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APG 20 – 10/04 Objetivos: 1. Compreender a embriologia do Sistema Respiratório 2. Entender como é o funcionamento e a composição do surfactante Resumo: O zigoto sofre sucessivas clivagens, isto é, repetidas divisões mitóticas, resultando em rápido aumento do número de células – blastômeros. Ocorre a compactação mediada por glicoproteínas de adesão da superfície celular. Quando já existem 12 a 32 blastômeros, o concepto é chamado de mórula. O fluído da cavidade uterina passa através da zona pelúcida para formar um espaço preenchido por fluido, denominado de cavidade blastocística, localizado no interior da mórula. À medida que o fluido aumenta na cavidade, os blastômeros são separados em duas partes: • O trofoblasto, uma delgada camada celular externa que formará a parte embrionária da placenta • O embrioblasto, um grupo discreto de blastômeros que representam o primórdio do embrião Durante esta fase do desenvolvimento, denominada blastogênese, o concepto é chamado de blastocisto. O ectoderma é a camada germinativa que formará a epiderme e os anexos epidérmicos, além do sistema nervoso, através do tubo neural, e as cavidades do corpo. O mesoderma formará a derme, os ossos e músculos e os sistemas circulatório e reprodutor. Por fim, o endoderma formará os órgãos do sistema digestório e, ainda, o sistema respiratório, que será o foco deste material. Embriologia do Sistema Respiratório As células de cada camada germinativa se dividem, migram, se agregam e se diferenciam seguindo padrões bastante precisos ao formar os vários órgãos e sistemas, em um processo chamado de organogênese. É na quarta semana do desenvolvimento que o sistema respiratório começa a surgir a partir do divertículo respiratório, que é uma protuberância na parede ventral do intestino anterior. O aparecimento e a localização do broto pulmonar dependem do aumento do ácido retinóico (AR) produzido pelo mesoderma adjacente, que eleva a expressão do fator de transcrição TBX4 no endoderma do tubo intestinal, no local do divertículo respiratório. Sendo assim, O TBX4 induz a formação do broto pulmonar, a continuidade de seu crescimento e a diferenciação dos pulmões. Assim, os epitélios do revestimento interno da laringe, da traqueia e dos brônquios, bem como o do pulmão, são integralmente de origem endodérmica. Os tecidos cartilaginosos, muscular e conjuntivo, que compõem a traqueia e os pulmões, são derivados do mesoderma esplâncnico que cerca o intestino anterior. Inicialmente, o divertículo está em comunicação aberta com o intestino anterior, entretanto, quando o divertículo se expande na direção caudal, duas pregas longitudinais, denominadas de pregas traqueoe-sofágicas, separam-no do intestino. Subsequentemente, quando estas pregas se fusionam para formar o septo traqueoesofágico, o intestino anterior é dividido em uma porção anterior, o esôfago, e em uma porção ventral, a traqueia e os brotos pulmonares. O primórdio respiratório mantém sua comunicação com a faringe pelo orifício faríngeo. Laringe O revestimento interno da laringe se origina no endoderma, mas as cartilagens e os músculos têm origem no mesênquima do quarto e sexto arcos faríngeos. Subsequentemente, quando o mesênquima dos dois arcos se transforma nas cartilagens tireóidea, cricóidea e aritenóidea, o formato característico do orifício laríngeo no adulto pode ser reconhecido. Por volta do período em que as cartilagens se formam, o epitélio laríngeo também prolifera rapidamente, resultando em oclusão temporária do lúmen. Subsequentemente, a vacuolização e a recanalização produzem um par de recessos laterais, os ventrículos laríngeos. Esses recessos são limitados por pregas teciduais que se diferenciam em pregas vocais falsas e verdadeiras. Brônquios e Pulmões Período Pseudoglandular (5 a 16 semanas) Durante a separação do