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1 @jumorbeck Traqueia ↠ A traqueia é um tubo flexível (membranoso) ligado à laringe e entra no mediastino; ela termina na parte média do tórax, dividindo-se em dois brônquios principais (brônquios primários ou de 1ª ordem) (MARIEB, 7ªed.). ↠ Os primeiros anatomistas confundiam a traqueia com uma artéria de parede áspera (traqueia = áspera) (MARIEB, 7ªed.). ↠ A traqueia possui diâmetro de 12 mm e comprimento de 10 a 12cm, descendo da laringe até o nível da quinta vértebra torácica (SEELY, 10ª ed.). ↠ A parede da traqueia contém de 16 a 20 anéis de cartilagem hialina (as cartilagens traqueiais), em forma de C, unidos uns aos outros por membranas intervenientes de tecido conjuntivo fibroelástico (MARIEB, 7ªed.). ↠ Uma crista no interior da última cartilagem traqueal, chamada carina, marca o ponto onde a traqueia se ramifica nos dois brônquios principais. A mucosa que reveste a carina é altamente sensível a substâncias irritantes, sendo o local onde costuma desencadear-se o reflexo da tosse (MARIEB, 7ª ed.). ↠ As cartilagens sustentam os lados anterior e lateral da traqueia, protegendo e mantendo uma passagem aberta para a circulação do ar (SEELY, 10ª ed.). Consequentemente, a traqueia é suficientemente flexível para permitir o encurvamento e o estiramento, mas os anéis cartilagíneos a impedem de colapsar e mantêm a via aérea aberta, apesar das mudanças de pressão que ocorrem durante a respiração (MARIEB, 7ª ed.) ↠ A parede posterior é desprovida de cartilagem, contendo uma membrana ligamentosa elástica e feixes de fibra muscular lisa chamada de músculo traqueal. O esôfago encontra-se logo atrás da parede posterior da traqueia, onde não há cartilagem (SEELY, 10ª ed.). ↠ Como a parede posterior da traqueia não é rígida, o esôfago consegue se expandir na direção anterior à medida que o alimento deglutido passa por ele (MARIEB, 7ª ed.) ↠ Contrações na musculatura lisa podem diminuir o diâmetro da traqueia. Durante a tosse, essa ação faz o ar se mover mais rapidamente pela traqueia, ajudando a expelir muco e corpos estranhos (SEELY, 10ª ed.). Essa ação acelera o ar expirado a uma velocidade de 165km/h (MARIEB, 7ª ed.). HISTOLOGIA ↠ A estrutura microscópica da parede da traqueia consiste em várias camadas comuns a muitos órgãos tubulares do corpo: mucosa, submucosa e adventícia (MARIEB, 7ª ed.).. ↠ A mucosa consiste em um epitélio interno e uma lâmina própria. O epitélio é o mesmo epitélio pseudoestratificado filtrador de ar que ocorre na maior parte do trato respiratório; seus cílios impelem continuamente as camadas de muco carregado de poeira na direção da faringe. A lâmina própria contém muitas fibras elásticas e é separada da submucosa por uma lâmina de elastina. Essa proteína, que também ocorre em todos os tubos de ar menores, permite que a traqueia se alongue durante a inspiração e recue durante a expiração (MARIEB, 7ª ed.). A mucosa que reveste a traqueia é constituída de epitélio colunar pseudoestratificado ciliado com numerosas células caliciformes. As células caliciformes produzem muco, que captura partículas estranhas que são inaladas. Os cílios movem o muco e as partículas até a laringe, onde entram na faringe e são deglutidos (SEELY, 10ª ed..). 2 @jumorbeck ↠ A submucosa (“abaixo da mucosa”), outra camada de tecido conjuntivo, contém glândulas com células serosas e mucosas, chamadas glândulas seromucosas, que ajudam a produzir as camadas de muco dentro da traqueia (MARIEB, 7ª ed.). ↠ As cartilagens traqueais, o tecido conjuntivo fibroelástico que as conecta, e a parede membranácea com o músculo traqueal situam-se no lado externo da submucosa e formam a camada fibromusculocartilaginosa da traqueia. A camada externa de tecido conjuntivo é a adventícia (MARIEB, 7ª ed.). Frequentemente, irritações crônicas na traqueia, como ocorrem em fumantes, podem fazer o epitélio traqueal se transformar em epitélio escamoso estratificado úmido desprovido de cílios e células caliciformes. Consequentemente, a função normal do epitélio traqueal é perdida (SEELY, 10ª ed..). Árvore Bronquial Algumas literaturas denominam árvore traqueobronquial toda via respiratória, começando com a traqueia (SEELY, 10ª ed.). ↠ A traqueia divide-se para formar os brônquios principais, os quais, por sua vez, dividem-se para formar brônquios cada vez menores, levando a muitos túbulos e sacos microscópicos (SEELY, 10ª ed.). BRÔNQUIOS NA PARTE DE CONDUÇÃO ↠ Os brônquios principais direito e esquerdo, também chamados brônquios de primeira ordem, são os maiores tubos da árvore bronquial, um sistema tubular que se ramifica amplamente no interior dos pulmões. Os dois brônquios principais são ramos da traqueia no mediastino (MARIEB, 7ª ed.). ↠ Cada brônquio principal segue de modo oblíquo através do mediastino antes de mergulhar na fenda medial (hilo) do pulmão. Os brônquios principais são imediatamente posteriores aos grandes vasos pulmonares que suprem os pulmões (MARIEB, 7ª ed.). ↠ O brônquio principal direito é maior em diâmetro e mais alinhado com a traqueia do que o brônquio principal esquerdo. Como resultado, substâncias ingeridas que acidentalmente entram no trato respiratório inferior são mais suscetíveis a se alojarem no brônquio principal direito (SEELY, 10ª ed.). ↠ À medida que se aproximam e entram nos pulmões, os brônquios principais se dividem nos brônquios secundários, ou brônquios lobares (de segunda ordem) – três à direita e dois à esquerda -, com cada um deles ventilando um lobo pulmonar (MARIEB, 7ª ed.). ↠ Os brônquios lobares se ramificam nos brônquios segmentares (de terceira ordem), que por sua vez se dividem repetidamente em brônquios menores: quarta ordem, quinta ordem etc. Em geral, existem cerca de 23 ordens de tubos de ar nos pulmões, sendo a menor delas quase pequena demais para ser vista sem um microscópio (MARIEB, 7ª ed.). ↠ Os tubos menores de 1 mm de diâmetro também são chamados bronquíolos (“pequenos brônquios”), e os menores que estes, os bronquíolos terminais, têm menos de 0,5 mm de diâmetro (MARIEB, 7ª ed.). Traqueia Brônquios principais Brônquios lobares Brônquios segmentares Bronquíolos Bronquíolos terminais 3 @jumorbeck ↠ Os tecidos que compõem a parede de cada brônquio principal são os mesmos observados na traqueia, mas à medida que os tubos de