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Vitaminas Hidrossolúveis-Bioquímica Clínica

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Resumo-Bioquímica Clínica da nutrição (Vit. Hidrossolúveis) 1
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Resumo-Bioquímica Clínica da 
nutrição (Vit. Hidrossolúveis)
Quais são as vitaminas hidrossolúveis e como elas são absorvidas?
Compreendem as pertencentes ao complexo B (tiamina, riboflavina, 
cobalamina, biotina, piridoxina, niacina, ácido fólico, ácido pantotênico) e 
vitamina C. Em altas concentrações, são absorvidas pela borda em escova do 
trato gastrintestinal por meio de difusão simples; já em baixas concentrações, 
sofrem absorção intestinal por meio de processos mediados por carreadores. 
Ao contrário das vitaminas lipossolúveis, as hidrossolúveis não são 
armazenadas em quantidades significativas e, por essa razão, devem ser 
ingeridas por meio da dieta de forma contínua.
As vitaminas hidrossolúveis B e C são armazenadas no organismo?
Com exceção da vitamina B12 , o organismo não possui capacidade para 
armazenar as vitaminas hidrossolúveis. Em consequência disso, elas devem ser 
regularmente fornecidas pela dieta. Qualquer excesso é excretado na urina. Ao 
contrário das vitaminas lipossolúveis, não existe toxicidade associada às 
vitaminas do complexo B.
Qual a relação entre o consumo maior de calorias e as vitaminas do 
complexo B?
As vitaminas do complexo B são essenciais ao metabolismo normal e 
funcionam como coenzimas em várias reações do metabolismo de carboidratos, 
gorduras e proteínas. Quanto maior a ingestão calórica, maior a necessidade de 
vitaminas do complexo B. O fornecimento aumentado de energia, 
particularmente a partir de carboidratos, requer quantidades aumentadas de 
vitaminas do complexo B. As doenças associadas a maior demanda calórica 
implicam uma maior ingestão de tiamina e de outras vitaminas do complexo B. 
Assim, o beribéri pode se desenvolver em uma dieta rica em carboidratos.
Tiamina (Vit B1)
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A tiamina foi uma das primeiras vitaminas cuja carência pôde ser relacionada 
diretamente com uma condição patológica específica, o beribéri. Essa vitamina 
apresenta importante função no metabolismo de carboidratos e na função 
neural. Sua forma biologicamente ativa é o pirofosfato de tiamina (TPP), que 
atua como coenzima em reações catabólicas e anabólicas.
Metabolismo da Tiamina
A tiamina é absorvida pela borda em escova do duodeno de duas maneiras: 
em grandes concentrações, a absorção ocorre pela difusão simples; 
enquanto, em pequenas concentrações, pelo transporte ativo, sendo que 
esse último é inibido pelo consumo de álcool. No meio intracelular, a tiamina 
é convertida em tiamina pirofosfato por meio da doação de dois grupos 
fosfato oriundos do ATP, reação que é catalisada pela enzima tiamina 
fosfotransferase. Além disso, a tiamina pirofosfato atua como coenzima em 
uma série de reações relevantes para o metabolismo dos carboidratos.
Cerca de 90% da tiamina presente no plasma encontra-se na forma de 
tiamina pirofosfato e é carreada pelos eritrócitos; o restante encontra-se na 
forma livre ou é transportado pela albumina plasmática na forma de tiamina 
monofosfato.
A tiamina é captada pelos tecidos periféricos por meio da difusão passiva e 
também por transporte ativo e, posteriormente, sofre fosforilação por 
cinases específicas, sendo então armazenada como ésteres de difosfato ou 
trifosfato de tiamina ligados a proteínas.
Fontes de Tiamina
Embora a tiamina esteja presente em muitos alimentos, a quantidade não é 
apreciável, no geral, com exceção do levedo e do fígado – este em virtude 
de ser o local de armazenamento da tiamina. Contudo, suas fontes mais 
acessíveis na dieta dos seres humanos são os grãos integrais.
