todas as formas de privação de liberdade, o que</p><p>envolve a severa restrição de mobilidade dentro de um espaço restrito.</p><p>Para o Comitê de Direitos Humanos da ONU, a hospitalização</p><p>involuntária é uma das hipóteses de restrição da liberdade</p><p>individual.</p><p>O Estado tem a obrigação de garantir que nenhuma pessoa seja privada de</p><p>sua liberdade, exceto nas hipóteses legais, conforme padrões substantivos e</p><p>procedimentais que assegurem os direitos humanos. Assim, quando a lei nacional</p><p>concede a pessoas ou a entidades privadas a autorização para a restrição da</p><p>liberdade individual, o Estado permanece sendo responsável por assegurar que</p><p>esse procedimento se dê em conformidade com as normas de direitos humanos.</p><p>Sobre isso, é importante destacar que o direito à liberdade não</p><p>é um direito absoluto, o que quer dizer que, atendidos alguns</p><p>critérios, esse direito pode ser restringido, diferentemente do</p><p>direito de não ser submetido à tortura ou a tratamento cruel,</p><p>desumano ou degradante, que é absoluto.</p><p>105Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>Os critérios para que o Estado possa restringir a liberdade de alguém são:</p><p>• a medida restritiva de liberdade deve estar prevista na lei; e</p><p>• nessa previsão deve constar a adequada proteção contra a interferência</p><p>arbitrária ou ilegal.</p><p>A detenção arbitrária é aquela desproporcional, não razoável ou desnecessária em</p><p>relação ao seu objetivo. Na esfera dos cuidados em saúde da pessoa sob cuidados</p><p>em saúde, o direito à liberdade se aplica principalmente com relação à restrição de</p><p>liberdade de pessoa sob cuidados em saúde mental.</p><p>O Comitê de Direitos Humanos da ONU pede que os Estados revejam suas legislações</p><p>sobre saúde mental para evitar detenções arbitrárias. Para o Comitê, a privação</p><p>de liberdade é, em si, um ato gravoso e, por esse motivo, medidas alternativas que</p><p>sejam menos restritivas devem ser implementadas mediante políticas e programas</p><p>estatais de forma permanente.</p><p>A presença de transtorno mental ou deficiência intelectual não</p><p>justifica, por si só, a adoção de medidas de privação de liberdade.</p><p>A adoção dessas medidas precisa:</p><p>• Ser necessária</p><p>• Ser proporcional</p><p>• Ter o propósito de proteger a pessoa sob cuidados em</p><p>saúde de sério dano ou de impedir dano a outros</p><p>Na esfera dos cuidados em saúde, o direito à liberdade normalmente é mencionado</p><p>nas situações de admissão e retenção involuntárias de pessoas com transtorno</p><p>mental, de quarentena e outras formas de restrição da liberdade individual.</p><p>A temática da admissão e retenção involuntária também pode dizer respeito à</p><p>pessoa sob cuidados em saúde com deficiência intelectual. A institucionalização</p><p>dessas pessoas também as afeta tanto quanto as pessoas sob cuidados em saúde</p><p>com transtornos mentais.</p><p>A Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência</p><p>demanda dos Estados que exijam de seus profissionais de saúde que obtenham o</p><p>consentimento livre e esclarecido das pessoas com deficiência. Assim, a Convenção</p><p>dispõe que os Estados devem realizar atividades de formação e definir regras éticas</p><p>para os setores de saúde pública e privada, com o objetivo de conscientizar os</p><p>profissionais de saúde sobre os direitos humanos, a dignidade, a autonomia e as</p><p>necessidades das pessoas com deficiência.</p><p>106Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>Sobre isso, é importante destacar que a admissão e a retenção</p><p>involuntárias se caracterizam como restrições de direitos</p><p>humanos da pessoa sob cuidados em saúde e, por esse motivo,</p><p>devem ser adotadas com muita cautela pelos profissionais de</p><p>saúde e pelas autoridades estatais. Todos os esforços devem ser</p><p>empreendidos pelos profissionais e pelas autoridades estatais</p><p>para evitar o emprego dessas medidas.</p><p>Os princípios para a proteção das pessoas com transtorno mental e a melhoria da</p><p>atenção à saúde mental estabelecem que a admissão e a retenção involuntárias</p><p>devem seguir diversos requisitos legais, por exemplo a presença de um documento</p><p>subscrito por médico qualificado e legalmente autorizado que afirme que:</p><p>a) A pessoa sob cuidados em saúde padece de transtorno mental;</p><p>b) Em razão do transtorno mental, há sério risco de dano imediato ou</p><p>iminente à pessoa sob cuidados em saúde ou a terceiros;</p><p>c) No caso de pessoa cujo transtorno mental seja grave e sua capacidade</p><p>de julgamento esteja afetada, deixar de admiti-la ou retê-la provavelmente</p><p>levará a uma séria deterioração de sua condição, ou impedirá a oferta de</p><p>tratamento adequado, o qual somente será possível por meio da</p><p>admissão em estabelecimento de saúde mental de acordo com o</p><p>princípio da alternativa menos restritiva. Nesse caso, deve ser consultado,</p><p>sempre que possível, um segundo profissional que seja independente</p><p>do primeiro. Quando a consulta ocorrer, a admissão e a retenção</p><p>involuntárias não poderão ser efetivadas, a menos que o segundo</p><p>profissional concorde com a medida.</p><p>Ainda, é importante ressaltar que a pessoa sob cuidados em saúde tem o direito de</p><p>ser internada em unidade de saúde apropriada. Se isso não ocorrer, o objetivo da</p><p>sua admissão ou retenção involuntária não será cumprido, o que atinge a legalidade</p><p>da medida restritiva de liberdade do paciente.</p><p>Vejamos, a seguir, um exemplo.</p><p>+ Caso H.L. vs. Reino Unido (Sistema Europeu):</p><p>No caso H.L. vs. Reino Unido, da Corte Europeia sob cuidados em saúde</p><p>autista sem possibilidade de se comunicar oralmente e com um certo</p><p>nível de deficiência intelectual foi transferido para hospital psiquiátrico</p><p>como um “informal”. A transferência se deu pelo fato de se automutilar,</p><p>segundo alega o Estado. A corte entendeu que o direito à liberdade do</p><p>requerente foi violado depois, em razão da ausência de previsão legislativa</p><p>para o caso específico dos profissionais de saúde exerceram o completo</p><p>controle sobre vulnerável e incapaz fundamentados apenas em sua</p><p>107Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>própria avaliação médica. De acordo com a corte a falta de salvaguardas</p><p>legais conduziu a falha na proteção contra a privação de sua liberdade</p><p>com base na necessidade médica. (ALBUQUERQUE, 2016, p. 149)</p><p>Quadro 18 – Direito de não ter a liberdade restringida arbitrariamente.</p><p>Direito de não ter a liberdade restringida arbitrariamente</p><p>1. Direito de ser informado acerca da natureza do tratamento e de</p><p>todas as alternativas possíveis</p><p>e de ser envolvido tanto quanto</p><p>seja possível no desenvolvimento do plano de tratamento.</p><p>2. Direito de ser sempre submetido à alternativa menos restritiva.</p><p>3. Direito de ser internado em unidade de saúde</p><p>apropriada para a sua condição de saúde, nas hipóteses</p><p>aceitas pelas normas de direitos humanos.</p><p>4. Direito de ter sua admissão ou retenção involuntárias</p><p>revistas por um corpo de revisão independente e</p><p>imparcial e que conte com assistência de profissionais</p><p>de saúde mental, qualificados e independentes.</p><p>5. Direito de ter sua admissão ou retenção involuntária determinada</p><p>por um período curto, para observação e tratamento preliminar.</p><p>Fonte: ALBUQUERQUE, 2016, p. 151.</p><p>Assim, percebe-se que a proteção do direito à liberdade de pessoas com transtorno</p><p>mental e de pessoas com deficiência intelectual permanece um desafio. Por um</p><p>lado, deve-se reconhecer que, em algumas situações, a admissão e a retenção</p><p>involuntárias se fazem necessárias. Por outro lado, a jurisprudência internacional</p><p>demonstra que ainda há falhas nas legislações dos Estados em assegurar os</p><p>procedimentos que formalizam as medidas de garantia dos direitos humanos.</p><p>108Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>3.5. Conclusão</p><p>Conforme vimos anteriormente, a jurisprudência internacional vem aplicando</p><p>dispositivos de direitos humanos para proteger a pessoa sob cuidados em saúde.</p><p>Para detalhar essa aplicação, de cada direito humano apresentado foram extraídos</p><p>outros direitos mais específicos, que podem ser aplicados na esfera dos cuidados</p><p>em saúde.</p><p>Embora o foco da obrigação recaia sobre autoridades estatais, os profissionais</p><p>de saúde possuem papel fundamental na materialização dos direitos humanos</p><p>aplicados aos cuidados em saúde. Afinal, são estes que convivem diariamente com</p><p>a pessoa sob cuidados em saúde e, portanto, cabe a eles, em última instância, a</p><p>observância concreta dos direitos humanos dessas pessoas. Por fim, é importante</p><p>lembrar que os profissionais de saúde também são titulares de direitos humanos.</p><p>109Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>Olá, estudante!</p><p>Neste módulo, abordaremos os Princípios para a Proteção das Pessoas com</p><p>Transtorno Mental e para o Melhoramento dos Cuidados em Saúde Mental da ONU.</p><p>Em seguida, observaremos os desdobramentos da tortura, tratamento desumano e</p><p>degradante no contexto da saúde mental, e os principais dispositivos da Convenção</p><p>sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência no que diz respeito à saúde mental.</p><p>Por fim, conheceremos os chamados Quality Rights.</p><p>Identificar a aplicação dos direitos humanos no contexto da</p><p>saúde mental.</p><p>1. Direitos humanos no contexto da saúde</p><p>mental</p><p>A relação entre os direitos humanos e a saúde pode ser explicada de três formas:</p><p>Figura 28 - Direitos Humanos e Saúde</p><p>Fonte: Elaborada pela autora.</p><p>Módulo</p><p>Direitos humanos aplicados às</p><p>pessoas sob cuidados em saúde3</p><p>110Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>Conforme demonstrado na Figura 28, percebemos que os direitos humanos possuem</p><p>grande influência sobre a saúde e, por consequência, sobre os cuidados em saúde.</p><p>No que diz respeito à saúde mental, sabemos que esta é um campo fundamental da</p><p>saúde e que, por conseguinte, o direito à saúde mental é um componente essencial</p><p>do direito à saúde. Vamos, agora, identificar a aplicação dos direitos humanos no</p><p>contexto da saúde mental.</p><p>1.1. Princípios para a Proteção das Pessoas com</p><p>Transtorno Mental e para o Melhoramento dos</p><p>Cuidados em Saúde Mental da ONU</p><p>O documento “Princípios para a Proteção das Pessoas com Transtorno Mental e para</p><p>o Melhoramento dos Cuidados em Saúde Mental da ONU”, adotado pela Assembleia</p><p>Geral da ONU em 1991, é um instrumento internacional que tem o objetivo específico</p><p>de proteger as pessoas com transtornos mentais que se encontram sob cuidados</p><p>em saúde.</p><p>Os Princípios se aplicam a todas as pessoas com transtornos mentais sob cuidados</p><p>em saúde, sem discriminação de qualquer tipo, como por motivos de deficiência,</p><p>raça, cor, sexo, língua e outros fatores.</p><p>No âmbito dos Princípios, os cuidados em saúde mental incluem a análise e o</p><p>diagnóstico da condição mental de uma pessoa, o tratamento, o cuidado e a</p><p>reabilitação para uma doença mental ou suspeita de doença mental. O documento</p><p>também define os conceitos de “estabelecimento de saúde mental”, “profissional de</p><p>saúde mental” e “paciente”.</p><p>Para os Princípios, “estabelecimento de saúde mental” é qualquer estabelecimento,</p><p>ou unidade de um estabelecimento, que tenha como função principal a prestação</p><p>de cuidados de saúde mental. “Profissional de saúde mental” é o médico, psicólogo</p><p>clínico, enfermeiro, assistente social ou outra pessoa adequadamente treinada</p><p>e qualificada com habilidades específicas relevantes para os cuidados de saúde</p><p>mental. Por fim, “paciente” é quem recebe cuidados de saúde mental, o que inclui</p><p>todas as pessoas que estão internadas em estabelecimentos de saúde mental.</p><p>É importante ressaltar que os direitos estabelecidos nesses</p><p>Princípios somente podem ser limitados por determinações</p><p>prescritas por lei e que sejam necessárias para proteger a saúde</p><p>ou a segurança da pessoa em questão ou de terceiros, ou para</p><p>proteger a segurança, ordem, saúde ou moral, ou os direitos e</p><p>liberdades fundamentais de outras pessoas.</p><p>111Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>Liberdades Fundamentais e Direitos Fundamentais</p><p>Os Princípios para a Proteção das Pessoas com Transtorno Mental e para o</p><p>Melhoramento dos Cuidados em Saúde Mental da ONU protegem uma série de</p><p>liberdades e direitos fundamentais (Princípio 1). De acordo com o documento, todas</p><p>as pessoas têm direito aos melhores cuidados de saúde mental disponíveis, que</p><p>devem fazer parte do sistema de saúde e assistência social. Além disso, todas as</p><p>pessoas com transtorno mental, ou que sejam tratadas como tal, devem ser tratadas</p><p>com humanidade e respeito pela dignidade inerente à pessoa humana. Ainda, todas</p><p>têm direito a ser protegidas contra:</p><p>• Exploração econômica, sexual e outras formas de exploração</p><p>• Abuso físico e outros tipos de abuso</p><p>• Tratamento degradante</p><p>No que diz respeito à discriminação com base em transtorno mental, os Princípios</p><p>definem o termo discriminação como:</p><p>[...] qualquer distinção, exclusão ou preferência que tenha por efeito anular ou</p><p>prejudicar o gozo igualitário de direitos. Medidas especiais exclusivamente para</p><p>proteger os direitos ou garantir o progresso de pessoas com doença mental não</p><p>devem ser consideradas discriminatórias. A discriminação não inclui qualquer</p><p>distinção, exclusão ou preferência realizada de acordo com as disposições destes</p><p>Princípios e necessária para proteger os direitos humanos de uma pessoa com</p><p>doença mental ou de outros indivíduos. (ASSEMBLEIA GERAL DA ONU, 1991,</p><p>Princípio 1.4, tradução nossa)</p><p>É garantido, ainda, a toda pessoa com transtorno mental, o direito de exercer todos</p><p>os direitos civis políticos, econômicos, sociais e culturais reconhecidos nos seguintes</p><p>documentos, bem como em outros instrumentos relevantes (Princípio 1.5):</p><p>• Declaração Universal dos Direitos Humanos;</p><p>• Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos;</p><p>• Declaração sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência; e</p><p>• Conjunto de Princípios para a Proteção de Todas as Pessoas sob Qualquer</p><p>Forma de Detenção ou Prisão.</p><p>Quando um tribunal competente considerar que uma pessoa com doença mental é</p><p>incapaz de administrar seus próprios assuntos, medidas serão tomadas, na medida</p><p>do necessário e apropriado à condição dessa pessoa, para garantir a sua proteção</p><p>ou o seu interesse (Princípio 1.7).</p><p>112Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>Ainda, deve ser respeitado o direito à confidencialidade da informação relativa a</p><p>todas as pessoas a quem se aplicam esses Princípios (Princípio 6).</p><p>Os Princípios da ONU afirmam a importância da vida em comunidade para o</p><p>desenvolvimento dos cuidados em saúde mental. Sobre isso, o documento defende</p><p>que toda pessoa</p><p>com transtorno mental deve ter o direito de viver, trabalhar na</p><p>comunidade (Princípio 3), bem como de receber tratamento e cuidado na comunidade</p><p>em que vive (Princípio 7.1). Essas disposições serão aplicáveis na medida do possível.</p><p>Ademais, os Princípios definem que:</p><p>2. Quando o tratamento for realizado em um estabelecimento de saúde mental, o</p><p>paciente terá o direito, sempre que possível, de ser tratado perto de seus parentes</p><p>ou amigos e terá o direito de retornar à comunidade o mais rápido possível.</p><p>3. Todo paciente tem direito a um tratamento adequado à sua origem cultural.</p><p>(ASSEMBLEIA GERAL DA ONU, 1991, Princípios 7.2 e 7.3, tradução nossa)</p><p>A determinação de que uma pessoa tem um transtorno mental precisa ser feita</p><p>de acordo com os padrões de saúde internacionalmente aceitos (Princípio 4). Isso</p><p>quer dizer que jamais se pode determinar um transtorno mental com base em</p><p>status político, econômico ou social, ou em pertencimento a grupo cultural racial</p><p>ou religioso, ou em qualquer outra razão que não seja diretamente relevante para</p><p>o estado de saúde mental da pessoa. Nesse sentido, nunca serão determinantes no</p><p>diagnóstico de transtorno mental de uma pessoa:</p><p>• Conflitos familiares ou profissionais</p><p>• Inconformidade com os valores morais, sociais, culturais ou políticos</p><p>• Crenças religiosas vigentes na comunidade</p><p>Além disso, o histórico de tratamento ou hospitalização anterior</p><p>na condição de paciente não deve vir por si só a justificar qualquer</p><p>determinação presente ou futura de transtorno mental.</p><p>Nenhuma pessoa ou autoridade deve classificar uma pessoa como tendo transtorno</p><p>mental, ou de qualquer outra forma indicar que uma pessoa tem um transtorno</p><p>mental, exceto para fins relacionados diretamente ao transtorno mental ou às</p><p>consequências do transtorno mental. Ainda nesse sentido, os Princípios afirmam que</p><p>nenhuma pessoa será obrigada a submeter-se a exame de saúde com o objetivo de</p><p>determinar se tem ou não um transtorno mental. A obrigatoriedade só pode ocorrer</p><p>se houver procedimento autorizado pela legislação interna do país (Princípio 5).</p><p>113Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>Os Princípios para a Proteção das Pessoas Com Transtorno Mental e para o</p><p>Melhoramento dos Cuidados em Saúde Mental da ONU trazem importantes</p><p>disposições sobre a forma como as pessoas com transtornos mentais devem ser</p><p>tratadas no âmbito dos cuidados em saúde, especialmente no que diz respeito a:</p><p>• Padrões de atendimento (Princípio 8)</p><p>• Tratamento (Princípio 9)</p><p>• Medicamento (Princípio 10)</p><p>• Consentimento para tratamento (Princípio 11)</p><p>Sobre isso, veja o texto dos Princípios da ONU com relação a alguns desses fatores:</p><p>+ Padrões de atendimento (Princípio 8)</p><p>1. Todo paciente tem direito a receber os cuidados de saúde e</p><p>sociais adequados às suas necessidades de saúde, e tem direito</p><p>a cuidados e tratamento de acordo com os mesmos padrões que</p><p>os demais doentes (sic). 2. Todo paciente deve ser protegido contra</p><p>danos, incluindo medicação injustificada, abuso por parte de outros</p><p>pacientes, funcionários ou outros ou outros atos que causem</p><p>sofrimento mental ou desconforto físico. (ASSEMBLEIA GERAL DA</p><p>ONU, 1991, Princípio 8, tradução nossa)</p><p>+ Tratamento (Princípio 9)</p><p>1. Todo paciente deve ter o direito de ser tratado no ambiente</p><p>menos restritivo e com o tratamento menos restritivo ou intrusivo</p><p>adequado às necessidades de saúde do paciente e à necessidade de</p><p>proteger a segurança física de outras pessoas.</p><p>2. O tratamento e os cuidados de cada paciente devem ser baseados</p><p>em um plano prescrito individualmente, discutido com o paciente,</p><p>revisado regularmente, revisado conforme necessário e fornecido</p><p>por profissionais qualificados.</p><p>3. Os cuidados de saúde mental serão sempre prestados de acordo</p><p>com as normas de ética aplicáveis aos profissionais de saúde</p><p>mental, incluindo as normas internacionalmente aceites, tais como</p><p>os Princípios de Ética Médica adoptados pela Assembleia Geral das</p><p>Nações Unidas. O conhecimento e as habilidades de saúde mental</p><p>nunca devem ser abusados.</p><p>4. O tratamento de cada doente deve ser orientado para a preservação</p><p>e reforço da autonomia pessoal. (ASSEMBLEIA GERAL DA ONU, 1991,</p><p>Princípio 9, tradução nossa)</p><p>114Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>+ Medicamento (Princípio 10)</p><p>1. A medicação deve atender às melhores necessidades de saúde do</p><p>paciente, deve ser dada a um paciente apenas para fins terapêuticos</p><p>ou diagnósticos e nunca deve ser administrada como punição ou para</p><p>conveniência de terceiros. Sujeito às disposições do parágrafo 15 do</p><p>Princípio 11, os profissionais de saúde mental devem administrar</p><p>apenas medicamentos de eficácia conhecida ou comprovada.</p><p>2. Todos os medicamentos devem ser prescritos por um profissional</p><p>de saúde mental autorizado por lei e devem ser registrados no</p><p>prontuário do paciente. (ASSEMBLEIA GERAL DA ONU, 1991, Princípio</p><p>10, tradução nossa)</p><p>Ainda sobre esse assunto, deve ser dada atenção especial às disposições sobre o</p><p>consentimento para tratamento (Princípio 11):</p><p>1. Nenhum tratamento deve ser dado a um paciente sem o seu consentimento</p><p>informado, exceto conforme previsto nos parágrafos 6, 7, 8, 13 e 15 abaixo.</p><p>2. Consentimento informado é o consentimento obtido livremente, sem ameaças</p><p>ou incentivos impróprios, após divulgação apropriada ao paciente de informações</p><p>adequadas e compreensíveis em forma e linguagem compreendidas pelo paciente</p><p>em:</p><p>(a) A avaliação diagnóstica;</p><p>(b) A finalidade, método, duração provável e benefício esperado do tratamento</p><p>proposto;</p><p>(c) Modos alternativos de tratamento, incluindo os menos invasivos; e</p><p>(d) Possível dor ou desconforto, riscos e efeitos colaterais do tratamento proposto.</p><p>(ASSEMBLEIA GERAL DA ONU, 1991, Princípio 11, tradução nossa)</p><p>Assim, de acordo com os Princípios da Assembleia Geral da ONU (1991), um</p><p>tratamento pode ser dado a um paciente sem o seu consentimento informado se:</p><p>• O paciente estiver, no momento do tratamento, sendo mantido como</p><p>paciente involuntário (Parágrafo 6.a);</p><p>• Uma autoridade independente, estando de posse de todas as informações</p><p>relevantes, inclusive da informação especificada no parágrafo 2 acima,</p><p>115Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>estiver convencida de que, no momento relevante, o usuário está</p><p>incapacitado para dar ou recusar o consentimento informado ao plano</p><p>de tratamento proposto ou, se a legislação nacional permitir, e</p><p>considerando a sua própria segurança ou a de outros, o usuário tenha</p><p>recusado irracionalmente tal consentimento (Parágrafo 6.b);</p><p>• A autoridade independente estiver convencida de que o plano de</p><p>tratamento proposto é do melhor interesse para as necessidades de</p><p>saúde do paciente (Parágrafo 6.c);</p><p>• O representante pessoal do paciente, tendo recebido as informações</p><p>descritas no parágrafo 2 acima, consentir no lugar do paciente (Parágrafo</p><p>7);</p><p>• Um profissional de saúde mental qualificado autorizado por lei</p><p>determinar que é urgentemente necessário para prevenir dano imediato</p><p>ou iminente ao paciente ou a outras pessoas. Esse tratamento não deve</p><p>ser prolongado além do período estritamente necessário para esse fim</p><p>(Parágrafo 8);</p><p>• No que diz respeito a grandes procedimentos de saúde ou cirúrgicos,</p><p>estes podem ser realizados após revisão independente (Parágrafo 13);</p><p>• No caso de ensaios clínicos e tratamentos experimentais, um paciente</p><p>incapaz de dar consentimento informado pode ser admitido em um</p><p>ensaio clínico ou receber tratamento experimental com a aprovação de</p><p>um órgão de revisão independente e competente especificamente</p><p>constituído para este fim (Parágrafo 15).</p><p>O tratamento também pode ser dado a qualquer paciente sem seu consentimento</p><p>informado se um profissional de saúde mental qualificado autorizado por</p><p>lei determinar que é urgentemente necessário para prevenir dano imediato</p><p>ou iminente ao paciente ou a outras pessoas. Esse tratamento não deve ser</p><p>prolongado além do período estritamente necessário para esse fim. Porém,</p><p>essa</p><p>disposição não se aplica nos seguintes casos (ASSEMBLEIA GERAL DA ONU, 1991),</p><p>ou seja, é necessário que haja o consentimento do paciente, além da determinação</p><p>do profissional de saúde, se:</p><p>• No que diz respeito a grandes procedimentos de saúde ou cirúrgicos,</p><p>estes podem ser realizados após revisão independente (Parágrafo 13);</p><p>• No caso de psicocirurgia e outros tratamentos intrusivos e irreversíveis</p><p>para doenças mentais, que, além de necessitar da determinação do</p><p>profissional de saúde e do consentimento informado do paciente, só</p><p>podem ser realizados se um órgão externo independente tiver se</p><p>certificado de que há consentimento informado genuíno e de que o</p><p>tratamento atende melhor às necessidades de saúde do paciente</p><p>(Parágrafo 14);</p><p>• No caso de ensaios clínicos e tratamentos experimentais, um paciente</p><p>incapaz de dar consentimento informado pode ser admitido em um</p><p>ensaio clínico ou receber tratamento experimental com a aprovação de</p><p>116Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>um órgão de revisão independente e competente especificamente</p><p>constituído para este fim (Parágrafo 15).</p><p>Além disso, o procedimento não pode consistir em esterilização, pois esta não pode</p><p>ser realizada como tratamento para transtornos mentais (Parágrafo 12).</p><p>Sobre a autorização de tratamento sem o consentimento</p><p>informado do paciente, é importante destacar que toda vez que</p><p>esta ocorrer, todos os esforços devem ser feitos para informar o</p><p>paciente sobre a natureza do tratamento e quaisquer alternativas</p><p>possíveis a este, e para envolver o paciente tanto quanto possível</p><p>no desenvolvimento do plano de tratamento (ASSEMBLEIA GERAL</p><p>DA ONU, 1991, Parágrafo 9).</p><p>O paciente tem o direito de solicitar que pessoas de sua escolha estejam presentes</p><p>durante o procedimento de consentimento e pode recusar ou interromper o</p><p>tratamento, recebendo as informações sobre as consequências da recusa ou</p><p>interrupção de seu tratamento. As exceções à possibilidade de recusa estão listadas</p><p>nos parágrafos de números 6, 7, 8, 13 e 15, acima descritos. Ainda nesse sentido,</p><p>um paciente nunca pode ser convidado ou induzido a renunciar ao direito de</p><p>consentimento informado. Se o paciente tentar fazê-lo, deve ser explicado a ele que</p><p>o tratamento não pode ser administrado sem consentimento informado.</p><p>No que diz respeito à contenção física ou ao isolamento involuntário, estes não</p><p>devem ser empregados (ASSEMBLEIA GERAL DA ONU, 1991, Parágrafo 11). Porém,</p><p>podem ser adotados:</p><p>• De acordo com os procedimentos oficialmente aprovados do</p><p>estabelecimento de saúde mental;</p><p>• Somente quando forem os únicos meios disponíveis para evitar danos</p><p>imediatos ou iminentes ao paciente ou a outros.</p><p>Além disso, no caso de adoção desses procedimentos, as seguintes condutas devem</p><p>ser adotadas (ASSEMBLEIA GERAL DA ONU, 1991):</p><p>• Não podem ser prorrogados para além do período estritamente</p><p>necessário para o efeito pretendido.</p><p>• Todos os casos de contenção física ou isolamento involuntário, as razões</p><p>para eles e sua natureza e extensão devem ser registrados no prontuário</p><p>do paciente. O princípio nº 10 determina que todo tratamento deve</p><p>ser imediatamente registrado no prontuário do paciente, com a indicação</p><p>se involuntário ou voluntário.</p><p>• Um paciente contido ou isolado deve ser mantido em condições</p><p>humanas e estar sob os cuidados e supervisão estreita e regular de</p><p>membros qualificados da equipe. Um representante pessoal, se houver</p><p>117Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>e se for relevante, deve ser notificado imediatamente sobre qualquer</p><p>restrição física ou isolamento involuntário do paciente.</p><p>Com relação às condições e condutas adotadas nos estabelecimentos de saúde</p><p>mental, destacam-se os seguintes aspectos determinados pelos Princípios da ONU</p><p>(1991):</p><p>• Direitos e condições em estabelecimentos de saúde mental</p><p>• Recursos para instalações de saúde mental</p><p>• Princípios de admissão</p><p>• Admissão involuntária</p><p>Sobre isso, veja o texto original dos Princípios da ONU (1991) com relação a alguns</p><p>desses fatores:</p><p>+ Direitos e condições em estabelecimentos de saúde mental</p><p>Princípio 13</p><p>1. Todo paciente em um estabelecimento de saúde mental deve, em</p><p>particular, ter direito ao pleno respeito a:</p><p>(a) O reconhecimento em todos os lugares como pessoa perante a</p><p>lei;</p><p>(b) Privacidade;</p><p>(c) Liberdade de comunicação, que inclui a liberdade de se comunicar</p><p>com outras pessoas na instalação; liberdade de enviar e receber</p><p>comunicações privadas sem censura; liberdade de receber, em</p><p>privado, visitas de um advogado ou representante pessoal e, em todos</p><p>os momentos razoáveis, de outros visitantes; e liberdade de acesso</p><p>aos serviços postais e telefónicos e aos jornais, rádio e televisão;</p><p>(d) Liberdade de religião ou crença.</p><p>2. O ambiente e as condições de vida nos estabelecimentos de saúde</p><p>mental devem ser tão próximos quanto possível da vida normal de</p><p>pessoas da mesma idade e, em particular, devem incluir:</p><p>(a) Instalações para atividades recreativas e de lazer;</p><p>(b) Instalações para educação;</p><p>(c) Instalações para comprar ou receber itens para a vida diária,</p><p>recreação e comunicação;</p><p>(d) Instalações e encorajamento para usar tais instalações, para o</p><p>envolvimento de um paciente em ocupação ativa adequada ao seu</p><p>contexto social e cultural, e para medidas apropriadas de reabilitação</p><p>vocacional para promover a reintegração na comunidade. Essas</p><p>medidas devem incluir orientação vocacional, treinamento vocacional</p><p>e serviços de colocação para permitir que os pacientes assegurem</p><p>ou mantenham um emprego na comunidade.</p><p>118Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>3. Em nenhuma circunstância um paciente será submetido a trabalhos</p><p>forçados. Dentro dos limites compatíveis com as necessidades</p><p>do paciente e com as exigências da administração institucional, o</p><p>paciente poderá escolher o tipo de trabalho que deseja realizar.</p><p>4. O trabalho de um paciente em um estabelecimento de saúde mental</p><p>não deve ser explorado. Cada paciente terá o direito de receber a</p><p>mesma remuneração por qualquer trabalho que ele ou ela fizer, de</p><p>acordo com a lei ou costume doméstico, seria pago por tal trabalho a</p><p>um não paciente. Cada um desses pacientes deve, em qualquer caso,</p><p>ter o direito de receber uma parte justa de qualquer remuneração paga</p><p>ao estabelecimento de saúde mental por seu trabalho. (ASSEMBLEIA</p><p>GERAL DA ONU, 1991, Princípio 13, tradução nossa)</p><p>+ Recursos para instalações de saúde mental</p><p>Princípio 14</p><p>1. Um estabelecimento de saúde mental deve ter acesso ao mesmo</p><p>nível de recursos que qualquer outro estabelecimento de saúde e,</p><p>em particular:</p><p>(a) Pessoal médico qualificado e outros profissionais apropriados</p><p>em número suficiente e com espaço adequado para proporcionar</p><p>privacidade a cada paciente e um programa de terapia ativa e</p><p>apropriada;</p><p>(b) Equipamento diagnóstico e terapêutico para o paciente;</p><p>(c) Cuidado profissional apropriado; e</p><p>(d) Tratamento adequado, regular e abrangente, incluindo</p><p>fornecimento de medicamentos.</p><p>2. Todos os estabelecimentos de saúde mental devem ser</p><p>inspecionados pelas autoridades competentes com a frequência</p><p>necessária para assegurar que as condições, o tratamento e</p><p>os cuidados prestados aos doentes cumprem estes Princípios.</p><p>(ASSEMBLEIA GERAL DA ONU, 1991, Princípio 14, tradução nossa)</p><p>+ Princípios de admissão</p><p>Princípio 15</p><p>1. Quando uma pessoa necessitar de tratamento em um</p><p>estabelecimento de saúde mental, todos os esforços devem ser</p><p>feitos para evitar a internação involuntária.</p><p>2. O acesso a um estabelecimento de saúde mental será administrado</p><p>da mesma forma que o acesso a qualquer outro estabelecimento</p><p>para qualquer outra doença.</p><p>3. Todo paciente não admitido involuntariamente terá o direito de</p><p>deixar o estabelecimento de saúde mental a qualquer momento, a</p><p>menos que se apliquem os critérios para sua retenção como paciente</p><p>119Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>involuntário, conforme estabelecido no Princípio 16, e ele</p><p>ou ela</p><p>deve ser informado sobre este direito. (ASSEMBLEIA GERAL DA ONU,</p><p>1991, Princípio 15, tradução nossa)</p><p>+ Admissão involuntária</p><p>Princípio 16</p><p>1. Uma pessoa pode (a) ser internada involuntariamente em um</p><p>estabelecimento de saúde mental como paciente; ou (b) já tendo sido</p><p>admitido voluntariamente como paciente, ser retido como paciente</p><p>involuntário no estabelecimento de saúde mental se, e somente se,</p><p>um profissional de saúde mental qualificado e autorizado por lei para</p><p>esse fim determinar, de acordo com o Princípio 4, que essa pessoa</p><p>tem uma doença mental e considera:</p><p>(a) Que, por causa dessa doença mental, existe uma probabilidade</p><p>séria de dano imediato ou iminente para essa pessoa ou para outras</p><p>pessoas; ou</p><p>(b) Que, no caso de uma pessoa cuja doença mental é grave e cujo</p><p>julgamento é prejudicado, a falha em admitir ou reter essa pessoa</p><p>provavelmente levará a uma deterioração séria em sua condição</p><p>ou impedirá a administração de tratamento adequado que só pode</p><p>ser dada por admissão em um estabelecimento de saúde mental de</p><p>acordo com o princípio da alternativa menos restritiva.</p><p>No caso referido no subparágrafo (b), um segundo profissional</p><p>de saúde mental, independente do primeiro, deve ser consultado</p><p>sempre que possível. Se tal consulta ocorrer, a admissão ou retenção</p><p>involuntária não poderá ocorrer, a menos que o segundo profissional</p><p>de saúde mental concorde.</p><p>2. A admissão ou retenção involuntária será inicialmente por um</p><p>curto período, conforme especificado pela legislação nacional,</p><p>para observação e tratamento preliminar enquanto se aguarda a</p><p>revisão da admissão ou retenção pelo órgão de revisão. Os motivos</p><p>da admissão devem ser comunicados ao paciente sem demora</p><p>e o fato da admissão e os motivos da mesma também devem ser</p><p>prontamente e detalhadamente comunicados à comissão de revisão,</p><p>ao representante pessoal do paciente, se houver, e, a menos que</p><p>haja objeção do paciente, à sua família.</p><p>3. Um estabelecimento de saúde mental pode receber pacientes</p><p>admitidos involuntariamente somente se o estabelecimento tiver</p><p>sido designado para fazê-lo por uma autoridade competente</p><p>prescrita pela legislação nacional. (ASSEMBLEIA GERAL DA ONU,</p><p>1991, Princípio 16, tradução nossa)</p><p>120Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>Com relação às garantias processuais do paciente, o Princípio 18 estabelece</p><p>alguns padrões. Entre eles, podemos destacar:</p><p>• O paciente terá o direito de escolher e nomear um advogado para</p><p>representá-lo como tal, bem como um intérprete. Se o paciente não</p><p>conseguir tais serviços, um profissional será disponibilizado. O paciente</p><p>será dispensado do pagamento, na medida em que não tenha meios</p><p>suficientes para pagar (Parágrafos 1 e 2).</p><p>• O paciente e seu representante pessoal e advogado terão o direito de</p><p>comparecer, participar e ser ouvidos pessoalmente em qualquer</p><p>audiência (Parágrafo 5).</p><p>• A decisão resultante da audiência e os seus fundamentos devem ser</p><p>expressos por escrito. Cópias devem ser entregues ao paciente, a seu</p><p>representante pessoal e a seu advogado (Parágrafo 8).