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JEAN CHARLES DE OLIVEIRA DUARTE SEGUNDA AVALIAÇÃO SEMESTRAL Relatório detalhado sobre a seguinte temática: a) Dos crimes contra a saúde pública (arts. 267 a 285 do Código Penal); b) abordar os principais aspectos dos delitos, ressaltando, entre outros elementos, os sujeitos do crime, especificidades da conduta, elemento subjetivo ou voluntariedade, consumação, tentativa, qualificadoras, majorantes, principais entendimentos jurisprudenciais e pena aplicável; c) apresentar quais delitos estão relacionados ou possuem aplicabilidade à pandemia de covid19, considerando que a Lei n.º 13.979/2020; d) a Portaria interministerial n° 05 de 2020 (Ministro da Justiça e Ministro da Saúde). Finalmente, o trabalho deverá apresentar a relação e/ou incidência dos crimes de desobediência (art. 330), contra a economia popular (Lei 1521/51), e contra as relações de consumo. Atividade destinada a Prof.º Igor Barbosa, da disciplina do Direito Penal IV, pelo acadêmico Jean Charles de Oliveira Duarte, Patrícia Magalhães, Tânia Costa Moreira, Tais Fernandes de Sousa, como pré-requisito do curso de Graduação em Bacharelado de Direito. PALMAS – TO 2022/1 SUMÁRIO 1. Introdução 2. Epidemia – Art. 267 do Código Penal 2. Conceito 2.2. Classificação 2.3. Sujeito 2.4. Conduta 2.6. Objeto material e bem juridicamente protegido 2.7. Consumação e tentativa 2.10. Modalidades comissiva e omissiva 2.11. A ação penal 3. Infração de Medida Sanitária Preventiva – Art. 268 do Código Penal 3.1. Conceito 3.2. Classificação 3.3. Sujeito 3.4. Conduta 3.6. Objeto material e bem juridicamente protegido 3.7. Consumação e tentativa 3.10. Modalidades comissiva e omissiva 3.11. A ação penal 3.12. Majorantes de pena 4. Omissão de Notificação de Doença - Art. 269 do Código Penal 4.1. Conceito 4.2. Classificação 4.3. Sujeito ativo e passivo 4.4. Objeto material e bem juridicamente protegido 4.5. Elemento subjetivo 4.6. Conduta 4.7. Consumação e tentativa 4.8. Majorantes de pena 4.9. A ação penal 5. Envenenar água potável, de uso comum ou particular, ou substância alimentícia ou medicinal – Art. 270 do Código Penal. 5.1. Conceito 5.2. Classificação 5.3. Sujeito 5.4. Objeto material e bem juridicamente protegido 5.5. Elemento subjetivo 5.6. Modalidade culposa 5.7. Majorantes de pena e formas culposa e equiparada 5.8. Modalidades comissiva e omissiva 5.9. Ação penal 6. Corrupção ou poluição de água potável - Art. 271 6.1. Conceito 6.2. Modalidade culposa 6.3. Classificação 6.4. Sujeito ativo e sujeito passivo 6.5. Objeto material e bem juridicamente protegido 6.6. Elemento subjetivo 6.7. Bem jurídico e objeto material 6.8. Modalidades comissiva e omissiva 6.9. Consumação e tentativa 6.10. Ação penal 6.11. Jurisprudência 1. Introdução O presente relatório visa reiterar de maneira atenuante no que diz respeito sua extensão jurídica, qual aborda os principais aspectos dos delitos tipificados nos artigos que os perseguem, bem como, ressaltando suas práticas, com outros elementos como: a) os sujeitos do crime; b) as especificidades da conduta; c) os elementos subjetivos e/ou a voluntariedade; d) a consumação do fato; e) se a possibilidade de tentativa nestas práticas; f) as qualificadoras e majorantes aplicada a pena nestes delitos. Por fim, g) os principais entendimentos e jurisprudenciais. Nesta mesma perspectiva, o trabalho avaliativo em tela deverá apresentar quais delitos estão relacionados ou existem aplicabilidade à pandemia da covid-19, isto é, considerando que, a Lei n.º 13.979/2020, regulamentada pela Portaria n. 356, de 11 de março de 2020, do Ministério da Saúde, introduziu um rol de medidas a serem implementadas ao enfrentamento da situação emergencial da saúde pública nesta situação, dentre as quais destaca-se o isolamento e a quarentena. Destarte, a Portaria interministerial n° 05 de 2020 (Ministro da Justiça e Ministro da Saúde), dispôs que dispôs que a autoridade policial poderá lavrar termo circunstanciado em detrimento daquele que for flagrado praticando crimes contra a saúde pública. Neste será apresentado de forma minuciosa, quais crimes poderiam ter aplicabilidade em caso de descumprimento a legislação sanitária emergencial, apresentando, para cada hipótese, um caso concreto, acolhido pela jurisprudência ou da imprensa (pesquisado) ou ainda criado (construído fictamente). 2. Epidemia – Art. 267 do Código Penal 2.1. Conceito O conceito para esta prática encontrado pelo legislador é, causar epidemia, mediante a propagação de germes patogênicos. O delito de epidemia vem tipificado no art. 267 do Código Penal, segundo Rogério Sanches Cunha, que nos esclarece, “Este crime passou a fazer parte de diversos ordenamentos jurídicos após a Primeira Guerra Mundial, período em que foram utilizados, como ‘armas’ germes patogênicos para fim de combate, prática vedada por convenções internacionais após o armistício, e que não se repetiu no segundo grande conflito.” Mediante análise da mencionada figura típica, podemos destacar os seguintes elementos: a conduta de causar epidemia, mediante a propagação de patógenos. O crime passou a fazer parte de diversos ordenamentos jurídicos, não apenas no Brasil. Após a Primeira Guerra Mundial, período em que foram utilizados, como "armas", os germes patogênicos para fim de combate, prática vedada por convenções internacionais após o armistício e, que não se repetiu no segundo grande conflito. 2.2. Classificação • Crime comum, tanto no que diz respeito ao sujeito ativo quanto ao sujeito passivo; • Doloso e culposo (pois o § 2º do art. 267 do Código Penal prevê, expressamente, a conduta culposa praticada pelo agente que vem a dar causa à epidemia, com ou sem o resultado morte, também previsto no mesmo parágrafo); • Comissivo (podendo, nos termos do art. 13, § 2º, do Código Penal, ser praticado via omissão imprópria, na hipótese de o agente gozar do status de garantidor); • Perigo comum e concreto; de forma vinculada (haja vista que o tipo penal especifica o modo pelo qual poderá ser praticado, vale dizer, mediante a propagação de germes patogênicos); • Instantâneo, é aquele que se consuma em momento determinado (consumação imediata), sem qualquer prolongamento, mas isso não significa que ocorra rapidamente. Porém, uma vez reunidos seus elementos, a consumação ocorre peremptoriamente; • Monossubjetivo, aqueles que podem ser praticados por uma só pessoa, como o homicídio, o furto, o estupro, dentre inúmeros outros. Nada obsta, entretanto, que duas ou mais pessoas se unam para perpetrar essas infrações penais, havendo, em tais casos, concurso de agentes. O Código Penal adotou a Teoria Unitária; • Plurissubsistente, neste a conduta é fracionada em diversos atos que, somados, provocam a consumação. Por esse motivo, é admissível a tentativa, como, por exemplo, no homicídio, no roubo, no estelionato etc.; • Não transeunte, aqueles que deixam vestígios de sua execução. Ex: Art. 129, CP. Conforme artigo 158, toda infração que deixar vestígios o exame de corpo de delito direito ou indireto é obrigatório, não podendo ser suprido pena confissão do acusado. 2.3. Sujeito O sujeito ativo é qualquer pessoa com ânimo de praticá-lo. O sujeito passivo é a coletividade, bem como (secundariamente) aqueles que forem atingidos pela disseminação. Como visto acima, qualquer pessoa pode vir praticar o ato. 2.4. Conduta Consiste no crime de causar epidemia, mediante a propagação de germes patogênicos. Propagando significativamente, difundindo, ou multiplicando e ainda disseminando. Epidemia é um surto de uma doença transitória,que ataca simultaneamente um número indeterminado de pessoas em certa local. Porém, não é qualquer doença infecciosa, mas somente aquela que aquela suscetível de se difundir na população, pela fácil propagação de seus germes, de modo a atingir, ao mesmo tempo, grande número de pessoas, com caráter extraordinário (ex. tifo, peste, poliomielite, influenza, raiva, difteria etc.) Por fim, somente a propagação de doença humana é que configura o crime, já que em se tratando de enfermidade que atinja plantas ou animais, o crime será o do art. 61 da Lei 9.605/98. 