Problemas na carências de Tiamina
A deficiência de tiamina desencadeia o beribéri, que causa uma grande 
fraqueza na pessoa. O beribéri pode se apresentar na forma úmida, na qual 
está presente o edema, sobretudo dos membros inferiores, e na forma seca, 
ou seja, sem a presença do edema. Na forma úmida, apresenta como 
sintomas confusão mental, perda da massa muscular, neuropatia periférica, 
taquicardia, taquipneia, cardiomegalia e, evidentemente, edema, enquanto, 
na forma seca, seus sintomas incluem fraqueza muscular, perda da 
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sensibilidade de pés e mãos, dificuldade para falar, êmese, confusão 
mental, movimento involuntários dos olhos e paralisia. Na atualidade, a 
causa mais comum de beribéri é o alcoolismo. O tratamento consiste na 
administração intravenosa de tiamina em uma dose 20 vezes superior à 
quantidade diária recomendada durante 2 a 3 dias. Posteriormente, a 
vitamina pode ser dada via oral. A ausência da tiamina tem impacto direto 
no metabolismo energético, já que essa vitamina atua como cofator na 
reação de catálise do piruvato em acetil-CoA. Se o piruvato não sofre 
conversão em acetil-CoA, o ciclo do ácido cítrico não pode produzir elétrons 
para a fosforilação oxidativa, o que resulta em grave déficit energético que, 
no coração, se reflete em hipertrofia cardíaca congestiva. Finalmente, a 
carência de tiamina pode estar presente em idosos em virtude de dietas 
inadequadas e utilização prolongada de medicamentos diuréticos.
Riboflavina (Vit B2) ou vitamina G
A riboflavina está envolvida no metabolismo dos macronutrientes, dos 
carboidratos, das proteínas e dos lipídios, atuando como cofator redox em 
diversas reações bioquímicas. De fato, a riboflavina compõe a molécula de 
flavina adenina dinucleotídeo (FAD) e, também, a flavina adenina 
mononucleotídeo (FMN) e, por essa razão, pertencem a uma classe de enzimas 
denominadas flavoproteínas. A riboflavina é fotossensível, degradando-se na 
presença de luz, e é sintetizada pela microbiota do intestino grosso, contudo 
não é absorvida. Sua carência reflete-se imediatamente na integridade e 
renovação dos epitélios.
Metabolismo
A maior parte da riboflavina oriunda da dieta (cerca de 60 a 90%) encontra-
se em sua forma de coenzima, ou seja, FAD, que sofre hidrólise no lúmen 
intestinal por meio de fosfatases originando, assim, a riboflavina livre. Cerca 
de 7% da riboflavina presente na dieta encontra-se complexada a proteínas. 
Contudo, mesmo após a proteólise, essa riboflavina não está na forma 
biodisponível e, ainda que seja absorvida pela borda em escova do trato 
digestório, será excretada na urina. A absorção intestinal da riboflavina 
biodisponível ocorre de duas maneiras: em baixas concentrações por meio 
de transporte ativo Na+ dependente, uma forma de absorção saturável; já 
em altas concentrações de riboflavina, a absorção se dá por meio de 
difusão passiva. Além disso, a riboflavina está envolvida na ativação da 
vitamina B6. A riboflavina é sensível à luz e sofre fotólise, sendo convertida 
em luminoflavina (um lumicroma), substância que não apresenta nenhuma 
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atividade biológica. Uma condição importante envolvendo a fotólise da 
riboflavina é a fototerapia empregada na icterícia do neonato (condição em 
que os níveis plasmáticos de bilirrubina estão demasiadamente elevados). 
Crianças submetidas a esse tratamento apresentam deficiências de 
riboflavina, mas, ainda assim, não se recomenda a suplementação dessa 
vitamina nessas condições, pois esse recurso pode aumentar a fotólise da 
bilirrubina.