condução ficam menores ocorrem as seguintes mudanças: (MARIEB, 7ª ed.) ➢ Os tecidos conjuntivos de sustentação mudam: as cartilagens traqueais são substituídas por peças cartilagíneas irregulares à medida que os brônquios principais entram nos pulmões. No nível dos bronquíolos, a cartilagem de sustentação não está mais presente nas suas paredes. Por outro lado, a elastina, que ocorre nas paredes de toda a árvore bronquial, não diminui. ➢ O epitélio: torna-se delgado à medida que muda de pseudoestratificado para simples prismático (colunar) e depois para simples cúbico nos bronquíolos terminais e respiratórios. Nem os cílios nem as células produtoras de muco estão presentes nesses bronquíolos, onde terminam as camadas de muco para a filtragem do ar. As partículas de poeira que ultrapassem os bronquíolos não ficam aprisionadas no muco, mas são removidas por macrófagos nos alvéolos. ➢ O músculo liso passa a ser importante: uma camada de músculo liso aparece pela primeira vez na parede posterior da traqueia, o músculo traqueal, e continua nos grandes brônquios. Essa camada forma faixas helicoidais que envolvem os brônquios menores e os bronquíolos, e regulam a quantidade de ar que entra nos alvéolos. A musculatura relaxa para alargar os tubos de ar durante a estimulação simpática, aumentando o fluxo de ar quando as necessidades respiratórias são grandes, e constringe esses tubos sob controle parassimpáticoquando as necessidades respiratórias são baixas. Fortes contrações dos músculos lisos nos brônquios estreitam os tubos de ar durante as crises de asma. A musculatura lisa é delgada quando chega à extremidade da árvore de bronquíolos e está ausente em volta dos alvéolos. PARTE DE RESPIRAÇÃO ↠ Essa parte é o final da árvore respiratória nos pulmões e consiste em estruturas que contêm câmaras de troca de ar chamadas alvéolos (MARIEB, 7ª ed.). ↠ As primeiras estruturas da parte de respiração, que se ramificam dos bronquíolos terminais (da parte de condução) são os bronquíolos respiratórios. Eles podem ser reconhecidos pelos alvéolos dispersos que se projetam de suas paredes (MARIEB, 7ª ed.). ↠ Os bronquíolos respiratórios levam aos ductos alveolares, cujas paredes são formadas quase inteiramente por alvéolos. Os ductos alveolares conduzem aos agrupamentos terminais de alvéolos chamados sacos alveolares (MARIEB, 7ª ed.). ATENÇÃO: Repare que os alvéolos e os sacos alveolares não são a mesma coisa: o saco alveolar é análogo a um cacho de uvas; cada uva é um alvéolo (MARIEB, 7ª ed.). Cerca de 400 milhões de alvéolos cheios de ar se acumulam nos pulmões, contribuindo para a maior parte do volume pulmonar e proporcionando uma enorme superfície para a troca gasosa. A área total de todos os alvéolos em um par de pulmões médios é de 140 metros quadrados, o que corresponde a 40 vezes mais do que a área de superfície da pele (MARIEB, 7ª ed.). Bronquíolos respiratórios Ductos alveolares Sacos alveolares Alvéolos 4 @jumorbeck Os alvéolos (cavidade oca) são pequenas câmaras preenchidas com ar, onde ocorrem as trocas gasosas entre o ar e o sangue. À medida que os bronquíolos respiratórios se dividem para formar bronquíolos ainda menores, a quantidade de alvéolos ligados a eles aumenta. Os bronquíolos respiratórios dão origem aos ductos alveolares, que são como longos corredores ramificados, com muitas portas abertas. As “portas” abrem-se nos alvéolos, que se tornam tão numerosos que a parede do ducto alveolar é pouco mais do que uma continuação dos alvéolos. Os ductos alveolares terminam como dois ou três sacos alveolares, que são câmaras conectadas a dois ou mais alvéolos (SEELY, 10ª ed.). ↠ Dois tipos celulares compõem a parede alveolar. Os pneumócitos tipo I (camada de células epiteliais pavimentosas) são células finas e escamosas que constituem 90% da superfície alveolar. A maior parte das trocas gasosas entre o ar alveolar e o sangue ocorre por meio dessas células. Os pneumócitos tipo II (células epiteliais cúbicas) são células cuboides e arredondadas secretoras de surfactante, o que facilita a expansão dos alvéolos durante a inspiração (SEELY, 10ª ed.). ↠ As superfícies externas dos alvéolos são densamente cobertas com uma “teia de aranha” de capilares pulmonares, cada um deles circundado por uma luva delgada de tecido conjuntivo frouxo. Juntas, as paredes dos alvéolos e dos capilares e suas lâminas basais fundidas formam a membrana respiratória, onde o oxigênio e o dióxido de carbono são trocados entre os alvéolos e o sangue. O ar está presente no lado alveolar da membrana e o sangue flui no lado capilar. Os gases passam facilmente através dessa fina membrana: o oxigênio se difunde dos alvéolos para o sangue, e o dióxido de carbono, do sangue para os alvéolos cheios de ar (MARIEB, 7ª ed.). A membrana respiratória é constituída de várias camadas: (SEELY, 10ª ed.) ➢ Uma camada delgada de fluido que reveste os alvéolos. ➢ O epitélio alveolar composto por epitélio escamoso simples. ➢ A membrana basal do epitélio alveolar. ➢ Um estreito espaço intersticial. ➢ A membrana basal do endotélio capilar. ➢ O endotélio capilar, composto por epitélio escamoso simples. ↠ É importante destacar ainda as seguintes características: (MARIEB, 7ª ed.) ➢ Os alvéolos são circundados por finas fibras elásticas do mesmo tipo das que circundam as estruturas ao longo de toda a árvore respiratória. ➢ Os alvéolos adjacentes são interconectados por poros alveolares, que permitem que a pressão do ar seja equalizada no pulmão inteiro e proporcionam rotas alternativas para o ar alcançar os alvéolos cujos brônquios entraram em colapso devido a uma doença. ➢ As superfícies alveolares internas proporcionam um local para o movimento livre dos macrófagos alveolares, que vivem realmente no espaço de ar e removem as partículas inaladas mais finas que não foram aprisionadas pelo muco. Os macrófagos cheios de partículas migram superiormente, dos alvéolos “sem saída” para os brônquios, onde a ação ciliar os transporta para a faringe para serem deglutidos. Esse mecanismo remove mais de 2 milhões de macrófagos carregados de detritos por hora. 5 @jumorbeck Pulmões ANATOMIA ↠ Os pulmões são os principais órgãos da respiração, e, em um volume basal, estão entre os maiores órgãos do corpo humano. Cada pulmão possui formato cônico, com a base repousando sobre