2.6. Objeto material e bem juridicamente protegido O bem juridicamente protegido pelo tipo penal que prevê o delito de epidemia é a incolumidade pública, consubstanciada, no caso, especificamente, na saúde pública. O objeto material são os germes patogênicos. 2.7. Consumação e tentativa Por se tratar de crime de perigo concreto, somente se consuma com a ocorrência da epidemia, ou seja, quando várias pessoas forem contaminadas em razão da conduta do agente. A tentativa é admissível, como na hipótese em que o agente emprega os meios necessários à propagação da doença, mas somente uma pessoa é contaminada, em razão da pronta intervenção da autoridade sanitária. O delito tipificado no art. 267 do Código Penal se consuma quando o agente vem a causar a epidemia mediante a propagação de germes patogênicos gerando, efetivamente, perigo à incolumidade pública. Dessa forma, haverá necessidade de ser demonstrada a situação de perigo criada pelo agente, cuja conduta tinha por finalidade causar a epidemia, gerando perigo, assim, a um número indeterminado de pessoas. Tratando-se de delito de natureza plurissubsistente, torna-se possível o raciocínio relativo à tentativa. 2.8. Ação penal A ação penal será pública incondicionada. 2.9. Elemento subjetivo O dolo é o elemento subjetivo exigido pelo caput do art. 267, devendo a conduta do agente ser dirigida finalissimamente no sentido de causar epidemia, mediante a propagação de germes patogênicos. Consistente na vontade consciente, por isso, não se exige finalidade especial por parte do agente. Se a pretensão é envolver o contágio de pessoa determinada ou visar a sua morte, responderá em concurso formal com os crimes previstos nos arts. 131 ou 121 do Código Penal, conforme o caso. 2.10. Modalidades comissiva e omissiva O núcleo “causar”, pressupõe um comportamento comissivo praticado pelo agente. No entanto, o delito poderá ser levado a efeito via omissão imprópria, quando o agente, dolosa ou culposamente, podendo, não impedir que terceiro venha a causar a epidemia, devendo, assim, ser responsabilizado nos termos do art. 13, § 2º, do Código Penal. Em razão das penas cominadas, nenhum dos benefícios da Lei 9.099/95 é admitido, exceto na modalidade culposa, em que, se não houver morte, permite-se a transação penal e a suspensão condicional do processo. Na hipótese, o agente, culposamente, causa a epidemia, propagando germes patogênicos. Se desse comportamento culposo advier a morte de alguém, a pena que, inicialmente, era de detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos, passa a ser de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, independentemente do número de pessoas que venham a morrer em virtude da conduta culposa levada a efeito pelo agente. 2.11. A ação penal a iniciativa para esta ação é pública incondicionada. Vale destacar a diferença entre epidemia, endemia e pandemia. Epidemia, diz respeito a uma doença que surge rapidamente em determinado lugar e acomete simultaneamente grande número de pessoas. Endemia é tipo de doença que existe constantemente em determinado lugar e ataca número maior ou menor de indivíduos, exemplo da febre amarela, comum em certas regiões do país. Quanto a pandemia, conforme lições de Bento de Faria, “quando vários países são assolados pela mesma doença”, ou, como disserta Noronha, “se sua disseminação se dá em extensa área do globo terrestre”, a exemplo do que ocorreu com a chamada “gripe espanhola”, que matou mais de 20 milhões de pessoas em todo o mundo entre os meses de setembro e novembro de 1918, ou mesmo a pandemia de Covid-19, que teve início na China, no final do ano de 2019, e que no Brasil matou centenas de milhares de pessoas 3. Infração de Medida Sanitária Preventiva – Art. 268 do Código Penal 3.1. Conceito É a ação de infringir medida sanitária preventiva tipificado no art. 268 do Código Penal, na mencionada figura típica, podemos identificar os seguintes elementos: a) a conduta de infringir determinação do Poder Público; b) destinada a impedir introdução ou propagação de doença contagiosa. Ney Moura Teles traduz o conceito de doença contagiosa dizendo: “Doença é a alteração ou o desvio do estado de equilíbrio que caracteriza a condição de saúde de um indivíduo, decorrente da intervenção de vários fatores. Está associada a manifestações características, denominadas sinais ou sintomas. Doença contagiosa é o agravo à saúde, determinado por um agente infeccioso específico ou por seus produtos tóxicos e que pode ser transmitida a outro indivíduo ou suscetível de transmissão por diversos mecanismos. É também chamada de doença infectocontagiosa ou doença transmissível. A norma só se refere a doenças que acometem os humanos, não os animais ou vegetais, mas pode a determinação do poder público recair sobre o cuidado com animais e vegetais, quando estes possam integrar- se na série causal de propagação da doença.” 3.2. Classificação • Crime comum, tanto no que diz respeito ao sujeito ativo quanto ao sujeito passivo; • Doloso (não havendo previsão para a modalidade de natureza culposa); • Comissivo ou omissivo (podendo, também, nos termos do art. 13, § 2º, do Código Penal, ser praticado via omissão imprópria, na hipótese de o agente gozar do status de garantidor); • Perigo comum e concreto (embora haja divergência doutrinária nesse sentido, pois se tem entendido, majoritariamente, tratar-se de um crime de perigo abstrato, presumido); • Forma livre, admite qualquer meio de execução; • Instantâneo, é aquele que se consuma em momento determinado (consumação imediata), sem qualquer prolongamento, mas isso não significa que ocorra rapidamente. Porém, uma vez reunidos seus elementos, a consumação ocorre peremptoriamente; • Monossubjetivo, aqueles que podem ser praticados por uma só pessoa, como o homicídio, o furto, o estupro, dentre inúmeros outros. Nada obsta, entretanto, que duas ou mais pessoas se unam para perpetrar essas infrações penais, havendo, em tais casos, concurso de agentes. O Código Penal adotou a Teoria Unitária; • Plurissubsistente, neste a conduta é fracionada em diversos atos que, somados, provocam a consumação. Por esse motivo, é admissível a tentativa, como, por exemplo, no homicídio, no roubo, no estelionato etc.; • Não transeunte, aqueles que deixam vestígios de sua execução. Ex: Art. 129, CP. Conforme artigo 158, toda infração que deixar vestígios o exame de corpo de delito direito ou indireto é obrigatório, não podendo ser suprido pena confissão do acusado. 3.3. Sujeito ativo e passivo Qualquer pessoa pode ser sujeito ativo do delito de infração de medida sanitária preventiva, não exigindo o tipo penal do art. 268 nenhuma qualidade ou condição especial. O sujeito passivo é a sociedade, bem como eventuais lesados pela conduta delituosa. 3.4. Conduta O crime consiste em infringir (desrespeitar, transgredir) determinação do poder público (leis, decretos, portarias etc.), destinada a impedir introdução ou propagação de doença contagiosa, o que pode se dar de maneira comissiva ou omissiva. Na lição de Fragoso: "Pela classificação do dispositivo legal exame, pode-se concluir que as doenças contagiosas a que se refere são apenas as que atingem ao ser humano (não se contemplando aqui as epizootias e epifitias)." Note-se que o crimenão se configura com a violação de qualquer dispositivo regulamentação sanitária, mas única, e tão somente aquele voltado ao impedimento de introdução ou propagação de doença contagiosa. Ainda explica Mirabete: "Por essa razão, tem-se decidido que, não visando a determinação, especificamente, à introdução ou propagação de doenças contagiosas transmissíveis por via aérea, bacilar ou por contato pessoal, e sim apenas a medidas genéricas de higiene, não dá margem à configuração do ilícito penal e sim à sanção de caráter administrativo (RT 389/332, 381/328, e 342, 394/277, 395/273, 395/273, 402/28 2, 460/357, 705/337;]TACrSP3/81, 12/264, 13/140, 29/61, 22/193, RJDTACRIM 33/143; FRANCESCHINI, I, n. 1.283. Sobre o assunto está em vigor a Lei 9.431, de 06.01.1997, que dispõe a obrigatoriedade da manutenção de programa de controle de infecções hospitalares pelos hospitais do País. Evidentemente, não configuram o crime também a desobediência a simples conselhos ou a advertência das autoridades à população. A incriminação legal não se estende às infrações de medidas de inspeção industrial e sanitária de produtos de origem animal (RT 460/370)." Trata-se de norma penal em branco, pois depende da existência de outra regra (determinação do poder público) para que possa ter eficácia jurídica e social. O abate irregular de gado (RT725l6I9) e a reutilização de agulhas hipodérmicas em hospital UTACRIM 100/308), segundo a jurisprudência, configuram este crime. 