intestino anterior, o broto pulmonar forma a traqueia e duas evaginações laterais, os brotos brônquicos. No início da quinta semana, cada um desses brotos se alarga para formar os brônquios principais direito e esquerdo, sendo que o brônquio principal direito constitui três brônquios secundários, e o brônquio principal esquerdo forma dois, prenunciando, assim, os três lobos do pulmão no lado direito e os dois no lado esquerdo. Com o crescimento subsequente nos sentidos caudal e lateral, os brotos pulmonares se expandem para a cavidade corporal. Os espaços para os pulmões, que são conhecidos como canais pericardioperitoneais, são estreitos. Eles se encontram de cada lado do intestino anterior e gradualmente são preenchidos pelos brotos pulmonares em expansão. Finalmente, as pregas pleuroperitoneais e pleuropericárdicas separam os canais pericardioperitoneais das cavidades peritoneal e pericárdica, respectivamente, e os espaços restantes formam as cavidades pleurais primitivas. O mesoderma, que cobre o exterior dos pulmões, torna-se a pleura visceral. A camada de mesoderma somático, que cobre a superfície interna da parede corporal, torna-se a pleura parietal. O espaço entre a pleura parietal e a visceral é a cavidade pleural. Período Canalicular (16 a 25 semanas) Até o sétimo mês pré-natal, os bronquíolos se dividem continuamente em um número maior de canais cada vez menores, enquanto o suprimento vascular aumenta constantemente. Os bronquíolos terminais se dividem para formar os bronquíolos respiratórios, e cada um deles se divide em três a seis ductos alveolares. Os ductos terminam nos sacos terminais (alvéolos primitivos), que são cercados por células alveolares achatadas em contato próximo com os capilares vizinhos. O feto nascido a partir de 24 a 26 semanas tem uma pequena chance de sobreviver com cuidados intensivos. Observação: Uma fístula traqueoesofágica (FTE) é uma passagem anormal entre a traqueia e o esôfago, que resulta da divisão incompleta da parte cranial do intestino anterior nas partes respiratórias e esofágica durante a quarta semana do desenvolvimento embriológico. A fusão incompleta das pregas traqueoesofágicas resulta em um septo traqueoesofágico defeituoso e na comunicação entre a traqueia e o esôfago. A FTE é a anomalia mais comum do trato respiratório inferior. Estas anomalias ocorrem em aproximadamente 1 a cada 3.000 nascimentos. Obs: durante essas 16 semanas, todos os principais elementos do pulmão se formam, exceto aqueles envolvidos com a troca gasosa (alvéolos), portanto a respiração ainda não é possível; consequentemente, os fetos nascidos durante este período são incapazes de sobreviver. Período do Saco Terminal (24 semanas ao nascimento) Durante este período, muitos sacos terminais se desenvolvem e seu epitélio torna-se muito fino (alvéolos primordiais). Os capilares começam a formar protuberâncias nestes sacos. O contato íntimo entre as células epiteliais e endoteliais forma a barreira sangue-ar (hematoaérea), que possibilita a troca de gases adequada a sobrevivência. A maturação das células alveolares do tipo II e a produção de surfactante variam amplamente em fetos de diferentes idades. A produção de surfactante tem início entre a 20a e a 22a semana, mas o surfactante está presente apenas em pequenas quantidades em crianças prematuras. Ele não alcança níveis adequados até o final do período fetal. O aumento da produção de surfactante, induzido por corticosteroides pré-natais e o tratamento com reposição de surfactante pós-natal têm aumentado as taxas de sobrevivência dessas crianças prematuras. Período Alveolar (final do período fetal até os 8 anos) No início do período alveolar, cada bronquíolo respiratório termina em um conjunto de sacos terminais de paredes finas que são separados uns dos outros por tecido conjuntivo frouxo. A membrana alveolocapilar (barreira de