Fontes
A riboflavina está presente nos alimentos, sobretudo na forma de FMN e 
FAD, as leveduras são as substâncias naturais mais ricas em riboflavina 
(acima de 125 mcg). Os vegetais folhosos verdes são também importantes 
fontes de riboflavina, assim como leite e seus derivados e vísceras de 
animais (p. ex., rins, coração e fígado)
Problemas relacionados a carência de Vit B2
A avitaminose associada à deficiência em riboflavina denomina-se 
arriboflavinose, e, por ser continuamente excretada na urina, um baixo 
consumo dietético de riboflavina leva facilmente a essa deficiência. 
Entretanto, os sintomas manifestam-se somente após várias semanas de 
privação. Os sintomas iniciaissão fotofobia, lacrimejamento, perda da 
acuidade visual e perda da sensibilidade, podendo evoluir para fissura dos 
lábios e cantos da boca, estomatite e inflamação do revestimento da boca e 
língua. Além disso, a deficiência de riboflavina foi associada ao 
desenvolvimento da catarata. A deficiência em riboflavina leva a atividade 
reduzida de importantes, enzimas desidrogenases, refletindo-se em vias 
metabólicas importantes, como a oxidação dos ácidos graxos.
A mensuração dos níveis plasmáticos de riboflavina pode ser feita pela 
medição do coeficiente de atividade da glutationa redutase em eritrócitos: 
valores de coeficiente de atividade elevados de glutationa eritrocitária 
indicam carência de riboflavina.
Niacina ou ácido nicotínico ou nicotinamida (Vit B3)
Trata-se de uma vitamina solúvel com propriedades hipolipemiantes, visto que é 
capaz de reduzir os níveis plasmáticos de lipídios: triacilgliceróis (20 a 50%) e 
LDL-colesterol (5 a 25%), aumentando ainda os níveis de colesterol-DL.
Metabolismo
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O termo niacina refere-se a duas substâncias químicas com efeitos 
biológicos para o organismo – a nicotinamida e o ácido nicotínico. O ácido 
nicotínico já foi designado anteriormente como vitamina PP (fator de 
prevenção da pelagra), e a niacina também já foi denominada vitamina B3.
A niacina está presente sobretudo nos alimentos de origem animal em suas 
formas coenzimáticas NAD e NAPH; a digestão por parte das NAD-glico-
hidrolases do trato gastrintestinal libera as formas absorvíveis da niacina, ou 
seja, a nicotinamida e o ácido nicotínico. Além de advir da dieta, a niacina é 
a única vitamina que pode ser sintetizada no organismo humano a partir de 
um aminoácido, o triptofano, contudo a síntese não supre as necessidades 
metabólicas.
A nicotinamida e o ácido nicotínico estão entre os poucos nutrientes 
capazes de serem absorvidos no estômago e no intestino delgado por 
mecanismo de difusão facilitada; são transportados na forma livre no 
plasma e captados pelos tecidos por meio de difusão passiva, embora 
alguns tecidos, como eritrócitos, cérebro e rins, disponham de um sistema 
transportador para o ácido nicotínico. 
Ácido nicotínico como agente hipolipidêmico
Embora seja uma vitamina, o ácido nicotínico pode ser usado em grandes 
quantidades com o propósito de reduzir a absorção de lipídios. O ácido 
nicotínico é convertido em nicotinamida no fígado que, por sua vez, inibe a 
exportação de VLDL hepático para o plasma. Seu mecanismo de ação não 
está plenamente elucidado, mas acredita-se que atue em um receptor órfão 
(HM74A) acoplado a uma proteína Gi (inibitória) iniciando lipólise. Esse 
receptor é fortemente expresso no tecido adiposo e especula-se que sua 
ativação possa levar à inibição da adenilatociclase, o que provocaria a 
inibição de lipases intracelulares, causando redução da hidrólise de 
triacilgliceróis no interior dos adipócitos. O resultado final seria a redução da 
quantidade de ácidos graxos não esterificados (ácidos graxos livres) no 
sangue com concomitante redução na síntese de VLDL, LDL e aumento na 
síntese de HDL no fígado.