</p><p>• Ao decidir se a decisão deve ser publicada no todo ou em parte, deve-se</p><p>levar em consideração a vontade do próprio paciente, a necessidade de</p><p>respeitar a sua privacidade e a de outras pessoas, o interesse público na</p><p>administração aberta da justiça e a necessidade de prevenir danos</p><p>graves à saúde do paciente ou evitar colocar em risco a segurança de</p><p>terceiros.</p><p>Sobre o prontuário do paciente, o Parágrafo 4 dispõe que:</p><p>4. Cópias do prontuário do paciente e quaisquer relatórios e documentos a</p><p>serem apresentados devem ser entregues ao paciente e ao advogado do paciente,</p><p>exceto em casos especiais em que seja determinado que uma revelação específica</p><p>ao paciente causaria sérios danos à saúde do paciente ou colocaria em risco a</p><p>segurança de terceiros. Conforme estabelecido pela legislação nacional, qualquer</p><p>documento não entregue ao paciente deve, quando isso puder ser feito em sigilo,</p><p>ser entregue ao representante e advogado pessoal do paciente. Quando qualquer</p><p>parte de um documento for retida de um paciente, o paciente ou o advogado do</p><p>paciente, se houver, receberá notificação da retenção e dos motivos para isso e</p><p>estará sujeito a revisão judicial. (ASSEMBLEIA GERAL DA ONU, 1991, Princípio 18,</p><p>tradução nossa)</p><p>Ainda nesse sentido, o Princípio nº 11 determina que “o paciente ou seu representante</p><p>pessoal, ou qualquer pessoa interessada, terá o direito de apelar para uma autoridade</p><p>judicial ou outra autoridade independente em relação a qualquer tratamento dado</p><p>a ele ou a ela”. (ASSEMBLEIA GERAL DA ONU, 1991, Princípio 11, tradução nossa)</p><p>121Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>O direito à informação é essencial para reduzir a vulnerabilidade</p><p>da pessoa com transtorno mental sob cuidados em saúde.</p><p>Nesse sentido, o Princípio nº 19 garante ao paciente ou ex-</p><p>paciente o direito a ter acesso às suas informações de saúde</p><p>e aos seus registros pessoais que estejam sendo mantidos por</p><p>estabelecimento de saúde mental.</p><p>Qualquer informação não fornecida ao paciente deve ser fornecida ao representante</p><p>e ao advogado pessoal do paciente, quando isso puder ser feito em sigilo e conforme</p><p>estabelecido pela legislação nacional.</p><p>Quando qualquer informação for obtida de um paciente, a decisão da retenção e os</p><p>motivos que a fundamentaram serão informadas ao paciente ou ao seu advogado,</p><p>e estarão sujeitas a revisão judicial.</p><p>Monitoramento de Soluções e Implementação</p><p>Quanto aos deveres dos Estados, cabe a estes implementar os princípios por meio</p><p>de medidas legislativas, judiciais e administrativas e de outras medidas apropriadas.</p><p>Os Estados devem revisar essas medidas periodicamente. Além disso, é dever dos</p><p>Estados tornar esses princípios amplamente conhecidos pelos meios apropriados</p><p>(Princípio 23). É dever dos Estados, também, assegurar a existência de mecanismos</p><p>para promover o cumprimento desses princípios, bem como de mecanismos para:</p><p>A inspeção de estabelecimentos de saúde mental, para a apresentação,</p><p>investigação e resolução de denúncias e para a instituição de procedimentos</p><p>disciplinares ou judiciais apropriados por má conduta profissional ou violação</p><p>dos direitos de um paciente. (ASSEMBLEIA GERAL DA ONU, 1991, Princípio 22)</p><p>Sabemos que, idealmente, todos esses princípios seriam amplamente adotados</p><p>e eficientemente aplicados. Porém, a prática clínica pode apresentar desafios à</p><p>adoção dessas diretrizes. Sobre isso, ouça o podcast a seguir.</p><p>122Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>Podcast 3 – Desafios à aplicação dos Princípios para a Proteção</p><p>das Pessoas com Transtorno Mental e para o Melhoramento dos</p><p>Cuidados em Saúde Mental da ONU à prática clínica</p><p>Assim, podemos perceber que a Assembleia Geral da ONU estabeleceu importantes</p><p>princípios para proteger as pessoas com transtornos mentais que estão sob cuidados</p><p>em saúde. A concretização desses princípios beneficia não somente o paciente e</p><p>a instituição, mas também os profissionais de saúde envolvidos, que também são</p><p>titulares de direitos humanos.</p><p>1.2 Tortura, tratamento desumano e degradante no</p><p>contexto da saúde mental</p><p>O tratamento desumano e degradante de pessoas com transtorno mental traduz</p><p>uma violação aos seus direitos humanos que, apesar de ser uma clara forma de</p><p>desrespeito ao direito, é uma situação que ocorre com frequência em diversas</p><p>partes do mundo.</p><p>O Relator Especial da ONU sobre o Direito à Saúde (2002-2008) relatou ter recebido</p><p>muitas denúncias de institucionalização inadequada de pessoas com transtorno</p><p>mental, bem como de casos em que essas pessoas foram vítimas de violações de</p><p>direitos humanos, incluindo:</p><p>• Pacientes amarrados a camas por longos períodos sem justificativa</p><p>terapêutica</p><p>• Violência e tortura</p><p>• Eletroconvulsoterapia sem anestesia ou relaxantes musculares</p><p>• Pacientes alojados em ambulatórios com saneamento totalmente</p><p>inadequado</p><p>• Privação de comida</p><p>• Hipotermia</p><p>As pessoas com transtorno mental</p><p>para os</p><p>direitos humanos.</p><p>+ Carta Magna da Inglaterra (1215)</p><p>A assinatura da Carta Magna da Inglaterra, em 1215, trouxe importantes avanços</p><p>no que diz respeito à limitação do poder político. A Carta foi uma reação aos</p><p>excessos cometidos pelo Rei João no exercício dos seus direitos feudais e</p><p>estabeleceu limitações à sua autoridade.</p><p>+ Bill of Rights britânica (Carta de Direitos de 1689)</p><p>Ainda no sentido de limitação do poder, a Bill of Rights, de 1689, estabeleceu</p><p>importantes direitos e liberdades. Entre eles, os princípios de eleições livres e de</p><p>14Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>liberdade de expressão no parlamento, bem como a proibição de tributar sem a</p><p>aprovação do parlamento, o tratamento justo perante as cortes e os direitos de</p><p>petição.</p><p>Porém, é preciso observar que os avanços promovidos pela Carta de Direitos,</p><p>embora representassem importante evolução de direitos humanos, ainda</p><p>precisariam ser aprimorados ao longo do tempo:</p><p>Embora a Bill of Rights britânica de 1689 proibisse</p><p>expressamente o castigo cruel, os juízes ainda</p><p>sentenciavam os criminosos ao pode dos açoites, ao</p><p>banco dos afogamentos, ao tronco, ao pelourinho,</p><p>ao ferro de marcar, a execução por arrastamento</p><p>e esquartejamento [...] ou, para as mulheres,</p><p>arrastamento, esquartejamento e morte na fogueira</p><p>(HUNT, 2009, p. 77).</p><p>1.2.3. Século XVIII</p><p>No século XVIII, surgem as primeiras declarações que estabelecem direitos que</p><p>posteriormente seriam reconhecidos como direitos humanos. Foi a primeira vez</p><p>que as ideias liberais foram afirmadas na história, e isso permitiu que os direitos</p><p>humanos fossem reconhecidos em instrumentos normativos dos Estados Unidos</p><p>da América e da França, que podem ser considerados marcos jurídicos.</p><p>Nesse ponto, é importante que você entenda que os direitos humanos surgiram</p><p>com base em uma teoria de direitos naturais.</p><p>A teoria dos direitos naturais é uma ideia central da filosofia</p><p>política e ética que sustenta que certos direitos são inerentes</p><p>à natureza humana e, portanto, são universais, inalienáveis e</p><p>inerentes a todas as pessoas. Essa teoria foi fundamental para</p><p>a formulação dos direitos humanos, uma vez que os direitos</p><p>humanos são considerados como direitos naturais que todas as</p><p>pessoas possuem simplesmente por serem humanas.</p><p>A teoria dos direitos naturais sustenta que todos os seres</p><p>humanos possuem direitos fundamentais, como o direito à vida,</p><p>à liberdade, à igualdade, à segurança e à dignidade. Esses direitos</p><p>são considerados universais, ou seja, são aplicáveis a todas as</p><p>pessoas, independentemente de nacionalidade, raça, gênero,</p><p>15Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>orientação sexual, religião ou de qualquer outra característica</p><p>individual. Os direitos humanos são uma aplicação prática dessa</p><p>teoria, buscando garantir a dignidade e a liberdade de todos os</p><p>seres humanos.</p><p>Os direitos previstos nos documentos de direitos humanos do século XVIII previam</p><p>a existência de direitos baseados em preceitos não religiosos.</p><p>A ideia mais revolucionária do século XVIII para os</p><p>direitos humanos é a de que todas as pessoas possuem</p><p>direitos inatos, ou seja, nascem com direitos que</p><p>devem ser reconhecidos pela associação política ou</p><p>Estado. [...] Sendo assim, o século XVIII caracterizou-</p><p>se pelo reconhecimento de uma esfera de liberdade</p><p>pessoal na qual a associação política ou o Estado não</p><p>poderia adentrar, logo, o indivíduo passa não apenas</p><p>a ter deveres para com a autoridade, mas também</p><p>a ter direitos, que devem ser por esses respeitados.</p><p>(ALBUQUERQUE, 2021, p. 11)</p><p>Na era moderna, verifica-se a ascensão dos ideais de liberdade, de direito à</p><p>propriedade privada e de rejeição do poder total e centralizador. Esses ideais</p><p>influenciaram revoluções como a inglesa, a francesa e a haitiana.</p><p>É importante destacar que, embora tenha havido grande avanço em prol dos</p><p>direitos humanos no século XVIII, a afirmação de direitos inatos não abrangeu</p><p>todas as pessoas: mulheres, escravos, minorias religiosas, crianças, pessoas com</p><p>deficiência e privadas de liberdade não foram abarcados. Esse progresso somente</p><p>seria alcançado nos séculos seguintes.</p><p>A seguir, você verá os principais documentos relacionados aos direitos humanos</p><p>que foram implementados no século XVIII, bem como as inovações trazidas por eles.</p><p>+ Documentos dos Estados Unidos da América (1776)</p><p>A Declaração de Independência dos Estados Unidos da América (1776) foi o</p><p>primeiro documento que declarou a liberdade de todos os cidadãos. Esse</p><p>documento rechaçou a monarquia, reconhecendo a proteção dos direitos à</p><p>liberdade, à vida e à busca pela liberdade. Veja um trecho da declaração a seguir:</p><p>16Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>“Nós consideramos essas verdades como auto evidentes, que todos</p><p>os homens foram criados iguais, que eles são dotados de Direitos</p><p>inalienáveis pelo Criador, dentre eles a vida, a liberdade e a busca pela</p><p>felicidade. Para assegurar esses direitos, os Governos são instituídos</p><p>pelos homens, derivando seu justo poder do consentimento dos</p><p>governados.” (OS TREZE ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA,1776, p. 2)</p><p>Essa Declaração foi profundamente influenciada pela Declaração de Direitos</p><p>da Virgínia (1776), que contemplava uma série de direitos considerados inatos,</p><p>como o direito à vida, à segurança, à liberdade, à liberdade de imprensa e de</p><p>religião, e o direito a instituir um novo governo no caso de o governo vigente</p><p>fracassar em seu dever de garantir a segurança pessoal.</p><p>Com relação às Declarações de Independência e de Direitos da Virgínia (ambas de</p><p>1776), é importante mencionar ainda a Constituição dos Estados Unidos (1787),</p><p>em que foi introduzida a teoria de Montesquieu sobre a separação dos Poderes</p><p>Legislativo, Executivo e Judiciário. Essa divisão de Poderes é essencial para que</p><p>sejam asseguradas as liberdades políticas e alguns direitos humanos.</p><p>+ Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789)</p><p>A independência dos Estados Unidos exerceu grande influência sobre os</p><p>membros do Terceiro Estado francês. Cansados dos abusos e da corrupção</p><p>do regime político vigente, esse setor da sociedade passou a reivindicar seus</p><p>direitos. Assim, podemos afirmar que existe inegável influência da Declaração</p><p>de Independência dos Estados Unidos sobre a Declaração francesa, aprovada</p><p>em 1789.</p><p>É importante destacar que, nesse período, ocorreu a Revolução Francesa.</p><p>Considerada a mais importante das revoluções liberais, a Revolução Francesa teve</p><p>como lema os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade. Com acontecimentos</p><p>anteriores, como as expedições marítimas e a emergência de uma classe média</p><p>revolucionária, criou-se um ambiente propício para que se contestasse a divisão</p><p>da sociedade. À época, esta se dividia entre indivíduos com título de nobreza</p><p>e pessoas que não os possuíam, sendo a ideia dominante a de que nobres</p><p>detinham um status moral superior. A Revolução Francesa culminou na criação</p><p>da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão.</p><p>“A Declaração consiste em um dos documentos de direitos humanos</p><p>mais relevantes do século XVIII, abarcando conceitos de lei universal,</p><p>igualdade entre cidadãos e a soberania coletiva dos indivíduos. A</p><p>Declaração francesa desencadeou um movimento forte em torno</p><p>17Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>das ideias liberais que sustentavam os direitos do indivíduo e</p><p>impulsionou a utilização da linguagem dos direitos.” (ALBUQUERQUE,</p><p>2021, p. 11)</p><p>Assim, algumas das principais inovações trazidas pela Declaração dos Direitos do</p><p>Homem e do Cidadão são:</p><p>- atribuição da soberania aos indivíduos, e não ao rei;</p><p>- rechaço à ideia de privilégios para a ocupação de cargos públicos; e</p><p>- introdução da meritocracia, na medida em que estabelecia que “todos são</p><p>igualmente admissíveis a todas as dignidades, lugares e empregos públicos,</p><p>segundo a sua capacidade, e sem outra distinção que não seja a das suas virtudes</p><p>e dos seus talentos”.</p><p>1.2.4. Direitos humanos</p><p>que estão sob cuidados em</p><p>saúde são protegidas, na esfera da ONU, pelos Princípios para</p><p>a Proteção das Pessoas com Transtornos Mentais e a Melhoria</p><p>da Atenção à Saúde Mental, adotados pela Assembleia Geral da</p><p>ONU em 1991.</p><p>No que diz respeito especificamente ao tratamento desumano e degradante, os</p><p>Princípios definem que as pessoas com transtorno mental, ou que estão sendo</p><p>https://podcasters.spotify.com/pod/show/enap/episodes/EV-G-Desafios--aplicao-dos-Princpios-para-a-Proteo-das-Pessoas-com-Transtorno-Mental-e21r06b</p><p>https://podcasters.spotify.com/pod/show/enap/episodes/EV-G-Desafios--aplicao-dos-Princpios-para-a-Proteo-das-Pessoas-com-Transtorno-Mental-e21r06b</p><p>https://podcasters.spotify.com/pod/show/enap/episodes/EV-G-Desafios--aplicao-dos-Princpios-para-a-Proteo-das-Pessoas-com-Transtorno-Mental-e21r06b</p><p>123Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>atendidas por quaisquer transtornos mentais, têm direito a ser protegidas contra os</p><p>maus tratos físicos e de outra natureza, bem como contra o tratamento degradante.</p><p>Ainda no âmbito da ONU, a Declaração de Caracas, que foi adotada pela Organização</p><p>Mundial da Saúde (OMS) em 1990, trata da reestruturação da atenção psiquiátrica</p><p>nos sistemas locais de saúde. A Declaração determina que o cuidado e o tratamento</p><p>da pessoa com transtorno mental devem proteger a sua dignidade pessoal e os</p><p>seus direitos.</p><p>Para que um procedimento terapêutico seja considerado tratamento desumano ou</p><p>degradante, um nível mínimo de severidade deve estar presente. A avaliação acerca</p><p>do que seja esse nível mínimo dependerá:</p><p>• Das circunstâncias do caso concreto</p><p>• De seus efeitos físicos e mentais</p><p>• Em alguns casos, do sexo, da idade e do estado de saúde do paciente</p><p>Sobre as condições de tratamento das pessoas com transtorno mental em instituições</p><p>psiquiátricas, estas devem envolver o alojamento em ambiente seguro e limpo, que</p><p>lhes assegure higiene pessoal adequada.</p><p>A garantia de um ambiente seguro e higiênico não é apenas</p><p>essencial para a a saúde física, mas também é crucial para a</p><p>saúde mental e o bem-estar.</p><p>Alguns pacientes institucionalizados são obrigados a viver em condições insalubres,</p><p>com falta de alimentos e de investimentos. Ainda, muitas vezes constata-se a</p><p>ausência de medidas de segurança para evitar a propagação de doenças infecciosas</p><p>nas instalações em que se encontram. Registra-se, ainda, que, devido ao número</p><p>reduzido de funcionários em algumas unidades de saúde mental, os pacientes</p><p>são muitas vezes obrigados a realizar tarefas de manutenção e limpeza das suas</p><p>instalações sem receber qualquer remuneração.</p><p>Sobre isso, tem-se como referência a decisão da Corte Interamericana de Direitos</p><p>Humanos no caso Ximenes Lopes vs. Brasil, que é a primeira condenação do Estado</p><p>brasileiro:</p><p>O Sr. Ximenes Lopes foi internado na Casa de</p><p>Repouso Guararapes em outubro de 1999, um</p><p>centro de atendimento psiquiátrico privado que</p><p>operava no âmbito do sistema único de saúde, no</p><p>município de Sobral, estado do Ceará. O Sr. Ximenes</p><p>Lopes faleceu em 4 de outubro de 1999, na Casa de</p><p>124Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>Repouso citada, após três dias de internação. De</p><p>acordo com a decisão da Corte, o Sr. Ximenes Lopes</p><p>foi submetido a condições desumanas e degradantes</p><p>em sua hospitalização, tendo sofrido violação de sua</p><p>integridade pessoal por parte dos funcionários da</p><p>Casa de Repouso Guararapes. Segundo o relato de</p><p>Irene Ximenes Lopes Miranda, irmã do Sr. Ximenes</p><p>Lopes, o corpo apresentava marcas de tortura.</p><p>(ALBUQUERQUE, 2016, p. 113-114)</p><p>A Corte entendeu, nesse caso, que os cuidados de saúde para pacientes com</p><p>transtorno mental devem ter como finalidade principal o bem-estar do paciente e o</p><p>respeito à sua dignidade como ser humano. Essa finalidade se concretiza por meio</p><p>do dever do Estado de adotar o respeito à intimidade e a autonomia das pessoas</p><p>como princípios orientadores do tratamento psiquiátrico. Sendo assim, o lugar e as</p><p>condições físicas em que o tratamento se desenvolve devem estar de acordo com o</p><p>respeito à dignidade humana.</p><p>A Corte considera que as precárias condições de funcionamento da Casa de</p><p>Repouso Guararapes, tanto as condições gerais do lugar, quanto o atendimento</p><p>médico, se distanciavam de forma significativa das adequadas à prestação de</p><p>um tratamento de saúde digno, particularmente em razão de que afetavam</p><p>pessoas de grande vulnerabilidade por sua deficiência mental, e eram per se</p><p>incompatíveis com uma proteção adequada da integridade pessoal e da vida.</p><p>(CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS, 2006, apud ALBUQUERQUE,</p><p>2016, p. 114-115)</p><p>O direito de não ser torturado ou submetido a pena ou tratamento desumano ou</p><p>degradante é absoluto, o que significa que os Estados devem agir no sentido de</p><p>implantar políticas, programas e legislações que evitem a prática dessas condutas</p><p>por profissionais de saúde. A submissão de uma pessoa indefesa, que é a situação</p><p>do paciente, a esse tipo de condição, tem efeitos arrasadores na vida do paciente e</p><p>de seus familiares. Por isso, é importante frisar que:</p><p>• A escassez de recursos humanos e financeiros não justifica qualquer</p><p>tratamento desumano ou degradante;</p><p>• Os Estados têm a obrigação de destinar recursos suficientes para</p><p>satisfazer às necessidades básicas dos pacientes.</p><p>125Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>• É dever do Estado proteger os pacientes contra o sofrimento causado</p><p>pela falta de alimentos, roupas, recursos humanos, higiene e outras</p><p>condições desumanas ou degradantes.</p><p>Assim, podemos observar que as violações aos direitos humanos das pessoas</p><p>com transtornos mentais são recorrentes nas próprias instituições que deveriam</p><p>prestar-lhes cuidados. Por esse motivo, as disposições da Convenção Contra a</p><p>Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes devem</p><p>ser aplicadas aos serviços em saúde mental por meio de políticas, programas e</p><p>legislações elaboradas pelos Estados.</p><p>1.3. Convenção sobre os Direitos das Pessoas com</p><p>Deficiência e saúde mental</p><p>A Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (CIDPD) é</p><p>um instrumento internacional de  direitos humanos  elaborado no âmbito da</p><p>ONU. O texto da Convenção foi aprovado pela  Assembleia Geral das Nações</p><p>Unidas, em 2006, e passou a fazer parte do ordenamento jurídico do Brasil em 25</p><p>de agosto de 2009, por meio do Decreto nº 6.949.</p><p>A CIDPD tem como objetivo proteger os direitos e a dignidade das pessoas</p><p>com  deficiência (PcD). Os países que se comprometeram com a Convenção são</p><p>obrigados a promover, proteger e assegurar o exercício pleno dos direitos</p><p>humanos das pessoas com deficiência e garantir que usufruam de plena igualdade</p><p>perante a lei.</p><p>• Os princípios gerais da CIDPD são:</p><p>• O respeito à dignidade humana</p><p>• A autonomia individual, incluindo a liberdade de tomar as próprias</p><p>decisões e a independência das pessoas</p><p>• A participação e a inclusão plena e efetiva na sociedade</p><p>• O respeito à diferença e a aceitação das PcD como parte da diversidade</p><p>e da condição humanas</p><p>• A igualdade de oportunidades</p><p>• A acessibilidade</p><p>• A igualdade entre o homem e a mulher</p><p>https://pt.wikipedia.org/wiki/Direitos_humanos</p><p>https://pt.wikipedia.org/wiki/Assembleia_Geral_das_Na%C3%A7%C3%B5es_Unidas</p><p>https://pt.wikipedia.org/wiki/Assembleia_Geral_das_Na%C3%A7%C3%B5es_Unidas</p><p>https://pt.wikipedia.org/wiki/2006</p><p>https://pt.wikipedia.org/wiki/Brasil</p><p>https://pt.wikipedia.org/wiki/25_de_agosto</p><p>https://pt.wikipedia.org/wiki/25_de_agosto</p><p>https://pt.wikipedia.org/wiki/2009</p><p>https://pt.wikipedia.org/wiki/Defici%C3%AAncia</p><p>https://pt.wikipedia.org/wiki/Igualdade_perante_a_lei</p><p>https://pt.wikipedia.org/wiki/Igualdade_perante_a_lei</p><p>126Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>Sobre a Convenção, pode-se dizer que:</p><p>Esse documento é um marco histórico dos deveres do</p><p>Estado para suplantar os obstáculos que atravancam</p><p>o pleno exercício de direitos pelas PD [pessoas com</p><p>deficiência], viabilizando o crescimento de suas</p><p>potencialidades, e passando a serem contempladas</p><p>como verdadeiros sujeitos, titulares de direitos.</p><p>(CANDIDO, Mariluce et al., 2020, p. 224)</p><p>O artigo 1º da CIDPD estabelece que pessoas com deficiência são aquelas que têm</p><p>impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial,</p><p>os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação</p><p>plena e efetiva na sociedade em igualdades de condições com as demais pessoas.</p><p>Assim, há um entendimento (Candido et al., 2020) no sentido de</p><p>que é possível dizer que a pessoa com transtorno mental (PTM)</p><p>deve ser caracterizada como pessoa com deficiência, já que pode</p><p>desenvolver e apresentar tal condição, encaixando-se, assim, na</p><p>definição do artigo 1º da CIDPD.</p><p>Sobre o reconhecimento da pessoa com transtorno mental como pessoa com</p><p>deficiência, os autores explicam:</p><p>Entretanto, não há o seu reconhecimento expresso.</p><p>Também se percorre um longo caminho para fazer</p><p>valer tais direitos no contexto nacional, onde a PTM</p><p>não recebe o mesmo tratamento jurídico dispensado</p><p>à PD. Um exemplo disso é o Brasil, em seu Decreto</p><p>Legislativo Nº 186, de 2008, que aprova o texto da</p><p>CRPR e seu Protocolo Facultativo. (CANDIDO et al.,</p><p>2020, p. 227)</p><p>Embora, no contexto internacional, alguns</p><p>instrumentos especiais de deficiência incorporem o</p><p>TM [Transtorno Mental], o único do tipo mandatório,</p><p>a CIDPD e seu Protocolo Facultativo não fazem</p><p>nenhuma menção à PTM [Pessoa com Transtorno</p><p>Mental]. Essa situação a torna significativamente</p><p>exposta às violações de seus DHs, impedindo que</p><p>tenham uma vida digna. Diante do exposto, pode-</p><p>127Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>se inferir que o avanço dos direitos da PTM requer a</p><p>criação de instrumentos internacionais especiais do</p><p>tipo mandatório, pois podem significar uma maior</p><p>carga obrigatória, além de servir de parâmetro para</p><p>o legislador, quando no exercício da sua atividade</p><p>legiferante, bem como para o judiciário na aplicação</p><p>de suas decisões. Do mesmo modo, ao executivo, na</p><p>elaboração e implementação de políticas. É possível</p><p>dizer que não basta só o reconhecimento internacional</p><p>da deficiência na PTM, mas se faz emergencial a</p><p>sua aplicação efetiva no âmbito regional, nacional,</p><p>estadual e municipal para o fortalecimento da</p><p>criação, expansão, vigilância e avaliação da eficácia</p><p>dos DHs, e assim serem alcançados no exercício de</p><p>direitos dessas pessoas. (CANDIDO et al., 2020, p. 227,</p><p>tradução nossa)</p><p>O artigo 12 da CIDPD reconhece o direito das pessoas com deficiência de serem</p><p>reconhecidas em qualquer lugar como pessoas perante a lei. Essa afirmação</p><p>reconhece que as PcD possuem capacidade para usufruir e exercer seus direitos</p><p>em todos os aspectos da vida:</p><p>Artigo 12</p><p>Reconhecimento igual perante a lei</p><p>1.Os Estados Partes reafirmam que as pessoas com deficiência têm o direito de</p><p>ser reconhecidas em qualquer lugar como pessoas perante a lei.</p><p>2.Os Estados Partes reconhecerão que as pessoas com deficiência gozam de</p><p>capacidade legal em igualdade de condições com as demais pessoas em todos os</p><p>aspectos da vida.</p><p>3.Os Estados Partes tomarão medidas apropriadas para prover o acesso</p><p>de pessoas com deficiência ao apoio que necessitarem no exercício de sua</p><p>capacidade legal.</p><p>128Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>4.Os Estados Partes assegurarão que todas as medidas relativas ao exercício</p><p>da capacidade legal incluam salvaguardas apropriadas e efetivas para prevenir</p><p>abusos, em conformidade com o direito internacional dos direitos humanos. Essas</p><p>salvaguardas assegurarão que as medidas relativas ao exercício da capacidade</p><p>legal respeitem os direitos, a vontade e as preferências da pessoa, sejam isentas de</p><p>conflito de interesses e de influência indevida, sejam proporcionais e apropriadas</p><p>às circunstâncias da pessoa, se apliquem pelo período mais curto possível e</p><p>sejam submetidas à revisão regular por uma autoridade ou órgão judiciário</p><p>competente, independente e imparcial. As salvaguardas serão proporcionais ao</p><p>grau em que tais medidas afetarem os direitos e interesses da pessoa.</p><p>5. Os Estados Partes, sujeitos ao disposto neste Artigo, tomarão todas as medidas</p><p>apropriadas e efetivas para assegurar às pessoas com deficiência o igual direito</p><p>de possuir ou herdar bens, de controlar as próprias finanças e de ter igual acesso</p><p>a empréstimos bancários, hipotecas e outras formas de crédito financeiro,</p><p>e assegurarão que as pessoas com deficiência não sejam arbitrariamente</p><p>destituídas de seus bens. (CONVENÇÃO INTERNACIONAL SOBRE OS DIREITOS DAS</p><p>PESSOAS COM DEFICIÊNCIA, 2006, art. 17)</p><p>Nesse sentido, a Presidência da República elaborou um documento com comentários</p><p>à CIDPD, em que se afirma, sobre o artigo 12:</p><p>Com isso, [a CIDPD] provoca uma ruptura na clássica</p><p>separação que reconhecia a todos os seres humanos</p><p>a capacidade de direito, consistente em usufruir de</p><p>todos os direitos e liberdades fundamentais, ao passo</p><p>que limitava a capacidade de exercício desses direitos</p><p>em razão da condição de deficiência (usualmente</p><p>mental ou auditiva, como ainda ocorre no código civil</p><p>brasileiro). (BRASIL, 2008, p. 4)</p><p>No que diz respeito à abordagem da Convenção ao tratamento involuntário em</p><p>saúde mental, há uma discussão em torno do assunto. A introdução da CIDPD e o</p><p>Comentário Geral 1 do Comitê sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência sobre</p><p>o Artigo 12 da Convenção geraram um debate considerável sobre a afirmação de</p><p>que pessoas com transtornos mentais sempre possuem capacidade de decisão.</p><p>Nesse sentido, há uma série de questões importantes não resolvidas relacionadas</p><p>a casos mais complexos e se o direito garantido pela CIDPD é absoluto e imediato</p><p>ou sujeito a limitações.</p><p>129Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>No Dia Mundial da Saúde Mental de 2015, os Relatores Especiais das Nações Unidas</p><p>sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, Catalina Devandas-Aguilar, e sobre o</p><p>Direito à Saúde, Dainius Pûras, exortaram os Estados a erradicar todas as formas de</p><p>tratamento psiquiátrico não consensual.</p><p>O Dia Mundial da Saúde Mental, apoiado pelas Nações Unidas,</p><p>é celebrado anualmente em 10 de outubro para aumentar a</p><p>conscientização pública sobre problemas de saúde mental em</p><p>todo o mundo. O tema de 2015 foi “Dignidade na Saúde Mental”</p><p>e, em 2022, foi “Fazer da saúde mental e do bem-estar para todos</p><p>uma prioridade global”.</p><p>Os especialistas independentes instaram os governos a acabar com a detenção</p><p>arbitrária, a institucionalização forçada e o tratamento forçado, a fim de garantir</p><p>que as pessoas com transtornos mentais sejam tratadas com dignidade e tenham</p><p>seus direitos humanos respeitados:</p><p>Trancados em instituições, amarrados com restrições, muitas vezes em</p><p>confinamento solitário, injetados à força com drogas e supermedicados, são</p><p>apenas algumas ilustrações das maneiras pelas quais pessoas com deficiência,</p><p>ou aquelas percebidas como assim, são tratadas sem seu consentimento, com</p><p>severas consequências para a sua integridade física e mental.</p><p>[...]</p><p>Com muita frequência, pessoas com deficiências psicossociais e de</p><p>desenvolvimento são formal ou informalmente destituídas de sua capacidade</p><p>legal e arbitrariamente privadas de sua liberdade em hospitais psiquiátricos,</p><p>outras instituições especializadas e outros locais semelhantes.</p><p>A dignidade não pode ser compatível com práticas de tratamento forçado que</p><p>podem constituir tortura.  Os Estados devem interromper esta situação com</p><p>urgência e respeitar a autonomia de cada pessoa, incluindo seu direito de</p><p>escolher ou recusar tratamento e cuidados.</p><p>[...]</p><p>O conceito de ‘necessidade médica’ por trás da colocação e tratamento não</p><p>consensuais fica aquém das evidências científicas e dos critérios sólidos.  O</p><p>legado do uso da força na psiquiatria vai contra o princípio ‘ primum non nocere ‘</p><p>(primeiro não fazer mal) e não deve mais ser aceito.</p><p>130Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>[...]</p><p>Apelamos aos Estados para que ponham fim</p><p>a todas as instâncias de detenção</p><p>arbitrária, institucionalização forçada e tratamento forçado, para garantir que</p><p>as pessoas com deficiências de desenvolvimento e psicossociais sejam tratadas</p><p>com dignidade e tenham o direito de ter suas decisões respeitadas em todos os</p><p>momentos e de ter acesso a o apoio e acomodação necessários para comunicar</p><p>efetivamente tais decisões”. (NAÇÕES UNIDAS, 2015, n.p., tradução nossa)</p><p>Especificamente sobre a CIDPD, os Relatores Especiais afirmaram:</p><p>A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência oferece uma ocasião</p><p>promissora para uma mudança de paradigma nas políticas e práticas de saúde</p><p>mental. O Dia Mundial da Saúde Mental deste ano enfatiza mais do que nunca a</p><p>necessidade de elaborar novos modelos e práticas de serviços comunitários que</p><p>respeitem a dignidade e a integridade da pessoa.</p><p>É um bom momento para fazer um balanço da recente entrada em vigor da</p><p>Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência para abrir um diálogo</p><p>entre todas as partes interessadas, incluindo usuários de serviços, formuladores</p><p>de políticas e profissionais de saúde mental para trabalhar em soluções baseadas</p><p>em direitos humanos que podem fornecer respostas às questões trazidas pelas</p><p>normas da Convenção. (NAÇÕES UNIDAS, 2015, n.p., tradução nossa)</p><p>Assim, prossigamos no estudo dos dispositivos da CIDPD que podem ser aplicados</p><p>ao âmbito da saúde mental. O artigo 17 assim dispõe:</p><p>Artigo 17</p><p>Proteção da integridade da pessoa</p><p>Toda pessoa com deficiência tem o direito a que sua integridade física e mental</p><p>seja respeitada, em igualdade de condições com as demais pessoas. (CONVENÇÃO</p><p>INTERNACIONAL SOBRE OS DIREITOS DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA, 2006, art.</p><p>17)</p><p>131Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>Nesse sentido, percebe-se a preocupação da ONU em proteger as condições físicas</p><p>e mentais das PcD:</p><p>A princípio, o referido artigo sendo lido num país</p><p>desenvolvido ou onde o ordenamento jurídico tenha</p><p>alcançado algum status de justiça, fica sem sentido,</p><p>pois pode parecer que a norma trata do óbvio. No</p><p>entanto, temos que ter em mente que a Convenção é</p><p>internacional, busca ratificação e reconhecimento por</p><p>todos os países do planeta. Dentro dessa premissa,</p><p>devemos ter em conta que em muitos destes países</p><p>ainda é comum a prática de abusos físicos e mentais</p><p>contra pessoas com deficiência, até por acreditarem</p><p>que pessoas na condição de “deficientes” são impuras</p><p>e vítimas de sua própria sorte. (BRASIL, 2008, p. 69-70)</p><p>Ainda com relação ao artigo 17, podemos observar que a Convenção diferencia a</p><p>integridade física da integridade mental. No que diz respeito à integridade física, a</p><p>norma objetiva garantir que as pessoas com deficiência tenham os mesmos direitos</p><p>das demais pessoas quanto à preservação e utilização física de partes do seu</p><p>corpo, independentemente de sua condição física. Quanto à integridade mental,</p><p>visa proteger a pessoa com deficiência de danos morais ou intelectuais que possam</p><p>atingi-la na condição de pessoa com deficiência.</p><p>A CIDPD é um instrumento de direitos humanos de grande relevância por definir o</p><p>conceito de “pessoa com deficiência” e por contemplar as pessoas com deficiência</p><p>como titulares de direitos. Embora haja posições no sentido de considerar a pessoa</p><p>com transtorno mental sob o prisma da deficiência mental, não há reconhecimento</p><p>expresso nesse sentido. A CIDPD e o seu Protocolo não mencionam especificamente</p><p>a pessoa com transtorno mental, mas a Convenção possui importantes artigos que</p><p>se aplicam a esse grupo, como o artigo 12, que determina a capacidade legal das</p><p>pessoas com deficiência, e o artigo 17, que protege sua integridade física e mental.</p><p>Observando que existe uma divisão entre os direitos das pessoas com deficiência</p><p>e a prática clínica, a OMS desenvolveu diretrizes de melhores práticas, por meio</p><p>da iniciativa Quality Rights, incentivando os profissionais de saúde a participar da</p><p>implementação da CIDPD. A iniciativa Quality Rights será estudada a seguir.</p><p>132Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>1.4. Quality Rights</p><p>Tendo observado que existe uma disparidade entre os direitos das pessoas com</p><p>deficiência e a prática clínica, a OMS desenvolveu diretrizes de melhores práticas</p><p>por meio da iniciativa Quality Rights, incentivando os profissionais de saúde a</p><p>participar da implementação da CIDPD, inclusive por meio da aplicação de tomadas</p><p>de decisão apoiadas, e oferecendo suportes, como materiais de treinamento, para</p><p>avançar nesse novo paradigma.</p><p>O chamado kit de ferramentas Quality Rights fornece materiais</p><p>de treinamento para capacitar profissionais de saúde sobre as</p><p>disposições da CIDPD e o uso de instrumentos como diretivas</p><p>antecipadas.  Em português, esse kit é chamado de kit de</p><p>ferramentas Direito é Qualidade da OMS.