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ORIENTAÇÕES PARA A PRÁTICA 
PROFISSIONAL
COMPETÊNCIAS E HABILIDADES DO 
ASSISTENTE SOCIAL
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Olá!
Ao final desta aula, o aluno será capaz de:
1. Conhecer as competências do assistente social preconizadas pela Lei 8662/93, o seu processo histórico de
construção, bem como o significado de uma prática competente.
Antes de apresentarmos as competências do profissional do Serviço Social, vamos conhecer as condições nas
quais elas foram construídas
Lembra-se de que na primeira aula estudamos que “tudo muda o tempo todo no mundo”? Pois é, o Serviço Social
como profissão também mudou. Na década de 80, década conhecida pelos intensos movimentos sociais e pela
difusão das ideias marxistas que culminaram com a promulgação da Constituição Federal de 1988, também
conhecida como “Constituição Cidadã”, a profissão rompeu com o conservadorismo que caracterizava sua
atuação.
Em outras palavras, rompeu sua vinculação com os interesses da classe dominante, com uma postura acrítica e
neutra. Reconheceu que a sua atuação era mediada por diferentes interesses e que apesar de ter sido criada para
servir aos interesses das classes dominantes, havia espaço para uma atuação que incorporasse os interesses das
classes subalternas, ou a classe trabalhadora. Enfim, rompeu com o reconhecimento do caráter político da
profissão, o que, aliás, já havia sido identificado pela vertente crítica do Movimento de Reconceituação.
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Era um momento de contestação, de renovação crítica do Serviço Social, e nesse contexto foi elaborado o Código
de Ética de 1986, que representava um novo projeto ético-político comprometido com as demandas da classe
trabalhadora.
Esse compromisso exigiu um novo posicionamento e novas competências dos assistentes sociais, não só no
plano teórico, mas também no técnico e político. Isso significa não somente conhecer a realidade, possuir
conhecimentos a respeito dela, mas é preciso saber intervir, no momento certo, e ter as ferramentas corretas.
Não foi por acaso que, em 1982, ocorreu o lançamento do livro Relações Sociais e Serviço Social no Brasil, de
autoria de Marilda Villela Iamamoto e Raul de Carvalho, obra que serviu para reorientar a direção teórica e
política do Serviço Social, de leitura obrigatória para os profissionais de Serviço Social.
Tanto que, na primeira aula, recomendamos que você o adquirisse. Lembra-se disso?
Vamos encontrar, a partir da década de 90, um profissional mais afinado com os interesses da classe
trabalhadora, que é a principal usuária dos serviços sociais e das políticas sociais.
Um profissional mais preparado para enfrentar os inúmeros desafios provocados pelas profundas mudanças no
mundo do trabalho e seus impactos na vida das pessoas, em um momento em que o Estado, no que tange às suas
responsabilidades sociais, inspirado pelo neoliberalismo, passa a sair de cena deixando pouco a pouco a
prestação dos serviços sociais nas mãos da sociedade civil, fazendo surgir no cenário nacional a figura das
organizações não governamentais, ou Terceiro Setor.
Você se lembra do liberalismo, que defendia a não intervenção do Estado na economia, na sociedade - e que
estudamos na primeira aula?
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Pois é, ele ressurge em final dos anos 80 e início dos anos 90, depois de mais ou menos 40 anos, com o nome de
neoliberalismo. Embora o prefixo neo signifique novo, as suas ideias continuam as mesmas.
E o que pretende essa doutrina?
Pretende que o setor privado retome as rédeas da economia, ou seja, que o Estado e a sociedade se subordinem
às regras do Mercado. No contexto neoliberal, o Mercado volta a constituir-se o princípio regulador da vida social
e isso significou, nos anos 90, privatizações, desemprego, flexibilização de direitos trabalhistas (disseminação do
trabalho terceirizado, Reforma da Previdência), entre tantos outros problemas sociais.
Acho que muita gente se lembra de uma propaganda governamental, amplamente divulgada principalmente pela
televisão, que comparava o Estado brasileiro a um elefante que abarcava tantas questões que mal podia se
mover.
Ela tinha por objetivo preparar e sensibilizar a sociedade para um projeto de privatizações e de reforma do
Estado, cujo discurso (ideológico) era o de torná-lo “mais leve” para liberar recursos para áreas consideradas
prioritárias, entre elas a saúde e a educação. Será que aconteceu? O que você acha?
Voltando ao profissional dos anos 90, para enfrentar os desafios que mencionamos, ele
passa a contar com um conjunto de legislações sociais, que deveriam assegurar a
efetividade dos Direitos Sociais universalizados na Constituição de 88, mas que,
paradoxalmente, tem seu potencial limitado porque é nesse momento que o Estado reduz
a sua função social.
