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SAÚDE MENTAL

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SAÚDE MENTAL
PROFA. MA. FRANCIELE CABRAL LEÃO MACHADO
Reitor: 
Prof. Me. Ricardo Benedito de 
Oliveira
Pró-Reitoria Acadêmica
Maria Albertina Ferreira do 
Nascimento
Diretoria EAD:
Prof.a Dra. Gisele Caroline
Novakowski
PRODUÇÃO DE MATERIAIS
Diagramação:
Alan Michel Bariani
Thiago Bruno Peraro
Revisão Textual:
Fernando Sachetti Bomfim
Olga Ozaí da Silva
Simone Barbosa
Produção Audiovisual:
Adriano Vieira Marques
Márcio Alexandre Júnior Lara
Osmar da Conceição Calisto
Gestão de Produção: 
Cristiane Alves
© Direitos reservados à UNINGÁ - Reprodução Proibida. - Rodovia PR 317 (Av. Morangueira), n° 6114
 Prezado (a) Acadêmico (a), bem-vindo 
(a) à UNINGÁ – Centro Universitário Ingá.
 Primeiramente, deixo uma frase de 
Sócrates para reflexão: “a vida sem desafios 
não vale a pena ser vivida.”
 Cada um de nós tem uma grande 
responsabilidade sobre as escolhas que 
fazemos, e essas nos guiarão por toda a vida 
acadêmica e profissional, refletindo diretamente 
em nossa vida pessoal e em nossas relações 
com a sociedade. Hoje em dia, essa sociedade 
é exigente e busca por tecnologia, informação 
e conhecimento advindos de profissionais que 
possuam novas habilidades para liderança e 
sobrevivência no mercado de trabalho.
 De fato, a tecnologia e a comunicação 
têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, 
diminuindo distâncias, rompendo fronteiras e 
nos proporcionando momentos inesquecíveis. 
Assim, a UNINGÁ se dispõe, através do Ensino a 
Distância, a proporcionar um ensino de qualidade, 
capaz de formar cidadãos integrantes de uma 
sociedade justa, preparados para o mercado de 
trabalho, como planejadores e líderes atuantes.
 Que esta nova caminhada lhes traga 
muita experiência, conhecimento e sucesso. 
Prof. Me. Ricardo Benedito de Oliveira
REITOR
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SUMÁRIO DA UNIDADE
INTRODUÇÃO ................................................................................................................................................................4
1. A HISTÓRIA DA LOUCURA .......................................................................................................................................5
2. REFORMA PSIQUIÁTRICA .......................................................................................................................................8
2.1 REFORMA PSIQUIÁTRICA NO CONTEXTO BRASILEIRO ................................................................................... 11
3. LEGISLAÇÃO NACIONAL DA ASSISTÊNCIA À SAÚDE MENTAL .......................................................................... 15
CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................................................................... 16
A HISTÓRIA DA LOUCURA 
E A REFORMA PSIQUIÁTRICA
 PROFA. MA. FRANCIELE CABRAL LEÃO MACHADO
ENSINO A DISTÂNCIA
DISCIPLINA:
SAÚDE MENTAL
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
INTRODUÇÃO
Para compreendermos o que hoje chamamos de “saúde mental”, não podemos deixar de 
considerar que esse termo se refere a um contexto histórico, social, político e cultural específico. 
Na história da humanidade, a loucura sempre existiu, mas nem sempre foi chamada de “transtorno 
mental”.
A partir do resgate de aspectos históricos da Psiquiatria, da Saúde Mental, do cuidado e da 
assistência à saúde, nesta unidade buscaremos interpretar a loucura a partir de sua historicidade: 
os rituais e crenças da Idade Média, a grande internação na sociedade industrial, a apropriação 
médica da loucura como doença a partir da Revolução Francesa, assim como conhecer as 
experiências de reformas psiquiátricas nos contextos mundial e brasileiro, que resultaram na 
maneira como hoje compreendemos o cuidado em saúde mental.
Ainda nesta unidade e, seguindo a linha do tempo, buscaremos apreender as legislações 
vigentes para a criação de políticas públicas no Brasil, que contemplam os direitos de pessoas com 
transtornos mentais ao acesso a tratamentos nos serviços de saúde e inclusão social, conhecendo 
a organização e as diretrizes da assistência em saúde mental no País.
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1. A HISTÓRIA DA LOUCURA
Um dos principais autores citados quando o assunto é a história da loucura é Michel 
Foucault (1926-1984), que dedicou seus estudos em filosofia e história para descrever como a 
sociedade lida com os “loucos”. A publicação do livro “História da loucura na idade clássica”, 
em 1961, inicia o questionamento: afinal de contas, qual é a linha que separa o “normal” do 
“patológico”? O autor escancara a exclusão social ao evidenciar como o conceito de doença 
mental oscilou ao longo do tempo e das mudanças culturais.
A loucura não pode ser encontrada no estado selvagem. A loucura só existe em 
uma sociedade, ela não existe fora das normas de sensibilidade que a isolam e 
das formas de repulsa que a excluem ou a capturam (FOUCAULT, 2006, p. 163).
Foucault não buscou estruturar um conhecimento sobre a loucura, nem qualquer forma 
de patologização, mas a define a partir da maneira como a sociedade lida com esse fenômeno, 
destacando a exclusão como maneira hegemônica em diversos contextos (PROVIDELLO; YASUI, 
2013).
Tendo como base o argumento de Foucault (2006) de que a loucura é concebida pela 
sociedade em consonância com os interesses políticos, econômicos e culturais, iremos conhecer 
um breve histórico da loucura, partindo da Idade Média até o momento atual.
A Idade Média compreende o período histórico entre os séculos V e XV e, durante esse 
momento, os registros históricos expressam que a sociedade considerava os loucos como aqueles 
que, de forma extravagante, falavam a verdade. De uma forma geral, eles pertenciam ao cenário 
social e havia uma aceitação da linguagem da loucura (PROVIDELLO; YASUI, 2013).
No entanto, o aprisionamento sempre existiu. Havia práticas médicas, mágicas e religiosas 
(exorcismo, queimar como bruxos, acorrentar) para a loucura, e muitos que não eram protegidos 
por suas famílias vagavam pelos campos e cidades. Nesse período, os rituais e crenças eram 
diversos.
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Figura 1 - O Navio dos Loucos. Fonte: Bosch (1450 — 1516).
Com o declínio das atividades artesãs, o êxodo rural (devido à queda do Feudalismo) e 
o início da Revolução Industrial e do capitalismo, as cidades aumentaram e a população cresceu, 
assim como o número de pessoas que não se encaixavam nessa nova ordem social, aumentando 
também o número de pessoas sem moradia, “desocupados”, “mendigos”, “vagabundos” e os loucos 
(MINAS GERAIS, 2006).
Nesse período, ao final do século XVIII, inicia o que Foucault (2006) chamou de “a 
grande internação”, que se constituiu numa forma universal e predominante de “tratar” os loucos, 
consistindo no isolamento social, torturas físicas e psicológicas.
Há um grande aumento de asilos e instituições psiquiátricas nos quais os desmoralizados, 
pessoas com doenças venéreas, lascivos, blasfemadores e suicidas eram internados, e a loucura 
se misturou a outras experiências que tinham a “desrazão” como ponto comum (PROVIDELLO; 
YASUI, 2013).
Dentro desses asilos e instituições, não necessariamente voltados para o cuidado em 
saúde, a conduta era predominantemente punitiva. A ideia era que esse problema, de ordem 
social, fosse corrigido moralmente através da repressão e castigo (MINAS GERAIS, 2006).
Esse modelo só foi repensado após a Revolução Francesa, ao final do século XVIII. A partir 
da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, as pessoas passaram a ser consideradas 
como iguais perante a sociedade e não se tolerava mais aprisionar cidadãos deliberadamente (a 
não ser que eles fossem loucos!)
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Sob o discurso de periculosidade e de ameaça à sociedade, os loucos não foram incluídos 
nessanova ordem social; no entanto, agora já não eram vistos como pecadores, mas, sim, como 
doentes que careciam de tratamento.
Com a finalidade de curar a loucura, as instituições de internação se especializaram e, 
assim, nasceram o manicômio e a especialidade médica da psiquiatria. Com os loucos agrupados, 
iniciou-se o trabalho clínico de observação, descrição de sintomas e categorização de doenças. 
No entanto, não houve evolução terapêutica. Mesmo com a denominação de diversos transtornos 
mentais que embasam a psiquiatria tradicional, a punição continuou sendo o único recurso 
destinado a essas pessoas (MINAS GERAIS, 2006).
Nos manicômios ou hospitais psiquiátricos, realizava-se então o chamado 
‘tratamento moral’. A doença do alienado o teria feito perder a distinção entre o 
bem e o mal; para ser curado, ele deveria reaprendê-la. Portanto, a cada vez que 
cometesse um ato indevido devia ser advertido e punido, para vir a reconhecer 
seus erros: quando se arrependia deles e não os cometia mais, era considerado 
curado. Sempre seguindo Foucault, podemos notar aqui algumas contradições 
curiosas. Primeiro, embora se diga que o louco não é culpado de sua doença, 
ele é tratado para tornar-se capaz de sentir culpa! Segundo, embora se diga que 
a punição foi substituída pelo tratamento, na verdade, a punição passa a fazer 
parte do tratamento (MINAS GERAIS, 2006, p. 24). 
No entanto, esse cenário começa a mudar ao final da 2ª Guerra Mundial. Os crimes 
contra a humanidade, cometidos pelo nazismo nos campos de concentração, chocaram o mundo 
todo, assim como a condição dos hospícios. Inicia-se no mundo todo um movimento em prol de 
estados democráticos e da luta por direitos humanos. Inicia-se a Reforma Psiquiátrica.