o diafragma e o ápice se estendendo até cerca de 2,5 cm acima da clavícula (SEELY, 10ª ed.). ↠ Suas faces anterior, lateral e posterior entram em contato com as costelas e formam uma face costal continuamente curva (MARIEB, 7ª ed.). ↠ A face inferior côncava (base) que repousa sobre o diafragma é a face diafragmática (MARIEB, 7ª ed.). ↠ Na face mediastinal (medial) de cada pulmão há uma depressão, o hilo, através da qual vasos sanguíneos, brônquios, vasos linfáticos e nervos entram e saem do pulmão. Coletivamente, essas estruturas prendem o pulmão ao mediastino e constituem a raiz do pulmão. Os maiores componentes dessa raiz são a artéria e as veias pulmonares e o brônquio principal (MARIEB, 7ª ed.). ↠ Como o coração é ligeiramente voltado para a esquerda do plano mediano do tórax, os pulmões esquerdo e direito têm forma e tamanho ligeiramente diferentes. O pulmão esquerdo é um pouco menor do que o direito e possui uma incisura cardíaca, um desvio em sua margem anterior que acomoda o coração (MARIEB, 7ª ed.). ↠ O pulmão direito é maior que o esquerdo e pesa em média 620 g, enquanto o pulmão esquerdo pesa cerca de 560 g (SEELY, 10ª ed.). ↠ Várias fissuras profundas dividem os dois pulmões em padrões de lobos diferentes. O pulmão esquerdo é dividido em lobo superior e lobo inferior, pela fissura oblíqua. O pulmão direito possui três lobos - superior, médio e inferior - separados pelas fissuras oblíqua e horizontal. Como mencionado anteriormente, cada lobo pulmonar é atendido por um brônquio lobar (secundário) e seus ramos (MARIEB, 7ª ed.).. ↠ Cada um dos lobos, por sua vez, contém uma série de segmentos broncopulmonares separados uns dos outros por partições finas de tecido conjuntivo denso. Cada segmento recebe ar de um brônquio segmentar 6 @jumorbeck individual. Existem cerca de dez segmentos broncopulmonares dispostos em padrões similares, porém não idênticos, em cada um dos dois pulmões. (MARIEB, 7ª ed.). Os segmentos broncopulmonares têm importância clínica pelo fato de limitarem a disseminação de algumas doenças dentro do pulmão, já que as infecções não atravessam facilmente as partições de tecido conjuntivo entre esses segmentos (MARIEB, 7ª ed.). A menor subdivisão do pulmão que pode ser vista a olho nu é o lóbulo. Com a aparência de hexágonos na superfície pulmonar e um tamanho que varia de uma borracha de apagar lápis até uma moeda, cada lóbulo é ventilado por um bronquíolo e seus ramos. Nos fumantes e na maioria dos moradores da cidade, o tecido conjuntivo que separa cada lóbulo está enegrecido pelo carbono (MARIEB, 7ª ed.). SUPRIMENTO SANGUÍNEO E INERVAÇÃO DOS PULMÕES ↠ As artérias pulmonares levam sangue desoxigenado para os pulmões visando a sua oxigenação. No pulmão, essas artérias se ramificam junto com a árvore bronquial, situando-seem geral posteriormente aos brônquios correspondentes (MARIEB, 7ª ed.). ↠ As menores artérias alimentam as redes capilares pulmonares em torno dos alvéolos. O sangue oxigenado é levado dos alvéolos pulmonares para o coração pelas veias pulmonares, cujos tributários são geralmente anteriores aos brônquios correspondentes dentro dos pulmões. Além disso, alguns tributários venosos passam pelas partições de tecido conjuntivo entre os lóbulos pulmonares e entre os segmentos broncopulmonares (MARIEB, 7ª ed.). Para lembrá-lo da posição dos vasos pulmonares em volta do brônquio, memorize a sequência V B A: Veia Brônquio Artéria (MARIEB, 7ª ed.). ↠ Os pulmões são inervados por fibras simpáticas, parassimpáticas e por fibras sensitivas viscerais que entram em cada pulmão através do plexo pulmonar na raiz do pulmão. A partir desse ponto, essas fibras nervosas se situam ao longo dos brônquios e dos vasos sanguíneos dentro dos pulmões. As fibras parassimpáticas constringem os brônquios, ao passo que as fibras simpáticas os dilatam (MARIEB, 7ª ed.). Pleuras ↠ Em volta de cada pulmão há um saco achatado cujas paredes são formadas por uma membrana serosa chamada pleura (“ao lado”). A camada externa desse saco é a pleura parietal, enquanto a camada interna, diretamente sobre o pulmão, é a pleura visceral (MARIEB, 7ª ed.). ↠ A pleura parietal cobre a superfície interna da parede torácica, a superfície superior do diafragma e as superfícies laterais do mediastino. A partir do mediastino, ela se reflete lateralmente envolvendo os grandes vasos que seguem para o pulmão (raiz pulmonar). Na área onde esses vasos entram no pulmão, a pleura parietal é contínua à pleura visceral, que cobre a superfície externa do pulmão (MARIEB, 7ª ed.). ↠ O espaço entre as pleuras parietal e visceral é a cavidade pleural, preenchida com uma película fina de fluido pleural. Produzido pelas pleuras, esse fluido lubrificante permite que os pulmões deslizem sem atrito sobre a parede torácica durante os movimentos respiratórios (MARIEB, 7ª ed.). ↠ O fluido também mantém as pleuras parietal e visceral unidas. As pleuras podem deslizar com facilidade de lado a lado uma sobre a outra, mas sua separação sofre uma forte resistência. Consequentemente, os pulmões se agarram com firmeza à parede torácica e são obrigados a se expandir e recuar à medida que o volume da cavidade torácica aumenta e diminui durante a respiração (MARIEB, 7ª ed.). ↠ As pleuras também dividem a cavidade torácica em três compartimentos separados - o mediastino central e dois compartimentos pleurais laterais, cada um contendo um pulmão. Essa compartimentalização ajuda a evitar que os pulmões em movimento ou o coração interfiram um no outro, além de limitar a disseminação de infecções localizadas e o grau de lesão traumática (MARIEB, 7ª ed.). 