3.6. Objeto material e bem juridicamente protegido É a determinação do poder público, que é infringida pelo agente que expõe a perigo a incolumidade pública por meio de seu comportamento. O(s) Bem(ns) juridicamente protegido(s) É a incolumidade pública consubstanciada, no caso, » especificamente, na saúde pública. 3.7. Consumação e tentativa Embora a maioria da doutrina entenda que o delito de infração de medida sanitária preventiva se encontra no rol das infrações penais de perigo abstrato (presumido), consumando-se tão somente com a prática da conduta descrita no núcleo do tipo, entendemos que, em obediência ao princípio da lesividade, a situação de perigo à incolumidade pública, criada pelo agente que infringiu determinação do Poder Público, deverá ser demonstrada no caso concreto, não se podendo, assim, presumi-la. Tratando-se de um delito plurissubsistente, entendemos como possível o raciocínio relativo à tentativa, que deverá ser analisada caso a caso. 3.10. Modalidades comissiva e omissiva Trata-se de uma figura típica que poderá ser comissiva ou mesmo omissiva, dependendo do complemento exigido pela norma penal em branco em exame. Nada impede, tendo em vista sua natureza híbrida (comissiva e omissiva), que o delito seja praticado via omissão imprópria. 3.11. A ação penal Será sempre pública incondicionada. 3.12. Majorantes de pena O parágrafo único expressamente diz que, “a pena é aumentada de um terço se o agente é funcionário da saúde pública ou exerce a profissão de médico, farmacêutico, dentista ou enfermeiro. Justifica-se a punição mais severa pela maior gravidade da conduta, em razão das pessoas que a praticam, que, pela natureza de sua atividade, deveriam zelar de forma singular pela saúde pública. O art. 285 do Código Penal determina que se aplique ao disposto neste crime o que estatui o art. 258. Evidente que, neste caso, só a primeira parte do dispositivo é aplicável, tendo em vista a inexistência de previsão da modalidade culposa para a infração de medida sanitária preventiva. 4. Omissão de Notificação de Doença - Art. 269 do Código Penal 4.1. Conceito Ao deixar o médico de denunciar ao órgão competente, doença cuja notificação é compulsória, gera um dano a incolumidade pública, pois não evita sua propagação a outras pessoas (Bem tutelado). De acordo com a figura típica mencionada, podemos apontar os seguintes elementos: a) a conduta de deixar o médico de denunciar à autoridade pública; b) doença cuja notificação é compulsória. Faz necessária remissão ao art. 169 da Consolidação das Leis Trabalhistas – CLT, que diz Ao verificar a redação legal, nota-se o núcleo, “deixar’, pressupõe um comportamento omissivo por parte do agente. Cuidando, ainda, de um delito próprio, pois que, somente o médico pode vir praticar dada a conduta omissiva. Deixando este de levar a efeito, a necessária denúncia à autoridade pública. Denúncia, aqui, significa comunicado, ou seja, é dever do médico, ao tomar conhecimento de uma doença cuja notificação seja compulsória, comunicá-la à autoridade pública, informando-a todos os dados necessários para evitar sua proliferação. Hungria, analisando o delito sub examen, esclarece: “A gravidade da omissão, por isso que, impedindo a expedição de medidas profiláticas, cria o perigo de generalização da doença ou permanência do foco de infecção, justifica, na espécie, o maior rigor do Código vigente. Também aqui, trata-se de lei penal em branco: sua complementação é o preceito do regulamento sanitário (federal, estadual ou municipal) relativo às doenças cuja notificação é compulsória. Apresenta-se, no caso, uma notável exceção à regra do segredo profissional: quando está em causa doença de notificação compulsória, a violação do segredo médico, no sentido de comunicação à autoridade competente, deixa de ser crime, para ser um dever legal.” 4.2. Classificação doutrinária • A omissão da notificação de doenças a órgão competente é crime próprio no que diz respeito ao sujeito ativo, haja vista que o tipo penal faz menção expressa à qualidade de médico e comum, quanto ao sujeito passivo; • Doloso consistente na vontade consciente de se omitir em denunciar à órgão competente, doença cuja notificação é compulsória. (não havendo previsão para a modalidade de natureza culposa); • Omissivo próprio; de perigo comum e concreto (embora haja divergência doutrinária nesse sentido, pois se tem entendido, majoritariamente, tratar- se de um crime de perigo abstrato, presumido); • Forma vinculada, são aqueles que possuem determinação específica a respeito do modo de praticá-los, somente ocorrendo a consumação se pela maneira que a lei prescreveu. Exemplo do curandeirismo; • Instantâneo, é aquele que se consuma em momento determinado (consumação imediata), sem qualquer prolongamento, mas isso não significa que ocorra rapidamente. Porém, uma vez reunidos seus elementos, a consumação ocorre peremptoriamente; • Monossubjetivo, por se cuidar de crime omissivo próprio, de natureza monossubsistente, não será possível o reconhecimento da tentativa, haja vista a impossibilidade de fracionamento do iter criminis, dada a concentração de atos. Dessa forma, ou o agente deixa de denunciar à autoridade pública doença cuja notificação seja compulsória, e o crime, assim, se consuma, ou efetua a denúncia, cumprindo a determinação legal, deixando de praticar o delito; • Unissubsistente, são aqueles que somente podem ser praticados por uma só pessoa (aborto, epidemia, constrangimento ilegal etc.); • Não transeunte, aqueles que deixam vestígios de sua execução. Ex: Art. 129, CP. Conforme artigo 158, toda infração que deixar vestígios o exame de corpo de delito direito ou indireto é obrigatório, não podendo ser suprido pena confissão do acusado. 4.3. Sujeito ativo e sujeito passivo Somente o médico poderá ser sujeito ativo do delito de omissão de notificação de doença. O sujeito passivo é a sociedade. 4.4. Objeto material e bem juridicamente protegido O bem juridicamente protegido pelo tipo penal que prevê o delito de omissão de notificação de doença é a incolumidade pública, consubstanciada, no caso, especificamente, na saúde pública. O objeto material é a notificação compulsória. Consumação e tentativa Embora exista controvérsia doutrinária, entendemos que o delito se consuma quando a omissão do agente, no que dizrespeito à denúncia à autoridade pública de doença cuja notificação seja compulsória, cria, efetivamente, uma situação de perigo à incolumidade pública, tratando-se, pois, de uma infração de perigo concreto, cuja demonstração deverá ser procedida no caso concreto, embora a maioria da doutrina o classifique como um delito de perigo presumido, abstrato, bastando a inação dolosa do agente para que reste consumado. 4.5. Elemento subjetivo O delito de omissão de notificação de doença somente pode ser praticado dolosamente, não havendo previsão para a modalidade de natureza culposa. Poderá o médico incorrer no chamado erro de tipo quando, equivocadamente, deixar de denunciar a doença à autoridade pública, por supor que ela não faça parte do rol daquelas consideradas como de notificação compulsória. Da mesma forma, o médico que, negligentemente, mesmo sabendo da necessidade de levar a efeito a denúncia da doença que, sabidamente, era de notificação compulsória, deixar de fazê-lo, não poderá ser responsabilizado pelo seu comportamento culposo, em virtude da ausência de previsão legal. 