Veja como a forma de descrever a loucura muda conforme a sociedade. Na 
Antiguidade, os loucos eram vistos como pessoas iluminadas pelos deuses, 
que traziam mensagens e revelações. Com o passar do tempo e principalmente 
devido aos interesses políticos e econômicos, a exclusão social contribuiu para 
que fossem vistos como pessoas perigosas, que necessitavam de cura. Quais 
avanços tivemos desde então? Será que realmente deixamos esse modelo para 
trás? O que você pensa sobre isso? Ao longo do curso, veremos que a loucura não 
precisa de cura, mas, sim, de cuidado!
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2. REFORMA PSIQUIÁTRICA
A sociedade estava traumatizada com as guerras, que, além de todas as perdas envolvidas, 
também geraram danos à saúde mental dos jovens, os quais precisavam estar bem para contribuir 
à recuperação econômica, política e social com sua força de trabalho (MINAS GERAIS, 2006).
O movimento pela reforma psiquiátrica se dá nesse contexto e reverbera até os dias atuais. 
Existem três esferas da Reforma Psiquiátrica que são importantes de compreender para analisar 
como está o contexto brasileiro e identificar o projeto ideal para o qual caminharemos em busca 
de realização. São eles: 
 ➢ As reformas dos hospitais psiquiátricos, como a psicoterapia institucional e as comunidades 
terapêuticas: essas experiências se deram na França, que, apostando no vínculo 
terapêutico como reorganizador do manicômio, passou a promover festas, atividades 
artesanais etc. Já na Inglaterra, as comunidades terapêuticas buscaram a democratização 
das relações, dando espaços de voz para a expressão dos pacientes. O que elas têm em 
comum é democratizar as relações interpessoais e o respeito ao ser humano, porém, não 
questionavam as condições de vida da pessoa com transtorno mental no mundo externo 
e não propunham acompanhamento pós-alta (MINAS GERAIS, 2006).
 ➢ As reformas que buscam acoplar serviços extra-hospitalares ao hospital: nesse caso, 
houve as experiências da Psiquiatria de Setor na França, que construiu a ideia de cuidado 
no território, ou seja, dentro e fora do hospital, promover o acompanhamento por uma 
mesma equipe de Saúde Mental, com lares de pós-cura e centros de Saúde assistidos 
por equipes multidisciplinares. Já nos EUA, a psiquiatria preventiva atuou de forma a 
evitar internações, instituindo outros serviços de assistência à saúde mental. Ambos os 
movimentos visaram reduzir a importância do manicômio, criando outros serviços e 
valorizando aspectos psicossociais (MINAS GERAIS, 2006).
 ➢ As reformas que rompem com as anteriores, questionando o conjunto de saberes e de 
práticas da psiquiatria vigente: ambas defendem a extinção dos manicômios e tecem 
críticas ao saber hegemônico a respeito da saúde mental, trazendo uma nova reflexão sobre 
a loucura, não mais como doença, mas como uma reação aos desequilíbrios familiares e 
à alienação social (MINAS GERAIS, 2006).
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Figura 2 – Marco Cavallo (1973). Fonte: Amazon (2018).
Franco Basaglia é considerado a figura-símbolo da Reforma Psiquiátrica. Na 
cidade de Trieste, comandou o desmonte de um grande hospital, ao mesmo tempo 
em que se construíram, para os ex-internos, saídas para o seu retorno ao convívio 
social. 
Centros de Saúde Mental funcionando 24 horas por dia, em regime 
aberto, passaram a atender todos os casos que antes procuravam o 
hospital, mesmo – e principalmente! – os mais graves. Criaram-se 
possibilidades de trânsito, trabalho, cultura e lazer para os usuários na 
cidade. Para isto, foi preciso criticar a apropriação do fenômeno da 
loucura feita pelos saberes médicos e psicológicos. Na concepção da 
psiquiatria democrática, os muros do manicômio simbolizavam toda a 
dominação das palavras, ações e decisões dos ditos loucos feita em 
nome da ciência. Portanto, tratava-se de assegurar aos portadores de 
sofrimento mental um espaço real de cidadania – ou seja, propiciar-
lhes o lugar de protagonistas de uma transformação social, retomando 
suas próprias vidas, como legítimos habitantes da cidade. Todo este 
movimento resultou também na aprovação da lei nº 180, de 1878, que 
proíbe a construção de novos hospitais psiquiátricos na Itália (MINAS 
GERAIS, 2006, p. 26).
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Na Figura 2, vemos Franco Basaglia, um dos principais nomes da Reforma Psiquiátrica, 
ajudando a levar uma escultura de papel machê feita por artistas e por residentes do hospital 
psiquiátrico San Giovaninni, em Trieste, na Itália, em 1973. Esse foi um marco importante da 
reforma psiquiátrica, que simbolizou o rompimento (literal, pois partes das cercas do hospital 
foram derrubadas para abrir caminho para o cavalo) com as instituições psiquiátricas que 
aprisionavam as pessoas acometidas por doença mental. O primeiro passeio de Marco Cavallo 
para fora do asilo levou todos aqueles que, do lado de dentro, o construíram e o pintaram.
As reformas psiquiátricas aconteceram em momentos de inquietação política e cultural 
e foram um importante movimento coletivo em benefício da saúde mental, com repercussão no 
mundo todo.
As conquistas para as pessoas com transtornos mentais foram notórias, principalmente 
no que diz respeito a direitos civis e dignidade humana. No entanto, Minas Gerais (2006) alerta 
que esse processo desafia interesses poderosos, encontrando obstáculos políticos (veja só: em 
2006 já se interpretava assim!) e um momento de grande imobilismo. Isso porque, na ausência 
de organizações coletivas e de pressão social, os governos não cumprem com as políticas públicas 
outrora propostas, ao mesmo tempo em que nossa sociedade vive um crescente avanço cientifico 
e um empobrecimento cultural.
No próximo tópico, vamos nos ater ao contexto brasileiro, em como a Reforma Psiquiátrica 
chegou ao Brasil e quais mudanças ocorreram a partir de então.
Para mais informações sobre a história da loucura, leia: 
MUCHAIL, S. T.; FONSECA, M. A.; VEIGA NETO, A. O mesmo e o 
outro: 50 anos de História da loucura. Belo Horizonte: Autêntica 
Editora, 2013.
O material está disponível em https://integrada.minhabiblioteca.
com.br/#/books/9788582171097/cfi/4!/4/4@0.00:43.6.11WWW.UNINGA.BR
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2.1 Reforma Psiquiátrica no Contexto Brasileiro
O início da assistência à saúde mental no Brasil foi marcado pela construção do 
Hospício Pedro II, em 1852, no Rio de Janeiro. Tal espaço, destinado aos alienados, assinalava as 
necessidades impostas pelo progresso do Império, após a chegada da Família Real ao Brasil, e pela 
ideia de civilização como caminho para o desenvolvimento.
Figura 3 – Hospício Pedro II (1852), Rio de Janeiro. Fonte: MAPA (2016).
Após a construção do Hospício Pedro II, outros hospitais foram construídos em São 
Paulo, Pernambuco, Bahia e Minas Gerais. “Assim, também no Brasil, a ideologia da instituição 
psiquiátrica tendeu desde o início para a exclusão” (MINAS GERAIS, 2006).
As condições sanitárias eram precárias e desumanas. Ao final da década de 1950, havia 
superlotação, maus-tratos, falta de vestuário e de alimentação, além da falta de profissionais.
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Durante o regime militar, de 1964 até 1970, houve um aumento da iniciativa privada 
nas instituições psiquiátricas, sendo altamente lucrativo. Esse período ficou conhecido como 
“indústria da loucura”, quando se patologizaram dificuldades de ordem social. “Os gastos públicos 
com internações psiquiátricas ocupavam o 2º lugar entre todos os gastos com internações pagas 
pelo Ministério da Saúde. Eram raras alternativas de assistência – mesmo as mais simples, como 
o atendimento ambulatorial” (MINAS GERAIS, 2006, p. 30).
Nos anos 1970, denúncias dessa situação desumana surgiram, sob influência do processo 
de democratização do País e construção do SUS. Os próprios profissionais de saúde engajaram 
mudanças na assistência à saúde mental, organizando o Movimento de Trabalhadores em Saúde. 
Não deixe assistir a este filme, que está disponível em 
plataformas de streaming. Ele conta a história de Nise da 
Silveira, uma médica alagoana, que começou a trabalhar no 
Hospital Pedro II e não aceitou o tratamento oferecido pelo 
corpo clínico do hospital, que consistia em eletrochoques, 
camisas de força e isolamentos. Ela, então, passou a tratar 
essas pessoas com Terapia Ocupacional, iniciando sua 
própria Reforma naquele hospital.
 Após assistir ao filme, note que o Hospital Pedro II ainda 
existe e atende residentes internados há 30 anos, que 
perderam contato com suas famílias, internação transitória 
e regime ambulatorial. 
Fonte: Adoro Cinema (2016).
Dentre as primeiras denúncias feitas pelos trabalhadores, no contexto 
brasileiro, destaca-se que, em abril de 1978, ocorre o episódio conhecido 
como crise da DINSAM. Foi um acontecimento que, segundo cronologia 
proposta por Amarante (1995), ficaria marcado como o estopim 
do movimento da Reforma Psiquiátrica, no Brasil; nessa ocasião, 
os profissionais vinculados às quatro unidades da Divisão (Centro 
Psiquiátrico Pedro II, Hospital Pinel, Colônia Juliano Moreira e Manicômio 
Judiciário Heitor Carrilho) deflagraram uma greve, mas um fato anterior 
e importante para tal decisão fora o registro feito por três médicos do 
Centro Psiquiátrico Pedro II, no livro de ocorrências da instituição, das 
irregularidades daquele hospital, expondo publicamente a situação. A 
greve culminaria na demissão de 260 estagiários e profissionais que já 
vivenciavam condições precarizadas de trabalho, além da publicização 
da violência dos manicômios e um relativo alcance de divulgação, na 
mídia nacional (BAZARGHI, 2018, p. 45). 