</p><p>O kit de ferramentas Direito é Qualidade da OMS tem como objetivo apoiar os países</p><p>na avaliação e na melhoria da qualidade e no respeito aos direitos humanos nos</p><p>serviços de saúde mental e de assistência social. Ele baseia-se em uma revisão</p><p>internacional extensa realizada por pessoas com transtornos mentais e organizações</p><p>formadas por elas ou organizações que as protegem. O kit destina-se a ser aplicado</p><p>em países de baixa, média e alta renda, tendo sido testado de maneira experimental</p><p>em todos esses contextos.</p><p>Aqui, é necessário delimitar o conceito do termo “serviços” para aplicação do kit de</p><p>ferramentas:</p><p>O termo “serviços” refere-se a qualquer lugar onde</p><p>pessoas com desabilidades mentais vivem ou</p><p>recebem atendimento, tratamento e/ou reabilitação.</p><p>Estes incluem: hospitais psiquiátricos, enfermarias</p><p>psiquiátricas em hospitais gerais, serviços</p><p>ambulatoriais (incluindo centros comunitários de</p><p>saúde mental ou de substâncias psicoativas, clínicas</p><p>de atenção primária e atendimento ambulatorial</p><p>realizado por hospitais gerais), centros de cuidados</p><p>diurnos para pessoas com transtornos mentais e</p><p>serviços de acolhimento institucional e assistência</p><p>social (incluindo serviços de acolhimento institucional</p><p>para idosos, crianças com deficiências e para outros</p><p>“grupos” de pessoas). (BRASIL, 2015, p. 3)</p><p>Serviços psiquiátricos de internação e de estadia prolongada são comumente</p><p>associados ao atendimento de baixa qualidade e a violações de direitos humanos.</p><p>133Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>Por isso, a OMS recomenda aos países que desativem progressivamente esse tipo</p><p>de instituição, estabelecendo, em seu lugar, serviços de base comunitária, e que a</p><p>saúde mental seja integrada aos serviços de atenção primária e aos hospitais gerais.</p><p>Embora essa ferramenta não endosse instituições de</p><p>longa permanência como ambiente apropriado para</p><p>tratamento e cuidado, enquanto esse tipo de serviço</p><p>continuar a existir em países de todo o mundo é</p><p>necessário impedir violações e promover os direitos</p><p>daqueles que residem nessas instituições. (BRASIL,</p><p>2015, p. 3)</p><p>A CIDPD consiste na base que define os padrões dos direitos</p><p>humanos que precisam ser respeitados, protegidos e cumpridos</p><p>nos serviços que atendem a essa população.</p><p>O kit de ferramentas aborda cinco temas extraídos da CIDPD:</p><p>1. O direito a um padrão de vida e proteção social adequado (Artigo 28 da</p><p>CIDPD)</p><p>2. O direito a usufruir o padrão mais elevado possível de saúde física e</p><p>mental (Artigo 25)</p><p>3. O direito a exercer capacidade legal e o direito à liberdade pessoal e à</p><p>segurança da pessoa (Artigos 12 e 14)</p><p>4. Prevenção contra tortura ou tratamentos ou penas cruéis, desumanos</p><p>ou degradantes e contra a exploração, violência e abuso (Artigos 15 e 16)</p><p>5. O direito de viver de forma independente e de ser incluído na comunidade</p><p>(Artigo 19)</p><p>Cada um desses “temas” ou “direitos” é decomposto em uma série de “padrões”, os</p><p>quais são ainda repartidos em uma série de “critérios”:</p><p>É em relação a esses critérios que os serviços serão</p><p>avaliados, mediante entrevistas, observação e</p><p>revisões de documentação. A avaliação de cada</p><p>critério possibilita aos avaliadores</p><p>determinar se um</p><p>determinado padrão foi cumprido. Os padrões, por</p><p>sua vez, ajudam a determinar se o tema global foi</p><p>cumprido. (BRASIL, 2015, p. 3)</p><p>134Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>Sobre isso, veja a figura a seguir:</p><p>Figura 29 - Exemplo de divisão de cada tema em padrões e critérios</p><p>a serem cumpridos em uma avaliação da qualidade e direitos</p><p>humanos de serviços de saúde mental e de assistência social</p><p>Fonte: MINISTÉRIO DA SAÚDE. Direito é qualidade: kit de ferramentas de</p><p>avaliação e melhoria da qualidade e dos direitos humanos em serviços de</p><p>saúde mental e de assistência social. Brasília, 2015, página 7. Disponível em:</p><p>https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/70927/9788533423282_por.</p><p>pdf;jsessionid=DC0BD6A7EDB7F2204C557903A17B7D14?sequence=53. Acesso em: 25 nov. 2022.</p><p>https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/70927/9788533423282_por.pdf;jsessionid=DC0BD6A7EDB7F2204C557903A17B7D14?sequence=53</p><p>https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/70927/9788533423282_por.pdf;jsessionid=DC0BD6A7EDB7F2204C557903A17B7D14?sequence=53</p><p>135Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>É importante destacar que o kit de ferramentas Direito é Qualidade da OMS oferece</p><p>instruções detalhadas sobre como uma avaliação deve ser conduzida e os seus</p><p>resultados, relatados e utilizados. Ele inclui, ainda, alguns tipos de ferramentas,</p><p>como:</p><p>• Ferramentas de avaliação, como a ferramenta de entrevista, que fornece</p><p>orientação sobre como conduzir entrevistas com usuários do serviço,</p><p>membros das famílias (ou amigos ou cuidadores) e profissionais do</p><p>serviço.</p><p>• Formulários para relatórios, como o relatório de avaliação de serviço,</p><p>que se destina a auxiliar as equipes de avaliação na consolidação e</p><p>apresentação de seus resultados, conclusões e recomendações para</p><p>cada serviço.</p><p>O kit de ferramentas Direito é Qualidade da OMS pode ser adotado e usado por</p><p>diversos grupos e organizações, tanto nacionais como internacionais. Ele pode ser</p><p>usado para uma única avaliação ou como parte de um programa de nível nacional</p><p>para melhorar os serviços no país. Assim, alguns dos grupos e organizações que</p><p>podem usar o kit de ferramentas são:</p><p>• Órgãos internacionais de direitos humanos e organizações não</p><p>governamentais</p><p>• Órgãos e mecanismos nacionais</p><p>• Instituições nacionais de direitos humanos</p><p>• Comissões nacionais de saúde ou de saúde mental</p><p>• Órgãos de acreditação de serviços de saúde</p><p>• Organizações nacionais não governamentais</p><p>• Comitê ou órgão “dedicado” à avaliação</p><p>Para implementar o projeto Direito é Qualidade da OMS, a primeira etapa é estabelecer</p><p>uma equipe de gerenciamento. Essa equipe central de pessoas será responsável</p><p>por:</p><p>• Supervisionar o projeto</p><p>• Fornecer orientação ao comitê que realizará a avaliação</p><p>• Gerenciar e coordenar a avaliação</p><p>• Relatar os resultados e dar seguimento às ações</p><p>A equipe de gerenciamento do projeto poderia</p><p>compreender representantes do Ministério da Saúde,</p><p>de outros ministérios apropriados (por exemplo, do</p><p>bem-estar social), representantes de organizações</p><p>de pessoas com desabilidades, organizações de</p><p>familiares, comissões ou órgãos nacionais de direitos</p><p>136Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>humanos ou de saúde, profissionais de saúde mental</p><p>e da área jurídica.</p><p>[...]</p><p>A equipe de gerenciamento deve determinar os</p><p>objetivos da avaliação. O objetivo principal é avaliar</p><p>e melhorar todos os serviços ambulatoriais e de</p><p>internação, ou o projeto se limitará a serviços de</p><p>internação? Sua finalidade é subsidiar a política</p><p>e a legislação ou, quando estas já estão em vigor,</p><p>fortalecer a sua implementação? A determinação</p><p>dos objetivos da avaliação esclarecerá a estrutura do</p><p>projeto e o modo como os resultados serão relatados.</p><p>(BRASIL, 2015, p. 14)</p><p>Uma vez determinada a finalidade da avaliação, algumas questões serão consideradas</p><p>pela equipe de gerenciamento antes de que aquela seja iniciada. É necessário:</p><p>1. Determinar o escopo da avaliação</p><p>2. Entender a organização de serviços no país</p><p>3. Selecionar serviços para avaliação</p><p>4. Selecionar temas para a avaliação</p><p>5. Determinar quais e quantas pessoas de cada serviço entrevistar</p><p>Quando o escopo da avaliação e o número de serviços</p><p>a serem avaliados tiverem sido definidos, a equipe de</p><p>gerenciamento deverá determinar quantos comitês</p><p>de avaliação serão necessários. “Em alguns contextos</p><p>(por exemplo, em países pequenos ou quando</p><p>somente um ou dois serviços estão sendo avaliados),</p><p>somente um comitê pode ser necessário. Em outros</p><p>contextos (por exemplo, avaliações em nível nacional</p><p>ou distrital), serão necessários diversos comitês”</p><p>(BRASIL, 2015, p. 22).</p><p>Assim, a equipe de gerenciamento irá selecionar membros dos comitês de avaliação,</p><p>determinar as diferentes funções dos membros do comitê, treinar esses membros,</p><p>estabelecer a autoridade do(s) comitê(s) e preparar termos de consentimento (dos</p><p>profissionais, dos usuários dos serviços e de membros da família que participam na</p><p>avaliação) antes que as entrevistas sejam conduzidas, e buscar aprovação ética.</p><p>137Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>A avaliação deve ser conduzida de forma a seguir algumas orientações. Por exemplo:</p><p>Quando possível, o comitê de avaliação deve efetuar</p><p>visitas não anunciadas aos serviços. Se souberem a</p><p>data e a hora de uma visita, os profissionais de um</p><p>serviço podem preparar-se para a visita, “limpando”</p><p>o serviço de modo que os membros do comitê vejam</p><p>uma versão “higienizada” do serviço, em vez das</p><p>condições reais. As visitas não anunciadas asseguram</p><p>que os membros do comitê vejam as condições que</p><p>são realmente vivenciadas pelos usuários do serviço</p><p>todos os dias. (BRASIL, 2015, p. 27).</p><p>Ainda, as visitas devem, se possível, ser realizadas ao mesmo serviço em</p><p>diferentes horários do dia. Antes de iniciada a visita, o comitê deve se reunir com</p><p>os profissionais e os usuários do serviço e, quando possível, com membros das</p><p>famílias dos usuários para explicar a finalidade da avaliação e para descrever o</p><p>que farão e o que esperam alcançar.</p><p>O comitê deve tentar estabelecer um sentido de</p><p>parceria e cooperação com os profissionais, os usuários</p><p>do serviço e seus familiares. Os profissionais podem</p><p>sentir-se desconfortáveis em relação à avaliação,</p><p>temendo que seu trabalho esteja sendo monitorado</p><p>e julgado. Os usuários do serviço e familiares também</p><p>podem ficar desconfiados da avaliação e temerem</p><p>represálias se participarem em entrevistas. O comitê</p><p>deve, portanto, empenhar-se em promover um</p><p>espírito de colaboração, enfatizando que todos os</p><p>envolvidos possuem um objetivo comum – melhorar</p><p>as condições do serviço – e que esse objetivo pode ser</p><p>alcançado somente com as informações recebidas e</p><p>a participação ativa de todos. A equipe de avaliação</p><p>não deverá, contudo, levantar expectativas irrealistas</p><p>sobre o resultado que a avaliação alcançará, e deve</p><p>esclarecer que as condições provavelmente não</p><p>melhorarão imediatamente, mas somente com o</p><p>passar do tempo. (BRASIL, 2015, p. 27)</p><p>138Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>As ferramentas do Direito é Qualidade para revisão da documentação e observação dos</p><p>serviços servem de guia para os membros do comitê sobre o que devem observar</p><p>durante suas visitas, com espaço para registrar seus achados. A observação é uma</p><p>atividade central na avaliação das condições dos serviços. Assim,</p><p>A observação não deve se restringir a um exame das</p><p>condições físicas; deve incluir também o que acontece</p><p>no serviço. Por exemplo, quando visita serviços</p><p>ambulatoriais e de internação, o comitê de avaliação</p><p>deve observar as interações entre profissionais e</p><p>usuários dos serviços para determinar se os usuários</p><p>estão sendo atendidos com dignidade e respeito e se</p><p>os seus direitos e sua capacidade legal são respeitados.</p><p>Por conseguinte, como parte da observação, os</p><p>membros do comitê devem acompanhar atividades/</p><p>atendimentos envolvendo profissionais e usuários</p><p>dos serviços,</p><p>incluindo:</p><p>• Consultas entre profissionais e usuários</p><p>dos serviços: Os usuários do serviço estão</p><p>participando na elaboração de seu projeto</p><p>terapêutico? Os usuários podem expressar</p><p>suas opiniões e escolhas referentes ao seu</p><p>tratamento, e estas são respeitadas? Ou estas</p><p>decisões são tomadas sem sua participação?</p><p>Ações de reabilitação: Os profissionais estão</p><p>simplesmente fazendo palestras para os</p><p>usuários do serviço, ou os usuários estão</p><p>participando ativamente no processo de</p><p>reabilitação psicossocial para aquisição de</p><p>habilidades? (BRASIL, 2015, p. 28)</p><p>O kit Direito é Qualidade da OMS também fornece a ferramenta de observação e</p><p>documentação, que serve de guia para os membros do comitê sobre os tipos de</p><p>documentação a serem revisados na avaliação. De acordo com a ferramenta, a</p><p>documentação pode ser dividida em quatro grandes categorias:</p><p>• Projetos técnicos, diretrizes, normas e outras diretivas oficiais do serviço;</p><p>• Registros administrativos (por exemplo, número e categorias de</p><p>profissionais, número, idade e sexo de usuários do serviço, registros de</p><p>internação e alta);</p><p>• Registros de eventos específicos (por exemplo, queixas, petições contra</p><p>139Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>internação e tratamento involuntários, incidentes de roubo, abuso,</p><p>óbitos); e</p><p>• Prontuários ou arquivos de usuários do serviço.</p><p>Outra ferramenta no âmbito do kit Direito é Qualidade da OMS é a ferramenta de</p><p>entrevista.</p><p>Entrevistar usuários, familiares e profissionais de um serviço e</p><p>ouvir suas visões e perspectivas é fundamental para a avaliação.</p><p>Essa ferramenta descreve os temas, os padrões e os critérios em relação aos quais</p><p>as condições dos serviços devem ser avaliadas. A ferramenta também contém</p><p>perguntas associadas a cada critério para auxiliar o entrevistador. Alguns dos</p><p>aspectos que devem ser considerados com relação à entrevista são:</p><p>• A seleção dos entrevistados</p><p>• O procedimento de entrevista</p><p>• O conteúdo da entrevista: relatos de casos de abuso</p><p>Com relação à forma de relatar os resultados da avaliação, o formulário de relatório</p><p>do Direito é Qualidade da OMS por serviço fornece uma estrutura para que o comitê</p><p>de avaliação documente sistematicamente a extensão em que cada um dos cinco</p><p>temas da ferramenta Direito é Qualidade da OMS foi aplicada em um serviço específico</p><p>de saúde mental ou de assistência social. Todas as sessões devem ser preenchidas.</p><p>São elas:</p><p>1. Resumo executivo</p><p>2. Método utilizado para a avaliação</p><p>3. Resultados da avaliação (inclusive a pontuação quantitativa e os achados</p><p>qualitativos)</p><p>4. Discussão</p><p>5. Conclusões e recomendações</p><p>No caso de mais de um serviço ter sido avaliado (por exemplo, uma avaliação</p><p>nacional ou distrital), “todos os comitês que conduzem avaliações deverão se reunir</p><p>para discutir, integrar e compilar seus resultados de cada serviço e preparar uma</p><p>avaliação global em nível nacional ou distrital” (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2015, p.</p><p>37). Nessa hipótese, o formulário de relatório do Direito é Qualidade da OMS para</p><p>avaliações nacionais fornece uma estrutura para consolidação das avaliações locais:</p><p>O formulário do relatório nacional possui as mesmas</p><p>seções que aqueles voltados para cada serviço</p><p>individualmente, fornece as mesmas categorias para</p><p>classificação (embora as classi- ficações para cada</p><p>140Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>serviço sejam listadas e apresentadas por tema no</p><p>formulário do relatório nacional ou por distrito) e</p><p>inclui um modelo para integrar achados quantitativos</p><p>e qualitativos em um único relatório em nível nacional</p><p>ou de distrito. (BRASIL, 2015, p. 37)</p><p>Quanto ao uso dos resultados obtidos na avaliação, “as avaliações da qualidade e</p><p>direitos humanos em serviços de saúde mental e de assistência social podem servir</p><p>para diversas finalidades, e os resultados podem ser utilizados de muitas maneiras</p><p>diferentes” (BRASIL, 2015, p. 37).</p><p>É essencial que todos os envolvidos em uma avaliação entendam</p><p>claramente e concordem sobre a sua finalidade e o modo como</p><p>os resultados serão utilizados.</p><p>Os resultados de uma avaliação podem:</p><p>• No nível macro, ser utilizados para orientar políticas, planos e legislação</p><p>sobre saúde mental e abuso de substâncias.</p><p>• Ser utilizados para entender a extensão e o tipo de violações de direitos</p><p>humanos que ocorrem em serviços, e para aumentar a conscientização</p><p>sobre essas questões entre as autoridades competentes e as partes</p><p>envolvidas, quando apropriado.</p><p>• (E devem) ser utilizados como base para formular um plano de melhoria</p><p>da qualidade, o qual deve ser integrado na gestão e prestação de</p><p>cuidados do serviço avaliado.</p><p>• Ser utilizados para identificar lacunas no conhecimento em relação a</p><p>questões sobre direitos humanos e qualidade.</p><p>Para conhecer mais sobre o kit de ferramentas</p><p>Quality Rights, clique no link https://apps.who.int/iris/</p><p>bitstream/10665/70927/53/9788533423282_por.pdf e acesse o</p><p>documento “Kit de ferramentas de avaliação e melhoria da</p><p>qualidade e dos direitos humanos em serviços de saúde mental</p><p>e de assistência social”, produzido pelo Ministério da Saúde em</p><p>2015.</p><p>https://apps.who.int/iris/bitstream/10665/70927/53/9788533423282_por.pdf</p><p>https://apps.who.int/iris/bitstream/10665/70927/53/9788533423282_por.pdf</p><p>141Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>Figura 30 – Manual Direito é Qualidade</p><p>Fonte: MINISTÉRIO DA SAÚDE. Direito é qualidade: kit de ferramentas de</p><p>avaliação e melhoria da qualidade e dos direitos humanos em serviços de</p><p>saúde mental e de assistência social. Brasília, 2015, capa. Disponível em:</p><p>https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/70927/9788533423282_por.</p><p>pdf;jsessionid=DC0BD6A7EDB7F2204C557903A17B7D14?sequence=53. Acesso em: 25 nov. 2022.</p><p>Assim, os Quality Rights ou, em português, kit de ferramentas Direito é Qualidade da</p><p>OMS, são importantes instrumentos de orientação para profissionais de saúde</p><p>que visam à aplicação das disposições da CIDPD à prática clínica. Nesse sentido, o</p><p>kit fornece materiais de treinamento para capacitar médicos sobre as disposições</p><p>da CIDPD e o uso de instrumentos, como diretivas antecipadas.</p><p>O kit de ferramentas busca identificar problemas nas práticas existentes de</p><p>atendimento à saúde e, a partir disso, planejar meios para que os serviços prestados</p><p>sejam de boa qualidade. Para atingir esse fim, o kit oferece uma série de ferramentas</p><p>para que se possa realizar uma avaliação completa, abrangente e efetiva dos serviços</p><p>em saúde, e para que a utilização dos dados obtidos nessas avaliações seja feita</p><p>de modo a promover a mudança necessária nos serviços de cuidados em saúde</p><p>destinados a pessoas com transtornos mentais.</p><p>https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/70927/9788533423282_por.pdf;jsessionid=DC0BD6A7EDB7F2204C557903A17B7D14?sequence=53</p><p>https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/70927/9788533423282_por.pdf;jsessionid=DC0BD6A7EDB7F2204C557903A17B7D14?sequence=53</p><p>142Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>Olá, estudante!</p><p>Neste módulo, trabalharemos os principais relatórios, casos e decisões dos Sistemas</p><p>Internacionais de Direitos Humanos que se relacionam com o tema “saúde mental”.</p><p>1. Relatórios e decisões dos Sistemas ONU,</p><p>Interamericano e Europeu de Direitos Humanos</p><p>Reconhecer a Jurisprudência Internacional de Direitos Humanos</p><p>e os casos analisados pelo sistema interamericano sobre saúde</p><p>mental.</p><p>Os Sistemas ONU, Interamericano e Europeu de Direitos Humanos possuem diversos</p><p>relatórios e decisões interessantes relacionados ao tema “saúde mental e direitos</p><p>humanos”. Esses documentos constituem a principal fonte de conhecimento sobre</p><p>os padrões internacionais de tratamento das pessoas com transtorno mental sob</p><p>cuidados em saúde. A seguir, vamos estudar os documentos relacionados a cada</p><p>um desses sistemas.</p><p>1.1. Relatórios e decisões do Sistema ONU</p><p>Para facilitar a compreensão, observe a figura a seguir, que mostra um organograma</p><p>dos órgãos de monitoramento de direitos</p><p>humanos da ONU. Na última fileira,</p><p>encontram-se os nomes dos mecanismos de monitoramento utilizados por cada</p><p>um desses órgãos. Os tipos de documentos utilizados nessa pesquisa (Relatórios</p><p>de Relatores Especiais; Relatórios e Comentários Gerais das Convenções temáticas)</p><p>encontram-se destacados em amarelo na figura.</p><p>Módulo</p><p>Jurisprudência internacional sobre</p><p>direitos humanos e saúde mental4</p><p>143Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>Figura 31 - Sistema ONU de Direitos Humanos - Mecanismos de monitoramento</p><p>Fonte: Elaborada pela autora.</p><p>Assim, passamos a apresentar as recomendações expedidas por órgãos de direitos</p><p>humanos da ONU sobre o tratamento que deve ser dado a pessoas com transtorno</p><p>mental.</p><p>Os órgãos cujos documentos foram considerados para a pesquisa</p><p>são os organismos responsáveis por monitorar a proibição da</p><p>tortura e de tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes e os</p><p>direitos da pessoa com deficiência.</p><p>No que diz respeito à proibição da tortura e de tratamentos cruéis, desumanos ou</p><p>degradantes, a pesquisa se baseou nos relatórios temáticos do Relator Especial</p><p>da ONU sobre Tortura e Outros Tratamentos Cruéis, Desumanos ou Degradantes,</p><p>bem como nos comentários gerais e recomendações. Assim, são enfocados três</p><p>documentos:</p><p>• Relatório temático A/HRC/22/53 (2013)</p><p>• Recomendação Geral nº 2 de 2011</p><p>• Nota do Relator Especial “Maus tratos em ambientes de saúde: quando</p><p>um cuidador se torna um torturador”, de 13 de março de 2013</p><p>A pesquisa também levou em consideração os documentos emitidos pelo Comitê</p><p>contra a Tortura (CAT), órgão de monitoramento da Convenção Contra a Tortura e</p><p>Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes. Os documentos</p><p>utilizados na pesquisa foram aqueles classificados como “comentários gerais” e</p><p>“relatórios”. O documento encontrado sob esses parâmetros foi o Relatório do CAT</p><p>A/64/44, de 2009.</p><p>No que diz respeito aos direitos das pessoas com deficiência, foram considerados</p><p>para a pesquisa os relatórios e relatórios temáticos publicados pelo Relator Especial</p><p>144Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>da ONU sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, Relatórios temáticos A/</p><p>HRC/40/54 (2019), A/74/186 (2019), A/73/161 (2018) e A/HRC/37/56 (2018).</p><p>• Comentários Gerais CRPD/C/5 (2022), CRPD/C/GC/6 (2018) e CRPD/C/</p><p>GC/1 (2014)</p><p>• Relatório A/72/55 (2017)</p><p>Nos documentos pesquisados, foram encontradas importantes</p><p>recomendações feitas pelos órgãos da ONU aos Estados com</p><p>relação a padrões internacionais de tratamento de pessoas com</p><p>transtornos mentais sob cuidados em saúde.</p><p>As recomendações foram sistematizadas por temas, conforme demonstrado nos</p><p>quadros a seguir.</p><p>1.1.1. Consentimento informado</p><p>Quadro 19 - Recomendações sobre consentimento informado</p><p>Recomendação Comitê/</p><p>Relatoria</p><p>Documento</p><p>fonte e ano</p><p>Garantir que a prestação de serviços de</p><p>saúde, incluindo serviços de saúde mental,</p><p>seja baseada no consentimento livre e</p><p>informado da pessoa em questão.</p><p>Comitê das</p><p>Pessoas com</p><p>Deficiência</p><p>(CRPD)</p><p>Relatório</p><p>A/72/55 (2017)</p><p>Os Estados Partes têm a obrigação de</p><p>não permitir que tomadores de decisão</p><p>substitutos forneçam consentimento em</p><p>nome de pessoas com deficiência.</p><p>Comitê das</p><p>Pessoas com</p><p>Deficiência</p><p>(CRPD)</p><p>Relatório</p><p>A/72/55 (2017)</p><p>Os regimes de decisão substituída devem</p><p>ser trocados por regimes de decisões</p><p>assistidas, que respeitem a autonomia, a</p><p>vontade e as preferências da pessoa.</p><p>Relator Especial</p><p>da ONU sobre</p><p>Tortura e Outros</p><p>Tratamentos</p><p>Cruéis,</p><p>Desumanos ou</p><p>Degradantes</p><p>Relatório</p><p>temático A/</p><p>HRC/22/53</p><p>(2013)</p><p>Na transmissão de informações, os</p><p>profissionais de saúde devem estar</p><p>cientes e se adaptar às necessidades</p><p>específicas de pessoas lésbicas, gays,</p><p>bissexuais, transgêneros e intersexuais.</p><p>Relator Especial</p><p>da ONU sobre</p><p>Tortura e Outros</p><p>Tratamentos</p><p>Cruéis,</p><p>Desumanos ou</p><p>Degradantes</p><p>Relatório</p><p>temático A/</p><p>HRC/22/53</p><p>(2013)</p><p>145Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>Recomendação Comitê/</p><p>Relatoria</p><p>Documento</p><p>fonte e ano</p><p>Os Estados devem assegurar-se de que a</p><p>informação sobre saúde esteja totalmente</p><p>disponível, aceitável, acessível e de boa</p><p>qualidade; e que seja transmitida e</p><p>compreendida por meio de medidas de</p><p>apoio e proteção, como, por exemplo, uma</p><p>ampla gama de serviços e apoios baseados</p><p>na comunidade, como aconselhamento e</p><p>envolvimento em redes comunitárias.</p><p>Relator Especial</p><p>da ONU sobre</p><p>Tortura e Outros</p><p>Tratamentos</p><p>Cruéis,</p><p>Desumanos ou</p><p>Degradantes</p><p>Relatório</p><p>temático A/</p><p>HRC/22/53</p><p>(2013);</p><p>Fonte: Elaborado pela autora.</p><p>1.1.2. Grupos vulneráveis</p><p>Quadro 20 - Recomendações sobre grupos vulneráveis</p><p>Recomendação Órgão</p><p>recomendante</p><p>Documento</p><p>fonte</p><p>Assegurar a proteção especial de grupos e</p><p>indivíduos minoritários e marginalizados</p><p>como um componente crítico da obrigação de</p><p>prevenir a tortura e os maus-tratos, investindo</p><p>e oferecendo aos indivíduos marginalizados</p><p>uma ampla gama de apoios voluntários</p><p>que lhes permitam exercer sua capacidade</p><p>legal e que respeitem sua autonomia, sua</p><p>vontade e suas preferências individuais.</p><p>Relator Especial</p><p>da ONU sobre</p><p>Tortura e Outros</p><p>Tratamentos</p><p>Cruéis,</p><p>Desumanos ou</p><p>Degradantes</p><p>Relatório</p><p>temático A/</p><p>HRC/22/53</p><p>(2013)</p><p>Os Estados devem revogar qualquer lei</p><p>que permita tratamentos intrusivos e</p><p>irreversíveis, incluindo cirurgia forçada</p><p>de normalização genital, esterilização</p><p>involuntária, experimentação antiética,</p><p>exibição médica, “terapias reparadoras” ou</p><p>“terapias de conversão”, quando aplicadas</p><p>ou administradas sem o consentimento</p><p>livre e informado da pessoa em questão.</p><p>Devem, ainda, proibir a esterilização forçada</p><p>ou coagida em todas as circunstâncias e</p><p>fornecer proteção especial a indivíduos</p><p>pertencentes a grupos marginalizados.</p><p>Relator Especial</p><p>da ONU sobre</p><p>Tortura e Outros</p><p>Tratamentos</p><p>Cruéis,</p><p>Desumanos ou</p><p>Degradantes</p><p>Relatório</p><p>temático A/</p><p>HRC/22/53</p><p>(2013)</p><p>146Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>Recomendação Órgão</p><p>recomendante</p><p>Documento</p><p>fonte</p><p>Integrar os direitos dos idosos com deficiência</p><p>em todas as políticas e programas para idosos</p><p>e pessoas com deficiência. Por exemplo,</p><p>a situação dos idosos com deficiência é</p><p>abordada nos planos de ação nacionais sobre</p><p>deficiência da Alemanha e da Eslovênia. As</p><p>estratégias nacionais e os planos de ação</p><p>sobre envelhecimento e deficiência devem</p><p>se complementar e garantir que as pessoas</p><p>idosas com deficiência, independentemente</p><p>de sua idade ou deficiência, não caiam</p><p>no esquecimento. As pessoas idosas</p><p>com deficiência psicossocial devem ser</p><p>totalmente incluídas nessas políticas e não</p><p>devem ser abandonadas ou abordadas</p><p>apenas por meio de estratégias de saúde</p><p>mental que carecem de uma abordagem</p><p>baseada em direitos para a deficiência e</p><p>que podem violar seus direitos humanos.</p><p>Relator Especial</p><p>sobre os Direitos</p><p>da Pessoa com</p><p>Deficiência</p><p>Relatório</p><p>temático</p><p>A/74/186</p><p>(2019)</p><p>Fonte: Elaborado pela autora.</p><p>1.1.3. Medicação e cuidados paliativos</p><p>Quadro 21 - Recomendações sobre medicação e cuidados paliativos</p><p>Recomendação ao(s) Estado(s) Órgão</p><p>recomendante</p><p>Documento</p><p>fonte</p><p>Adotar uma abordagem baseada em</p><p>direitos humanos para o controle de</p><p>medicamentos como questão prioritária</p><p>para prevenir as contínuas violações de</p><p>direitos decorrentes das abordagens atuais</p><p>de redução da oferta e da demanda.</p><p>Relator Especial</p><p>da ONU sobre</p><p>Tortura e Outros</p><p>Tratamentos</p><p>Cruéis,</p><p>Desumanos ou</p><p>Degradantes</p><p>Relatório</p><p>temático A/</p><p>HRC/22/53</p><p>(2013)</p><p>147Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>Recomendação ao(s) Estado(s) Órgão</p><p>recomendante</p><p>Documento</p><p>fonte</p><p>Assegurar que as leis nacionais de</p><p>controle de medicamentos reconheçam</p><p>a natureza indispensável dos narcóticos</p><p>e psicotrópicos para o alívio da dor e do</p><p>sofrimento, e revisar a legislação nacional</p><p>e os procedimentos administrativos para</p><p>garantir a disponibilidade adequada desses</p><p>medicamentos para usos médicos legítimos.</p><p>Relator Especial</p><p>da ONU sobre</p><p>Tortura e Outros</p><p>Tratamentos</p><p>Cruéis,</p><p>Desumanos ou</p><p>Degradantes</p><p>Relatório</p><p>temático A/</p><p>HRC/22/53</p><p>(2013)</p><p>Garantir medicamentos essenciais –</p><p>que incluem, entre outros, analgésicos</p><p>opioides – como parte de obrigações</p><p>básicas mínimas decorrentes do direito</p><p>à saúde e tomar medidas para proteger</p><p>as pessoas sob sua jurisdição de</p><p>tratamento desumano e degradante.</p><p>Relator Especial</p><p>da ONU sobre</p><p>Tortura e Outros</p><p>Tratamentos</p><p>Cruéis,</p><p>Desumanos ou</p><p>Degradantes</p><p>Relatório</p><p>temático A/</p><p>HRC/22/53</p><p>(2013)</p><p>Garantir o acesso total aos cuidados</p><p>paliativos e superar os atuais obstáculos</p><p>regulatórios, educacionais e atitudinais</p><p>que restringem a disponibilidade de</p><p>medicamentos essenciais para cuidados</p><p>paliativos, especialmente a morfina oral.</p><p>Relator Especial</p><p>da ONU sobre</p><p>Tortura e Outros</p><p>Tratamentos</p><p>Cruéis,</p><p>Desumanos ou</p><p>Degradantes</p><p>Relatório</p><p>temático A/</p><p>HRC/22/53</p><p>(2013)</p><p>Elaborar e implementar políticas que</p><p>promovam a compreensão generalizada</p><p>sobre a utilidade terapêutica de substâncias</p><p>controladas e seu uso racional.</p><p>Relator Especial</p><p>da ONU sobre</p><p>Tortura e Outros</p><p>Tratamentos</p><p>Cruéis,</p><p>Desumanos ou</p><p>Degradantes</p><p>Relatório</p><p>temático A/</p><p>HRC/22/53</p><p>(2013)</p><p>Desenvolver e integrar os cuidados</p><p>paliativos no sistema público de saúde,</p><p>incluindo-os em todos os planos e em</p><p>todas as políticas nacionais de saúde, nos</p><p>currículos e nos programas de treinamento,</p><p>e desenvolvendo os padrões, as diretrizes</p><p>e os protocolos clínicos necessários.</p><p>Relator Especial</p><p>da ONU sobre</p><p>Tortura e Outros</p><p>Tratamentos</p><p>Cruéis,</p><p>Desumanos ou</p><p>Degradantes</p><p>Relatório</p><p>temático A/</p><p>HRC/22/53</p><p>(2013)</p><p>Fonte: Elaborado pela autora.</p><p>148Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>1.1.4. Institucionalização e intervenções forçadas</p><p>Quadro 22 - Recomendações sobre institucionalização e intervenções forçadas</p><p>Recomendação Órgão</p><p>recomendante</p><p>Documento</p><p>fonte</p><p>A proibição absoluta de todas as medidas</p><p>coercitivas e não consensuais, incluindo</p><p>contenção e confinamento solitário de pessoas</p><p>com deficiências psicológicas ou intelectuais,</p><p>deve ser aplicada em todos os locais de</p><p>privação de liberdade, inclusive em instituições</p><p>psiquiátricas e de assistência social.</p><p>Relator Especial</p><p>da ONU</p><p>sobre Tortura</p><p>e Outros</p><p>Tratamentos</p><p>Cruéis,</p><p>Desumanos ou</p><p>Degradantes;</p><p>Comitê das</p><p>Pessoas com</p><p>Deficiência</p><p>(CRPD)</p><p>Relatório</p><p>temático A/</p><p>HRC/22/53</p><p>(2013);</p><p>Comentário</p><p>Geral</p><p>CRPD/C/5</p><p>(2022)</p><p>Os critérios que determinam os fundamentos</p><p>pelos quais o tratamento pode ser</p><p>administrado na ausência de consentimento</p><p>livre e informado devem ser esclarecidos</p><p>na lei, e nenhuma distinção entre pessoas</p><p>com ou sem deficiência deve ser feita.</p><p>Relator Especial</p><p>da ONU</p><p>sobre Tortura</p><p>e Outros</p><p>Tratamentos</p><p>Cruéis,</p><p>Desumanos ou</p><p>Degradantes</p><p>Relatório</p><p>temático A/</p><p>HRC/22/53</p><p>(2013)</p><p>Somente em emergência com risco de</p><p>vida, em que não há desacordo quanto</p><p>à ausência de capacidade legal, pode um</p><p>prestador de cuidados de saúde proceder</p><p>sem consentimento informado para realizar</p><p>um procedimento de salvamento.</p><p>Relator Especial</p><p>da ONU</p><p>sobre Tortura</p><p>e Outros</p><p>Tratamentos</p><p>Cruéis,</p><p>Desumanos ou</p><p>Degradantes</p><p>Relatório</p><p>temático A/</p><p>HRC/22/53</p><p>(2013)</p><p>A legislação que autoriza a institucionalização</p><p>de pessoas com deficiência com base em</p><p>sua deficiência, sem seu consentimento</p><p>livre e informado, deve ser abolida.</p><p>Relator Especial</p><p>da ONU</p><p>sobre Tortura</p><p>e Outros</p><p>Tratamentos</p><p>Cruéis,</p><p>Desumanos ou</p><p>Degradantes</p><p>Relatório</p><p>temático A/</p><p>HRC/22/53</p><p>(2013)</p><p>149Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>Recomendação Órgão</p><p>recomendante</p><p>Documento</p><p>fonte</p><p>Impor a proibição absoluta de todas as</p><p>intervenções médicas forçadas e não</p><p>consensuais contra pessoas com deficiência,</p><p>incluindo a administração não consensual</p><p>de psicocirurgia, eletrochoque e drogas que</p><p>alteram a mente, como neurolépticos, o uso</p><p>de contenção e confinamento solitário, tanto</p><p>para períodos longos como para aplicação de</p><p>curto prazo. A obrigação de acabar com as</p><p>intervenções psiquiátricas forçadas baseadas</p><p>apenas na deficiência é de aplicação imediata</p><p>e a escassez de recursos financeiros não pode</p><p>justificar o adiamento da sua implementação.</p><p>Relator Especial</p><p>da ONU</p><p>sobre Tortura</p><p>e Outros</p><p>Tratamentos</p><p>Cruéis,</p><p>Desumanos ou</p><p>Degradantes</p><p>Relatório</p><p>temático A/</p><p>HRC/22/53</p><p>(2013)</p><p>Substituir tratamento forçado por serviços</p><p>na comunidade. Esses serviços devem</p><p>atender às necessidades expressas por</p><p>pessoas com deficiência e respeitar a</p><p>autonomia, as escolhas, a dignidade e</p><p>a privacidade da pessoa em questão,</p><p>com ênfase em alternativas ao modelo</p><p>biomédico de saúde mental, incluindo</p><p>apoio de pares, conscientização e</p><p>treinamento em saúde mental.</p><p>Relator Especial</p><p>da ONU</p><p>sobre Tortura</p><p>e Outros</p><p>Tratamentos</p><p>Cruéis,</p><p>Desumanos ou</p><p>Degradantes</p><p>Relatório</p><p>temático A/</p><p>HRC/22/53</p><p>(2013)</p><p>Revisar e abolir as disposições</p><p>legais que permitem:</p><p>A detenção por motivos de saúde mental ou</p><p>em estabelecimentos de saúde mental; e</p><p>Quaisquer intervenções ou tratamentos</p><p>coercivos no ambiente de saúde</p><p>mental sem o consentimento livre e</p><p>informado da pessoa em questão.