4.6. Conduta A conduta omissiva (pura) se consubstancia quando, o médico deixa de denunciar à órgão competente, doença cuja notificação é compulsória, competindo às autoridades sanitárias, através de norma administrativa complementar, elaborarem o rol dessas moléstias, que atinge, por exemplo, a cólera e a rubéola, como gravidade limite. Trata-se, portanto, de norma penal em branco. Não se exige que o médico tenha contato direto com o doente, bastando que tenha conhecimento da existência da doença. Como ensina Fragoso: ''A irrelevância do estado do doente ou qualquer outra circunstância relativa ao lugar onde se encontra e ao tratamento que acaso venha recebendo, já que o perigo é presumido juris et de jure" 4.7. Consumação e tentativa Consuma-se o crime, de perigo abstrato, no momento em que o agente, ciente da existência da doença de notificação obrigatória, deixa de denunciá-la à autoridade sanitária. No caso de haver prazo determinado, o delito se consumará no momento em que este se expira. A tentativa é inadmissível, vez que se trata de crime omissivo puro. 4.8. Majorantes de pena Aplicam-se ao delito em apreço as majorantes previstas no art. 258 do Código Penal, determinação trazida pelo art. 285 do mesmo Estatuto. 4.9. Ação penal Será sempre pública incondicionada. 5. Envenenar água potável, de uso comum ou particular, ou substância alimentícia ou medicinal – Art. 270 do Código Penal. 5.1. Conceito O delito de envenenamento de água potável ou de substância alimentícia ou medicinal encontra-se tipificado no art. 270 do Código Penal. Pela redação do referido artigo, podemos apontar os seguintes elementos: a) a conduta de envenenar água potável; b) ou substância alimentícia ou medicinal destinada a consumo. Greco, inicialmente nos apresenta as lições que compete destacar a existência de divergência doutrinária a respeito do conceito de envenenamento. Conforme esclarece Odon Ramos Maranhão: “Isto se deve não só à grande quantidade de substâncias lesivas ao organismo, como à variedade do modo de ação das mesmas. Podemos aceitar como veneno uma substância que, introduzida no organismo, altera momentaneamente ou suprime definitivamente as manifestações vitais de toda matéria organizada [...].” Embora seja problemática a classificação dos venenos, eles podem ser distribuídos em grupos, de acordo com as lições de Genival Veloso de França, a saber: “a. quanto ao estado físico: líquidos, sólidos e gasosos; b. quanto à origem: animal, vegetal, mineral e sintético; c. quanto às funções químicas: óxidos, ácidos, bases e sais (funções inorgânicas): hidrocarbonetos, álcoois, acetonas e aldeídos, ácidos orgânicos, ésteres, aminas, aminoácidos, carboidratos e alcaloides (funções orgânicas); d. quanto ao uso: doméstico, agrícola, industrial, medicinal, cosmético e venenos propriamente ditos.” A conduta do agente, portanto, deve ser dirigida a envenenar água potável, isto é, aquela própria para o consumo do homem, não importando, como diz o artigo, seja ela de uso comum, a exemplo daquelas utilizadas nas escolas, fábricas, clubes esportivos, bicas públicas etc., ou mesmo de uso particular, como aquelas represadas em caixas d’água, poços, açudes, cisternas etc.; podendo ser tanto aquela utilizada para ser bebida in natura, quanto na manipulação ou preparo de alimentos. Tratando-se de um crime de perigo comum, somente haverá a infração penal em estudo se o comportamento do agente vier a criar uma situação de perigo a um número indeterminado de pessoas. Caso a sua conduta se resuma a trazer perigo a pessoa certa e determinada, o fato poderá se configurar no delito tipificado no art. 132 do Código Penal, “art. 132 - Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e iminente.” Merece ser ressaltado, ainda, que se o envenenamento ocorrer em água imprestável para o consumo o fato não se amoldará ao delito em apreço, pois a lei exige, expressamente, que a água seja potável, ou seja, apta ao imediato consumo humano, mesmo contendo algumas impurezas. Além da água potável, o agente poderá envenenar substância alimentícia ou medicinal destinada a consumo. Noronha, esclarecendo os aludidos conceitos, diz: “A ação física do agente deve incidir também sobre a substância alimentícia, que é a que se presta à alimentação, isto é, a ser comida ou bebida por indeterminado número de pessoas, pois deve destinar- se a consumo. O dono de um estabelecimento (bar, restaurante, confeitaria etc.) que expõe alimentos ou doces que envenenou, comete o delito em questão; se, entretanto, os manda a pessoa certa e determinada, prática homicídio qualificado. Pode o alimento ser sólido ou líquido; preparado ou em estado natural; de primeira necessidade ou secundário etc., e não deixará de ser objeto material do tipo, já que a lei não distingue. Também a substância medicinal é considerada. Não é fácil dar o conceito de medicamento, tal qual acontece com o veneno, começando que, muita vez, eles se confundem não só entre si, como com os alimentos, ou esclarecendo: o iodo e o fósforo, v.g., são alimentos, medicamentos e tóxicos.” Inicialmente, o delito tipificado no art. 270 do Código Penal encontrava-se no rol constante do art. 1º da Lei nº 8.072/90, sendo que sua exclusão aconteceu com o advento da Lei nº 8.930, de 6 de setembro de 1994, que deu nova redação ao mencionado artigo, renumerando os seus incisos (GRECO. Rogério 2022. Curso de Direito Penal – vol. 3. p. 1.057 a 1.509). Sanches, por sua vez nos apresenta outra divergência, a luz da Lei nº 9.605/98: “Há quem sustente, como fazíamos em edições anteriores, a derrogação da primeira parte do art. 270 ("envenenar água potável, de uso comum ou particular") pelo art. 54 da Lei 9.605/98, que pune a conduta de causar poluição de qualquer natureza. Nesse sentido, argumenta Luiz Regis Prado: ''A primeira parte do caput do art. 270 do Código Penal foi derrogada, implicitamente, pelo art. 54 da Lei 9.605/1998. Isso no que diz respeito ao envenenamento de água potável destinada ao consumo humano. No que tange ao envenenamento de substância alimentícia ou medicinal, permanece vigente o Código Penal. Foi a amplitude dos termos utilizados pela lei ambiental - poluição de qualquer natureza - que propiciou a revogação parcial do art. 270, tendo em vista que engloba toda a poluição, inclusive a hídrica. Aliás, mais certeza se tem quando se visualiza o previsto no § 2°, III, do art. 54 da Lei dos Crimes Ambientais, pois essa circunstância qualificadora será imposta quando a poluição hídrica causada torne necessária a interrupção do abastecimento público de água de uma comunidade". Não há, todavia, incompatibilidade entre os dois dispositivos, basicamente por duas razões. Inicialmente,porque o art. 270 pune a conduta de envenenar água potável, ao passo que o art. 54 da Lei nº 9.605/98 se volta à punição da poluição de qualquer natureza. Há, entre tais condutas, clara distinção de gravidade, pois adicionar substância venenosa na água fornecida para consumo humano tem, concretamente, potencialidade lesiva muito maior de provocar danos às pessoas do que o ato genérico de causar poluição. Aliás, a própria lei admite este risco exacerbado ao determinar a incidência da majorante do art. 258 do Código Penal, que aumenta de metade e dobra a pena se do envenenamento decorre lesão corporal grave ou morte, respectivamente. E nesta esteira, é necessário que se considere, também como evidência da maior gravidade, a extraordinária diferença entre as reprimendas abstratamente cominadas aos delitos: no art. 270, a pena varia de dez a quinze anos de reclusão; no art. 54, a reclusão é de no mínimo um ano e pode chegar a no máximo quatro. Não é razoável, dessa forma, simplesmente igualar condutas tão díspares porque a lei posterior dispôs de forma genérica a respeito de poluição. Além disso, a disposição genérica do art. 54 da lei n º 9.605/98 pode funcionar, na verdade, como uma regra geral repressiva da poluição, caracterizando-se o art. 270 como uma norma especial que pune a conspurcação da água potável. A pena cominada no caput não permite benefícios da Lei 9.099/95, mas a modalidade culposa do delito admite a transação penal e a suspensão condicional do processo, exceto se presente a majorante do art. 285. Neste caso, havendo lesão grave, somente a suspensão condicional do processo será cabível e, se ocorrer a morte, não há benefício (SANCHES, Rogério 2020, Manual de Direito Penal Parte Especial p. 658 e 659). 