difusão pulmonar ou membrana respiratória) é suficientemente fina para possibilitar a troca gasosa. A transição da troca gasosa dependente da placentapara a troca gasosa autônoma após o nascimento, requer algumas mudanças adaptativas nos pulmões. Aproximadamente 95% dos alvéolos maduros se desenvolvem no período pós-natal. Antes do nascimento, os alvéolos primitivos aparecem como pequenas saliências nas paredes dos bronquíolos respiratórios e sacos alveolares. Após o nascimento, os alvéolos primitivos aumentam conforme os pulmões se expandem, no entanto, o aumento do tamanho dos pulmões resulta muito mais de um aumento contínuo no número de bronquíolos respiratórios e alvéolos primitivos, do que simplesmente o aumento em tamanho dos alvéolos. O desenvolvimento alveolar é geralmente concluído até os 3 anos de idade, mas novos alvéolos podem ser adicionados até aproximadamente 8 anos de idade. O tempo de produção do surfactante em quantidades suficientes depende de um aumento nos níveis de cortisol do feto, o que acontece entre 32 e 34 semanas. Ao redor de 34 a 36 semanas há material de superfície ativo suficiente secretado no lúmen alveolar e excretado no fluido amniótico. Surfactante Funcionamento O surfactante previne atelectasia e edema devido a diminuição da tensão superficial devido a diminuição da tensão superficial na interface ar – líquido alveolar; com isso melhora as trocas gasosas e diminui o trabalho respiratório tendo ainda trabalho lubrificante, protegendo as vias aéreas e promovendo o transporte mucociliar. Desse modo temos que as funções principais do surfactante são: diminuir a tensão superficial ar- líquido, manter a estabilidade alveolar impedindo o seu colapso no final da expiração, diminuir a vasoconstricção do leito sanguíneo pulmonar, diminuir a resistência vascular pulmonar aumentando assim a perfusão pulmonar. A tensão superficial é a força que atua através de uma linha imaginaria na superfície do líquido. Ela se origina porque as forças de atração entre as moléculas adjacentes do líquido são muito mais fortes do que aquelas entre o líquido e o gás, resultando em diminuição da superfície liquida, gerando uma pressão dentro do alvéolo. Nesse sentido, o surfactante Quando a quantidade de surfactante é insuficiente, desenvolve- se a Síndrome da Angústia Respiratória do Recém- Nascido (SARRN), que é uma causa comum de morte de prematuros. Nesses casos, os alvéolos parcialmente colapsados contêm líquido com alto teor proteico, muitas membranas hialinas e corpúsculos lamelares, provavelmente derivados da camada de surfactante. pulmonar reduz de forma significativa a tensão superficial dentro do alvéolo pulmonar, prevenindo o colapso durante a expiração. A diminuição da tensão superficial ocorre do seguinte modo: A molécula de um surfactante, como no caso dos fosfolipídios (os fosfolipídios representam 80% a 90% de sua massa), possui duas partes distintas: uma hidrofóbica constituída de cadeias hidrocarbônicas (“cauda”), e outra hidrofílica (“grupo polar”) uma parte interage com a água, enquanto a outra a repele. Quando uma pequena quantidade de fosfolipídios é misturada com água, suas moléculas se orientam na interface formando uma fina camada com a espessura de apenas uma molécula. Devido a essa orientação, os fosfolipídios diminuem a atração entre as moléculas de H2O da superfície. Isto pode ser entendido como se elas estivessem causando “defeitos” na membrana elástica, diminuindo a tensão superficial da água (ou a tensão interfacial ar-água). Assim, durante o ciclo respiratório, os fosfolipídios se aderem nas paredes internas dos alvéolos, formando uma monocamada. Além de evitar que as paredes dos alvéolos grudem, o que impediria a passagem de ar, a monocamada aumenta a permeabilidade das moléculas de O2. O surfactante é produzido no pneumócito tipo II. Os fosfolipídeos e as proteínas