Fontes
As melhores fontes de niacina são as carnes, os peixes, as aves amendoins 
e os levedos. O leite e os ovos não são ricos em niacina, mas são boas 
fontes de triptofano, que é seu precursor direto.
Carência
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A pelagra é uma doença associada à pobreza e ao etilismo, cujo sinal mais 
notável é a aparência rugosa da pele que se torna rachada, pigmentada e 
descamativa quando exposta ao sol, principalmente. A pelagra caracteriza-
se por ser a doença dos três “D”, dermatite, diarreia e demência. O quadro 
diarreico pode ser explicado pelo dano epitelial desencadeado em todo o 
revestimento do trato digestivo, e a demência é, nesse caso, um quadro de 
psicose depressiva similar à esquizofrenia. Especula-se que na pelagra 
esses sintomas mentais estejam relacionados com a deficiência de 
triptofano, que, consequentemente, leva à redução dos níveis de 
serotonina. Os mecanismos bioquímicos que conduzem às lesões epiteliais 
(dermatites fotossensíveis) não estão plenamente esclarecidos, uma vez 
que não existe relação aparente entre a redução dos níveis de niacina e 
triptofano e sensibilidade a raios ultravioletas da luz solar. Contudo, na 
pelagra existe redução de um composto químico chamado ácido urocânico, 
uma substância com a propriedade de absorver raios UV na pele íntegra. O 
ácido urocânico é um metabólito da histidina e, na pelagra, a degradação da 
histidina encontra-se aumentada. Baixos níveis de niacina têm sido 
associados ao aumento na cisão das fitas de DNA, cujo reparo não ocorre 
prontamente. Essa falha poderia culminar em erros de reparo em 
determinadas células suscetíveis, resultando em neoplasias malignas.
Ácido pantotênico, pantotenato ou vitamina B5
O ácido pantotênico é um dos componentes da proteína carreadora de grupos 
acila e da molécula de acetil-CoA; por essa razão, participa de uma série de 
reações metabólicas, como a síntese de ácidos graxos, a oxidação de ácidos 
graxos, a acetilação e a palmitoilação de proteínas.
Metabolismo
O ácido pantotênico é absorvido no trato gastrintestinal por meio de difusão 
simples, enquanto, nos tecidos periféricos, sua captação se dá por meio de 
transporte ativo sódio dependente, com exceção do sistema nervoso 
central, que capta o ácido pantotênico por difusão facilitada. Em virtude de 
sua distribuição ubíqua nos alimentos, não há casos conhecidos de 
deficiência de ácido pantotênico.
Os seres humanos podem obter ácido pantotênico dos nutrientes da dieta 
ou por meio da síntese realizada pela microbiota do intestino grosso. Ambas 
as fontes parecem contribuir para as necessidades do organismo, embora o 
nível exato dessa contribuição não esteja plenamente definido. O ácido 
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pantotênico presente na dieta encontra-se sobretudo na forma de coenzima 
A, que é hidrolisada no trato digestório liberando o pantotenato em sua 
forma livre. A excreção dessa vitamina ocorre via urinária na forma de ácido 
pantotênico livre ou na forma de 4’-fosfopantotenato; outra via de excreção 
é pelos pulmões na forma de CO2.
Fontes
As fontes dietéticas de ácido pantotênico estão presentes em alimentos de 
origem animal e vegetais, com destaque para fígado, coração, cogumelo, 
brócolis, batata-doce, milho, abacate, ovos, leite e cereais em grãos.
Problemas relacionados a Carência
As deficiências de ácido pantotênico são raras, uma vez que essa vitamina 
está amplamente distribuída nos alimentos. No entanto, em regiões onde a 
desnutrição grave persiste, a carência de ácido pantotênico acarreta 
prejuízo na síntese de lipídios e no metabolismo energético. Entre os sinais 
clínicos, destacam-se distúrbios neuromotores com parestesia dos dedos 
das mãos e pés, assim como fadiga muscular, uma vez que há reduzida 
quantidade de acetil-CoA necessária para a síntese do neurotransmissor 
acetilcolina. Ocorre ainda desmielinização em decorrência da redução na 
formação de treonina acil éster na bainha de mielina. A desmielinização 
pode ser responsável pela persistência e recorrência de problemas 
neurológicos mesmo depois de revertido o quadro de carência de ácido 
pantotênico.