Quais são elas?
• Sistema Único de Saúde – SUS
• Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA
• Lei Orgânica de Assistência - LOAS (implementada, em 2003, através do Sistema 
Único de Assistência Social – SUAS
Mais recentemente, conta com o Estatuto do Idoso e a Lei Maria da Penha, dentre outras. E
é bom destacar que, embora possuam limites e não consigam reverter o quadro de
desigualdades sociais do país, são trabalhadas na ótica do direito e não do favor.
Na década de 90, foi aprovado o novo Código de Ética Profissional:
“[...] instituído em 1993, a partir de um amplo debate no Serviço Social. O documento expressa o
amadurecimento teórico-político conquistado pela categoria e reafirma o compromisso com a
democracia, a liberdade e a justiça social. É um instrumento de trabalho fundamental no cotidiano do
assistente social.”
(CRESS-RJ, 2011).
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Na verdade, o Código de 1993 representou uma espécie de aperfeiçoamento em relação ao de 1986, a partir do
momento que amplia e avança as conquistas em relação às deste.
Ele reafirma o compromisso do Serviço Social com os interesses das classes trabalhadoras e deixa claro o seu
rompimento com uma trajetória histórica de atuação conservadora, baseada na tradição (nos costumes, nos
valores comunitários, na solidariedade e na família como núcleo básico da sociedade), e na filosofia social
humanista, que apesar de reconhecer as condições de exploração a que os trabalhadores estavam submetidos,
não indicava os meios para enfrentar essa situação.
E nesse mesmo ano, em 1993, foi promulgada a Lei 8662/93, a Lei de Regulamentação da Profissão de Assistente
Social. Mas, isso foi um processo. Como nos ensina IAMAMOTO (2001) o projeto ético-político vem sendo
construído pelos assistentes sociais desde a década de 80.
Um projeto profissional [...] comprometido com a defesa dos direitos sociais, da cidadania, da esfera pública no
horizonte da ampliação progressiva da democratização da política e da economia na sociedade. Projeto político
profissional que se materializou no Código de Ética do Assistente Social, na Lei de Regulamentação da Profissão
de Serviço Social (Lei 8662/93), ambas em 1993, assim como na nova proposta de Diretrizes para o Curso de
Serviço Social da Associação Brasileira de Ensino em Serviço Social - ABESS [hoje ABEPSS] - de 1996, que
redimensiona a formação profissional para fazer frente a esse novo cenário histórico.
Para não esquecer:
Conhecer o Código de Ética Profissional, a Lei de Regulamentação da Profissão (Lei 8662/93) e as Diretrizes para
o Curso de Serviço Social, propostas pela ABEPSS são fundamentais para o exercício da profissão. Eles são os
pilares de sustentação do projeto profissional.
Mas, afinal, o que compete ao assistente social, o que diz a Lei 8662/93?
Destacamos, na íntegra, as competências extraídas do Artigo 4º dessa lei:
Art. 4º da Lei 8662/93: Constituem competências do Assistente Social:
• I - Elaborar, implementar, executar e avaliar políticas sociais junto
• a órgãos da administração pública, direta ou indireta, empresas, entidades e organizações populares;
• II - Elaborar, coordenar, executar e avaliar planos, programas e projetos que sejam do âmbito de atuação 
do Serviço Social com participaçãoda sociedade civil;
• III - Encaminhar providências, e prestar orientação social a indivíduos, grupos e à população;
• IV - (Vetado);
• V - Orientar indivíduos e grupos de diferentes segmentos sociais no sentido de identificar recursos e de 
fazer uso dos mesmos no atendimento e na defesa de seus direitos;
• VI - Planejar, organizar e administrar benefícios e Serviços Sociais;
• VII - Planejar, executar e avaliar pesquisas que possam contribuir para a análise da realidade social e 
para subsidiar ações profissionais;
• VIII - prestar assessoria e consultoria a órgãos da administração pública direta e indireta, empresas 
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• VIII - prestar assessoria e consultoria a órgãos da administração pública direta e indireta, empresas 
privadas e outras entidades, com relação às matérias relacionadas no inciso II deste artigo;
• IX - Prestar assessoria e apoio aos movimentos sociais em matéria relacionada às políticas sociais, no 
exercício e na defesa dos direitos civis, políticos e sociais da coletividade;
• X - Planejamento, organização e administração de Serviços Sociais e de Unidade de Serviço Social;
• XI - Realizar estudos socioeconômicos com os usuários para fins de benefícios e serviços sociais junto a 
órgãos da administração pública direta e indireta, empresas privadas e outras entidades.