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Em 1979, a discussão sobre a situação deplorável dos manicômios ganhou notoriedade 
no III Congresso Mineiro de Psiquiatria, ocorrido em Belo Horizonte, com a presença de Franco 
Basaglia e Robert Castel, e com a participação de usuários, familiares, jornalistas e sindicalistas 
(MINAS GERAIS, 2006, p. 30). 
Nessa ocasião, Franco Basaglia visitou o hospital colônia de Barbacena e o comparou 
aos campos de concentração nazistas, chamando-o de “o holocausto brasileiro.” Tal denúncia 
repercutiu e tornou a reforma psiquiátrica mais incisiva no Brasil.
Figura 4 – Hospital Colônia de Barbacena. Fonte: Alfredo (2019).
A luta antimanicomial no Brasil visava a eliminar a maneira desumana como os pacientes 
psiquiátricos eram tratados e foi fomentada também: pela Reforma Sanitária; pela VIII Conferência 
Nacional de Saúde, em 1986; pela I Conferência de Saúde Mental, em 1987, na cidade de Bauru; 
pelo II Encontro dos Trabalhadores em Saúde Mental; e pela Declaração de Caracas, em 1990, 
em que a OMS reuniu vários países “por uma sociedade sem manicômios” (MASTROROSA; 
PENHA, 2014).
Desde o início da reforma psiquiátrica no Brasil, destaca-se a importância dos profissionais 
de saúde nas denúncias e engajamento no movimento. Por isso, convidamos você, futuro(a) 
profissional de saúde, a se engajar nesse processo que carece de constante fortalecimento. Mais 
adiante, iremos falar sobre os mitos relacionados aos transtornos mentais, como o de incapacitação 
e periculosidade, que ainda designam o tratamento oferecido por profissionais a essas pessoas. 
Esperamos que sua caminhada seja pautada no respeito aos direitos humanos e na humanização 
da assistência à saúde.
Após a realização do Congresso em Bauru, o movimento de Reforma Psiquiátrica deixa 
de ser apenas de profissionais da saúde e passa a envolver as associações de usuários e familiares, 
estudantes, artistas e população em geral. Surge o lema “Por uma sociedade sem manicômios” e 
a definição do dia 18 de maio como o dia nacional da luta antimanicomial (BAZARGHI, 2018).
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A Reforma Psiquiátrica empreende a superação do modelo hospitalocêntrico, sustentada 
nos seguintes princípios, que foram descritos na Linha-Guia de Atenção em Saúde Mental pelo 
governo do Estado de Minas Gerais (2006):
• O respeito à singularidade de cada história e sujeito. 
• A crítica ao tecnicismo: a Reforma Psiquiátrica é um movimento social contra a 
discriminação e a violência com que se tratam os portadores de sofrimento mental.
• A superação do hospital psiquiátrico: considerando que, desde o início, o hospital 
psiquiátrico funcionou como mecanismo de exclusão e isolamento das pessoas 
”inadequadas” perante a sociedade e nunca ofereceu um cuidado ou “tratamento” eficaz, 
fomentamos a proposta de um modelo assistencial que dispensa o hospital psiquiátrico. 
Os serviços substitutivos em saúde mental resultam na liberdade, participação social e 
cidadania de seus usuários. São chamados de rede, pois constituem o conjunto de ações 
e de equipamentos necessários a cada município para que não se necessite do recurso ao 
hospital: os Centros de Atenção Psicossocial – os CAPS –, os Centros de Convivência, as 
Moradias (protegidas ou não), os Núcleos de Produção Solidária, as unidades básicas de 
saúde etc. 
• A presença na cultura: a ocupação dos espaços públicos por pessoas com sofrimento 
mental é valiosa tanto para eles como para a própria sociedade, que pode ser educada 
para a aceitação das diferenças e solidariedade.
• A interlocução constante com os movimentos sociais.
• A defesa do Sistema Único de Saúde: entendendo a Saúde como direito do cidadão e 
dever do Estado, os serviços substitutivos devem constituir uma rede pública, destinada 
ao atendimento de todo e qualquer cidadão que os procure.
• A perspectiva da intersetorialidade: a prática de políticas públicas de efetivo alcance 
social é indispensável, permitindo uma abordagem intersetorial dos diferentes aspectos 
envolvidos na abordagem do sofrimento mental. Esses aspectos envolvem a moradia, o 
trabalho, o lazer, a educação etc., construindo uma rede de suporte para as pessoas mais 
vulneráveis.
• A luta pela transformação social: defender os direitos dos portadores de sofrimento 
mental.
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3. LEGISLAÇÃO NACIONAL DA ASSISTÊNCIA À SAÚDE MENTAL
Em 1989, o deputado estadual Paulo Delgado apresentou o projeto de lei que ficou em 
tramitação durante 12 anos e, apenas em abril de 2001, foi aprovado e denominado de Lei da 
Reforma Psiquiátrica Brasileira (Lei 10.216/2001).
Essa lei reorienta o modelo de assistência à saúde mental e dispõe sobre a proteção e os 
direitos da pessoa com transtorno mental:
[...] I - ter acesso ao melhor tratamento do sistema de saúde, consentâneo às suas 
necessidades;
II - ser tratada com humanidade e respeito e no interesse exclusivo de beneficiar
sua saúde, visando alcançar sua recuperação pela inserção na família, no trabalho 
e na comunidade;
III - ser protegida contra qualquer forma de abuso e exploração;
IV - ter garantia de sigilo nas informações prestadas;
V - ter direito à presença médica, em qualquer tempo, para esclarecer a 
necessidade ou não de sua hospitalização involuntária;
VI - ter livre acesso aos meios de comunicação disponíveis;
VII - receber o maior número de informações a respeito de sua doença e de seu 
tratamento;
VIII - ser tratada em ambiente terapêutico pelos meios menos invasivos possíveis;
IX - ser tratada, preferencialmente, em serviços comunitários de saúde mental 
(BRASIL, 2001).
A finalidade almejada por essa lei é substituir o cuidado em saúde mental centrado 
nos hospitais e manicômios, que serviam também como prisão, por um modelo comunitário e 
territorial, aberto para a entrada e saída dos usuários. Esse caminho de reinserção social exigiu 
outras políticas públicas e a formatação de uma rede de cuidados substitutivos. 
A desinstitucionalização dos hospitais, isto é, a retirada das pessoas da prisão manicomial 
foi (e é) um processo longo. Muitas pessoas que foram internadas na década de 1970 não 
possuíam mais vínculo familiar, foram abandonadas nos hospitais e, mesmo que em situação 
estável, acumulavam 30 ou 40 anos de internação nos manicômios.
Em 2003, o então presidente Luís Inácio Lula da Silva assinou a Lei 10.708, que instituiu 
o auxílio de reabilitação psicossocial, tendo como principal objetivo o processo de reinserção 
social:
Fica instituído o auxílio-reabilitação psicossocial para assistência, 
acompanhamento e integração social, fora de unidade hospitalar, de pacientes 
acometidos de transtornos mentais, internados em hospitais ou unidades 
psiquiátricas, nos termos desta Lei. O auxílio é parte integrante de um programa 
de ressocialização de pacientes internados em hospitais ou unidades psiquiátricas, 
denominado ‘De Volta Para Casa’ (BRASIL, 2003).
 
Em consonância com essas mudanças, em 2011 a Portaria GM Nº 3.088 (23 de dezembro 
de 2011) instituiu a Rede de Atenção Psicossocial – RAPS – para pessoas com sofrimento ou 
transtorno mental e com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas no 
Sistema Único de saúde (SUS).
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesta unidade, conhecemos um pouco mais a respeito do percurso histórico do que 
chamamos de “loucura”, destacando que ela sempre existiu na história da humanidade. A maneira 
como culturalmente somos condicionados a olhar “os loucos” é que mudou ao longo do tempo. 
Nossa lente humana já a olhou como dom divino, como pecado, como perigo, como diferença, 
bizarrice etc. 
A forma de olhar a loucura na era moderna é como doença, a loucura precisa de tratamento 
e cura, os loucos precisam ser ajustados a um “padrão” de normalidade. Mas onde começa e onde 
termina a linha que divide o normal do patológico? 
Desde o seu início até os dias atuais, os manicômios têm a finalidade de “higienizar” as 
cidades e retirar de circulação os “improdutivos” e “inadequados”. Logo, o negócio se tornou 
lucrativo, e outros interesses fizeram perpetuar as internações psiquiátricas. 
Mas, se os manicômios fossem realmente efetivos, as pessoas sairiam de lá “curadas”, não 
é mesmo? O que encontramos nessa instituição foi tortura, violência, fome, castigos físicos, abuso 
psicológico, isolamento, ausência de convívio familiar e 30, 40 anos de internação. Uma sentença 
severa, sem direito a habeas corpus ou recorrer a um julgamento. Uma verdadeira prisão perpétua.
Só depois de muitas denúncias da situação deplorável em que os manicômios se 
encontravam e a partir de uma mobilização social dos próprios trabalhadores que se recusavam 
a ser coniventes é que a situação começou a mudar. 
O histórico da Reforma Psiquiátrica no Brasil coincide com o processo de democratização 
do País, com o fim da ditadura militar e com o início do SUS.
A partir de então, algumas leis foram aprovadas, garantindo o acesso ao cuidado em 
saúde mental em liberdade e de forma a prevalecer a reinserção social.
Quais comportamentos ou emoções devemos considerar como doentes? Você já se sentiu 
ansioso ou deprimido com o humor alterado? Sim, todos nós já nos sentimos assim. Por isso 
mesmo, não consideramos que as “doenças mentais” careçam de cura, mas, sim, de cuidado. 
Todo ser humano merece ter acesso ao cuidado de sua saúde mental.