Vitamina B6 ou piridoxina
A piridoxina é um termo genérico para os seguintes compostos com ação 
biológica: piridoxina, piridoxal e piridoxamina, todos derivados da piridina. Essas 
formas químicas diferem entre si apenas na natureza do grupo funcional ligado 
ao anel. A vitamina B6 atua como cofator em enzimas relacionadas com o 
metabolismo de carboidratos, lipídios e proteínas.
Metabolismo
O piridoxal fosfato é a forma metabolicamente ativa da vitamina B6 e atua 
como coenzima de importantes enzimas, como as aminotransferases, 
envolvidas no metabolismo de aminoácidos; glicogênio fosforilase, enzima-
chave na cascatada hidrólise do glicogênio; e outras enzimas relacionadas 
com a síntese de esfingolipídios nas bainhas de mielina, esteroides e 
neurotransmissores. A vitamina B6 é também essencial na síntese do 
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gastro-hormônio histamina, do neurotransmissor GABA e do grupo heme. A 
absorção intestinal da vitamina B6 ocorre de forma passiva, sobretudo no 
jejuno e no íleo. No sangue, a vitamina B6 circula na forma de piridoxal 
fosfato ligado à albumina, e, no momento em que alcança os tecidos-alvo, 
sofre desfosforilação para possibilitar sua captação por parte das células. Já 
no interior das células-alvo, a piridoxina é novamente fosforilada retornando 
à forma de piridoxal fosfato ou piridoxamina fosfato. Os tecidos que mais 
concentram vitamina B6 são fígado, rim, baço cérebro e músculos 
esqueléticos, este último concentrando a maior quantidade de piridoxal 
fosfato ligado à enzima glicogênio fosforilase, primeira enzima da cadeia de 
hidrólise de glicogênio. A metabolização da vitamina B6 ocorre no fígado, 
onde enzimas dependentes de NAD e FAD promovem a remoção dos 
grupos fosfatos das formas fosforiladas de piridoxina convertendo-as em 
ácido-4-piridóxido e outros metabólitos inertes excretados na urina.
Fontes
A piridoxina é sintetizada pela microbiota colônica e capaz de ser absorvida 
pelo intestino. As melhores fontes de vitamina B6 são os alimentos de 
origem animal.
Carência
A carência de vitamina B6 é rara, mas, quando ocorre, manifesta-se por 
alterações neurológicas como convulsões, depressão e confusão. As 
convulsões são decorrentes de alterações nos níveis de dopamina, 
serotonina e ácido γ-aminobutírico e também do acúmulo no sistema 
nervoso central de metabólitos oriundos do triptofano. Além disso, estão 
presentes sinais clínicos na epiderme, como dermatite seborreica e eczema, 
sobretudo na boca, no nariz e nas orelhas.
Ácido fólico, vitamina B9 ou vitamina M
O ácido fólico em sua forma reduzida, o tetraidrofolato (FH4), atua como 
coenzima em reações de transferência de carbonos na via de biossíntese de 
nucleotídeos. A interação do ácido fólico com a vitamina B12 é indispensável 
para a síntese e a maturação dos eritrócitos. A deficiência de folato causa 
anemia macrocítica idêntica à da falta de vitamina B12, mas não sem 
desencadear doença neurológica. A carência de folato pode ser originada por 
vários fatores, como carência dietética, ou ainda alguma condição que impeça a 
absorção intestinal eficaz de folato, como a síndrome do cólon irritável.