5.2. Classificação Cleber Masson nos apresenta uma melhor classificação do delito de envenenar água potável ou de substância alimentícia ou medicinal como sendo: a) Um crime comum; b) Formal; c) Crime de perigo comum e abstrato; d) Crime de forma livre; e) Crime vago; f) Crime instantâneo; g) Crime comissivo; h) Crime unissubjetivo, unilateral ou de concurso eventual e; i) Crime plurissubjetivo. 5.3. Sujeito O delito pode ser praticado por qualquer pessoa, inclusive, pelo o proprietário da substância alimentícia ou medicinal (quando essas substâncias forem destinadas ao consumo de outras pessoas). Sujeito passivo é a sociedade de forma geral, bem como aquelas pessoas que sofreram, imediatamente, com a conduta praticada pelo agente, em caso de lesão corporal ou morte, por terem ingerido a água potável, a substância alimentícia ou medicinal envenenada. 5.4. Objeto material e bem juridicamente protegido O bem jurídico protegido pelo tipo penal prevê que o delito de envenenamento de água potável ou de substância alimentícia ou medicinal é a incolumidade pública, consubstanciada, no caso, especificamente, na saúde pública. Sendo o objeto material é a água potável ou a substância alimentícia ou medicinal. 5.5. Elemento subjetivo É o dolo, independentemente de qualquer finalidade específica. A modalidade culposa é admitida no § 2º, entretanto o agente deverá ter conhecimento, outrossim, de todos os elementos que integram o tipo penal, pois, caso contrário, poderá ser alegado o chamado erro de tipo. 5.6. Modalidade culposa A modalidade culposa do delito de envenenamento de água potável ou de substância alimentícia ou medicinal que está prevista no § 2º do art. 270, que diz, verbis: “§ 2º Se o crime é culposo: Pena – detenção, de seis meses a dois anos.” Nessa hipótese, o agente, deixando de observar o seu necessário dever objetivo de cuidado, cria a situação de perigo à incolumidade pública. Hipótese em que o agente, por imprudência, negligência ou imperícia, permite que a substância destinada a consumo seja contaminada. 5.7. Majorantes de pena e formas culposa e equiparada Forma equiparada O § 1 ° pune o comportamento daquele que entrega a consumo ou tem em depósito, para o fim de distribuição, a água ou a substância envenenada. Trata-se de personagem não abrangido pelo caput, isto é, o agente, aqui, não é o responsável pelo envenenamento, mas pela entrega ou distribuição do que foi envenenado, tratando-se, pois, de alguém totalmente alheio à figura inicial. Na forma equiparada, a conduta de ter em depósito é crime permanente, protraindo- se a consumação pelo período em que o agente assim desejar. 5.8. Modalidades comissiva e omissiva O núcleo “envenenar”, pressupõe um comportamento comissivo por parte do agente. No entanto, o delito poderá ser praticado via omissão imprópria, na hipótese em que o agente, garantidor, dolosa ou culposamente, podendo, nada fizer para impedir o envenenamento de água potável, de uso comum ou particular, ou de substância alimentícia ou medicinal destinada a consumo. 5.9. Ação penal A ação penal será pública incondicionada. 6. Corrupção ou poluição de água potável - Art. 271 6.1. Conceito O delito de corromper ou poluir água potável previsto no artigo em comento apresenta dois elementos que o tipifica como crime, a doutrina majoritária aponta estes elementos contidos: a) a conduta de corromper ou poluir água potável, de uso comum ou particular; b) tornando-a imprópria para o consumo ou nociva à saúde. Sanches ensina que, o elemento objetivo do tipo, “corromper”, significa estragar, apodrecer, infectar. E “poluir” é, sujar, profanar, conspurcar. Com a poluição da água, do mesmo modo, tornando-a imprópria para consumo humano ou nocivo a saúde. São indiferentes os meios utilizados pelo sujeito ativo para corromper ou poluir a água potável. “É imprescindível dizer que a conduta recaia sobre água potável que é aquela destinada a alimentação de indeterminado número de pessoas.” (...) ("Comentários ao Código Penal, Luiz Regis Prado, 2ª, RT, pág.957). Nesse mesmo sentido Hungria, faz a distinção entre os referidos núcleos dizendo: “corromper a água é alterar-lhe a essência ou composição, tornando- a nociva à saúde, ou intolerável pelo mau sabor. Poluir a água é conspurcá-la, deitar lhe alguma sujidade, de modo a torná-la imprópria de ser bebida pelo homem”. As duas condutas são um minus, comparadas ao envenenamento previsto pelo art. 270 do Código Penal, razão pela qual as penas previstas pelo art. 271 do mesmo estatuto são significativamente inferiores àquelas previstas para o delito de envenenamento de água potável ou de substância alimentícia ou medicinal. Greco, ressalta a divergência doutrinária a respeito da revogação do art. 271 do Código Penal, pelo art. 54 da Lei nº 9.605/98. apresentando afirmação de Ney Moura Teles: “Incisivamente, “não pode haver dúvidas quanto à revogação tácita. A norma da lei especial alcança integralmente a descrição típica do preceito do Código Penal”. No mesmo sentido, Luiz Regis Prado, quando afirma que o artigo em análise foi tacitamente revogado pelo art. 54 da Lei de Crimes Ambientais, pois esse “dispositivo apresenta termos muito amplos, que abrangem a conduta ora examinada”. Entendemos, no entanto, pela manutenção do art. 271 do Código Penal, devendo ser aplicado o art. 54 da Lei nº 9.605/98 somente quando, de acordo com o seu § 2º, III, a conduta do agente causar poluição hídrica que torne necessária a interrupção do abastecimento público de água de uma comunidade. Cuida-se de um tipo misto alternativo, no qual a prática de mais de uma conduta constante do tipo penal importará em infração penal única. 6.2. Modalidade culposa Contida no parágrafo único do artigo analisado, desse modo o crime é de modalidade culposa. 6.3. Classificação Cleber Masson e Rogério Greco, nos apresentam uma classificação sobre o delito mais detalhada, a saber: a) Crime comum; b) Crime formal, de consumação antecipada ou de resultado cortado; c) Crime de perigo comum e abstrato; d) Crime de formalivre; e) Crime vago; f) Crime instantâneo; g) Comissivo; h) Crime unissubjetivo, unilateral ou de concurso eventual e; i) Crime plurissubsistente; j) Não transeunte e; l) Monossubjetivo. Crime comum, tanto no que diz respeito ao sujeito ativo quanto ao sujeito passivo; doloso e culposo (tendo em vista a previsão expressa constante do parágrafo único do art. 271 do Código Penal); comissivo (podendo, também, nos termos do art. 13, § 2º, do Código Penal, ser praticado via omissão imprópria, na hipótese de o agente gozar do status de garantidor); de perigo comum e concreto (embora haja divergência doutrinária nesse sentido, pois se tem entendido, majoritariamente, tratar-se de crime de perigo abstrato, presumido). 6.4. Sujeito ativo e sujeito passivo Qualquer pessoa pode ser sujeito ativo do delito de corrupção ou poluição de água potável, tendo em vista que o tipo penal não exige nenhuma qualidade ou condição especial. O sujeito passivo é a sociedade, de forma geral, bem como aquelas pessoas que sofreram, imediatamente, com a conduta praticada pelo agente. 6.5. Objeto material e bem juridicamente protegido O bem juridicamente protegido pelo tipo penal que prevê o delito de corrupção ou poluição de água potável é a incolumidade pública, consubstanciada, no caso, especificamente, na saúde pública. O objeto material é a água potável corrompida ou poluída pelo agente. 6.6. Elemento subjetivo É o dolo é o elemento subjetivo, independentemente de qualquer finalidade específica exigido pelo caput do art. 271 do Código Penal, havendo, no entanto, previsão para a modalidade culposa, nos termos do parágrafo único do mesmo artigo. 6.7. Bem jurídico e objeto material É a incolumidade pública consubstanciada, no caso, especificamente, na saúde pública. É a água potável ou a substância alimentícia, ou medicinal. 