Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
FUNDAÇÃO EDUCACIONAL UNIFICADA CAMPOGRANDENSE – FEUC FACULDADES INTEGRADAS CAMPO-GRANDENSES – FIC LETRAS – PORTUGUÊS/ INGLÊS GABRIELLI GONZATTI NOGUEIRA VARIAÇÃO LINGUÍSTICA NO AMBIENTE ESCOLAR: UMA REFLEXÃO ACERCA DO PAPEL DO PROFESSOR DE LÍNGUA PORTUGUESA RIO DE JANEIRO 2022 GABRIELLI GONZATTI NOGUEIRA VARIAÇÃO LINGUÍSTICA NO AMBIENTE ESCOLAR: UMA REFLEXÃO ACERCA DO PAPEL DO PROFESSOR DE LÍNGUA PORTUGUESA Trabalho de Conclusão de Curso submetido ao corpo docente do curso de Licenciatura Plena em Letras (Português e Inglês) das Faculdades Integradas Campo-grandenses (FIC), mantidas pela Fundação Educacional Unificada Campograndense (FEUC). A fim de se obter o grau de Licenciada em Letras Português e Inglês. Orientadora: Prof. Me. Monique Siqueira de Andrade RIO DE JANEIRO 2022 VARIAÇÃO LINGUÍSTICA NO AMBIENTE ESCOLAR: UMA REFLEXÃO ACERCA DO PAPEL DO PROFESSOR DE LÍNGUA PORTUGUESA Gabrielli Gonzatti Nogueira Fundação Educacional Unificada Campograndense E-mail: gabi.gonzatti@icloud.com Monique Siqueira de Andrade Fundação Educacional Unificada Campograndense E-mail: monique.andrade@feuc.edu.br Resumo: Este trabalho consiste em uma revisão bibliográfica a respeito da variação linguística presente na língua e suas contribuições para o ensino de Língua Portuguesa. Foram analisados livros de teóricos acerca do tema e artigos científicos, bem como a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Através da pesquisa conclui- se que o papel do docente é esclarecer quanto as variantes existentes e a importância dessas diferenças linguísticas. Palavras-chave: Variação Linguística. Língua Portuguesa. Sala de aula. Abstract: This study consists in a bibliographical review about the linguistic variation presents in the language and the contributions of teaching Portuguese. Books and scientific articles were analyzed, as well as the National Common Curricular Base (BNCC). Through the research it is concluded that the teacher’s role is to clarify the existing variants and the importance of these linguistic differences. Keywords: Linguistic Variation. Portuguese Language. Classroom. SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 5 2. A SOCIOLINGUÍSTICA ........................................................................................ 6 3. VARIAÇÃO LINGUÍSTICA .................................................................................... 6 3.1 A VARIAÇÃO LINGUÍSTICA NA ESCOLA............................................................ 9 4. O PAPEL DO PROFESSOR DE LÍNGUA PORTUGUESA ................................ 10 4.1 O ENSINO DAS VARIAÇÕES LINGUÍSTICA NAS AULAS DE LÍNGUA PORTUGUESA SEGUNDO A BNCC ........................................................................ 12 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 21 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA: .............................................................................. 22 5 1. INTRODUÇÃO O tema deste artigo trata acerca da variação linguística e o papel do professor de Língua Portuguesa, buscando esclarecer os tipos de variações existentes nos diferentes níveis da Língua, além de refletir sobre como se dá o trabalho dessas variantes em sala de aula, tomando a Base Nacional Comum Curricular como referência. O objetivo principal da pesquisa é alcançar o entendimento a respeito do ensino de variação linguística nas escolas e, principalmente, nas aulas de Língua Portuguesa, além de conscientizar novas gerações quanto ao preconceito linguístico tão presente na sociedade. O tema foi escolhido a partir de uma reflexão no que diz respeito ao sentimento de superioridade de pessoas letradas (que dominam a norma-culta da língua) sobre as não letradas (que não dominam a norma-culta da língua), impossibilitando a esse grupo desfavorecido, a inserção no mercado de trabalho e a exclusão social. A fundamentação teórica da pesquisa é baseada nas obras de teóricos como Marcos Bagno (2007), Carlos Cagliari (2009), Mário Eduardo Martelotta (2008), José Luiz Fiorin (2021), na Base Nacional Comum Curricular (2017) do Ensino Fundamental – anos finais e Ensino Médio, visando auxiliar na compreensão da importância do ensino das variações linguística logo nos anos iniciais da vida escolar. O artigo foi dividido em três capítulos, sem incluir a introdução e as considerações finais. O primeiro se refere à sociolinguística e a sua importância para as definições sobre língua e sociedade que temos atualmente. O segundo capítulo é responsável por esclarecer o que é a variação linguística e seus tipos; ainda nesse capítulo, é exposto como a variação se apresenta dentro do ambiente escolar. Já o terceiro capítulo é apresentado a respeito do papel do professor e do ensino das variantes, fazendo uma análise de acordo com o documento da BNCC. A pesquisa é relevante pois poderá servir como contribuição para a formação de novos docentes, que ao deparar-se com o ensino dessas variantes, possam compreender importância dessas diferenças linguísticas e que a língua vive em constante mudança. Sendo assim, BAGNO (2009, p. 142), explica que é preciso “conscientizar-se de que toda língua muda e varia. O que hoje é visto como “certo” já foi “erro” no passado. O que hoje é considerado “erro” pode vir a ser perfeitamente aceito como “certo” no futuro da língua.” 