</p><p>Relator Especial</p><p>da ONU</p><p>sobre Tortura</p><p>e Outros</p><p>Tratamentos</p><p>Cruéis,</p><p>Desumanos ou</p><p>Degradantes;</p><p>Comitê das</p><p>Pessoas com</p><p>Deficiência</p><p>(CRPD); CRPD</p><p>; CRPD</p><p>Relatório</p><p>temático A/</p><p>HRC/22/53</p><p>(2013);</p><p>Comentário</p><p>Geral CRPD/C/</p><p>GC/1 (2014);</p><p>Comentário</p><p>Geral CRPD/C/</p><p>GC/6 (2018);</p><p>Relatório</p><p>A/72/55 (2017)</p><p>150Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>Recomendação Órgão</p><p>recomendante</p><p>Documento</p><p>fonte</p><p>Fechar sem demora os centros de</p><p>detenção compulsória e de “reabilitação”</p><p>de drogas e implementar serviços sociais</p><p>e de saúde voluntários, baseados em</p><p>evidências e direitos na comunidade.</p><p>Relator Especial</p><p>da ONU</p><p>sobre Tortura</p><p>e Outros</p><p>Tratamentos</p><p>Cruéis,</p><p>Desumanos ou</p><p>Degradantes</p><p>Relatório</p><p>temático A/</p><p>HRC/22/53</p><p>(2013)</p><p>Usuários de drogas ilícitas detidos em</p><p>centros de reabilitação compulsórios,</p><p>geralmente administrados por militares</p><p>ou paramilitares, forças policiais ou de</p><p>segurança, ou por empresas privadas, sofrem</p><p>uma dolorosa retirada da dependência de</p><p>drogas sem assistência médica, ou sofrem</p><p>abuso físico ou sexual. Os Estados devem</p><p>fechar esses centros e implementar serviços</p><p>sociais e de saúde na comunidade.</p><p>Relator Especial</p><p>da ONU</p><p>sobre Tortura</p><p>e Outros</p><p>Tratamentos</p><p>Cruéis,</p><p>Desumanos ou</p><p>Degradantes</p><p>Nota “Maus</p><p>tratos em</p><p>ambientes de</p><p>saúde: quando</p><p>um cuidador</p><p>se torna um</p><p>torturador”,</p><p>(2013)</p><p>A reforma da legislação sobre capacidade</p><p>jurídica deve ser realizada de forma imediata e</p><p>em simultâneo com a desinstitucionalização.</p><p>Comitê das</p><p>Pessoas com</p><p>Deficiência</p><p>(CRPD)</p><p>Comentário</p><p>Geral</p><p>CRPD/C/5</p><p>(2022)</p><p>Iniciar reformas sociais e sistemas</p><p>alternativos de apoio comunitário</p><p>em paralelo com o processo em</p><p>andamento de desinstitucionalização</p><p>de pessoas com deficiência.</p><p>Comitê contra</p><p>a Tortura (CAT);</p><p>Relator Especial</p><p>dos Direitos</p><p>das Pessoas</p><p>com Deficiência</p><p>da ONU</p><p>Relatório</p><p>A/64/44</p><p>(2009);</p><p>Relatório</p><p>temático A/</p><p>HRC/40/54</p><p>Fornecer imediatamente aos indivíduos</p><p>oportunidades de deixar as instituições,</p><p>revogar qualquer detenção autorizada por</p><p>disposições legislativas que não estejam</p><p>em conformidade com o artigo 14 da</p><p>Convenção, seja sob leis de saúde mental</p><p>ou de outra forma, e proibir a detenção</p><p>involuntária com base na deficiência.</p><p>Comitê das</p><p>Pessoas com</p><p>Deficiência</p><p>(CRPD)</p><p>Comentário</p><p>Geral</p><p>CRPD/C/5</p><p>(2022)</p><p>151Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>Recomendação Órgão</p><p>recomendante</p><p>Documento</p><p>fonte</p><p>O exercício da tomada de decisão</p><p>pelas pessoas com deficiência que se</p><p>encontram atualmente institucionalizadas</p><p>deve ser respeitado no processo</p><p>de desinstitucionalização.</p><p>Comitê das</p><p>Pessoas com</p><p>Deficiência</p><p>(CRPD)</p><p>Comentário</p><p>Geral</p><p>CRPD/C/5</p><p>(2022)</p><p>Suspender imediatamente novas colocações</p><p>em instituições, adotar moratórias sobre</p><p>novas admissões e sobre a construção</p><p>de novas instituições e alas, e abster-se</p><p>de reformar instituições existentes.</p><p>Comitê das</p><p>Pessoas com</p><p>Deficiência</p><p>(CRPD)</p><p>Comentário</p><p>Geral</p><p>CRPD/C/5</p><p>(2022)</p><p>As pessoas que deixam as instituições</p><p>requerem uma ampla gama de possibilidades</p><p>para a vida diária, experiências de vida</p><p>e oportunidades para prosperar na</p><p>comunidade. Os Estados partes devem</p><p>cumprir suas obrigações gerais de defender</p><p>os direitos dessas pessoas, em igualdade</p><p>de condições com os demais, no que diz</p><p>respeito à acessibilidade, à mobilidade</p><p>pessoal, à privacidade, à integridade física</p><p>e mental, à capacidade legal, à liberdade, à</p><p>isenção de violência, abuso e exploração,</p><p>tortura e outros maus-tratos, à educação,</p><p>à participação na vida cultural e recreação</p><p>e à participação na vida política.</p><p>Comitê das</p><p>Pessoas com</p><p>Deficiência</p><p>(CRPD)</p><p>Comentário</p><p>Geral</p><p>CRPD/C/5</p><p>(2022)</p><p>Fonte: Elaborado pela autora</p><p>152Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>1.1.5. Capacidade</p><p>Quadro 23 - Recomendações sobre capacidade</p><p>Recomendação ao(s) Estado(s) Órgão</p><p>recomendante</p><p>Documento</p><p>fonte</p><p>Deficiências reais ou percebidas na capacidade</p><p>mental não devem ser usadas como</p><p>justificativa para negar a capacidade legal.</p><p>Comitê das</p><p>Pessoas com</p><p>Deficiência</p><p>(CRPD)</p><p>Comentário</p><p>Geral CRPD/C/</p><p>GC/1 (2014)</p><p>O apoio ao exercício da capacidade</p><p>legal deve continuar, se necessário,</p><p>depois que as pessoas com deficiência</p><p>se estabelecerem na comunidade.</p><p>Comitê das</p><p>Pessoas com</p><p>Deficiência</p><p>(CRPD)</p><p>Comentário</p><p>Geral</p><p>CRPD/C/5</p><p>(2022)</p><p>Fonte: Elaborado pela autora</p><p>1.1.6. Legislação</p><p>Quadro 24 - Recomendações sobre legislação</p><p>Recomendação ao(s) Estado(s) Órgão</p><p>recomendante</p><p>Documento</p><p>fonte</p><p>A legislação de saúde mental, desde que</p><p>autorize e regule a privação involuntária</p><p>da liberdade e o tratamento forçado de</p><p>pessoas com base em uma deficiência</p><p>real ou percebida (ou seja, diagnóstico de</p><p>“condição de saúde mental” ou “distúrbio</p><p>mental”), deve ser abolida. Para tanto, os</p><p>Estados devem iniciar um processo de revisão</p><p>legal abrangente, que abarque diferentes</p><p>áreas do direito, com a participação</p><p>ativa das pessoas com deficiência e de</p><p>suas organizações representativas.</p><p>Relator Especial</p><p>dos Direitos das</p><p>Pessoas com</p><p>Deficiência da</p><p>ONU; Comitê</p><p>das Pessoas</p><p>com Deficiência</p><p>(CRPD)</p><p>Relatório</p><p>temático A/</p><p>HRC/40/54</p><p>(2019); Relatório</p><p>temático A/</p><p>HRC/37/56</p><p>(2018);</p><p>Comentário</p><p>Geral CRPD/C/5</p><p>(2022); Relatório</p><p>A/72/55 (2017)</p><p>153Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>Recomendação ao(s) Estado(s) Órgão</p><p>recomendante</p><p>Documento</p><p>fonte</p><p>Promover a responsabilização por tortura</p><p>e maus-tratos em ambientes de saúde,</p><p>identificando leis, políticas e práticas</p><p>que levam ao abuso; e permitir que os</p><p>mecanismos preventivos nacionais realizem</p><p>monitoramento sistemático, recebam</p><p>reclamações e iniciem ações judiciais.</p><p>Relator Especial</p><p>da ONU</p><p>sobre Tortura</p><p>e Outros</p><p>Tratamentos</p><p>Cruéis,</p><p>Desumanos ou</p><p>Degradantes</p><p>Relatório</p><p>temático A/</p><p>HRC/22/53</p><p>(2013)</p><p>Proteger o consentimento livre e informado</p><p>de forma igualitária para todos os indivíduos,</p><p>sem exceção, por meio de estrutura legal e</p><p>de mecanismos judiciais e administrativos,</p><p>inclusive por meio de políticas e práticas de</p><p>proteção contra abusos. Adotar políticas e</p><p>protocolos que defendam a autonomia, a</p><p>autodeterminação e a dignidade humana.</p><p>Relator Especial</p><p>da ONU</p><p>sobre Tortura</p><p>e Outros</p><p>Tratamentos</p><p>Cruéis,</p><p>Desumanos ou</p><p>Degradantes</p><p>Relatório</p><p>temático A/</p><p>HRC/22/53</p><p>(2013)</p><p>Garantir que a legislação anti-discriminação</p><p>se estenda às esferas pública e privada,</p><p>abranja áreas como educação, emprego, bens</p><p>e serviços e aborde a institucionalização.</p><p>Comitê das</p><p>Pessoas com</p><p>Deficiência</p><p>(CRPD)</p><p>Comentário</p><p>Geral CRPD/C/</p><p>GC/6 (2018)</p><p>A legislação de saúde mental, tal como</p><p>existe hoje, deve ser revogada, pois cria</p><p>um regime jurídico separado para pessoas</p><p>com deficiência psicossocial, contrário às</p><p>obrigações dos Estados sob a Convenção.</p><p>Relator Especial</p><p>dos Direitos</p><p>das Pessoas</p><p>com Deficiência</p><p>da ONU</p><p>Relatório</p><p>temático A/</p><p>HRC/37/56</p><p>(2018)</p><p>A regulamentação da prática de serviços</p><p>de saúde mental deve centrar-se na</p><p>aceitabilidade e qualidade, enquanto os</p><p>direitos e liberdades das pessoas com</p><p>deficiência psicossocial devem ser iguais</p><p>aos de outras pessoas em todas as áreas</p><p>do direito, incluindo capacidade legal</p><p>e liberdade e segurança da pessoa.</p><p>Relator Especial</p><p>dos Direitos</p><p>das Pessoas</p><p>com Deficiência</p><p>da ONU</p><p>Relatório</p><p>temático A/</p><p>HRC/37/56</p><p>(2018)</p><p>Os Estados partes devem examinar de</p><p>forma holística todas as áreas do direito,</p><p>para garantir que o direito das pessoas</p><p>com deficiência à capacidade legal não</p><p>seja restringido de forma desigual.</p><p>Comitê das</p><p>Pessoas com</p><p>Deficiência</p><p>(CRPD)</p><p>Comentário</p><p>Geral CRPD/C/</p><p>GC/1 (2014)</p><p>Fonte: Elaborado pela autora</p><p>154Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>1.1.7. Capacitação de profissionais</p><p>Quadro 25 - Recomendações sobre capacitação de profissionais</p><p>Recomendação ao(s) Estado(s) Órgão</p><p>recomendante</p><p>Documento</p><p>fonte</p><p>Fornecer educação e informações</p><p>adequadas sobre direitos humanos aos</p><p>profissionais de saúde sobre a proibição</p><p>de tortura e maus-tratos e a existência,</p><p>extensão, gravidade e consequências</p><p>de várias situações que equivalem</p><p>a tortura e tratamento ou punição</p><p>cruel, desumana ou degradante</p><p>Relator Especial</p><p>da ONU sobre</p><p>Tortura e Outros</p><p>Tratamentos</p><p>Crueis, Desumanos</p><p>ou Degradantes;</p><p>Relator Especial</p><p>sobre os Direitos</p><p>da Pessoa com</p><p>Deficiência</p><p>Relatório</p><p>temático A/</p><p>HRC/22/53</p><p>(2013);</p><p>Relatório</p><p>temático</p><p>A/73/161</p><p>(2018)</p><p>Promover uma cultura de respeito à</p><p>integridade e à dignidade humana, o</p><p>respeito à diversidade e a eliminação de</p><p>atitudes de patologização e homofobia.</p><p>Relator Especial</p><p>da ONU sobre</p><p>Tortura e Outros</p><p>Tratamentos</p><p>Cruéis, Desumanos</p><p>ou Degradantes;</p><p>Relator Especial</p><p>sobre os Direitos</p><p>da Pessoa com</p><p>Deficiência</p><p>Relatório</p><p>temático A/</p><p>HRC/22/53</p><p>(2013);</p><p>Relatório</p><p>temático</p><p>A/73/161</p><p>(2018)</p><p>Capacitar profissionais de saúde,</p><p>juízes, promotores e policiais</p><p>sobre as normas relativas ao</p><p>consentimento livre e informado.</p><p>Relator Especial</p><p>da ONU sobre</p><p>Tortura e Outros</p><p>Tratamentos</p><p>Cruéis, Desumanos</p><p>ou Degradantes;</p><p>Relator Especial</p><p>sobre os Direitos</p><p>da Pessoa com</p><p>Deficiência</p><p>Relatório</p><p>temático A/</p><p>HRC/22/53</p><p>(2013);</p><p>Relatório</p><p>temático</p><p>A/73/161</p><p>(2018)</p><p>Fortalecer a formação profissional</p><p>tanto em instituições de proteção social</p><p>para pessoas com deficiência mental</p><p>como em hospitais psiquiátricos.</p><p>Comitê contra a</p><p>Tortura (CAT)</p><p>Relatório</p><p>A/64/44 (2009)</p><p>Fonte: Elaborado pela autora.</p><p>155Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>1.1.8. Controle e monitoramento</p><p>Quadro 26 - Recomendações sobre controle e monitoramento</p><p>Recomendação ao(s) Estado(s) Órgão</p><p>recomendante</p><p>Documento</p><p>fonte</p><p>As organizações não governamentais e</p><p>outros órgãos de monitoramento também</p><p>devem ter acesso a instituições estatais não</p><p>penais que cuidam de idosos, pessoas com</p><p>transtornos mentais e órfãos, bem como</p><p>centros de detenção para estrangeiros,</p><p>incluindo requerentes de asilo e migrantes.</p><p>Relator Especial</p><p>da ONU</p><p>sobre Tortura</p><p>e Outros</p><p>Tratamentos</p><p>Cruéis,</p><p>Desumanos ou</p><p>Degradantes</p><p>Recomendação</p><p>Geral nº 2</p><p>(2011)</p><p>Investigar denúncias de tortura</p><p>ou tratamento ou punição cruel,</p><p>desumana ou degradante de pessoas</p><p>com deficiência em instituições.</p><p>Comitê contra</p><p>a Tortura (CAT)</p><p>Relatório</p><p>A/64/44 (2009)</p><p>Os dados coletados pelos Estados Partes</p><p>devem ser desagregados de acordo com raça,</p><p>origem étnica, idade, gênero, sexo, orientação</p><p>sexual, situação socioeconômica, tipo de</p><p>deficiência, motivo da institucionalização,</p><p>data de admissão, data prevista ou real de</p><p>liberação e outros atributos. Isso inclui a</p><p>coleta de registros confiáveis, acessíveis</p><p>e atualizados dos números e dados</p><p>demográficos de pessoas em ambientes</p><p>psiquiátricos ou de saúde mental, registros</p><p>sobre se o dever de permitir que pessoas</p><p>com deficiência deixem as instituições</p><p>foi cumprido, registros do número de</p><p>pessoas que já exerceram a opção de</p><p>desligamento, e outras informações</p><p>referentes ao planejamento para os que</p><p>ainda não saíram das instituições.</p><p>Comitê das</p><p>Pessoas com</p><p>Deficiência</p><p>(CRPD)</p><p>Comentário</p><p>Geral CRPD/C/5</p><p>(2022)</p><p>156Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>Recomendação ao(s) Estado(s) Órgão</p><p>recomendante</p><p>Documento</p><p>fonte</p><p>Garantir que todas as pessoas com</p><p>deficiência que sofreram qualquer forma</p><p>de exploração, violência ou abuso no</p><p>contexto de regimes de tomada de decisão</p><p>substituídos ou apoiados, incluindo</p><p>detenção arbitrária ou violações da</p><p>integridade pessoal, de acordo com a</p><p>legislação de saúde mental, tenham acesso</p><p>à justiça e a remédios eficazes. Esses</p><p>recursos devem incluir compensação e</p><p>reparações adequadas, inclusive restituição,</p><p>compensação, satisfação e garantias de</p><p>não repetição, conforme apropriado.</p><p>Relator Especial</p><p>dos Direitos</p><p>das Pessoas</p><p>com Deficiência</p><p>da ONU</p><p>Relatório</p><p>temático A/</p><p>HRC/37/56</p><p>(2018)</p><p>Instituições nacionais de direitos humanos</p><p>e mecanismos independentes para a</p><p>promoção, a proteção e o monitoramento</p><p>da implementação da Convenção devem</p><p>ser mandatados para realizar inquéritos e</p><p>investigações em relação ao gozo do direito à</p><p>capacidade legal de pessoas com deficiência</p><p>e para prestar assistência a pessoas com</p><p>deficiência no acesso a recursos legais.</p><p>Relator Especial</p><p>dos Direitos</p><p>das Pessoas</p><p>com Deficiência</p><p>da ONU</p><p>Relatório</p><p>temático A/</p><p>HRC/37/56</p><p>(2018)</p><p>Fonte: Elaborado pela autora.</p><p>1.1.9. Outras recomendações</p><p>O CRPD recomenda, por meio do Comentário Geral CRPD/C/5 (2022), que haja uma</p><p>coordenação internacional de esforços para apoiar a desinstitucionalização, já que</p><p>essa cooperação é importante para evitar a replicação de más práticas, como a</p><p>promoção do modelo biomédico de deficiência e leis coercitivas de saúde mental.</p><p>Nesse sentido, o Comitê insta os Estados a estabelecerem uma plataforma</p><p>internacional para boas práticas de desinstitucionalização, em estreita consulta a</p><p>pessoas com deficiência, especialmente sobreviventes de institucionalização e suas</p><p>organizações representativas.</p><p>Sendo assim, podemos observar que os órgãos de monitoramento de direitos</p><p>humanos da ONU – em particular os que monitoram os direitos a não ser torturado</p><p>ou submetido a tratamento cruel, desumano ou degradante, e os direitos das</p><p>pessoas com deficiência – recomendam padrões internacionais de direitos humanos</p><p>que devem ser adotados pelos Estados nos cuidados em saúde a pessoas com</p><p>transtornos mentais.</p><p>157Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>A adoção desses padrões beneficia não somente as pessoas sob cuidados em</p><p>saúde, mas também seus familiares, os profissionais da saúde e o próprio Estado,</p><p>na medida em que promove uma cultura de direitos humanos.</p><p>1.2. Relatórios e decisões do Sistema</p><p>Interamericano de Direitos Humanos</p><p>Nos casos julgados pelo Sistema Interamericano de Direitos Humanos, podemos</p><p>encontrar importantes determinações relacionadas aos cuidados em saúde de</p><p>pessoas com transtorno mental.</p><p>As tabelas a seguir apresentam as disposições de sentenças da Corte Interamericana</p><p>de Direitos Humanos (Corte IDH) relacionadas ao tratamento de pessoas com</p><p>transtornos mentais, relativas aos seguintes casos:</p><p>• Ximenes Lopes vs. Brasil (2006)</p><p>• Dacosta Cardogan vs. Barbados (2009)</p><p>• Furlan e Familiares vs. Argentina (2012)</p><p>• Guachalá Chimbo e Outros vs. Ecuador (2021)</p><p>• Guevara Dias vs. Costa Rica (2022)</p><p>1.2.1. Informação</p><p>Quadro 27 - Informação</p><p>Disposição da sentença Caso da Corte IDH</p><p>O Estado deve assegurar que todas as pessoas acusadas</p><p>de um crime, punível com a pena de morte obrigatória,</p><p>sejam devidamente informadas, no início do processo</p><p>penal contra elas, do seu direito a obter uma avaliação</p><p>psiquiátrica por um psiquiatra contratado pelo Estado</p><p>(de acordo com o parágrafo 105 da Sentença).</p><p>Dacosta Cardogan</p><p>vs. Barbados (2009)</p><p>O Estado deve adotar as medidas necessárias para</p><p>que, quando uma pessoa for diagnosticada com</p><p>problemas graves ou sequelas relacionadas à sua</p><p>deficiência, seja entregue à pessoa ou seu grupo</p><p>familiar uma declaração de direitos que resuma</p><p>de forma sintética, clara e acessível os benefícios</p><p>contemplados pela regulamentação argentina, (conforme</p><p>o disposto nos parágrafos 294 e 295 da Sentença).</p><p>Furlan e Familiares</p><p>vs. Argentina (2012)</p><p>158Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>Disposição da sentença Caso da Corte IDH</p><p>O Estado elaborará uma publicação ou brochura que</p><p>desenvolva de forma sintética, clara, acessível e de</p><p>fácil leitura os direitos das pessoas com deficiência na</p><p>prestação de cuidados em saúde na qual deverá ser</p><p>feita menção específica à assistência prévia, gratuita e</p><p>integral informados e a obrigação de prestar o apoio</p><p>necessário às pessoas com deficiência (de acordo</p><p>com o disposto no parágrafo 251 da Sentença).</p><p>Guachalá Chimbo</p><p>e Outros vs.</p><p>Ecuador (2021)</p><p>O Estado realizará um vídeo informativo sobre os direitos</p><p>das pessoas com deficiência ao receber cuidados de</p><p>saúde, bem como as obrigações dos profissionais de</p><p>saúde na atenção às pessoas com deficiência, no qual</p><p>deve ser feita menção específica ao consentimento</p><p>prévio, gratuito, pleno e informado e à obrigação de</p><p>prestar o apoio necessário às pessoas com deficiência (de</p><p>acordo com o disposto no parágrafo 251 da Sentença).</p><p>Guachalá Chimbo</p><p>e Outros vs.</p><p>Ecuador (2021)</p><p>Fonte: Elaborado pela autora.</p><p>1.2.2. Cuidados em saúde</p><p>Quadro 28 - Atenção e assistência médica/psicológica</p><p>Disposição da sentença Caso da Corte IDH</p><p>O Estado deve prestar cuidado em saúde, incluindo</p><p>o cuidado psicológico ou psiquiátrico gratuito de</p><p>forma imediata, adequada e eficaz, por meio de</p><p>suas instituições especializadas de saúde pública, às</p><p>vítimas que o solicitarem (em conformidade com o</p><p>disposto nos parágrafos 282 e 284 da Sentença).</p><p>Furlan e Familiares</p><p>vs. Argentina (2012)</p><p>O Estado deve formar um grupo interdisciplinar que,</p><p>levando em consideração a opinião de Sebastián</p><p>Furlan (vítima), determinará as medidas de proteção e</p><p>assistência mais adequadas para sua inclusão social,</p><p>educacional, profissional e laboral (de acordo com o</p><p>disposto nos parágrafos 285 e 288 da Sentença).</p><p>Furlan e Familiares</p><p>vs. Argentina (2012)</p><p>O Estado regulará a obrigação internacional de prestar</p><p>apoio às pessoas com deficiência para que possam</p><p>dar seu consentimento informado ao tratamento de</p><p>saúde (nos termos do parágrafo 245 da Sentença).</p><p>Guachalá Chimbo</p><p>e Outros vs.</p><p>Ecuador (2021)</p><p>Fonte: Elaborado pela autora.</p><p>159Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>1.2.3. Capacitação de profissionais</p><p>Quadro 29 - Capacitação de profissionais</p><p>Disposição da sentença Caso da Corte IDH</p><p>O Estado elaborará e implementará um curso de</p><p>capacitação sobre consentimento informado e obrigação</p><p>de apoio às pessoas com deficiência para o pessoal médico</p><p>e de saúde do Hospital Júlio Endara (em conformidade</p><p>com o disposto no parágrafo 250 da Sentença).</p><p>Guachalá Chimbo</p><p>e Outros vs.</p><p>Ecuador (2021)</p><p>O Estado deve continuar a desenvolver um programa</p><p>de educação e formação para médicos, psiquiatras,</p><p>psicólogos, enfermeiros, auxiliares de enfermagem e</p><p>todas as pessoas ligadas à saúde mental, em particular,</p><p>sobre os princípios que devem reger o tratamento de</p><p>pessoas com deficiência mental, de acordo com as normas</p><p>internacionais sobre a matéria e as estabelecidas na</p><p>Sentença do caso (nos termos do parágrafo 250 da mesma).</p><p>Ximenes Lopes</p><p>vs. Brasil (2006)</p><p>Fonte: Elaborado pela autora</p><p>1.2.4 Medidas de regulamentação</p><p>Quadro 30 - Medidas de regulamentação</p><p>Disposição da sentença Caso da Corte IDH</p><p>O Estado elaborará um protocolo de atuação em</p><p>casos de desaparecimento de pessoas internadas</p><p>em centros públicos de saúde (de acordo com</p><p>o disposto no parágrafo 253 da Sentença).</p><p>Guachalá Chimbo</p><p>e Outros vs.</p><p>Ecuador (2021)</p><p>O Estado deve estabelecer expressamente a obrigação</p><p>de prestar apoio às pessoas com deficiência, a fim</p><p>de garantir o direito à saúde sem discriminação.</p><p>Guevara Dias vs.</p><p>Costa Rica (2022)</p><p>Fonte: Elaborado pela autora.</p><p>Assim, verificamos que a Corte IDH emitiu diversas disposições sobre</p><p>os cuidados</p><p>em saúde a pessoas acometidas de transtornos mentais, e que as disposições são</p><p>compatíveis, em seu conteúdo, com as recomendações propostas pela ONU sobre a</p><p>matéria. Nesse sentido, é interessante observar as disposições do Sistema Europeu</p><p>de Direitos Humanos sobre o assunto.</p><p>160Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>1.3. Relatórios e decisões do Sistema Europeu de</p><p>Direitos Humanos</p><p>Assim como os Sistemas ONU e Interamericano de Direitos Humanos, o Sistema</p><p>Europeu apresenta uma série de determinações que estabelecem os padrões</p><p>internacionais de tratamento das pessoas com transtornos mentais sob cuidados</p><p>em saúde.</p><p>Devido à grande quantidade de casos envolvendo cuidados em saúde a pessoas</p><p>com transtorno mental, foram selecionados aqueles em que o órgão julgador</p><p>emitia determinação geral, direcionada a todos os Estados, e não só ao Estado sob</p><p>julgamento. Assim, os casos selecionados foram:</p><p>• Sy vs. Itália (2022)</p><p>• Blokhin vs. Rússia (2016)</p><p>• Murray vs. Holanda (2016)</p><p>• Claes vs. Bélgica (2013)</p><p>• Ţicu vs. Romênia (2013)</p><p>• DD vs. Lituânia (2012)</p><p>• Stanev vs. Bulgária (2012)</p><p>• Shtukaturov vs. Rússia (2008)</p><p>• Rivière vs. França (2006)</p><p>As determinações foram divididas por temas, para facilitar a compreensão.</p><p>161Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>1.3.1. Direito à liberdade e à segurança (artigo 5º da Convenção)</p><p>Quadro 31 - Direito à liberdade e à segurança</p><p>Caso Resumo do caso Determinação</p><p>aos Estados</p><p>Documento</p><p>fonte</p><p>Shtukaturov</p><p>vs. Rússia</p><p>(2008)</p><p>O requerente tem um</p><p>histórico de doença mental</p><p>e foi declarado oficialmente</p><p>inválido em 2003.</p><p>Após um pedido apresentado</p><p>por sua mãe, os tribunais</p><p>russos o declararam</p><p>legalmente incapaz em</p><p>dezembro de 2004. Sua</p><p>mãe foi posteriormente</p><p>nomeada sua tutora e, em</p><p>novembro de 2005, ela o</p><p>internou em um hospital</p><p>psiquiátrico. O recorrente</p><p>alegou, em particular, que</p><p>tinha sido privado da sua</p><p>capacidade jurídica sem</p><p>o seu conhecimento.</p><p>Nos casos de</p><p>internação</p><p>compulsória, o</p><p>doente mental</p><p>deve ser ouvido</p><p>pessoalmente ou, se</p><p>for o caso, através</p><p>de qualquer forma</p><p>de representação.</p><p>Factsheet</p><p>Pessoas</p><p>com</p><p>Deficiência</p><p>e a</p><p>Convenção</p><p>Europeia</p><p>dos Direitos</p><p>Humanos</p><p>(2022)</p><p>162Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>Caso Resumo do caso Determinação</p><p>aos Estados</p><p>Documento</p><p>fonte</p><p>Stanev vs.</p><p>Bulgária</p><p>(2012)</p><p>Colocado sob tutela parcial</p><p>contra a sua vontade e</p><p>internado em um lar de</p><p>assistência social para</p><p>pessoas com transtornos</p><p>mentais, o requerente</p><p>queixou-se, nomeadamente,</p><p>de não poder recorrer a</p><p>um tribunal para obter a</p><p>libertação da tutela parcial.</p><p>A Grande Secção</p><p>observou que há</p><p>agora uma tendência</p><p>em nível europeu</p><p>no sentido de</p><p>conceder às pessoas</p><p>legalmente incapazes</p><p>acesso direto aos</p><p>tribunais para buscar</p><p>a restauração de</p><p>sua capacidade.</p><p>Instrumentos</p><p>internacionais</p><p>para a proteção</p><p>de pessoas com</p><p>transtornos mentais</p><p>também atribuem</p><p>importância</p><p>crescente a</p><p>conceder-lhes</p><p>o máximo de</p><p>autonomia jurídica</p><p>possível.</p><p>O artigo 6º, § 1º, da</p><p>Convenção deve</p><p>ser interpretado no</p><p>sentido de garantir,</p><p>em princípio, que</p><p>qualquer pessoa que</p><p>tenha sido declarada</p><p>parcialmente</p><p>incapaz, como foi o</p><p>caso do requerente,</p><p>tenha acesso direto</p><p>a um tribunal</p><p>para buscar a</p><p>restauração de sua</p><p>capacidade jurídica.</p><p>Factsheet</p><p>Pessoas</p><p>com</p><p>Deficiência</p><p>e a</p><p>Convenção</p><p>Europeia</p><p>dos Direitos</p><p>Humanos</p><p>(2022)</p><p>163Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>Caso Resumo do caso Determinação</p><p>aos Estados</p><p>Documento</p><p>fonte</p><p>Blokhin</p><p>vs. Rússia</p><p>(2016)</p><p>Este caso dizia respeito à</p><p>detenção, por 30 dias, de</p><p>um menino de 12 anos, que</p><p>sofria de transtorno mental</p><p>e neurocomportamental,</p><p>em um centro de detenção</p><p>temporária para menores</p><p>infratores. O demandante</p><p>sustentou, em particular,</p><p>que o processo contra ele</p><p>havia sido injusto, porque</p><p>ele teria sido interrogado</p><p>pela polícia na ausência de</p><p>seu tutor, de um advogado</p><p>ou de um professor.</p><p>Neste julgamento,</p><p>a Grande Câmara</p><p>sublinhou em</p><p>particular que</p><p>era essencial que</p><p>salvaguardas</p><p>processuais</p><p>adequadas</p><p>estivessem em vigor</p><p>para proteger o</p><p>melhor interesse e</p><p>bem-estar de uma</p><p>criança quando</p><p>sua liberdade</p><p>estava em jogo.</p><p>Além disso, crianças</p><p>com deficiência</p><p>podem exigir</p><p>salvaguardas</p><p>adicionais para</p><p>garantir que estejam</p><p>suficientemente</p><p>protegidas.</p><p>Factsheet</p><p>Pessoas</p><p>com</p><p>Deficiência</p><p>e a</p><p>Convenção</p><p>Europeia</p><p>dos Direitos</p><p>Humanos</p><p>(2022)</p><p>Fonte: Elaborado pela autora.</p><p>164Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>1.3.2. Direito a um julgamento justo (Artigo 6º da Convenção</p><p>Europeia de Direitos Humanos)</p><p>Quadro 32 - Direito a um julgamento justo</p><p>Caso Resumo do caso Determinação</p><p>aos Estados Documento fonte</p><p>DD vs.</p><p>Lituânia</p><p>(2012)</p><p>Sofrendo de</p><p>esquizofrenia, a</p><p>requerente foi</p><p>legalmente incapacitada</p><p>em 2000.</p><p>Seu pai adotivo foi</p><p>posteriormente</p><p>nomeado seu tutor</p><p>legal e, a pedido deste,</p><p>ela foi internada em</p><p>junho de 2004.</p><p>Em seguida, ela foi</p><p>colocada em uma</p><p>casa de repouso, onde</p><p>permaneceu até 2012.</p><p>A recorrente queixou-</p><p>se, nomeadamente,</p><p>de ter sido internada</p><p>neste lar sem o seu</p><p>consentimento e</p><p>sem possibilidade</p><p>de revisão judicial.</p><p>Quando uma</p><p>pessoa capaz de</p><p>se manifestar,</p><p>apesar de privada</p><p>de capacidade</p><p>jurídica, também</p><p>for privada de</p><p>liberdade a pedido</p><p>de seu tutor, deve</p><p>ser concedida a</p><p>ela a oportunidade</p><p>de contestar essa</p><p>detenção perante</p><p>um tribunal com</p><p>representação</p><p>legal separada.</p><p>Factsheet Pessoas</p><p>com Deficiência</p><p>e a Convenção</p><p>Europeia dos</p><p>Direitos Humanos</p><p>(2022)</p><p>Fonte: Elaborado pela autora.</p><p>165Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>1.3.3. Saúde mental e detenção</p><p>Quadro 33 - Saúde mental e detenção</p><p>Caso Resumo do caso Determinação</p><p>aos Estados</p><p>Documento</p><p>fonte</p><p>Claes vs.</p><p>Bélgica</p><p>(2013)</p><p>Este caso diz respeito</p><p>ao confinamento de um</p><p>agressor sexual com</p><p>doença mental, que</p><p>havia sido considerado</p><p>não responsável</p><p>criminalmente, na ala</p><p>psiquiátrica de uma prisão</p><p>comum, sem cuidados de</p><p>saúde apropriados, por</p><p>mais de quinze anos.</p><p>Neste acórdão, o Tribunal</p><p>sublinhou que a situação</p><p>do requerente resultava,</p><p>na realidade, de um</p><p>problema estrutural: por</p><p>um lado, o apoio prestado</p><p>às pessoas detidas nas alas</p><p>psiquiátricas prisionais era</p><p>insuficiente e, por outro</p><p>lado, a sua colocação em</p><p>instalações fora da prisão</p><p>revelou-se muitas vezes</p><p>impossível, quer devido</p><p>à escassez de vagas em</p><p>hospitais psiquiátricos,</p><p>ou porque a legislação</p><p>pertinente não permite</p><p>que as autoridades de</p><p>saúde mental ordenem</p><p>sua internação em</p><p>unidades externas.</p><p>Factsheet</p><p>Saúde</p><p>Mental e</p><p>Detenção</p><p>(2022)</p><p>166Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>Caso Resumo do caso Determinação</p><p>aos Estados</p><p>Documento</p><p>fonte</p><p>Ţicu vs.</p><p>Romênia</p><p>(2013)</p><p>O requerente estava</p><p>cumprindo uma</p><p>sentença de vinte</p><p>anos por participação</p><p>em assalto à mão</p><p>armada que ocasionou</p><p>a morte da vítima.</p><p>Na infância, ele sofreu de</p><p>uma doença que levou</p><p>a atrasos consideráveis</p><p>em seu desenvolvimento</p><p>físico e mental.</p><p>Ele queixou-se, em</p><p>particular, das más</p><p>condições de detenção</p><p>nas várias prisões onde</p><p>cumpria a sua pena</p><p>e, especialmente, da</p><p>superlotação e das</p><p>deficiências na prestação</p><p>de cuidados de saúde.</p><p>O Tribunal notou que as</p><p>recomendações relevantes</p><p>do Comitê de Ministros</p><p>do Conselho da Europa</p><p>aos Estados membros, ou</p><p>seja, a Recomendação No.</p><p>R(98)7 sobre os aspectos</p><p>éticos e organizacionais</p><p>dos cuidados de saúde na</p><p>prisão e a Recomendação</p><p>Rec(2006)2 sobre as Regras</p><p>Penitenciárias Europeias,</p><p>defenderam que os</p><p>prisioneiros que sofrem</p><p>de graves problemas de</p><p>saúde mental devem ser</p><p>mantidos e tratados em</p><p>instalações hospitalares</p><p>adequadamente</p><p>equipadas e com pessoal</p><p>devidamente formado.</p><p>Factsheet</p><p>Saúde</p><p>Mental e</p><p>Detenção</p><p>(2022)</p><p>167Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>Caso Resumo do caso Determinação</p><p>aos Estados</p><p>Documento</p><p>fonte</p><p>Murray vs.</p><p>Holanda</p><p>(2016)</p><p>Este caso diz respeito</p><p>à denúncia de um</p><p>homem condenado por</p><p>no século XIX</p><p>Alguns acontecimentos importantes no século XIX foram:</p><p>• a queda de Napoleão na batalha de Waterloo;</p><p>• o clima repressivo do Congresso de Viena;</p><p>• a Revolução Industrial; e</p><p>• a escravidão.</p><p>Em termos de direitos humanos, o século XIX foi marcado pela busca por direitos no</p><p>trabalho, acesso universal à educação, abolição da escravidão e maior expansão</p><p>do direito ao voto. Vamos agora falar sobre os movimentos sociais que aconteceram</p><p>na Europa nesse século e que foram fundamentais para o reconhecimento de novos</p><p>direitos humanos.</p><p>Entre os movimentos sociais do século XIX, destacam-se o socialista e o antiescravagista.</p><p>Esses movimentos apoiaram a luta das mulheres por direitos sociais e políticos,</p><p>denunciaram a situação das crianças nas fábricas e reivindicaram o direito de todas</p><p>as crianças à educação pública e o direito de trabalhar em condições seguras, além</p><p>da redução das horas diárias de trabalho.</p><p>Nesse sentido, cabe mencionar a Comuna de Paris, que consistiu em um levante</p><p>popular ocorrido na cidade francesa durante um período de dois meses, entre 18</p><p>de março e 21 de maio de 1871. Cidadãos provenientes das classes mais baixas de</p><p>Paris se uniram em uma mobilização política para manifestar-se contra a crise social</p><p>e política que afetava a França naquele momento. Em 1871, a Comuna liderou uma</p><p>reivindicação por melhores condições de trabalho e desafiou o poderio econômico</p><p>e político dos burgueses, aristocratas e clérigos. Embora tenha sido derrotada, a</p><p>Comuna de Paris inspirou a luta por direitos relacionados ao trabalho em toda a</p><p>Europa e nos Estados Unidos.</p><p>18Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>Ainda no século XIX, a Revolução Industrial provocou o deslocamento de pessoas</p><p>do meio rural para as cidades, gerando condições desumanas de habitação e</p><p>trabalho. As lutas dos trabalhadores por direitos levaram à promulgação de leis</p><p>que proibiram o trabalho infantil e limitaram as horas trabalhadas. A conquista</p><p>de direitos trabalhistas e de seguridade social foi criticada por defensores do livre</p><p>mercado, mas a questão da pobreza tornou-se central no final do século XIX, o que</p><p>levou ao reconhecimento de direitos sociais e ao entendimento de que o Estado</p><p>deveria atuar em prol da proteção dos trabalhadores.</p><p>Nesse ponto, podemos destacar o reconhecimento do direito à saúde, que teve</p><p>origem no liberalismo social da América Latina e de lutas políticas locais. O direito</p><p>à saúde tem suas raízes na perspectiva latino-americana de direitos humanos, que</p><p>se baseia em ideias católicas que enfatizam a dignidade humana. A Constituição</p><p>do México, de 1917, foi a primeira a incluir os direitos sociais, inclusive o direito</p><p>das mulheres à atenção médica e obstétrica, assim como a obrigação do Estado de</p><p>adotar medidas preventivas de saúde. Embora essa experiência latino-americana</p><p>seja significativa, o reconhecimento do direito à saúde como um direito humano</p><p>no plano internacional se deve à Primeira Guerra Mundial e ao papel da saúde na</p><p>manutenção da paz global.</p><p>Durante o século XIX, a abolição da escravatura foi uma das questões mais importantes</p><p>dos direitos humanos. Portugal aboliu a escravatura, em 1761, apenas na Metrópole</p><p>e em suas colônias nas Índias. A Grã-Bretanha proibiu o tráfico de escravos em</p><p>suas colônias, em 1807, e aprovou a Lei da Abolição, em 1833. A lei britânica teve</p><p>impacto na América Latina, onde a escravidão foi abolida em vários países, como:</p><p>Venezuela, em 1810; Argentina, em 1812; Chile, em 1823; México, em 1829; Peru,</p><p>em 1854; Cuba, em 1880; e Brasil, em 1888. Nos Estados Unidos, a escravidão foi</p><p>mantida na Constituição, em razão dos interesses dos proprietários de fazendas</p><p>do sul. Um tribunal na Carolina do Sul decidiu que as escravas não tinham direitos</p><p>legais sobre seus filhos, o que permitia que as crianças fossem vendidas e separadas</p><p>de suas mães a qualquer momento. Organizações internacionais, como a Sociedade</p><p>Contra Escravidão, empreenderam esforços para obstruir o comércio de escravos</p><p>no Atlântico e proibir a escravidão nas colônias europeias e nos Estados Unidos. A</p><p>Declaração Universal da Abolição do Comércio de Escravos, de 1815, foi o primeiro</p><p>documento internacional contra a escravidão. Acordos bilaterais e multilaterais</p><p>entre países também passaram a proibir o comércio de escravos e a escravidão.