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02
SUMÁRIO DA UNIDADE
INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................................... 18
1. REDE DE ATENÇÃO À SAÚDE MENTAL .................................................................................................................. 19
1.1 SAÚDE MENTAL NA ATENÇÃO BÁSICA ................................................................................................................20
1.2 CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL ...............................................................................................................22
2. REABILITAÇÃO PSICOSSOCIAL .............................................................................................................................24
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...........................................................................................................................................26
REDE DE ATENÇÃO À SAÚDE MENTAL 
(RAPS) E REABILITAÇÃO PSICOSSOCIAL
 PROFA. MA. FRANCIELE CABRAL LEÃO MACHADO
ENSINO A DISTÂNCIA
DISCIPLINA:
SAÚDE MENTAL
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INTRODUÇÃO
A partir do conteúdo desenvolvido na unidade anterior sobre a história da loucura e os 
percursos da Reforma Psiquiátrica no Brasil e no mundo, nesta unidade, iremos conhecer os 
resultados desse movimento no Brasil através da criação de políticas públicas manifestada em 
legislações, mas, principalmente, a partir da iniciativa dos trabalhadores de saúde em transformar 
a realidade em que viviam as pessoas internadas em manicômios.
A RAPS estrutura os serviços que vieram a substituir os hospitais psiquiátricos e demanda 
um movimento social contínuo para sua manutenção. Caracteriza-se como a principal política 
pública de cuidado em saúde mental no SUS, em parceria com a assistência social, e educação 
para a reinserção social e garantia de direitos para as pessoas com sofrimento mental.
Nesta unidade, vamos aprofundar o conhecimento a respeito dos equipamentos da 
RAPS, que são principalmente: a atenção básica, os centros de atenção psicossocial, centros de 
convivência, residências terapêuticas e emergência em saúde mental etc.
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1. REDE DE ATENÇÃO À SAÚDE MENTAL
Os princípios da Reforma Psiquiátrica passam a exercer mudanças na prática do cuidado 
em saúde mental no Brasil. Em 1986, ocorreu a VIII Conferência Nacional de Saúde (marco 
importante na saúde pública e construção do SUS), durante a qual houve uma problematização 
dos conceitos de saúde e doença, e o foco se voltou para a prevenção dos agravos na saúde e no 
conceito de saúde global. 
Foi o início de uma mudança de paradigma. A compreensãosobre o que é saúde 
mudou: não diz respeito apenas à dimensão física, mas também aos aspectos psicossociais, 
sendo resultante “[...] das condições de alimentação, habitação, educação, renda, meio ambiente, 
trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade, acesso e posse da terra e acesso a serviços de 
saúde” (BRASIL, 1986). 
Nesse mesmo ano, o primeiro Centro de Atenção Psicossocial (doravante, CAPS) foi 
inaugurado em São Paulo. Nessa data, não havia ainda políticas públicas ou subsídio para o seu 
funcionamento, mas, a partir de então, percebeu-se sua importância e efetividade no cuidado em 
saúde mental (MASTROROSA; PENHA, 2014).
A rede de atenção à saúde mental (doravante, RAPS) foi instituída através da Portaria GM 
Nº 3.088 (23 de dezembro de 2011). As diretrizes da RAPS são:
- Respeito aos direitos humanos, garantindo a autonomia e a liberdade das 
pessoas;
- Promoção da equidade, reconhecendo os determinantes sociais da saúde;
Combate a estigmas e preconceitos;
- Garantia do acesso e da qualidade dos serviços, ofertando cuidado integral e 
assistência multiprofissional, sob a lógica interdisciplinar;
- Atenção humanizada e centrada nas necessidades das pessoas;
- Diversificação das estratégias de cuidado;
- Desenvolvimento de atividades no território, que favoreçam a inclusão social 
com vistas à promoção de autonomia e ao exercício da cidadania (BRASIL, 
2011).
Os eixos estratégicos para a consolidação da RAPS acrescentam a necessidade de ampliação 
do acesso e a qualificação da rede de atenção integral à saúde mental, ações intersetoriais para 
reinserção social e reabilitação e ações de prevenção e de redução de danos (BRASIL, 2011).
Para atender a esses princípios, a assistência à saúde mental deve promover ações e 
serviços substitutos ao hospital psiquiátrico, que possibilitem sua superação. Para tanto, propõe-
se uma inversão da lógica curativista e hospitalocêntrica, usando a estratégia da atenção básica 
para a prevenção de agravos, cuidados ambulatoriais e acompanhamento territorial. 
Na Figura 1, podemos visualizar as estratégias da RAPS usando todos os níveis de atenção 
e incluindo a visão da pessoa como um todo, considerando necessidades de acolhimento, moradia, 
geração de renda, convívio social, acesso à educação e cultura.
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Figura 1 – RAPS. Fonte: Adaptado de Brasil (2011).
1.1 Saúde Mental na Atenção Básica
A atenção em saúde mental é de responsabilidade das unidades básicas de saúde, que se 
configura como um dos equipamentos de acesso. Essa estratégia reafirma o manicômio como 
desnecessário e aproxima o cuidado ao território da pessoa que está sendo cuidada. Há uma 
mudança em relação à antiga cultura de internação: a pessoa com transtorno mental não será 
mais encaminhada ao manicômio, mas é acompanhada por uma equipe multiprofissional no seu 
bairro e acessa recursos de seu espaço social para sua reabilitação.
Até o ano de 2020, tínhamos uma parceria firmada com a Estratégia de Saúde 
da Família para a territorialização do cuidado e busca ativa, efetuada através do 
Núcleo de Apoio à Saúde da Família. No entanto, o governo federal, através de 
uma nota técnica, informou que não iria mais credenciar e subsidiar equipes de 
NASF. 
O NASF havia sido criado em 2008 para consolidar a atenção primária, 
promovendo a atuação integrada em equipes multiprofissionais. Essa situação 
atinge diretamente as políticas de saúde mental e nos remete ao alerta de que a 
luta antimanicomial deve ser um movimento permanente, pois, vez ou outra, os 
direitos conquistados até então podem ser revogados.
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Uma questão enfatizada pela Linha-Guia de saúde mental de Minas Gerais (2006) é que os 
cuidados em saúde mental não são exclusivos de profissionais da equipe especializada (psiquiatras 
e psicólogos), mas da equipe multiprofissional (enfermeiros, técnicos em enfermagem, ACS, 
médico da família etc.) uma vez que nem todas as UBS têm alocação de uma equipe de saúde 
mental. Inclusive os casos mais graves devem ser priorizados nas UBS e em qualquer serviço de 
Saúde.
A recusa no atendimento a esses usuários tem a ver com as dificuldades dos próprios 
profissionais que, por preconceito, desconhecimento e desatualização, acabam recorrendo à 
medicalização como único tratamento, sem levantar outras possibilidades e questionar sua 
própria atuação.
É papel de todos os profissionais de saúde promover escuta atenta e acolhimento às queixas 
trazidas pelos usuários dos serviços de saúde mental, que produzirá o estreitamento do vínculo, 
a criação de uma equipe ou técnico de referência e, por consequência, uma melhor adesão ao 
tratamento e sugestões do Projeto Terapêutico Singular.
Todo cuidado é uma espécie de artesanato: não pode ser feito em série. Trata-se 
de um laço singular que se tece um a um, sem exceção. [...] Diferentemente dos 
demais, esses pacientes muitas vezes não pedem ajuda, e até mesmo parecem 
recusá-la; contudo, ao contrário do que se pensa, são particularmente sensíveis 
ao vínculo e ao cuidado (MINAS GERAIS, 2006, p. 42).
Com relação ao fluxo e critérios de encaminhamento, consideramos que a maioria 
das pessoas com transtorno mental pode ser acompanhada na Unidade Básica de Saúde mais 
próxima à sua casa e se, em algum momento de crise, forem necessárias medidas intermediárias 
(como permanecer durante o dia ou noite sob cuidados intensivos ou qualquer outra situação que 
exceda as funções da UBS), o encaminhamento deverá ser feito ao CAPS mais próximo durante 
o período de tempo necessário até que o usuário tenha condições de retornar à unidade básica. 
Essa conduta serve para pessoas em crise ou para aquelas que estão estáveis. Os egressos dos 
hospitais psiquiátricos também devem receber cuidados da sua unidade básica de referência, 
com a finalidade de se evitar uma nova internação (MINAS GERAIS, 2006).
Em alguns estados do Brasil, temos um recurso de encaminhamento e fluxo que se chama 
estratificação de risco em saúde mental, que será discutido na última unidade.
As situações que necessitam de avaliação de uma equipe de saúde mental são de pessoas 
que estejam vivendo em situação de isolamento e apatia, violência física e/ou psicológica, 
conflitos familiares, danos psicológicos devido ao longo tempo de sofrimento emocional ou por 
uma história de internação prolongada. Ademais, é necessário ter flexibilidade em relação aos 
encaminhamentos em Saúde Mental:
Para a equipe de Saúde Mental é de grande importância, ainda, a prática da 
referência e contra-referência com os outros serviços da rede. Assim como o 
CAPS deve receber um paciente que não vem respondendo ao acompanhamento 
inicial na unidade básica, a unidade, por sua vez, deve receber com presteza 
os egressos dos CAPS, dedicando-lhes a atenção e o cuidado mais próximos 
necessários a estes pacientes (MINAS GERAIS, 2006).
Outra maneira de a UBS exercer cuidado em Saúde Mental é a articulação com centros 
de convivência e cultura, residências terapêuticas etc. A presença nesses serviços colabora com 
a reconstrução do convívio social. Os usuários também podem precisar de cuidados, como 
hipertensão e diabetes, e poderão participar de atividades voltadas a esse público.
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É preciso desmontar o velho costume de enviar os psicóticos apenas ou 
principalmente para os psiquiatras. Todos os pacientes, neuróticos ou psicóticos, 
necessitam de uma escuta – e todo profissional de Saúde Mental deve ser capaz 
de oferecê-la, seja qual for o diagnóstico em questão (MINAS GERAIS, 2006 p. 
58).