6 2. A SOCIOLINGUÍSTICA A sociolinguística é a área da linguística que estuda a relação entre a língua e a sociedade, em seu contexto real de uso. No entanto, vale salientar que desde o início do século XX, Saussure definiu a língua como um fato social, contudo somente com “o desenvolvimento da sociolinguística, as relações entre a língua e a sociedade passaram a ser caracterizadas com maior precisão.” (CUNHA E CINTRA, 2001, p. 02) MARTELOTTA (2008, p.141) afirma que o objetivo de pesquisa da sociolinguística é entender quais são os principais fatores que motivam a variação linguística, e a importância de cada um. Atualmente, quando se fala em variação, é comum fazer referência à sociolinguística, essa área da ciência da linguagem que procura, basicamente, verificar de que modo fatores de natureza linguística e extralinguística estão correlacionados ao uso de variantes nos diferentes níveis da gramática de uma língua - a fonética, a morfologia e a sintaxe - e também no seu léxico. (FIORIN, 2021, p.125) Essa ciência trata de esclarecer como a heterogeneidade da língua se constitui. Com isso, ela estuda a língua em seu uso real, considerando-a como fato social pertencente a todos os seres humano de um determinado grupo de falantes. Por considerar a língua viva, julga-se que ela pode ser transformada de acordo com o meio. [...] nessa corrente, a língua é uma instituição social e, portanto, não pode ser estudada como uma estrutura autônoma, independente do contexto situacional, da cultura e da história das pessoas que a utilizam como meio de comunicação. (MARTELOTTA, 2008, p.141) Nessa perspectiva, através dos estudos sociolinguísticos, conclui-se que cada usuário utiliza a língua para se expressar de uma forma, em um determinado contexto ou situação, e que sem isso, não haveria interação social, sendo assim, entende-se a necessidade de analisar o vínculo entre a sociedade e a língua. 3. VARIAÇÃO LINGUÍSTICA Sabe-se que a Língua não é estática, ela evolui de acordo com a sociedade e adquire peculiaridades em função do seu uso por determinados grupos sociais. A variação linguística está diretamente ligada com os diferentes usos de uma língua em determinadoscontextos e situações; a variabilidade e a diversidade são características que estão inseridas no sistema linguístico. [...]no Brasil, embora a língua falada pela grande maioria da população seja o português, esse português apresenta um alto grau de diversidade e de variabilidade, não só por causa da grande extensão territorial do país — que 7 gera as diferenças regionais, bastante conhecidas e também vítimas, algumas delas, de muito preconceito —, mas principalmente por causa da trágica injustiça social que faz do Brasil o segundo país com a pior distribuição de renda em todo o mundo. (BAGNO, 2007, p.15) Para FIORIN (2021) é possível que haja problemas durante a comunicação entre falantes de regiões diferentes, principalmente quando diz respeito ao léxico ou ao vocábulo; para exemplificar, o autor utiliza a palavra “jerimum”, muito usada na Bahia. Pode ser que um falante não saiba o significado e que corresponde a “abóbora”, palavra comumente usada nas regiões sul e sudeste do país. O que importa inicialmente, no estudo da variação Linguística é que ambos os vocábulos podem ser usados para fazer referência a um determinado fruto, de uma determinada planta, que tem um determinado tamanho, uma determinada cor, enfim, um conjunto de características que não permite que ele seja chamado "tomate", por exemplo. Além disso, ainda que o falante possa não saber o significado de um vocábulo ou de outro, ao ouvi-lo pela primeira vez, ele não questiona o fato de que ambos são palavras do português, pois reconhece os sons que participam de sua constituição e também reconhece o seu padrão silábico. (FIORIN, 2021, p.122) Ainda para o autor, existem as variações em níveis fonéticos, ele relembra a diferença que distingue os falantes cariocas dos falantes paulistanos: [...] podemos lembrar a clara diferença que distingue falantes cariocas de paulistanos: o modo como eles pronunciam o -r em final de sílaba. Paulistanos tendem a pronunciar tal -r como uma vibrante simples - um "fIap", como costumam dizer os foneticistas -, enquanto os cariocas são conhecidos por aspirar o mesmo -r. (FIORIN, 2021, p.122) FIORIN (2021) também aborda a respeito das variações morfológicas, quando analisa-se o –r encontrado ao final dos verbos no infinitivo, como o verbo “andar” (forma verbal no infinitivo), e “anda” (verbo conjugado em 3º pessoa do singular no presente do indicativo), compreende –se de que esse tipo de variação não ocorre por conta da região do país, mas sim por conta da informalidade da situação, considerando que os falantes nativos costumam omitir partes das palavras em situações mais informais como conversas em bares, estádios, entre amigos, etc. Ainda, esse tipo de variação ocorre em questões de níveis socioeconômicos, pois quanto maior seu nível de escolaridade maior o uso da variante –r em verbos no infinitivo. Se estabelecemos a hipótese de que o falante nativo de PB ‘apaga’ partes de palavras quando está numa situação de bastante informalidade (como numa conversa de bar, falando sobre futebol), diferentemente do que muito provavelmente faria numa situação de maior formalidade (como numa apresentação de um projeto, diante de uma plateia), temos um caso de variação diafásica. (FIORIN, 2021, p. 123) Sobre as variações sintáticas na perspectiva de FIORIN (2021), observa-se as seguintes frases (1) “Olha, eu não vou sair agora...” (2) “Olha, eu não vou sair agora 8 não”. Para FIORIN (2021, p. 124) “observando essas duas frases, que em PB é indiferente colocar o advérbio de negação antes da forma verbal ou colocá-lo antes dela e repeti-lo no final da frase”. Contudo, é inegável que a segunda frase é mais enfática que a primeira, e que seu uso acaba sendo mais restrito a determinados contextos, sabe-se que não é adequado falar dessa maneira em um contexto que requer mais formalidade. MARTELOTTA (2008) fala a respeito das variantes de número: [...] As pessoas analfabetas têm tendência a marcar o número plural apenas no primeiro elemento do sujeito, deixando o substantivo e, sobretudo, o verbo sem marcas. Já as pessoas mais instruídas têm tendência alta de expressar o plural no núcleo dos sujeitos, nos determinantes e no verbo (que, assim, concorda