Metabolismo
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O ácido fólico é absorvido em toda a extensão do lúmen do intestino 
delgado, sobretudo em seu terço proximal. A mucosa do duodeno e da 
parte superior do jejuno é rica em di-hidrofolato redutase, que catalisa a 
redução da di-hidrofolato (DHF) para sua forma ativa tetraidrofolato (THF), 
e, além da muscosa intestinal, a enzima está presente no fígado e em 
outros tecidos. O ácido fólico atua sobretudo em tecidos com rápida divisão 
celular, como medula óssea e mucosa gastrintestinal. Em pequenas 
concentrações, o folato é absorvido por meio de um sistema de transporte 
ativo, enquanto, em grandes quantidades, a absorção ocorre pela difusão 
passiva. No interior do enterócito, o folato sofre metilação sendo lançado no 
plasma na forma de 5-metil-tetraidrofolato que, por sua vez, liga-se à 
albumina plasmática ou à sua proteína transportadora específica, a proteína 
ligadora de folato. A interação com proteínas plasmáticas é importante 
porque evita a perda urinária de folato. De fato, a quantidade de folato 
excretado via urinária é mínima, visto que a borda em escova das células 
renais é rica em proteína ligadora de folato que pode interagir com qualquer 
folato que poderia ser excretado. A perda fecal de folato também é mínima, 
uma vez que a absorção ileal é extremamente eficiente. O folato que 
porventura esteja presente nas fezes é oriundo da microbiota intestinal e 
não por espoliação da dieta. 
Fontes
As fontes vegetais relevantes de ácido fólico são brócolis, espinafre, 
ervilhas, lentilha e feijão, enquanto as de origem animal incluem fígado e 
gema de ovos e também a microbiota intestinal, já que esta é capaz de 
sintetizar o tetraidrofolato.
O folato presente no leite encontra-se ligado a uma proteína ligadora 
específica e é mais biodisponível que o folato livre porque sua absorção 
independe dos processos pertinentes à absorção do folato livre.
Carência
Uma das condições que pode causar maior demanda de ácido fólico é a 
gestação, visto que a carência dessa vitamina é capaz de acarretar falhas 
do fechamento do tubo neural, culminando em graves defeitos neurológicos 
para o bebê. Por essa razão, a dieta da gestante deve ser suplementada 
com ácido fólico. Os medicamentos podem também interferir de diversas 
maneiras na absorção, metabolização e utilização do folato no organismo. O 
metotrexato, um citostático utilizado no tratamento de neoplasias e com 
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propriedades imunossupressoras, atua como potente inibidor da di-
hidrofolato redutase. A inibição dessa enzima leva a defeitos de metilação 
que comprometem a síntese de DNA, acarretando eritropoese ineficaz. 
Outros medicamentos, como os anticonvulsivantes fenitoína, fenobarbital e 
primidona, são agentes que competem com o folato por seus receptores 
intestinais, sendo associados ao desenvolvimento de macrocitose em até 
40% dos pacientes que fazem uso desses fármacos. A deficiência de folato 
acarreta alterações hematopoiéticas da medula óssea com desenvolvimento 
de formas megaloblásticas, refletindo na síntese deficiente de DNA, daí a 
elevação do volume corpuscular médio das hemácias (> 100 fℓ), 
caracterizando o quadro clássico de anemia megaloblástica. A anemia 
megaloblástica por deficiência de folato é clinicamente indistinguível da 
causada pela deficiência de vitamina B12, no entanto a ocorrência de 
alterações neurológicas é rara na deficiência de folato isolada. A deficiência 
de folato está relacionada também com sintomas cardiovasculares. Ocorre 
elevação dos níveis séricos de homocisteína na deficiência de folato, já que 
essa vitamina é necessária para a conversão da homocisteína em 
metionina. O aumento dos níveis plasmáticos de homocisteína é um dos 
marcadores mais precisos da deficiência de folato.
Vitamina B12 ou cobalamina
A vitamina B12 não pode ser sintetizada pelo organismo humano. 
Bioquimicamente, o termo vitamina B12 refere-se à hidroxicobalamina ou 
cianocobalamina. A forma predominante no soro é a metilcobalamina e, no 
citosol, a adenosilcobalamina.