7 @jumorbeck Embriologia do Sistema Respiratório ↠ Os órgãos respiratórios inferiores (laringe, traqueia, brônquios e pulmões) começam a se formar durante a quarta semana do desenvolvimento (MOORE, 10ª ed.). ↠ O sistema respiratório começa como um crescimento mediano, o sulco laringotraqueal, que aparece no assoalho da extremidade caudal do intestino anterior primitivo (faringe primitiva) (MOORE, 10ª ed.). O aparecimento e a localização do broto pulmonar dependem do aumento do ácido retinoico (AR) produzido pelo mesoderma adjacente, que eleva a expressão do fator de transcrição TBX4 no endoderma do tubo intestinal no local do divertículo respiratório. TBX4 induz a formação do broto, a continuidade de seu crescimento e a diferenciação dos pulmões (LANGMAN, 13ª ed.). ↠ O epitélio do revestimento interno da laringe, da traqueia e dos brônquios, bem como o do pulmão, é integralmente de origem endodérmica. Os tecidos cartilaginosos muscular e conjuntivo, que compõem a traqueia e os pulmões, são derivados do mesoderma esplâncnico que cerca o intestino anterior (LANGMAN, 13ª ed.). ↠ Até o final da quarta semana, o sulco laringotraqueal se evaginou (projetou) para formar um divertículo laringotraqueal (broto pulmonar) saculiforme, que está localizado ventral à parte caudal do intestino anterior (MOORE, 10ª ed.). ↠ Conforme o divertículo se alonga, este é envolvido pelo mesênquima esplâncnico. Sua extremidade distal se dilata para formar um broto respiratório globular, que representa o broto único do qual a árvore respiratória se origina (MOORE, 10ª ed.). ↠ O divertículo laringotraqueal logo se separa da faringe primitiva; entretanto, ele se mantém em comunicação com esta através do canal laríngeo primitivo (MOORE, 10ª ed.). ↠ As pregas traqueoesofágicas longitudinais se desenvolvem no divertículo, se aproximam uma da outra, e se fundem para formar uma divisão, o septo traqueoesofágico, até o final da quinta semana (MOORE, 10ª ed.). ↠ Esse septo divide a porção cranial do intestino anterior em uma parte ventral, o tubo laringotraqueal (o primórdio da laringe, da traqueia, dos brônquios e dos pulmões) e uma parte dorsal (primórdio da orofaringe e do esôfago) (MOORE, 10ª ed.). ↠ A abertura do tubo laringotraqueal na faringe torna-se o canal laríngeo primitivo (MOORE, 10ª ed.). ↠ A separação do intestino anterior tubular único em traqueia e esôfago resulta de um processo complexo e coordenado de múltiplas vias de sinalização e dos fatores de transcrição (MOORE, 10ª ed.). DESENVOLVIMENTO DA LARINGE ↠ O epitélio de revestimento da laringe se desenvolve a partir do endoderma da extremidade cranial do tubo laringotraqueal. As cartilagens da laringe se desenvolvem 8 @jumorbeck do quarto e sexto pares de arcos faríngeos (MOORE, 10ª ed.). ↠ As cartilagens da laringe se desenvolvem do mesênquima que é derivado das células da crista neural. O mesênquima da extremidade cranial do tubo laringotraqueal rapidamente se prolifera, produzindo um par de brotos aritenoides. Os brotos crescem em direção à língua, convertendo a abertura em forma de fenda, a glote primitiva, em um canal laríngeo em formato de T, reduzindo a luz da laringe em desenvolvimento a uma estreita fenda (MOORE, 10ª ed.). ↠ O epitélio da laringe se prolifera rapidamente, resultando em uma oclusão temporária da luz da laringe. A recanalização normalmente ocorre por volta da 10ª semana; os ventrículos da laringe são formados durante o processo de recanalização. Esses recessos são delimitados por pregas da membrana mucosa que se tornam as pregas vocais (cordas) e pregas vestibulares (MOORE, 10ª ed.). ↠ A epiglote se desenvolve da parte caudal da eminência hipofaríngea, uma proeminência produzida pela proliferação do mesênquima na extremidade ventral do terceiro e quarto arcos faríngeos. A parte rostral dessa eminência forma o terço posterior ou parte faríngea da língua (MOORE, 10ª ed.). ↠ Devido aos músculos da laringe se desenvolverem dos mioblastos do quarto e sexto pares de arcos faríngeos, esses são inervados pelos ramos laríngeos do nervo vago (nervo craniano X) que suprem esses arcos (MOORE, 10ª ed.). O nervo laríngeo superior inerva os derivados do quarto arco faríngeo, e o nervo laríngeo recorrente, os derivados do sexto arco faríngeo (LANGMAN, 13ª ed.). A laringe é encontrada em uma posição alta no pescoço de neonatos; esse posicionamento permite a epiglote entrar em contato com o palato mole. Isso proporciona uma separação quase completa dos tratos respiratório e digestório, facilitando a amamentação, entretanto, significa também que neonatos respirem pelo nariz quase obrigatoriamente. A descida estrutural da laringe ocorre em torno dos primeiros 2 anos de vida (MOORE, 10ª ed.). DESENVOLVIMENTO DA TRAQUEIA ↠ Durante a separação do intestino anterior, o divertículo laringotraqueal forma a traqueia e duas evaginações laterais, os brotosbrônquicos primários (MOORE, 10ª ed.). ↠ O revestimento endodérmico do tubo laringotraqueal distal à laringe se diferencia no epitélio e glândulas da traqueia e no epitélio pulmonar. A cartilagem, o tecido conjuntivo e os músculos da traqueia são derivados do mesênquima esplâncnico que envolve o tubo laringotraqueal (MOORE, 10ª ed.). 9 @jumorbeck DESENVOLVIMENTO DOS BRÔNQUIOS E DOS PULMÕES ↠ O broto respiratório (broto pulmonar) se desenvolve na extremidade caudal do divertículo laringotraqueal durante a quarta semana (MOORE, 10ª ed.). ↠ O broto logo se divide em duas evaginações, os brotos brônquicos primários. Esses brotos crescem lateralmente para dentro dos canais pericardioperitoneais, o primórdio das cavidades pleurais. Brotos brônquicos secundários e terciários logo se desenvolvem (MOORE, 10ª ed.). ↠ Junto com o mesênquima esplâncnico ao redor, os brotos brônquicos se diferenciam em brônquio e suas ramificações nos pulmões. No início da quinta semana, a conexão de cada broto brônquico com a traqueia aumenta para formar o primórdio do brônquio principal O brônquio principal direito embrionário é ligeiramente maior do que o esquerdo e está orientado mais verticalmente. Essa relação persiste no adulto; consequentemente, um corpo estranho entra com mais facilidade no brônquio principal direito do que no esquerdo (MOORE, 10ª ed.) ↠ O brônquio principal subdivide-se em brônquio secundário que forma os ramos lobares, este se divide em segmentares, que originam os intrassegmentares (MOORE, 10ª ed.). No lado direito, o brônquio lobar superior suprirá o lobo superior do pulmão, entretanto, o brônquio lobar inferior se subdivide em dois brônquios, o brônquio lobar médio e o brônquio lobar inferior. No lado esquerdo, dois brônquios secundários suprem o lobo superior e o lobo inferior dos pulmões. Cada brônquio lobar sofrerá progressivas ramificações (MOORE, 10ª ed.) ↠ Os brônquios segmentares, 10 no pulmão direito e 8 ou 9 no pulmão esquerdo, começam a se formar na sétima semana. Enquanto isso ocorre, o mesênquima ao redor também se divide. Os brônquios segmentares, com a massa de mesênquima circundante, formam o