com o sujeito em número e pessoa). (MARTELOTTA, 2008, p.143) Após a sociolinguística demonstrar a sistematização existente no uso das variantes de uma língua, são estabelecidos 4 tipos básicos de variação linguística. [...] as diatópicas, que dizem respeito às variantes regionais do uso da língua; as diastráticas, que concernem às variantes de uso de diferentes grupos sociais de falantes; as diafásicas, que dizem respeito às variantes em situações de uso formal ou informal do discurso; e as diacrônicas, que concernem às diferenças Linguísticas que, em um determinado grupo, aparecem em decorrência da faixa etária dos falantes. As variantes diatópicas são geográficas, as variantes diacrônicas são históricas e as variantes diastráticas e diafásicas, sociais. (FIORIN, 2021, p. 93) As variáveis costumam ser apresentadas de formas independentes, no entanto, no uso real da língua, elas estão interligadas umas nas outras. Assim expõe MARTELOTTA(2008) [...] Assim, uma inovação linguística começa numa determinada região (variável regional), mas é própria de um grupo socioeconômico desfavorecido (variável social). A variante pode passar a ser usada pelo grupo socioeconômico mais alto nos momentos mais informais (a variável, é, então o registro). (MARTELOTTA, 2008, p.145) MARTELOTTA (2008) fala ainda que o contexto situacional é responsável por uma série de variações linguísticas, pois, de acordo com a situação na qual o falante se encontra, ele utiliza meios diferentes de se expressar. Com isso, a linguagem apresenta diferentes léxicos, fonemas, morfemas, sintaxe, etc.; devido ao contexto ou ao meio pelo qual a mensagem está sendo transmitida. Ainda para o autor, “cada pessoa tem um enorme repertório linguístico que a torna capaz de adaptar sua linguagem às diferentes situações vividas” (MARTELOTTA, 2008, p.146). Isso se dá devido ao uso das variantes nos diferentes níveis de uma língua. Sendo assim, através dos estudos sociolinguísticos é possível verificar que os falantes de uma mesma língua apresentam diferentes modos de fala, 9 considerando o lugar que estão (variação diatópica), a situação do falante (variação diafásica), e ainda com o nível socioeconômico (variação diastrática). 3.1 A VARIAÇÃO LINGUÍSTICA NA ESCOLA Não existe nenhuma língua viva que seja imutável. Todas elas vivem em constante mudanças, onde seus falantes adquirem características especificas de seus grupos sociais e com isso novas formas de comunicação vão surgindo. Apesar disso, o ensino de variação linguística no ambiente escolar tem suas resistências a respeito da importância desse assunto, uma vez que a sociedade prioriza a norma culta da língua portuguesa como única variante aceitável do uso da língua. Para MARTELOTTA (2008, p.145), “a variante padrão é ensinada na escola e valorizada pelos membros da sociedade [...]”. “[...] a escola tenta impor sua norma linguística como se ela fosse, de fato, a língua comum a todos os 160 milhões de brasileiros, independentemente de sua idade, de sua origem geográfica, de sua situação socioeconômica, de seu grau de escolarização etc.” (BAGNO, 2007, p. 14) O meio escolar, ao impor a norma culta da língua, exclui todas as diferenças linguísticas existentes, além de assumir um comportamento preconceituoso, pois vê essas diferenças como marcas de prestígios ou estigmas, havendo assim uma segregação, onde aquele aluno que tem uma boa oratória e domina a norma culta da língua é considerado inteligente e aquele que tem um dialeto mais estigmatizado é visto como ignorante. A variação, hoje, não é vista como um fato linguístico, e por isso ainda há essa exigênciada forma culta da língua. No entanto, há muitos professores bem informados quanto ao assunto, que buscam trazer esse tema para a sala de aula, mostrando a seus discentes que há diferentes dialetos e a importância deles, seus contextos de uso e, sobretudo, como a sociedade enxerga essas variações. Para a escola aceitar a variação linguística como um fato linguístico, precisa mudar toda a sua visão de valores educacionais. Enquanto isso não acontece, os professores mais bem esclarecidos deveriam pelo menos discutir o problema da variação linguística com seus alunos e mostrar-lhes como os dialetos são, porque são diferentes, o que isso representa em termos das estruturas linguísticas das línguas e, sobretudo como a sociedade encara a variação linguística, seus preconceitos e a consequência disso na vida de cada um. (CAGLIARI, 2009, p. 71) Trabalhar com as variações implica principalmente nas questões de “certo” e “errado”. No nível da língua escrita, há uma confusão entre português e ortografia oficial da língua portuguesa. Já no nível da língua falada, esses termos se confundem, 10 pois “ninguém comete erros ao falar a própria língua materna” (BAGNO, 2007, p.123). No que diz respeito a variação linguística no ambiente escolar, é inegável que existe um tabu referente a esse tema, pois há um pensamento enraizado que ensinar as inúmeras variantes, significa que o aluno sairá falando/ escrevendo de forma “errada”. Isso se dá justamente pelo preconceito que existe na sociedade, onde a norma culta é a única variante aceitável da língua portuguesa. Ensinar variação na escola é, acima de tudo, conscientizar os alunos sobre as diferenças linguísticas existentes, mas também ensinar a respeito da adequação do seu discurso, considerando também, a quem está se dirigindo. Assim como BAGNO (2007, p.129) expõe “usar a língua, tanto na modalidade oral como na escrita, é encontrar o ponto de equilíbrio entre dois eixos: o da adequabilidade e o da aceitabilidade. ” A escola deve proporcionar que o aluno seja “poliglota no seu próprio idioma1”, garantindo que o discente saia da escola sabendo usar a língua em todos os contextos de fala, e não somente a forma culta. É, sobretudo, explicar que não existe falar “certo”, mas sim inúmeras situações que demandarão determinadas adequações. Segundo CAGLIARI (2009, p.72) “para o aluno, o respeito as variedades linguísticas muita das vezes significa a compreensão do seu mundo e dos outros.” As variações são a assimilação com o mundo ao qual ele pertence, e a escola não deve apontá-los como “certo” ou “errado”, visto que aquele dialeto foi adquirido no meio onde vive, pois além de desprezar o conhecimento que o aluno já possui, fortalece o preconceito que está enraizado na sociedade e na escola. 