Preste atenção como “saltam” das competências o compromisso não só com a defesa dos direitos, mas com os
movimentos sociais, e que também que a formação habilita para atuar em órgãos de natureza pública e privada.
A partir dessa legislação, se fortalece uma nova cultura entre os profissionais, o que significa dizer que a
competência profissional não pode ficar vinculada às demandas institucionais, mas é preciso identificar novos
espaços de atuação e novas possibilidades de intervenção para atender às novas demandas da classe
trabalhadora.
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Souza (2008), em seu texto A prática do assistente social: , e conhecimento instrumentalidade intervenção
 cita que IAMAMOTO, ao analisar os desafios que são colocados ao Serviço Social nos tempos atuais,profissional
conclui que são 3 os aspectos, ou habilidades, que devem ser de domínio dos profissionais:
• Competência ético-política
• Competência teórico-metodológica
• Competência técnico-operativa
Competência ético-política
Esta significa que, apesar da prática profissional ocorrer dentro das instituições e em meio ao “fogo cruzado” de
tantos interesses, o profissional deve ter clareza quanto ao seu posicionamento político ao se deparar com a
realidade com a qual trabalha.
O que “[...] implica em assumir valores éticos-morais que sustentam a sua prática [...] expressos no Código de
Ética Profissional dos Assistentes Sociais, e que assumem claramente uma postura profissional de articular sua
intervenção aos interesses dos setores majoritários da sociedade.” (SOUZA, 2008, P. 121)
Competência teórico-metodológica
Esta diz respeito à capacidade de interpretar a realidade com a qual trabalhamos, e isso implica em entender o
funcionamento e a lógica das instituições, como vimos na aula passada, e não apenas aceitar e obedecer às
exigências burocráticas e administrativas que elas impõem. Isso seria reduzir o entendimento de competência ao
discurso institucional e à observação de regras pré-estabelecidas.
Recorrendo novamente à Iamamoto (1994), temos que ter um discurso competente e próprio, que se
contraponha à ordem institucional estabelecida. E esse discurso é competente “[...] quando é crítico, ou seja,
quando vai à raiz e desvenda a trama submersa dos conhecimentos que explica as
estratégias de ação”.
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Competência técnico-operativa
Esta se refere ao “como fazer” e parece ser o “grande nó” da profissão, pela reduzida produção bibliográfica
quando comparada às outras competências (ético-política e teórico-metodológica).
- O que isso quer dizer?
São priorizados os debates que privilegiam o conhecimento da realidade social, a garantia dos direitos, o
posicionamento profissional articulado às classes subalternas, dentre outros. Nós sabemos que nossa atuação
passa pela garantia dos direitos.
- Mas, quais os instrumentos que temos à disposição para fazer isso? E mais: Como devemos documentar
a nossa atuação?
Não será tarefa fácil, mas, vamos nos aventurar no decorrer do curso, principalmente nas aulas destinadas aos
instrumentos.
Por ora, frisamos que essas 3 dimensões estão intimamente relacionadas e devem andar juntas, caso contrário,
nossa atuação poderá ficar centrada somente na interpretação da realidade, ou na “ilusão mágica do
compromisso” com a classe trabalhadora, sem sabermos como se faz isso.
Nenhuma delas separadamente
vai produzir qualquer resultado na realidade social. E, ainda, correremos o risco de cairmos “[...] nas armadilhas
da fragmentação e da despolitização, tão presentes no passado histórico do Serviço Social.” (CARVALHO e
IAMAMOTO apud SOUZA, 2008).
1 O assistente social
Resumindo, um assistente social competente e qualificado deve ser capaz de reconhecer a realidade onde atua,
decifrar a lógica do discurso institucional, ultrapassando o conhecimento prático das rotinas e da burocracia e,
sempre atento ao projeto ético-político da profissão, identificar as possibilidades de ação profissional e
documentá-las corretamente. Assim, estará contribuindo para o aperfeiçoamento do projeto político da
profissão.
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O que vem na próxima aula
• Falaremos sobre o estágio curricular supervisionado, seus aspectos legais, sua importância para a 
formação profissional, além de destacarmos alguns pontos que certamente irão contribuir nesse processo 
de aprendizagem.
CONCLUSÃO
Nesta aula, você:
• Nesta aula, teve a oportunidade de conhecer o que compete ao assistente social no exercício de sua 
atuação, e que uma atuação competente não significa ficar atrelado aos objetivos e demandas 
institucionais, mas requer posicionamento político, capacidade de interpretar a realidade com a qual 
trabalhamos e de utilização dos instrumentos necessários para transformar essa realidade.
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	Olá!
	
	1 O assistente social
	O que vem na próxima aula
	CONCLUSÃO

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