primórdio dos segmentos broncopulmonares. Por volta da 24ª semana, aproximadamente 17 ordens de segmentos estão formados e os bronquíolos respiratórios se desenvolveram (MOORE, 10ª ed.). Os sinais para a ramificação, que são emitidos do mesoderma, envolvem os membros da família do fator de crescimento de fibroblasto. Enquanto todas essas novas subdivisões estão ocorrendo e a árvore brônquica está se desenvolvendo, os pulmões adotam uma posição mais caudal, de modo que, no nascimento, a bifurcação da traqueia é oposta à quarta vértebra torácica (LANGMAN, 13ª ed.). ↠ Conforme os brônquios se desenvolvem, as placas de cartilagem se desenvolvem do mesênquima esplâncnico ao redor. O músculo liso e o tecido conjuntivo dos brônquios, o tecido conjuntivo pulmonar e os capilares também são derivados desse mesênquima. Quando os pulmões se desenvolvem, estes adquirem uma camada 10 @jumorbeck de pleura visceral derivada do mesênquima esplâncnico. Com a expansão, os pulmões e a cavidade pleural crescem caudalmente para o mesênquima da parede corporal e logo se aproximam do coração (MOORE, 10ª ed.). ↠ A parede torácica corporal torna-se revestida por uma camada de pleura parietal derivada do mesoderma somático. O espaço entre a pleura parietal e a visceral é a cavidade pleural (MOORE, 10ª ed.). Maturação dos Pulmões ↠ A maturação dos pulmões é dividida em quatro estágios histologicamente distintos: o pseudoglandular, o canalicular, saco terminal e o estágio alveolar (MOORE, 10ª ed.). ESTÁGIO PSEUDOGLANDULAR (5ª À 17ª SEMANA) ↠ Do ponto de vista histológico, o pulmão durante o estágio pseudoglandular possui aparência de glândulas exócrinas. Com 16 semanas, todos os principais componentes dos pulmões estão formados, exceto aqueles envolvidos com as trocas gasosas (MOORE, 10ª ed.). ↠ A respiração não é possível; portanto, fetos nascidos durante esse período são incapazes de sobreviver (MOORE, 10ª ed.). ESTÁGIO CANALICULAR (16ª À 26ª SEMANA) ↠ O estágio canalicular sobrepõe-se ao estágio pseudoglandular, pois o desenvolvimento do segmento cranial dos pulmões amadurece mais rápido do que o segmento caudal (MOORE, 10ª ed.). ↠ Durante o estágio canalicular, a luz dos brônquios e dos bronquíolos terminais tornam-se maiores e o tecido pulmonar torna-se altamente vascularizado. Por volta da 24ª semana, cada bronquíolo terminal forma dois ou mais bronquíolos respiratórios, que irão se dividir em três a seis passagens: os ductos alveolares primitivos (MOORE, 10ª ed.). ↠ A respiração é possível ao final do período canalicular (26 semanas), pois alguns sacos terminais de parede delgada (alvéolos primitivos) se desenvolvem no final dos bronquíolos respiratórios e o tecido pulmonar está bem vascularizado (MOORE, 10ª ed.). ↠ Embora fetos nascidos ao final desse período possam sobreviver se tiverem cuidados intensivos, neonatos prematuros muitas vezes não sobrevivem, pois o sistema respiratório e os outros sistemas ainda estão relativamente imaturos (MOORE, 10ª ed.). ESTÁGIO DE SACO TERMINAL (24ª SEMANA AO FINAL DO PERÍODO FETAL) ↠ Durante o estágio de saco terminal, muitos mais sacos terminais (alvéolos primitivos) se desenvolvem e seus epitélios tornam-se muito finos. Os capilares tornam-se protuberantes nesses sacos (MOORE, 10ª ed.). ↠ O íntimo contato entre o epitélio e as células endoteliais estabelece a barreira hematoaérea, que permite uma troca adequada de gases, necessária para a sobrevivência do feto caso este nasça prematuramente (MOORE, 10ª ed.). ↠ Na 26ª semana, os sacos terminais são revestidos principalmente por células epiteliais pavimentosas de 11 @jumorbeck origem endodérmica, os pneumócitos tipo I, através dos quais a troca gasosa ocorre. A rede de capilares se prolifera rapidamente no mesênquima ao redor dos alvéolos em desenvolvimento, contudo, não é concomitante ao desenvolvimento ativo dos capilares linfáticos. Dispersas entre as células epiteliais pavimentosas, estão células epiteliais secretoras arredondadas, os pneumócitos tipo II, que secretam o surfactante pulmonar, uma mistura complexa de fosfolipídios e proteínas (MOORE, 10ª ed.). A maturação dos pneumócitos tipo II e a produção do surfactante variam amplamente entre os fetos de diferentes idades gestacionais. A produção do surfactante aumenta durante os estágios terminais da gestação, particularmente durante as últimas 2 semanas (MOORE, 10ª ed.). A produção de surfactante começa entre a 20ª e a 22ª semana, mas o surfactante está presente apenas em pequenas quantidades em bebês prematuros, não estando presente em níveis adequados até o final do período fetal. Por volta da 26ª à 28ª semana, o feto frequentemente pesa cerca de 1.000 g e estão presentes sacos alveolares e surfactante suficientes para permitir a sobrevivência de bebês nascidos prematuramente. Antes disso, os pulmões são, geralmente, incapazes de prover trocas gasosas adequadas, em parte, porque a área de superfície alveolar é insuficiente e a vascularização é pouco desenvolvida (MOORE, 10ª ed.). Fetos nascidos entre a 24ª e a 26ª semana após a fecundação podem sobreviver se tiverem cuidados intensivos; entretanto, eles podem sofrer de desconforto respiratório pela deficiência de surfactante. A sobrevivência desses bebês tem aumentado pelo uso de corticosteroides (esteroides produzidos pelo córtex da adrenal) pré- natal, que induzem a produção de surfactante e também com a terapia pós-natal de reposição de surfactante (MOORE, 10ª ed.). ESTÁGIO ALVEOLAR (FINAL DO PERÍODO FETAL AOS 8 ANOS) ↠ Exatamente quando o estágio de saco terminal acaba ese inicia o estágio alveolar depende da definição do termo alvéolos. Os sacos terminais análogos aos alvéolos estão presentes na 32ª semana. O epitélio de revestimento desses sacos atenua-se para uma fina camada epitelial pavimentosa. Os pneumócitos tipo I tornam-se tão delgados que os capilares adjacentes se projetam para os sacos alveolares (MOORE, 10ª ed.). ↠ Ao final do período fetal (38 semanas), os pulmões são capazes de realizar a respiração, pois a membrana alveolocapilar (barreira de difusão pulmonar ou membrana respiratória) é delgada o suficiente para realizar as trocas gasosas. Embora os pulmões não comecem a realizar essa função vital até o nascimento, estes são bem desenvolvidos e, portanto, capazes de funcionar prontamente quando o bebê nasce (MOORE, 10ª ed.). ↠ No início do estágio alveolar (32 semanas), cada bronquíolo respiratório termina em um aglomerado de sacos alveolares de paredes delgadas, separados um dos outros por tecido conjuntivo frouxo. Esses sacos representam os futuros ductos alveolares. A transição da dependência da placenta na troca gasosa para a troca gasosa autônoma requer as seguintes mudanças adaptativas dos pulmões: (MOORE, 10ª ed.) ➢ Produção de surfactante nos sacos alveolares. ➢ Transformação dos pulmões de órgãos secretores para órgãos capazes de realizar as trocas gasosas. ➢ Estabelecimento das circulações sistêmicas e pulmonar em paralelo. 