4. O PAPEL DO PROFESSOR DE LÍNGUA PORTUGUESA Ensinar a língua portuguesa vai muito além de um monte de regras e suas aplicabilidades, vai além da gramática normativa, ensinar a língua é desenvolver a oralidade e o domínio da escrita, é mostrar como a língua funciona em diferentes situações do cotidiano. “O professor de língua portuguesa deve ensinar aos alunos o que é uma língua, quais as propriedades e usos que ela realmente tem, qual é o comportamento da sociedade e dos indivíduos com relação aos usos linguísticos, nas mais variadas situações de sua vida.” (CAGLIARI, 2009, p.24) 1 Termo de Evanildo Bechara 11 BAGNO (2007, p. 118) critica os métodos tradicionais da língua portuguesa, “o ensino da gramática normativa mais estrita, a obsessão terminológica, a paranoia classificatória, o apego a nomenclatura – nada disso serve para formar um bom usuário da língua em sua modalidade culta.” O autor defende que os professores devem conhecer profundamente a estrutura da língua, porque eles são os especialistas, mas não os alunos, esses são usuários da língua, e o papel do professor é formar alunos com capacidade sociocomunicativa bem desenvolvida. Durante todo o período escolar, as aulas de língua portuguesa são marcadas por inúmeros exercícios, na maioria das vezes, desatualizados acerca de diferentes assuntos gramaticais, os chamados exercícios de repetição, condicionando-os. Contudo, o que ocorre, é que esse aluno não consegue aplicar o que aprendeu na prática, seus exercícios estão corretos, na hora da avaliação, que é feita através de provas e que seguem os mesmos modelos dos exercícios, esse aluno tira uma boa nota para passar; no entanto não consegue aplicar esse conhecimento na prática. NASPOLINI (2009, p. 145) critica “ao entrar na escola, salvo as exceções, a criança é inundada com exercícios descontextualizados sobre diferentes assuntos gramaticais, muitos dos quais já utiliza espontaneamente de forma adequada.” Embora, haja inúmeras críticas a respeito dessa prática pedagógica, não significa que seja necessário eliminar o ensino das regras gramaticais, pois fazem parte do raciocínio lógico- matemático linguístico do ser humano, entretanto, sabe-se que o conhecimento é construído através da compreensão de uso. Há críticas referentes a maioria dos professores de língua materna ao receberem um texto, costumam, logo de cara, ir atrás de erros ortográficos, excluindo todo o processo que o aluno teve durante a produção daquele texto, e é basicamente isso que se trata o ensino de língua portuguesa. Não é sobre saber a língua e sim saber ortografia. BAGNO (2007, p. 122) afirma que “a ortografia oficial é fruto de um decreto, de um ato institucional por parte do governo, e fica muita das vezes sujeita aos gostos pessoais ou às interpretações dos fenômenos linguísticos por parte dos filólogos que ajudam a estabelecê-la.” Por conta desse fato, a ortografia correta de ESTRANHO e ESTRANGEIRO é com ‘S’, apesar de serem palavras formadas através do prefixo EXTRA-, por isso o adjetivo EXTENSO e o substantivo EXTENSÃO são escritos com X, embora o verbo ESTENDER se escreve com S. BAGNO (2007, p. 131) ainda critica “se os legisladores 12 da língua podem ser tão incoerentes no momento de definir a ortografia oficial, não há por que estranhar (ou extranhar) que as pessoas em geral também se confundam. ” Com isso, o papel do professor é entender o processo de construção pessoal do aluno e não somente centralizar a atenção nas questões de ortografia, é fazer com que o discente compreenda que ele é “capaz de escrever qualquer coisa, mas também o de que há somente uma forma ortográfica: se ele não souber, deverá procurar saber para não errar.” (CAGLIARI,2009, p.28) BAGNO (2007, p.129) expõe “Uma das principais tarefas do professor de língua é conscientizar seu aluno de que a língua é como um grande guarda-roupa, onde é possível encontrar todo tipo de vestimenta.” Ou seja, o principal papel do professor de línguas é instruir quanto ao uso da língua nos mais diversos contextos de uso, contudo sem descartar a norma-padrão, mas também não se agarrar somente a ela. 4.1 O ENSINO DAS VARIAÇÕES LINGUÍSTICA NAS AULAS DE LÍNGUA PORTUGUESA SEGUNDO A BNCC A Base Nacional Comum Curricular trata-se de um documento que visa unificar o sistema de ensino brasileiro. Feito para as redes de ensino, públicas ou privadas, reúne conteúdos, competências e habilidades, que devem ser trabalhados e que se espera que todos os estudantes desenvolvam durante todo período escolar. No tocante ao componente de língua portuguesa, mais especificamente nos anos finais do ensino fundamental e no ensino médio, o documento tem como proposta a descentralização do ensino de gramática normativa na escola. É uma tentativa de que o aluno, enquanto usuário da língua, tenha habilidades e competências para considerar quanto ao uso linguístico para além das regras. Os conhecimentos sobre a língua, as demais semioses e a norma-padrão não devem ser tomados como uma listade conteúdos dissociados das práticas de linguagem, mas como propiciadores de reflexão a respeito do funcionamento da língua no contexto dessas práticas. A seleção de habilidades na BNCC está relacionada com aqueles conhecimentos fundamentais para que o estudante possa apropriar-se do sistema linguístico que organiza o português brasileiro. (BRASIL, pág. 141) As