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Sigilo das comunicações telefônicas (Lei 9296/96) Sobre as comunicações: As comunicações de diversas espécies (telegráficas, telefônicas, via correspondência, de dados) são sigilosas e invioláveis. A própria CF prevê uma exceção, permitindo a quebra do sigilo de comunicações por ordem judicial e na forma que a Lei estabelecer. A Lei n. 9.296/1996 não se aplica apenas à interceptação de comunicações telefônicas, mas também à interceptação de fluxo de comunicações em sistemas de informática e telemática. Ou seja, a lei se aplica a qualquer ligação que tenha transferência de dados. ● Correspondência: comunicação entre pessoas, por meio de carta, por via telegráfica ou postal. ● Interceptação: captação de comunicação alheia, realizada por um terceiro. Ainda sobre o teor do art. 1º, note que a lei é taxativa: a interceptação depende de ordem do juiz competente, SOB SEGREDO DE JUSTIÇA. Interceptações dependem de autorização judicial para que as provas colhidas durante a investigação sejam lícitas. A lei irá esclarecer diversos pontos essenciais para que a interceptação de comunicações telefônicas seja realizada respeitando o devido processo legal. Entre eles, merecem destaque os seguintes tópicos: - Casos em que a interceptação não será admissível - Legitimidade para o requerimento das interceptações - Forma do pedido de interceptação - Procedimentos relacionados às interceptações - Crime relacionado à interceptação Antes de prosseguir, é preciso diferenciar interceptação, escuta e gravação: 1) Interceptação: Na interceptação, uma 3ª parte capta a comunicação, sem que os interlocutores saibam. Como “A” e “B” não sabem, necessita de autorização judicial para ocorrer. Pode ser telefônica ou ambiental. 2) Escuta: Na escuta, um dos participantes da conversa sabe que está sendo gravado, o outro não. Como “B” não sabe, necessita de autorização judicial para ocorrer. Pode ser telefônica ou ambiental. 3) Gravação clandestina Na gravação clandestina, não tem um 3º captando a conversa. Um participante grava a conversa sem que o outro saiba. Essa modalidade não precisa de autorização judicial, já que parte do pressuposto de que “B” já está expondo sua intimidade para “A”. “B” fala por livre e espontânea vontade, sem que haja necessidade de “A” ser seu conhecido íntimo. Pode ser telefônica ou ambiental. Outro ponto que costuma causar confusão é a diferenciação entre os institutos da quebra de sigilo telefônico e da interceptação telefônica. A quebra de sigilo de dados telefônicos consiste no fornecimento, pelas operadoras do serviço, de verdadeiros extratos com os dados relacionados aos telefonemas recebidos e realizados pelo usuário de um determinado prefixo. Já a interceptação telefônica consiste no acesso ao conteúdo da conversação entre os interlocutores (verdadeira captação do áudio transmitido entre os prefixos telefônicos). Admissibilidade Digamos que a polícia civil esteja realizando a investigação de um delito e que a autoridade policial entenda que uma interceptação telefônica pode ajudar a elucidar os fatos em apuração. Poderá o delegado de polícia, em qualquer caso, solicitar ao judiciário a interceptação telefônica dos investigados? A resposta, obviamente, é negativa. Se esse fosse o caso, a polícia simplesmente solicitaria interceptações para todas as investigações em andamento, de forma indiscriminada. A interceptação de comunicações telefônicas, portanto, é uma medida excepcional, haja vista a importância do direito fundamental à inviolabilidade das comunicações contido no art. 5º da CF. A regra é a inviolabilidade do sigilo! Para tutelar essa característica, a Lei n. 9.296/1996 apresenta um rol de situações em que a interceptação telefônica não será admissível, contido em seu art. 2º. Não é admissível a decretação de interceptação telefônica nos seguintes casos: - Não houver indícios razoáveis da autoria ou participação em infração penal; - A prova puder ser feita por outros meios disponíveis; - O fato investigado constitui infração penal punida, no máximo, com pena de detenção. Outros aspectos: - Conversas entre advogado e cliente em via de regra não podem ser admitidas em processo, salvo se o advogado estiver envolvido com o delito investigado. - Segundo o STJ, se durante a interceptação surgirem provas pertinentes a outros crimes, aplica-se a Teoria da Serendipidade e tais provas deverão ser consideradas lícitas, independente de conexão com os delitos investigados. Requisitos: ● ordem judicial devidamente fundamentada; ● respeitar as hipóteses e a forma estabelecidas em lei; ● finalidade de investigação criminal ou instrução processual penal. Requerimento de Interceptação Telefônica ● Durante o Inquérito Policial: Delegado & MP. (Art. 3º, I) ● Durante a Instrução Processual Penal: MP. (Art. 3º, I & II) ● De ofício pelo magistrado: O próprio juiz pode decretar a interceptação telefônica de ofício! Cabe ressaltar que tanto a Lei quanto a CF falam sobre investigação criminal e não sobre o inquérito policial propriamente dito. Dessa forma, entende-se ser cabível a interceptação telefônica durante qualquer tipo de procedimento investigativo, e não apenas durante o IP. Outros procedimentos, como o PIC (Procedimento Investigatório Criminal) que tramita no MP, podem ser objeto de decretação de interceptação telefônica de forma lícita! A interceptação telefônica deve ser excepcional, e só é cabível na esfera CRIMINAL. Prazos A Lei de Interceptações Telefônicas rege alguns prazos peculiares em relação aos seus procedimentos. São eles: ● 24 horas é o prazo para o juiz decidir sobre o pedido de interceptação telefônica. ● 15 dias é o prazo máximo de duração da interceptação telefônica. ● Prorrogabilidade ○ Segundo a lei, o prazo é prorrogável por igual período. ○ Segundo o STJ, esse prazo pode ser renovado indefinidamente, desde que comprovada a indispensabilidade do meio de prova ○ A renovação não é automática. É indispensável decisão judicial no sentido de prorrogar a medida.. Condução dos procedimentos (Art. 6º) A autoridade policial conduzirá os procedimentos de interceptação, dando ciência ao Ministério Público, que poderá acompanhar a sua realização. O STJ e o STF já admitiram a possibilidade de sua condução por outros órgãos, quais sejam: - PRF -> (HC 45.630) - CISPEN -> (HC 131.836) - PM -> (HC 96.986) A transcrição das comunicações interceptadas não precisa ser feita por peritos oficiais. Os próprios policiais têm autonomia para fazê-lo! Relevância ● Gravações relevantes: são transcritas e irão integrar o resultado da interceptação a ser enviado ao magistrado, em conjunto com auto circunstanciado elaborado pela autoridade policial. ● Gravações irrelevantes: a gravação que não interessa à prova deve ser inutilizada em qualquer dos três momentos acima (durante o IP, durante a instrução processual ou após), por meio de requerimento do MP ou da parte interessada. Natureza Jurídica Obviamente, ao realizar uma interceptação telefônica, o objetivo é ajudar a esclarecer os fatos e proporcionar um meio de prova válido para utilização durante a persecução penal. Entretanto, entre a realização da interceptação e a concretização da prova, a doutrina divide o processo em momentos, que afetam a natureza jurídica da interceptação. Do ponto de vista doutrinário, portanto, quem tem natureza jurídica de meio de prova é a transcrição da interceptação realizada, e não a interceptação propriamente dita.
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