12 @jumorbeck ESTÁGIO PÓS-NATAL ↠ Aproximadamente 95% dos alvéolos maduros desenvolvem-se no período pós-natal. Antes do nascimento, os alvéolos primordiais aparecem como pequenas projeções nas paredes dos bronquíolos respiratórios e dos sacos alveolares, dilatações terminais dos ductos alveolares. Após o nascimento, os alvéolos primitivos se ampliam conforme a expansão dos pulmões, mas o maior aumento no tamanho dos pulmões resulta do aumento no número de bronquíolos respiratórios e alvéolos primitivos, mais do que um aumento no tamanho dos alvéolos (MOORE, 10ª ed.). ↠ O desenvolvimento alveolar está, em grande parte, completo aos 3 anos de idade, mas novos alvéolos são acrescentados até aproximadamente 8 anos de idade. Ao contrário dos alvéolos maduros, os alvéolos imaturos possuem o potencial para formar alvéolos primitivos adicionais. Conforme esses alvéolos aumentam em tamanho, eles se tornam alvéolos maduros (MOORE, 10ª ed.). ↠ O principal mecanismo para o aumento do número de alvéolos é a formação de septos secundários de tecido conjuntivo que subdividem os alvéolos primitivos existentes. Inicialmente, os septos são relativamente espessos, mas estes logo são transformados em septos delgados maduros que são capazes de realizar as trocas gasosas (MOORE, 10ª ed.). O desenvolvimento dos pulmões durante os primeiros meses após o nascimento é caracterizado pelo aumento exponencial na superfície da barreira hematoaérea através da multiplicação dos alvéolos e capilares. Aproximadamente, 150 milhões de alvéolos primitivos, metade do número em adultos, estão presentes nos pulmões de um recém- nascido a termo (MOORE, 10ª ed.). Estudos moleculares indicam que o desenvolvimento dos pulmões é controlado por uma cascata de vias de sinalização que são reguladas por uma expressão temporal e sequencial de genes altamente conservados (MOORE, 10ª ed.). Os movimentos respiratórios fetais (MRFs), que podem ser detectados pela ultrassonografia em tempo real, ocorrem antes do nascimento, exercendo força suficiente para causar a aspiração de algum líquido amniótico pelos pulmões. O padrão do MRF é amplamente utilizado para o acompanhamento do trabalho de parto e na previsão da sobrevida de fetos nascidos prematuros. No nascimento, o feto já possui a vantagem de vários meses de exercícios respiratórios. Os MRFs, que aumentam à medida que o parto se aproxima, provavelmente condicionam os músculos respiratórios. Além disso, esses movimentos estimulam o pulmão a se desenvolver, possivelmente pela criação de um gradiente de pressão entre os pulmões e o líquido amniótico (MOORE, 10ª ed.). Ao nascimento, os pulmões estão aproximadamente com a metade de seu volume preenchido com líquido derivado da cavidade amniótica, pulmões e das glândulas traqueais. A aeração dos pulmões ao nascimento não é tanto devido à dilatação dos órgãos colapsados vazios, mas, sim, da rápida substituição do líquido intra-alveolar pelo ar. O líquido dos pulmões é retirado ao nascimento por três rotas: (MOORE, 10ª ed.) ➢ Através da boca e do nariz por pressão no tórax fetal durante o parto vaginal. ➢ Pelos capilares, artérias e veias pulmonares. ➢ Pelos vasos linfáticos. No feto próximo ao termo, os vasos linfáticos pulmonares são relativamente maiores e mais numerosos do que em adultos. O fluxo linfático é rápido durante as primeiras horas após o nascimento e em seguida diminui. Três fatores são importantes para o desenvolvimento normal do pulmão: (MOORE, 10ª ed.) ➢ espaço torácico adequado para o crescimento pulmonar; ➢ MRFs; ➢ volume de líquido amniótico adequado. MATURAÇÃO DOS PULMÕES (LANGMAN, 13ª ed.) PERÍODO PSEUDOGLANDULAR 5 A 16 semanas A ramificação continua a formar bronquíolos terminais. Não há bronquíolos respiratórios nem alvéolos. PERÍODO CANALICULAR 16 a 26 semanas Cada bronquíolo terminal se divide em dois ou mais bronquíolos respiratórios, que, por sua vez, dividem-se em três a seis ductos alveolares. PERÍODO DO SACO TERMINAL 26 semanas até o nascimento Os sacos terminais (alvéolos primitivos) se formam e estabelecem contato próximo com capilares sanguíneos. PERÍODO ALVEOLAR 8 meses até a infância Os alvéolos maduros apresentam contatos epitelioendoteliais (capilares) bem desenvolvidos. Surfactante DEFINIÇÃO ↠ O surfactante pulmonar é uma substância complexa que permite a redução da tensão superficial na interface ar-líquido evitando a tendência natural do alvéolo colapsar no final da expiração. É produzida no alvéolo por tipo de 13 @jumorbeck pneumócitos II e é depositado e armazenado em corpos lamelares. Por um mecanismo complexo, o surfactante é liberado no alvéolo, formando uma camada conhecida como mielina tubular, que forma uma monocamada de lipídios e proteínas entre o ar e a água (DIEGO, 2018) ↠ O surfactante pulmonar é uma substância fundamental na mecânica pulmonar. Ele está presente em todas as espécies que respiram através de pulmões, pois, na sua ausência, o líquido presente entre o alvéolo e o ar apresenta uma tensão superficial alta, que exerce uma força de colabamento sobre estas estruturas pulmonares. O surfactante se interpõe às moléculas de água na superfície alveolar, reduz a tensão superficial de maneira dinâmica, de forma que essa tensão aproxima-se de zero no final da expiração quando a superfície do alvéolo está reduzida, evitando assim a atelectasia (FREDDI et. al., 2003). COMPOSIÇÃO ↠ A composição lipídica e proteica do surfactante é altamente conservada entre as espécies, em que aproximadamente 90% da massa total é composta de lipídios e cerca de 8-10% proteínas (PICARDI, 2014). ↠ Os principais componentes do surfactante pulmonar são os fosfolipídios (80-90%), destacando-se