Metabolismo
A absorção intestinal da vitamina B12 ocorre de duas formas distintas: uma 
dependente de fator intrínseco, no íleo e que inclui um sistema de absorção 
ativa; e a outra, respondendo por 1% da absorção de vitamina B12, que se 
dá por meio de difusão passiva. A primeira forma é a mais relevante e, 
nesse caso, inicialmente a vitamina B12 forma no estômago um complexo 
com as proteínas R (cobalofilinas), as quais estão presentes na saliva e no 
suco gástrico. O complexo vitamina B12-cobalofilinas desloca-se pelo 
intestino onde as cobalofilinas sofrem digestão por parte das enzimas 
entéricas e pancreáticas. Subsequentemente, o fator intrínseco, uma 
mucoproteína produzida pelas células parietais do estômago, liga-se à 
vitamina B12.
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A vitamina B12 é transportada pelo enterócito por meio de um processo que 
envolve a interação com um receptor específico, enquanto o fator intrínseco 
não é absorvido pelo intestino, sendo expelido sem transformação. Após 
absorção, a vitamina B12 aparece no sangue portal ligada à proteína 
transcobalamina II. A captação de vitamina B12 por parte dos tecidos 
periféricos parece ser mediada por um receptor transcobalamina específico, 
que internaliza o complexo vitaminaB12-transcobalamina por endocitose 
mediada por receptor.
No meio intracelular, ocorre degradação lisossômica da transcobalamina, 
sendo a vitamina B12 liberada em sua forma livre para ser utilizada pela 
célula.
Fontes
É uma vitamina sintetizada exclusivamente por tecidos animais, estando 
presente especialmente nas carnes, nos ovos e no leite. É armazenada 
sobretudo no fígado na forma de adenosilcobalamina; esse tecido acumula 
um estoque significativo de vitamina B12 capaz de suprir as necessidades 
metabólicas por cerca de até 7 anos.
Carência
Pela contínua reposição de eritrócitos, a vitamina B12 e o ácido fólico são 
necessários para a maturação dessas células, uma vez que ambas são 
essenciais à síntese de DNA. Assim, a carência de vitamina B12 resulta em 
prejuízo na síntese eritrocitária de DNA e, consequentemente, falha da 
maturação nuclear e da divisão celular com células anormalmente grandes 
e, por essa razão, é chamada também de anemia megaloblástica.
Essa condição, chamada de anemia perniciosa ou anemia megaloblástica, é
mais comum pela produção inadequada ou ausência de produção de fator 
intrínseco. Além disso, a deficiência de cianocobalamina desencadeia 
alterações neurológicas com desmielinização que inicia na periferia do 
organismo e progride para o centro. Os sintomas incluem entorpecimento, 
formigamento, sensação de queimação dos pés seguidos de rigidez e 
fraqueza generalizada das pernas.
Biotina ou vitamina H
A biotina atua como coenzima de enzimas envolvidas em reações de 
carboxilação, como a piruvato carboxilase. Na reação catalisada por essa 
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enzima, a biotina capta uma molécula de CO2 e transfere-a para uma molécula 
de piruvato, formando oxalacetato.
Metabolismo
A biotina está presente como cofator em enzimas carboxilases relacionadas 
com importantes vias metabólicas, como a gliconeogênese, a síntese de 
ácidos graxos e o catabolismo de proteínas. A biotina está presente nos 
alimentos ligada a proteínas; sendo assim, a digestão das proteínas é 
necessária para a liberação de três formas de biotina: biotina livre, biocitina 
e peptídeo biotina. A maior parte da biotina presente nos alimentos está na 
forma de biocitina.
A enzima biotinidase intestinal atua sobre a biocitina e o peptídeo de biotina 
liberando a biotina livre, que é absorvida por transporte ativo sódio 
dependente no intestino delgado proximal. A maior parte da biotina é 
transportada no plasma em sua forma livre e cerca de 12% ligada a 
proteínas plasmáticas. Os tecidos reciclam a biotina, de modo que a biotina 
é reaproveitada durante o processo de renovação enzimática. A biotina é 
reabsorvida pelos rins por meio de um mecanismo saturável, a excreção 
urinária de biotina ocorre quando a capacidade de reabsorção é suplantada.