</p><p>É importante destacar que o direito ao voto, conquistado no século anterior, era</p><p>restrito ao homem branco proprietário ou detentor de determinada renda.</p><p>No século XIX, a França foi o primeiro país a adotar o sufrágio universal para homens,</p><p>mas depois retomou os requisitos referentes à propriedade para o voto. Os socialistas</p><p>defendiam a educação pública para todos como um direito social dos cidadãos e,</p><p>no final do século XIX, acreditava-se que a educação pública seria importante para</p><p>formar um eleitorado educado e mão de obra qualificada. O século XIX apresentou</p><p>19Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>avanços em termos de direitos humanos, como a ampliação do direito ao voto, a</p><p>abolição da escravatura e o reconhecimento de direitos trabalhistas e à educação</p><p>pública.</p><p>Entre os avanços relacionados aos direitos humanos no século XIX, inclui-se o</p><p>surgimento do direito humanitário, com o objetivo de proteger a pessoa durante</p><p>conflitos armados. Em 1859, Henri Dunant fundou o Comitê da Cruz Vermelha e, em</p><p>1864, foi adotada a Convenção para Aliviar a Condição dos Feridos das Forças Armadas</p><p>em Campo, estabelecendo princípios como o auxílio aos feridos sem distinção de</p><p>nacionalidade, a neutralidade do pessoal médico e dos estabelecimentos médicos,</p><p>e o uso do símbolo da cruz vermelha sobre fundo branco.</p><p>A partir do estudo de fatos históricos e de movimentos sociais do século XIX, podemos</p><p>compreender o desenvolvimento dos direitos humanos ao longo do tempo.</p><p>No final do século XVIII, a visão predominante dos direitos humanos enfatizava</p><p>principalmente os direitos inatos das pessoas, sem levar em consideração as</p><p>condições sociais e econômicas em que viviam. No entanto, o século XIX trouxe a</p><p>ampliação dessa concepção de direitos humanos para incluir demandas por uma</p><p>rede de proteção social para os mais vulneráveis, como trabalhadores, crianças</p><p>e mulheres. Essa nova forma de liberalismo social propunha uma restrição da</p><p>liberdade dos mais fortes para proteger os mais fracos. A seguir, você estudará</p><p>importantes acontecimentos que provocaram o surgimento de novas perspectivas</p><p>em direitos humanos no século XX.</p><p>1.2.5. Direitos humanos no século XX</p><p>Veja, na animação a seguir, fatos e documentos do século XX que são considerados</p><p>importantes para a história dos direitos humanos.</p><p>Animação 1: Histórico dos direitos humanos – Século XX</p><p>1.2.6. Direitos humanos no século XXI</p><p>A partir do século XX, verifica-se um movimento de limitação dos direitos humanos</p><p>(ou até mesmo de supressão destes). Essa tendência pode ter sido causada por três</p><p>fatores:</p><p>+ A guerra contra o terrorismo</p><p>A partir de 11 de setembro de 2001, percebe-se um movimento negativo com</p><p>relação aos direitos humanos e à democracia. Nesse sentido, pode-se dizer que</p><p>https://youtu.be/12C7B-L_axQ</p><p>20Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>os direitos humanos foram marginalizados por meio da aceitação de restrições</p><p>de algumas liberdades individuais e do emprego de meios condenáveis por</p><p>agentes estatais.</p><p>Como exemplo, o Ato para Prover Instrumentos Exigidos para Interceptar e</p><p>Obstruir o Ato Terrorista, assinado pelos Estados Unidos em 2001 (Ato Patriota),</p><p>ampliou os poderes do Estado para que este pudesse realizar vigilâncias a pessoas</p><p>suspeitas de praticar terrorismo. Esse Ato é questionado sob a perspectiva do</p><p>direito à privacidade.</p><p>+ O avanço do neoliberalismo e a contestação do bem-estar social</p><p>Nas últimas décadas do século XIX, a visão do Estado como violador dos direitos</p><p>humanos ganhou ênfase. No século XXI, porém, passa-se a focar no papel do</p><p>Estado como garantidor e protetor dos direitos</p><p>assassinato em 1980,</p><p>sobre sua sentença de</p><p>prisão perpétua sem</p><p>qualquer perspectiva</p><p>realista de libertação.</p><p>O recorrente cumpriu</p><p>consecutivamente sua</p><p>sentença de prisão</p><p>perpétua nas ilhas de</p><p>Curaçao e Aruba (parte</p><p>do Reino dos Países</p><p>Baixos), até ser perdoado</p><p>em 2014, devido à</p><p>deterioração de sua saúde.</p><p>O recorrente, que</p><p>entretanto faleceu,</p><p>sustentou designadamente</p><p>que não dispunha de</p><p>regime prisional especial</p><p>para reclusos com</p><p>problemas psiquiátricos.</p><p>Neste caso, o Tribunal</p><p>sublinhou que os Estados</p><p>tinham a obrigação de</p><p>fornecer cuidados de</p><p>saúde adequados aos</p><p>detidos que sofriam de</p><p>problemas de saúde</p><p>– incluindo problemas</p><p>de saúde mental.</p><p>Factsheet</p><p>Saúde</p><p>Mental e</p><p>Detenção</p><p>(2022)</p><p>168Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>Caso Resumo do caso Determinação</p><p>aos Estados</p><p>Documento</p><p>fonte</p><p>Sy vs.</p><p>Itália</p><p>(2022)</p><p>Este caso refere-se ao</p><p>fato de o requerente, que</p><p>sofria de perturbação</p><p>da personalidade e</p><p>perturbação bipolar,</p><p>ter permanecido detido</p><p>em uma prisão comum,</p><p>apesar de decisões</p><p>judiciais nacionais</p><p>declararem que a</p><p>sua saúde mental era</p><p>incompatível com tal</p><p>detenção e ordenarem</p><p>a sua transferência para</p><p>um Centro Residencial</p><p>para a aplicação de</p><p>medidas preventivas</p><p>(REMS) e, posteriormente,</p><p>a um serviço</p><p>psiquiátrico prisional.</p><p>O requerente alegou,</p><p>em particular, que sua</p><p>detenção contínua numa</p><p>prisão comum o impediu</p><p>de beneficiar-se de</p><p>cuidados terapêuticos.</p><p>Os governos devem</p><p>organizar seus sistemas</p><p>penitenciários de forma</p><p>a garantir o respeito à</p><p>dignidade dos detentos,</p><p>independentemente</p><p>de suas dificuldades</p><p>financeiras ou logísticas.</p><p>Factsheet</p><p>Saúde</p><p>Mental e</p><p>Detenção</p><p>(2022)</p><p>Fonte: Elaborado pela autora</p><p>169Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>1.3.4. Detentos com tendências suicidas</p><p>Quadro 34 - Detentos com tendências suicidas</p><p>Caso Resumo do caso Determinação</p><p>aos Estados</p><p>Documento</p><p>fonte</p><p>Rivière</p><p>vs.</p><p>França</p><p>(2006)</p><p>O requerente queixou-se da sua</p><p>prisão continuada apesar dos</p><p>seus problemas psiquiátricos.</p><p>Este havia sido diagnosticado</p><p>com um distúrbio psiquiátrico</p><p>envolvendo tendências suicidas, e</p><p>os peritos estavam preocupados</p><p>com certos aspectos do seu</p><p>comportamento, em particular</p><p>uma compulsão para o</p><p>autoestrangulamento, que exigia</p><p>tratamento fora da prisão.</p><p>Os presos com graves</p><p>transtornos mentais</p><p>e tendências suicidas</p><p>requerem medidas</p><p>especiais adaptadas</p><p>à sua condição,</p><p>independentemente</p><p>da gravidade do</p><p>delito pelo qual</p><p>foram condenados.</p><p>Factsheet</p><p>Saúde</p><p>Mental e</p><p>Detenção</p><p>(2022)</p><p>Fonte: Elaborado pela autora.</p><p>1.4. Conclusão</p><p>Com base nos relatórios e decisões dos Sistemas ONU, Interamericano e Europeu</p><p>de Direitos Humanos sobre o tema de saúde mental e direitos humanos, é evidente</p><p>que as pessoas com transtornos mentais têm direitos fundamentais que devem ser</p><p>respeitados. Os profissionais de saúde devem tratar essas pessoas com dignidade</p><p>e respeito, garantindo que seus direitos humanos sejam protegidos em todos os</p><p>momentos.</p><p>Os tratamentos fundamentados em direitos humanos são baseados em evidências,</p><p>voluntários e fornecidos com consentimento informado. Eles devem ser projetados</p><p>para serem menos invasivos e menos restritivos, garantindo que a autonomia e a</p><p>privacidade das pessoas sejam preservadas. O acesso a serviços de saúde mental</p><p>de qualidade e a um sistema de justiça eficaz também deve ser garantido. Os</p><p>profissionais de saúde devem garantir que as pessoas com transtornos mentais</p><p>tenham acesso a serviços de saúde mental de qualidade e que os sistemas de justiça</p><p>garantam a proteção e a promoção dos direitos humanos.</p><p>Assim, os profissionais de saúde devem sempre lembrar que as pessoas com</p><p>transtornos mentais são detentoras de direitos humanos fundamentais e que esses</p><p>direitos devem ser protegidos em todos os momentos. O tratamento baseado em</p><p>direitos humanos é um conceito-chave que deve ser sempre aplicado na prática</p><p>170Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>clínica e assistencial, garantindo que o cuidado com a saúde mental respeite e</p><p>promova a dignidade humana.</p><p>No que diz respeito à importância de tratar as pessoas sob</p><p>cuidados em saúde mental com respeito, dignidade e humanidade,</p><p>recomendamos a obra “Nise: O Coração da Loucura”, de 2016.</p><p>O filme conta a história da luta da psiquiatra Nise da Silveira</p><p>contra as práticas abusivas de tratamento psiquiátrico no</p><p>Hospital Pedro II, no Rio de Janeiro, na década de 1940.</p><p>Através de seu trabalho, Nise aplicou uma abordagem</p><p>revolucionária para o tratamento de pacientes com transtornos</p><p>mentais, baseada na arte e na criatividade. “Nise: O Coração da</p><p>Loucura” é um filme emocionante e inspirador que destaca a</p><p>importância do tratamento humanizado e baseado na arte para</p><p>o cuidado com a saúde mental.</p><p>Você pode assistir ao trailer do filme através do link: https://</p><p>youtu.be/UeAUNvcM_xk</p><p>https://youtu.be/UeAUNvcM_xk</p><p>https://youtu.be/UeAUNvcM_xk</p><p>171Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>2. Casos julgados pelos Sistemas Internacionais</p><p>de Direitos Humanos</p><p>Reconhecer os casos judiciais sobre direitos humanos e saúde</p><p>mental.</p><p>Os Sistemas Internacionais de Direitos Humanos apresentam diversas decisões</p><p>acerca dos direitos humanos das pessoas com transtorno mental e sobre como</p><p>essas pessoas devem ser tratadas quando sob cuidados em saúde.</p><p>Esse conjunto de decisões revela os padrões internacionais de tratamento, que</p><p>devem ser seguidos pelos Estados membros dos Sistemas de Direitos Humanos.</p><p>Assim, por meio do avanço da jurisprudência em direitos humanos e saúde mental,</p><p>promove-se o desenvolvimento das práticas domésticas de tratamento a pessoas</p><p>com transtorno mental.</p><p>Veja, a seguir, alguns dos principais julgamentos do Sistema Interamericano de</p><p>Direitos Humanos e do Sistema Europeu de Direitos Humanos.</p><p>2.1. Caso Ximenes Lopes</p><p>O Caso Ximenes Lopes vs. Brasil trata da morte do senhor Damião Ximenes Lopes,</p><p>pessoa com transtornos mentais que se encontrava internada em instituição</p><p>psiquiátrica ligada ao SUS, e da impossibilidade de seus familiares alcançarem a</p><p>justiça no âmbito doméstico. O falecimento ocorreu devido a maus-tratos sofridos</p><p>durante a internação.</p><p>O Estado brasileiro foi condenado pela Corte Interamericana de Direitos</p><p>Humanos por ter violado o direito à vida, o direito à integridade pessoal, o direito</p><p>às garantias judiciais e o direito à proteção judicial, tendo sido responsabilizado</p><p>internacionalmente. A sentença do caso foi cumprida parcialmente e a Corte</p><p>permanece supervisionando o seu cumprimento.</p><p>2.1.1. Relevância do caso no estudo de direitos humanos das pessoas</p><p>com transtornos mentais</p><p>O Caso Ximenes Lopes vs. Brasil possui ampla relevância no estudo dos direitos</p><p>humanos, especificamente no que diz respeito às pessoas com transtorno mental.</p><p>Sobre isso, ouça o áudio a seguir.</p><p>172Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>Podcast 4 - A relevância do Caso Ximenes Lopes no estudo dos</p><p>direitos humanos das pessoas com transtornos mentais</p><p>2.1.2. O caso</p><p>A sentença do caso descreve, em detalhes, as circunstâncias da morte do senhor</p><p>Damião Ximenes Lopes:</p><p>112.9. Em 4 de outubro de 1999, aproximadamente às 9h, a mãe do senhor</p><p>Damião Ximenes Lopes chegou à Casa de Repouso Guararapes para visitá-</p><p>lo e o encontrou sangrando, com hematomas, com a roupa rasgada, sujo e</p><p>cheirando a excremento, com as mãos amarradas para trás, com dificuldade</p><p>para respirar, agonizante e gritando e pedindo socorro à polícia. Continuava</p><p>submetido à contenção física que lhe havia sido aplicada desde a noite anterior, já</p><p>apresentava escoriações e feridas e pôde caminhar sem a adequada supervisão.</p><p>Posteriormente, um auxiliar de enfermagem o deitou em uma cama, da qual</p><p>caiu. Então o deitaram num colchonete no chão.</p><p>[...]</p><p>112.11. O senhor Damião Ximenes Lopes faleceu em 4 de outubro de 1999,</p><p>às 11h30, na Casa de Repouso Guararapes, em circunstâncias violentas,</p><p>aproximadamente duas horas depois de haver sido medicado</p><p>pelo Diretor Clínico</p><p>do hospital, sem ser assistido por médico algum no momento de sua morte, já</p><p>que a unidade pública de saúde em que se encontrava internado para receber</p><p>cuidados psiquiátricos não dispunha de nenhum médico naquele momento. [...]</p><p>Posteriormente à morte do senhor Damião Ximenes Lopes, o médico Francisco</p><p>Ivo de Vasconcelos foi chamado e regressou à Casa de Repouso Guararapes.</p><p>Examinou o corpo da suposta vítima, declarou sua morte e fez constar que o</p><p>cadáver não apresentava lesões externas e que a causa da morte havia sido uma</p><p>“parada cardio-respiratória”. O médico não ordenou a realização de necropsia</p><p>no corpo do senhor Damião Ximenes Lopes. Albertina Viana Lopes se inteirou</p><p>da morte de seu filho ao chegar a sua casa, no Município de Varjota. (CORTE</p><p>INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS, 2006, p. 31-32)</p><p>A irmã do Sr. Damião Ximenes Lopes, Irene Ximenes Lopes, apresentou a petição</p><p>contra o Estado brasileiro em novembro de 1999 à Comissão Interamericana de</p><p>https://podcasters.spotify.com/pod/show/enap/episodes/EV-G-A-relevncia-do-Caso-Ximenes-Lopes-no-estudo-dos-direitos-humanos-das-pessoas-com-transtornos-mentais-e21r0se</p><p>https://podcasters.spotify.com/pod/show/enap/episodes/EV-G-A-relevncia-do-Caso-Ximenes-Lopes-no-estudo-dos-direitos-humanos-das-pessoas-com-transtornos-mentais-e21r0se</p><p>173Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>Direitos Humanos (CIDH). A Comissão, por sua vez, ofereceu a demanda à Corte em</p><p>1º de outubro de 2004, originando a denúncia contra o Estado brasileiro.</p><p>O Estado foi acusado de violar os direitos a seguir, previstos nos seguintes artigos</p><p>da Convenção Americana de Direitos Humanos, ferindo a obrigação de respeitar</p><p>os direitos, estabelecida no artigo 1.1 da Convenção.</p><p>• Artigo 4 (Direito à Vida)</p><p>° Morte da vítima enquanto se encontrava submetida ao tratamento</p><p>psiquiátrico.</p><p>• Artigo 5 (Direito à Integridade Pessoal)</p><p>° Condições desumanas e degradantes da hospitalização</p><p>° Golpes e ataques contra a integridade pessoal de que foi vítima</p><p>por parte dos funcionários da Casa de Repouso Guararapes</p><p>• Artigo 8 (Garantias Judiciais) e Artigo 25 (Proteção Judicial)</p><p>° A falta de investigação e garantias judiciais que caracteriza o caso.</p><p>Veja, a seguir, os quadros que apresentam alguns dos posicionamentos dos</p><p>representantes das vítimas, do Estado, da CIDH e da Corte IDH sobre cada uma das</p><p>violações cometidas pelo Estado:</p><p>174Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>Artigo 4º (Direito à Vida)</p><p>Quadro 35 – Direito à vida</p><p>Representantes</p><p>das vítimas</p><p>Estado CIDH Corte IDH</p><p>O Estado falhou</p><p>em sua obrigação</p><p>de preservar</p><p>e proteger a</p><p>vida do senhor</p><p>Damião Ximenes</p><p>Lopes, já que não</p><p>adotou medidas</p><p>de prevenção</p><p>para impedir</p><p>sua morte, não</p><p>fiscalizou nem</p><p>monitorou o</p><p>funcionamento da</p><p>Casa de Repouso</p><p>Guararapes.</p><p>Além disso, a falta</p><p>de investigação</p><p>séria e efetiva e</p><p>de sanção dos</p><p>responsáveis pela</p><p>morte da suposta</p><p>vítima constitui</p><p>violação do Estado</p><p>de sua obrigação</p><p>de garantir o</p><p>direito à vida.</p><p>O Estado</p><p>reconhece sua</p><p>responsabilidade</p><p>internacional</p><p>pela violação</p><p>dos artigos 4 e</p><p>5 da Convenção</p><p>Americana, em</p><p>demonstração de</p><p>seu compromisso</p><p>com a proteção</p><p>dos direitos</p><p>humanos.</p><p>O Estado não</p><p>cumpriu sua</p><p>obrigação de</p><p>proteger e</p><p>preservar a vida</p><p>do senhor Damião</p><p>Ximenes Lopes.</p><p>Esta violação pode</p><p>ser percebida</p><p>não somente</p><p>porque seus</p><p>agentes causaram</p><p>sua morte, mas</p><p>porque o Estado</p><p>não exerceu</p><p>devidamente a</p><p>fiscalização da</p><p>Casa de Repouso</p><p>Guararapes.</p><p>Além disso, a falta</p><p>de investigação</p><p>séria e punição</p><p>dos responsáveis</p><p>pela morte de</p><p>Ximenes Lopes</p><p>constitui uma</p><p>violação por</p><p>parte do Estado</p><p>de sua obrigação</p><p>de garantir o</p><p>direito à vida.</p><p>A Corte reitera que</p><p>o reconhecimento</p><p>de responsabilidade</p><p>efetuado pelo</p><p>Estado pela violação</p><p>dos artigos 4 e 5</p><p>da Convenção,</p><p>em detrimento do</p><p>senhor Damião</p><p>Ximenes Lopes,</p><p>constitui uma</p><p>contribuição</p><p>positiva para o</p><p>desenvolvimento</p><p>desse processo e</p><p>reveste fundamental</p><p>importância</p><p>para a vigência</p><p>dos princípios</p><p>que inspiram</p><p>a Convenção</p><p>Americana</p><p>no Estado.</p><p>Fonte: Elaborado pela autora.</p><p>175Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>Artigo 5º (Direito à Integridade Pessoal)</p><p>Quadro 36 - Direito à Integridade Pessoal</p><p>Representantes</p><p>das vítimas</p><p>Estado CIDH Corte IDH</p><p>O senhor Damião</p><p>Ximenes Lopes</p><p>foi submetido</p><p>a tratamentos</p><p>cruéis, desumanos</p><p>e degradantes na</p><p>Casa de Repouso</p><p>Guararapes.</p><p>As agressões</p><p>foram realizadas</p><p>pelos indivíduos</p><p>que detinham a</p><p>custódia do senhor</p><p>Damião Ximenes</p><p>Lopes e que</p><p>deviam dele cuidar</p><p>e resguardar</p><p>sua saúde e</p><p>sua integridade</p><p>pessoal.</p><p>As condições</p><p>de internação</p><p>e os cuidados</p><p>oferecidos por esse</p><p>hospital autorizado</p><p>pelo Sistema</p><p>Único de Saúde</p><p>(SUS) eram, por si</p><p>sós, atentatórios</p><p>ao direito à</p><p>integridade</p><p>pessoal.</p><p>O Estado</p><p>reconhece sua</p><p>responsabilidade</p><p>internacional</p><p>pela violação</p><p>dos artigos 4 e</p><p>5 da Convenção</p><p>Americana, em</p><p>demonstração</p><p>de seu</p><p>compromisso</p><p>com a proteção</p><p>dos direitos</p><p>humanos.</p><p>As condições de</p><p>hospitalização na</p><p>Casa de Repouso</p><p>Guararapes</p><p>eram por si sós</p><p>incompatíveis com o</p><p>respeito à dignidade</p><p>da pessoa humana.</p><p>Pelo simples fato de</p><p>haver sido internado</p><p>nesta instituição</p><p>como paciente</p><p>do SUS, o senhor</p><p>Damião Ximenes</p><p>Lopes foi submetido</p><p>a tratamento</p><p>desumano ou</p><p>degradante.</p><p>A contenção física</p><p>aplicada ao senhor</p><p>Damião Ximenes</p><p>Lopes não levou em</p><p>conta as normas</p><p>internacionais</p><p>sobre a matéria.</p><p>A suposta vítima</p><p>não foi mantida</p><p>em condições</p><p>dignas, nem sob</p><p>o cuidado e a</p><p>supervisão imediata</p><p>e regular de pessoal</p><p>qualificado em</p><p>saúde mental.</p><p>A Corte</p><p>reitera que o</p><p>reconhecimento de</p><p>responsabilidade</p><p>efetuado pelo</p><p>Estado pela</p><p>violação dos</p><p>artigos 4 e 5 da</p><p>Convenção, em</p><p>detrimento do</p><p>senhor Damião</p><p>Ximenes Lopes,</p><p>constitui uma</p><p>contribuição</p><p>positiva para o</p><p>desenvolvimento</p><p>desse processo</p><p>e reveste</p><p>fundamental</p><p>importância</p><p>para a vigência</p><p>dos princípios</p><p>que inspiram</p><p>a Convenção</p><p>Americana</p><p>no Estado.</p><p>Fonte: Elaborado pela autora.</p><p>176Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>Artigo 8º (Garantias Judiciais) e Artigo 25 (Proteção Judicial)</p><p>Quadro 37 - Garantias Judiciais e Proteção Judicial</p><p>Representantes</p><p>das vítimas</p><p>Estado CIDH Corte IDH</p><p>A investigação</p><p>policial</p><p>apresenta</p><p>uma série de</p><p>irregularidades</p><p>que</p><p>comprometem</p><p>a elucidação</p><p>da morte do</p><p>senhor Damião</p><p>Ximenes Lopes.</p><p>Transcorridos</p><p>mais de seis</p><p>anos da morte</p><p>do senhor</p><p>Damião</p><p>Ximenes Lopes,</p><p>o procedimento</p><p>judicial contra</p><p>os responsáveis</p><p>por sua morte</p><p>ainda não</p><p>havia sido</p><p>concluído, em</p><p>consequência</p><p>dos atrasos</p><p>indevidos,</p><p>atribuídos</p><p>exclusivamente</p><p>ao Estado.</p><p>O Estado não violou</p><p>o direito à proteção e</p><p>às garantias judiciais,</p><p>uma vez que respeitou</p><p>os princípios do</p><p>devido processo legal,</p><p>do contraditório e</p><p>da ampla defesa.</p><p>Segundo o Estado, sua</p><p>seriedade em busca de</p><p>justiça foi devidamente</p><p>demonstrada na</p><p>tramitação do caso na</p><p>jurisdição interna, bem</p><p>como nos argumentos</p><p>apresentados à Corte</p><p>na contestação da</p><p>demanda, em que</p><p>se fez uma descrição</p><p>histórica de todas</p><p>as medidas por ele</p><p>adotadas com a</p><p>finalidade de investigar</p><p>as circunstâncias do</p><p>falecimento do senhor</p><p>Damião Ximenes</p><p>Lopes e sancionar os</p><p>responsáveis pelos</p><p>maus-tratos a ele</p><p>infligidos e por sua</p><p>morte na Casa de</p><p>Repouso Guararapes.</p><p>O processo</p><p>interno não foi</p><p>efetivo, já que</p><p>as autoridades</p><p>foram omissas em</p><p>recolher provas e</p><p>que a investigação</p><p>apresentava erros.</p><p>A investigação</p><p>policial só foi</p><p>instaurada 35</p><p>dias depois</p><p>da prestação</p><p>da queixa. A</p><p>inexistência de</p><p>uma sentença de</p><p>primeira instância</p><p>depois de seis</p><p>anos da morte</p><p>violenta do senhor</p><p>Damião Ximenes</p><p>Lopes e a situação</p><p>do processo</p><p>penal interno em</p><p>2006, ainda na</p><p>fase de instrução,</p><p>mostram que</p><p>os familiares da</p><p>suposta vítima</p><p>se encontram</p><p>em situação de</p><p>denegação de</p><p>justiça por parte</p><p>das autoridades</p><p>estatais.</p><p>A Corte conclui</p><p>que o Estado não</p><p>proporcionou</p><p>às familiares de</p><p>Ximenes Lopes</p><p>um recurso efetivo</p><p>para garantir o</p><p>acesso à justiça, a</p><p>determinação da</p><p>verdade dos fatos,</p><p>a investigação, a</p><p>identificação, o</p><p>processo e, se for</p><p>o caso, a punição</p><p>dos responsáveis</p><p>e a reparação das</p><p>consequências</p><p>das violações.</p><p>O Estado tem,</p><p>por conseguinte,</p><p>responsabilidade</p><p>pela violação</p><p>dos direitos às</p><p>garantias judiciais e</p><p>à proteção judicial</p><p>consagrados nos</p><p>artigos 8.1 e 25.1</p><p>da Convenção</p><p>Americana, em</p><p>relação com o</p><p>artigo 1.1 desse</p><p>mesmo tratado,</p><p>em detrimento das</p><p>senhoras Albertina</p><p>Viana Lopes e</p><p>Irene Ximenes</p><p>Lopes Miranda.</p><p>Fonte: Elaborado pela autora.</p><p>177Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>Na sentença, a Corte apresenta interessantes considerações sobre os deveres do</p><p>Estado com relação às pessoas com transtorno mental. Assista a seguir o vídeo</p><p>sobre esses deveres.</p><p>Vídeo 4 - Os deveres do Estado com relação às pessoas com</p><p>transtorno mental.</p><p>Se desejar ler o conteúdo completo da Sentença, acesse o link</p><p>a seguir: https://www.corteidh.or.cr/docs/casos/articulos/</p><p>seriec_149_por.pdf.</p><p>2.1.3. A decisão da Corte</p><p>Com base nos fatos provados e nas alegações das partes e da CIDH, a Corte entendeu</p><p>que:</p><p>• O Estado descumpriu os artigos 4.1, 5.1 e 5.2 da Convenção Americana:</p><p>violou os direitos à vida e à integridade pessoal do senhor Damião</p><p>Ximenes Lopes.</p><p>• O Estado descumpriu o artigo 5 da Convenção Americana: em detrimento</p><p>das senhoras Albertina Viana Lopes e Irene Ximenes Lopes Miranda</p><p>e dos senhores Francisco Leopoldino Lopes e Cosme Ximenes Lopes,</p><p>em virtude do sofrimento adicional por que passaram, em consequência</p><p>das circunstâncias especiais das violações praticadas contra seus seres</p><p>queridos e das posteriores ações ou omissões das autoridades estatais</p><p>frente aos fatos.</p><p>• O Estado violou os artigos 8.1 e 25.1 da Convenção: em detrimento das</p><p>senhoras Albertina Viana Lopes e Irene Ximenes Lopes Miranda, já</p><p>que o Estado não lhes proporcionou um recurso efetivo para garantir o</p><p>acesso à justiça, a determinação da verdade dos fatos, a investigação, a</p><p>identificação, o processo e a punição dos responsáveis e a reparação das</p><p>consequências das violações.</p><p>• Todos esses artigos foram violados com relação ao artigo 1.1 da</p><p>Convenção, que estabelece o dever de respeitar os direitos e as liberdades</p><p>nela reconhecidos.</p><p>Sendo assim, a Corte determinou que o Estado deverá cumprir as medidas descritas</p><p>no Quadro seguir, que também apresenta o estado de cumprimento dos pontos</p><p>dispositivos da sentença. A situação de cumprimento de cada ponto dispositivo a</p><p>https://youtu.be/_e8QNEK1_ls</p><p>https://youtu.be/_e8QNEK1_ls</p><p>https://www.corteidh.or.cr/docs/casos/articulos/seriec_149_por.pdf</p><p>https://www.corteidh.or.cr/docs/casos/articulos/seriec_149_por.pdf</p><p>178Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>seguir baseia-se no que a Corte afirmou em suas resoluções de cumprimento de</p><p>sentença, documentos que visam esclarecer o estado de cumprimento de cada</p><p>ponto.</p><p>Quadro 38 – Sentença e cumprimento</p><p>Ponto</p><p>dispositivo Conteúdo Estado de</p><p>cumprimento</p><p>6</p><p>Garantir, em um prazo razoável, que o</p><p>processo interno destinado a investigar e</p><p>sancionar os responsáveis pelos fatos do caso</p><p>alcance seus devidos efeitos, nos termos dos</p><p>parágrafos 245 a 248 da presente Sentença.</p><p>Descumprido</p><p>7</p><p>O Estado deve publicar, no prazo de seis meses,</p><p>no Diário Oficial e em outro jornal de ampla</p><p>circulação nacional, uma só vez, o Capítulo VII</p><p>relativo aos fatos provados desta Sentença,</p><p>sem as respectivas notas de pé de página,</p><p>bem como sua parte resolutiva, nos termos</p><p>do parágrafo 249 da presente Sentença.</p><p>Cumprido</p><p>8</p><p>A Corte decidiu encerrar a supervisão de</p><p>cumprimento sobre o ponto nº 6, considerando-o</p><p>descumprido. Assim, verifica-se que o ponto</p><p>dispositivo nº 8 é o último pendente de</p><p>cumprimento na sentença do Caso Ximenes Lopes</p><p>vs. Brasil. Note-se, contudo, que há esforço para</p><p>cumprimento desse ponto, e o presente curso se</p><p>insere nesse contexto.</p><p>Cumprido</p><p>9</p><p>O Estado deve pagar em dinheiro para as</p><p>senhoras Albertina Viana Lopes e Irene Ximenes</p><p>Lopes Miranda, no prazo de um ano, a título</p><p>de indenização por dano material, a quantia</p><p>fixada nos parágrafos 225 (US$10.000,00) e</p><p>226 (US$1.500,00), nos termos dos parágrafos</p><p>224 a 226 da presente Sentença.</p><p>Cumprido</p><p>179Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>Ponto</p><p>dispositivo Conteúdo Estado de</p><p>cumprimento</p><p>10</p><p>O Estado deve pagar em dinheiro para as</p><p>senhoras Albertina Viana Lopes (US$ 12500 +</p><p>US$30.000,00) e Irene Ximenes Lopes Miranda</p><p>(US$ 12500 + US$25.000,00) e para os senhores</p><p>Francisco Leopoldino Lopes (US$ 12500 +</p><p>US$10.000,00) e Cosme Ximenes Lopes (US$</p><p>12500 + US$10.000,00), no prazo de um ano,</p><p>a título de indenização por dano imaterial, a</p><p>quantia fixada no parágrafo 238, nos termos dos</p><p>parágrafos 237 a 239 da presente Sentença.</p><p>Cumprido</p><p>11</p><p>O Estado deve pagar em dinheiro, no prazo</p><p>de um ano, a título de custas e gastos gerados</p><p>no âmbito interno e no processo internacional</p><p>perante o sistema interamericano de proteção dos</p><p>direitos humanos, a quantia fixada no parágrafo</p><p>253 (US$10.000.00), a qual deverá ser entregue</p><p>à senhora Albertina Viana Lopes, nos termos dos</p><p>parágrafos 252 e 253 da presente Sentença.</p><p>Cumprido</p><p>12</p><p>No prazo de um ano, contado a partir da</p><p>notificação desta Sentença, o Estado deverá</p><p>apresentar à Corte relatório sobre as medidas</p><p>adotadas para o seu cumprimento.</p><p>Cumprido</p><p>Fonte: elaborado pela autora.</p><p>Você pode assistir à audiência de 23 de abril de 2021, que</p><p>supervisionou o cumprimento da sentença, acessando o seguinte</p><p>link: https://www.youtube.com/watch?v=3jb6u-M2NJE</p><p>Assim, verifica-se que o ponto dispositivo nº 8 é o último pendente de cumprimento</p><p>na sentença do Caso Ximenes Lopes vs. Brasil. A Corte decidiu encerrar a supervisão</p><p>de cumprimento sobre o ponto nº 6, considerando-o descumprido.</p><p>Nesse sentido, é importante destacar que o Conselho Nacional de Justiça (CNJ)</p><p>aprovou, em fevereiro de 2023, a Resolução 487 de 2023, que institui a Política</p><p>Antimanicomial do Poder Judiciário. O objetivo da medida é adequar a atuação do</p><p>Judiciário às normas nacionais e internacionais de respeito aos direitos fundamentais</p><p>das pessoas em sofrimento mental ou com deficiência psicossocial em conflito com a</p><p>https://www.youtube.com/watch?v=3jb6u-M2NJE</p><p>180Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>lei. Para a elaboração da Resolução, foram observadas as determinações constantes</p><p>na sentença proferida no Caso Ximenes Lopes vs. Brasil.</p><p>A Resolução 487/2023 reflete a evolução das normas jurídicas que buscam reconhecer</p><p>e proteger os direitos das pessoas com transtornos mentais ou deficiências</p><p>psicossociais. Ela contribui para a expansão do projeto de desinstitucionalização ao</p><p>longo do sistema de justiça criminal, fornecendo diretrizes para que juízes lidem com</p><p>o tema de acordo com as normas do Direito Internacional e da legislação vigente.</p><p>A aprovação dessa Resolução mostra que o Poder Judiciário está se engajando</p><p>na política de tratamento diferenciado para pessoas com transtornos mentais e</p><p>convidando outros profissionais da justiça a participarem desse processo, a fim de</p><p>garantir o respeito aos direitos humanos e construir uma sociedade mais justa e</p><p>democrática.</p><p>Você pode acessar o texto completo da Resolução</p><p>por meio desse link: https://atos.cnj.jus.br/files/</p><p>original2015232023022863fe60db44835.pdf</p><p>O Estado brasileiro vem empenhando esforços no sentido de aperfeiçoar os cuidados</p><p>em saúde a pessoas com transtorno mental, mas ainda tem um longo caminho a</p><p>percorrer. O Caso Ximenes Lopes vs. Brasil impulsionou os avanços no sistema de</p><p>assistência em saúde mental no Brasil e seguirá exercendo influência sobre este,</p><p>por meio do programa de capacitação a ser ministrado em cumprimento ao ponto</p><p>dispositivo nº 8 da sentença.</p><p>2.2. Fact Sheet sobre Detenção e Saúde Mental</p><p>Além do importante Caso Ximenes Lopes vs. Brasil, alguns casos do Sistema Europeu</p><p>também apresentam importantes diretivas de tratamento a pessoas</p><p>com transtorno</p><p>mental sob cuidados em saúde.</p><p>Nesse sentido, apresentamos o Fact Sheet sobre Detenção e Saúde Mental, da</p><p>Corte Europeia de Direitos Humanos, um relatório não exaustivo que apresenta</p><p>diversos casos da Corte Europeia sobre o tema de seu título.</p><p>Em várias ocasiões, a Corte Europeia de Direitos Humanos afirmou que a detenção</p><p>de uma pessoa com transtorno mental pode gerar questões sob o artigo 3º da</p><p>Convenção Europeia de Direitos Humanos, que afirma que “Ninguém pode ser</p><p>submetido a torturas, nem a penas ou tratamentos desumanos ou degradantes”</p><p>(Convenção Europeia dos Direitos do Homem e das Liberdades Fundamentais, 1950,</p><p>Art. 3º).</p><p>https://atos.cnj.jus.br/files/original2015232023022863fe60db44835.pdf</p><p>https://atos.cnj.jus.br/files/original2015232023022863fe60db44835.pdf</p><p>181Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>A Corte considera que a falta de cuidados de saúde adequados pode constituir</p><p>um tratamento contrário ao disposto nesse artigo. Para avaliar se as condições de</p><p>detenção de pessoas com transtornos mentais são compatíveis com os padrões</p><p>estabelecidos no artigo 3º, é preciso levar em consideração sua vulnerabilidade e</p><p>sua possibilidade (ou impossibilidade) de informar sobre como estão sendo afetadas</p><p>por determinado tratamento.</p><p>Nesse sentido, é preciso considerar três elementos na avaliação da compatibilidade</p><p>entre a saúde de uma pessoa e a sua permanência em detenção:</p><p>Figura 32 – Elementos</p><p>Fonte: Elaborada pela autora.</p><p>Sendo assim, vamos falar sobre alguns casos encontrados no Factsheet. O</p><p>documento apresenta 35 casos, a maioria dos quais se refere a violações ao artigo</p><p>3º da Convenção (proibição da tortura). Também há casos de alegada violação aos</p><p>artigos 2º (direito à vida, 9 casos), 5º (direito à liberdade e à segurança, 6 casos) e 13</p><p>(direito a um recurso efetivo, 3 casos).</p><p>Assim, podemos concluir que, no âmbito do Sistema Europeu de</p><p>Direitos Humanos, a detenção de pessoas com transtorno mental</p><p>está comumente relacionada à violação de alguns desses quatro</p><p>direitos.</p><p>A seguir, você verá como a Corte Europeia decidiu sobre violações a cada um desses</p><p>direitos no que diz respeito a pessoas com transtorno mental no contexto de sua</p><p>detenção.</p><p>182Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>2.2.1. Violação do direito à vida (Artigo 2º)</p><p>O caso De Donder e De Clippel vs. Bélgica, de 2011, apresenta a violação do direito</p><p>à vida, previsto no artigo 2º da Convenção Europeia.</p><p>A demanda foi apresentada por meio dos pais da vítima, que era um jovem em</p><p>tratamento psiquiátrico que cometeu suicídio enquanto estava internado na seção</p><p>comum de uma prisão.</p><p>Os requerentes reclamaram, em particular, sobre a detenção de seu filho e sobre</p><p>sua colocação em isolamento. Eles ainda afirmaram que, em tais circunstâncias,</p><p>era previsível que o filho perderia o autocontrole e tentaria tirar a própria vida.</p><p>A Corte alegou estar consciente dos esforços do Estado belga para assistir o filho dos</p><p>requerentes, que teve, por exemplo, acesso a clínicas especializadas, onde recebeu</p><p>apoio e terapia adequados à sua condição. Além disso, o Tribunal reconheceu as</p><p>graves dificuldades enfrentadas diariamente pelas autoridades penitenciárias e</p><p>da equipe médica. A Corte, no entanto, concluiu que houve violação do artigo 2º</p><p>(direito à vida) da Convenção em seu aspecto substantivo, ou seja, com relação ao</p><p>seu conteúdo.</p><p>A Corte observou, em particular, que a vítima tinha sido detida com base na Lei</p><p>da Proteção Social, que previa que as pessoas a quem essa lei se aplicava não</p><p>estavam sujeitas às regras da detenção ordinária, mas sim às regras da admissão</p><p>compulsória. Por meio desta última, poderiam receber o apoio psicológico e</p><p>médico que a sua condição exigia. Além disso, a decisão do procurador-adjunto</p><p>de reconduzir o jovem à prisão especificava que ele deveria ser internado na ala</p><p>psiquiátrica. Consequentemente, o filho dos requerentes nunca deveria ter sido</p><p>mantido na seção comum de uma prisão.