1.2 Centro de Atenção Psicossocial
Como mencionado no tópico anterior, os Caps são uma estratégia de substituição dos 
hospitais psiquiátricos. A distinção entre os diferentes Caps varia de acordo com o horário de 
funcionamento, tamanho da equipe, porte domunicípio e usuários atendidos. “Os Caps oferecem, 
dentre outros recursos terapêuticos: atendimentos individuais e em grupo, atendimento à família; 
atividades de suporte social e inserção comunitária; oficinas terapêuticas; visitas domiciliares” 
(MINAS GERAIS, 2006).
Os Caps têm como característica principal serem independentes de estruturas hospitalares; 
por isso, não podem ser considerados como “mini-hospitais”. Alguns se parecem com casas para 
que o ambiente seja acolhedor e próximo ao usuário em seu território. 
É considerado como um espaço terapêutico, que favorece o respeito e a dignidade, não 
recorre ao uso da força, mas ao consentimento e participação ativa nas propostas terapêuticas. 
O Consultório na Rua é um dos componentes da atenção básica na rede de 
atenção psicossocial. Os Consultórios na Rua são equipes multiprofissionais e 
itinerantes que oferecem atenção integral a saúde para a população em situação 
de rua. Além do cuidado direto, também atuam como articuladores da rede local, 
por compartilhar o cuidado de casos extremamente complexos, implicando assim 
os atores locais neste cuidado. No Brasil atualmente 283 municípios são elegíveis 
para implantação de equipes de Consultório na Rua (eCR), segundo a Portaria 
122, de 26 de janeiro de 2012. Os demais municípios que tenham interesse em 
implantar eCR devem justificar a existência de, no mínimo, 80 pessoas em situação 
de rua, através de documento oficial (NOTA TÉCNICA DESF – MARINGÁ, 2019).
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Figura 2 – Funcionamento dos CAPS. Fonte: Adaptado de Brasil (2001).
Nas próximas unidades, vamos estudar mais a fundo a dinâmica dos transtornos mentais, 
mas, em linhas gerais, podemos dizer que o tratamento adequado possibilita uma vida estável 
às pessoas. No entanto, pode ocorrer desorganização psíquica, a que vamos chamar de “crise”. 
Nessas circunstâncias, agravam-se os conflitos familiares e com pessoas próximas. O Caps pode 
auxiliar na mediação dos conflitos e no estabelecimento ou modificação do Projeto Terapêutico 
Singular, que possa intensificar o acompanhamento do usuário em regime de permanência-dia e, 
quando necessário, permanência-noite (apenas no CAPS III) (MINAS GERAIS, 2006).
Quando não há CAPS III na cidade e for necessária a conduta de permanência-noite, 
as opções viáveis seriam a internação em leitos psiquiátricos em hospital geral e, como ultimo 
recurso e em uma relação provisória, a internação em hospital psiquiátrico com data de início 
e fim, totalizando, no máximo, 15 dias e reavaliando constantemente a estabilização psíquica da 
pessoa (MINAS GERAIS, 2006).
Em casos de atendimento de emergência, outros dispositivos da saúde estão disponíveis, 
como o Samu (192), a sala de estabilização, UPA 24 horas, os hospitais que atendem pronto-
socorro e as UBS.
Há também municípios que comportam a abertura de Caps AD para atender ao público 
que tem agravos na saúde mental em decorrência do uso de álcool e drogas, e o Caps I, que atende 
ao público infanto-juvenil.
Outras possibilidades de atuação em saúde mental que visam a amparar as estratégias de 
reinserção social são os centros de convivência e Residências Terapêuticas, que fazem parte do 
processo de reabilitação psicossocial.
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2. REABILITAÇÃO PSICOSSOCIAL
Todo o caminho percorrido pela Reforma Psiquiátrica, principalmente pela Antipsiquiatria, 
pretende não apenas extinguir o paradigma da exclusão social, da tortura e da violência à que 
foram submetidas as pessoas com transtorno mental ao longo da história, mas, principalmente, 
pensar em estratégias de cuidado e oferecer recursos terapêuticos para a reabilitação psicossocial 
em liberdade, acessíveis e próximos ao território.
No entanto, esse termo deve ser contextualizado para que não seja interpretado como 
capacitista, isto é, devemos tomar cuidado para não corroborar com a lógica de que a pessoa com 
transtorno mental é incapaz, inábil, inapta ou precisa se adequar a um “padrão de normalidade”.
[...] como observa o psiquiatra italiano Benedetto Saraceno, não existem as 
desabilidades ou habilidades ‘em si mesmas’: elas se definem no âmbito das 
redes sociais e das trocas que essas redes impedem ou possibilitam, permitem 
ou proíbem, incentivam ou esquecem. O autor propõe chamar de reabilitação 
‘um conjunto de estratégias orientadas a aumentar as oportunidades de troca de 
recursos e de afetos’ – onde se coloca como decisiva a perspectiva da negociação 
(MINAS GERAIS, 2006, p. 71).
Independentemente da gravidade ou condição do caso, a reabilitação psicossocial visa 
a restabelecer as possibilidades, convidando a pessoa a exercer (não importa em que medida) 
suas vidas social, emocional e econômica e cidadania. Dessa forma, a reabilitação psicossocial irá 
contar com o apoio da comunidade e de alguns programas, como oficinas terapêuticas, centros 
de convivência, cursos profissionalizantes, grupos de trabalho, iniciativa de economias solidárias 
e direito à moradia através dos Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT), estabelecidos pela 
Portaria nº3.090/2011.
No que diz respeito aos SRT, eles se configuram como uma estratégia fundamental no 
processo de desospitalização e reinserção social de pessoas com internação de longa permanência 
(dois anos ou mais, ininterruptos), egressas de hospitais psiquiátricos e hospitais de custódia. A 
proposta é manter o cuidado, mas também gerar autonomia. Cada residência está vinculada a 
uma equipe de saúde mental de referência, que dá o suporte técnico-profissional necessário ao 
serviço residencial, levando em conta o Projeto Terapêutico Singular e a inserção dos moradores 
no trabalho, lazer, educação, dentre outros.
O vídeo a seguir trata-se de um filme institucional do Centro de 
Atenção Psicossocial (CAPS) e das Residências Terapêuticas (RT) 
de Araruama–RJ, produzido em 2017, para exibição na 1ª Mostra 
“Dia 18 de Maio - Dia da Luta Antimanicomial”, realizada na semana 
de 18 de Maio, na Casa de Cultura. O vídeo está disponível no link 
https://www.youtube.com/watch?v=RU1lpMnHCKo.
Após assistir ao vídeo, notamos, de forma mais concreta, como a proposta de 
rede substitutiva do Caps, em detrimento das internações psiquiátricas, é eficaz. 
Além de mostrar algumas atividades desenvolvidas, narradas por profissionais e 
usuários, o vídeo também exibe duas Residências Terapêuticas que estão sob os 
cuidados das equipes do Caps, revelando, inclusive, que alguns moradores eram 
residentes no Hospital Colônia em Barbacena, mencionado na Unidade 1.
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Com relação ao papel da enfermagem na RAPS, embasar-nos-emos na sistematização da 
assistência em enfermagem (SAE), enfatizando que os cuidados não se resumem a procedimentos 
técnicos, mas compõem a coleta de dados e anamnese, exame físico, levantamento de diagnósticos 
de enfermagem e prescrição de cuidados e avaliação, o que implica a escuta da pessoa envolvida 
e uma boa comunicação (TAVARES, 2019).
Ainda de acordo com Tavares (2019), o relacionamento terapêutico ocorre quando 
enfermeiros criam vínculos que favorecem a saúde do usuário. As formas de se comunicar 
correspondem a um importante instrumento de cuidado, pois influenciam no relacionamento 
interpessoal. Muitos usuários “escolhem” técnicos de referência, com quem se sentem mais 
confortáveis e estarão mais confiantes em compartilhar suas queixas e aceitar sugestões de 
acompanhamento.
Para mais informações sobre o papel da enfermagem nas equipes 
de saúde mental, leia: 
TAVARES, M. L. O. Saúde mental e cuidado de enfermagem em 
psiquiatria. Porto Alegre: SAGAH, 2019.
A obra está disponível em https://integrada.minhabiblioteca.com.
br/#/books/9788595029835/cfi/1!/4/4@0.00:60.2 
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CONSIDERAÇÕES FINAISNesta unidade, conhecemos um pouco mais sobre a estrutura da Rede de Atenção 
Psicossocial, que tem por principal objetivo oferecer cuidado em saúde mental acessível no 
território, em liberdade, e fomentando a corresponsabilidade e a autonomia dos sujeitos.
A RAPS é o recurso fundamental que temos hoje no Brasil para a assistência à saúde 
mental. Utiliza os diversos níveis de atenção no SUS e integra ações tanto na saúde quanto na 
educação, assistência social e cultura, atingindo pessoas que estão passando por sofrimento mental 
e os egressos de internações de longa permanência, que ainda sofrem com as consequências 
do aprisionamento e exclusão social, vividos na cultura hospitalocêntrica e curativista dos 
manicômios. Os danos causados por essa forma de “tratamento” ainda estão sendo reparados 
atualmente.
Salientamos que a RAPS é fruto do movimento da Reforma Psiquiátrica no Brasil, 
impulsionado pelos trabalhadores de saúde e usuários. Em 2020, foi proposta uma revisão de várias 
Portarias da Política Nacional de Saúde Mental, com claros conflitos de interesses econômicos. 
Esse evento acendeu um alerta quanto à possibilidade de perder direitos em defesa do tratamento 
humanizado, da liberdade de pessoas com transtorno mental, além de ter mobilizado a sociedade 
e profissionais a realizarem abaixo-assinados.
Sendo assim, a pauta da saúde mental obteve avanços, mas ainda carece de contínuo 
apoio social.
Na Unidade 3, iremos estudar os aspectos dos transtornos mentais graves e descrever 
os critérios diagnósticos dos quadros de demências, transtornos mentais orgânicos, principais 
neuroses, psicoses e transtornos de humor.