Fontes
A biotina está amplamente distribuída nos alimentos, como amendoins, 
amêndoas, proteína de soja, ovos, iogurtes, batata-doce.
Carência
A carência de biotina conduz a depressão, alucinações, dores musculares e 
dermatites. É bem sabido que a ingestão da clara do ovo crua causa 
inibição da absorção de biotina, uma vez que a avidina, uma glicoproteína 
termolábil, liga-se com alta afinidade à biotina, tornando-a indisponível para 
a absorção. A deficiência de biotina tem impacto direto na enzima piruvato 
carboxilase, que atua no primeiro passo da gliconeogênese, que, por sua 
vez, catalisa a formação de oxalacetato a partir do piruvato, requerendo, 
para isso, energia sob a forma de ATP. Além disso, a carência de biotina 
causa dermatite esfoliativa e alopecia em decorrência da atrofia dos 
folículos capilares.
Ácido ascórbico ou vitamina C
A vitamina C consolidou-se como a substância capaz de prevenir o escorbuto e, 
atualmente, motiva interesse por suas propriedades antioxidantes. A vitamina C 
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pode se apresentar em duas formas: oxidada, o ácido deidroascórbico; ou 
reduzida, o ascorbato, sendo esta última a forma biologicamente ativa da 
vitamina C.
Metabolismo
A absorção intestinal de vitamina C ocorre por transporte ativo sódio 
dependente, e o ácido deidroascórbico apresenta absorção mais eficiente 
que o ascorbato. Contudo, tanto o ascorbato quanto o deidroascorbato 
podem ser absorvidos pela mucosa oral por processos passivos mediados 
por carreadores. A vitamina C é transportada no plasma na forma livre ou 
ligada à albumina. Os tecidos captam ascorbato por um mecanismo ativo, 
enquanto o deidroascorbato é captado por difusão por seu caráter polar. 
Cerca de 10% de todo o ascorbato do sangue está presente em leucócitos 
mononucleares, células que têm capacidade de concentrar ascorbato de 
modo que não estão sujeitas às variações de vitamina C do plasma.
O ácido ascórbico pode intercambiar entre as formas oxidada e reduzida 
com grande facilidade, atuando como um sistema bioquímico redox em 
diversas vias metabólicas em que existem ganho e perda de elétrons. Além 
disso, a vitamina C é essencial nas seguintes reações: conversão do folato 
em ácido tetraidrofólico; oxidação da fenilalanina e tirosina; conversão do 
triptofano em 5-hidroxitriptofano e serotonina para, posteriormente, formar 
noradrenalina a partir da dopamina.
A vitamina C é bastante eficiente em debelar radicais livres. A vitamina C é 
eficiente em debelar espécies radicalares originadas em ambientes 
hidrofílicos, evitando assim os danos celulares que poderiam ser 
provocados pela cascata oxidativa. A vitamina C é excretada via urinária. 
Recomenda-se que indivíduos com histórico de cálculos renais não ingiram 
grandes doses de vitamina C.
Fontes
A vitamina C é encontrada quase exclusivamente nos vegetais, com 
exceção dos grãos. Já os alimentos de origem animal são pobres em 
vitamina C. Diversos fatores alteram as concentrações de vitamina C nos 
alimentos, como estação do ano na qual foi realizada a coleta, condições de 
crescimento, estágio de maturação e formas de armazenamento e 
transporte.
Carência
Resumo-Bioquímica Clínica da nutrição (Vit. Hidrossolúveis) 14
A deficiência de vitamina C resulta em escorbuto, uma doença que 
apresenta como primeiros sintomas hemorragias nas gengivas, tumefação 
purulenta das gengivas (inchaço com pus), dores nas articulações, feridas 
que não cicatrizam, além de desestabilização dos dentes.

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