</p><p>Além disso, a Corte não encontrou nenhuma prova que sugerisse que a investigação</p><p>realizada no presente caso não cumpriu os requisitos de uma investigação efetiva</p><p>e, portanto, considerou que não houve violação do artigo 2º da Convenção em seu</p><p>aspecto processual.</p><p>2.2.2. Proibição da tortura (Artigo 3º)</p><p>O caso G. vs. França, de 2012, apresenta a violação da proibição da tortura, prevista</p><p>no artigo 3º da Convenção Europeia.</p><p>O requerente, que sofre de um transtorno psiquiátrico crônico do tipo esquizofrênico,</p><p>foi detido e posteriormente condenado a dez anos de prisão. Porém, o Tribunal de</p><p>Apelação de Assize decidiu que o requerente não tinha responsabilidade criminal,</p><p>ou seja, não podia ser responsabilizado criminalmente pelos seus atos.</p><p>183Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>O requerente alegou que não havia recebido tratamento adequado entre 2005</p><p>e 2009, embora seu transtorno mental exigisse tratamento próprio em hospital</p><p>psiquiátrico. Ele argumentou, ainda, que seu retorno à prisão, cada vez que sua</p><p>condição melhorava, equivalia a um tratamento desumano e degradante.</p><p>A Corte considerou que houve violação do artigo 3º (proibição de tratamento</p><p>desumano ou degradante) da Convenção, considerando que a detenção contínua</p><p>do requerente por um período de quatro anos tornou mais difícil o fornecimento da</p><p>assistência médica que sua condição exigia. Além disso, o Tribunal considerou que a</p><p>prática o havia submetido a privações que excediam o inevitável nível de sofrimento</p><p>inerente à detenção.</p><p>A Corte também observou que o tratamento alternado do demandante (na</p><p>prisão e em uma instituição psiquiátrica), somado ao seu período de detenção na</p><p>prisão, claramente impediu a estabilização de sua condição. Isso demonstrou que</p><p>o requerente era inapto para ser detido, sob o ponto de vista do artigo 3º da</p><p>Convenção.</p><p>Além disso, a Corte observou que as condições físicas de detenção na unidade</p><p>psiquiátrica da prisão, onde o requerente foi mantido em várias ocasiões, foram</p><p>descritas pelas próprias autoridades nacionais como humilhantes e só poderiam</p><p>ter exacerbado seus sentimentos de angústia, ansiedade e medo.</p><p>2.2.3. Direito à liberdade e à segurança (Artigo 5º)</p><p>O caso L.B. vs. Bélgica, de 2012, apresenta a violação do direito à liberdade e à</p><p>segurança, previsto no artigo 5º da Convenção Europeia.</p><p>Esse caso diz respeito à detenção praticamente contínua, entre 2004 e 2011, de um</p><p>homem com transtorno mental. O demandante foi mantido em alas psiquiátricas</p><p>de duas prisões, apesar da insistência das autoridades na necessidade de colocação</p><p>em uma estrutura adaptada à sua patologia.</p><p>O recorrente queixou-se principalmente de que a instituição onde estava internado</p><p>não estava adaptada à situação de pessoas com transtornos mentais.</p><p>A Corte considerou que houve violação do artigo 5º, § 1º, (direito à liberdade e</p><p>segurança) da Convenção. A decisão afirmou que as condições da detenção foram</p><p>incompatíveis com o propósito desta, visto que o demandante foi mantido por</p><p>sete anos em uma instituição prisional, apesar de todos os médicos, os pareceres</p><p>dos assistentes psiquiátricos e sociais, e as autoridades competentes concordarem</p><p>que o local era mal adaptado à sua condição e readaptação.</p><p>184Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>O Tribunal enfatizou, em particular, que a permanência em ala psiquiátrica deveria</p><p>ter sido temporária, ocorrendo somente durante o período em que as autoridades</p><p>procuravam uma instituição que melhor se adaptasse à condição e readaptação</p><p>do requerente. De fato, uma internação foi sugerida pelas autoridades já em 2005.</p><p>Além disso, a Corte concluiu que o local de detenção era inapropriado e notou, em</p><p>particular, que os cuidados terapêuticos do requerente eram muito limitados na</p><p>prisão.</p><p>2.2.4. Direito a um recurso efetivo (Artigo 13)</p><p>O caso W.D. vs. Bélgica, de 2016, apresenta a violação do direito a um recurso</p><p>efetivo, previsto no artigo 13 da Convenção Europeia.</p><p>Esse</p><p>caso diz respeito a um agressor sexual que sofria de transtornos mentais e</p><p>estava detido indefinidamente em uma ala psiquiátrica da prisão. O requerente</p><p>queixou-se de ter estado detido em ambiente prisional durante mais de nove anos,</p><p>sem qualquer tratamento adequado ao seu estado mental ou qualquer perspectiva</p><p>realista de reintegração na sociedade. O demandante também reclamou que sua</p><p>privação de liberdade e detenção contínua eram ilegais. Por fim, alegou que não</p><p>havia recurso efetivo para reclamar das condições de sua detenção.</p><p>O Tribunal considerou que houve violação do artigo 3º (proibição de tratamento</p><p>desumano ou degradante) da Convenção, uma vez que o requerente foi submetido</p><p>a tratamento degradante por ter estado detido em ambiente prisional por mais</p><p>de nove anos, sem tratamento para seu transtorno mental e sem perspectiva de</p><p>reintegração à sociedade. Essas condições lhe causaram dificuldades e sofrimento</p><p>particularmente agudos, de uma intensidade que excedeu o inevitável nível de</p><p>sofrimento inerente à detenção.</p><p>A Corte também considerou que houve violação do artigo 5º, § 1º, (direito à liberdade</p><p>e segurança) da Convenção, observando que a detenção do requerente, desde 2006,</p><p>em uma instalação inadequada à sua condição havia rompido o vínculo exigido pelo</p><p>artigo 5º, § 1º, alínea “e”, entre a finalidade e as condições práticas da detenção,</p><p>e que o motivo da internação do requerente em ala psiquiátrica prisional foi a falta</p><p>estrutural de alternativas.</p><p>O Tribunal considerou, ainda, que houve uma violação do artigo 5º, § 4º, (direito a</p><p>revisão rápida da legalidade da detenção) e uma violação do artigo 13 (direito</p><p>a um recurso efetivo) da Convenção, em conjunto com o artigo 3º, declarando</p><p>que o sistema belga, tal como estava em vigor na altura dos fatos, não tinha</p><p>proporcionado ao requerente uma solução efetiva na prática relativamente</p><p>às suas queixas à Convenção. Em outras palavras, o sistema não proporcionou</p><p>um recurso capaz de compensar a situação de que era vítima e de impedir a</p><p>continuação das supostas violações.</p><p>185Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>Por fim, constatando que a situação do requerente teve origem em uma deficiência</p><p>estrutural específica do sistema de internação psiquiátrica belga, a Corte, de</p><p>acordo com o artigo 46 (força obrigatória e execução de sentenças) da Convenção,</p><p>considerou que a Bélgica era obrigada a organizar seu sistema para a detenção</p><p>psiquiátrica de infratores de forma que a dignidade dos detidos fosse respeitada.</p><p>2.3. Conclusão</p><p>A partir da análise dos casos apresentados, podemos concluir que a jurisprudência</p><p>internacional sobre os direitos humanos de pessoas com transtorno mental tem</p><p>se desenvolvido no sentido de promover o tratamento dessas pessoas em locais</p><p>adequados para tal. Quando o tratamento ocorre em instalação imprópria ou</p><p>de forma inadequada, o Estado pode até mesmo ter que responder pela vida do</p><p>paciente, caso este venha a falecer. Além disso, as decisões têm responsabilizado</p><p>o Estado por não prover os recursos efetivos para que as pessoas com transtornos</p><p>mentais possam ter acesso a meios de interromper tratamentos degradantes e de</p><p>receber a devida reparação pelas violações ocorridas. Por fim, podemos notar que</p><p>as decisões dos órgãos de direitos humanos exigem dos Estados que reparem as</p><p>vítimas por violações à sua integridade física e pessoal.</p><p>186Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>Referências</p><p>A história dos direitos humanos. Entrevistada: Marília Lofrano. Entrevistadora:</p><p>Bárbara Correia Florêncio Silva. São Paulo: Instituto Mattos Filho, 08 fev 2021.</p><p>Podcast. Disponível em: <https://www.politize.com.br/equidade/blogpost/historia-</p><p>dos-direitos-humanos/>. Acesso em: 20 out. 2020.</p><p>ADORNO, Roberto. Human Dignity and Human Rights. In: TEN HAVE, H./ GORDJIN, B.</p><p>(Eds). Handbook of Global Bioetics. Dordrecht: Springer, 2014. p. 45-57.</p><p>ALBUQUERQUE, Aline; BARROSO, Aléssia. Curso de Direitos Humanos. 2 ed. Rio de</p><p>Janeiro: Lumen Juris, 2021.</p><p>ALBUQUERQUE, Aline. Capacidade Jurídica e Direitos Humanos. 2ª ed. Rio de</p><p>Janeiro: Lumen Juris, 2021.</p><p>ALBUQUERQUE, Aline. Direito à Saúde: conteúdo, essencialidade e monitoramento.</p><p>Revista CEJ, Brasília, Ano XIV, n. 48, p. 92-100, jan./mar. 2010. Disponível em: https://</p><p>www.corteidh.or.cr/tablas/r24876.pdf. Acesso em: 16 nov. 2022.</p><p>ALBUQUERQUE, Aline. Direitos Humanos dos Pacientes. Curitiba: Juruá, 2016.</p><p>ALBUQUERQUE, Aline; Eler, Kalline. Doação Compartilhada de Oócitos no Brasil:</p><p>Reflexão Bioética à Luz do Conceito de Vulnerabilidade e dos Direitos Humanos dos</p><p>Pacientes. Revista Direitos e Garantias Fundamentais, Vitória, v. 21, n. 2, p. 109-130,</p><p>maio/ago. 2020. Disponível em: https://sisbib.emnuvens.com.br/direitosegarantias/</p><p>article/view/1171/552. Acesso em: 2 nov. 2022.</p><p>ALMEIDA, Silvio Luiz de. Racismo Estrutural. São Paulo: Editora Polen, 2019.</p><p>ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofando: introdução à filosofia. 2. ed. São</p><p>Paulo: Moderna, 1993.</p><p>ASANBE, Comfort, GABA, Ayorkor, YANG, Jeea. Mental health is a human right. APA-</p><p>UN representatives highlight mental health’s important place in the UN’s Universal</p><p>Declaration of Human Rights. American Psychological Association, 2018.</p><p>Disponível em: https://www.apa.org/international/pi/2018/12/mental-health-rights.</p><p>Acesso em: 2 nov. 2022.</p><p>ASSEMBLEIA GERAL DAS NAÇÕES UNIDAS (1966). Pacto Internacional sobre os</p><p>Direitos Civis e Políticos. Nova Iorque. Disponível em: http://www.cne.pt/ sites/</p><p>default/files/dl/2_pacto_direitos_civis_politicos.pdf Acesso em: 24 out. 2022.</p><p>BIGOTO, Benedito Marcos. A Participação da Burguesia Francesa nas Revoluções e</p><p>Movimentos Sociais Contemporâneos. Revista Científica UNAR. Araras (SP), v.15, n.2,</p><p>https://www.politize.com.br/equidade/blogpost/historia-dos-direitos-humanos/</p><p>https://www.politize.com.br/equidade/blogpost/historia-dos-direitos-humanos/</p><p>https://www.corteidh.or.cr/tablas/r24876.pdf</p><p>https://www.corteidh.or.cr/tablas/r24876.pdf</p><p>https://sisbib.emnuvens.com.br/direitosegarantias/article/view/1171/552</p><p>https://sisbib.emnuvens.com.br/direitosegarantias/article/view/1171/552</p><p>https://www.apa.org/international/pi/2018/12/mental-health-rights</p><p>http://www.cne.pt/%20sites/default/files/dl/2_pacto_direitos_civis_politicos.pdf</p><p>http://www.cne.pt/%20sites/default/files/dl/2_pacto_direitos_civis_politicos.pdf</p><p>187Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>p.67-85. 2017. Disponível em: <https://web.archive.org/web/20190712172016id_/</p><p>http://revistaunar.com.br:80/cientifica/documentos/vol15_n2_2017/04_A_</p><p>PARTICIPACAO_DA_BURGUESIA.pdf>. Acesso em: 24 out. 2022.</p><p>BOBBIO, Norberto. A Era dos Direitos. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.</p><p>BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível</p><p>em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm.</p><p>Acesso em: 20 out. 2022.</p><p>BRASIL. Lei nº 10.216, de 6 de abril de 2001. Disponível em: http://www.planalto.</p><p>gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10216.htm. Acesso em: 2 nov. 2022.</p><p>Brasil. Ministério da Saúde. Direito é qualidade: kit de ferramentas de avaliação</p><p>e melhoria da qualidade e dos direitos humanos em serviços de saúde mental</p><p>e de assistência social. Brasília: Ministério da Saúde, 2015. Disponível em:</p><p>https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/70927/9788533423282_por.</p><p>pdf;jsessionid=DC0BD6A7EDB7F2204C557903A17B7D14?sequence=53. Acesso em:</p><p>25 nov. 2022.</p><p>BRASILEIS, Alexandre. Direito Administrativo de Trânsito. Vitória: Clube de</p><p>Autores, 2021.</p><p>CAMERON, Erinn C.; HEMINGWAY, Samantha L.; CUNNINGHAM, Fiona J.; JACQUIN,</p><p>Kristine  M. Global Crises: Gendered Vulnerabilities of  Structural Inequality,</p><p>Environmental Performance, and Modern Slavery. Human Arenas, Califórnia, v. 4, p.</p><p>391- 412, mar. 2021. Disponível em: https://link.springer.com/content/pdf/10.1007/</p><p>s42087-020-00154-2.pdf. Acesso em: 2 nov. 2022. Doi: doi.org/10.1007/s42087-020-</p><p>00154-2</p><p>CANDIDO, Mariluci; VENTURA, Carla; FUREGATO, Antonia; SANTOS, Jair; CANDIDO,</p><p>Marco Antonio. Saúde mental e direitos humanos: instrumentos internacionais para</p><p>garantia de direitos das pessoas com transtornos mentais e/ou deficiência. Revista</p><p>Des., São Paulo, n. 56, p. 198-230, jan-jun 2020. Disponível em: https://revistades.</p><p>jur.puc-rio.br/index.php/revistades/article/view/925/585. Acesso em: 25 nov. 2022.</p><p>COMISSÃO INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. Violencia y discriminación</p><p>contra mujeres, niñas y adolescentes, 2019. Disponível em: https://www.oas.org/</p><p>es/cidh/informes/pdfs/ViolenciaMujeresNNA.pdf. Acesso em: 16 jun. 2023..</p><p>COMISSÃO NACIONAL DE PROMOÇÃO DOS DIREITOS E PROTEÇÃO DAS CRIANÇAS</p><p>E JOVENS (CNPDPCJ). Manual de Procedimentos – Colaborar Ativamente na</p><p>Prevenção e Eliminação da Mutilação Genital Feminina. Lisboa: dez 2020. Disponível</p><p>em: https://popdesenvolvimento.org/images/noticias/2021/Colaborar-Ativamente-</p><p>Prevencao-Eliminacao-Mutilacao-Genital-Feminina-Manual-Procedimentos.pdf</p><p>Acesso em: 2 nov. 2022.</p><p>https://web.archive.org/web/20190712172016id_/http</p><p>https://web.archive.org/web/20190712172016id_/http</p><p>http://revistaunar.com.br:80/cientifica/documentos/vol15_n2_2017/04_A_PARTICIPACAO_DA_BURGUESIA.pdf</p><p>http://revistaunar.com.br:80/cientifica/documentos/vol15_n2_2017/04_A_PARTICIPACAO_DA_BURGUESIA.pdf</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10216.htm</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10216.htm</p><p>https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/70927/9788533423282_por.pdf;jsessionid=DC0BD6A7EDB7F2204C557903A17B7D14?sequence=53</p><p>https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/70927/9788533423282_por.pdf;jsessionid=DC0BD6A7EDB7F2204C557903A17B7D14?sequence=53</p><p>https://link.springer.com/content/pdf/10.1007/s42087-020-00154-2.pdf</p><p>https://link.springer.com/content/pdf/10.1007/s42087-020-00154-2.pdf</p><p>http://doi.org/10.1007/s42087-020-00154-2</p><p>http://doi.org/10.1007/s42087-020-00154-2</p><p>https://revistades.jur.puc-rio.br/index.php/revistades/article/view/925/585</p><p>https://revistades.jur.puc-rio.br/index.php/revistades/article/view/925/585</p><p>https://www.oas.org/es/cidh/informes/pdfs/ViolenciaMujeresNNA.pdf</p><p>https://www.oas.org/es/cidh/informes/pdfs/ViolenciaMujeresNNA.pdf</p><p>https://popdesenvolvimento.org/images/noticias/2021/Colaborar-Ativamente-Prevencao-Eliminacao-Mutilacao-Genital-Feminina-Manual-Procedimentos.pdf</p><p>https://popdesenvolvimento.org/images/noticias/2021/Colaborar-Ativamente-Prevencao-Eliminacao-Mutilacao-Genital-Feminina-Manual-Procedimentos.pdf</p><p>188Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>COMITÊ SOBRE OS DIREITOS ECONÔMICOS, SOCIAIS E CULTURAIS DA ONU.</p><p>Comentário geral nº 3: o papel dos planos nacionais de desenvolvimento na</p><p>realização dos direitos econômicos, sociais e culturais. 1990. Disponível em: https://</p><p>www.refworld.org/docid/4538838d0.html. Acesso em: 17 mar. 2023.</p><p>COMITÊ SOBRE OS DIREITOS ECONÔMICOS, SOCIAIS E CULTURAIS DA ONU.</p><p>Comentário geral nº 14: o direito ao mais alto padrão de saúde. 2000. Disponível</p><p>em: https://www.refworld.org/docid/4538838d0.html. Acesso em: 17 mar. 2023.</p><p>COMMITTEE ON ECONOMIC, SOCIAL AND CULTURAL RIGHTS (CESCR). General</p><p>comment No. 22 (2016) on the right to sexual and reproductive health (article 12</p><p>of the International Covenant on Economic, Social and Cultural Rights). 2 mai. 2016.</p><p>Disponível em: https://documents-dds-ny.un.org/doc/UNDOC/GEN/G16/089/32/</p><p>PDF/G1608932.pdf?OpenElement. Acesso em: 2 nov. 2022.</p><p>COMMITTEE ON THE ELIMINATION OF DISCRIMINATION AGAINST WOMEN;</p><p>Committee on the Rights of the Child. Joint general recommendation No.</p><p>31 of the Committee on the Elimination of Discrimination against Women/</p><p>general comment No. 18 of the Committee on the Rights of the Child on</p><p>harmful practices. CEDAW/C/GC/31-CRC/C/GC/18. 2014. Disponível em:</p><p>https://tbinternet.ohchr.org/_layouts/15/treatybodyexternal/Download.</p><p>aspx?symbolno=CEDAW%2fC%2fGC%2f31%2fCRC%2fC%2fGC%2f18&Lang=en</p><p>Acesso em: 3 nov. 2022.</p><p>COMMITTEE ON CIVIL AND POLITICAL RIGHTS. Fact Sheet No.14, Contemporary</p><p>Forms of Slavery. Disponível em: https://www.ohchr.org/sites/default/files/</p><p>Documents/Publications/FactSheet14en.pdf Acesso em: 3 nov. 2022.</p><p>CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Política Antimanicomial do CNJ atende a</p><p>pessoas em todo o ciclo penal [online]. Disponível em: https://www.cnj.jus.br/</p><p>politica-antimanicomial-do-cnj-atende-a-pessoas-em-todo-o-ciclo-penal/. Acesso</p><p>em: 22 mar. 2023.</p><p>CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Resolução n. 487, de 15 de fevereiro de 2023.</p><p>Dispõe sobre a regulamentação do uso de inteligência artificial no Poder Judiciário</p><p>e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 17 fev. 2023. Seção</p><p>1, p. 1. Disponível em: https://www.cnj.jus.br/atos-normativos/rn-resolucao/</p><p>resolucao-487-15022023/. Acesso em: 22 mar. 2023.</p><p>CONVENÇÃO AMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. Organização dos Estados</p><p>Americanos. 1969. Disponível em: https://www.cidh.oas.org/basicos/portugues/c.</p><p>convencao_americana.htm. Acesso em: 29 out. 2022.</p><p>CONVENTION ON THE ELIMINATION OF ALL FORMS OF DISCRIMINATION AGAINST</p><p>WOMEN. 1979. Disponível em: https://www.ohchr.org/en/instruments-mechanisms/</p><p>instruments/convention-elimination-all-forms-discrimination-against-women.</p><p>Acesso em: 2 nov. 2022.</p><p>https://www.refworld.org/docid/4538838d0.html</p><p>https://www.refworld.org/docid/4538838d0.html</p><p>https://www.refworld.org/docid/4538838d0.html</p><p>https://documents-dds-ny.un.org/doc/UNDOC/GEN/G16/089/32/PDF/G1608932.pdf?OpenElement</p><p>https://tbinternet.ohchr.org/_layouts/15/treatybodyexternal/Download.aspx?symbolno=CEDAW%2fC%2fGC%2f31%2fCRC%2fC%2fGC%2f18&Lang=en</p><p>https://tbinternet.ohchr.org/_layouts/15/treatybodyexternal/Download.aspx?symbolno=CEDAW%2fC%2fGC%2f31%2fCRC%2fC%2fGC%2f18&Lang=en</p><p>https://www.ohchr.org/sites/default/files/Documents/Publications/FactSheet14en.pdf</p><p>https://www.ohchr.org/sites/default/files/Documents/Publications/FactSheet14en.pdf</p><p>https://www.cnj.jus.br/politica-antimanicomial-do-cnj-atende-a-pessoas-em-todo-o-ciclo-penal/</p><p>https://www.cnj.jus.br/politica-antimanicomial-do-cnj-atende-a-pessoas-em-todo-o-ciclo-penal/</p><p>https://www.cnj.jus.br/atos-normativos/rn-resolucao/resolucao-487-15022023/</p><p>https://www.cnj.jus.br/atos-normativos/rn-resolucao/resolucao-487-15022023/</p><p>https://www.cidh.oas.org/basicos/portugues/c.convencao_americana.htm</p><p>https://www.cidh.oas.org/basicos/portugues/c.convencao_americana.htm</p><p>https://www.ohchr.org/en/instruments-mechanisms/instruments/convention-elimination-all-forms-discrimination-against-women</p><p>https://www.ohchr.org/en/instruments-mechanisms/instruments/convention-elimination-all-forms-discrimination-against-women</p><p>189Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>CORTE EUROPEIA DE DIREITOS HUMANOS. Case of Aggerholm v. Denmark.</p><p>Application no. 24592/94. Judgement of 15 september 2020 (in the main proceedings</p><p>and just satisfaction). Disponível em https://hudoc.echr.coe.int/fre?i=001-204602.</p><p>Acesso em: 24 mar. 2023.</p><p>CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. Dacosta Cardogan vs.</p><p>Barbados. Sentencia de 24 de septiembre de 2009 (Excepciones Preliminares,</p><p>Fondo, Reparaciones Y Costas). Disponível em: https://www.corteidh.or.cr/docs/</p><p>casos/articulos/seriec_204_esp.pdf. Acesso em: 2 nov. 2022.</p><p>CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. Furlan e Familiares vs.</p><p>Argentina. Sentença de 31 de agosto de 2012. (Exceções Preliminares, Mérito,</p><p>Reparações e Custas). Disponível em: https://www.cnj.jus.br/wp-content/</p><p>uploads/2016/04/3aede153727d39a2169ea252db2c9349.pdf . Acesso em: 2 nov.</p><p>2022.</p><p>CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. Guachalá Chimbo e Outros</p><p>vs. Ecuador. Sentencia de 26 de marzo de 2021 (Fondo, Reparaciones Y Costas).</p><p>Disponível em: https://www.corteidh.or.cr/docs/casos/articulos/seriec_423_esp.pdf.</p><p>Acesso em: 2 nov. 2022.</p><p>CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. Guevara Díaz vs. Costa Rica.</p><p>Sentencia de 22 de junio de 2022 (Fondo, Reparaciones Y Costas). Disponível em:</p><p>https://www.corteidh.or.cr/docs/casos/articulos/seriec_453_esp.pdf. Acesso em: 2</p><p>nov. 2022.</p><p>CORTE INTERAMERICANA</p><p>DE DERECHOS HUMANOS. Resolución de 21 de</p><p>septiembre de 2009. Caso Ximenes Lopes vs. Brasil. Supervisión de Cumplimiento</p><p>de Sentencia. Disponível em: https://www.corteidh.or.cr/docs/supervisiones/</p><p>ximenes_21_09_09.pdf. Acesso em: 27 nov. 2022.</p><p>CORTE INTERAMERICANA DE DERECHOS HUMANOS. Resolución de 5 de abril de 2022.</p><p>Caso Ximenes Lopes vs. Brasil. Supervisión de Cumplimiento de Sentencia. Disponível</p><p>em: https://www.corteidh.or.cr/docs/supervisiones/ximeneslopes_05_04_22_spa.</p><p>pdf. Acesso em: 27 nov. 2022.</p><p>CORTE INTERAMERICANA de DIREITOS HUMANOS. Caso Ximenes Lopes vs. Brasil.</p><p>Sentença de 4 de julho de 2006 (Mérito, Reparações e Custas). Disponível em:</p><p>https://www.Corteidh.or.cr/docs/casos/articulos/seriec_149_por.pdf. Acesso em: 31</p><p>out. 2022.</p><p>CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. O que é a Corte IDH? Corte</p><p>Interamericana de Direitos Humanos, 2022. Disponível em: <https://www.corteidh.</p><p>or.cr/que_es_la_corte.cfm?lang=pt>. Acesso em: 17 out. 2022.</p><p>https://hudoc.echr.coe.int/fre?i=001-204602</p><p>https://www.corteidh.or.cr/docs/casos/articulos/seriec_204_esp.pdf</p><p>https://www.corteidh.or.cr/docs/casos/articulos/seriec_204_esp.pdf</p><p>https://www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/2016/04/3aede153727d39a2169ea252db2c9349.pdf</p><p>https://www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/2016/04/3aede153727d39a2169ea252db2c9349.pdf</p><p>https://www.corteidh.or.cr/docs/casos/articulos/seriec_423_esp.pdf</p><p>https://www.corteidh.or.cr/docs/casos/articulos/seriec_453_esp.pdf</p><p>https://www.corteidh.or.cr/docs/supervisiones/ximenes_21_09_09.pdf</p><p>https://www.corteidh.or.cr/docs/supervisiones/ximenes_21_09_09.pdf</p><p>https://www.corteidh.or.cr/docs/supervisiones/ximeneslopes_05_04_22_spa.pdf</p><p>https://www.corteidh.or.cr/docs/supervisiones/ximeneslopes_05_04_22_spa.pdf</p><p>https://www.corteidh.or.cr/docs/casos/articulos/seriec_149_por.pdf</p><p>https://www.corteidh.or.cr/que_es_la_corte.cfm?lang=pt</p><p>https://www.corteidh.or.cr/que_es_la_corte.cfm?lang=pt</p><p>190Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>DE SCHUTTER, Olivier. International Human Rights Law. Cambridge: Cambridge,</p><p>2010.</p><p>DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS. Disponível em: http://ohchr.</p><p>org/EN/IDHR/Documents/UDHR_Translations/por.pdf. Acesso em: 27 out. 2022.</p><p>DIAS, Sabrina Lobato; PACHECO, Adriana Oliveira. Marcas do Parto: as consequências</p><p>psicológicas da violência obstétrica. Revista Arquivos Científicos (IMMES). Macapá,</p><p>v.3, n.1, p. 04-13, 2020. Disponível em: https://arqcientificosimmes.emnuvens.com.</p><p>br/abi/article/view/232/115. Acesso em: 2 nov. 2022. ISSN: 2595-4407</p><p>EUROPEAN COURT OF HUMAN RIGHTS. Convenção Europeia dos Direitos</p><p>Humanos. Disponível em: https://www.echr.coe.int/documents/convention_por.</p><p>pdf. Acesso em: 27 nov. 2022.</p><p>EUROPEAN COURT OF HUMAN RIGHTS. Factsheet – Detention and mental health.</p><p>Disponível em: https://www.echr.coe.int/Documents/FS_Detention_mental_health_</p><p>ENG.pdf. Acesso em: 6 nov. 2022.</p><p>EUROPEAN COURT OF HUMAN RIGHTS. Factsheet – Health. Disponível em: https://</p><p>www.echr.coe.int/Documents/FS_Health_ENG.pdf. Acesso em: 6 nov. 2022.</p><p>EUROPEAN COURT OF HUMAN RIGHTS. Factsheet – Persons with disabilities and</p><p>the ECHR. Disponível em: https://www.echr.coe.int/Documents/FS_Disabled_ENG.</p><p>pdf. Acesso em: 6 nov. 2022.</p><p>HUNT, Lynn. A Invenção dos Direitos Humanos. São Paulo: Companhia das Letras,</p><p>2009.</p><p>KRISTIANSEN, Olga. Undocumented immigrants and the experiences of</p><p>Norwegian general practitioners with this group of patients. Dissertação</p><p>(Mestrado) - Institute for Health Management and Health Economics, Universidade</p><p>de Oslo. Oslo, 2008. Disponível em: http://urn.nb.no/URN:NBN:no-22814. Acesso</p><p>em: 3 nov. 2022.</p><p>LIDDELL, Belinda; NICKERSON, Angela; BRYANT, Richard A. Clinical Science and</p><p>Torture Survivors’ Rights to Rehabilitation. The Lancet: Psychiatry. v. 5, n. 2,  p.</p><p>101-103. Out. 2017. Disponível em: https://www.thelancet.com/journals/lanpsy/</p><p>article/PIIS2215-0366(17)30332-2/fulltext . Acesso em: 3 nov. 2022. DOI: https://doi.</p><p>org/10.1016/S2215-0366(17)30332-2.</p><p>MAHOMED, Faraaz; STEIN, Michael Ashley; PATEL, Vikram. Involuntary mental health</p><p>treatment in the era of the United Nations Convention on the Rights of Persons</p><p>with Disabilities.  PLoS Med, n. 15(10), 2018. Disponível em: https://journals.plos.</p><p>org/plosmedicine/article?id=10.1371/journal.pmed.1002679#sec002. Acesso em: 25</p><p>nov. 2022.</p><p>http://ohchr.org/EN/IDHR/Documents/UDHR_Translations/por.pdf</p><p>http://ohchr.org/EN/IDHR/Documents/UDHR_Translations/por.pdf</p><p>https://arqcientificosimmes.emnuvens.com.br/abi/article/view/232/115</p><p>https://arqcientificosimmes.emnuvens.com.br/abi/article/view/232/115</p><p>https://www.echr.coe.int/documents/convention_por.pdf</p><p>https://www.echr.coe.int/documents/convention_por.pdf</p><p>https://www.echr.coe.int/Documents/FS_Detention_mental_health_ENG.pdf</p><p>https://www.echr.coe.int/Documents/FS_Detention_mental_health_ENG.pdf</p><p>https://www.echr.coe.int/Documents/FS_Health_ENG.pdf</p><p>https://www.echr.coe.int/Documents/FS_Health_ENG.pdf</p><p>https://www.echr.coe.int/Documents/FS_Disabled_ENG.pdf</p><p>https://www.echr.coe.int/Documents/FS_Disabled_ENG.pdf</p><p>http://urn.nb.no/URN:NBN:no-22814</p><p>https://www.thelancet.com/journals/lanpsy/article/PIIS2215-0366(17)30332-2/fulltext</p><p>https://www.thelancet.com/journals/lanpsy/article/PIIS2215-0366(17)30332-2/fulltext</p><p>https://doi.org/10.1016/S2215-0366(17)30332-2</p><p>https://doi.org/10.1016/S2215-0366(17)30332-2</p><p>191Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>MENEZES, Ana Raquel. Statelessness: Theory, Analysis, and Good Practices from</p><p>Brasil. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2021.</p><p>Mental health is a human right. United Nations Human Rights. Office of the High</p><p>Commissioner, 2018. Disponível em: https://www.ohchr.org/en/stories/2018/05/</p><p>mental-health-human-right. Acesso em: 2 nov. 2022.</p><p>MORAES, Isabela. Burguesia: quem é e qual sua origem? Politize, 2019. Disponível</p><p>em: <https://www.politize.com.br/burguesia/#:~:text=Trata%2Dse%2C%20na%20</p><p>pr%C3%A1tica%2C,no%20fim%20da%20Idade%20M%C3%A9dia> Acesso em: 24</p><p>out. 2022.</p><p>NETTO, José Paulo; BRAZ, Marcelo. Economia política: uma introdução crítica.</p><p>Volume 1. 8. ed. São Paulo: Cortez, 2006.</p><p>ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS BRASIL. As Nações unidas e os direitos</p><p>humanos. Disponível em: https://nacoesunidas.org/direitoshumanos/sistemaonu/.</p><p>Acesso em: 29 out. 2022.</p><p>ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS. Convenção Americana de Direitos</p><p>Humanos, 1969. Disponível em: https://www.cidh.oas.org/basicos/portugues/c.</p><p>convencao_americana.htm. Acesso em: 29 out. 2022.</p><p>ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS. Sistema Africano. 2022. Disponível</p><p>em: https://www.oas.org/pt/cidh/expressao/jurisprudencia/sistema_africano.asp.</p><p>Acesso em: 1º nov. 2022.</p><p>ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL PARA AS MIGRAÇÕES. Migración internacional,</p><p>salud y derechos humanos. 2013. Genebra: Organização Geral para as Migrações,</p><p>2013. Disponível em: https://www.ohchr.org/sites/default/files/Documents/Issues/</p><p>Migration/WHO_IOM_UNOHCHRPublication_sp.pdf. Acesso em: 2 nov. 2022.</p><p>ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Direitos humanos e saúde. [S.l.]: OMS,</p><p>2022. Disponível em: https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/human-</p><p>rights-and-health#:~:text=The%20right%20to%20health%2C%20as,consensual%20</p><p>medical%20treatment%20and%20experimentation. Acesso em: 17 mar. 2023.</p><p>ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. 2021. Nutrição. Disponível em: https://www.</p><p>who.int/health-topics/nutrition#tab=tab_1. Acesso em: 17 mar. 2023.</p><p>OS TREZE ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA. Declaração de Independência dos</p><p>Estados Unidos, 04 de julho de 1776. Disponível em: https://www.archives.gov/</p><p>founding-docs/declaration-transcript. Acesso em: 20 out. 2022.</p><p>PACTO INTERNACIONAL SOBRE OS DIREITOS ECONÔMICOS, SOCIAIS E CULTURAIS.</p><p>1966. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/</p><p>https://www.ohchr.org/en/stories/2018/05/mental-health-human-right</p><p>https://www.ohchr.org/en/stories/2018/05/mental-health-human-right</p><p>https://www.politize.com.br/burguesia/#:~:text=Trata%2Dse%2C%20na%20pr%C3%A1tica%2C,no%20fim%20da%20Idade%20M%C3%A9dia</p><p>https://nacoesunidas.org/direitoshumanos/sistemaonu/</p><p>https://www.cidh.oas.org/basicos/portugues/c.convencao_americana.htm</p><p>https://www.cidh.oas.org/basicos/portugues/c.convencao_americana.htm</p><p>https://www.oas.org/pt/cidh/expressao/jurisprudencia/sistema_africano.asp</p><p>https://www.ohchr.org/sites/default/files/Documents/Issues/Migration/WHO_IOM_UNOHCHRPublication_sp.pdf</p><p>https://www.ohchr.org/sites/default/files/Documents/Issues/Migration/WHO_IOM_UNOHCHRPublication_sp.pdf</p><p>https://www.archives.gov/founding-docs/declaration-transcript</p><p>https://www.archives.gov/founding-docs/declaration-transcript</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/d0591.htm</p><p>192Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>d0591.htm Acesso em: 4 nov. 2022.</p><p>PELOS DIREITOS DOS PACIENTES SOB CUIDADOS EM SAÚDES NA SAÚDE. Proqualis,</p><p>s.d. Disponível em: https://proqualis.fiocruz.br/notciaespecial/pelos-direitos-</p><p>dos-pacientes-na-sa%C3%BAde#:~:text=Os%20direitos%20humanos%20dos%20</p><p>pacientes,promov%C3%AA%2Dlos%20no%20encontro%20cl%C3%ADnico. Acesso</p><p>em: 2 nov. 2022.</p><p>PERES, Luciana; ALBUQUERQUE, Aline. Sistema Interamericano de Direitos</p><p>Humanos: Teoria e Prática. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2019.</p><p>PLATAFORMA REVISÃO PERIÓDICA UNIVERSAL BR. Recomendações. 2022.</p><p>Disponível em: https://plataformarpu.org.br/recomendacoes?text=&category</p><p>=0&code=&cycle=1&country=0. Acesso: 29 out. 2022.</p><p>PRINCÍPIOS DE MAASTRICHT sobre las Obligaciones Extraterritoriales de los Estados</p><p>en el Área de los Derechos Econômicos, Sociales e Culturales. Heidelberg: FIAN, 2013.</p><p>PROCURADORIA FEDERAL DOS DIREITOS DO CIDADÃO. Apresentação. Sistemas de</p><p>Proteção dos Direitos Humanos. s.d. Disponível em https://midia.mpf.mp.br/pfdc/</p><p>hotsites/sistema_protecao_direitos_humanos/index.html. Acesso em: 17 out. 2022.</p><p>PROCURADORIA FEDERAL DOS DIREITOS HUMANOS. Direito à saúde mental.</p><p>Cartilha. Brasília: Ministério Público Federal, 2012. Disponível em: http://www.cfess.</p><p>org.br/arquivos/cartilha-saude-mental-2012.pdf. Acesso em: 1º jun. 2018.</p><p>PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO. Provedoria dos</p><p>Direitos Humanos e Justiça. Compilação de Instrumentos Internacionais de</p><p>Direitos Humanos. s.d. 1. ed. Disponível em: https://acnudh.org/wp-content/</p><p>uploads/2011/06/Compilation-of-HR-instruments-and-general-comments-2009-</p><p>PDHJTimor-Leste-portugues.pdf. Acesso em: 4 nov. 2022.</p><p>ROSA, Denise. Estado e Educação Pública. Revista Ibero-Americana de</p><p>Humanidades, Ciências e Educação. São Paulo, v. 8, n. 2, p. 632-646, fev. 2022.</p><p>Disponível em: https://periodicorease.pro.br/rease/article/view/4221. Acesso em:</p><p>24 out. 2022.</p><p>SANTOS. Resenha baseada no livro Racismo Estrutural, de Silvio de Almeida. Revista</p><p>Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 25, n. 6295, 25 set. 2020. Disponível</p><p>em: https://jus.com.br/artigos/85565. Acesso em: 21 mar. 2023.</p><p>SEMINÁRIO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA, XXV., 2017, Ijuí. O caso Ximenes Lopes e os</p><p>reflexos da primeira condenação do Brasil pela Corte Interamericana de Direitos</p><p>Humanos. Rio Grande do Sul: Universidade Regional Unijuí, 2017. 6 p. Disponível em:</p><p>https://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:5xLdT6NiYScJ:https://</p><p>www.publicacoeseventos.unijui.edu.br/index.php/salaoconhecimento/article/</p><p>view/8296/7021&cd=1&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br. Acesso em: 27 nov. 2022.</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/d0591.htm</p><p>https://plataformarpu.org.br/recomendacoes?text=&category=0&code=&cycle=1&country=0</p><p>https://plataformarpu.org.br/recomendacoes?text=&category=0&code=&cycle=1&country=0</p><p>https://midia.mpf.mp.br/pfdc/hotsites/sistema_protecao_direitos_humanos/index.html</p><p>https://midia.mpf.mp.br/pfdc/hotsites/sistema_protecao_direitos_humanos/index.html</p><p>http://www.cfess.org.br/arquivos/cartilha-saude-mental-2012.pdf</p><p>http://www.cfess.org.br/arquivos/cartilha-saude-mental-2012.pdf</p><p>https://acnudh.org/wp-content/uploads/2011/06/Compilation-of-HR-instruments-and-general-comments-2009-PDHJTimor-Leste-portugues.pdf</p><p>https://acnudh.org/wp-content/uploads/2011/06/Compilation-of-HR-instruments-and-general-comments-2009-PDHJTimor-Leste-portugues.pdf</p><p>https://acnudh.org/wp-content/uploads/2011/06/Compilation-of-HR-instruments-and-general-comments-2009-PDHJTimor-Leste-portugues.pdf</p><p>https://periodicorease.pro.br/rease/article/view/4221</p><p>https://jus.com.br/artigos/85565</p><p>https://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:5xLdT6NiYScJ:https://www.publicacoeseventos.unijui.edu.br/index.php/salaoconhecimento/article/view/8296/7021&cd=1&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br</p><p>https://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:5xLdT6NiYScJ:https://www.publicacoeseventos.unijui.edu.br/index.php/salaoconhecimento/article/view/8296/7021&cd=1&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br</p><p>https://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:5xLdT6NiYScJ:https://www.publicacoeseventos.unijui.edu.br/index.php/salaoconhecimento/article/view/8296/7021&cd=1&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br</p><p>193Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>SEN, Amartya. Human Rights and Human Development. In: Human Development</p><p>Report. Nova York: United nations Development Program, 2000. p. 19-26.</p><p>SILVA, Bárbara et al. A história dos direitos humanos. Equidade, 2021. Disponível</p><p>em: ttps://www.politize.com.br/equidade/blogpost/historia-dos-direitos-humanos/.