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03
SUMÁRIO DA UNIDADE
INTRODUÇÃO ...............................................................................................................................................................28
1. TRANSTORNOS MENTAIS ORGÂNICOS ................................................................................................................29
2. PSICOSES ................................................................................................................................................................ 31
2.1 PRINCIPAIS APRESENTAÇÕES CLÍNICAS DAS PSICOSES ...............................................................................32
3. NEUROSES ...............................................................................................................................................................34
3.1 PRINCIPAIS APRESENTAÇÕES CLÍNICAS DAS NEUROSES..............................................................................35
4. USO E ABUSO DE ALCOOL E SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS ...............................................................................39
CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................................................................... 41
SOFRIMENTO GRAVE
 PROFA. MA. FRANCIELE CABRAL LEÃO MACHADO
ENSINO A DISTÂNCIA
DISCIPLINA:
SAÚDE MENTAL
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INTRODUÇÃO
Antes de iniciarmos os estudos a respeito dos transtornos mentais (orgânicos, psicoses, 
neuroses e uso e abuso de substâncias psicoativas), devemos ressaltar que a descrição e o 
agrupamento de doenças foram realizados a partir da observação de sintomas e na evolução do 
quadro clínico de pessoas internadas nos manicômios, dentro de um contexto de violência, tortura 
e péssimas condições de vida. Na literatura médica, os sofrimentos psíquicos são chamados de 
“transtornos”. De acordo com o dicionário Aurélio on-line, esta palavra significa: 
Ato ou efeito de transtornar, de causar incômodo; contrariedade. Situação que 
causa desconforto, geralmente imprevista e ruim; contratempo/ Modificar a 
organização, a ordem de; desorganização, desarranjo. [Medicina] Qualquer 
perturbação que altera a saúde de alguém: transtorno físico, mental, psicológico 
etc.
Notamos que a concepção de saúde mental vista sob esta perspectiva se refere a um modo 
“estável” de ser, sem perturbações ou desarranjos. Tal concepção não corresponde com a realidade 
da vida de todos nós. A estabilidade psíquica almejada pode se tornar um ideal inatingível, uma 
vez que as condições de vida estão em constante mudança. Viver exige flexibilidade, e a rigidez 
em uma única maneira de enfrentar situações adversas intensifica o sofrimento.
Devemos considerar também que o sofrimento psíquico faz parte da condição humana, 
frustrações, medo, angústia, tristeza, luto. Todos esses sentimentos podem ser cuidados. 
Além disso, o sofrimento psíquico se identifica com uma complexidade e diversidade 
de fatores envolvidos: biológicos, genéticos, subjetivos, sociais, culturais e políticos, portanto, 
suas definições não podem se resumir à lógica de causa e efeito, a simples descrição de sintomas, 
tampouco podemos considerar que um dos fatores seja superior ao outro.
A partir desse posicionamento, iniciaremos os estudos a respeito dos transtornos mentais 
graves, sempre considerando que os “sintomas” podem ser compartilhados por um grupo de 
pessoas, mas cada sujeito irá vivenciar sua condição de modo singular.
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1. TRANSTORNOS MENTAIS ORGÂNICOS
Como mencionamos na introdução, o estudo e classificação das doenças psiquiátricas se 
deu principalmente pela observação clínica. Muitos experimentos foram realizados no período 
em que os manicômios reuniam os “alienados” em um só lugar.
Assim como a classificação de doenças, a investigação das causas das doenças psíquicas 
acompanhou o desenvolvimento tecnológico e cientifico e só foi impulsionada no século XIX 
com as possibilidades de uso de exames de imagem como tomografias e ressonância magnética, 
que possibilitam investigar melhor possíveis alterações estruturais do cérebro (MINAS GERAIS, 
2006).
Por exemplo, a investigação das funções dos neurotransmissores nos transtornos 
psíquicos se deu após a administração de alguns psicofármacos que evidenciaram melhora do 
quadro clínico e a diminuição de sintomas (MINAS GERAIS, 2006).
A partir desses estudos, temos uma primeira distinção essencial dos transtornos mentais: 
aqueles que derivam de fatores orgânicos observáveis e os que não possuem causa orgânica 
determinada.
Os quadros orgânicos constam na CID-10 entre a classificação F00 – F09 e F.10 – F.19. e 
caracterizam-se como as demências e os delirium, sendo seu principal sinal o prejuízo cognitivo 
(de inteligência e memória e/ou nível de consciência). 
O declínio das funções psíquicas denota algum nível de dano nas estruturas cerebrais 
neuroanatômicas e neurofisiológicas, corroborando em quadros neuropsiquiátricos, em que há 
alteração no comportamento que pode afetar também o eixo social (MINAS GERAIS, 2006).
Nesta classificação, está inclusa a doença de Alzheimer, doenças cérebro-vasculares, 
traumatismos crânio-encefálicos, tumores cerebrais, quadros derivados de condições médicas 
gerais (doenças endócrinas, cardiopatias, insuficiência renal ou hepática etc.), e quadros 
relacionados à abstinência ou à intoxicação por substâncias psicoativas (delirium tremens e 
vários outros). 
O fator orgânico sempre estará presente na distinção desses transtornos em relação aos 
demais que serão descritos na sequência. Na imagem a seguir, vemos claramente a perda ou 
lesões nas estruturas cerebrais no caso da doença de Alzheimer.
Figura 1 - Cérebro normal vs. A doença de Alzheimer. Fonte: Anatomical Travelogue (2018).
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Em geral, os transtornos mentais orgânicos atingem mais a população idosa. Reis 
et al. (2013) revisam alguns estudos brasileiros que apontam que 7% dos idosos acima de 65 
anos apresentam algum tipo de demência. Em decorrência das lesões cerebrais, identifica-se 
perturbação no humor, na personalidadee comportamento violento.
Os autores supracitados também enfatizam a importância da Reforma Psiquiátrica no 
que tange à mudança na assistência à saúde mental que corrobora com a prevenção de agravos, 
promoção de saúde mental na atenção básica e a prática de desinstitucionalização e reinserção 
social.
No que diz respeito às práticas de saúde, Reis et al. (2013) ressaltam que o atendimento a 
essa população tende a se intensificar devido ao aumento da expectativa de vida e envelhecimento. 
Nesses casos, a equipe de saúde é responsável por auxiliar a família de pessoas acometidas 
por transtornos orgânicos, informando quanto aos sintomas, evolução da doença e efeito das 
medicações prescritas, como também por fazer o planejamento de ações de acordo com os 
dados epidemiológicos do seu território e articular com a rede de saúde a sistematização dos 
atendimentos.
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2. PSICOSES
As psicoses são quadros psiquiátricos severos e persistentes e encontram-se descritos no 
CID-10 nas seguintes classificações: F.20 a F.29, F.30, F.31, F.32.2 e 32.3. 
As principais características clínicas são os delírios, alucinações, alterações da consciência 
do eu, perda de contato com a realidade, desorganização do pensamento e/ou do comportamento 
ou comportamento catatônico. Pode ou não haver a experiência de estar sendo perseguido ou 
ameaçado (por pessoas ou forças estranhas), que acarretam prejuízos em algum nível da vida 
pessoal, familiar e social (DALGALARRONDO, 2019).
Os principais grupos de sintomas psicóticos são: negativos, positivos, de desorganização, 
psicomotores/catatonia, prejuízos cognitivos e sintomas de humor. A seguir, podemos visualizar 
seus respectivos significados:
Figura 2 - Sintomas psicóticos presentes na esquizofrenia e em outros tipos de psicoses. Fonte: Adaptado de 
Dalgalarrondo (2019).
Atualmente, o diagnóstico diferencial das psicoses envolve a identificação de sintomas 
positivos (delírios, alucinações e percepção alterada da realidade) como também dos sintomas 
negativos que podem ser decorrentes da própria esquizofrenia ou de efeitos colaterais dos 
remédios antipsicóticos, uma vez que devido à sua ação inibitória de sintomas positivos pode 
resultar em depressão e/ou isolamento social. (DALGALARRONDO, 2019)
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Em decorrência dos sintomas negativos, observa-se, em uma parte das pessoas 
com esquizofrenia, uma considerável negligência quanto a si mesmo, que se 
revela pelo descuido e desinteresse para consigo mesmo, com higiene pobre, 
roupas malcuidadas, descuido da aparência e/ou dos cuidados com a saúde, 
cabelos sujos, dentes apodrecidos, entre outros aspectos (DALGALARRONDO, 
2019 p. 379).
Além disso, Dalgalarrondo (2019) também aponta que há sintomas neurológicos 
inespecíficos como: prejuízo na função olfativa, hipoalgesia (sensibilidade diminuída à dor), 
alterações da motilidade dos olhos, prejuízo nas habilidades de coordenação motora fina e de 
sequenciamento de tarefas motoras complexas, presença aumentada de reflexos primitivos, assim 
como anomalia da dominância hemisférica cerebral.
2.1 Principais Apresentações Clínicas das Psicoses
Quando ocorre o primeiro episódio psicótico (sintomas positivos ─ perda de contato 
com a realidade, alucinação ou delírio) é preciso identificar se ele ocorreu uma única vez e não 
ressurgiu até o momento da observação. Dentro dessas condições, podemos caracterizar como 
um transtorno psicótico agudo e transitório (F.23).
Caso esse episódio se repita, se agrave ou some outros sintomas descritos anteriormente, 
consideraremos as hipóteses diagnósticas de transtornos mentais graves e persistentes presentes 
no CID10 com as seguintes definições:
I. Esquizofrenia (F.20): 
É uma das principais apresentações clínicas da psicose e a mais grave. Sua prevalência 
é calculada ente 1,0 e 3,0% da população em geral. Raramente, é observada antes dos 10 anos 
e depois dos 50, com grande frequência, inicia-se na adolescência ou na idade adulta jovem 
(MINAS GERAIS, 2006).
Envolve um conjunto de sintomas e comportamentos e é uma vivência não linear, isto é, 
a pessoa passa por fases diversas com manifestações variadas, havendo períodos de regressão e 
progressão desses traços (DALGALARRONDO, 2019). 