6.8. Modalidades comissiva e omissiva Os núcleos corromper e poluir pressupõem um comportamento comissivo por parte do agente. No entanto, o delito poderá ser praticado via omissão imprópria, na hipótese em que o agente, garantidor, dolosa ou culposamente, podendo, nada fizer para impedir a corrupção ou poluição de água potável, de uso comum ou particular, tornando-a imprópria para o consumo ou nociva à saúde. 6.9. Consumação e tentativa O delito se consuma quando, após a corrupção ou poluição da água potável, de uso comum ou particular, o agente cria, efetivamente, uma situação de perigo a um número indeterminado de pessoas, colocando em risco, portanto, a incolumidade pública. Conforme afirma Greco, “entendemos que é de perigo concreto o delito em estudo, ao contrário da maioria de nossos doutrinadores, que o concebem como de perigo abstrato (presumido). Tratando-se de crime plurissubsistente, no qual se pode fracionar o iter criminis, torna-se possível o raciocínio relativo à tentativa.” 6.10. Ação penal Será sempre púbica incondicionada. 6.11. Jurisprudência “CRIMINAL. HABEAS CORPUS. POLUIÇÃO AMBIENTAL. DESTRUIÇÃO OU DANO A FLORESTA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE. TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. INÉPCIA DA DENÚNCIA. CORRUPÇÃO DE ÁGUA POTÁVEL. AB-ROGAÇÃO PELA LEI Nº 9.605/98. AUSÊNCIA DE INDÍCIOS MÍNIMOS DE AUTORIA NO DELITO DE DANO E DE COMPROVAÇÃO DA MATERIALIDADE NO CRIME DE POLUIÇÃO AMBIENTAL. CONSTRANGIMENTO ILEGAL EVIDENCIADO. ORDEM CONCEDIDA. I. O tipo penal, posterior, específico e mais brando, do art. 54 da Lei nº 9.605/98 engloba completamente a conduta tipificada no art. 271 do Código Penal, provocando a ab-rogação do delito de corrupção ou poluição de água potável. II. Para a caracterização do tipo citado, mister a ocorrência de efetiva lesão ou perigo de dano, concreto, real e presente, à saúde humana, à flora ou à fauna. III. Mostra-se inepta a denúncia que carece de comprovação da possibilidade de danos à saúde humana pelo suposto fato de a paciente de ter deixado, em data específica, que seu rebanho bebesse em dique que abastece cidade, pela ausência de conclusão técnica sobre a salubridade da água. IV. A mera descrição de dano a floresta de preservação permanente é insuficiente para a configuração do delito do art. 38, caput, da Lei nº 9.605/98, sendo necessária a demonstração de indícios mínimos de autoria. V. A simples descrição do dano ambiental e conseqüente atribuição da responsabilidade à proprietária do imóvel rural, quanto mais se recentemente adquirido, consiste em responsabilização penal objetiva, inadmissível no ordenamento jurídico. VI. Ausentes da denúncia os elementos mínimos de autoria e materialidade, cabível o trancamento da ação penal. VII. Ordem concedida, nos termos do voto do Relator.” Finalmente, seguindo a ementa deste relatório, na mesma propositura, apresentamos a relação e/ou incidência do crime de desobediência previsto no art. 330 do Código Penal, contra a economia popular, Lei nº 1521/51, bem como sua prática contra as relações de consumo. Introdução 7.1. Desobediência - art. 330 do Código Penal 7.2. Conceito Inicialmente podemos dizer que o crime de desobediência previsto no art. 330 do Código Penal, constitui o rol dos delitos praticados por particulares contra a administração em geral, descreve a conduta do particular que comete crime contra a administração pública como sendo, o ato de não observar uma ordem legal ou não a cumprir. O objetivo da norma é garantir o cumprimento das ordens emanadas do funcionário público no cumprimento de suas funções. Para efeito legal, o Estatuto dos Funcionários Públicos Civis da União, funcionário é a pessoa legalmente investida em cargo público, e este é o criado por lei, com denominação própria, em número certo e pago pelos cofres públicos. Para que haja configuração do crime, é indispensável que a ordem esteja de acordo com a legalidade, bem como a existência inequívoca de sua existência, para então ter a intenção do descumprimento da ordem. Caso não haja, não haverá crime. O dolo é o elemento subjetivo exigido pelo tipo penal em estudo, não havendo previsão para a modalidade de natureza culposa. Porém, pode ser cometido por meio de uma ação ou omissão. Por se tratar de um crime comum, o mesmo pode ser praticado por qualquer pessoa. Discute-se se o servidor público pode ser também sujeito ativo, divergindo a doutrina. Entende a maioria que sim, desde que a ordem recebida não se refira a funções suas, pois, em tal hipótese, poderá configurar o delito de prevaricação. Bastante didática é a lição de HUNGRIA: "O crime de desobediência (art. 330 do CP) encontra-se no capítulo dos crimes praticados por particular contra a administração e, portanto, não o caracteriza a contumácia de Delegado de Polícia que deixa de instaurar inquérito ou de realizar diligências requisitadas, pois o fez no exercício do cargo, na condição de funcionário público, e não como particular. Outra será a situação se descumprir uma ordem, mas despido da condição de funcionário, ou se entre seus deveres funcionais não se inclui o cumprimento dessa ordem." Assim, se o agente devia cumprir a ordem, por dever de ofício, tipifica-se, em tese, o delito de prevaricação. Se devia acatá-la, sem que o fosse em virtude de sua função, ocorre o crime de desobediência. O Estado, desprestigiado na sua autoridade, e secundariamente, o funcionário autor da ordem desobedecida, são vítimas desse crime. Neste ponto, importa destacarmos a lição de NORONHA: "Não comungamos da opinião do provecto Bento de Faria, de que necessariamente há de existir relação de subordinação hierárquica do desobediente para com o sujeito passivo (... ). Não há tal, mesmo porque o desobediente pode ser o particular, como se falou. Certo é, porém, que o ofendido deve ser funcionário competente para emitir ordem legal, ou seja, funcionário, cujo conceito é dado pelo direito administrativo, não tendo, agora, aplicação o art. 327 do Código, havendo já, por mais de uma vez, selembrado que, para o Estatuto dos Funcionários Públicos Civis da União, funcionário é a pessoa legalmente investida em cargo público, e este é o criado por ei, com denominação própria, em número certo e pago pelos cofres públicos.” A doutrina, por outro lado, criou a figura do agente público de fato, o qual, em determinados casos extremos (incêndios, guerras, calamidades públicas, epidemias, enchentes, prisão de criminoso etc.), investir-se-ia temporariamente dos poderes e prerrogativas da Administração Pública para realizar o ato que caberia ao funcionário público strictu sensu. Não obstando contra a classificação adotada pelo ramo administrativo, contudo, não pode ser aplicada no âmbito penal, cujos conceitos e definições são mais restritos e precisos. Dessa maneira, não se pode utilizar essa classificação doutrinária de um dos ramos do Direito para conferir poderes a alguém, capaz de interferir de forma negativa no âmbito jurídico de terceiros. Em outras palavras, o entendimento de funcionário público no ramo penal deve ser feito o mais restritivamente possível, toda vez que venha a causar, de qualquer modo, gravame à pessoa. Nesse sentido, a hermenêutica jurídica da norma será sempre restrita e exaustiva. 7.3. Economia popular Lei nº 1.521/51 A tutela da economia popular teve início, por meio de legislação específica, a partir do Decreto 19.604/31, visando punir fraudadores de gêneros alimentícios. A Constituição Federal de 1937 incentivou o surgimento de leis nesse sentido, razão pela qual surgiu o Decreto-lei 869/38, que passou a prever os crimes contra a economia popular. Pouco mais de uma década, em 26.12.1951, em plena ditadura de Getúlio Vargas, foi promulgada a Lei 1.521/51 definindo os crimes contra a economia popular, acompanhada de outro Diploma, a Lei 1522/51, que permitia a intervenção da União no domínio econômico, a fim de que fosse assegurado a livre distribuição de produtos necessários ao consumo do povo. Segundo definição doutrinária dada por Nelson Hungria, um dos mentores da lei, o crime contra a economia popular é, “todo o fato que represente um dano efetivo ou potencial ao patrimônio de um número indeterminado de pessoas”. (in Comentários ao CP, Ed. Forense, 1958). A economia popular é a resultante de um complexo de interesses econômicos, familiares e individuais, constituído em um patrimônio de um número indeterminado de indivíduos. 