primeiras menções à variação linguística, no Ensino Fundamental, no componente Língua Portuguesa, ocorrem no eixo de produção de textos, eixo da oralidade e no eixo da análise linguística/semiótica. A seguir, será possível observar como a base trata esse conteúdo nos diferentes eixos e práticas de linguagem: Quadro 1 Eixo da Produção de Textos 13 Consideração e reflexão sobre as condições de produção dos textos que regem a circulação de diferentes gêneros nas diferentes mídias e campos de atividade humana Refletir sobre diferentes contextos e situações sociais em que se produzem textos e sobre as diferenças em termos formais, estilísticos e linguísticos que esses contextos determinam, incluindo-se aí a multissemiose e características da conectividade (uso de hipertextos e hiperlinks, dentre outros, presentes nos textos que circulam em contexto digital). Estratégias de produção Desenvolver estratégias de planejamento, revisão, edição, reescrita/redesign e avaliação de textos, considerando-se sua adequação aos contextos em que foram produzidos, ao modo (escrito ou oral; imagem estática ou em movimento etc.), à variedade linguística e/ou semioses apropriadas a esse contexto, os enunciadores envolvidos, o gênero, o suporte, a esfera/ campo de circulação, adequação à norma padrão etc. Fonte: BRASIL (2017, p. 77-78) Quadro 2 Eixo da Oralidade Consideração e reflexão sobre as condições de produção dos textos orais que regem a circulação de diferentes gêneros nas diferentes mídias e campos de atividade humana Refletir sobre diferentes contextos e situações sociais em que se produzem textos orais e sobre as diferenças em termos formais, estilísticos e linguísticos que esses contextos determinam, incluindo-se aí a multimodalidade e a multissemiose. Relação entre fala e escrita • estabelecer relação entre fala e escrita, levando-se em conta o modo como as duas modalidades se articulam em diferentes gêneros e práticas de linguagem (como jornal de TV, programa de rádio, apresentação de seminário, mensagem instantânea etc.), as semelhanças e as diferenças entre modos de falar e de registrar o escrito e os aspectos sociodiscursivos, composicionais e linguísticos de cada modalidade sempre relacionados com os gêneros em questão. • refletir sobre as variedades linguísticas, adequando sua produção a esse contexto Fonte: BRASIL (2017, pág. 79-80) No eixo da Produção de Textos e no eixo da Oralidade, quadro 1 e 2 respectivamente, o objetivo é fazer com que o estudante reflita acerca dos usos da língua em diferentes contextos sociais, as chamadas variações diafásicas, e por 14 consequência, desenvolva a capacidade de adequar seus textos, sejam eles orais ou escritos, aos diferentes contextos de uso. Para BAGNO (2007, p. 97), “falar é construir um texto, num dado momento, num determinado lugar, dentro de um contexto de fala definido, visando um determinado efeito. ” Já a relação entre fala e escrita, no eixo da Oralidade, quadro 2, o intuito é fazer com que o discente note as diferenças e as semelhanças dos gêneros orais e escritos, considerando as práticas de linguagem. Quadro 3 Eixo da análise linguística/semiótica Variação linguística • conhecer algumas das variedades linguísticas do português do Brasil e suas diferenças fonológicas, prosódicas, lexicais e sintáticas, avaliando seus efeitos semânticos. • discutir, no fenômeno da variação linguística, variedades prestigiadas e estigmatizadas e o preconceito linguístico que as cerca, questionando suas bases de maneira crítica. Fonte: BRASIL (2017, pág. 83) Nesse eixo, a BNCC aborda a importância do aluno refletir sobre as variações linguísticas presentes na língua, no quadro acima, é possível observar que uma das habilidades a serem desenvolvidas com os discentes é o de conhecer essas variedades do português brasileiro e suas diferenças presentes em todos os níveis da língua. O outro ponto, trata sobre a necessidade de construir um debate acerca das variações diastráticas, e como muitas das vezes essas diferenças socioeconômicas ocasiona no chamado preconceito linguístico. Cabem também reflexões sobre os fenômenos da mudança linguística e da variação linguística, inerentes a qualquer sistema linguístico, e que podem ser observados em quaisquer níveis de análise. Em especial, as variedades linguísticas devem ser objeto de reflexão e o valor social atribuído às variedades de prestígio e às variedades estigmatizadas, que está relacionado a preconceitos sociais, deve ser tematizado. (BRASIL, 2022, pág. 81) Ao dar sequência à análise do documento, depara-se com a parte relacionada as competências. A BNCC afirma que “o componente curricular de Língua Portuguesa deve garantir aos estudantes o desenvolvimento de competências específicas.” Ao 15 todo são listadas dez competências, as quais três fazem menção à variação linguística, como mostra o quadro abaixo. Quadro 4 Competências específicas de Língua Portuguesa para o Ensino Fundamental 1. Compreender a língua como fenômeno cultural, histórico, social, variável, heterogêneo e sensível aos contextos de uso, reconhecendo-a como meio de construção de identidades de seus usuários e da comunidade a que pertencem; 4. Compreender o fenômeno da variação linguística, demonstrando atitude respeitosa diante de variedades linguísticas e rejeitando preconceitos linguísticos; 5. Empregar, nas interações sociais, a variedade e o estilo de linguagem adequados à situação comunicativa, ao(s) interlocutor(es) e ao gênero do discurso/gênero textual. Fonte: BRASIL (2017, p. 87) Como mencionado anteriormente, existem dez competências que devem ser desenvolvidas com os estudantes ao longo do ensino fundamental, a primeira afirma que se deve compreender a língua como heterogênea, ligada a diversos fenômenos ligados ao seu uso. BAGNO (2007, p.139) afirma que “professor de língua assuma uma posição de cientista e investigador, de produtor de seu próprio conhecimento linguístico teórico e prático, e abandone a velha atitude repetidora e reprodutora [...]”