SP-B e SP-C são sintetizados no retículo endoplasmático rugoso, onde são armazenados; inicialmente, no complexo de Golgi, e, posteriormente, nos corpos lamelares. Periodicamente, estes últimos são expulsos do pneumócito II, quando o surfactante é liberado para a luz alveolar, organizando a mielina tubular. Composição O surfactante é constituído, de modo geral, por lipídeos e proteínas. Cerca de 80 a 90% de sua composição em massa é composta por lípides, incluindo lípides neutros e fosfolípides. Cerca de 70 a 80% dos fosfolípides consiste de fosfatidilcolina, presente em sua maioria na forma saturada (45% da massa do surfactante). O fosfatidilglicerol representa 5 a 10% (em massa), enquanto o fosfatidilinositol, fosfatidiletanolamina e a fosfatidilserina constituem menos que 10% do total de lípides. O colesterol e os ésteres do colesterol representam menos do que 5% do surfactante em massa, sendo que o seu papel não é bem conhecido até o momento, embora ele modifique a fluidez e a organização das membranas lipídicas. A principal função dos fosfolípides é a de atuar como uma molécula que reduz a tensão superficial na interface ar-líquido do interior do alvéolo. Esta característica única permite evitar o colabamento alveolar no final da expiração, quando as forças que causam o colapso alveolar estão maximizadas, sendo inversamente proporcionais ao quadrado do raio alveolar. Após a secreção para o interior do alvéolo, o surfactante passa por um complexo ciclo. Inicialmente, as moléculas de gordura se organizam (particularmente com ajuda das proteínas), para formar a monocamada que reveste a superfície alveolar, a mielina tubular. Com sucessivos movimentos de contração e estiramento, que ocorrem a cada ciclo respiratório, parte da mielina tubular se desorganiza e se desprende do filme principal, na forma de pequenas vesículas, que são reabsorvidas para o interior do pneumócito II. No entanto, a fosfatidilcolina sozinha não é capaz de explicar as principais características do surfactante: estabilidade durante a compressão, rápida adsorção da subfase para a superfície alveolar e a capacidade de reorganizar a monocamada, quando dispersa em um ambiente aquoso. Na realidade, à 37º C a fosfatidilcolina assume a forma gel, passando para a forma "líquida" e dispersa a 41º C (9). Portanto, ela depende dos outros componentes do surfactante para a formação de uma camada estável na superfície alveolar, quando em temperatura fisiológica. As proteínas representam cerca de 10% da massa do surfactante, sendo reconhecidas quatro proteínas, SP-A, SP-B, SP-C e SP-D. A SP-A parece influenciar no metabolismo do surfactante apenas nos estudos in vitro, pois em animais transgênicos com deficiência desta proteína, não há influência sobre o metabolismo ou a função do surfactante. A SP-B é uma pequena proteína hidrofóbica de 18 KD, fundamental para a função do surfactante pulmonar, sendo sua ausência congênita incompatível com a vida (12,13). REFERÊNCIAS Langman, Embriologia Médica, 13a ed. Embriologia Básica, 9a edição. A case of neonatal respiratory distress. Sociedade Brasileira de Pediatria. Margotto P R. Surfactante Pulmonar. Capturado no site http://www.medico.org.br em 10/01/2006. Levitzky, M. G. Mecânica da Respiração. In: Levitzky, M. G. Fisiologia Pulmonar 6ª ed. São Paulo: ed. Manole, 2004. https://www.scielo.br/j/jped/a/nBsRZ6xbLkW4VfxkZvdQkQk/?lang=pt#:~:text=O%20surfactante%20%C3%A9%20constit u%C3%ADdo%2C%20de,%25%20da%20massa%20do%20surfactante). https://www.scielo.br/j/jped/a/nBsRZ6xbLkW4VfxkZvdQkQk/?lang=pt#:~:text=O%20surfactante%20%C3%A9%20constitu%C3%ADdo%2C%20de,%25%20da%20massa%20do%20surfactante). https://www.scielo.br/j/jped/a/nBsRZ6xbLkW4VfxkZvdQkQk/?lang=pt#:~:text=O%20surfactante%20%C3%A9%20constitu%C3%ADdo%2C%20de,%25%20da%20massa%20do%20surfactante).
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