7.4. Conceito 7.5. Conceito de Economia Popular A partir das cinco categorias acima descritas, é possível fazer diferentes combinações, gerando diferentes arranjos conceituais relativos as alternativas econômicas dos trabalhadores excluídos do trabalho assalariado. Assim, da agregação das categorias economia e popularidade resulta a combinação ‘economia popular’ que TIRIBA & ICAZA assim conceituam: Entende-se por economia popular o conjunto de atividades econômicas e práticas sociais desenvolvidas pelos setores populares no sentido de garantir, com a utilização de sua própria força de trabalho e dos recursos disponíveis, a satisfação de necessidades básicas, tanto materiais como imateriais (TIRIBA & ICAZA, 2003, p. 101). Seu objetivo não é a acumulação do capital e, sim, a reprodução da própria vida (TIRIBA, 2001, p.1 09). Tendo os trabalhadores a posse e/ou a propriedade individual ou associativa dos meios de produção, ao invés do emprego da força de trabalho alheio, o principia e a utilização da própria força de trabalho para garantir, não apenas a subsistência imediata, como também para produzir um excedente que possa ser trocado, no mercado da pequena produção mercantil, por valores de uso. 7.6. Relações de consumo - Lei n. 8.078/1990 (Código de Defesa do Consumidor). 7.7. Conceito Doutrinário Segundo Maria A. Zanardo Donato (1993) conceitua a relação de consumo como, “a relação que o direito do consumidor estabelece entre o consumidor e o fornecedor, conferindo ao primeiro um poder e ao segundo um vínculo correspondente, tendo como objeto um produto ou serviço”. Relação de Consumo é a aquela na qual existe um consumidor, um fornecedor e um produto/serviço que ligue um ao outro. É requisito objetivo de existência, de modo que, para haver relação de consumo, necessariamente, deve haver, concomitantemente, os três elementos. 7.8. Legislação A relação de consumo é regulamentada pelo Código de Defesa do Consumidor que no art. 2º e 3º faz a seguinte definição: “Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final. Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo. Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços. § 1° Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial. § 2° Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista.” Feita as distinções e conceito sobre o que vem ser desobediência, economia popular e relação de consumo passaremos a apresentar a incidência da primeira sobre as demais citadas. 8. relação e/ou incidência do crime de desobediência previsto no art. 330 do Código Penal, contra a economia popular, Lei nº 1521/51, bem como sua prática contra as relações de consumo. 8.1. Casos práticos Como visto acima, o delito de desobediência ou resistência passiva é aquela praticada por particular ao deixar de cumprir, ou cumprir, sem ordem legal, sem violência. Com vistas as relações de consumo e economia popular. Citamos alguns casos práticos relacionando a desobediência, ou resistência passiva por descumprimento de ordem expedida, por não entregar no prazo documentos relativos à quebra de sigilo bancário de um empresário investigado pela Polícia Federal. “RECURSO DE REVISTA DO RECLAMADO. DANO MORAL. CARACTERIZAÇÃO. FIXAÇÃO DO MONTANTE INDENIZATÓRIO. O Regional, soberano na análise do conjunto fático-probatório, concluiu que o Autor fez prova dos fatos que deram ensejo à indenização por danos morais. Nesse contexto, não há de se perquirir violação dos art. 818 da CLT e 333 do CPC, já que é impertinente, na hipótese em exame, a discussão acerca da inversão do ônus da prova. Quanto ao valor da indenização, não se verifica a violação do art. 944 do Código Civil. Os arestos apresentados não passam pelo crivo da Súmula n.º 337 do TST. FGTS. DIFERENÇAS DA MULTA DE 40%. EXPURGOS INFLACIONÁRIOS. PRESCRIÇÃO. RESCISÃO CONTRATUAL POSTERIOR À EDIÇÃO DA LEI COMPLEMENTAR N.º 110/2001. NÃO CONHECIMENTO. Tendo havido a rescisão contratual em momento posterior à edição da Lei Complementar n.º 110/2001, o prazo prescricional para se postular eventuais diferenças decorrentes do contrato de trabalho, inclusive quanto às diferenças da multa de 40% do FGTS decorrentes dos expurgos inflacionários, é regulado pelo art. 7.º, XXIX, da Constituição Federal, que fixa o prazo de dois anos após a extinção do vínculo empregatício. DESCONTOS FISCAIS. CRITÉRIO DE APURAÇÃO. MÊS A MÊS. Em face da edição da Medida Provisória n.º 497/2010, convertida na Lei n.º 12.350/2010, e da Instrução Normativa n.º 1.127/2010 da Receita Federal, o imposto de renda será calculado utilizando-se o critério do mês da competência, ou seja, aquele em que o crédito deveria ter sido pago. Precedentes desta Corte no mesmo sentido. Recurso de Revista não conhecido. RECURSO DE REVISTA DO RECLAMANTE. HORAS EXTRAS. CARGO DE CONFIANÇA. GERENTE-GERAL DE AGÊNCIA BANCÁRIA. SÚMULA N.º 287/TST. Consignando os elementos de prova firmados nos autos que o Autorera o gerente-geral da agência bancária, aplicam-se lhe as diretrizes contidas no art. 62, II, da CLT, segundo entendimento firmado pela Súmula n.º 287/TST. Recurso não conhecido.” Em relação à infração criminal de desobediência (art. 330), a lei pode ser aplicada se, por exemplo, um agente público determinar que seja disseminada uma aglomeração em determinado local com a finalidade de evitar a disseminação do vírus (reunião de inúmeras pessoas em local público), quando o indivíduo se recusar a cumprir a ordem legal, sem motivo justificado, atuando de forma consciente e voluntária. Ademais, o tipo penal não se configura quando há uma simples ou solicitação ou pedido do funcionário, mas sim, na hipótese de uma ordem legal e individualizada do funcionário público competente, dirigindo-se àquele que tem o dever jurídico de obedecê-la. Crime contra a economia popular Quando o agente provoca o aumento de preço de produto, aproveitando-se do momento de crise demandado extraordinária do produto durante o período de calamidade, visando angariar lucros desproporcionais em detrimento da sociedade e do consumidor, incidirá em crime contra a economia popular. Nesse contexto, vejamos o teor do art. 3º da Lei 1.521/51: Art. 3º, VI. São também crimes desta natureza, “provocar a alta ou baixa de preços de mercadorias, títulos públicos, valores ou salários por meio de notícias falsas, operações fictícias ou qualquer outro artifício.” Exemplo: Na hipótese do empresário que, aproveitando-se da situação de emergência ou calamidade pública, promover o súbito aumento nos preços, sem motivo justificado, atuando de forma consciente e voluntária, provocar aumento de preço mediante o artifício (expediente habilidoso) de que o produto estaria em “falta no mercado”. Crimes contra as relações de consumo Em relação ao delito contra os consumidores, a tipificação prevista no CDC (Código de Defesa do Consumidor- Lei n.