</p><p>Acesso em: 24 out. 2022.</p><p>SILVA, Maiara Macedo; da SILVA, Adriana Ilha; SODRÉ, Francis. Enciclopédia Biosfera,</p><p>Centro Científico Conhecer, Jandaia, v.19, n.39, p. 108-123. Disponível em: https://</p><p>www.conhecer.org.br/enciclop/2022a/direito.pdf. Acesso em: 2 nov. 2022.</p><p>SILVA, Maristela Freitas. Consentimento informado: estratégia para mitigar</p><p>a vulnerabilidade na assistência hospitalar. Revista Bioética, Brasília, v.</p><p>25, n.1, n.p., Jan-Abr.  2017. Disponível em: https://www.scielo.br/j/bioet/a/</p><p>Hh78zqHPjkv8HLKZwKZWhJx/?lang=pt. Acesso em: 2 nov. 2022.</p><p>SLAVERY CONVENTION. 1926. Disponível em: https://www.ohchr.org/en/</p><p>instruments-mechanisms/instruments/slavery-convention. Acesso em: 3 nov. 2022.</p><p>SOPHOCLEOUS, Athina. The Right to Health Equity and How This Could Be Applied to</p><p>Improve Women’s Access to Health Care Services. Bio-Juria, v. 1, n. 2, p. 24-34, 2020.</p><p>Disponível em: https://ejournals.lib.auth.gr/bionomika/article/view/7575/7335.</p><p>Acesso em: 2 nov. 2022.</p><p>TÉLLEZ, María Fernanda. Migration and the Right to Health: HIV/AIDS prevention</p><p>among undocumented Central American migrants in Nuevo León, México.</p><p>Dissertação (Mestrado em Human Rights and Multi-level Governance) - Department</p><p>of Political Science, Law, and International Studies, Università Degli Studi Di Padova.</p><p>Pádua, 2022. Disponível em: https://thesis.unipd.it/bitstream/20.500.12608/30095/1/</p><p>MariaFernanda_ZaragozaTellez%20.pdf. Acesso em: 2 nov. 2022.</p><p>THE RIGHT TO MENTAL HEALTH. United Nations Human Rights. Office of the High</p><p>Commissioner, s.d. Disponível em: https://www.ohchr.org/en/special-procedures/</p><p>sr-health/right-mental-health. Acesso em: 2 nov. 2022.</p><p>UNICEF. O que são direitos humanos? Unicef Brasil. s.d. Disponível em: <https://</p><p>www.unicef.org/brazil/o-que-sao-direitos-humanos>. Acesso em: 20 out. 2022.</p><p>UNITED NATIONS. Assembleia Geral. Resolution 46/119. Principles for the Protection</p><p>of Persons with Mental Illness and the Improvement of Mental Health Care. 17</p><p>dez. 1991. Disponível em: https://www.ohchr.org/en/instruments-mechanisms/</p><p>instruments/principles-protection-persons-mental-illness-and-improvement.</p><p>Acesso em: 2 nov. 2022.</p><p>UNITED NATIONS. Assembleia Geral. Resolution 64/292. The human right to water</p><p>and sanitation. 28 jul. 2010. Disponível em: https://documents-dds-ny.un.org/doc/</p><p>UNDOC/GEN/N09/479/35/PDF/N0947935.pdf?OpenElement . Acesso em: 2 nov. 2022.</p><p>ttps://www.politize.com.br/equidade/blogpost/historia-dos-direitos-humanos/</p><p>https://www.conhecer.org.br/enciclop/2022a/direito.pdf</p><p>https://www.conhecer.org.br/enciclop/2022a/direito.pdf</p><p>https://www.scielo.br/j/bioet/a/Hh78zqHPjkv8HLKZwKZWhJx/?lang=pt</p><p>https://www.scielo.br/j/bioet/a/Hh78zqHPjkv8HLKZwKZWhJx/?lang=pt</p><p>https://www.ohchr.org/en/instruments-mechanisms/instruments/slavery-convention</p><p>https://www.ohchr.org/en/instruments-mechanisms/instruments/slavery-convention</p><p>https://ejournals.lib.auth.gr/bionomika/article/view/7575/7335</p><p>https://thesis.unipd.it/bitstream/20.500.12608/30095/1/MariaFernanda_ZaragozaTellez%20.pdf</p><p>https://thesis.unipd.it/bitstream/20.500.12608/30095/1/MariaFernanda_ZaragozaTellez%20.pdf</p><p>https://www.ohchr.org/en/special-procedures/sr-health/right-mental-health</p><p>https://www.ohchr.org/en/special-procedures/sr-health/right-mental-health</p><p>https://www.unicef.org/brazil/o-que-sao-direitos-humanos</p><p>https://www.unicef.org/brazil/o-que-sao-direitos-humanos</p><p>https://www.ohchr.org/en/instruments-mechanisms/instruments/principles-protection-persons-mental-illness-and-improvement</p><p>https://www.ohchr.org/en/instruments-mechanisms/instruments/principles-protection-persons-mental-illness-and-improvement</p><p>https://documents-dds-ny.un.org/doc/UNDOC/GEN/N09/479/35/PDF/N0947935.pdf?OpenElement</p><p>https://documents-dds-ny.un.org/doc/UNDOC/GEN/N09/479/35/PDF/N0947935.pdf?OpenElement</p><p>194Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>UNITED NATIONS. Call for submissions: Draft Guidelines on Deinstitutionalization,</p><p>including in emergencies Committee on the Rights of Persons with Disabilities, 2022.</p><p>Disponível em: https://www.ohchr.org/en/calls-for-input/2022/call-submissions-</p><p>draft-guidelines-deinstitutionalization-including-emergencies. Acesso em: 27 nov.</p><p>2022.</p><p>UNITED NATIONS. Current and emerging forms of slavery. Report of the Special</p><p>Rapporteur on contemporary forms of slavery, including its causes and consequences.</p><p>A/HRC/42/44. Disponível em: https://documents-dds-ny.un.org/doc/UNDOC/GEN/</p><p>G19/226/64/PDF/G1922664.pdf?OpenElement Acesso em: 2 nov. 2022.</p><p>UNITED NATIONS. General comment No. 1 (2014). Disponível em: https://documents-</p><p>dds-ny.un.org/doc/UNDOC/GEN/G14/031/20/PDF/G1403120.pdf?OpenElement.</p><p>Acesso em: 27 nov. 2022.</p><p>UNITED NATIONS. General comment No. 6 (2018) on equality and nondiscrimination.</p><p>Disponível em: https://documents-dds-ny.un.org/doc/UNDOC/GEN/G18/119/05/</p><p>PDF/G1811905.pdf?OpenElement. Acesso em: 27 nov. 2022.</p><p>UNITED NATIONS. General Recommendations of the Special Rapporteur on</p><p>torture. 2011. Disponível em: https://www.ohchr.org/sites/default/files/Documents/</p><p>Issues/SRTorture/recommendations.pdf. Acesso em: 27 nov. 2022.</p><p>UNITED NATIONS. Mistreatment in healthcare settings: when a carer becomes</p><p>a torturer, 2013. Disponível em: https://www.ohchr.org/en/stories/2013/03/</p><p>mistreatment-healthcare-settings-when-carer-becomes-torturer. Acesso em: 27</p><p>nov. 2022.</p><p>UNITED NATIONS. Principles for the protection of persons with mental illness</p><p>and the improvement of mental health care. 1991. Disponível em: https://</p><p>www.ohchr.org/en/instruments-mechanisms/instruments/principles-protection-</p><p>persons-mental-illness-and-improvement. Acesso em: 25 nov. 2022.</p><p>UNITED NATIONS. Report of the Special Rapporteur on the right of everyone</p><p>to the enjoyment of the highest attainable standard of physical and mental</p><p>health. A/HRC/35/21, 2017. Disponível em: https://documents-dds-ny.un.org/doc/</p><p>UNDOC/GEN/G17/076/04/PDF/G1707604.pdf?OpenElement. Acesso em: 2 nov.</p><p>2022.</p><p>UNITED NATIONS. Report of the Special Rapporteur on torture and other</p><p>cruel, inhuman or degrading treatment or punishment, Juan E. Méndez. A/</p><p>HRC/22/53, 2013. Disponível em: https://documents-dds-ny.un.org/doc/UNDOC/</p><p>GEN/G13/105/77/PDF/G1310577.pdf?OpenElement. Acesso em: 27 nov. 2022.</p><p>UNITED NATIONS. Report of the Committee against Torture. A/64/44, 2009.</p><p>https://www.ohchr.org/en/calls-for-input/2022/call-submissions-draft-guidelines-deinstitutionalization-including-emergencies</p><p>https://www.ohchr.org/en/calls-for-input/2022/call-submissions-draft-guidelines-deinstitutionalization-including-emergencies</p><p>https://documents-dds-ny.un.org/doc/UNDOC/GEN/G19/226/64/PDF/G1922664.pdf?OpenElement</p><p>https://documents-dds-ny.un.org/doc/UNDOC/GEN/G19/226/64/PDF/G1922664.pdf?OpenElement</p><p>https://documents-dds-ny.un.org/doc/UNDOC/GEN/G14/031/20/PDF/G1403120.pdf?OpenElement</p><p>https://documents-dds-ny.un.org/doc/UNDOC/GEN/G14/031/20/PDF/G1403120.pdf?OpenElement</p><p>https://documents-dds-ny.un.org/doc/UNDOC/GEN/G18/119/05/PDF/G1811905.pdf?OpenElement</p><p>https://documents-dds-ny.un.org/doc/UNDOC/GEN/G18/119/05/PDF/G1811905.pdf?OpenElement</p><p>https://www.ohchr.org/sites/default/files/Documents/Issues/SRTorture/recommendations.pdf</p><p>https://www.ohchr.org/sites/default/files/Documents/Issues/SRTorture/recommendations.pdf</p><p>https://www.ohchr.org/en/stories/2013/03/mistreatment-healthcare-settings-when-carer-becomes-torturer</p><p>https://www.ohchr.org/en/stories/2013/03/mistreatment-healthcare-settings-when-carer-becomes-torturer</p><p>https://www.ohchr.org/en/instruments-mechanisms/instruments/principles-protection-persons-mental-illness-and-improvement</p><p>https://www.ohchr.org/en/instruments-mechanisms/instruments/principles-protection-persons-mental-illness-and-improvement</p><p>https://www.ohchr.org/en/instruments-mechanisms/instruments/principles-protection-persons-mental-illness-and-improvement</p><p>https://documents-dds-ny.un.org/doc/UNDOC/GEN/G17/076/04/PDF/G1707604.pdf?OpenElement</p><p>https://documents-dds-ny.un.org/doc/UNDOC/GEN/G17/076/04/PDF/G1707604.pdf?OpenElement</p><p>https://documents-dds-ny.un.org/doc/UNDOC/GEN/G13/105/77/PDF/G1310577.pdf?OpenElement</p><p>https://documents-dds-ny.un.org/doc/UNDOC/GEN/G13/105/77/PDF/G1310577.pdf?OpenElement</p><p>195Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>Disponível em: https://documents-dds-ny.un.org/doc/UNDOC/GEN/G09/441/61/</p><p>PDF/G0944161.pdf?OpenElement. Acesso em: 27 nov. 2022.</p><p>UNITED NATIONS. Report of the Committee on the Rights of Persons with</p><p>Disabilities. A/62/55, 2017. Disponível em: https://documents-dds-ny.un.org/doc/</p><p>UNDOC/GEN/G17/114/97/PDF/G1711497.pdf?OpenElement. Acesso em: 27 nov.</p><p>2022.</p><p>UNITED NATIONS. Report of the Special Rapporteur on the rights of persons</p><p>with disabilities. A/HRC/40/54, 2019. Disponível em: https://documents-dds-ny.</p><p>un.org/doc/UNDOC/GEN/G19/005/03/PDF/G1900503.pdf?OpenElement. Acesso</p><p>em: 27 nov. 2022.</p><p>UNITED NATIONS. Report of the Special Rapporteur on the rights of persons</p><p>with disabilities. A/74/186, 2019. Disponível em: https://documents-dds-ny.un.org/</p><p>doc/UNDOC/GEN/N19/221/53/PDF/N1922153.pdf?OpenElement. Acesso em: 27</p><p>nov. 2022.</p><p>UNITED NATIONS. Report of the Special Rapporteur on the rights of persons</p><p>with disabilities. A/73/161, 2018. Disponível em: https://daccess-ods.un.org/</p><p>tmp/5955864.78710175.html. Acesso em: 27 nov. 2022.</p><p>UNITED NATIONS. Report of the Special Rapporteur on the rights of persons</p><p>with disabilities. A/HRC/37/56, 2017. Disponível em: https://documents-dds-ny.</p><p>un.org/doc/UNDOC/GEN/G17/360/32/PDF/G1736032.pdf?OpenElement. Acesso</p><p>em: 27 nov. 2022.</p><p>UNITED NATIONS. Visit to Togo. Report of the Special Rapporteur on contemporary</p><p>forms of slavery, including its causes and consequences. A/HRC/45/8/Add.1. 2020.</p><p>Disponível em: https://documents-dds-ny.un.org/doc/UNDOC/GEN/G20/202/12/</p><p>PDF/G2020212.pdf?OpenElement. Acesso em: 3 nov. 2022.</p><p>UNITED NATIONS HUMAN RIGHTS OFFICE OF THE HIGH COMMISSIONER. Dignity</p><p>must prevail’ – An appeal to do away with non-consensual psychiatric treatment</p><p>World Mental Health Day, 2015. Disponível em: https://www.ohchr.org/en/</p><p>pressreleases/2015/10/dignity-must-prevail-appeal-do-away-nonconsensual-</p><p>psychiatric-treatment. Acesso em: 25 nov. 2022. https://doi.org/10.1016/S2215-</p><p>0366(17)30332-2.</p><p>UNITED NATIONS HUMAN RIGHTS COUNCIL. E/C.12/2000/4: General Comment</p><p>No. 14 on the highest attainable standard of health (2000), The Committee on</p><p>Economic, Social and Cultural Rights. Ago. 2000. Disponível em: https://www.ohchr.</p><p>org/en/documents/general-comments-and-recommendations/ec1220004-general-</p><p>comment-no-14-highest-attainable. Acesso em: 2 nov. 2022.</p><p>UNITED NATIONS HUMAN RIGHTS COUNCIL. Special Report of the Rapporteur on</p><p>https://documents-dds-ny.un.org/doc/UNDOC/GEN/G09/441/61/PDF/G0944161.pdf?OpenElement</p><p>https://documents-dds-ny.un.org/doc/UNDOC/GEN/G09/441/61/PDF/G0944161.pdf?OpenElement</p><p>https://documents-dds-ny.un.org/doc/UNDOC/GEN/G17/114/97/PDF/G1711497.pdf?OpenElement</p><p>https://documents-dds-ny.un.org/doc/UNDOC/GEN/G17/114/97/PDF/G1711497.pdf?OpenElement</p><p>https://documents-dds-ny.un.org/doc/UNDOC/GEN/G19/005/03/PDF/G1900503.pdf?OpenElement</p><p>https://documents-dds-ny.un.org/doc/UNDOC/GEN/G19/005/03/PDF/G1900503.pdf?OpenElement</p><p>https://documents-dds-ny.un.org/doc/UNDOC/GEN/N19/221/53/PDF/N1922153.pdf?OpenElement</p><p>https://documents-dds-ny.un.org/doc/UNDOC/GEN/N19/221/53/PDF/N1922153.pdf?OpenElement</p><p>https://daccess-ods.un.org/tmp/5955864.78710175.html</p><p>https://daccess-ods.un.org/tmp/5955864.78710175.html</p><p>https://documents-dds-ny.un.org/doc/UNDOC/GEN/G17/360/32/PDF/G1736032.pdf?OpenElement</p><p>https://documents-dds-ny.un.org/doc/UNDOC/GEN/G17/360/32/PDF/G1736032.pdf?OpenElement</p><p>https://documents-dds-ny.un.org/doc/UNDOC/GEN/G20/202/12/PDF/G2020212.pdf?OpenElement</p><p>https://documents-dds-ny.un.org/doc/UNDOC/GEN/G20/202/12/PDF/G2020212.pdf?OpenElement</p><p>https://www.ohchr.org/en/pressreleases/2015/10/dignity-must-prevail-appeal-do-away-nonconsensual-psychiatric-treatment</p><p>https://www.ohchr.org/en/pressreleases/2015/10/dignity-must-prevail-appeal-do-away-nonconsensual-psychiatric-treatment</p><p>https://www.ohchr.org/en/pressreleases/2015/10/dignity-must-prevail-appeal-do-away-nonconsensual-psychiatric-treatment</p><p>https://doi.org/10.1016/S2215-0366(17)30332-2</p><p>https://doi.org/10.1016/S2215-0366(17)30332-2</p><p>https://www.ohchr.org/en/documents/general-comments-and-recommendations/ec1220004-general-comment-no-14-highest-attainable</p><p>https://www.ohchr.org/en/documents/general-comments-and-recommendations/ec1220004-general-comment-no-14-highest-attainable</p><p>https://www.ohchr.org/en/documents/general-comments-and-recommendations/ec1220004-general-comment-no-14-highest-attainable</p><p>196Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>the Right of Everyone to the Enjoyment of the Highest Attainable Standard of</p><p>Physical and Mental Health. A/HRC/41/34. United Nations Human Rights Council.</p><p>Abr. 2019. Disponível em:  https://documents-dds-ny.un.org/doc/UNDOC/GEN/</p><p>G19/105/97/PDF/G1910597.pdf?OpenElement. Acesso em: 2 nov. 2022.</p><p>VICENTINO, Cláudio. História Geral. 2. ed. São Paulo: Scipione, 1992</p><p>VIVAS, Marcelo Dayrell. Direito à saúde mental no Brasil: ficção ou realidade?</p><p>Dissertação (Mestrado em Direito) - Faculdade de Direito da Universidade de</p><p>São Paulo. São Paulo, 2020. Disponível em: https://www.teses.usp.br/teses/</p><p>disponiveis/2/2140/tde-06052021-011750/publico/3330501_Dissertacao_Parcial.</p><p>pdf. Acesso em: 2 nov. 2022.</p><p>VICTORA, C. G.; WAGSTAFF, A.; SCHELLENBERG, J. A.; GWATKIN, D.; CLAESON, M.;</p><p>HABICHT, J. P. (2003). Applying an equity lens to child health and mortality: more</p><p>of the same is not enough. The Lancet, 362(9379), 233-241.</p><p>WORLD HEALTH ORGANIZATION. 25 Questions & Answers on Health and Human Rights.</p><p>Health and Human Rights, Genebra, Publication Series v. 1, jul. 2002. Disponível em:</p><p>https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/42526/9241545690.pdf;jsession</p><p>id=C4338AB83FEDCF9F30F98959D47AF785?sequence=1. Acesso em: 2 nov. 2022.</p><p>ISSN 1684-1700</p><p>WORLD HEALTH ORGANIZATION; United Nations Human Rights Office of the High</p><p>Commissioner. A Human Rights-Based Approach to Health. s.d. Disponível em:</p><p>https://www.ohchr.org/sites/default/files/HRBA_HealthInformationSheet.pdf.</p><p>Acesso em: 4 nov. 2022.</p><p>WORLD HEALTH ORGANIZATION; United Nations Human Rights Office of</p><p>the High Commissioner. Guidance on Mental Health, Human Rights, and</p><p>Legislation. Jun. 2022. Disponível em: https://webcache.googleusercontent.</p><p>com/search?q=cache:Yci5guQFxUsJ:https://www.ohchr.org/sites/default/files/</p><p>documents/issues/health/draftguidance/2022-06-30/WHO_OHCHR_mental_health_</p><p>human_rights_and_the_law.docx&cd=4&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br. Acesso em: 2 nov.</p><p>2022.</p><p>ZUIN, Aparecida. Direito e Segurança Alimentar nas Relações de Produção e Consumo</p><p>Global. Revista Pensamento Jurídico, São Paulo, v. 12, n. 1, p.234-263, jan./jun. 2018.</p><p>Disponível em: https://fadisp.com.br/revista/ojs/index.php/pensamentojuridico/</p><p>article/download/129/170. Acesso em: 2 nov. 2022.</p><p>https://documents-dds-ny.un.org/doc/UNDOC/GEN/G19/105/97/PDF/G1910597.pdf?OpenElement</p><p>https://documents-dds-ny.un.org/doc/UNDOC/GEN/G19/105/97/PDF/G1910597.pdf?OpenElement</p><p>https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/2/2140/tde-06052021-011750/publico/3330501_Dissertacao_Parcial.pdf</p><p>https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/2/2140/tde-06052021-011750/publico/3330501_Dissertacao_Parcial.pdf</p><p>https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/2/2140/tde-06052021-011750/publico/3330501_Dissertacao_Parcial.pdf</p><p>https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/42526/9241545690.pdf;jsessionid=C4338AB83FEDCF9F30F98959D47AF785?sequence=1</p><p>https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/42526/9241545690.pdf;jsessionid=C4338AB83FEDCF9F30F98959D47AF785?sequence=1</p><p>https://www.ohchr.org/sites/default/files/HRBA_HealthInformationSheet.pdf</p><p>https://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:Yci5guQFxUsJ:https://www.ohchr.org/sites/default/files/documents/issues/health/draftguidance/2022-06-30/WHO_OHCHR_mental_health_human_rights_and_the_law.docx&cd=4&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br</p><p>https://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:Yci5guQFxUsJ:https://www.ohchr.org/sites/default/files/documents/issues/health/draftguidance/2022-06-30/WHO_OHCHR_mental_health_human_rights_and_the_law.docx&cd=4&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br</p><p>https://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:Yci5guQFxUsJ:https://www.ohchr.org/sites/default/files/documents/issues/health/draftguidance/2022-06-30/WHO_OHCHR_mental_health_human_rights_and_the_law.docx&cd=4&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br</p><p>https://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:Yci5guQFxUsJ:https://www.ohchr.org/sites/default/files/documents/issues/health/draftguidance/2022-06-30/WHO_OHCHR_mental_health_human_rights_and_the_law.docx&cd=4&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br</p><p>https://fadisp.com.br/revista/ojs/index.php/pensamentojuridico/article/download/129/170</p><p>https://fadisp.com.br/revista/ojs/index.php/pensamentojuridico/article/download/129/170</p><p>197Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>Glossário</p><p>N°: Termo: Definição / significado:</p><p>1</p><p>Fontes De</p><p>Direito</p><p>Internacional</p><p>As normas jurídicas de direito internacional</p><p>são encontradas nas diferentes fontes de</p><p>direito internacional. Alguns exemplos dessas</p><p>fontes são: tratados, direito costumeiro</p><p>internacional, princípios gerais.</p><p>2 Dignidade</p><p>Humana</p><p>Para o Direito Internacional, a dignidade</p><p>humana é o princípio basilar dos Direitos</p><p>Humanos. Seu comando central é o igual</p><p>respeito a todos os seres humanos.</p><p>3 Jurisprudência</p><p>Internacional</p><p>Conjunto das decisões e interpretações dadas</p><p>pelas Cortes Internacionais. A jurisprudência</p><p>internacional também compreende as decisões</p><p>adotadas em comunicações individuais,</p><p>comentários gerais e observações gerais</p><p>elaborados por órgãos integrantes dos Sistemas</p><p>ONU e Regionais de Direitos Humanos.</p><p>4</p><p>Corte</p><p>Interamericana</p><p>de Direitos</p><p>Humanos</p><p>É um dos três tribunais regionais de proteção</p><p>dos direitos humanos. A Corte IDH tem como</p><p>objetivo aplicar e interpretar a Convenção</p><p>Americana e está inserida no Sistema</p><p>Interamericano de Direitos Humanos.</p><p>5 Terceiro Estado</p><p>O Terceiro Estado era a Plebe, que constituía</p><p>a maioria da população francesa (por volta de</p><p>98%), havendo assim cortesãos, burgueses e</p><p>camponeses. A função do Terceiro Estado era</p><p>sustentar a sociedade e o Estado. Ao contrário do</p><p>Clero e da Nobreza, pagavam impostos ao Estado.</p><p>198Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>N°: Termo: Definição / significado:</p><p>6</p><p>Sistemas</p><p>de Direitos</p><p>Humanos</p><p>São os conjuntos de normas, órgãos e</p><p>mecanismos internacionais surgidos a partir</p><p>de 1945 com o intuito de promover a proteção</p><p>dos direitos humanos em todo o mundo. Na</p><p>atualidade, existem três sistemas regionais de</p><p>proteção (Interamericano, Europeu e Africano)</p><p>e um sistema universal (Nações Unidas).</p><p>7 Decisões</p><p>Vinculantes</p><p>São decisões que precisam ser cumpridas</p><p>obrigatoriamente. Nesse caso, as decisões das</p><p>Cortes internacionais vinculam os Estados, pois</p><p>eles escolheram se submeter à sua jurisdição</p><p>por meio da assinatura de tratados.</p><p>8 Jurisdições</p><p>Jurisdição é</p><p>humanos.</p><p>“O desmantelamento do estado do bem-estar social por meio de</p><p>políticas liberais-econômicas coloca em risco os direitos à educação,</p><p>saúde, trabalho e seguridade social. A realização de tais direitos</p><p>pressupõe uma ambiência política especifica, de modo que o estado</p><p>assegure para todos os indivíduos certos bens econômicos e sociais,</p><p>serviços e oportunidades, independentemente do valor que o</p><p>mercado confere ao seu trabalho.” (ALBUQUERQUE, 2021, p. 30)</p><p>+ A revolução digital</p><p>A tecnologia digital pode gerar diversos benefícios para o avanço dos direitos</p><p>humanos. Alguns desses benefícios são o empoderamento e a informação de</p><p>grupos vulneráveis e a visibilidade dada a violações de direitos humanos.</p><p>“Nesse sentido, a rede social pode promover o acesso à informação</p><p>e facilitar debates globais, de modo a fomentar a democracia</p><p>participativa. No entanto, o lado obscuro da rede social e sua</p><p>potencialidade de causar graves danos aos indivíduos tem sido objeto</p><p>dos Sistemas Internacionais de Direitos Humanos.” (ALBUQUERQUE,</p><p>2021, p. 31)</p><p>No que diz respeito ao direito à privacidade, a Assembleia Geral da ONU adotou,</p><p>em 2013, a Resolução 68/167, em que expressa sua apreensão com o impacto</p><p>negativo da vigilância e interceptação de comunicações. Nessa Resolução, a</p><p>Assembleia encoraja os Estados a proteger e respeitar o direito à privacidade,</p><p>inclusive no contexto da comunicação digital.</p><p>21Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>Outros desafios ao avanço dos direitos humanos no século XXI são os persistentes</p><p>conflitos armados, o aumento e envelhecimento da população global, as questões</p><p>ambientais e a questão dos refugiados.</p><p>Para saber mais sobre a questão dos refugiados, você pode acessar</p><p>o sítio eletrônico da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR):</p><p>https://www.acnur.org/portugues/dados-sobre-refugio/.</p><p>Conforme discutido, a evolução dos direitos humanos consiste em um caminho de</p><p>conquistas que combina o reconhecimento gradativo de direitos com os movimentos</p><p>sociais que ocorreram paralelamente a estes.</p><p>Embora muitos avanços tenham sido alcançados nos últimos séculos, ainda há um</p><p>longo caminho a ser percorrido até que todas as pessoas tenham acesso a uma vida</p><p>digna nos moldes da Declaração Universal dos Direitos Humanos.</p><p>1.3 Direitos humanos e direitos fundamentais</p><p>Conforme estudamos anteriormente, os direitos humanos estão dispostos em</p><p>fontes de direito internacional, porém com certa imprecisão textual, de forma</p><p>abrangente e abstrata. Assim, o conteúdo desses direitos é explorado e definido</p><p>pela jurisprudência internacional.</p><p>Os direitos fundamentais, que conhecemos por estarem preceituados nas</p><p>Constituições dos países, têm relação com os direitos humanos. Isso vale</p><p>especialmente no que diz respeito à redação desses dois tipos de direitos, que</p><p>muitas vezes é semelhante. Existem, porém, algumas diferenças entre os direitos</p><p>humanos e os direitos fundamentais, conforme pode ser visualizado no Quadro 1:</p><p>Quadro 1 - Direitos Humanos e Direitos Fundamentais</p><p>Direitos Humanos (DH) Direitos</p><p>Fundamentais (DF)</p><p>Órgão criador da norma</p><p>Tratados e declarações</p><p>de organismos</p><p>internacionais</p><p>Constituições dos Estados</p><p>Demarcação de conceito</p><p>(concretização da norma)</p><p>Jurisprudência</p><p>internacional – decisões</p><p>de órgãos judiciais, quase</p><p>judiciais e políticos</p><p>Tribunais nacionais</p><p>(jurisprudência nacional)</p><p>https://www.acnur.org/portugues/dados-sobre-refugio/</p><p>22Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>Direitos Humanos (DH) Direitos</p><p>Fundamentais (DF)</p><p>Órgãos de</p><p>monitoramento do</p><p>cumprimento do direito</p><p>Sistemas de Direitos</p><p>Humanos</p><p>Não há órgãos específicos</p><p>para o monitoramento,</p><p>e sim instrumentos</p><p>jurídicos. No Brasil, esse</p><p>instrumento é a Arguição</p><p>de Descumprimento</p><p>de Preceito</p><p>Fundamental (ADPF).</p><p>Mecanismos de</p><p>monitoramento do</p><p>cumprimento do direito</p><p>Relatórios, inquéritos,</p><p>comunicações entre</p><p>Estados e comunicações</p><p>individuais.</p><p>Não há meios de</p><p>monitoramento próprios.</p><p>Medidas de reparação</p><p>Medidas de reparação</p><p>na íntegra, garantias de</p><p>não repetição, satisfação,</p><p>compensatórias</p><p>e reabilitação.</p><p>Não há medidas</p><p>específicas.</p><p>Impacto social</p><p>Linguagem dos ativismos</p><p>sociais, dos órgãos</p><p>governamentais e das</p><p>políticas públicas.</p><p>Linguagem restrita</p><p>à esfera jurídica.</p><p>Fonte: Adaptado de Albuquerque, 2021, p. 79.</p><p>No sistema jurídico brasileiro, os direitos fundamentais estão definidos nos artigos 5º</p><p>a 17 da Constituição Federal de 1988 (CF). Alguns exemplos de direitos fundamentais</p><p>são os destacados a seguir:</p><p>Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,</p><p>garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade</p><p>do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade,</p><p>nos termos seguintes: [...]</p><p>Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho,</p><p>a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a</p><p>proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na</p><p>forma desta Constituição. (BRASIL, 1988)</p><p>23Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>No Quadro 2, visualizaremos algumas diferenças entre os direitos humanos e os</p><p>direitos fundamentais, utilizando o direito à saúde como exemplo:</p><p>Quadro 2 - Direito à saúde</p><p>Direito à Saúde</p><p>Enquanto direito</p><p>humano</p><p>Enquanto direito</p><p>fundamental</p><p>Nome do direito</p><p>Direito de toda pessoa</p><p>de desfrutar o mais</p><p>elevado nível de saúde</p><p>física e mental</p><p>Direito fundamental</p><p>à saúde</p><p>Em que norma está</p><p>disposto esse direito?</p><p>Pacto Internacional</p><p>sobre os Direitos</p><p>Econômicos, Sociais</p><p>e Culturais (Art. 12)</p><p>Constituição Federal</p><p>(Arts. 6º e 196)</p><p>Quem concretiza o</p><p>conceito e as obrigações</p><p>que esse direito gera?</p><p>Comentário Geral nº</p><p>14, produzido pelo</p><p>Comitê sobre os Direitos</p><p>Econômicos, Sociais</p><p>e Culturais da ONU</p><p>Supremo Tribunal Federal</p><p>Quem monitora</p><p>o cumprimento</p><p>desse direito?</p><p>Sistema ONU de</p><p>Direitos Humanos ADPF</p><p>Fonte: elaborado pela autora.</p><p>A própria CF diferencia os direitos humanos dos direitos fundamentais quando, ao</p><p>se referir aos direitos humanos, trata-os como direitos conectados com a esfera</p><p>internacional:</p><p>Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais</p><p>pelos seguintes princípios:</p><p>[...]</p><p>II - Prevalência dos direitos humanos; (BRASIL, 1988, art. 4º)</p><p>Ainda, ao abordar obrigações decorrentes de tratados (documentos internacionais),</p><p>a CF faz referência aos direitos humanos, não aos direitos fundamentais:</p><p>24Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:</p><p>[...]</p><p>V-A - as causas relativas a direitos humanos a que se refere o § 5º deste artigo;</p><p>[...]</p><p>§ 5º Nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, o Procurador-Geral</p><p>da República, com a finalidade de assegurar o cumprimento de obrigações</p><p>decorrentes de tratados internacionais de direitos humanos dos quais</p><p>o Brasil seja parte, poderá suscitar, perante o Superior Tribunal de Justiça,</p><p>em qualquer fase do inquérito ou processo, incidente de deslocamento de</p><p>competência para a Justiça Federal.   (BRASIL, 1988, art. 109)</p><p>Sendo assim, qual é a relação entre os direitos humanos e os direitos fundamentais?</p><p>No âmbito nacional, os tribunais têm cada vez mais utilizado normas de direitos</p><p>humanos como base para suas decisões. No contexto das Américas, a Corte IDH,</p><p>corte suprema em termos de direitos humanos, definiu que suas decisões podem</p><p>guiar as autoridades nacionais nas decisões de casos relacionados a direitos</p><p>fundamentais.</p><p>Ainda, a Corte IDH tem a autoridade para emitir pareceres consultivos sobre questões</p><p>relacionadas aos direitos humanos que são protegidos pelo Sistema Interamericano</p><p>de Direitos Humanos, bem como para avaliar a conformidade das leis nacionais dos</p><p>Estados com esses mesmos direitos.</p><p>Por outro lado, os Estados devem colocar em prática as decisões vinculantes da</p><p>Corte que interpretarem e definirem as normas</p><p>o poder atribuído a uma autoridade</p><p>para fazer cumprir determinada categoria de lei e</p><p>punir quem as infrinja em uma área predefinida.</p><p>9 Órgãos</p><p>Internacionais</p><p>Entende-se por organizações ou organismos</p><p>internacionais as instituições internacionais e</p><p>agregam em si ações de vários países sob um</p><p>objetivo ou bem comum. (ROSA, 2022, p. 640)</p><p>10 Burguesia</p><p>A burguesia consiste na classe social dominante</p><p>dentro do sistema capitalista. Trata-se, na prática,</p><p>daquele grupo de pessoas que detém os bens</p><p>de produção ou o capital. (MORAES, 2019)</p><p>11 Meios de</p><p>Produção</p><p>Referem-se aos meios de trabalho que</p><p>significam tudo aquilo de que se vale o homem</p><p>para trabalhar (instrumentos, ferramentas,</p><p>instalações etc.) bem como a terra, que é um</p><p>meio universal de trabalho, e aos objetos</p><p>do trabalho. (NETTO; BRAZ. 2006, p. 58).</p><p>12 Estado</p><p>Absolutista</p><p>Foi um regime político que surgiu na transição</p><p>entre a Idade Média e a Idade Moderna. Sua</p><p>principal característica era a concentração do</p><p>poder nas mãos do rei, que podia tomar decisões</p><p>e emitir ordens sem precisar justificar suas ações.</p><p>199Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>N°: Termo: Definição / significado:</p><p>13 Antigo Regime A expressão Antigo Regime se refere</p><p>ao período absolutista.</p><p>14 Liberdades</p><p>Negativas</p><p>Liberdade negativa é a liberdade de impedir</p><p>ou conter a intervenção externa.</p><p>15</p><p>Comitê sobre</p><p>os Direitos</p><p>Econômicos,</p><p>Sociais e</p><p>Culturais</p><p>da ONU</p><p>É o órgão da ONU responsável por monitorar</p><p>o cumprimento do Pacto Internacional</p><p>sobre os sobre os Direitos Econômicos,</p><p>Sociais e Culturais pelos Estados.</p><p>16 Jurisprudência</p><p>Internacional</p><p>Conjunto das decisões e interpretações dadas</p><p>pelas Cortes Internacionais. A jurisprudência</p><p>internacional também compreende as decisões</p><p>adotadas em comunicações individuais,</p><p>comentários gerais e observações gerais</p><p>elaborados por órgãos integrantes dos Sistemas</p><p>ONU e Regionais de Direitos Humanos.</p><p>17 Tratado</p><p>É um acordo Internacional concluído por escrito</p><p>entre Estados e regido pelo direito internacional.</p><p>Ele pode ser um instrumento único, ou ser</p><p>constituído por dois ou mais instrumentos conexos,</p><p>qualquer que seja sua denominação específica.</p><p>18 Peticionário A pessoa ou grupo de pessoas que apresenta</p><p>a petição, ou seja, a demanda.</p><p>19 Jurisdição</p><p>Jurisdição é o poder atribuído a uma autoridade</p><p>para fazer cumprir determinada categoria de lei e</p><p>punir quem as infrinja em uma área predefinida.</p><p>20 Ratificação</p><p>É o ato internacional pelo qual um Estado</p><p>demonstra o seu comprometimento com</p><p>as disposições de um tratado. A partir</p><p>desse momento, ele se torna obrigado a</p><p>esse tratado na esfera internacional.</p><p>200Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>N°: Termo: Definição / significado:</p><p>21 Vinculante</p><p>É a decisão que precisa ser cumprida</p><p>obrigatoriamente. Nesse caso, as decisões das</p><p>Cortes internacionais vinculam os Estados, pois</p><p>eles escolheram se submeter à sua jurisdição</p><p>por meio da assinatura de tratados.</p><p>22 Medidas</p><p>Cautelares</p><p>Uma medida cautelar é um mecanismo de proteção,</p><p>um ato de precaução. Esse mecanismo permite</p><p>que seja realizada uma ação para proteger o direito</p><p>que está sob ameaça de ser violado. A medida</p><p>cautelar é empregada quando há situação grave</p><p>e urgente que possa gerar danos irreparáveis.</p><p>23 Tipificados Tipificar significa fazer com que uma</p><p>conduta seja considerada um crime.</p><p>24 Denunciar</p><p>Quando um Estado denuncia um tratado,</p><p>ele declara formalmente que está se</p><p>desobrigando desse instrumento.</p><p>25 Contenciosa Contenciosa é o que envolve o</p><p>conflito de interesses.</p><p>26 Primeira</p><p>Instância</p><p>É o primeiro nível de decisão. Quando a parte</p><p>discordar da decisão, poderá recorrer à segunda</p><p>instância, ou seja, a um segundo nível de decisão.</p><p>27 Corte de</p><p>Apelação</p><p>Nesse contexto, “Corte de apelação” é o nível</p><p>judicial que irá decidir sobre o recurso que a parte</p><p>apresentou contra a decisão da qual discorda.</p><p>28</p><p>Exceções</p><p>em Razão da</p><p>Competência</p><p>São argumentos que afirmam que aquele</p><p>órgão não tem competência legal para julgar</p><p>o processo, ou seja: legalmente, outro órgão</p><p>deveria decidir sobre essa demanda.</p><p>29 Execução de</p><p>Sentenças</p><p>A execução da sentença é a fase do processo</p><p>que tem como objetivo transformar a decisão</p><p>do juiz em fato concreto. Exemplo: o pagamento</p><p>da indenização definida na sentença.</p><p>201Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>N°: Termo: Definição / significado:</p><p>30</p><p>Comitê da ONU</p><p>sobre os Direitos</p><p>Econômicos,</p><p>Sociais e</p><p>Culturais</p><p>É o órgão da ONU responsável por</p><p>monitorar o cumprimento do Pacto</p><p>Internacional sobre os Direitos Econômicos,</p><p>Sociais e Culturais pelos Estados.</p><p>31 Jurisdicionados</p><p>Jurisdição é o poder atribuído a uma autoridade</p><p>para fazer cumprir determinada categoria</p><p>de lei e punir quem as infrinja em uma</p><p>área predefinida. Assim, os jurisdicionados</p><p>são as pessoas que se encontram</p><p>submetidas à jurisdição naquela área.</p><p>32 Jurisprudência</p><p>internacional</p><p>Conjunto das decisões e interpretações dadas</p><p>pelas Cortes Internacionais. A jurisprudência</p><p>internacional também compreende as decisões</p><p>adotadas em comunicações individuais,</p><p>comentários gerais e observações gerais</p><p>elaborados por órgãos integrantes dos Sistemas</p><p>ONU e Regionais de Direitos Humanos.</p><p>1. Direitos humanos</p><p>1.1. Conceito de direitos humanos</p><p>1.2. Histórico dos direitos humanos</p><p>1.3 Direitos humanos e direitos fundamentais</p><p>2. Dimensões dos Direitos Humanos</p><p>2.1. Direitos civis e políticos</p><p>2.2. Direitos econômicos, sociais e culturais</p><p>3. Sistema ONU de Direitos Humanos e Sistemas Regionais de Direitos Humanos</p><p>3.1. Os Sistemas Internacionais de Direitos Humanos</p><p>3.2. Sistema ONU de Direitos Humanos</p><p>3.3. Sistema Interamericano de Direitos Humanos</p><p>3.4. Sistema Europeu de Direitos Humanos</p><p>3.5. Conclusão</p><p>1. Os três campos de interação entre direitos humanos e saúde</p><p>1.1. Violações dos direitos humanos que resultam em problemas de saúde</p><p>1.2. Redução da vulnerabilidade no processo saúde-doença por meio dos direitos humanos</p><p>1.3. Promoção ou violação dos direitos humanos por meio da saúde</p><p>2. Direito à saúde</p><p>2.1. Direito à saúde: conteúdo, elementos e monitoramento</p><p>2.2. Direito à saúde mental</p><p>3. Direitos humanos aplicados às pessoas sob cuidados em saúde</p><p>3.1. Direito à privacidade</p><p>3.2. Direito de não ser discriminado</p><p>3.3. Direito de não ser submetido à tortura, nem a tratamento cruel, desumano ou degradante</p><p>3.4. Direito à liberdade</p><p>3.5. Conclusão</p><p>1. Direitos humanos no contexto da saúde mental</p><p>1.1. Princípios para a Proteção das Pessoas com Transtorno Mental e para o Melhoramento dos Cuidados em Saúde Mental da ONU</p><p>1.2 Tortura, tratamento desumano e degradante no contexto da saúde mental</p><p>1.3. Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e saúde mental</p><p>1.4. Quality Rights</p><p>1. Relatórios e decisões dos Sistemas ONU, Interamericano e Europeu de Direitos Humanos</p><p>1.1. Relatórios e decisões do Sistema ONU</p><p>1.2. Relatórios e decisões do Sistema Interamericano de Direitos Humanos</p><p>1.3. Relatórios e decisões do Sistema Europeu de Direitos Humanos</p><p>1.4. Conclusão</p><p>2. Casos julgados pelos Sistemas Internacionais de Direitos Humanos</p><p>2.1. Caso Ximenes Lopes</p><p>2.2. Fact Sheet sobre Detenção e Saúde Mental</p><p>2.3. Conclusão</p><p>Referências</p><p>Glossário</p><p>de proteção dos direitos humanos.</p><p>25Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>Figura 12 - Relação entre direitos humanos e direitos fundamentais</p><p>Fonte: elaborada pela autora.</p><p>Sendo assim, pode-se dizer que as jurisdições internas e externas dialogam para</p><p>que se possa conferir significado e conteúdo concreto aos enunciados de direitos</p><p>humanos.</p><p>Para saber mais sobre a história dos direitos humanos, acesse:</p><p>https://www.politize.com.br/equidade/blogpost/historia-dos-</p><p>direitos-humanos/.</p><p>https://www.politize.com.br/equidade/blogpost/historia-dos-direitos-humanos/</p><p>https://www.politize.com.br/equidade/blogpost/historia-dos-direitos-humanos/</p><p>26Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>2. Dimensões dos Direitos Humanos</p><p>Reconhecer as dimensões dos direitos humanos (direitos civis,</p><p>políticos, econômicos, sociais e culturais).</p><p>Os direitos humanos podem ser classificados em dimensões, para fins didáticos:</p><p>primeira, segunda e terceira dimensão.</p><p>Esta unidade irá tratar apenas dos direitos de primeira e de segunda dimensão, pois</p><p>os chamados direitos de terceira dimensão não estão estabelecidos de forma sólida</p><p>nas normas dos Sistemas Internacionais de Direitos Humanos.</p><p>Os direitos humanos passaram por um processo de amplo reconhecimento ao</p><p>longo dos séculos. Para o autor Norberto Bobbio, esse processo de proliferação se</p><p>deu de três maneiras:</p><p>a. O aumento da quantidade de bens considerados merecedores da tutela</p><p>jurídica.</p><p>b. O reconhecimento de outros sujeitos de direitos humanos. Por exemplo,</p><p>as mulheres, as pessoas com deficiência e as crianças só passaram a ser</p><p>sujeitos de direitos humanos no século XX. Com o avanço dos direitos</p><p>humanos, outros sujeitos foram reconhecidos, como pessoas com</p><p>deficiência e pessoas privadas de liberdade.</p><p>c. A atribuição de direitos humanos que derivam de outros existentes a</p><p>sujeitos jurídicos particulares. Um exemplo dessa hipótese é o direito da</p><p>criança de ser ouvida em decisões que lhe são afetas.</p><p>Assim, percebemos que os direitos humanos que são atualmente reconhecidos nas</p><p>normas internacionais apresentam características de grupos distintos. Eles derivam</p><p>de um longo processo de lutas sociais e avanços nas sociedades e na comunidade</p><p>internacional.</p><p>2.1. Direitos civis e políticos</p><p>Os direitos civis e políticos são fruto desse contexto de desenvolvimento das</p><p>burguesias europeias e da luta contra o Antigo Regime. Esses direitos se</p><p>fundamentam em uma perspectiva individualista e liberal política de sociedade, que</p><p>27Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>defende a limitação do poder estatal com base nos direitos do indivíduo.</p><p>Alguns dos valores adotados pela perspectiva liberal política são as liberdades de:</p><p>Figura 13 - Circulação Figura 14 - Crença Figura 15 - Expressão</p><p>Figura 16 - Autodeterminação</p><p>da própria vida</p><p>Figura 17 - Autodeterminação</p><p>do próprio corpo</p><p>Fonte: https://www.flaticon.com</p><p>Os direitos civis e políticos são também chamados de “direitos humanos clássicos”</p><p>e de “direitos de liberdade”. Eles abarcam as chamadas liberdades negativas de</p><p>religião, de opinião, de imprensa, de não ser torturado e de ter sua vida privada</p><p>respeitada, ou seja, a liberdade de não sofrer interferência estatal nessas áreas.</p><p>https://www.flaticon.com</p><p>28Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>Figura 18 - Limite às liberdades individuais</p><p>Fonte: Imagem elaborada pela autora.</p><p>Os direitos civis e políticos possuem aplicação imediata. Isso quer dizer que, uma</p><p>vez ratificada a normativa que prevê esses direitos, os Estados são obrigados a</p><p>aplicá-los. Por exemplo, uma vez que o Brasil se comprometeu, por meio do Pacto</p><p>Internacional sobre Direitos Civis e Políticos adotado pela ONU em 1966, a não</p><p>prender um indivíduo arbitrariamente, ele se torna imediatamente obrigado a</p><p>cumprir essa determinação.</p><p>Nesse ponto, os direitos civis e políticos se diferenciam dos direitos econômicos,</p><p>sociais e culturais, pois estes demandam gastos públicos maiores para que possam</p><p>ser implementados. Falaremos mais sobre esse assunto mais adiante.</p><p>O Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos (1966) estabelece, no Artigo 2.1,</p><p>a aplicação imediata de todos os direitos nele previstos:</p><p>Os Estados Partes do presente pacto comprometem-se a respeitar e garantir</p><p>a todos os indivíduos que se achem em seu território e que estejam sujeitos a</p><p>sua jurisdição os direitos reconhecidos no presente Pacto, sem discriminação</p><p>alguma por motivo de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de</p><p>outra natureza, origem nacional ou social, situação econômica, nascimento ou</p><p>qualquer condição. (Assembleia Geral das Nações Unidas, 1966, Art. 2.1)</p><p>29Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>A obrigação que esse artigo impõe tem, ao mesmo tempo, caráter positivo e negativo:</p><p>O caráter positivo consiste na obrigação estatal de</p><p>adotar medidas legislativas, judiciais, administrativas</p><p>e outras para cumprir todas as obrigações</p><p>decorrentes dos direitos civis e políticos previstos</p><p>no Pacto. O negativo implica o dever de abster-se de</p><p>violar qualquer um desses direitos, por exemplo, de</p><p>impedir que alguma pessoa manifeste sua opinião</p><p>sobre o governo, ou de prendê-la arbitrariamente.</p><p>(ALBUQUERQUE; BARROSO, 2021, p. 110)</p><p>O Quadro 3 apresenta exemplos de direitos civis e de direitos políticos:</p><p>Quadro 3 - Exemplos de direitos civis e políticos</p><p>Direitos Civis Direitos Políticos</p><p>Direito à vida</p><p>Direito de tomar parte na direção dos</p><p>negócios públicos do seu país, quer</p><p>diretamente ou por intermédio de</p><p>representantes livremente escolhidos</p><p>Direito à liberdade Direito de acesso, em condições de</p><p>igualdade, às funções públicas do seu país</p><p>Direito à segurança pessoal</p><p>Direito a não ser mantido em</p><p>escravatura ou em servidão</p><p>Proibição à escravatura e trato dos</p><p>escravos, sob todas as formas</p><p>Direito ao reconhecimento,</p><p>em todos os lugares, da sua</p><p>personalidade jurídica</p><p>Direito a ter uma nacionalidade</p><p>Direito à propriedade</p><p>Fonte: Elaborado pela autora.</p><p>30Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>O Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos (1966) foi</p><p>promulgado no Brasil por meio do Decreto nº 592, de 6 de julho</p><p>de 1992. Acesse o link: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/</p><p>decreto/1990-1994/d0592.htm</p><p>A seguir, estudaremos os direitos econômicos, sociais e culturais.</p><p>2.2. Direitos econômicos, sociais e culturais</p><p>Os direitos econômicos, sociais e culturais frequentemente demandam a atuação</p><p>do Estado para serem implementados. Essa ação se materializa mediante políticas</p><p>públicas e o fornecimento de bens e serviços.</p><p>O documento das Nações Unidas que aborda os direitos econômicos, sociais e</p><p>culturais é conhecido como Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais</p><p>e Culturais, datado de 1966. O Pacto apresenta vários trechos que ressaltam a</p><p>importância de os Estados tomarem medidas para garantir a implementação desses</p><p>direitos. Abaixo estão alguns exemplos desses trechos:</p><p>ARTIGO 2º</p><p>1. Cada Estado Parte do presente Pacto compromete-se a adotar medidas,</p><p>tanto por esforço próprio como pela assistência e cooperação internacionais,</p><p>principalmente nos planos econômico e técnico, até o máximo de seus recursos</p><p>disponíveis, que visem a assegurar, progressivamente, por todos os meios</p><p>apropriados, o pleno exercício dos direitos reconhecidos no presente Pacto,</p><p>incluindo, em particular, a adoção de medidas legislativas.</p><p>ARTIGO 6º</p><p>1. Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem o direito ao trabalho, que</p><p>compreende o direito de toda pessoa de ter a possibilidade de ganhar a vida</p><p>mediante um trabalho livremente escolhido ou aceito, e tomarão medidas</p><p>apropriadas para salvaguardar esse direito.</p><p>2. As medidas que cada Estado Parte do presente Pacto tomará a fim de assegurar</p><p>o pleno exercício desse direito deverão incluir a orientação e a formação técnica</p><p>e profissional, a elaboração de programas, normas e técnicas apropriadas para</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/d0592.htm</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/d0592.htm</p><p>31Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>assegurar um desenvolvimento econômico, social e cultural constante e o pleno</p><p>emprego produtivo em condições que salvaguardem aos indivíduos o gozo das</p><p>liberdades políticas e econômicas fundamentais.</p><p>ARTIGO 12</p><p>1. Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem o direito de toda pessoa de</p><p>desfrutar o mais elevado nível possível de saúde física e mental.</p><p>2. As medidas que os Estados Partes do presente Pacto deverão adotar com o fim</p><p>de assegurar o pleno exercício desse direito incluirão as medidas que se façam</p><p>necessárias para assegurar:</p><p>a) A diminuição da mortinatalidade e da mortalidade infantil, bem como o</p><p>desenvolvimento são das crianças;</p><p>b) A melhoria de todos os aspectos de higiene do trabalho e do meio ambiente;</p><p>c) A prevenção e o tratamento das doenças epidêmicas, endêmicas, profissionais</p><p>e outras, bem como a luta contra essas doenças;</p><p>d) A criação de condições que assegurem a todos assistência médica e serviços</p><p>médicos em caso de enfermidade.</p><p>(ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 1966, arts. 2º, 6º e 12)</p><p>Diferentemente dos direitos civis e políticos, que são normas de aplicação imediata,</p><p>os direitos econômicos, sociais e culturais são normas de realização progressiva.</p><p>Esses direitos são garantidos pelo Pacto Internacional sobre os Direitos Econômicos,</p><p>Sociais e Culturais, adotado pela ONU em 1966. Esse documento estabelece que o</p><p>Estado se compromete a adotar medidas para o pleno exercício dos direitos neles</p><p>reconhecidos. Nesse sentido:</p><p>• As medidas devem ser adotadas por esforço próprio ou pela</p><p>assistência e cooperação internacionais, principalmente</p><p>nos planos econômico e técnico, até o máximo dos recursos</p><p>disponíveis.</p><p>• Tais medidas visam assegurar, progressivamente, e por</p><p>todos os meios apropriados, o pleno exercício dos direitos</p><p>reconhecidos no pacto.</p><p>• A adoção de medidas legislativas é particularmente</p><p>importante nesse contexto.</p><p>32Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>Os Princípios de Limburg são diretrizes interpretativas especificamente relacionadas</p><p>ao artigo 2º do Pacto Internacional sobre os Direitos Econômicos, Sociais e Culturais.</p><p>Eles preceituam que compete aos Estados dar início imediato à adoção de medidas</p><p>para a plena realização dos direitos sociais, econômicos e culturais.</p><p>Ou seja, diferentemente dos direitos civis e políticos, cuja própria</p><p>aplicação é imediata, no caso dos direitos econômicos, sociais e</p><p>culturais, o que deve ser imediato é a adoção das medidas para a</p><p>aplicação dos direitos.</p><p>Os Estados deverão, assim, fazer uso dos meios apropriados, incluindo medidas</p><p>legislativas, administrativas, judiciais, econômicas, sociais e educacionais,</p><p>consistentes com a natureza dos direitos, a fim de realizá-los. Ainda no que diz</p><p>respeito aos recursos, os Princípios de Limburg preceituam que os Estados devem</p><p>prever recursos efetivos, e que é esse mesmo Estado parte quem avalia a adequação</p><p>dos meios a serem aplicados por ele.</p><p>A obrigação de realização progressiva dos direitos econômicos, sociais e culturais</p><p>existe independentemente do aumento de recursos, pois o que é imposto aos</p><p>Estados é que utilizem de forma eficaz os recursos disponíveis. Assim, para verificar</p><p>se o Estado cumpre suas obrigações relacionadas à realização progressiva desses</p><p>direitos, deve-se observar se os recursos disponíveis estão sendo utilizados de</p><p>forma eficiente.</p><p>Existem, porém, algumas obrigações derivadas dos direitos econômicos, sociais e</p><p>culturais que não se sujeitam à realização progressiva. Elas se chamam obrigações</p><p>essenciais.</p><p>Nesse sentido, o Comentário Geral nº 3 do Comitê sobre os Direitos Econômicos,</p><p>Sociais e Culturais da ONU trata da natureza das obrigações dos Estados partes</p><p>constantes no artigo 2º, parágrafo 1º, do Pacto Internacional sobre os Direitos</p><p>Econômicos, Sociais e Culturais.</p><p>De acordo com o Comentário nº 3, os Estados têm a obrigação fundamental</p><p>de assegurar como mínimo a satisfação de níveis essenciais de cada um dos</p><p>direitos enunciados no Pacto Internacional sobre os Direitos Econômicos, Sociais e</p><p>Culturais. É por esse motivo que existem algumas obrigações derivadas dos direitos</p><p>econômicos, sociais e culturais que são classificadas como obrigações essenciais e</p><p>que possuem caráter imediato.</p><p>Assim, veja alguns trechos do Comentário Geral nº14/2000 sobre a obrigação</p><p>essencial derivada do direito à saúde, que é um direito social:</p><p>33Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>19. No que respeita ao direito à saúde, é necessário realçar a igualdade de acesso</p><p>aos cuidados de saúde e serviços de saúde. Os Estados Partes têm uma obrigação</p><p>especial de proporcionar a quem não tenha meios suficientes, o necessário seguro</p><p>médico e acesso a centros de saúde e impedir qualquer descriminação com base</p><p>em motivos internacionalmente proibidos na prestação de cuidados de saúde e</p><p>de serviços de saúde, em especial no que respeita às obrigações fundamentais</p><p>do direito à saúde.</p><p>22. O artigo 12º, n.º 2 alínea a) descreve a necessidade de adotar medidas para</p><p>reduzir a mortalidade infantil e promover o desenvolvimento saudável de bebés</p><p>e crianças. Em subsequentes instrumentos internacionais de direitos humanos é</p><p>reconhecido que crianças e adolescentes têm o direito de gozar o melhor estado</p><p>de saúde possível e o acesso a centros de tratamento de doenças. Uma atribuição</p><p>inapropriada de recursos de saúde pode dar lugar a uma discriminação que</p><p>poderá não ser manifesta. Por exemplo, os investimentos não devem favorecer</p><p>desproporcionadamente os serviços curativos caros que muitas vezes são apenas</p><p>acessíveis a uma pequena fração privilegiada da população, em detrimento</p><p>da atenção primária e preventiva da saúde que beneficie uma parte maior da</p><p>população.</p><p>(COMITÊ DE DIREITOS ECONÔMICOS, SOCIAIS E CULTURAIS DA ONU, 2000, p. 8)</p><p>Um aspecto importante relacionado aos direitos econômicos, sociais e culturais é</p><p>a vedação ao seu retrocesso. Conforme a jurisprudência internacional, a adoção</p><p>de medidas que possam limitar os recursos destinados a gastos sociais podem ser</p><p>ou não, por si só, violadoras dos direitos humanos. Sobre isso, o Comitê sobre os</p><p>Direitos Econômicos, Sociais e Culturais da ONU entende que:</p><p>O fato de que até em tempos de severas restrições de recursos disponíveis, se</p><p>causadas por um processo de ajustamento, de recessão econômica ou por</p><p>outros fatores, os membros vulneráveis da sociedade podem e de fato devem</p><p>ser protegidos pela adoção de programas relativamente de baixo custo para o</p><p>alcance das metas almejadas.</p><p>(COMITÊ SOBRE OS DIREITOS ECONÔMICOS, SOCIAIS E CULTURAIS DA ONU, 1990,</p><p>p. 12)</p><p>34Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>Isso quer dizer que, se o Estado limitar os recursos com gastos sociais, ele pode</p><p>ser responsabilizado internacionalmente por violar direitos humanos.</p><p>As medidas que retroagem em termos de direitos sociais são aquelas que fazem</p><p>com que os Estados abandonem políticas e programas destinados a assegurar os</p><p>direitos sociais. Além disso, as restrições causadas por essas medidas repercutem</p><p>negativamente sobre a fruição desses direitos. Um exemplo disso seria o corte de</p><p>gastos públicos com cuidados em saúde materno-infantil e o aumento considerável</p><p>da mortalidade materna e infantil.</p><p>Conforme afirmado anteriormente, os direitos humanos são universais, indivisíveis,</p><p>interdependentes, inter-relacionados e de igual importância. À luz dessa afirmação,</p><p>verifique no Quadro 4 a diferenciação entre os direitos civis e políticos, e os direitos</p><p>econômicos, sociais e culturais:</p><p>Quadro 4 - Diferenças entre as dimensões de direitos</p><p>Critério de distinção Direitos civis e políticos Direitos econômicos,</p><p>sociais e culturais</p><p>Fundamento</p><p>teórico-filosófico</p><p>Burguesia e</p><p>liberalismo político</p><p>Movimentos sindicalistas,</p><p>socialistas e contestação</p><p>do liberalismo político</p><p>e econômico</p><p>Tipo de obrigação Ênfase na obrigação</p><p>de respeitar</p><p>Ênfase na obrigação</p><p>de realizar</p><p>Aplicação do direito Aplicação imediata Realização progressiva</p><p>Exigibilidade</p><p>perante Cortes</p><p>Exigibilidade</p><p>jurisdicional ampla</p><p>Exigibilidade</p><p>jurisdicional restrita</p><p>Estado Estado democrático Estado do bem-</p><p>estar social</p><p>Finalidade primordial Autonomia Proteção do Estado</p><p>Fonte: Adaptado de Albuquerque, Barroso. 2021, p. 118.</p><p>O direito à saúde é considerado um direito de segunda dimensão porque sua</p><p>realização depende de ações positivas por parte do Estado para garantir o acesso a</p><p>serviços e recursos de saúde adequados para toda a população. Ou seja, é um direito</p><p>que exige uma intervenção ativa do Estado para ser efetivado, diferentemente dos</p><p>direitos de primeira dimensão, como a liberdade de expressão e de associação, que</p><p>são direitos negativos e que não requerem ações estatais para sua proteção.</p><p>35Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>Alguns exemplos de direitos de segunda dimensão, além do direito à saúde, incluem:</p><p>• Direito à educação: este direito exige que o Estado providencie educação</p><p>gratuita e de qualidade para todos os cidadãos, além de garantir</p><p>igualdade de acesso e oportunidades educacionais.</p><p>• Direito à previdência social: este direito implica que o Estado forneça</p><p>proteção social aos cidadãos em situações de desemprego, velhice,</p><p>doença, acidente, entre outras.</p><p>• Direito ao trabalho: este direito implica que o Estado tome medidas para</p><p>garantir o pleno emprego e para proteger os direitos trabalhistas dos</p><p>cidadãos, incluindo salário justo, condições de trabalho adequadas e</p><p>proteção contra discriminação no local de trabalho.</p><p>Para compreender como funcionam as obrigações geradas pelos direitos de</p><p>primeira e de segunda geração, bem como as violações a esses direitos no âmbito</p><p>internacional, ouça o podcast a seguir:</p><p>Podcast 1 - Dimensões dos Direitos Humanos</p><p>Como vimos, nosso estudo não aborda os chamados direitos humanos de terceira</p><p>dimensão, visto que esta classificação não apresenta significativa relevância. Isso</p><p>acontece porque esses direitos não são usualmente objeto de peticionamento e</p><p>monitoramento dos órgãos internacionais de direitos humanos, ou seja: não é</p><p>comum que se denuncie a violação desses direitos aos sistemas de direitos humanos</p><p>e nem que esses sistemas possuam mecanismos para acompanhar o cumprimento</p><p>de tais direitos.</p><p>Nesse contexto, é importante destacar que os direitos humanos</p><p>não são meramente ideias morais ou defesas de alguns grupos. A</p><p>força desses direitos se baseia em dois pilares:</p><p>- São direitos de todas as pessoas, independentemente de</p><p>qualquer fator ou característica pessoal.</p><p>- Os direitos humanos geram obrigações jurídicas para os Estados:</p><p>são práticos, concretos e jurídicos.</p><p>https://podcasters.spotify.com/pod/show/enap/episodes/EV-G-Obrigaes-dos-Estados-quanto--sade-mental-e21qvpu</p><p>36Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>3. Sistema ONU de Direitos Humanos e Sistemas</p><p>Regionais de Direitos Humanos</p><p>Entender os Sistemas Internacionais de Direitos Humanos</p><p>com enfoque nos Sistemas ONU e Interamericano de Direitos</p><p>Humanos.</p><p>3.1. Os Sistemas Internacionais de Direitos</p><p>Humanos</p><p>Os Sistemas Internacionais de Direitos Humanos (Sistemas Internacionais de DH)</p><p>são os conjuntos de normas, órgãos e mecanismos internacionais que surgiram,</p><p>a partir de 1945, com o intuito de promover a proteção dos direitos humanos no</p><p>mundo.</p><p>Assim, eles se caracterizam por apresentar três elementos:</p><p>• Normas</p><p>• Órgãos</p><p>• Mecanismos</p><p>Para que uma região do planeta possa contar com um Sistema Internacional de DH,</p><p>esses três elementos precisam estar presentes.</p><p>As normas dos Sistemas Internacionais de DH compreendem o conjunto de tratados,</p><p>declarações, princípios e outras normativas que integram esses Sistemas. Alguns</p><p>exemplos de normas, nesse contexto, são os tratados, acordos, pactos, convenções,</p><p>declarações, princípios, diretrizes, entre outros.</p><p>Os órgãos são as instâncias e os organismos criados para monitorar o cumprimento</p><p>dos tratados pelos Estados e aplicar as disposições desses tratados nos casos</p><p>concretos específicos ou nas situações de graves violações de direitos humanos. Os</p><p>órgãos de direitos humanos podem ser classificados como políticos, quase judiciais</p><p>ou judiciais:</p><p>37Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>Quadro 5 - Tipos de órgãos de Direitos Humanos</p><p>Políticos Quase judiciais Órgãos judiciais</p><p>Não recebem</p><p>comunicações e</p><p>petições individuais e,</p><p>portanto, não expedem</p><p>recomendações</p><p>destinadas a casos</p><p>específicos e assim</p><p>não responsabilizam</p><p>o Estado por violação</p><p>de direitos humanos.</p><p>Processam petições e</p><p>comunicações individuais,</p><p>e desse processamento</p><p>resulta uma decisão</p><p>que serve de base</p><p>para recomendações</p><p>que ensejam a</p><p>responsabilização</p><p>internacional do Estado.</p><p>Detêm o poder</p><p>jurisdicional, logo,</p><p>proferem sentenças</p><p>internacionais.</p><p>Fonte: Elaborado pela autora.</p><p>Os mecanismos são os meios pelos quais os órgãos realizam o monitoramento da</p><p>aplicação dos tratados pelos Estados.</p><p>Quadro 6 - Tipos de mecanismos</p><p>Tipo de mecanismo Definição</p><p>Procedimento iniciado por</p><p>comunicação interestatal</p><p>(entre Estados)</p><p>Comunicação feita por um Estado contra outro</p><p>Estado perante órgão de direitos humanos</p><p>Procedimento iniciado por</p><p>petição/comunicação individual</p><p>Petição ou comunicação feita pela</p><p>vítima/representante ou peticionário</p><p>ao órgão de direitos humanos</p><p>Procedimento iniciado por</p><p>comunicação coletiva</p><p>Comunicação feita por uma</p><p>organização não governamental a</p><p>um órgão de direitos humanos</p><p>Relatório</p><p>Documento que contempla a situação</p><p>de direitos humanos referente a</p><p>um Estado, grupo ou temática</p><p>Visita in loco</p><p>Visita realizada em qualquer lugar da jurisdição</p><p>de determinado Estado com o intuito de</p><p>analisar a situação de direitos humanos</p><p>Inquérito</p><p>Averiguação confidencial de denúncia de</p><p>sistemática violação de direitos humanos,</p><p>que pode abranger visita ao Estado</p><p>Medidas Cautelares Medida requerida ao Estado a fim de prevenir</p><p>dano irreparável à vítima em determinado caso</p><p>Fonte: Elaborado com base em Albuquerque; Barroso. 2021, p. 178.</p><p>38Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>Outro ponto relevante que deve ser mencionado refere-se à jurisprudência</p><p>em direitos humanos. Para o Direito Internacional dos Direitos Humanos, a</p><p>jurisprudência é constituída pelas decisões reiteradas das Cortes de Direitos</p><p>Humanos, mas não somente delas: também estão incluídos nesse conjunto os</p><p>documentos produzidos pelos diversos mecanismos de direitos humanos</p><p>aprovados pelos Estados que integram a comunidade internacional.</p><p>Atualmente, há quatro Sistemas de Direitos Humanos. Um deles tem abrangência</p><p>global, pois envolve todos os países membros da ONU (Sistema ONU de Direitos</p><p>Humanos). Além desse sistema, que é universal, há três Sistemas Regionais de Direitos</p><p>Humanos, abarcando, cada um deles, um continente: Sistema Interamericano de</p><p>Direitos Humanos, Sistema Europeu de Direitos Humanos e Sistema Africano de</p><p>Direitos Humanos. Nesta unidade, abordaremos os Sistemas ONU, Interamericano</p><p>e Europeu de Direitos Humanos.</p><p>Para saber mais sobre o Sistema Africano de Direitos Humanos,</p><p>acesse: https://www.oas.org/pt/cidh/expressao/jurisprudencia/</p><p>sistema_africano.asp</p><p>É importante destacar que as experiências em direitos humanos</p><p>de outras regiões do planeta, como a da Liga Árabe ou da Ásia, não</p><p>podem ser categorizadas como Sistemas, pois não compreendem</p><p>os três elementos necessários para a classificação em Sistema de</p><p>Direitos Humanos.</p><p>A ONU tem incentivado os Estados a criarem Sistemas Regionais de Direitos</p><p>Humanos, visto que estes muitas vezes se mostram mais eficazes por três motivos</p><p>principais:</p><p>1) São mais próximos das realidades dos Estados que os integram;</p><p>2) Possuem maior capacidade de lidar com questões de direitos específicas da</p><p>região;</p><p>3) Esses sistemas contam com Cortes de Direitos Humanos e, portanto, têm</p><p>maior poder de constrangimento e persuasão jurídica. Nesse sentido,</p><p>a Corte</p><p>Interamericana e a Corte Europeia são consideradas exemplos da maturidade dos</p><p>sistemas judiciais de proteção dos direitos humanos em nível regional.</p><p>Assim, a ONU enfatiza o papel dos sistemas regionais na promoção e proteção</p><p>desses direitos. Não existe, porém, hierarquia entre os Sistemas Global e Regionais</p><p>de Direitos Humanos.</p><p>https://www.oas.org/pt/cidh/expressao/jurisprudencia/sistema_africano.asp</p><p>https://www.oas.org/pt/cidh/expressao/jurisprudencia/sistema_africano.asp</p><p>39Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>É importante esclarecer que diferentes órgãos de direitos humanos proferem</p><p>diferentes tipos de decisões, que são elaboradas após o trâmite de comunicação</p><p>ou petição relacionada a um caso específico de violação de direitos humanos. Como</p><p>dito anteriormente, os órgãos judiciais e quase judiciais são os órgãos capazes</p><p>de proferir decisões. As decisões tomadas por cada um desses órgãos possuem</p><p>diferentes naturezas jurídicas:</p><p>Figura 19 - Natureza das decisões de órgãos de direitos humanos</p><p>Fonte: Elaborada pela autora.</p><p>Assim, você pode perceber que os Estados devem cumprir tanto as sentenças</p><p>quanto as recomendações dos relatórios, porque ambos derivam da ratificação de</p><p>tratados, não importando se a decisão é proveniente de órgão judicial ou quase</p><p>judicial. Ou seja:</p><p>Os Estados que aderem aos tratados e demais normas de</p><p>direitos humanos têm o dever de adimplir suas obrigações e,</p><p>conseguintemente, executar espontaneamente os preceitos</p><p>contidos na sentença e nos relatórios dos órgãos quase judiciais.</p><p>(ALBUQUERQUE; BARROSO, 2021, p. 181).</p><p>3.1.1. Princípios que regem os Sistemas Internacionais de Direitos</p><p>Humanos</p><p>Os Sistemas Internacionais de Direitos humanos são guiados por alguns princípios.</p><p>Vejamos a seguir.</p><p>40Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>3.1.1.1. Princípio da subsidiariedade ou complementaridade</p><p>Os Sistemas de DH atuam de forma subsidiária com relação aos órgãos e remédios</p><p>domésticos. Assim, os órgãos de direitos humanos serão acionados pelas vítimas</p><p>e peticionários somente após o Estado não ter respondido adequadamente às</p><p>violações (conforme as normas de direitos humanos).</p><p>Assim, perceba que o primeiro responsável pela observância dos direitos humanos é</p><p>o Estado, e os próprios tratados de direitos humanos atribuem importantes funções</p><p>de proteção aos órgãos dos Estados. Quando os Estados ratificam esses tratados,</p><p>passam a ter a obrigação geral de adequar o seu ordenamento jurídico interno às</p><p>diretrizes de proteção dos direitos humanos estabelecidas no instrumento que</p><p>ratificaram.</p><p>Para compreender como se dá a aplicação do princípio da subsidiariedade a um</p><p>caso concreto, veja o vídeo a seguir, que demonstra esse princípio aplicado ao caso</p><p>Ximenes Lopes vs. Brasil (2006), o primeiro caso de condenação do Estado brasileiro</p><p>no Sistema Interamericano de Direitos Humanos.</p><p>Vídeo 1 - O princípio da subsidiariedade aplicado ao caso Ximenes</p><p>Lopes vs. Brasil</p><p>3.1.1.2. Princípio da livre escolha</p><p>Graças ao princípio da livre escolha, a vítima de violação de direitos humanos pode</p><p>escolher para qual Sistema de Direitos Humanos deseja apresentar o seu caso,</p><p>depois que os mecanismos internos do Estado não tiverem funcionado. A vítima</p><p>deve, porém, escolher um Sistema ao qual o Estado que ela pretende denunciar</p><p>seja subordinado. Por exemplo, uma vítima de violação de direitos humanos no</p><p>Brasil não pode apresentar uma petição contra o Estado perante a Corte Europeia</p><p>de Direitos Humanos, pois o Estado brasileiro não está submetido a essa jurisdição.</p><p>3.1.1.3. Princípio da boa-fé e princípio da cooperação e do diálogo</p><p>Os princípios da boa-fé e da cooperação e do diálogo serão apresentados juntos</p><p>devido à concordância desses temas.</p><p>Nesse sentido, é importante frisar que os Órgãos de Tratados do Sistema ONU</p><p>de DH adotam o chamado “diálogo construtivo” como metodologia de trabalho,</p><p>especialmente quando examinam os relatórios dos Estados.</p><p>https://youtu.be/i_p9y65PzfQ</p><p>https://youtu.be/i_p9y65PzfQ</p><p>41Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>3.2. Sistema ONU de Direitos Humanos</p><p>O Sistema ONU é o sistema global de direitos humanos e possui diversos órgãos</p><p>e normas. A seguir, vamos falar um pouco sobre a ONU e sobre esse Sistema,</p><p>apresentando os pontos mais relevantes no âmbito da unidade estudada.</p><p>A ONU passou a existir oficialmente em 24 de outubro de 1945, após ter sido</p><p>ratificada a sua Carta pelos países membros originários, entre eles: China, Estados</p><p>Unidos, França, Reino Unido, União Soviética e Brasil. Os propósitos da ONU são, de</p><p>acordo com a Carta das Nações Unidas:</p><p>• Manter a paz e a segurança internacionais</p><p>• Desenvolver relações amistosas entre as nações</p><p>• Conseguir uma cooperação internacional para resolver os problemas</p><p>internacionais de caráter</p><p>° Econômico</p><p>° Social</p><p>° Cultural</p><p>° Humanitário</p><p>• Promover e estimular o respeito aos direitos humanos</p><p>• Ser um centro destinado a harmonizar a ação das nações</p><p>3.2.1. Normativas de direitos humanos</p><p>O sistema ONU de Direitos Humanos é composto por diversos instrumentos</p><p>normativos. Entre eles está a Carta Internacional de Direitos Humanos, que é</p><p>composta por:</p><p>• Declaração Universal dos Direitos Humanos</p><p>• Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos</p><p>• Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais</p><p>Além disso o Sistema ONU conta com sete Convenções Temáticas que incluem:</p><p>1. Convenção Internacional sobre a Eliminação de todas as Formas de</p><p>Discriminação Racial (1965)</p><p>2. Convenção sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação</p><p>contra as Mulheres (1979)</p><p>3. Convenção sobre os Direitos da Criança (1989)</p><p>4. Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (2006)</p><p>Falaremos a seguir sobre algumas normativas de direitos humanos. Para melhor</p><p>compreensão, consulte a imagem a seguir sempre que precisar, durante a leitura</p><p>sobre os instrumentos normativos do Sistema ONU.</p><p>42Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>Figura 20 - Normativas do Sistema ONU</p><p>Fonte: Elaborada pela autora.</p><p>Veja a seguir os instrumentos que compõem a Carta Internacional de Direitos</p><p>Humanos, os principais direitos protegidos por eles e sua relevância universal.</p><p>Quadro 7 - Instrumentos da Carta Internacional de Direitos Humanos</p><p>Instrumentos da Carta Internacional de Direitos Humanos</p><p>e principais direitos protegidos por eles</p><p>Pacto Internacional sobre</p><p>Direitos Civis e Políticos</p><p>Pacto Internacional sobre Direitos</p><p>Econômicos, Sociais e Culturais</p><p>Direito à vida Direito ao trabalho</p><p>Liberdade de pensamento,</p><p>consciência e religião Direito à educação</p><p>Direito à igualdade perante a lei Direito à saúde</p><p>Proibição da tortura e tratamentos</p><p>cruéis, desumanos ou degradantes Direito à alimentação adequada</p><p>Direito à liberdade e à</p><p>segurança pessoal Direito à moradia adequada</p><p>Liberdade de expressão Direito à segurança social</p><p>Direito à privacidade Direito à cultura</p><p>Direito à participação política Direito ao meio ambiente saudável</p><p>Fonte: Elaborado pela autora.</p><p>43Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública</p><p>Quadro 8 - Relevância Universal dos Pactos Internacionais de Direitos Humanos</p><p>Relevância Universal dos Pactos Internacionais de Direitos Humanos</p><p>Pacto Internacional sobre</p><p>Direitos Civis e Políticos</p><p>Pacto Internacional sobre Direitos</p><p>Econômicos, Sociais e Culturais</p><p>Protege os direitos civis e</p><p>políticos dos indivíduos, como</p><p>a liberdade de expressão,</p><p>de reunião pacífica e de</p><p>participação política</p><p>Protege os direitos econômicos, sociais</p><p>e culturais dos indivíduos, como</p><p>o direito ao trabalho, à educação,</p><p>à saúde e à segurança social.</p><p>Visa à garantia da liberdade</p><p>e dignidade humana,</p><p>incluindo o direito à vida e</p><p>a proibição da tortura.</p><p>Visa à garantia da igualdade social e à</p><p>eliminação das desigualdades econômicas,</p><p>promovendo a distribuição justa dos</p><p>recursos sociais e econômicos.</p><p>A aplicação dos seus princípios</p><p>é fundamental para a</p><p>promoção da democracia</p>

Mais conteúdos dessa disciplina