Como na maioria dos casos, a esquizofrenia se manifesta no início da vida adulta, 
exige da pessoa um autoconhecimento sobre sua condição. Em contato com as dificuldades de 
relacionamento interpessoais, a própria pessoa vai desenvolvendo uma percepção de que precisa 
de cuidados específicos. Mas esse autoconhecimento é um processo contínuo, faz parte dele, em 
alguns momentos, a recusa do acompanhamento médico, psicológico e ingestão de medicamentos.
II. Transtorno delirante persistente (F.22): 
Caracteriza-se pelo predomínio de sintomas positivos, em especial a elaboração delirante. 
Neste caso, o delírio se torna bem organizado, em que é possível explicar de forma racional a 
origem do delírio. Sintomas como alucinações verbais e alterações da consciência do eu não fazem 
parte da definição deste transtorno. A personalidade é preservada e há um bom funcionamento 
psíquico, social e profissional, o que torna a reabilitação entre as crises facilitada. A desconfiança 
será o maior obstáculo na socialização (MINAS GERAIS, 2006). 
III. Esquizofrenia hebefrênica (F.20.1): 
Transtorno grave e de início mais precoce, apresenta uma proporção bem maior de 
sintomas negativos do que positivos, uma vez que os delírios e alucinações são menores. A 
pessoa experimenta um “esvaziamento” da vida psíquica, pode ser difícil comunicar-se devido ao 
embotamento e mutismo.
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IV. Esquizofrenia catatônica (F.20.2): 
A pessoa apresenta sintomas ligados à esfera psicomotora, que podem se expressar como 
paralisia ou imobilismo ou como agitação excessiva. 
V. Esquizofrenia residual (F 20.5): 
Neste tipo grave de esquizofrenia há um predomínio de sintomas negativos que 
evoluem para um quadro grave de desagregação do pensamento, embotamento afetivo, fala e 
comportamento estereotipados.
VI. Transtornos severos de humor (Episódio depressivo grave: F 32.2 e F 32.3): 
Nesses casos, a prevalência é do sentimento de melancolia, anestesia afetiva, tristeza vital e 
profunda. Trata-se de um quadro grave depressivo e psicótico que não pode ser confundido com 
a Depressão Maior (que está no campo das neuroses). Pode ou não ser acompanhado por delírios, 
alucinações e alterações da consciência do eu. Se houver a presença de delírio, seu conteúdo é de 
autoacusação e desprezo por si mesmo (MINAS GERAIS, 2006).
VII. Transtornos severos de humor (Mania F.30): 
Essa manifestação psicótica se caracteriza como o oposto da melancolia descrita 
anteriormente. Toda a vida psíquica da pessoa encontra-se acelerada, sendo fácil de observar 
a agitação na comunicação verbal e comportamental. Há uma exacerbação da sexualidade e 
do apetite, sentimentos de grandeza e onipotência. Pode ou não ser acompanhada de delírios 
e alucinações. Quando presentes, os delírios se manifestam com a elevação do humor, temas de 
grandeza e poder (MINAS GERAIS, 2006).
Transtornos severos de humor (Psicose Maníaco-depressiva Transtorno bipolar F.31): 
Esse transtorno é mais conhecido pelo senso comum, mas seu diagnóstico requer cuidado 
e atenção. Oscilações de humor (triste e feliz) faz parte da existência humana. Já este transtorno 
se manifesta de forma grave em crises que limitam as relações interpessoais e atividades comuns. 
A alternância entre crises de mania (extrema agitação e vigor) e de melancolia (tristeza vital 
e profunda) são intensas, como estão descritas nos transtornos de mania e depressão acima. 
No entanto, os intervalos entre as crises possibilitam a recuperação da integridade psíquica, e a 
adesão ao tratamento contribui parauma boa reabilitação psicossocial.
Tendo um conhecimento mais amplo e, ao mesmo tempo, resumido sobre as diferentes 
formas de apresentação clínica das psicoses, se formos comparar o conhecimento sobre a loucura 
com o conhecimento que temos das cores, podemos dizer que ela não é só “preto ou branco”, 
“louco ou não louco”, mas que existem diversas tonalidades na sua expressão. Essas distinções 
são mais pormenorizadas ainda quando consideramos que a vivência dela é singular e irrepetível.
Destacamos que o papel da equipe de saúde no atendimento às pessoas com esquizofrenia 
ou com os demais tipos de psicoses será imprescindível para a adesão e manutenção do 
tratamento, por meio da criação do vínculo e da construção de uma relação de ajuda, sendo a 
referência mais próxima em momentos difíceis. Cabe lembrar que o acompanhamento contínuo 
e medicamentoso colabora com o controle dos sintomas positivos e negativos e evita ou adia 
crises que necessitem de internação.
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3. NEUROSES
As neuroses se configuram como outro tipo de sofrimento mental, que também podem 
ser graves e limitantes, mas se diferem das psicoses principalmente por serem psicologicamente 
compreensíveis. A linguagem, os significados sociais e compartilhados e a comunicação ficam 
preservados, facilitando o diagnóstico e tratamento.
Nas neuroses, os sentimentos considerados “normais” são vividos de forma mais intensa, 
por exemplo, a ansiedade, tristeza, medo etc. Cabe destacar que não há prejuízo primário de 
inteligência, de memória, nível de consciência e contato com a realidade, assim como afirma 
Minas Gerais (2006): “As vivências neuróticas, embora possam assumir feições muito graves, e até 
mesmo incapacitantes, são fundamentalmente semelhantes a que experimentamos uma vez ou 
outra em nossas vidas. Isto quer dizer que somos todos neuróticos? Num certo sentido, sim”. Os 
transtornos neuróticos podem ser localizados na CID-10, nos itens F.40 a F.48, no qual devemos 
nos atentar aos seguintes critérios: Excluir o diagnóstico dos quadros de origem orgânica, excluir 
o diagnóstico de psicose, caracterizar os sintomas como patológicos (excessivos, frequentes, 
insistentes e prejudiciais à vida), considerar os sintomas sempre em relação com a história e 
circunstâncias atuais de vida da pessoa e buscar compreender o contexto que fez surgir ou que faz 
agravar os sintomas (MINAS GERAIS, 2006).
Esses cuidados servem para que não caiamos na armadilha de tornar patológico o que faz 
parte da vida humana, por exemplo, em momentos de morte de um familiar ou amigo, ficamos 
enlutados, tristes, choramos, sentimos raiva, às vezes necessitamos de um tempo maior que 
outra pessoa para retomar o trabalho e a vida social. A maioria das pessoas passa pelo luto com 
pesar, mas sem necessitar de intervenções em saúde mental. No entanto, há um risco aumentado 
em algumas situações ou circunstâncias de essa experiência tornar-se um luto complicado, ou 
patológico, no qual podem ser necessários os acompanhamentos com profissionais especializados.
A principal diferença entre alucinações e delírios diz respeito à conexão com a 
realidade. O delírio contém partes da realidade, por exemplo, em uma estruturação 
delirante, uma pessoa pode ter plena convicção de que o FBI implantou câmeras 
em sua casa enquanto trabalhava, e estão ouvindo tudo que diz, em conspiração 
contra sua vida. Não parece uma cena distante de um filme hollywoodiano, certo? 
Possui traços de realidade mesmo que racionalmente saibamos que essa situação 
não está ocorrendo, não é totalmente impossível de acontecer. Diferentemente 
da alucinação que claramente rompe com a realidade, por exemplo, uma pessoa 
em crise pode ver um dragão na porta de sua casa, ouvir vozes que não são 
audíveis pelos outros ou acreditar piamente que é uma personalidade famosa “o 
Batman”. Além da indicação de filme abaixo, sugiro também um episódio sobre 
esquizofrenia que o programa jornalístico “A liga” fez e está disponível no youtube. 
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3.1 Principais Apresentações Clínicas das Neuroses
I. Neuroses de ansiedade (F.40 e F.41)
Todas as neuroses de uma forma geral englobam a ansiedade, neste caso, é o principal 
sintoma. A ansiedade é uma forma de medo que provém de um sistema de defesa do corpo 
humano. Mediante uma situação de perigo, o corpo se prepara fisiologicamente para lutar ou 
fugir. Há uma descarga de adrenalina, cortisol e outros hormônios, toda a circulação é direcionada 
para os órgãos vitais, as extremidades recebem pouca oxigenação e podemos sentir os pés e as 
mãos gelados. Os batimentos cardíacos aceleram para que o corpo possa entrar nesse “embate”. 
No entanto, essa preparação toda, muitas vezes, não corresponde a um objeto específico (um leão, 
por exemplo), isto é, não estamos de fato em risco, mesmo que haja uma forte percepção. Assim, 
essa condição se prolonga e mantém o corpo em um estado constante de alerta, antecipando 
situações negativas que ainda não ocorreram e trazendo muitos prejuízos a curto, médio e longo 
prazo.
Essa inquietação, que é muito funcional à sobrevivência humana, mas que por vezes se torna 
desagradável, é acompanhada de manifestações somáticas e fisiológicas (dispneia, taquicardia, 
tensão muscular, tremores, sudorese, tontura etc.). No caso do transtorno generalizado de 
ansiedade (F-41.1), a ansiedade é excessiva e se estende a diversas áreas da vida, afetando funções 
vitais como sono, apetite, sexualidade, relacionamentos interpessoais e trabalho. Já no transtorno 
do pânico (F.41.0) ocorrem episódios intensos de ansiedade, que duram alguns minutos ou horas, 
e que envolvem palpitações, sudorese, dor torácica, vertigens ligados a um medo acentuado de 
morrer (MINAS GERAIS, 2006).