entre eles o dipalmitoil fosfatidilcolina -DPPC -, que responde por 70- 80% e é responsável por diminuir a tensão superficial por si mesmo; o resto dos componentes são lípidos e glicolípidos neutros (8-12%), proteínas e carboidratos (2%) (DIEGO, 2018) ↠ Quatro proteínas associadas ao surfactante foram descritas: SP-A, SP-B, SP-C e SP-D, elas podem ser classificadas da seguinte forma: (DIEGO, 2018) Hidrofílicas: ➢ SP-A: intervém na secreção e reciclagem do surfactante, tem um papel defensivo contra microorganismos inalados e estabiliza a mielina tubular, aumentando sua atividade. ➢ SP-D: sua função não é bem compreendida,mas sua presença é conhecida por facilitar distribuição rápida de surfactante na interface ar- líquido. Hidrofóbicas: proteínas que têm um papel importante na organização estrutural e a durabilidade da função do surfactante. Elas são essenciais para a extensão de fosfolipídios em espaços aéreos. ➢ SP-B: aumenta a ação superficial dos fosfolipídios, facilitando sua reciclagem por pneumócitos do tipo II. Sua ausência é letal. ➢ SP-C: estimula a inserção de fosfolipídios e aumenta sua reciclagem. Sua ausência está associada a doenças intersticiais na infância. ↠ A proteína majoritária é SP-A (5-6%), que junto com SP-D está essencialmente envolvido nas funções imunológicas e de defesa do surfactante (PICARDI, 2014). A ausência de qualquer uma das proteínas do surfactante produz distúrbios respiratórios de maior ou menor gravidade, mas apenas a falta de SP-B é letal logo após o nascimento (PICARDI, 2014). METABOLISMO DO SURFACTANTE ↠ O surfactante é produzido no pneumócito II. Os fosfolípides e as proteínas SP-B e SP-C são sintetizados no retículo endoplasmático rugoso, onde são armazenados; inicialmente, no complexo de Golgi, e, posteriormente, nos corpos lamelares. Periodicamente, estes últimos são expulsos do pneumócito II, quando o surfactante é liberado para a luz alveolar, organizando a mielina tubular (REBELLO et. al., 2002). ↠ A cinética da síntese e secreção para o interior do alvéolo é muito lenta, atingindo de 30 a 48 horas em animais recém-nascidos (REBELLO et. al., 2002). ↠ Após a secreção para o interior do alvéolo, o surfactante passa por um complexo ciclo. Inicialmente, as moléculas de gordura se organizam (particularmente com ajuda das proteínas), para formar a monocamada que reveste a superfície alveolar, a mielina tubular. Com sucessivos movimentos de contração e estiramento, que ocorrem a cada ciclo respiratório, parte da mielina tubular se desorganiza e se desprende do filme principal, na forma de pequenas vesículas, que são reabsorvidas para 14 @jumorbeck o interior do pneumócito II. Dentro da célula, uma pequena parte é catabolizada, enquanto que a maior parte do surfactante que é reabsorvido é misturada aos corpos lamelares, nos quais é reorganizado, num processo de reciclagem (REBELLO et. al., 2002). ↠ Assim, nos prematuros, cerca de 50% do pool alveolar é composto de surfactante com boa capacidade de reduzir a tensão superficial, e 50% é composto por vesículas inativas a serem recicladas. Este processo de reciclagem minimiza a necessidade de síntese de surfactante, enquanto mantém um pool alveolar adequado, ao mesmo tempo em que ativa os componentes do surfactante, reabsorvidos para o pneumócito II através da adição de novos elementos (particularmente proteínas) e da reorganização estrutural dos lípides e proteínas. Este último processo é de particular importância no tratamento com surfactante exógeno, que passa a ser adicionado de SP-A e SP-D (ausentes nos preparados comerciais) através da reciclagem (REBELLO et. al., 2002). O tratamento com surfactante exógeno não interfere com as vias metabólicas do surfactante endógeno, não havendo inibição por feed- back da sua produção (REBELLO et. al., 2002). As proteínas hidrossolúveis SP-A e SP-D são sintetizadas e liberadas de maneira independente dos fosfolípides e das proteínas lipossolúveis SP-B e SP-C (REBELLO et. al., 2002). INATIVAÇÃO DO SURFACTANTE O surfactante pode ter sua função de redução da tensão superficial alveolar inibida pelas proteínas plasmáticas que invadem o espaço alveolar na lesão pulmonar aguda. Esta inativação é um fenômeno reversível e ocorre, primariamente, devido a uma interferência na formação da monocamada de surfactante, causada pela presença de proteínas, através de um mecanismo de competição pela interface ar líquido. FUNÇÕES ↠ As funções mais importantes do surfactante são: (DIEGO, 2018) ➢ Diminui a tensão superficial do alvéolo. ➢ Aumenta a complacência pulmonar. ➢ Previne o colapso alveolar e a atelectasia. ➢ Mantêm um volume residual efetivo. ➢ Facilita a expansão na inspiração. ➢ Favorece ventilação / perfusão (V / Q). ➢ Mantêm a superfície alveolar livre de líquidos, pois reduz a filtração de água e proteínas. ➢ Melhora a atividade antimicrobiana – contribui a defesa do organismo frente a patógenos. TENSÃO SUPERFICIAL Para entender o papel mais relevante do surfactante pulmonar (redução da tensão superficial) é essencial introduzir o conceito de tensão superficial, a força na qual submetido às moléculas de água na superfície do filme líquido que cobre o epitélio pulmonar (PICARDI, 2014). A tensão superficial é a força que tende a minimizar a área ocupada por uma superfície líquida, tornando as gotículas de líquido de forma esférica. No interior do líquido, as moléculas de água exercem e suportam interações de magnitude semelhante em todas as direções, enquanto na interface as moléculas de água interagem mais fortemente entre eles do que com moléculas de ar (PICARDI, 2014). Para entender a importância da tensão superficial no contexto do pulmão, geralmente é importante recorrer à Lei de Laplace, segundo a qual a pressão (P) dentro de uma bolha é proporcional à tensão superficial (.) e inversamente proporcional ao raio (r) da mesma. Quanto menor a bolha, maior a pressão em suas paredes (PICARDI, 2014). A consequência é que, se duas bolhas de tamanhos diferentes forem conectadas, a bolha pequena desmoronaria esvaziando-se no grande, Se os alvéolos são considerados como pequenas bolhas rodeadas por uma fina película aquosa e a lei de Laplace se aplica, pode-se deduzir que, na ausência de um material surfactante, os alvéolos estariam sujeitos a grandes diferenças de pressão devido à tensão superficial e entrariam em colapso (PICARDI, 2014). Tendo em vista que o tamanho dos alvéolos não é homogêneo e que seu volume varia continuamente. Devido ao ciclo respiratório, as diferenças de pressão entre o menor e o maior os causariam o colapso dos pequenos durante a expiração (atelectasia pulmonar). Normalmente, isso não ocorre em pulmões saudáveis e maduros devido à presença de surfactante na interface ar-líquido que reduz a tensão superficial para proporcionar à redução na área dos alvéolos durante a expiração (PICARDI, 2014). Durante a compressão dos alvéolos na expiração, a concentração de surfactante na interface aumenta, reduzindo progressivamente a tensão superficial até atingir valores próximos a 0 mN / m. É baixo a tensão superficial permite um fácil inchaço dos alvéolos durante a inspiração, facilitando significativamente o trabalho respiratório (PICARDI, 2014). 