. Dito isso, em seu livro, Preconceito Linguístico, o autor criou uma lista de Dez Cisões para quem deseja ensinar a língua livre dos preconceitos. O sétimo e oitavo item dessa lista explicam a importância de reconhecer essas variações como um meio para a construção de identidade dos seus usuários. 7). Respeitar a variedade linguística de toda e qualquer pessoa, pois isso equivale a respeitar a integridade física e espiritual dessa pessoa como ser humano, porque 8) a língua permeia tudo, ela nos constitui enquanto seres humanos Nós somos a língua que falamos. A língua que falamos molda nosso modo de ver o mundo e nosso modo de ver o mundo molda a língua que falamos. (BAGNO, 2007, p. 143) A quarta competência, reafirma a importância de respeitar as variações presentes na língua. O ensino tradicional é bastante criticado por práticas de ensino excludentes e ultrapassadas, BAGNO critica essas práticas e afirma que promovem o preconceito linguístico tão presente na sociedade. Esse ensino tradicional, como eu já disse, em vez de incentivar o uso das habilidades linguísticas do indivíduo, deixando-o expressar-se livremente para somente depois corrigir sua fala ou sua escrita, age exatamente ao contrário: interrompe o fluxo natural da expressão e da comunicação com a atitude corretiva (e muitas vezes punitiva), cuja consequência inevitável é a criação de um sentimento de incapacidade,de incompetência. (BAGNO, 2007, p. 106-107) A competência 5, no tocante a adequação linguística às inúmeras situações do cotidiano, BAGNO (2007, p. 129) afirma que é necessário “encontrar o ponto de equilíbrio entre dois eixos: o da adequabilidade e o da aceitabilidade.” 16 Na seção Língua Portuguesa no Ensino Fundamental – anos finais, o tema Variação Linguística aparece como objeto de conhecimento do 6º ao 9º ano. Quadro 5 Fonte: BRASIL (2017, p.160-161) No quadro 5, a primeira habilidade (EF69LP55) trata-se do reconhecimento do enorme repertório linguístico que cada indivíduo tem. CAGLIARI (2009, p.66) declara “todo mundo sabe que há modos diferentes de se falar uma língua[...]”. Mas também, trata acerca do reconhecimento da norma-padrão e o de preconceito linguístico. A habilidade (EF69LP56) refere-se ao uso consciente da norma-padrão nos níveis da fala e da escrita. “O professor de língua portuguesa deve ensinar aos alunos o que é uma língua, quais as propriedadeseees e usos que ela realmente tem, qual é o comportamento da sociedade e dos indivíduos com relação aos usos linguísticos, nas mais variadas situações de sua vida.” CAGLIARI (2009, p.24) Como foi visto, o quadro 5, tratou de forma mais ampla as habilidades que devem ser desenvolvidas e trabalhadas nos anos finais do ensino fundamental. Contudo, dando sequência no documento, a BNCC busca de forma mais específica, trabalhar os anos finais do ensino fundamental da seguinte maneira. Dividiu-se em quadro do 6º e 7º ano e quadro do 8º e 9º ano. No entanto, a variação linguística só aparece no 8º e 9º ano, entretanto, com habilidade somente para o último ano do ensino fundamental, como poderá ser observado no quadro abaixo: Quadro 6 LINGUA PORTUGUESA - 8º E 9º ANOS LÍNGUA PORTUGUESA - 6º AO 9º ANO PRÁTICAS DE LINGUAGEM OBJETOS DE CONHECIMENTO HABILIDADES TODOS OS CAMPOS DE ATUAÇÃO Análise linguística/semiótica Variação linguística (EF69LP55) reconhecer as variedades da língua falada, o conceito de norma-padrão e o de preconceito linguístico. (EF69LP56) fazer uso consciente e reflexivo de regras e normas da norma- padrão em situações de fala e escrita nas quais ele deve ser usada. 17 PRÁTICAS DE LINGUAGENS OBJETOS DE CONHECIMENTO HABILIDADES 8º ANO 9º ANO TODOS OS CAMPOS DE ATUAÇÃO Análise linguística/semiótica Variação linguística (EF09LP12) identificar estrangeirismos, caracterizando-os segundo a conservação, ou não, de sua forma gráfica de origem, avaliando a pertinência, ou não, de seu uso. Fonte: BRASIL (2017, p.190-191) A habilidade (EF09LP12) se refere ao uso de estrangeirismo, muito presente no linguajar dos jovens nos dias de hoje. A inserção dessas palavras estrangeiras se dá por conta da globalização, do aumento da tecnologia e da cultura dos jogos digitais. Isso ocorre devido ao processo natural de evolução da língua como assim explica Cagliari. O português, como qualquer língua, é um fenômeno dinâmico, não estático, isto é, evolui, com o passar do tempo. Pelos usos diferentes no tempo e nos mais diversos agrupamentos sociais, as línguas passam a existir como um conjunto de falares diferentes ou dialetos, todos muito semelhantes entre si, mas cada qual apresentando suas peculiaridades com relação a alguns aspectos linguísticos. CAGLIARI (2009, p. 31) Nesse momento, o presente texto analisará a parte do Ensino Médio e como a variação linguística é vista nesses últimos anos da vida escolar. Segundo a Base, essa etapa deve “garantir a consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos adquiridos no Ensino Fundamental é essencial nessa etapa final da Educação Básica.” (BRASIL, 2017, p.464) Nessa parte do documento, o componente de Língua Portuguesa está inserido, na área voltada para as Linguagens e suas Tecnologias, seção 5.1.1. Linguagem e suas Tecnologias no Ensino Médio: competências específicas e habilidades. A parte voltada à variação linguística é a competência específica 4. Compreender as línguas como fenômeno (geo)político, histórico, cultural, social, variável, heterogêneo e sensível aos contextos de uso, reconhecendo suas variedades e vivenciando-as como formas de expressões identitárias, pessoais e coletivas, bem como agindo no enfrentamento de preconceitos de qualquer natureza. BRASIL (2017, p.490) 18 Para a BNCC, o objetivo dessa competência é que o estudante, ao chegar a etapa