Apesar de nem todo sofrimento ser um transtorno mental, todo sofrimento pode 
e merece ser cuidado. A saúde mental não é apenas um estado de equilíbrio 
emocional, envolve diversos aspectos como os emocionais, culturais, sociais 
e políticos. Nossa vida não é uma curva ascendente, sempre teremos algumas 
batalhas a enfrentar, umas mais desafiadoras do que outras. Pode ser que em 
algum momento qualquer um de nós necessite de cuidado especializado, isso 
não nos torna mais fracos ou doentes, mas humanos, que podem contar uns 
com os outros e com os recursos disponíveis, seja psicoterapêutico, psiquiátrico, 
ou mesmo os mais simples como aumentar o tempo de descanso, lazer, iniciar 
novos projetos, encerrar relacionamentos difíceis etc. Cuide sempre de sua saúde 
mental, tanto quanto de sua saúde física. 
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Na figura a seguir, podemos observar como a ansiedade se torna um círculo de 
retroalimentação:
Figura 3 - Ciclo da ansiedade. Fonte: Adaptado de estudos a respeito da teoria polivagal de Stephen Porges (2021).
II. Transtornos fóbico-ansiosos: 
Esta demonstração da ansiedade se relaciona a circunstâncias ou objetos que não são 
ameaçadores para a maioria das pessoas, são eles a agorafobia (F.40.0), que pode ocorrer a partir 
do transtorno de pânico, pois a pessoa passa a ter medo de sentir pânico ou estar em lugares ou 
situações que desencadearam esse medo intenso. Fobias sociais (F40.1) ─ o medo de interações 
sociais ─, em especial quando há situação de avaliação ou julgamento. Fobias específicas isoladas 
(F.40.2), em que há medo excessivo ou irracional ligado a circunstâncias ou a objetos bem 
determinados: alturas, certos animais etc. Outros transtornos fóbico-ansiosos (F.40.8) e, por fim, 
Transtorno fóbico-ansioso não especificado (F.40.9).
Minas Gerais (2006) aponta que devemos seguir algumas recomendações para o 
diagnóstico das neuroses de ansiedade, como caracterizar a ansiedade como predominante no 
quadro para que haja maior distinção dos sintomas depressivos (mesmo que ambos possam estar 
presentes)e compreender se a queixa de ansiedade é limitante, excessiva, desproporcional, fora 
do controle, ou incapacitante.
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III. Neurose histérica (transtornos somatomorfos e dissociativos): 
A neurose histérica tem apresentações diversas, como somatomorfos (F.45), cujas queixas 
condizem com sintomas somáticos, no qual não há causa ou origem orgânica como dores difusas, 
disfunções gastrintestinais, neurológicas, cardíacas, locomotoras etc. Pode acometer funções 
motoras (perda inexplicável da audição, por exemplo) ou sensoriais voluntárias.
Já a neurose histérica dissociativa (F.44) apresenta-se como amnésia parcial, em que 
a memória é preservada para a maioria dos eventos da vida exceto alguns que são esquecidos 
em função de seu significado emocional. Tais transtornos podem envolver níveis variados de 
ansiedade ou de depressão (MINAS GERAIS, 2006).
IV. Neurose obsessiva (transtornos obsessivo-compulsivos F.42):
As obsessões são ideias que se impõem e invadem o pensamento, mesmo quando a pessoa 
não quer. Geralmente, são pensamentos socialmente rejeitados e mal vistos, de cunho imoral, 
político, religioso etc. Com frequência, a pessoa não realiza os impulsos, mas tem medo de fazê-
los.
Os comportamentos compulsivos funcionam como um meio de afastar ideias obsessivas, 
como uma proteção para evitar que se realizem. A invasão desses pensamentos causa muito 
desconforto e ansiedade, e a resposta a esses sentimentos são as manias e rituais característicos 
desse transtorno, que possuem um efeito retórico, trazem alívio e incômodo, ao mesmo tempo, 
sendo que a ansiedade se apresenta de forma muito intensa nesses casos. 
Figura 4 – Esquema da ansiedade no transtorno obsessivo-compulsivo. Fonte: A autora (2021).
V. Episódios depressivos em neuróticos (episódios depressivos leves e moderados).
Os episódios depressivos em neuróticos, muitas vezes, têm um caráter reativo, isso 
significa dizer que o desgaste emocional da ansiedade pode conduzir à depressão, por isso, 
podemos associar a depressão à ansiedade. 
Do ponto de vista da teoria polivagal de Stephan Porges, depois de um período de muito 
estresse ou estresse crônico, como forma de proteção e sobrevivência, o organismo entra em um 
modo de paralisação e economia de energia, que se assemelha muito ao desânimo característico 
da depressão. Sendo assim, o humor triste, ausência de vontade, desânimo e tristeza são, 
desproporcionalmente, mais evidentes e permanentes do que nas respostas normais de tristeza 
que ocorrem ao longo da vida (DALGALARRONDO, 2019).
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Além dos sintomas mencionados anteriormente, a depressão afeta aspectos 
neurovegetativos, neuronais, neuroendócrinos, ideativos e cognitivos, relativos à autovaloração, 
à vontade e à psicomotricidade: 
A depressão causa considerável impacto na saúde física e mental e na qualidade 
de vida das pessoas acometidas; ela é, entre todas as doenças (físicas e mentais), 
uma das principais causas daquilo que a Organização Mundial da Saúde (OMS) 
chama de ‘anos vividos com incapacidades’ (YLDs, years lived with disability) e 
‘perda de anos em termos de morte prematura e perda de anos de vida produtiva’ 
(DALY Disability Adjusted Life Years). A DALY relacionada à depressão foi 
associada, em 2010, a cerca de 16 milhões de suicídios (DALGALARRONDO, 
2019 p. 346).
Dalgalarrondo (2019) aponta que a prevalência de depressão na vida adulta é de 17% 
no Brasil, sendo esta uma estimativa maior que o cenário internacional, além disso, a depressão 
aumenta em 20 vezes o risco de suicídio.
Minas Gerais (2006) ressalta que há bom prognóstico em relação à depressão, pois mesmo 
quando muito deprimidos, os neuróticos sentem desejo e alívio em falar a respeito, costumam 
pedir ajuda, seja aos familiares ou aos amigos, seja procurando auxílio de profissionais de Saúde. 
A seguir, vamos listar os tipos de depressão, nos quais não iremos nos aprofundar, mas 
apenas evidenciar que este também é um fenômeno complexo, que não pode ter sua importância 
diminuída devido ao alto índice de diagnóstico:
Figura 5 – Tipos de transtornos depressivos. Fonte: Adaptado de Dalgalarrondo (2019).
Para aprofundar o conhecimento a respeito das diferentes formas de sofrimento 
psíquico, recomendo a leitura desse livro que também é nossa referência nesta 
unidade e está disponível na biblioteca virtual: 
DALGALARRONDO, P. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais 
[recurso eletrônico]. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2019.
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4. USO E ABUSO DE ALCOOL E SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS
Ao contrário do que se pensa sobre o uso e abuso de substâncias psicoativas, o uso de 
drogas ilícitas não se compara estatisticamente ao abuso de álcool. Estima-se que o alcoolismo 
atinge 12% da população adulta, sendo que 6% são dependentes. O uso abusivo de qualquer 
substância psicoativa, seja lícita ou ilícita, se configura como “uso compulsivo e frequente, que 
o usuário tem dificuldade em manter sob controle, acarretando abandono de outros interesses e 
danos para a sua vida afetiva, social e profissional” (MINAS GERAIS, 2006 p. 194).
Este se constitui como um grave problema de Saúde Pública, pois o uso do álcool é 
socialmente aceito e incentivado, o que exige atenção aos diversos fatores que contribuem com 
esse índice, como os problemas da violência urbana, injustiças sociais, desigualdades de acesso à 
educação, ao trabalho, ao lazer e à cultura (MINAS GERAIS, 2006).
Há um forte preconceito de que todo usuário de droga necessita de internação ou prisão 
por ser doente ou delinquente. Há também a ideia de que a abstinência imediata seria a proposta 
mais aceitável para o tratamento, quando, na verdade, o modelo de redução de danos vem se 
mostrando a estratégia mais assertiva para esses casos, uma vez que auxilia o processo de retomada 
da autorregulação pelo próprio usuário (MINAS GERAIS, 2006).
A abstinência brusca, por sua vez, alimenta a compulsão, nesse sentido, a redução de 
danos auxilia a limitar a quantidade de ingestão, selecionar e limitar dias e horários de uso e 
outras estratégias que possam beneficiar o usuário. Em todo caso, haverá a exigência de tempo, 
paciência, apoio familiar e social e a construção do vínculo do usuário a uma equipe ou serviço 
de referência.
A classificação das drogas se dá a partir de sua ação no Sistema Nervoso Central, podendo 
ser depressora (álcool, derivados do ópio, morfina, heroína, codeína, inalantes, solventes, 
ansiolíticos etc.); estimulantes (anorexígenos, cafeína, nicotina, cocaína e crack) e perturbadoras 
(mescalina, maconha, chá de lírio, LSD, êxtase) (MINAS GERAIS, 2006).
Considerando que tanto neuróticos como psicóticos podem fazer uso abusivo de 
substâncias psicoativas, a relação entre comorbidades psiquiátricas e o uso e abuso de álcool e 
drogas configuram-se como uma piora da evolução e do prognóstico de um transtorno mental 
primário, intensificando crises que necessitem de internação e tentativas de suicídio. Do mesmo 
modo que a presença de transtornos psiquiátricos combinado ao uso de álcool e drogas também 
incide em mais recaídas e piora do prognóstico (MALBERGIER, 2018).
O diagnóstico clínico se dá a partir da anamnese com o usuário e família e busca 
compreender a intensidade do uso das substâncias psicoativas, dividindo em níveis de acordo 
com: 
I. Intoxicação aguda: Quando há perturbações da consciência, das faculdades cognitivas, 
da percepção, do afeto ou do comportamento, ou de outras funções e respostas 
fisiológicas. 
II. Tolerância: Ocorre quando as modulações biológicas não se adaptam às quantidades 
de drogas usadas e não produzem os mesmos efeitos, motivando quantidades cada vez 
maiores de drogas para alcançar os mesmos efeitos.
III. Síndrome de abstinência: Incide em sintomas físicos e psíquicos

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