15 @jumorbeck DEFESA FRENTE AOS PATÓGENOS O pulmão é um órgão muito vulnerável, expondo uma área de superfície média de 80 m2 (no homem adulto) em contato com o ambiente externo, que é uma potencial via de entrada para patógenos, alérgenos e poluentes transportados pelo ar que são inalados todos os dias (PICARDI, 2014). No trato respiratório existem mecanismos de defesa inatos que atuam localmente facilitando a eliminação de microrganismos e permitindo a manutenção da esterilidade do superfície respiratória (PICARDI, 2014). O surfactante pulmonar é a primeira barreira física para a entrada de qualquer microorganismo. As proteínas surfactantes hidrofílicas SP-A e SP-D se ligam a superfície de patógenos (incluindo vírus e bactérias) e opsoniza-os facilitando sua fagocitose por macrófagos e monócitos (PICARDI, 2014). É paradoxal que o surfactante possa atuar como um agente quimiotático para macrófagos e outras células fagocíticas, ao mesmo tempo que recebem um papel parcialmente imunossupressor que parece residir em seus componentes fosfolipídicos, essencialmente PC e PG. Na verdade, o equilíbrio entre imunossupressores e surfactante imunoativador pareceestar intimamente ligado ao equilíbrio adequado composicional entre seus elementos lipoproteicos (PICARDI, 2014). CLASSIFICAÇÃO ↠ Os surfactantes podem ser classificados em dois tipos: (DIEGO, 2018) ➢ Sintéticos (produzidos em laboratório): eles possuem uma mistura de fosfolipídios tensoativos. O componente principal é DPPC. Podem ser: livre de proteínas ou com peptídeos sintéticos ou proteínas recombinantes. ➢ Naturais: são obtidos dos pulmões de bovinos ou suínos. Na presença do diagnóstico de doença da membrana hialina ou SDR, não há nenhuma dúvida sobre a indicação do uso da terapia com surfactante. Nesse caso, a dificuldade é como identificar os pacientes que vão necessitar da terapia, de modo que se permita o seu uso com a maior brevidade possível (FREDDI et. al., 2003). A droga é administrada em uma dose, em geral, de 100 mg/kg de peso, apesar de alguns estudos terem proposto doses diferentes (FREDDI et. al., 2003). SÍNDROME DO DESCONFORTO RESPIRATÓRIO AGUDO A ausência ou quantidade inadequada de surfactante pode provocar a Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo (SDRA), ou Doença da Membrana Hialina, que é um distúrbio associado à imaturidade pulmonar. Trata-se da doença respiratória mais comum no ciclo neonatal, sendo uma das principais razões de morbidade e mortalidade em recém-nascidos menores de 28 semanas de idade gestacional, normalmente com peso inferior ou igual a 1500g, sendo mais comum naqueles nascidos de parto cesáreo, raça branca e sexo masculino (DUARTE et al., 2021) Na Síndrome do Desconforto Respiratório, a ausência do Surfactante Pulmonar (SP) é causada por uma soma de razões. O aparecimento de substâncias no espaço aéreo, tais como citocinas, proteases e radicais livres liberados pelas células inflamatórias, pode inativar a película tensoativa da superfície alveolar. As alterações no sistema de SP endógeno desencadeados pela síndrome da membrana hialina incluem: alterações dos lipídios; concentrações alteradas das proteínas; aumento do conteúdo de pequenos agregados dentro do espaço aéreo; PNM II danificados por mediadores inflamatórios, comprometendo a síntese, a secreção e o turnover do SP (DUARTE et al., 2021) USO DE CORTICOIDE A Organização Mundial de Saúde, considera partos prematuros, todos aqueles que ocorrem num período acima da vigésima semana e abaixo da trigésima sétima semana de gravidez, e representam as causas mais frequentes de morbimortalidades neonatais (PAULINO; VIEIRA, 2020). O tratamento com o glicocorticoide é recomendado pelo obstetra em período antenatal e deve ser prescrito para pacientes que apresentam risco de parto prematuro, que se encontram entre 24ª e 34ª semana de gestação, segundo a literatura (PAULINO; VIEIRA, 2020). Os glicocorticoides utilizados no amadurecimento pulmonar são Betametasona e Dexametasona (PAULINO; VIEIRA, 2020). Referências PAULINO, J.; VIEIRA, L. L. C. Uso indiscriminado de glicorticoides e sua consequência fetal durante a gestação. Trabalho de Conclusão de Curso, UNIVAG, 2020. DIEGO, A. P. El surfactante pulmonar en neonatos. Revisión bibliográfica. Trabajo Fin de Grado, Facultad de Enfermaria de Soria, 2018. REBELLO et.al. Terapia com surfactante pulmonar exógeno – o que é estabelecido e o que necessitamos determinar. Jornal de Pediatria, v. 78, n.2, p. 215-226, 2002. PICARDI, M. V. Relaciones estrutura-función em el surfactante pulmonar: efecto de la temperatura y 16 @jumorbeck mecanismos de compensación fisiológica.. Tesis Doctoral, Universidad Complutense de Madrid, 2014. FREDDI et. al. Terapia com surfactante pulmonar exógeno em pediatria. Jornal de Pediatria, v.79, n. 2, 2003 DUARTE et. al. O uso do surfactante pulmonar na síndrome do desconforto respiratório agudo no recém- nascido: uma revisão narrativa. Trabalho de Conclusão de Curso, Universidade Uma de Contagem – MG, 2021. MARIEB, E.; WILHELM, P.; MALLATT, J. Anatomia humana. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2014. REGAN, J.; RUSSO, A.; VVANPUTTE, C. Anatomia e Fisiologia de Seely, 10ª ed. Porto Alegre: AMGH, 2016. MOORE. Embriologia Clínica, 10ª ed.. Elsevier, RJ, 2016. LANGMAN. Embriologia Médica, 13ª ed. Guanabara Koogan, SP @jumorbeck
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