final da sua vida escolar, seja capaz de compreender as línguas e o funcionamento dela, seja como fenômeno heterogêneo, respeitando a variação e a diversidade presente no sistema linguístico. A base também aborda a respeito da adequação da linguagem Ela também diz respeito à utilização das línguas de maneira adequada à situação de produção dos discursos, considerando a variedade e o registro, os campos de atuação social, e os contextos e interlocutores específicos, por meio de processos de estilização, seleção e organização dos recursos linguísticos. BRASIL (2017, p.494) O quadro a seguir apresenta as habilidades, referentes a competência especifica 4, que devem ser desenvolvidas nessa etapa do Ensino Médio acerca das variações linguísticas, objeto de estudo. Quadro 7 Habilidades (EM13LGG401) Analisar criticamente textos de modo a compreender e caracterizar as línguas como fenômeno (geo)político, histórico, social, cultural, variável, heterogêneo e sensível aos contextos de uso. (EM13LGG402) Empregar, nas interações sociais, a variedade e o estilo de língua adequados à situação comunicativa, ao(s) interlocutor(es) e ao gênero do discurso, respeitando os usos das línguas por esse(s) interlocutor(es) e sem preconceito linguístico. Fonte: BRASIL (2017, P.494) A habilidade (EM13LGG401) visa desenvolver nos alunos a análise crítica dos textos, e através disso compreender a língua como um fenômeno heterogêneo que sofre interferência de fatores como os sociais, culturais, históricos e que são favoráveis aos contextos de uso. BAGNO (2007, p.17) explica “o fato de no Brasil o português ser a língua da imensa maioria da população não implica, automaticamente, que esse português seja um bloco compacto, coeso e homogêneo.” Já a habilidade (EM13LGG402) diz respeito ao emprego das variantes durante as interações sociais respeitando os usos das línguas. BAGNO (2007, p. 50) afirma que é necessário “respeitar igualmente todas as variedades da língua, que constituem um tesouro precioso de nossa cultura. ” Em seguida, na seção 5.1.2 Língua portuguesa, o documento explica que os alunos já têm uma bagagem vinda do Ensino Fundamental e já são capazes “de participar diversas práticas sociais que envolvem a linguagem” BRASIL (2017, p.498). Vale ressaltar que as habilidades agora estão inseridas nos campos de atuação social, 19 que são o campo da vida pessoal, o campo artístico literário, campo das práticas de estudo e pesquisa, o campo jornalístico-midiático e o campo de atuação da vida pública. As habilidades de Língua Portuguesa estão organizadas nesses cinco campos de atuação social. Além disso, ainda que uma mesma habilidade possa estar a serviço de mais de uma competência específica da área de Linguagens e suas Tecnologias, indica(m)-se aquela(s) com a(s) qual(is) cada habilidade tem maior afinidade. (BRASIL, 2017, p.504) Em seguida, na seção 5.1.2.1 Língua Portuguesa no Ensino Médio: Campos de atuação social, competências específicas e habilidades. Como mostra o quadro abaixo, observa-se que somente três habilidades dizem respeito à variação linguística e estão associados à competência específica 4. Quadro 8 TODOS OS CAMPOS DE ATUAÇÃO SOCIAL PRÁTICAS Leitura, escuta, produção de textos (orais, escritos, multissemióticos) e análise linguística/semiótica Habilidades Competência específica (EM13LP09) Comparar o tratamento dado pela gramática tradicional e pelas gramáticasde uso contemporâneas em relação a diferentes tópicos gramaticais, de forma a perceber as diferenças de abordagem e o fenômeno da variação linguística e analisar motivações que levam ao predomínio do ensino da norma-padrão na escola. 4 - Compreender as línguas como fenômeno (geo)político, histórico, cultural, social, variável, heterogêneo e sensível aos contextos de uso, reconhecendo suas variedades e vivenciando- as como formas de expressões identitárias, pessoais e coletivas, bem como agindo no enfrentamento de preconceitos de qualquer natureza. (EM13LP10) Analisar o fenômeno da variação linguística, em seus diferentes níveis (variações fonético-fonológica, lexical, sintática, semântica e estilístico-pragmática) e em suas diferentes dimensões (regional, histórica, social, situacional, ocupacional, etária etc.), de forma a ampliar a compreensão sobre a natureza viva e dinâmica da língua e sobre o fenômeno da constituição de variedades linguísticas de prestígio e estigmatizadas, e a fundamentar o respeito às variedades linguísticas e o combate a preconceitos linguísticos. 20 (EM13LP16) Produzir e analisar textos orais, considerando sua adequação aos contextos de produção, à forma composicional e ao estilo do gênero em questão, à clareza, à progressão temática e à variedade linguística empregada, como também aos elementos relacionados à fala (modulação de voz, entonação, ritmo, altura e intensidade, respiração etc.) e à cinestesia (postura corporal, movimentos e gestualidade significativa, expressão facial, contato de olho com plateia etc.) Fonte: BRASIL (2017, p. 507-509) Na primeira habilidade fala sobre comparar a gramatica tradicional com as gramaticas da contemporaneidade, o objetivo é excluir a concepção de que somente a norma-culta é a forma aceita e correta de falar o Português Brasileiro, e com isso, compreender que as variantes são um fenômeno natural, presente em todas as línguas existentes. CAGLIARI (2009, p.74) explica “todos nós, na verdade, somos de certa forma falantes de mais de um dialeto, os quais usamos de acordo com as circunstâncias.” No tocante da habilidade (EM13LP10) busca desenvolver nos estudantes a habilidade de compreensão e análise sobre o fenômeno da variação linguística em todos os níveis da língua, buscando elevar o entendimento acerca do funcionamento da língua e os fatores extralinguísticos que a cercam. Além de firmar a necessidade do respeito sobre essas variantes. BAGNO (2007, p. 