º 8.078/90), nos diz: Art. 66. Fazer afirmação falsa ou enganosa, ou omitir informação relevante sobre a natureza, característica, qualidade, quantidade, segurança, desempenho, durabilidade, preço ou garantia de produtos ou serviços: Pena – Detenção de três meses a um ano e multa. § 1º Incorrerá nas mesmas penas quem patrocinar a oferta. § 2º Se o crime é culposo; Pena Detenção de um a seis meses ou multa. Quando o agente faz uma afirmação falsa sobre dados essenciais de produto, poderá responder pelo aludido delito previsto no Código de Defesa do Consumidor. Cite-se o exemplo da venda de álcool em gel a 70%, embora o produto efetivamente contivesse apenas 46%, ofertando-se mercadoria com característica e conteúdo falsos em detrimento da saúde e boa-fé dos consumidores. O fato (objeto de tutela do direito penal) consubstancia-se mediante conduta dolosa, isto é, a vontade livre e consciente do agente de fazer afirmação falsa ou enganosa de produto ou serviço, omitindo informação relevante ou patrocinando oferta de mercadorias com dados inverídicos. Os crimes de falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais, tem previsão legal no artigo 273 do Código Penal, e tem como condutas típicas previstas no caput as de falsificar, corromper, adulterar ou alterar produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais. Este ilícito, tem característica “mista alternativa”, ou seja, a incidência de mais de um núcleo do tipo configura crime único. A ação consuma-se, dentre outras hipóteses, com a comprovação do intuito de promover a falsificação ou adulteração de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais (conduta dolosa, salvo a hipótese de crime culposo previsto no §2º do CP), sendo considerado crime de perigo abstrato, isto é, prescinde da demonstração do efetivo perigo à saúde pública. Em relação ao objeto material, preleciona Cleber Masson: “É o produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais, ou seja, a substância líquida ou sólida voltada à atenuação da dor ou cura dos enfermos, ou ainda a matéria destinada à prevenção dos males que acometem os seres humanos” (MASSON, Cleber. Código Penal Comentado. São Paulo: editora método. 2018, p. 1028). Para fins de comprovação do fato criminoso, exige-se laudo pericial ou outro meio de prova apto a certificar a efetiva adulteração ou falsificação do produto (caput do art. 273 do CP), dispensando-se a perícia, porém, no caso do §1º-B, III e V, haja vista tratar-se de delito formal, que se aperfeiçoa com a simples importação, venda, exposição à venda, depósito, distribuição ou entrega a consumo do produto sem as características de identidade e qualidade admitidas para a sua comercialização, ou de procedência ignorada, conforme se nota da seguinte ementa de decisão oriunda do Superior Tribunal de Justiça: MANUTENÇÃO EM DEPÓSITO DE SUBSTÂNCIAS MEDICAMENTOSAS IMPRÓPRIAS AO CONSUMO. DESNECESSIDADE DE LAUDO PERICIAL PARA COMPROVAÇÃO DA MATERIALIDADE DELITIVA. DELITO FORMAL. MÁCULA INEXISTENTE. É dispensável a confecção de laudo pericial para a comprovação da materialidade do delito previsto no artigo 273, § 1º- B, incisos III e V, do Código Penal, tendo em vista tratar-se de delito formal, que se aperfeiçoa com a simples importação, venda, exposição à venda, depósito, distribuição ou entrega a consumo do produto sem as características de identidade e qualidade admitidas para a sua comercialização, ou de procedência ignorada. Precedente (STJ, 5ª Turma, HC 356047/SP, Rel.Jorge Mussi, Dje 05/12/2018) A principal distinção em relação à infração criminal prevista no artigo 66 do Código de Defesa do Consumidor (CDC) está adstrita ao fato de que nesta hipótese o produto em si não é falso, consumando-se mediante declarações falsas sobre a natureza, quantidade e qualidade do álcool em gel, enquanto o crime do art. 273 do Código Penal (CP) imprescinde (necessita) de comprovação da respectiva falsificação, corrupção, adulteração ou alteração do produto. É válido ressaltar que o Superior Tribunal de Justiça (STJ) reconheceu a inconstitucionalidade na aplicação do preceito secundário previsto no artigo §1º-B do artigo 273 ( pena de 10 a 15 anos de reclusão, e multa), em razão da violação ao princípio da proporcionalidade, haja vista a equiparação desproporcional e irrazoável na aplicação de elevadas penas para o agente responsável pela falsificação do produto e aquele identificado como o autor da comercialização de determinado bem de origem ignorada ou o responsável pela importação de medicamentos sem registro, tendo, “por ajuste principiológico”, fixado a orientação de aplicação da sanção cominada ao delito de tráfico de entorpecentes (05 a 15 anos de reclusão, além de multa), estando a discussão pendente de definição no Supremo Tribunal Federal (repercussão geral reconhecida no recurso extraordinário (RE) 979962). Em tela respectiva ementa da decisão oriunda do Tribunal da cidadania sobre o tema: INCONSTITUCIONALIDADE DO PRECEITO SECUNDÁRIO DO ARTIGO 273, § 1ºB, DO CÓDIGO PENAL. APLICAÇÃO ANALÓGICA DA PENA DO DELITO DE TRÁFICO DE DROGAS. POSSIBILIDADE DE INCIDÊNCIA DA CAUSA DE DIMINUIÇÃO PREVISTA NO §4º DO ARTIGO 33 DA LEI 11.343/2006. 1. A Corte Especial deste Superior Tribunal de Justiça, no julgamento da Arguição de Inconstitucionalidade no Habeas Corpus n. 239.363/PR, declarou a inconstitucionalidade do preceito secundário do artigo 273, § 1º-B, do Código Penal, autorizando a aplicação analógica das penas previstas para o crime de tráfico de drogas. 2. Analisando o referido julgado, esta colenda Quinta Turma firmou o entendimento de que, diante da ausência de ressalva em sentido contrário, é possível a aplicação da causa de diminuição prevista no § 4º do artigo 33 da Lei 11.343/2006 no cálculo da pena dos condenados pelo delito previsto no artigo 273, § 1º-B, do Estatuto Repressivo. Precedentes. (STJ, 5ª Turma, HC 488299/PR, Rel.Jorge Mussi, DJe 28/03/2019) De outra parte, impende registrarque a ANVISA considera o álcool em gel a 70% como medicamento antisséptico, devendo ser produzido conforme as boas práticas de fabricação de medicamentos, cujos critérios de elaboração são mais rigorosos dos exigidos para a produção de cosméticos (http://portal.anvisa.gov.br/anvisa- esclarece? Acesso em 25 de março 2020). Além disso, a Secretaria de Saúde do Estado do Paraná, por intermédio de nota técnica, manifestou-se no sentido de que o álcool etílico em gel na condição de medicamento deve conter em seu rótulo a especificação mínima de 70% (setenta por cento) na sua composição (http://www.saude.pr.gov.br/arquivos/File/NotaTecnicaAlcoolGelcompleto.pdf. Acesso em 25 de março 2020). Portanto, o sujeito ativo da ilicitude criminal poderá ser preso em flagrante e responder criminalmente pelo delito sub examine, se for flagrado comercializando produto falsificado com a suposta “roupagem” de álcool em gel para prevenção e/ou eliminação de vírus, a exemplo da Covid-19. SEGUNDA AVALIAÇÃO. VALOR: ATÉ 3,0 PONTOS. DATA DE ENTREGA: 20/10/2022. TRABALHO EM GRUPO (CINCO PARTICIPANTES). ENUNCIADO: Dos crimes contra a saúde pública (arts. 267 a 285 do Código Penal). O trabalho deverá abordar os principais aspectos dos delitos, ressaltando, entre outros elementos, os sujeitos do crime, especificidades da conduta, elemento subjetivo ou voluntariedade, consumação, tentativa, qualificadoras, majorantes, principais entendimentos jurisprudenciais e pena aplicável. Em complemento, o trabalho avaliativo em tela deverá apresentar quais delitos estão relacionados ou possuem aplicabilidade à pandemia de covid19, isto é, considerando que a Lei n.º 13.979, de 6 de fevereiro de 2020, a qual foi regulamentada pela Portaria n. 356, de 11 de março de 2020, do Ministério da Saúde, introduziu um rol de medidas a serem implementadas para o enfrentamento da situação emergencial de saúde pública causada pela pandemia, dentre as quais destacamos o isolamento e a quarentena e que a Portaria interministerial n° 05 de 2020 (Ministro da Justiça e Ministro da Saúde), dispôs que dispôs que a autoridade policial poderá lavrar termo circunstanciado em detrimento daquele que for flagrado praticando crimes contra a saúde pública, o trabalho deverá apresentar de forma minuciosa quais crimes em questão poderiam ter aplicabilidade em caso de descumprimento da legislação sanitária emergencial, apresentando, para cada hipótese, um caso concreto, que poderá ser colhido da jurisprudência ou da imprensa (pesquisado) ou ainda criado pelo grupo (construído fictamente). Finalmente, o trabalho deverá apresentar a relação e/ou incidência dos crimes de desobediência (art. 330), contra a economia popular (Lei 1521/51), e contra as relações de consumo. O trabalho deverá ser realizado em grupos de cinco alunos, em documento digitado que deverá ser enviado uma única vez dentro do prazo estabelecido para a entrega, com o nome e matrícula de todos os participantes.
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