69-70) reitera a necessidade de abordar sobre as variantes de uma língua. “É preciso garantir, sim, a todos os brasileiros o reconhecimento (sem o tradicional julgamento de valor) da variação linguística [...]” Por fim, a habilidade (EM13LP16) expõe a necessidade de trabalhar a produção e a análise de textos orais levando em consideração a adequabilidade, à clareza e a variante empregada, além da cinestesia, como gestos, contato visual, movimentos, entre outros. “Quando falamos (ou escrevemos), tendemos a nos adequar à situação de uso da língua em que nos encontramos: se é uma situação formal, tentaremos usar uma linguagem formal; se é uma situação descontraída, uma linguagem descontraída, e assim por diante.” BAGNO (2007, p. 129) 21 Diante do que foi visto neste capítulo, observou-se que devido as mudanças que a sociedade vem sofrendo, a escola deve-se desprender um pouco do ensino de Língua Portuguesa voltado a norma culta da língua e aceitar as variantes presentes na língua. Bagno aponta que o fracasso escolar se dá “no modo como se ensina português e naquilo que é ensinado sob o rótulo de língua portuguesa.” (BAGNO, 2007, p.107) 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente trabalho permite que o leitor compreenda a respeito da variação linguística e suas particularidades presentes na língua. Além de poder verificar, como se dá o ensino das variantes no ambiente escolar e o papel do professor de língua portuguesa, tomando a Base Nacional Comum Curricular como pilar. Através da pesquisa desse trabalho notou-se que embora a escola reconheça a existência das variantes presentes, ainda sim, o ensino da norma culta é supervalorizado e tratado como única variante aceitável. Com isso, o papel do professor é apontar o funcionamento da língua nas mais diversas situações do cotidiano, pois são veículos de comunicação entre as inúmeras comunidades de falantes. As aulas de língua portuguesa são definidas por exercícios de repetição e descontextualizados, como se dá na metodologia de ensino tradicional, ainda que essa prática não sirva para tornar o aluno um bom usuário da língua, é indispensável a conscientização acerca das variantes existentes, mas também tratar quanto a adequabilidade e aceitabilidade do discurso. A BNCC refere-se a variação linguística a partir das Práticas de Linguagens, eixos de Análise Linguística/semiótica e de Oralidade, no entanto sabe-se que as variantes perpassa todos os eixos, com isso, cabe ao professor a percepção de que o trabalho com as variações, não pode ser limitado a somente dois únicos eixos. Sendo assim, o ensino de língua portuguesa nas escolas deve revolucionar, excluindo a ideia de que só existe uma maneira correta de falar português e proporcionar àquele aluno privado de educação a chance de ter acesso a outra variante, que seria a norma culta. A variação linguística no contexto escolar se dá como um meio de valorizar os diferentes tipos de fala presentes na língua, não somente pelo fato do Brasil ter um extenso território, mas por conta das diferentes culturas, costumes, diferenças sociais. 22 Portanto, rotular a língua como certa ou errada, é fortalecer o preconceito linguístico já existente. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA: CUNHA, Celso Ferreira; CINTRA, Luis Felipe Lindley. Nova Gramática do Português Contemporâneo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001. CAGLIARI, Carlos. Alfabetização e Linguística. São Paulo: Scipione, 2009. FIORIN, José Luiz (Org.). Introdução à linguística: I objetivos teóricos. São Paulo: Contexto, 2021. MARTELOTTA, Mário Eduardo (Org.). Manual de linguística. São Paulo: Contexto, 2008. BAGNO, Marcos. Preconceito Linguístico: o que é, como se faz. São Paulo: Edições Loyola, 2007. KLEINA, Claudio. Metodologia da Pesquisa e do Trabalho Científico. Curitiba, PR: IESDE BRASIL S/A, 2016. NASPOLINI, Ana Tereza. Tijolo por Tijolo- Prática de Ensino de Língua Portuguesa. São Paulo: FTD, 2009. BRASIL, Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular: Educação é a base. Brasília: MEC/Secretária da Educação Básica, 2017. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_sit e.pdf Acesso em: 02/11/2022. CARDOSO, Milena Santos; SEMECHECHEM, Jakeline: A variação linguística na Base Nacional Comum Curricular: por uma pedagogia da variação linguística nos componentes de língua portuguesa do ensino fundamental e médio. Revista Leitura, http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf 23 2020. Disponível em: https://www.seer.ufal.br/index.php/revistaleitura/article/view/10753/7909 Acesso em: 02/11/2022. SOUZA, Francisca Ferreira de: O estudo da variação linguística e suas contribuições para o ensino. CAJAZEIRAS, PB: 2016. Disponível em: http://dspace.sti.ufcg.edu.br:8080/xmlui/bitstream/handle/riufcg/9185/FRANCISCA% 20FERREIRA%20DE%20SOUZA.%20TCC.%20LICENCIATURA%20EM%20LETRA S%20%20L%c3%8dNGUA%20PORTUGUESA.%202016.pdf?sequence=3&isAllowe d=y Acesso em: 04/11/2022. https://www.seer.ufal.br/index.php/revistaleitura/article/view/10753/7909 http://dspace.sti.ufcg.edu.br:8080/xmlui/bitstream/handle/riufcg/9185/FRANCISCA%20FERREIRA%20DE%20SOUZA.%20TCC.%20LICENCIATURA%20EM%20LETRAS%20%20L%c3%8dNGUA%20PORTUGUESA.%202016.pdf?sequence=3&isAllowed=yhttp://dspace.sti.ufcg.edu.br:8080/xmlui/bitstream/handle/riufcg/9185/FRANCISCA%20FERREIRA%20DE%20SOUZA.%20TCC.%20LICENCIATURA%20EM%20LETRAS%20%20L%c3%8dNGUA%20PORTUGUESA.%202016.pdf?sequence=3&isAllowed=y http://dspace.sti.ufcg.edu.br:8080/xmlui/bitstream/handle/riufcg/9185/FRANCISCA%20FERREIRA%20DE%20SOUZA.%20TCC.%20LICENCIATURA%20EM%20LETRAS%20%20L%c3%8dNGUA%20PORTUGUESA.%202016.pdf?sequence=3&isAllowed=y http://dspace.sti.ufcg.edu.br:8080/xmlui/bitstream/handle/riufcg/9185/FRANCISCA%20FERREIRA%20DE%20SOUZA.%20TCC.%20LICENCIATURA%20EM%20LETRAS%20%20L%c3%8dNGUA%20PORTUGUESA.%202016.pdf?sequence=3&isAllowed=y
Compartilhar